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Habilidades de leitura e escrita no desempenho formativo dos estudantes do ISCED-UON

RC: 39018
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

AFONSO, Fernão Osório [1], FUTI, Xavier Alfredo da Silva [2]

AFONSO, Fernão Osório. FUTI, Xavier Alfredo da Silva. Habilidades de leitura e escrita no desempenho formativo dos estudantes do ISCED-UON. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 10, Vol. 04, pp. 156-169. Outubro de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/desempenho-formativo

RESUMO

Este artigo tem como objectivo refletir sobre as habilidades de leitura e escrita dos estudantes do curso universitário de professores. Consiste em um contributo face ao fraco desempenho dos estudantes, tendo em vista perfis de entrada e de permanência, em diversas especialidades devido a necessidade de se formar profissionais competentes. O estudo fundamenta-se em dois eixos principais: o domínio de leitura e o domínio de escrita. Realizou-se no contexto de discussões pedagógicas, envolvendo professores e estudantes, incidindo na busca de esclarecimentos sobre as motivações da fraca habilidade, da referida comunidade educativa de ensino superior, concernente a leitura e a escrita. A pesquisa serviu-se de análise de trabalhos escritos e observação participativa em atividades formativas. Os resultados apurados apontam que os estudantes ingressam no curso superior de professores com um background fraco nos referentes domínios. Durante a sua permanência na formação, pouco se esforçam para alterar este quadro. Por outro lado, a transversalidade da leitura e da escrita é pouco considerada na orientação e na aquisição do conhecimento nas diversas unidades curriculares. Em conclusão consideramos que tais fatores são principais inibidores da prestação dos estudantes ao longo da sua formação.

Palavras-chave: Leitura e escrita, habilidades dos estudantes, desempenho formativo.

1. INTRODUÇÃO

A educação escolar é um processo no qual a orientação e a aquisição do conhecimento ocorrem através de processos formais. Na base desta formalidade a leitura e a escrita ocupam um lugar de importância na orientação e na aquisição do conhecimento. As atividades do professor e do aluno ocorrem graças a comunicação que se estabelece entre os dois sujeitos, sendo que, a leitura e a escrita estão diretamente ligados a esta atividade. Qualquer desenvolvimento de competências na base da escolarização ocorre sob veículo da língua pela qual um lado se comunica, orientando os saberes e por outro se recepciona, obtendo o conhecimento.

Nesta conformidade, considera-se que a leitura e a escrita são a porta de acesso para o desenvolvimento das diversas habilidades capazes de dar resposta às inquietações sociais. Em cada etapa do conhecimento, classe ou nível de escolaridade que se alcança, os conhecimentos prévios em torno da leitura e da escrita na língua de ensino e aprendizagem, são valências fundamentais para um posterior sucesso na aquisição de novos conhecimentos. No caso de Angola, a língua de domínio na leitura e na escrita é a língua portuguesa pela qual se veicula o ensino na sua totalidade.

No nível superior de escolaridade, além do aluno estar altamente comprometido com a leitura e a escrita, a necessidade do domínio destas competências se torna superiormente complexa atendendo a grande necessidade de vastas reflexões, interpretações, avaliações, comunicação e compreensão. E torna-se ainda mais complexa, nas áreas de preparação profissional em que o foco de atividades incide essencialmente na instrução, modelação de competências, pesquisas científicas e, se faz com predominância o uso da língua, tal como o caso da profissão docente. Neste âmbito, a habilitação com competências tanto de lecionar como de adquirir novos conhecimentos necessita de um aperfeiçoamento ao nível alto de ler e escrever.

No contexto de ensino angolano, essencialmente na formação de professores de nível superior, na qual se situa o Instituto Superior de Educação da Universidade Onze de Novembro, tem sido com frequência constatado nos alunos durante o percurso formativo, enormes dificuldades na leitura e escrita, essencialmente nos conteúdos curriculares de sua formação. Esta constatação se reforça ainda mais com as frequentes reclamações dos docentes à volta das mesmas dificuldades, considerando-as refletores negativos de sua prestação durante a jornada formativa. Este fator tem sido, em várias vezes, inibidor do desempenho dos estudantes e em várias vezes culminam em fracasso de competências. Tratando-se da formação para o ensino cujo desafio é transformar novas gerações, no nosso entender, este fato pode comprometer não só o processo de ensino aprendizagem, como também as competências profissionais e consequentemente o desenvolvimento social.

