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Aula experimental no ensino-aprendizagem da Química: O que pensam os professores?

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ANJOS, Marciana Lopes dos [1], RODRIGUES, Jocelia Silva Machado [2], RODRIGUES, Aldimar Machado [3], DOMICIANO, Rosani de Lima [4]

ANJOS, Marciana Lopes dos. Et al. Aula experimental no ensino-aprendizagem da Química: O que pensam os professores? Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 10, Vol. 18, pp. 45-60. Outubro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/quimica/pensam-os-professores

RESUMO

É notório que há uma relação entre o uso de práticas laboratoriais no ensino de Química e a aprendizagem do conteúdo pelos alunos. Pensando em como melhorar as ações da prática pedagógica, surgiu o interesse em investigar a seguinte questão: Em que medida a aula experimental contribui para a aprendizagem de Química dos alunos do Ensino Médio? Objetivando analisar as contribuições da aula experimental no processo de ensino aprendizagem, bem como identificar a existência da prática de experimentação nas aulas de química, conhecer a percepção dos professores sobre a aprendizagem oferecida aos alunos pela aula experimental e compreender sua importância no processo de ensino aprendizagem. Metodologicamente, configurou-a como pesquisa de campo, de base qualitativa, cuja coleta de dados se deu através da aplicação de um questionário estruturado com os professores de Química que atuam no ensino médio integrado de uma instituição pública de ensino básico, técnico e tecnológico de Iguatu – CE. Verificou-se que todos os pesquisados utilizam a experimentação científica em pelo menos metade das aulas, pois compreendem que o uso dos experimentos contribui para a aprendizagem e melhora o rendimento dos alunos. Conclui-se que a experimentação científica não é, e nem deve ser tratada como uma metodologia diferenciada, e também não pode ter a incumbência de atrair a atenção do estudante, vai muito além, faz parte da disciplina e é necessária para a compreensão dela. Dessa forma, não se pode ensinar a Química sem o uso da experimentação.

Palavras-chave: Aula experimental, ensino de Química, aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO

Durante a formação em Licenciatura em Química, um dos maiores anseios é sobre como ensinar Química, como fazer para que os alunos se interessem pela disciplina, tendo em vista que seus conteúdos estão entre os mais “temidos” pelos alunos. Os professores relatam dificuldades de aprendizagem e falta de interesse dos alunos do ensino básico pelo estudo da disciplina. E isso está atrelado a vários fatores, tais como: a desvalorização do ensino de ciência no Brasil, falta ou fraca base matemática e a forma como o conteúdo de Química é trabalhado nas escolas, prevalecendo as abordagens puramente teóricas, como algo que se deve memorizar de modo abstrato e fora da realidade.

Para Freire (2014, p. 30), ensinar exige alguns princípios indispensáveis aos professores, dentre esses, vale destacar: pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, estética, ética, reflexão crítica sobre a prática, respeito à autonomia do educando, bom senso, curiosidade, segurança, competência profissional, generosidade e comprometimento. No que diz respeito à pesquisa, a fala do autor destaca que “[…] não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”. Nesse sentido o professor como pesquisador deve sempre buscar novos conhecimentos para inovar sua prática.

A compreensão do ser professor como produtor de saberes aproxima-se da prática do pesquisador, porém essas profissões são distintas. Para todo educador, iniciante ou veterano, é de fundamental importância fazer a ligação entre a prática docente e a pesquisa, com a finalidade de trazer novidades e atualidades. “[…] prática do professor pesquisador estrutura e consolida sua racionalidade pedagógica” (THERRIEN, 2011, p. 9).

Therrien (2011, p. 4), faz uma reflexão sobre o que é educar e o que é ser profissional da educação. Para o autor, educar é um processo de construção e reconstrução criativa de si e do mundo. Nesse sentido tem o papel de construção de um sujeito sociável e autônomo que esteja preparado para o mundo do trabalho e vida social. Enquanto prática profissional, é dada a incumbência de produzir aprendizagem. Esse profissional deve se adequar a uma postura de mediador nos processos de aprendizagem.

Esse olhar sobre o docente como profissional de educação conduz a percebê-lo para além de uma função de mero instrutor, responsável pelo repasse objetivo, normativo e instrumental de conhecimentos produzidos pela humanidade e socialmente reconhecidos, postos à disposição da consciência e da inteligência do aprendiz. A postura desse mediador no seu trabalho como “profissional do saber” o projeta para a função de “formador” de sujeitos situados no mundo da vida onde hão de descobrir os múltiplos saberes e significados que regem a vida da sociedade (THERRIEN, 2011, p. 4).

Nas últimas décadas, tem se discutido a importância da experimentação no processo de ensino e aprendizagem de Química. É preciso que as atividades aconteçam de modo a contribuir para que os alunos reflitam sobre uma situação, consigam apresentar argumentos na análise dos dados coletados e resolver problemas, conforme expõe Cássia Suart; Marcondes (2009, p. 51):

Se o estudante tiver a oportunidade de acompanhar e interpretar as etapas da investigação, ele possivelmente será capaz de elaborar hipóteses, testá-las e discuti-las, aprendendo sobre os fenômenos estudados e os conceitos que os explicam, alcançando os objetivos de uma aula experimental, a qual privilegia o desenvolvimento de habilidades cognitivas e o raciocínio lógico (CÁSSIA SUART; MARCONDES, 2009, p.51).

