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Perfil epidemiológico de crianças e idosos hospitalizados por quedas no estado de Goiás entre 2010 e 2016

RC: 26213
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CONTEÚDO

REVISÃO

SOARES, Lara Fátima de Oliveira Leandro [1], ANDRADE, Fabiana Alves de Moraes [2], SANTOS, Suely dos [3], CARVALHO, Fabiana Aparecida dos Santos [4]

SOARES, Lara Fátima de Oliveira Leandro. Et al. Perfil epidemiológico de crianças e idosos hospitalizados por quedas no estado de goiás entre 2010 e 2016. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 02, Vol. 03, pp. 65-82. Fevereiro de 2019. ISSN: 2448-0959.

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi investigar o perfil epidemiológico de crianças e idosos hospitalizados por quedas no estado de Goiás entre 2010 e 2016. Para isso, foi realizado um estudo descritivo transversal e retrospectivo de internações causadas por quedas no estado de Goiás, tendo sido coletados dados secundários obtidos por meio de informações disponíveis no site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) sobre internações por quedas entre crianças e idosos. Os resultados apontaram que entre 2010 e 2016 ocorreram 32.589 internações por quedas de crianças e idosos nesse estado. A faixa etária entre crianças de 10 a 14 anos de idade apresentou o maior registro de internações. Entre os idosos, a faixa etária mais acometida foi entre 60 e 69. O sexo masculino foi o mais acometido em ambos os grupos etários. Outro dado é que o custeio total do SUS em internações por quedas em Goiás foi de R$ 24.077.458,01. A maior ocorrência de óbitos ocorreu entre crianças com menos de um ano de idade e, em idosos, a faixa etária de 80 anos ou mais apresentou maior número de óbitos. A consideração dos principais fatores de risco para a ocorrência de quedas evidencia que a aplicação de medidas preventivas é imprescindível por parte da família, dos idosos e dos cuidadores das crianças, a fim de que as quedas sejam impedidas.

Palavras-chave: Quedas, Crianças, Idosos, Goiás.

INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que ocorram, no mundo, cerca de 424.000 óbitos de pessoas de todas as faixas etárias em virtude de quedas. Os principais fatores de risco envolvidos nessas ocorrências são a fraqueza muscular, a deficiência de vitamina D, as dificuldades em equilibrar-se e caminhar, o uso de medicamentos, como tranquilizantes, sedativos ou antidepressivos, problemas de visão, dores nos pés, piso quebrado ou irregular, escadas sem corrimão. Em geral, a maioria das quedas é causada por uma combinação desses fatores de risco (OXLEY et al., 2016; WHO, 2016).

Embora a maioria das mortes relacionadas a quedas ocorra entre adultos, esta é a 12ª causa de morte entre os jovens de 5 a 9 anos e entre 15 e 19 anos. A morbidade por quedas é comum e representa um fardo significativo nos estabelecimentos de saúde em todo o mundo. Entre as crianças com menos de 15 anos, as quedas não fatais representam a 13ª causa de perca de anos de vida ajustados por incapacidade (JOHNSON et al., 2014).

As quedas não intencionais são a maior causa de lesões não fatais em crianças e 38% das lesões ocorrem em menores de 4 (quatro) anos. As quedas graves acontecem, principalmente, no ambiente doméstico. Além disso, os óbitos causados por quedas são três vezes maior em meninos (CDC, 2008).

Em indivíduos idosos, com 65 anos ou mais, as quedas representam um dos principais problemas clínicos e de saúde coletiva em virtude da elevada incidência, das complicações e dos custos assistenciais. Nesses indivíduos, a queda pode ser decorrente da perda total de equilíbrio postural, com possível relação à insuficiência dos sistemas neural e osteoarticular envolvidos na manutenção da postura (HUANG et al., 2010; KIRKMAN et al., 2012).

