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Mudanças no cenário docente no Amazonas: do adoecimento fisiológico para o psicológico

RC: 148755
411
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/cenario-docente-no-amazonas

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

CAVALCANTE, Andréa Carla Corrêa [1], SILVA, José Amauri Siqueira da [2], FERREIRA, Ezequiel Martins [3]

CAVALCANTE, Andréa Carla Corrêa. SILVA, José Amauri Siqueira da. FERREIRA, Ezequiel Martins. Mudanças no cenário docente no Amazonas: do adoecimento fisiológico para o psicológico. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 08, Ed. 09, Vol. 03, pp. 180-194. Setembro de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/cenario-docente-no-amazonas, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/cenario-docente-no-amazonas

RESUMO

A pesquisa apontou um cenário de mudança no adoecer docente, que partiu do acometimento físico para o psicoemocional nas últimas décadas. A presente pesquisa confirmou tais alterações no contexto da classe docente no Estado do Amazonas? Houve o desdobramento do acometimento físico para o mental? A pesquisa buscou explicar as mudanças no processo de adoecimento da classe docente, que passaram a ser especificadas pelas doenças psicológicas e não mais fisiológicas. Dessa forma as mudanças podem ser associadas ao trabalho desse profissional, o que alavanca o afastamento do docente do ambiente escolar. A metodologia utilizada foi concomitante e o enfoque misto, a investigação se deu pelo método exploratório e descritivo com uma amostra de 20 profissionais que assinaram o TCLE. Os procedimentos metodológicos utilizados para a coleta de informações ocorreram através do estudo bibliográfico, da observação e entrevista previamente elaborada, e aplicada em 1.636 profissionais, onde a amostra da população ocorreu com 20 trabalhadores ativos, na faixa etária entre 40 e 60 anos. O estudo ocorreu no período de abril do ano 2018 a ameados de setembro de 2020, sendo concluído em 29 meses de estudo e registros de casos. O estudo resultou na constatação da mudança voltada para questão do adoecimento, do fisiológico para o psicológico, e na identificação das doenças mais recorrentes na classe docente. Concluiu-se que houve uma mudança no cenário docente, em que as doenças passaram a ser evidenciadas pelas doenças de cunho psicológico e não fisiológico como acontecia comumente. A atuação dos profissionais na educação se tornou estressante, pois além de enfrentar dificuldades próprias do cargo, também precisam superar os desafios do cotidiano escolar, o que reforça a instalação de doenças psicoemocionais.

Palavras chaves: Mudanças, Doença, Docente, Superação, Psicológico.

1. INTRODUÇÃO

Muito se tem discutido sobre a saúde mental do docente, em razão disso, a pesquisa foi desenvolvida com docentes da Secretaria de Educação do Amazonas. Observou-se a mudança no processo de adoecimento desse profissional, onde o exercício da classe é evidenciado por inúmeras dificuldades, que refletem as mudanças relacionadas ao labor. Nesse contexto identificou se as alterações no processo de adoecimento na capital do Estado do Amazonas nos profissionais da docência. Tal fato evidenciou que as doenças migraram do aspecto Físico para o Psicoemocional? O ambiente laboral e os desafios encontrados no cotidiano escolar, refletem diretamente na atividade profissional da classe, sobrecarregando o docente e desencadeando doenças fisiológicas e psicológicas, essa última em alto índice, evoluindo para quadros incapacitantes.

O estudo apresenta o relato de experiências vivenciadas por 20 (vinte) profissionais, afastados das atividades que se encontravam em acompanhamento Psicológico na SEDUC/AM. Tais servidores encontravam-se afastados das suas atividades laborais temporariamente, de forma legal e periciados por uma equipe técnica com o autorizo do órgão competente. Em 2018 consta no registro Psicológico o atendimento geral de 1.025 servidores.