Segundo Galiazzi (2004, p. 326) as atividades experimentais são importantes e devem ser utilizadas em sala de aula, desde que favoreçam a aprendizagem não só das teorias, mas também de como se constrói o conhecimento científico, por meio de discussões que abram espaço para questionamentos e argumentos, possibilitando a problematização de teorias empíricas.

Para Arroio et al. (2006, p. 178), que realizaram um estudo intitulado o “Show da Química” os experimentos demonstrativos auxiliam a focar a atenção de estudantes do ensino fundamental e médio para perceber as propriedades e comportamentos de substâncias químicas, pois, “[…] neste tipo de atividade, pode-se observar que experimentos demonstrativos despertam as habilidades de observação e envolvem os alunos, chamando a atenção pela sensibilidade”

Para Guimarães (2009, p. 198), a experimentação permite a criação de problemas, a contextualização e o estímulo de questionamentos, todavia, para que a aula cumpra seu propósito e a aprendizagem seja significativa não poderá ser trabalhada de maneira mecânica, onde os alunos receberão um roteiro e ao final obtenham os resultados esperados pelo professor, sem que haja uma reflexão. O professor deverá nortear os estudantes para uma observação, instigando-os a pensar na reação, no que está acontecendo, e estabelecer um objetivo no qual o aprendiz possa elaborar e testar suas hipóteses ou inconsistências, sendo passivo do erro. Sobre a aprendizagem significativa o autor destaca a importância dos conhecimentos prévios, sem eles essa aprendizagem torna-se mecânica ou automática, não havendo interação com informações existentes.

Durante uma aula de laboratório, os alunos têm a oportunidade de observar de forma concreta como ocorrem os fenômenos químicos, despertando-lhes o interesse e a curiosidade para o estudo da disciplina. As atividades experimentais são uma das metodologias sugeridas para melhorar o rendimento das turmas de ensino médio, pois permite que o aluno participe mais ativamente das aulas, possibilitando-lhe uma reflexão sobre o conteúdo estudado (ROCHA e VASCONCELOS, 2016, p. 8).

O presente trabalho tem como objetivo analisar as contribuições da aula experimental no processo de ensino aprendizagem de Química, de modo a identificar a existência da prática de experimento nas aulas de química, conhecer a percepção dos professores sobre a aprendizagem dos alunos ao utilizar aula experimental e compreender a importância da experimentação no processo de ensino aprendizagem.

2. METODOLOGIA

2.1 TIPO DE PESQUISA

Com o propósito de analisar as contribuições da aula experimental no processo de ensino e aprendizagem dos alunos do Ensino Médio integrado de uma instituição pública de ensino básico, técnico e tecnológico, adotou-se uma metodologia de base qualitativa do tipo pesquisa de campo, que é quando o pesquisador vai a campo coletar dados que futuramente serão analisados e interpretados (SPINK, 2003, p.18). A pesquisa de campo trata-se de uma metodologia simples de investigação muito utilizada nos cursos de graduação e pós-graduação e pode acontecer através da aplicação de questionário ou entrevista.

2.2 CAMPO DA PESQUISA E SUJEITOS

O local escolhido para a realização da pesquisa foi uma instituição pública de ensino básico, técnico e tecnológico na cidade de Iguatu-CE. A escolha do campo de pesquisa se deu pelo fato de a instituição também fomentar a formação de professores de Química.

Os participantes da pesquisa intitulados professor A, B, C, D e E são professores do ensino médio integrado e também do curso de Licenciatura em Química da referida instituição. O grupo de pesquisado é composto por 5 professores, 4 do sexo masculino e 1 do sexo feminino, 4 deles são Licenciados em Química e 1 é bacharel em Engenharia Química. Todos lecionam a disciplina de Química desde quando começaram a exercer a docência: professor A, entre 1 ano e 1 ano e meio; Professor B, entre 1 e 2 anos; Professor C,11 anos; Professor D, 10 anos e Professor E, 29 anos.

2.3 INSTRUMENTO DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

A fim de atender os objetivos da pesquisa, para a coleta dos dados foi utilizado um questionário com perguntas abertas e fechadas. A técnica consiste em um formulário com questões objetivas e claras, onde o investigado deve responder sem a presença do pesquisador (DA FONSECA, 2002, p. 62)

Pensando nos aspectos éticos e legais da pesquisa e obedecendo a Resolução do CNS/MS N°. 466 de 12 de dezembro de 2012, que aprova e estabelece as diretrizes e normas de pesquisa com seres humanos, foi entregue, juntamente com o questionário, um termo de livre consentimento que garante a preservação da imagem e o anonimato do pesquisado.