Ainda que as quedas muitas vezes não promovam um dano físico, elas podem resultar em problemas psicológicos irreparáveis, que contribuem para o aumento da morbidade e da mortalidade. Estudos apontam que o número de quedas tende a aumentar conforme a idade, em homens e mulheres de qualquer etnia e raça. Contudo, uma a cada cinco quedas em idosos gera lesões graves, tais como: fraturas no tornozelo, braço e quadril ou lesão na cabeça, as quais podem impossibilitar que o indivíduo se movimente, realize atividades diárias ou viva sozinho (SIGNORELLI, ARAÚJO, SAWAZKI, 2008; FERRETTI, LUNARDI, BRUSCHI, 2013).

No Brasil, as quedas de idosos geraram custos com internações e medicamentos de R$ 81 milhões no ano de 2009 e foram consideradas, pelo Ministério da Saúde (MS), como uma epidemia. Os investimentos na prevenção têm sido retratados como a principal forma de reduzir os gastos públicos no Brasil para o tratamento de idosos que sofrem quedas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

Diante desse cenário, este estudo objetivou identificar o perfil epidemiológico dos casos de internação por quedas em indivíduos, crianças e idosos, no estado de Goiás, entre o período de 2010 a 2016.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo descritivo transversal e retrospectivo das internações causadas por quedas e que envolvem crianças e idosos, entre 2010 e 2016, no estado de Goiás. Foram coletados dados secundários obtidos por meio de informações disponíveis no site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) sobre internações por queda entre crianças de 0 a 14 anos de idade e idosos (a partir de 60 anos de idade) no estado de Goiás, através do Sistema Único de Saúde (SUS).

O estudo apresenta dados referentes ao estado de Goiás, o qual apresenta uma área territorial de 340.086 km2. Além disso, possui uma população estimada em 6.695.855 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e uma densidade demográfica de 17,65 habitantes por quilômetro quadrado (IBGE, 2016). Este estudo segue em conformidade com as normas dispostas na resolução nº 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde, uma vez que apresenta apenas dados secundários obtidos em fontes oficiais disponíveis por sistema on-line.

Para análise dos dados, foi utilizado o software Excel, 2010, para o tratamento estatístico dos dados quantitativos. Realizou-se o cálculo de valores percentuais de internações por quedas segundo faixa etária, sexo e ocorrência de óbitos entre crianças e idosos. A comparação do total de internações por quedas de crianças e idosos segundo a faixa etária ocorreu pela análise de Variância (ANOVA), onde os valores de p< 0,05 foram considerados significativos.

RESULTADOS

A busca de informações relativas ao total de internações por quedas de crianças entre 2010 e 2016, no estado de Goiás, por meio da plataforma de dados do DATASUS, apontou a ocorrência de 32.589 casos, distribuídos em 13.566 registros para crianças de 0 a 14 anos e 1.711 casos entre idosos de 60 anos acima (Figuras 1 e 2).

As internações por quedas entre crianças foram mais comuns na faixa etária de 10 a 14 anos de idade, com um total de 5.841 casos entre 2010 e 2016. O ano de mais registro de internações ocorreu em 2012, com 876 casos (p<0,05).

Entre idosos, a faixa etária mais acometida por quedas foi entre 60 e 69 anos, com um total de 8.625 casos entre 2010 e 2016. O ano de maior ocorrência de internações por quedas entre idosos ocorreu em 2015, com um total de 3.069 registros (p<0,05).

O período com menor registro de internações por quedas entre crianças de 0 a 14 anos de idade ocorreu em 2016, com um total de 1.711 registros. A faixa etária menos acometida por quedas foi de crianças com idade inferior a 1 (um) ano, com 517 registros entre 2010 e 2016, onde o período de 2016 apresentou o menor valor de registros, com 57 casos.

O ano com menor registro de internações por quedas entre idosos a partir de 60 anos ocorreu em 2016, com um total de 19.023 casos. A faixa etária menos acometida por quedas de idosos entre 2010 e 2016 foi entre indivíduos com 80 anos ou mais, com um total de 4.161 casos. O ano de 2010 apresentou a menor ocorrência de internações por quedas para essa faixa etária com 501 registros.