No ano de 2019 foram atendidos 3.067 servidores no Serviço Psicossocial. Em 2020 435 docentes foram atendidos na forma presencial. Os serviços voltados ao atendimento da classe foram suspensos por conta do COVID 19 (SARS-COV 19), e posteriormente houve adequação do atendimento, que por questões de saúde pública precisaram ser feitos de forma online, evitando assim o aumento no número de contaminação pelo vírus. Apesar da dificuldade foi possível oferecer um acolhimento multiprofissional a 306 docentes. Por conta da situação emergencial houve o atendimento a 741 servidores somente, impedindo a abrangência do serviço, comumente ofertado pela SEDUC. Os serviços de atendimento psicológico foram suprimidos pelo Serviço de Atendimento Psicológico da Secretaria de Estado da Saúde, através da plataforma SAPS, criado de forma emergencial para orientar os pacientes respeitando o distanciamento social.

O cenário pandêmico obrigou a mudança nas atuações profissionais, no oferecimento e funcionamento do serviço a população. Os profissionais da educação não ficaram de fora das adaptações emergenciais, pois era preciso uma força tarefa diferenciada para salvar vidas sem paralisar totalmente os serviços essenciais para a população. Pelo menos 300 docentes, foram vítimas fatais da COVID 19 entre 2020/2021. Apesar da pandemia foi possível comprovar nos anos de 2018 e 2019 um aumento significativo da procura ao atendimento psicológico de servidores.

Os laudos médicos apresentados pelos docentes, em sua maioria se caracterizam por afastamento de CID por transtornos psicoemocionais e comportamentais, iniciados no período laboral. Paro (2018, pg. 73) cita ainda que,

“Além dessa singularidade do objetivo que se tem em mira, é preciso, em segundo lugar, estabelecer rigorosamente quais são os elementos do processo de trabalho pedagógico. Parece não haver nenhuma dificuldade com relação aos instrumentos de trabalho (material escolar em geral, mobiliário, laborato-visuais, salas de leitura, prédio escolar, etc.) e a necessidade de sua adequação aos objetivos do ensino”.

As doenças que mais se evidenciaram no processo de adoecimento do docente, que acarretam exaustão fisiológica e mental, foram a ansiedade e a depressão, que em maior gravidade levam a instalação de doenças psiquiátricas e que possuem diagnósticos de quadros irreversíveis.

Com os desafios na educação buscou-se identificar de que forma as mudanças sociais e educacionais influenciaram no processo de adoecimento desse profissional, resultando na acentuação das doenças, evidenciadas no desgaste físico e psicológico. Fez-se necessário descrever, as mudanças na atividade da docência que levaram ao adoecimento, e nesse contexto, o esgotamento fisiológico e psicológico ocupam espaço relevante no campo das doenças trabalhistas, virando assunto de preocupação na área de saúde ocupacional.

2. DOENÇAS MAIS RECORRENTES E AS MUDANÇAS SOCIAIS E EDUCACIONAIS QUE INFLUENCIARAM NO ADOECIMENTO DOCENTE

A atuação do docente nas instituições públicas e privadas, vem gerando incidências de problemas de saúde, no início ou no final do percurso laboral, pois existem relatos sobre o sofrimento emocional, físico e psíquico que a classe enfrenta diariamente. As sobrecargas de horário de trabalho também geram exaustão, acarretando o comprometimento dos músculos, tendões, articulações e ossos dessa classe profissional.

As atividades próprias da docência evidenciam exposição a fatores de risco, pois não possuem ambiente de exercício de criatividade, as salas de aula são numerosas, os alunos por vezes apresentam problemas de déficit de aprendizagem, além dos aspectos socioemocionais de cada um. A região Amazônica é quente e úmida, o que gera calor extremo dentro das salas de aula, sendo indispensável o uso de aparelho de ar condicionado. Cortella, (2018, pg. 19) cita que;

“De fato, não pode ser possível que o desalento vire desencantoe imobilize nossa ação! Há muito para ser feito, reinventado, recriado, renovado; aos problemas aí continuam e precisam ser conjuntamente enfrentados. A desistência ou indiferença indicam o falecimento da esperança e, nessa condição, é melhor ser íntegro e honesto e procurar outros caminhos fora da educação”.