Com base ao acima exposto, acreditamos que é oportuno e conveniente trazer o assunto a uma abordagem científica, visando o nível das habilidades dos estudantes na leitura e na escrita, no curso superior de formação de professores (perfil de entrada) como base essencial da sustentabilidade da permanência, face ao sucesso do perfil de saída.

2. A IMPORTÂNCIA DO DOMÍNIO DA LEITURA E DA ESCRITA NO PERCURSO FORMATIVO

A leitura e a escrita têm sido reconhecidas desde a antiguidade como vias fundamentais do desenvolvimento do pensamento científico. Têm como sinônimo o saber, a educação, a nobreza. Saber ler e escrever resume a presença da luz em termos científicos, que ilumina o homem das trevas, sendo que aquele que não sabe ler nem escrever, conforme o célebre, Coménio (2006), vive nas trevas e é infeliz. Em qualquer contexto do saber humano, é através da leitura e da escrita que se forma a característica da intelectualidade nas pessoas, e pelo seu domínio elas adquirem um estatuto diferenciado dentre as classes sociais não alfabetizadas. A importância da leitura e da escrita está associada à sua invenção assente na diminuição das barreiras e limitações de comunicação, evolução do pensamento e superação da vivência primitiva. Conforme se constata em TOURINHO (2001, p. 327) a leitura e a escrita surgem de uma necessidade do ser humano ultrapassar as dificuldades de comunicação visto que “muito antes da criação da escrita e da leitura, o ser humano expressava suas ideias, desejos e necessidade em desenhos e sinais gravados nos lugares em que habitava ou parte onde passava, para se comunicar, garantir a propriedade, expressar suas conquistas, etc”.

O pensamento primitivo deu lugar ao moderno e atual transportando consigo alterações no sistema de comunicação, no estudo e nas diversas facetas humanas na qual se envolve o desenvolvimento acadêmico. Significa com isto que a grande importância da leitura e da escrita consiste na comunicação que vai desde o âmbito social ao âmbito científico. Para o caso em estudo refere-se essencialmente o âmbito científico.

2.1 O DOMÍNIO DA LEITURA

É de qualquer modo imprescindível o domínio da leitura na medida em que o homem tem que se desenvolver cientificamente. Tal domínio adquire-se através do ato de ler que se caracteriza por uma atividade ativa e não passiva que envolve a prática constante e o hábito de interação com a escrita.

Segundo Brandão e Micheletti (2002, p. 9) o ato de ler consiste num “processo abrangente e complexo; um processo de compreensão de compreensão de intelecção de mundo que envolve uma característica essencial e singular ao homem: a sua capacidade simbólica e de interação com o outro pela mediação de palavras”

Em nossa perspectiva a leitura fundamenta-se como um meio com sentido dual de entrada (in-put) e de saída (out-put) de informações. Quando lemos um livro aferimos dele a informação que para nós mesmos torna atualização, obtemos conhecimento de ocorrências, quer de forma exponencial quer de forma restrita dependendo da natureza da leitura e do conteúdo que se lê. Isto refere-se a um sentido de entrada (in-put) em relação à pessoa que lê.

Trata-se ainda de um sentido in-put da leitura o ato de cultivarmos ideias, valores e culturas num determinado público-alvo por meio do conhecimento que se obtém do livro em referência. Porém, quando lemos um livro no sentido de trazer um dado conhecimento ao público, exteriorizamos ideias, valores e culturas a partir deste mesmo livro, este fator recai a um sentido out-put.

Neste contexto, pode se compreender a leitura como um domínio alfabético que se manifesta na interação entre a pessoa e a escrita. No âmbito da aprendizagem, qualquer percurso formativo está implicado no domínio da leitura como meio pelo qual se obtém um dado conhecimento e como meio pelo qual se exterioriza outro conhecimento.