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Figura 1. Total de internações por quedas de crianças entre 2010 e 2016, segundo faixa etária, no estado de Goiás. Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

 

 

Figura 2. Total de internações por quedas de idosos entre 2010 e 2016, segundo faixa etária, no estado de Goiás. Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

Os resultados obtidos a partir da investigação do total de internações por quedas entre crianças de 0 a 14 anos apontaram que a faixa etária mais acometida pelo problema está entre crianças do sexo masculino de 10 a 14 anos de idade, representando 48% dos casos. Em crianças do sexo feminino, a faixa etária com maior percentual de internações por quedas foi entre 5 e 9 anos, representando 41% das internações.

Em idosos, a faixa etária com maior número de interações por quedas foi entre 60 e 69 anos em ambos os sexos. O percentual de internações detectado foi de 52% e 39% entre homens e mulheres, respectivamente (Figura 3).

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Figura 3. Percentual de internações por quedas no estado de Goiás entre 2010 e 2016, segundo faixa etária e sexo, entre crianças e idosos. Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

Dentre os 10 municípios do estado de Goiás que apresentaram os maiores índices de internação por quedas de crianças e idosos (Tabela 1), e foi possível verificar que a cidade de Goiânia apresentou o maior registro, com um total de 54.321 casos entre 2010 e 2016. O município de Anápolis ocupou a segunda posição, com um total de 28.321 internações por quedas entre 2010 e 2016. Dos 10 municípios investigados, a menor ocorrência de internações por queda entre crianças e idosos foi verificada em Senador Canedo, com um total de 1.411 casos entre 2010 e 2016.

Município <1 ano 1 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 anos e mais Total
Goiânia 120 892 1.990 2.470 3.858 2.720 1.769 54.534
Anápolis 245 559 1.017 1.195 2.163 1.584 1.118 28.321
Ceres 33 151 387 417 513 393 233 6.754
Catalão 3 109 207 261 362 244 167 4.055
Caldas Novas 23 101 287 295 217 65 45 3.756
Jataí 10 94 198 211 199 151 108 3.176
Rio Verde 17 66 136 139 182 183 134 2.450
Itumbiara 7 54 148 148 230 183 113 2.178
Uruaçu 23 68 151 208 165 107 74 2.127
Senador Canedo 5 27 61 73 90 36 20 1.411

Tabela 1. Municípios com maior número de internações por quedas no estado de Goiás entre 2010 e 2016 segundo faixa etária de crianças e idosos. Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

Na investigação dos gastos do SUS em internações por quedas no estado de Goiás, observou-se que entre 2010 e 2016 houve um custeio total de R$ 24.077.458,01. A faixa etária mais custeada pelo SUS nesse período foi de indivíduos entre 60 e 69 anos de idade, com um recurso total de R$ 7.316.974,78. As internações por quedas de crianças com menos de 1 (um) ano de idade entre 2010 e 2016 apresentaram o menor valor gasto pelo SUS, com um total de R$ 314.508,22 (Tabela 2).

Faixa Etária Gastos em serviços hospitalares
<1 ano 314.508,22
1 a 4 anos 767.697,08
5 a 9 anos 1.562.239,06
10 a 14 anos 2.346.358,66
60 a 69 anos 7.316.974,78
70 a 79 anos 6.402.685
80 anos e mais 5.366.995,19
Total 24.077.458,01

Tabela 2. Gastos com internações por quedas no estado de Goiás entre 2010 e 2016, segundo faixa etária de crianças e idosos. Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

Entre 2010 e 2016, observou-se que, dentre as internações por quedas entre crianças de 0 a 14 anos de idade, houve registros de óbitos, sendo a maior ocorrência de óbitos entre crianças com menos de 1 (um) ano de idade, onde 64% e 44% dos óbitos acometeram crianças do sexo masculino e feminino, respectivamente. O menor percentual de óbitos foi verificado em crianças entre 5 e 9 anos de idade para ambos os sexos (Figura 4).

Em idosos, o maior registro de óbitos ocorreu na faixa etária composta por indivíduos com 80 anos ou mais, representando 41% e 55% para o sexo masculino e feminino, respectivamente. O menor percentual de óbitos em idosos ocorreu na faixa etária de 60 a 69 anos, com 27% e 14% registros para o sexo masculino e feminino, respectivamente (Figura 5).