Santos e Siqueira (2010), apontam para a prevalência do aumento nos processos de transtornos mentais na população adulta brasileira que tem variado de 20 a 56%, onde ficaram mais evidentes os diagnósticos de transtornos mentais. As atividades da classe docente impulsionam a instalação das doenças, uma vez que, as alterações das condições de trabalho nos dias atuais favorecem o aparecimento do estresse e da Síndrome de Burnolt, considerando que se trata de uma classe predisposta aos transtornos psicossociais, resultando no absenteísmo e abandono da atividade docente.

Para Alves (2014), a crise estrutural colocou a necessidade de um novo patamar da força de trabalho como mercadoria, onde a produção capitalista desconsidera o humano, pois o que lhe interessa é o avanço, mesmo que isso resulte na destruição da humanidade.

O cotidiano docente inevitavelmente gera cansaço e alto nível de estresse, que refletem no processo do adoecimento pelos quadros apáticos, irritadiços, raivosos e depressivos, levando o profissional a desencadear crises e/ou surtos. Quanto ao aspecto físico desse profissional, o alto nível estresse resulta no aparecimento ou na piora de doenças crônicas, assentando o estado de impotência psicoemocional, levando o profissional a uma rotina exaustiva e fadigada.

Cortella (2018) defende a valorização do profissional da docência e expõe como um ato de amor a essa missão na educação, pois, são muitos os desafios encontrados no cotidiano dessa classe, entre eles a capacidade de superar os limites desse contexto no país, e ainda lida diretamente com a falta de estrutura física e didática pedagógica.

Para Chaves e Guimarães (2015), a crise capitalista alterou a degradação ecológica e corroeu o processo de trabalho, que está associado ao aumento da miséria contrastando com as forças produtivas. A destruição do capital, somado com a produção do consumo de supérfluos também gera a precarização do desemprego estrutural da sociedade.

As doenças como os transtornos de ansiedade são diagnosticadas de formas diversas em uma mesma categoria patológica, como o transtorno de pânico e o transtorno de ansiedade generalizada. Com a instalação da doença e o comprometimento psicológico, a ansiedade pode monopolizar as atividades psíquicas e as tarefas que exigem atenção, memória, etc. A sociedade sofre transformações sociais, políticas e econômicas, que mudam as concepções e os paradigmas educacionais, bem como acompanham o processo de mudança da visão e do valor que se atribui aos agentes educacionais, a escola, os alunos, os saberes e os docentes.

Os transtornos mentais são considerados agravos de saúde e infelizmente prevalecem na classe docente, que tem se organizado e reivindicado condições dignas de trabalho, assumindo papel de competência e superação quanto os desafios encontrados no contexto escolar. Paro, (2018, p. 117) afirma que;

”Em geral o que une o discurso dos professores é a reclamação contra a falta de reciprocidade por parte dos usuários e da sociedade em geral com relação ao importante trabalho desenvolvido pelos docentes em seu esforço para formar o cidadão. É muito comum, nas conversas a respeito da profissão docente, ouvir o professor ou a professora lamentar-se pela falta de respeito que normalmente se tem por seu trabalho”.

O século XXI foi marcado por uma transição social, chamada de pós-modernidade, que interferiu diretamente no cotidiano escolar. Nesse contexto, a sociedade impôs mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais, obrigando a escola a se desenvolver de acordo com essas dimensões pré-estabelecidas. Vale ressaltar que, a escola ainda é de fato a fonte principal de formação do homem. Paro, (2018, pg. 103) afirma que;

“O ser humano não é um ser apenas social, mas um ser político, porque nas relações sociais que estabelece, esta suposta condição de sujeito dos envolvidos. O conceito mais amplo de política refere-se, pois, a atividade humano-social com o propósito de tornar possível a convivência entre grupos e pessoas em sua condição de sujeitos, portadores de múltiplos valores e interesses”.