Dada a sua importância na questão do conhecimento, o domínio da leitura é fortemente recomendado por autores da nossa contemporaneidade. Nesta linha de ideia Freire (2006) defende que a leitura deve se colocar no lugar de uma conquista do ser humano no seu processo de evolução visto que toda a sociedade produz memórias culturais, e a leitura é o meio fundamental intermediador do conhecimento e transformador dos instrumentos e das técnicas desenvolvidas pelo homem.

Desde as perspectivas estudantis, profissionais e leitores, em geral, o domínio da leitura é uma virtude de conhecimento de mundos. As barreiras da falta deste domínio impossibilitam quaisquer tendências de desenvolvimento de habilidades nos âmbitos informativo e científico. Tal domínio carece de exercício de responsabilidade de cada indivíduo desde os conhecimentos prévios aos conhecimentos a serem conquistados fazendo deste esforço parte da sua cultura.

Bezerra E Tabosa (2006, p. 3) descrevem o domínio da leitura como um processo de interação entre o sujeito leitor com o texto referindo o seguinte:

do ponto de vista cognitivo, a leitura se processa na interação do leitor com o texto: o leitor ativa seus conhecimentos prévios, levantando hipóteses e criando expectativas sobre os possíveis significados do texto; essas perspectivas poderão ser confirmadas ou negadas ao longo da reconstrução dos sentidos- sempre num processo de relação entre macro e a micro estrutura textuais e os conhecimentos de mundo do leitor.

Ainda na mesma base da importância e do domínio da leitura, Coelho (2000) considera igualmente o seu valor na vertente de conhecimento geral, pois, na compreensão do mundo, ela é a condição básica do ser humano. Tanto a compreensão como o sentido daquilo que está a sua volta inicia-se na tenra idade com a identificação e interpretação dos fenômenos naturais de modo a poder interagir com o meio habitat tendo em conta variação. Esta condição recai na necessidade de desenvolver proficiência na leitura, desde um percurso eficiente e dedicado de formação do indivíduo. Para aqueles que alcançam níveis mais avançados de escolaridade deveriam ser confiados tal proficiência influenciando outras sensibilidades que estão abaixo dos seus níveis. Porém, esta realidade carece imenso em diversos contextos educativos angolanos essencialmente no nível superior de ensino. Na sequência da proficiência da leitura, cuja necessidade recai veementemente no ensino — aprendizagem, Colaço citado por Bezerra E Tabosa (2006, p. 3), aconselha para uma capacidade que se deve desenvolver e realizar em três dimensões:

os leitores proficientes devem ser capazes de realizar suas leituras em três níveis: explícito e metaplícito. A leitura ocorre praticamente de modo automático, através do reconhecimento imediato dos sentidos das palavras e das frases. O nível implícito relaciona-se ao que não está linguisticamente posto no texto e que, por isso, deve ser inferido a partir de pistas textuais dadas. E o nível metaplícito está associado à capacidade de reconstruir o contexto no qual o texto foi escrito, para dar-lhe sentido.

Em continuidade, Colaço refere ainda que “no nível metaplícito é importante a recuperação de outros textos lidos sobre o assunto tratado e/ou de outros conhecimentos de mundo para recuperação”. A partir das posições de Coelho e de Colaço podemos considerar que perante a necessidade do domínio da leitura, a identificação precoce dos elementos característicos da escrita deve ser um processo que desde a idade precoce constitua uma prática, parte da convivência científica do indivíduo ainda que de forma implícita como parte do desenvolvimento da mente para os desafios da vida adulta ou das classes de escolaridade mais avançadas.

Subentende-se neste sentido que quando o indivíduo tardiamente inicia a conviver com a escrita como é o caso do início tardio da escolaridade e a tardia concentração na convivência com a cultura acadêmica, influencia na dificuldade de desenvolver uma proficiência na leitura. Daí que os passos embrionários da leitura devem-se iniciar com eficiência desde cedo nas classes iniciais, desenvolverem-se de forma eficaz e complexa ao longo do percurso formativo do ensino secundário. Já no nível superior o indivíduo deverá utilizar com domínio o conhecimento da leitura que tem adquirido durante o percurso anterior, refletindo em todas as variedades das unidades curriculares, para que possa com êxito conquistar novos conhecimentos.