Figura 4. Percentual de óbitos por quedas no estado de Goiás entre 2010 e 2016, segundo faixa etária e sexo, entre crianças. Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

 

Figura 5. Percentual de óbitos por quedas no estado de Goiás entre 2010 e 2016, segundo faixa etária e sexo, entre idosos. Fonte: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

DISCUSSÃO

Através dos resultados obtidos, observou-se que o estado de Goiás apresentou, entre 2010 e 2016, um total de 13.566 registros de internações por quedas entre crianças de 0 a 14 anos. Segundo dados do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do estado de São Paulo, aproximadamente 74,6% das internações entre menores de 15 anos são ocasionadas por quedas (SES – SP, 2015).

Algumas pesquisas apontam que a maioria das quedas infantis ocorre em casa. Geralmente, é resultado da queda em uma superfície elevada, como uma cama, um sofá, uma cadeira ou escadas (CHOWDHURY et al., 2013; CASSEL, CLAPPERTON, 2014).

Estudos apontam que a constância na movimentação de crianças e adolescentes pode resultar em ferimentos facilmente notados. No entanto, essa situação pode ocasionar ferimentos que variam de leve à grave, podendo levar ao óbito. Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de uma supervisão adequada por parte de um adulto, a fim de que tais quedas sejam evitadas, visto que, em determinadas condições, são até mesmo previsíveis (MARTINS, 2015).

Neste estudo, a faixa etária infantil mais acometida por internações ocasionadas por quedas foi a de 10 a 14 anos, sendo o sexo masculino responsável por 48% dos casos. Alguns estudos apontam que determinadas características relacionadas à criança e ao adolescente, tais como idade, sexo, maturidade física e mental, incapacidade na previsão e esquiva de situações de risco, curiosidade, além de fatores relativos à personalidade (transtorno de déficit de atenção, agressividade, impulsão e distração), podem influenciar na ocorrência de quedas. As distinções comportamentais de cada sexo e alguns fatores culturais podem determinar uma maior autonomia aos meninos e, por outro lado, maior cautela para as meninas. Tais aspectos podem estar interligados ao comportamento familiar, às caraterísticas sociais, econômicas, educacionais e culturais (MASCARENHAS et al., 2010; POLL et al., 2013).

Segundo Martins e Andrade17, torna-se imprescindível que os agentes que podem favorecer a ocorrência de queda da criança sejam observados pela família e pelos cuidadores das crianças, a fim de que ações preventivas sejam tomadas. Nesse sentido, os autores também sugerem pais e responsáveis pelos cuidados das crianças sejam orientados quanto aos riscos de quedas nas diferentes etapas de desenvolvimento destas. Para Oliveira (2003), o ambiente escolar representa o local primordial na execução de medidas educativas que visem prevenir os acidentes domésticos infantis, em virtude da convivência diária entre crianças, pais e professores.

Entre 2010 e 2016, verificou-se que o maior número de óbitos por quedas ocorreu entre crianças ocorreu na faixa etária inferior a 1 (um) ano de idade. Em geral, a queda pode ocasionar diferentes tipos de traumatismos em crianças, sendo o traumatismo craniano (TC) considerado um dos mais comuns. Além de apresentar um elevado índice de internação, o TC ocasiona mais de 75% dos óbitos na infância (LÖHR-JUNIOR, 2002; CARVALHO et al., 2007; MARTINS; ANDRADE, 2010).

Ressalta-se que, durante seu primeiro ano de vida, os bebês desempenham hábitos como rolar, chutar e empurrar contra objetos, progredindo para engatinhar, ficar em pé e até mesmo dar seus primeiros passos. Esse marco de mobilidade requer mais precaução de segurança, uma vez que pode resultar na queda da criança. As quedas não intencionais, ocorridas de berço ou carrinho de bebê, podem retratar uma baixa supervisão do responsável pelos cuidados da criança no momento da queda (DEL CIAMPO et al., 2011; TRAN et al., 2012).