A escola assumiu responsabilidades que refletem no processo de exaustão do docente, tal fato se deu em função das mudanças sociais ocorridas na sociedade e nas políticas educacionais. A sobrecarga profissional também exige novas habilidades e competências do decente. Tais alterações sociais permeiam o processo educacional mudando em muitos aspectos sua pedagogia e metodologia, solicitando também mudanças de condutas diante do cotidiano escolar. Relações entre docentes alunos também sofreram alterações dentro da nova perspectiva no processo de educação, apontando para a necessidade de qualificação e adequação da classe profissional.

As mudanças nas instituições e de forma geral na educação exigem aprendizagem de forma mais integrada e ampla, que se inter-relacione, que se reconecte com o conhecimento. O desafio para classe docente está na incorporação de novas tecnologias a novos processos de aprendizagem que oportunizem atividades que exijam investimento intelectual, emocional, sensitivo, intuitivo e estético, que desenvolvam as habilidades do indivíduo em sua totalidade.

3. AS MUDANÇAS NA ATIVIDADE DA DOCÊNCIA QUE LEVAM AO ADOECIMENTO

 O novo processo de trabalho docente somado as responsabilidades impostas ao trabalhador dentro do atual formato de educação, alavancaram os desgastes psicoemocionais durante o exercício da docência, pois as atividades rotineiras de sala de aula, a falta de estrutura física e pedagógica, os desafios presentes no ambiente escolar diante das mudanças sociais e políticas refletem diretamente na saúde desse profissional. Com as mudanças sociais e educacionais, surgiram muitas provocações entre elas os métodos pedagógicos que surgiram no contexto escolar e geraram mudanças para a função docente. Diante do atual cenário político, a educação ao alcance de todos, resultou em um sobre-esforço desse profissional, pois, sugere uma atuação multiprofissional para abarcar todas as demandas do cotidiano escolar.

Com as exigências trabalhistas na rotina desse profissional, inevitavelmente ocorre a instalação do estresse, onde o psicoemocional é afetado em consequência das mudanças no processo educacional, aumentando as cargas emocionais. Todo esse desgaste ocorre para a realização das metas definidas em prol do cumprimento do calendário escolar, ou seja, espera-se que esse docente não deixe de produzir, para atender objetivamente as exigências da instituição.

Tardif (2013), defendia que as formas antigas de ensino, vistas como vocação e ofício para a profissão, requer levar em conta as dimensões culturais e sociais da classe docente para que se possa problematizar os processos que são tendenciosos a profissionalização.

Para Barreto e Heloani (2018), o adoecimento psíquico na sociedade moderna, quanto a determinação social do processo saúde e doença, contribui para o agravamento do processo de fadiga, bem como, para o surgimento de quadros psicopatológicos, que também resultam em crises, que por sua vez, são causadas por situações de aumento de jornada de trabalho, dobras de turno, trabalho em domicílio e a intensificação da produção, ocasionando os acidentes de trabalho e a instalação dos transtornos mentais.

Dentre algumas preocupações do exercício docente, considera-se que a carga horária, precisa ser analisada uma vez que as atividades previstas no fazer desse profissional não se encerram com a finalização do tempo de aula, pois é preciso considerar os trabalhos que se estendem extra a sala de aula, como o preenchimento de frequência dos alunos, provas e trabalhos aplicados, bem como a elaboração de atividades posteriores. Paro, (2018, pg. 113) afirma que;

“Um ponto que sobressai no oferecimento dessas condições é o que se refere ao tipo e à qualidade de vida que o professor pode usufruir com o que ganha no desempenho de seu ofício. Se como vimos, o salário não pode constituir a razão de ser da atividade do mestre educador”.

O processo saúde-educação apresenta uma crítica da problemática do mal-estar, dos sofrimentos e do processo de adoecimento dos docentes, que se vinculam à história do trabalho docente e ao estado de ser ou estar na cultura da pedagogia no país. Os registros de ausências do profissional docentes no espaço escolar por motivo de licença médica, que evidencia a real condição de saúde da classe, e, portanto, é preciso considerar tais indicadores como vestígio para investigação e estudo, para uma proposta de elaboração de meios de manutenção de qualidade de vida no ambiente de trabalho desse profissional.

