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Conectando o problema de pesquisa com a metodologia científica – Compreendendo as etapas da pesquisa científica e seus cuidados essenciais – Aula 02

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Cuidados na pesquisa científica: como o problema de pesquisa se conecta com a metodologia científica e quais são os elementos que devem ser atendidos?

Olá, tudo bem? Em nosso post de hoje iremos apresentar os elementos que conectam o problema de pesquisa à metodologia científica. Este post faz parte de uma série de reflexões que têm como intuito discutir sobre as principais dúvidas relacionadas à elaboração de um material científico. Diferentemente do post anterior, neste iremos associar o problema de pesquisa à metodologia. O problema de pesquisa está ligado à questão-problema. Compreender os elementos que caracterizam o problema de pesquisa é fundamental para que entendamos os aspectos que configuram a questão-problema. A não compreensão de todos esses aspectos impede o seu artigo, dissertação, tese ou qualquer material científico de caminhar de forma interligada. Acreditamos que a discussão sobre todos os aspectos que perpassam pelo problema é necessária porque este é o grande empecilho que impede os estudos de serem aprovados.

Resolva problemas que afetam a sociedadeResolva problemas que afetam a sociedade

A nossa missão enquanto cientistas, isto é, o nosso dever para com a sociedade é o de solucionar ou refletir sobre problemas que afetam a vida cotidiana. Esse comprometimento é necessário para que a sociedade seja impactada de forma positiva. O pressuposto que justifica a existência de todo e qualquer estudo é a ideia de que este seja baseado em um problema. Este problema precisa ser real, urgente e necessário neste momento histórico, seja para a sociedade como um todo ou para um grupo social específico. Nesse sentido, acreditamos que não é errado levar um tempo significativo para definir o problema, a questão norteadora, os objetivos, a metodologia e a fundamentação teórica que embasará o seu material, porém, é preciso que aprendamos a gerenciar o nosso tempo, pois, na vida acadêmica, lidamos com prazos diversos. A partir do momento em que esses aspectos estão alinhados, o trabalho flui de forma natural.

A fluidez do material científicoA fluidez do material científico

Quando os elementos fundamentais da pesquisa científica estão bem alinhados, a pesquisa caminha de forma bastante independente e autônoma. As suas escolhas serão muito mais assertivas. Todavia, o grande mal que afeta os pesquisadores é que grande parte dos materiais são desenvolvidos com base em interesses individuais do pesquisador. Quando o problema de pesquisa não é associado à metodologia e aos objetivos a serem percorridos, a pesquisa perde o seu fio condutor. Assim sendo, ocorre que o pesquisador fica sem direção e passa a atirar para todos os lados sem que chegue em um lugar, de fato. Em um projeto de pesquisa, é comum que os pesquisadores encontrem todos os elementos pesquisados interessantes para o estudo e esquecem de delimitar aspectos importantes. Os pesquisadores encontraram todas as informações relevantes e indispensáveis. Perde-se o foco e reúne-se muitos materiais.

O grande volume de informações

Quando perdemos o foco logo nos momentos iniciais da pesquisa, ao final da coleta de dados, deparamo-nos com uma imensidão de informações e não sabemos o que fazer com elas. Contudo, sem esse direcionamento, temos um grande volume de informações, porém, elas não chegam em lugar algum, pois não estão alinhadas. O processo ocorre quando o problema, a metodologia e os objetivos não são bem definidos. É algo que deve ser pontuado porque é o problema que impulsiona e mobiliza a pesquisa. Sem ele, o estudo fica estagnado. Por outro lado, se você já tem um problema bem definido, pode partir para a segunda etapa. É a questão-problema que está ligada ao pontapé inicial do estudo. Há aqueles que nominam esse processo de questão-norteadora porque é justamente essa a função da questão: nortear o estudo. Todo o trabalho caminha, portanto, a partir dessa questão, desde a teoria até a análise.