Desta maneira, tal domínio não apenas refletirá positivamente na causa acadêmica dos níveis superiores como também no exercício profissional. O contrário disto torna complicadíssimo para o desenvolvimento do conhecimento. Por mais que esta complicação não pareça séria ao ver de outros analistas, ainda assim julgamos que é extremamente retardado para os estudos do nível universitário quando os estudantes afins praticam leituras em soletrações ou desanexadas aos conteúdos. Tal facto dificulta a qualquer estudante em causa tanto a própria compreensão como também a capacidade de interpretação e de gerar novos conhecimentos.

2.2 O DOMÍNIO DA ESCRITA

A linguagem escrita é uma variedade da linguagem verbal sendo indissociável da leitura e consequentemente da aprendizagem. Conforme definido no dicionário infopédia, é a representação do pensamento e da palavra por meio de sinais convencionais. Para a veiculação do ensino e a aprendizagem, a escrita desempenha um papel crucial, pois, é a uma componente mestra e indispensável do domínio de qualquer conhecimento científico.

A cultura com que se domina a leitura influencia a cultura com que se domina a escrita vice-versa. E a cultura com que se domina simultaneamente às duas componentes, influencia a cultura com que se domina as diversas áreas do conhecimento. Trata-se, porém, de domínios fundamentais que se devem desenvolver essencialmente na especificidade da língua em que se desenvolve o conhecimento em cada contexto social, ou seja, da língua em que se veicula o ensino e a aprendizagem numa determinada sociedade.

Tal como referido na secção anterior do domínio da leitura, o domínio da escrita é semelhantemente um processo cuja aquisição exige um empenho das partes que a influenciam principalmente o próprio sujeito da aprendizagem, neste caso o aluno. O hábito cultivado desde cedo é um antídoto fundamental ao ponto de suprir as lacunas obtidas de um percurso formativo anterior.

Segundo Carvalho (2003, p. 7) “o processo de escrita pressupõe leitura permanente, à medida que o texto vai sendo construído; o escrevente torna-se leitor e posiciona-se de uma forma mais ou menos crítica na revisão do texto que vai emergindo até ao momento em que se considera concluído”.

Na base das diferentes fases de escolaridade considera-se que escrever é um processo que passa por um exercício de aperfeiçoamento de domínios e a sua progressão é com base numa dinâmica tanto por parte de quem aprende como da parte de quem ensina e das diversas partes intervenientes na aprendizagem. Das diversas componentes intervenientes no domínio da escrita, a escola é tida como a grande responsável para a sua orientação considerando o seu objeto social. Na perspectiva deste facto e a necessidade do domínio da escrita, Carvalho (2003, p. 3) projeta a questão no contexto da escola em quatro planos diferenciados e sucessivos considerando o seguinte:

o plano do sujeito enquadrado no âmbito de uma relação pedagógica tripartida que, para além dele, envolve o professor e a escrita […]: b) o plano da relação da escrita com outros domínios ou conteúdos da disciplina de Português; c) o plano da implicação da escrita no quadro das várias disciplinas escolares; d) o plano da participação, pela escrita, no quadro mais alargado da escola enquanto comunidade e na (s) comunidade (s) em que a escola e os sujeitos se inserem.

Conforme esta visão o domínio da escrita não se obtém de forma unidirecional tal como a sua aplicação não é unidirecional. Porém, reflete uma metodologia extensiva tanto do ponto de vista de ensinar como no ponto de vista de aprender, capaz de refletir numa cultura geral e profissional cujo foco da responsabilidade do desenvolvimento da escrita no aluno recai à escola, devendo o professor se empenhar com habilidades e metodologias para a aprendizagem do aluno.

Compreende-se que a partir da base de que a escola é o espaço especializado para aprendizagem, os alunos ao acorrerem à escola o fazem com o objectivo de aprenderem a ler e escrever. E uma vez não apresentando aperfeiçoamento, a escola é chamada a justificar o desempenho do seu papel. Ao lado desta perspectiva, a partilha da responsabilidade quanto a orientação para o domínio da escrita é uma outra visão que tem sido defendida por diversos especialistas e autores no sentido de que a responsabilidade educacional não se deve atribuir somente à escola, mas sim colaborativa.