Para Tonet (2012), o capitalismo é considerado uma relação social e não um objeto que acontece pelo desenvolvimento da riqueza humana, que por sua vez, aliena e é produzida pelo trabalho, que vai além das necessidades humanas, pois ao ampliar as forças de reprodução, compromete as relações sociais aumentando o poder da autodestruição.

Nóvoa (2017) afirma que a profissão da docência deve ser desenvolvida continuamente, através da formação tanto inicial quanto permanente, estando associada ao processo pessoal e necessidades individuais, além de considerar todas as adversidades encontradas no cotidiano profissional, o contexto cultural e a realidade institucional, visando, o ensino individual e coletivo.

As mudanças ocorridas no contexto escolar sugerem que não o ajustaram ao processo real educacional, pois as propostas efetivadas atendem parcialmente as necessidades da rede de ensino e as demandas dos profissionais na ativa. O atual cenário escolar revela a grande exposição da classe docente aos fatores de risco, que geram um significativo aumento dos números de acometimento de doenças dos docentes. O processo saúde-doença e cuidado precisa ser ampliado, e avançar em relação às abordagens sanitaristas e de prevenção, que estão voltadas somente para os fatores de risco sejam eles ambiental, biológico, físico ou orgânico presentes nos ambientes educacionais.

De acordo com Lukacs, (2012) a análise do capitalismo contemporâneo e as características que determinam os processos de trabalho, marcam as taxas de sofrimento e de adoecimento psíquico, pois é pelo trabalho que o indivíduo produz meios para sua sobrevivência e amplia as suas capacidades humanas, contribuindo também com a transformação do mundo.

A escolha da temática justificou-se pela necessidade de reconhecer, a mudança no processo de adoecimento do docente, a percepção que os docentes possuem acerca do adoecimento relacionado ao seu trabalho, considerando as revelações sobre o estado psicológico desse profissional. É necessário entender que tais mudanças inflamaram o processo de adoecer da classe, refletindo instantaneamente no alto número de afastamento do profissional das suas atividades docentes. Nesse contexto, o estudo apontou para uma proposta de estudo, partindo da realidade desse profissional, visando aproximar o resultado da pesquisa ao cotidiano educacional e correlacioná-las.

4. METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre adoecimento físico e psicológico, sobre as doenças comuns da classe docente na visão nacional e, em seguida, procedeu-se à delimitação ao Município de Manaus-AM, sobre as condições de trabalho, o processo de adoecimento da classe e os desdobramentos, que essa mudança de adoecimento profissional sofreu no contexto regional, evoluindo das doenças fisiológicas para as de cunho psicoemocional.

O método da pesquisa foi misto, com triagem e observação direta a vinte (20) profissionais da Secretaria de Educação, onde foi possível constatar que, o atual cenário da educação pública está adoecido. Os docentes que participaram da pesquisa assinaram o Termo De Consentimento Livre E Esclarecido (TCLE); as técnicas utilizadas e instrumentos de dados foram feitos através da pesquisa bibliográfica, da observação direta e da entrevista estruturada, tendo como campo de pesquisa a própria sede da Secretaria, totalizando 29 meses de pesquisa e registros do cotidiano docente. A amostragem ocorreu pelo levantamento dos números de afastamentos das atividades laborais. A seleção se deu por meio do levantamento, dos atendimentos efetuados no Serviço Psicossocial nos anos de 2018 a 2020. Tais informações, estão disponibilizadas no controle de atendimento anual do arquivo da Secretaria com informações sigilosas quanto aos nomes dos atendidos, por uma questão de ética e preservação de imagem dos mesmos.

5. RESULTADOS OBTIDOS

Os resultados obtidos durante a pesquisa confirmaram as mudanças no processo de adoecimento do docente, que clinicamente migraram das doenças fisiológicas para as doenças psicológicas. Ambos os resultados foram analisados e interpretados para se chegar as conclusões da mudança de adoecimento na classe docente que se evidencia com as emissões de laudos com CIDs de doenças psicológicas, e, de acordo com as investigações bibliográficas as doenças que mais acometiam a classe eram de cunho fisiológico, conforme nos ilustra o gráfico da Figura 1.