Estudos apontam que, em crianças com menos de 1 (um) ano de idade, as quedas representam mais de 50% das lesões não fatais e são a principal causa de lesão cerebral traumática, com um risco significativo de sequelas a longo prazo (ZAROCOSTAS, 2011; GILLINGWATER, 2016). Neste estudo, observou- se um gasto de R$ 314.508,22 com internações por quedas em crianças menores de um ano.

Em relação aos gastos com o total de internações ocasionadas por quedas entre crianças de 0 a 14 anos, verificou-se um total de R$ 24.077.458,01 aplicados pelo SUS entre 2010 e 2016. Segundo estudos, os tipos de lesões sofridas durante uma queda podem resultar, na metade dos casos, em algum tipo de deficiência. Esse fator apresenta grande influência sobre os gastos gerados no tratamento das lesões ocasionadas por quedas (GALBRAITH et al., 2011; HAINES et al., 2013).

A investigação das informações relativas a quedas no Brasil, entre 2010 e 2016, por meio do DATASUS, apontou que o estado de São Paulo apresentou o maior gasto por internação por quedas entre crianças, com um total de R$ 34.302.473,00. Goiás ocupou a 7ª colocação dentre os estados com maiores gastos em interações por quedas durante 2010 e 2016.

Entre as internações por quedas de idosos, o presente estudou detectou um total de 8.625 casos entre 2010 e 2016, com um percentual de 52% e 39% dos casos para homens e mulheres, respectivamente. O valor total de internações por quedas custeadas pelo SUS nesse período, para indivíduos a partir de 60 anos de idade, foi de R$ 19.086.654,99.

Segundo Barros e colaboradores (2015), o Brasil apresentou um total de 399.681 internações de idosos entre 2005 e 2010: 40,3% delas ocorreram em homens e 59,8% em mulheres, sendo o valor total das internações custeadas de R$ 464.874.275,91. Entre 2010 e 2016, Goiás ocupou a 9ª colocação dentre os estados brasileiros com maior gasto em internações por quedas entre idosos a partir de 60 anos de idade. Os dados verificados na plataforma do DATASUS apontaram que o estado de São Paulo foi o primeiro colocado, com um custeio total de R$ 237.587.832,77 nesse período.

Para Gawryszewski (2010), as quedas são o principal grupo de causas externas com risco elevado de internação, estando a maior propensão para tais agravos sobre crianças e, principalmente os idosos. Neste estudo, houve um maior percentual de internações entre homens e, inclusive, alguns estudos indicam que a mulher tem mais precaução quanto ao risco e, possivelmente, esse fator determina a menor taxa no uso de serviços de saúde. Ademais, outros estudos demonstram uma morbidade masculina com fatores elevados em comparação à feminina (TOMIMATSU, 2006; MELIONE; MELLO-JORGE, 2008; BARROS et al., 2015).

As quedas decorrentes entre idosos podem apesentar algum tipo de lesão em cerca de 40% a 60% dos casos, e 30% a 50% possuem menos gravidade, enquanto 5% a 6% conferem lesões graves. Em geral, o fêmur, o úmero, o rádio distal e as costelas são os ossos mais fraturados durante a queda de um indivíduo idoso (BUKSMAN et al., 2008).

Em geral, alguns fatores de risco estão amplamente associados à ocorrência das quedas entre idosos, sendo eles idade, sexo e uso de determinados medicamentos (diuréticos, antiarrítmicos, vasodilatadores e glicosídeo cardíaco), condição clínica (presença de hipertensão arterial sistêmica, diabetes e doenças neurológicas), distúrbios de marcha e equilíbrio, sedentarismo, deficiência nutricional, deficiência visual e doenças ortopédicas Rubenstein L, Josephson, 2006; BIRD et al., 2013).

O impacto econômico gerado por quedas é significante. Segundo o relatório global da OMS sobre prevenção de quedas na velhice, os custos para o setor da saúde na queda de idosos tendem a aumentar globalmente. Tais custos são divididos em dois grupos, sendo eles custos diretos (medicamentos, consultas médicas, tratamento e reabilitação) e indiretos (perda de produtividade na sociedade) (WHO, 2007).