Tal como no ponto de vista comum se procede com as orientações educativas fora do âmbito da escola, a aprendizagem da escrita não depende unilateralmente da escola onde a figura do professor trata estratégias escrupulosas para que o aluno possa aprender a escrever.A criança, sujeito da aprendizagem, não é totalmente inocente sobre a escrita, mas sim é alguém com capacidades inerentes no passivo que carecem de serem estimuladas. A partir do seu menor domínio ela é capaz de forma inconsciente representar indícios de escrita e evoluir para o maior domínio. Daí, que a educação colaborativa e interativa entre a família e a escola aquando da escrita é extremamente importante. A responsabilidade partilhada entre a família, a escola e o aluno é importantíssima, pois, é na família onde a criança que é aluno, começa os primeiros passos de conhecimento.

Apesar de muitas famílias não reunirem o conhecimento da letra, o seu gesto ainda que não científico, desde que possa estimular a criança ao gosto da escrita e da leitura é extremamente importante. A seguir está o próprio aluno que deve auto empenhar-se desde cedo de modo a facilitar o trabalho tanto da escola como da família. Se ao terminar o ensino de base e/ ou o ensino secundário o aluno viver na letargia do conhecimento, não cultivar hábito, vontade e iniciativa em torno da escrita, dificilmente poderá progredir para os níveis a seguir.

Compreendemos conforme Josefi (2011) que no processo de desenvolvimento da linguagem falada e escrita as crianças conseguem elaborar hipóteses a respeito da linguagem e, na medida do seu uso, vão conferindo as representações que vão dando certo e construindo a própria competência inter locutiva.

A, criança em referência pode ser compreendida como aluno que chega à escola num processo de iniciação da escrita e da leitura. A sua hipótese de leitura e escrita é relativamente baixa em relação à qualidade que se espera. Somente desenvolverá ao longo da exercitação através da influência do professor, através do empenho pessoal e das diversas partes que colaboram e que devem colaborar na construção do conhecimento. É um processo cujo desenvolvimento marchará em cada ano e cada nível de escolaridade. Porém, o percurso exige uma transformação gradual na medida em que o aluno vai passando de classe e de nível.

Ao chegar ao nível superior, ele deverá ter já construído as bases fundamentais que o possa qualificar do estatuto de aluno ao de estudante, capaz de fazer análises complexas, investigar, interpretar pontos de vistas e desenvolver amplas compreensões, enquanto os professores, verdadeiros dinamizadores do processo ao ponto de facilitação do desenvolvimento do conhecimento num ambiente colaborativo com os estudantes. É do nosso conhecimento, conforme Ferreiro E Teberosky (1999) que a alfabetização não é um estado ao qual se atinge, porém, é um processo que se inicia e tem continuidade operando aperfeiçoamentos no conhecimento dos indivíduos. Ainda assim, o nível de aperfeiçoamento deve ser progressivo reconhecendo que a cada nível de ensino que se chega operam-se novos conhecimentos de complexidade superior aos dos níveis anteriores. Não deve ser o caso que a universidade se ocupe mais na orientação do desenvolvimento quase inicial da linguagem escrita ou da leitura dos estudantes que a frequentam, a não ser preocupar-se já com os níveis complexos do seu desenvolvimento, ensino, com a sua aplicabilidade nos diversos níveis do conhecimento, na preparação profissional dos próprios estudantes, investigação ou desenvolver estas componentes no âmbito da extensão universitária.

Os estudantes ao nível superior, em termos da leitura e da escrita deveriam ser através dos níveis de capacidade aperfeiçoada, colaboradores humildes ao desenvolvimento do conhecimento tanto ao lado dos seus professores como ao lado das diversas sensibilidades que garante a funcionalidade do ensino. Mas se ao contrário não reunirem tais capacidades tornam-se cada vez mais apáticos e menos contribuintes e assim finalizam os ciclos de formação sem a requerida verdadeira identidade universitária. O nosso contexto universitário é bastante afetado por esta realidade visto que frequentemente tem- se notado que a distância entre a leitura, o estudo, e o domínio do conhecimento é enorme, cenário que predomina prejudicialmente as tendências do desenvolvimento.