Figura 1 – Gráfico da relação quantitativa dos laudos apresentados por professores

Fonte: Autoria própria (2021).

Muitos profissionais da área educacional procuram por serviços de atendimentos voltados a saúde psicoemocional, fato apresentado no gráfico 2, indicando a necessidade de atenção aos cuidados no ambiente de trabalho desse docente, e assim acolher a classe na sua integralidade. Paro (2018, p. 107) afirma que:

A consideração da ação educativa como processo de trabalho chama a atenção para o cuidado que deve ser dado ao professor como trabalhador do ensino. As questões aqui são bastante numerosas, mas duas podem ser preliminarmente destacadas: suas condições de trabalho e sua formação.

Figura 2 – Gráfico de procura pelo atendimento psicológico

Fonte: Autoria própria (2021).

Cortella, (2018) evidencia a necessidade da valorização da docência como um ato de amor e dedicação por parte do profissional, pois este encontra muitas dificuldades no caminho docente, superando todos os desafios para exercer tal missão, suportando todos os limites reais existentes no processo educacional.

O fazer docente possui atividades específicas e próprias da profissão que envolve práticas pedagógicas e metodologias que não modificam. O sobre-esforço da carga horária desse profissional aponta que as mudanças ocorridas no processo educacional, desencadeou o aumento do número de aulas e gerou fragilidade no processo de ensino. Paro, (2018, pg. 112) afirma que;

“Se o ofício docente é equiparado a outro ofício qualquer, quando a atividade fracassa, não alcançando os resultados esperados, a culpa é quase sempre atribuída unicamente ao trabalhador (no caso, o professor) que não é qualificado ou que não se dedica a sua função. Isso tem funcionado como álibi ao Estado, para responsabilizar os docentes em lugar de garantir condições objetivas adequadas ao trabalho do magistério”.

Os fatores do adoecimento psicológico foram levantados mediante análise documental e a observação direta aos docentes envolvidos na pesquisa, através da observação e a entrevista não direcionada. A observação possibilitou a compreensão do contexto da mudança de adoecimento da classe, oportunizando a percepção de ocasiões que não foram identificadas durante a entrevista. As entrevistas ocorreram de forma individual considerando a disponibilidade de cada participante, explicando na ocasião o objetivo do estudo com a questão norteadora: Foi possível identificar as mudanças no cenário docente no Amazonas: do adoecimento Fisiológico para o Psicológico?

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudou evidenciou a mudança no adoecer docente, o qual migrou do fisiológico para o psicoemocional, estando associado ao processo laboral. No decorrer da pesquisa, o estudo respondeu à questão norteadora. Os transtornos mentais são considerados agravos de saúde e infelizmente prevalecem na classe docente, que tem se organizado e reivindicado condições dignas de trabalho, assumindo papel de competência e superação quanto os desafios encontrados no contexto escolar. O processo saúde-educação apresenta uma crítica da problemática do mal-estar, dos sofrimentos e do processo de adoecimento dos docentes, que se vinculam à história do trabalho e ao estado de ser ou estar na cultura da pedagogia no país.

Os dados de afastamentos por licenças médicas indicam a real dimensão do problema de saúde da categoria, e, podem ser consideradas evidências reais para aplicação e posterior análise das condições de saúde psicoemocional da classe docente, pois evidenciam a prevalência de adoecimentos por transtornos psíquicos desses profissionais. É importante ressaltar a possível falta de adequação apontada entre os processos de mudanças, que por sua vez não atendem as demandas filtradas no cotidiano escolar, os quais estão associados ao adoecimento da classe. O processo saúde-doença e cuidado docente precisa ser ampliado, e avançar em relação às abordagens sanitaristas e de prevenção, que estão voltadas somente para os fatores de risco sejam eles ambiental, biológico, físico ou orgânico presentes nos ambientes educacionais.