A importância da contextualização do problema

A fim de que o problema de pesquisa seja bem compreendido, este precisa ser contextualizado. Pensemos no seguinte exemplo: a falta de saneamento básico em uma dada cidade (ou bairro). Para que este problema seja bem compreendido, o contexto que levou o pesquisador a escolher essa questão norteadora deve ficar claro. Além disso, o pesquisador deve deixar claro o que pretende: apenas demonstrar os malefícios relacionados à falta de saneamento básico; elencar os problemas ocasionados pela falta de saneamento para essa região em específico; mapear o perfil dos sujeitos relacionados a esse contexto e as políticas públicas que estão sendo implementadas para resolver os problemas regionais; apresentar as doenças surgidas em virtude da falta de ações efetivas que coloquem em vigor as políticas públicas regionais voltadas ao saneamento. Essas e outras questões podem nortear a pesquisa.

A delimitação do tema central de uma pesquisa

A fim de que o pesquisador possa operar com os elementos da pesquisa científica, deve fazer algumas escolhas. O tema central de nosso exemplo é a falta de saneamento básico e as suas principais consequências para um dado contexto. Entretanto, é um problema muito amplo, logo, ele deve ser convertido em uma questão. É preciso que o estudo tenha um foco. Para chegar ao foco, o pesquisador precisa delimitar, elencar escolhas. Há casos em que instituições estrangeiras peçam que mais de um problema seja delimitado, mas, em nosso entendimento, um problema é suficiente para que o estudo seja bem conduzido. Quando propomos mais de um problema de pesquisa, é como se estivéssemos nos comprometendo a desenvolver mais de um trabalho. Também é nosso dever alertar que o Brasil, culturalmente, não trabalha dessa forma. O mais comum, portanto, é partir tão somente de um único problema de pesquisa.

Características básicas de uma questão-problema

A fim de que essas questões fiquem claras, proporemos uma questão norteadora: como os gestores do setor de recursos humanos (RH) podem motivar os seus colaboradores que trabalham no esquema home office. Temos, aqui, um problema e uma questão norteadora. O problema é justamente descobrir quais são as estratégias que podem mobilizar e motivar os colaboradores que trabalham em casa. O problema é relevante pois, inicialmente, o esquema home office pode ser uma estratégia interessante tanto para a empresa quanto para os próprios colaboradores. Contudo, há uma parcela significativa de estudos que já comprovaram que há aspectos negativos que devem ser considerados pelos gestores. Entretanto, como frisamos, não é possível trabalhar, em um mesmo trabalho, com todos os problemas. É necessário que façamos algumas escolhas. Pensemos, então, no problema inicial e na questão dele suscitada.

O problema inicial de um estudoO problema inicial de um estudo

Considerando o nosso exemplo, um problema que poderia atuar como pontapé inicial para esse estudo é a apresentação dos aspectos encontrados e percebidos pelos gestores que impedem o bom desempenho daqueles colaboradores que, nesse momento, trabalham a partir do esquema home office. Como percebemos, hoje, essa é uma questão bastante urgente e que precisa ser pensada por múltiplas áreas. Há uma série de variáveis que afetam todos aqueles que trabalham em casa em virtude da pandemia provocada pelo Coronavírus. São dificuldades e desafios reais que afetam as mais diversas organizações e aqueles responsáveis pelo seu funcionamento, os funcionários. Entretanto, mencionar os desafios e dificuldades de forma vaga na questão problema não fornecerá ao leitor a dimensão real do problema com o qual deseja trabalhar. Dentro desse grande universo, selecione uma dificuldade e trabalhe a partir dela.

Tome cuidado com as propostas muito amplasTome cuidado com as propostas muito amplas

É de suma importância que algumas delimitações sejam feitas para que a pesquisa não perca o seu propósito. A partir do momento em que nos propomos a realizar várias coisas, perdemos o foco, e, com isso, a qualidade da pesquisa científica é comprometida, o que pode levar o seu estudo a não ser aprovado. Elencamos aqui duas questões. A primeira delas é como os gestores podem motivar esses colaboradores e a segunda, por sua vez, é a escolha de um desafio ou dificuldade com os quais os gestores lidam nesse contexto pandêmico. Além disso, o pesquisador poderia, também, trabalhar com estratégias capazes de motivar esses funcionários. Temos, portanto, três questões, logo, três trabalhos diferentes. Por exemplo, quando elencamos na questão-problema quais são as estratégias, temos, como objetivo, apontar essas estratégias ao longo do estudo. O mesmo vale para todas as questões-exemplo.