3. A RELAÇÃO DA LEITURA E ESCRITA COM OS PERFIS DE ENTRADA E DE SAÍDA PARA O SUCESSO FORMATIVO E PROFISSIONAL

Uma das questões que se têm discutido em certos fóruns informais e de exercício profissional é se de facto é importante se observar o perfil de entrada no percurso formativo quanto ao domínio da leitura e da escrita face ao perfil de saída necessário. Muitos profissionais que assumem as responsabilidades de gestão, decisores sobre o acesso dos candidatos ao nível superior, opõem-se a esta questão considerando menos importante a observância do perfil de entrada. Segundo esta oposição é que o que conta mais na formação não é o perfil de entrada, mas sim o de saída, desde que seja bem trabalhado uma vez que a universidade tem o papel de agir com os seus esforços necessários para a transformação do homem.

Esta defesa reflete bastante, na prática, concernente ao processo de entrada de novos alunos no ensino superior em Angola, caracterizado por maior inobservância de um perfil de entrada adequado virado para a qualidade de ensino. A opção pela massificação, a aleatoriedade e a aplicação de critérios pouco confessos ou sem mesmo nenhuns tornaram dominante, criando um feitio pouco adequado ao ensino do nível universitário. Refletindo nesta base é consideravelmente contraditório para o sucesso formativo, alimentar a consciência de que as habilidades e o desenvolvimento de fórum científico começam na universidade ao ponto de se ignorar o impacto dos conhecimentos prévios desde os níveis antecedentes.

Experiências investigativas de Ortiz-Sobrinho; Rodriguez-Barba E Pérez-Serrano (2011) a volta dos perfis de entrada dos futuros alunos em diversos cursos, dão exemplos de que a valoração do perfil de entrada permite uma aferição da imagem estudantil de quem se espera desenvolvimento, desde as perspectivas de competências, vocação e outros comportamentos afins ao longo e à saída da formação. O verdeiro interesse de formar quadros de qualidade opõe-se às práticas contraditórias, desde o processo de admissão dos candidatos ao processo de formação, face um perfil de saída aceitável e realizável.

Na nossa perspectiva é controverso ao desenvolvimento social, projetar-se perfis de saída altamente ambiciosos quando, na verdade, é ignorada a atenção aos perfis de entrada e noutras vezes não se observa com toda cautela e qualidade o processo de desenvolvimento dos perfis de permanência dos formandos.

É preciso compreender que o estatuto profissional dos quadros a serem preparados para servirem o país, começa a se desenhar desde o perfil de entrada envolvendo uma antecâmara dos conhecimentos prévios e a vocação em si para o ramo profissional que se pretende iniciar investir. Daí, os antecedentes escolares atendendo sucesso e insucesso, inclusive inclinações psicológicas e profissionais, fornecem ao todo um conjunto de informações sobre o futuro formando e permitir tomar precauções nas formas de agir. Para tal, conhecer de antecâmara os níveis de conhecimento com que os candidatos concorrem ao nível elevado de ensino é importantíssimo.

O conhecimento acadêmico de base é, na verdade, ponto fulcral no ensino e aprendizagem. No caso do domínio da leitura e da escrita, como já referido nas secções anteriores, são factores essenciais para uma iniciação universitária e um percurso formativo de sucesso, independentemente da área profissional. O seu fraco domínio resulta numa excessiva mediocridade na manifestação do conhecimento, facto que segundo Bertrand (2001, p. 202) constitui um “declínio da civilização e da cultura”.

Pelo grande destaque que exercem no conhecimento, a leitura e a escrita são dois pilares fundamentais sobre os quais assentam tanto o ensino como a aprendizagem. O domínio de todas as disciplinas e áreas de formação, em qualquer nível de ensino, somente é possível com base nestes pilares que por sua vez assegura tanto a iniciação do conhecimento científico, o percurso do seu desenvolvimento e a aplicação deste mesmo conhecimento nas necessidades previstas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A universidade, é um espaço acadêmico, cuja aposta se situa no desenvolvimento social, através da formação de quadros diversificados ao alto nível, investigação científica, produção e difusão do conhecimento. A formação de professores, igualmente ao alto nível, é confiada a este espaço, que no caso do Instituto Superior de Ciências de Educação da Universidade Onze de Novembro, tal como outras instituições semelhantes, é chamada a formar professores com um ensino de qualidade ao nível superior. Considerando o domínio da leitura e da escrita, componentes basilares para o desenvolvimento acadêmico e profissional, urge a necessidade de atenção considerando os seguintes aspectos:

1. Construir uma matriz assente na valoração dos perfis de entrada, de permanência face ao perfil de saída desejado.

2. Promover eventos no domínio da leitura da escrita com vista a incentivar os estudantes a melhorarem a sua prestação.

3. Desenvolver junto dos professores critérios que valorizem as competências da leitura e da escrita ao longo da formação.