Os profissionais acometidos por doenças psicológicas geralmente são rotulados de incapazes e improdutivos, e nesse contexto, o que de fato se espera da Instituição escolar, é que esse público receba além de atenção e respeito a orientação especializada, com assistência profissional e isso inclui os bons serviços de atendimento à saúde física e mental, garantindo o direito ao tratamento adequado. Espera-se que este estudo seja um passo em direção à construção deste conhecimento no âmbito educacional e contribua para futuras pesquisas em saúde na classe docente, principalmente quanto ao processo de adoecimento que se evidenciou como abrangente nesses profissionais, as doenças de cunho psicológico. O Objetivo da investigação foi comprovar a mudança de perfil de adoecimento na classe docente e sugerir alternativas de atividades que minimizem o número de afastamento de docentes acometidos por doenças psicológicas no exercício da profissão.

Finalmente, esclarece-se que este trabalho não tem a pretensão de ser definitivo, porém, que sirva como ponto de partida para futuros estudos acerca dos fatores que interferem no processo de adoecimento fisiológico para o psicológico do profissional da docência.

REFERÊNCIAS

ALVES G. Trabalho e subjetividade: o espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório. São Paulo: Boitempo; 2014.

BARRETO M.; HELOANI, R. Violência, saúde e trabalho: a intolerância e o assédio moral nas relações laborais. Rio de Janeiro, n. Especial 4, 2018.

CHAVES, V. L. J.; GUIMARÃES A. R. Repercussões da crise do capital no trabalho do docente da universidade pública brasileira. Poiésis, Tubarão. v.9, nº 16, p. 297-312, 2015. Disponível em: https://portaldeperiodicos.animaeducacao.com.br/index.php/Poiesis/article/view/3259/2465. Acesso em: 10 fev. 2015.

CORTELLA, M. S. Nós e a escola: agonias e alegrias. Petrópolis, RJ; Vozes, 2018.

LUKACS G. Para uma ontologia do ser social I. São Paulo: Boitempo; 2012.

NÓVOA, A. Firmar a posição como professor, afirmar a profissão docente. Lisboa, 2017.

PARO, V. H. Professor: artesão ou operário?. São Paulo: Cortez, 2018.

SANTOS, E. G.; SIQUEIRA, M. M. Prevalência dos transtornos mentais na população adulta brasileira: uma revisão sistemática de 1997 a 2009. J Bras Psiquiatria. 2010.

TARDIF, M. A profissionalização do ensino passados trinta anos: dois passos para a frente, três para trás. Educação e Sociedade, Campinas, 2013.

TONET, I. Educação contra o capital. Maceió: EDUFAL, 2012.

[1] Doutora em Ciências da Educação pela Universidad Del Sol – UNADES- República de Paraguay. Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Del Sol – UNADES- República de Paraguay. Especialista em Gestão Escolar pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM (2016). Graduada em Psicologia pela Universidade Luterana do Brasil-ULBRA (2001). Graduação em Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Estácio de Sá (2015). ORCID: 0000-0002-7729-580X. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4442186396061310.

[2] Oreientador. Doutorado em Ciência da Educação pela Universidade San Lorenzo (UNISAL), Mestre em Matemática pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Graduação em licenciatura Matemática pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). ORCID: 0000-0003-0587-7277. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1572652997792032.

[3] Doutorando em Performances Culturais pela Universidade Federal de Goiás. Mestre em Educação pela UFG. Especialista em Psicanálise, Arteterapia e Psicopedagogia e Educação Especial pela FATECAP, Especialista em Docência Universitária pela FABEC Brasil, Especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela UFG, Bacharel em Psicologia pela PUC- GO. Licenciado em Artes Cênicas pela UFG, e Licenciado em Pedagogia pela Facibra. ORCID: 0000-0001-5468-6579. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/ 4682398500800654.

Enviado: 19 de junho, 2023.

Aprovado: 14 de agosto, 2023.

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Ezequiel Martins Ferreira

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