Os eixos na pergunta-problema

Aquilo que apontamos na pergunta-problema será convertido nos objetivos. O eixo teórico, portanto, parte do que foi delimitado no problema. Aquilo que prometemos na questão-norteadora deve ser demonstrado a partir de uma leitura especializada. Se você aponta que irá mapear quais são os problemas que afetam uma organização relacionados à motivação, o seu constructo teórico deve fornecer respostas para esses problemas que está considerando. Essas questões, contudo, têm as suas respostas antecipadas já nos objetivos, pois são eles que frisam os caminhos que levam o pesquisador até essas respostas. Entendemos essa questão como norteadora porque é esse o seu propósito: conduzir o estudo do início ao fim. Assim sendo, quando formulamos uma pergunta, temos, também, uma outra missão: imaginar como esta pode ser aplicada. Não podemos nos esquecer que essa aplicação deve ser viável.

Garanta que o proposto será cumprido

Quando você aponta que irá apresentar os problemas encontrados em um dado contexto, é preciso tomar alguns cuidados essenciais. O dever do pesquisador nesse contexto é muito claro: buscar na literatura especializada os problemas mais comuns que afetam a organização no contexto pandêmico no que toca à motivação dos colaboradores. Por outro lado, quando o pesquisador frisa que identificará os “problemas percebidos”, fica entendido que a pesquisa é aplicada, isto é, o pesquisador precisará verificar percepções reais, e, para isso, precisa de uma metodologia aplicada. Assim sendo, o seu estudo pode servir de pontapé para outro que queira investigar as percepções e concretizações reais acerca de um fenômeno (motivação, por exemplo). Um gestor, por exemplo, pode perceber que um dado perfil de colaborador tem trabalhado menos. O colaborador pode ter uma visão bastante diferente.

As múltiplas visões na pesquisa científicaAs múltiplas visões na pesquisa científica

Uma pesquisa científica que avalia as percepções precisa levar em consideração os dois lados da moeda: colaborador vs gestor. Como essas visões são antagônicas, podemos discutir sobre percepções apenas. A partir do momento em que o pesquisador menciona que irá analisar as percepções sobre uma dada questão, já deixa muito claro a linha de raciocínio a ser perseguida durante todo o estudo. Como a questão está bem delimitada, o pesquisador aponta a linha teórica que pretende seguir e o próprio método que pretende aplicar para que o estudo seja concretizado. Também é importante esclarecer que uma questão-problema eficiente não está ligada à quantidade de palavras, mas sim à clareza quanto àquilo que será, de fato, realizado. Cada palavra elencada na questão norteadora deve ficar muito clara, e, além disso, ela já antecipa as promessas a serem feitas nos objetivos, isto é, o que será percorrido.

O título e a questão-problema devem estar ligados ao tema?

Especialmente na área das humanidades, os pesquisadores preocupam-se em elencar, logo no título, palavras-chave associadas ao tema. Contudo, essa escolha varia de área para área. Mesmo nas humanidades, há variações. Pesquisadores da área da administração e das ciências da saúde logo no título preocupam-se em elencar termos que remetam à sua questão-problema e aos próprios objetivos da pesquisa. Nesse sentido, há uma certa clareza quanto àquilo que o pesquisador pretende desenvolver ao longo do estudo. Essa preocupação, portanto, aparece logo no título. Também devemos pontuar que a maior parte dos materiais que são reprovados ou que acabam tendo problemas nas bancas de qualificação e defesa estão ligados a uma questão que ressaltamos ao longo de todo o texto.

A partir do momento em que apontamos o que será feito nas etapas elementares (problema de pesquisa e objetivos), essas “promessas” certamente serão cobradas pelo leitor. Assim sendo, há pesquisas que prometem algo no problema e, quando o leitor chega aos objetivos, não há um diálogo entre as duas partes. Prometer algo e fazer de forma diferente, oposta, impede o trabalho de ser aprovado. Sem que todas as partes conversem entre si e que aquilo que foi prometido seja atendido, a pesquisa perde a sua credibilidade, pois há um descompasso. As informações não chegam a lugar algum. O processo científico é sistematizado. Desse modo, todas as etapas devem estar alinhadas. A pergunta norteadora apresenta os caminhos da pesquisa e sinaliza os meios para que os objetivos sejam atendidos (métodos).

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