4. Incentivar os professores aplicarem metodologias formativas e avaliativas capazes de estimular a prestação dos estudantes nas competências da leitura e da escrita.

5. Consciencializar os professores e os estudantes quanto a transversalidade da leitura e da escrita de modo que a responsabilidade do seu desenvolvimento não seja atribuída de modo centrado e confinada a disciplina de Língua Portuguesa.

6. O desenvolvimento de uma metodologia que visa elevar a cultura geral dos estudantes do nível superior de formação de professores, fato associado aos horizontes da leitura e da escrita.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, H. H. N.;MICHELETTI, G.Teoria e Prática da leitura. In: Coletânea de textos didácticos. Componente Curricular, Leitura e elaboração de textos. Curso de Pedagogia em serviço. Campina grande: UEPB, 2002.

BERTRAND, Y. Teorias Contemporâneas da educação. 2ª Edição, Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

BEZERRA, M. A; TABOSA,M. Q. Habilidades requeridas e demonstradas em Provas de vestibular. Revista Intercâmbio, volume XV. São Paulo: LAEL/OUC-SP, ISSN 1806-275X, 2006.

CARVALHO, J. A. B.A Escrita na Escola: uma Visão integradora. Rcaap. Portugal.Univ. Minho, nº 27, PP. 186-206 (2013). Disponível em: <https://www.eses.pt/interaccoes>. Acessadoem: 24-02-019.

COELHO, N. N. Literatura Infantil:Teoria, Análise, Didáctica . 7. ed. São Paulo: Moderna, 2000.

FERREIRO,E.;TEBEROSKY, A. Psicogênese dalíngua escrita. Artmed. Porto alegre, 1999.

FREIRE, P. A importância do acto de ler. 47ª ed. S. Paulo: Cortez, 2006.

COMÉNIO,J. A. Didáctica Magna. 5ª Edição. Fundações Calouste Gulbenkian, 2006.

JOSEFI, Â. H. B. Leitura e Escrita: Como a escola tem ensinado. Revista Electrónica Acolhendo a Alfabetizaçãonos Países de Língua Portuguesa, Brasil, São Paulo, vol. 1, nº 1º, pp.181- 201, Mar. 2011 Disponível em: <http://www.acoalfaplp.net>Acessado em 20-02-2019.

ORTIZ-SOBRINHO, M. A; RODRIGUEZ-BARBA, D.; PÉREZ-SERRANO, M. J. Perfilde Entrada de los Futuros Alumnos de Comunicación en las Universidades de Madrid, en 2010/2012: La Reafirmación de los Rasgos. Revista de Comunicación de la SEECI, núm. 26, noviembre, 2011, pp. 1-21 Sociedade Española de Estudios de la Comunicación Iberoamericana Madrid, España.

TOURINHO, C.Reflectindo sobre a dificuldade de leitura em alunos do ensino superior: “Deficiência” ou simples falta de hábito? Revista Lugares de Educação, Bananeiras/ PB v.1, n.2, 2011. Disponívelem:< http: //periódicos. ufpb.br/ojs2/índex.php/rle>.

[1] Doutorado em Ciências da Educação: Currículo, Professorado e Instituições Educativas; Mestrado: Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores; Pós-graduações: Relação Educativa, Supervisão e Organização Escolar; Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores; Supervisão Educativa; Graduação: Ensino de Pedagogia- Gestão e Inspecção Escolar Bacharelato: Formação de Formadores para o Ensino Básico.

[2] Doutorado em ciências da educação pela Universidad San Lorenzo; Mestrado em educação primária; Licenciado em Ensino de Matemática.

Enviado: Maio, 2019.

Aprovado: Outubro, 2019.

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Fernão Osório Afonso

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