Estudos apontam que o principal componente dos custos relativos a quedas entre idosos engloba os serviços hospitalares aplicados a pacientes internados, incluindo atendimento de emergência e gastos gerais em alas hospitalares, o que corresponde a 50% dos gastos totais entre quedas (ROUDSARI et al., 2005; SCOTT, PEARCE, PENGELLY, 2005). O segundo fator que representa cerca de 9,4% a 41% de todos os custos corresponde à internação prolongada (WHO, 2007).

Segundo os dados do Ministério da Saúde (MS), no Brasil, são registrados anualmente pelo SUS cerca de R$ 51 milhões gastos no tratamento de fraturas ocasionadas por quedas em idosos. Os casos mais graves de fraturas podem levar ao óbito do paciente, principalmente em casos de fratura do fêmur, onde a morte do paciente idoso pode ocorrer em um ano. Nesse sentido, o MS criou o Comitê Assessor de Políticas de Prevenção e Promoção dos Cuidados da Osteoporose e de Quedas na População Idosa (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

Para tanto, algumas medidas preventivas que os idosos, familiares e profissionais da saúde devem estabelecer incluem o acesso sem barreiras (uso de piso áspero e marcações nítidas no caminho), uso de maçanetas tipo alavanca, uso de rampas – a fim de romper desníveis –, boa iluminação (em especial próximo a cama, banheiros, corredores e cozinha), uso de barras de segurança em determinados cômodos e fácil acesso a objetos de uso frequente (CELICH et al., 2010).

CONCLUSÃO

Por meio dos resultados obtidos, concluiu-se que, entre 2010 e 2016, ocorreu um total de 32.589 internações por quedas de crianças e idosos no estado de Goiás. Esses valores se distribuíam em 13.566 registros para crianças de 0 a 14 anos e 1.711 casos entre idosos de 60 anos acima. A faixa etária de crianças entre 10 e 14 anos de idade apresentou o maior registro de casos de internações por quedas. Entre idosos, a faixa etária mais acometida esteve entre 60 e 69. O sexo masculino foi o que mais as sofreu em ambas as faixas etárias. A cidade de Goiânia apresentou o maior de registro de internações por quedas entre crianças e idosos no período de 2010 a 2016. O custeio total do SUS em internações por quedas no estado de Goiás foi de R$ 24.077.458,01. Por fim, a maior ocorrência de óbitos aconteceu entre crianças com menos de 1 (um) ano de idade e, em idosos, o maior registro de óbitos se deu na faixa etária composta por indivíduos com 80 anos ou mais.

Algumas características intrínsecas da criança e do adolescente – tais como idade, sexo, maturidade física e mental, incapacidade na previsão e esquiva de situações de risco, curiosidade, além de fatores relativos à personalidade – podem influenciar na ocorrência de quedas. Em idosos, os principais fatores de risco incluem idade, sexo, uso de determinados medicamentos, condição clínica, distúrbios de marcha e equilíbrio, sedentarismo, deficiência nutricional, deficiência visual. Nesse sentido, a aplicação de medidas preventivas é imprescindível por parte de idosos, familiares e cuidadores das crianças e profissionais da saúde, a fim de que as quedas sejam evitadas.

REFERÊNCIAS

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[1] Acadêmica do curso de pós-graduação em Urgência e Emergência, do Instituto Health, Especialista, Enfermeira.

[2] Acadêmica do curso de pós-graduação em Urgência e Emergência, do Instituto Health, Especialista, Enfermeira.

[3] Acadêmica do curso de pós-graduação em Urgência e Emergência, do Instituto Health, Especialista, Enfermeira.

[4] Mestre em Ciências Ambientais e Saúde pela PUC Goiás e Coordenadora Geral do Instituto Health, Enfermeira.

Enviado: Janeiro, 2019.

Aprovado: Fevereiro, 2019.

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Lara Fátima de Oliveira Leandro Soares

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