Para a análise dos dados, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo, em que segundo Campos e Turato (2009, p. 2), trata-se de um conjunto de técnicas de análises das comunicações, através das quais os procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos dados coletados tem por finalidade obter indicadores, quantitativos ou não, que permitem ultrapassar as incertezas e obter resultados concisos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção serão discutidos e analisados os dados dos seguintes tópicos: a utilização de experimentos nas aulas de Química, a percepção dos professores sobre a aprendizagem e a relevância dessa temática.

3.1 A UTILIZAÇÃO DE EXPERIMENTOS NAS AULAS DE QUÍMICA

O objetivo deste tópico é identificar se os professores do Ensino Médio integrado (grupo alvo da pesquisa) utilizam a metodologia de experimentação em suas aulas. Para isso foram elaboradas duas perguntas: a primeira, questionando os professores se durante suas aulas esse tipo de metodologia é utilizado e a segunda, com que frequência os professores fazem uso dessa metodologia.

Todos os pesquisados responderam sim, logo em seguida na mesma pergunta foi questionado com que frequência realizam experimentos em uma escala de 1 a 10 onde 1 corresponde a nenhuma vez, e o 10 é sempre. A tabela 1 resume os dados obtidos desse primeiro questionamento.

Tabela 1 – Frequência do uso da experimentação nas aulas de Química.

Pesquisados Frequência em que realiza experimentos
Professor A 5
Professor B 8
Professor C 5
Professor D 9
Professor E 8

Fonte: Autores (2020).

A Tabela 1 evidencia que todos os professores/pesquisados fazem uso da metodologia de experimentação durante suas aulas, porém em frequências diferentes. Três dos pesquisados demonstraram que utilizam com grande frequência, superando o percentual de 50% enquanto outros dois fazem uso dessa metodologia pelo menos na metade de suas aulas, demonstrando, assim, que acreditam na eficiência desse recurso no processo de ensino e aprendizagem, entendendo que a simples transmissão de conhecimento não é suficiente para a formação do cidadão crítico e consciente, capaz de elaborar suas próprias ideias e resolver problemas. No ensino médio os alunos devem compreender a Química no mundo físico para que possam fazer seu julgamento sobre o que está sendo divulgado nas mídias, muitas vezes de maneira errônea (BRASIL, 2000).

Além da frequência, os professores também foram indagados quanto à forma que realizam as aulas experimentais. A maioria dos sujeitos da pesquisa afirmaram preferir levar a turma para o laboratório e realizar as práticas de acordo com os conteúdos a serem abordados em sala. Porém é bom lembrar que quando a prática é simples pode ser realizada na sala de aula utilizando matérias simples e encontrados no cotidiano.

Vale ressaltar que estamos falando de uma instituição que dispõe de um laboratório equipado. Diferentemente da maioria das instituições de ensino no país, que embora tenha o espaço físico, não o utiliza por falta de materiais como reagentes e vidrarias. Entretanto, mesmo com as dificuldades, os professores devem buscar formas alternativas para tornar as aulas cada vez mais práticas e dinâmicas. A fala de um dos pesquisados problematiza questões que são enfrentadas pelos professores em uma grande parcela das instituições:

Geralmente há dificuldade da instituição de ensino em fornecer os materiais necessários às práticas de Química. Os experimentos são realizados geralmente com materiais de uso corriqueiro. São feitos de forma expositiva pelo professor. Outras vezes, quando há um laboratório na instituição, há montagem de experiências mais participativas (PROFESSOR E).

Tais problemas podem estar diretamente relacionados à pouca valorização da ciência no Brasil, e isso pode acontecer por vários motivos, tais como: a baixa procura de cursos com vocação acadêmica pelos jovens, seja, por essas profissões estarem ligados à educação, cujos valores e importância para a soberania da nação não são devidamente reconhecidos, ou por muitas delas não fazerem parte da tríade (Medicina-Engenharia-Direito), ou porque o desenvolvimento científico simplesmente não é visto como tema nacional (ARROIO, 2006).

Na segunda pergunta deste tópico os pesquisados responderam se fazem algum planejamento específico para as aulas experimentais. De acordo com as respostas, o planejamento é indispensável, principalmente quando se trata de aulas práticas, pois é no planejamento que se define o objetivo daquela aula. Os planejamentos dos professores estão de acordo com as possibilidades da instituição. Antes do acontecimento das aulas há uma rotina de pesquisa, organização de materiais e testes. Quando a aula é no laboratório, geralmente há a elaboração de um roteiro, se é na sala de aula, os materiais utilizados são de fácil acesso podendo ser encontrados entre os produtos de uso diário.

Para o professor E essa questão do planejamento é inerente a sua função de professor, pois jamais deve haver qualquer aula sem um planejamento, muito menos uma aula experimental envolvendo fenômenos químicos que devem ser testados e provados. Por isso e para a segurança de todos os envolvidos, qualquer experimento deve ser previamente testado pelo professor, caso contrário, torna-se um ato ilícito. Outros professores descrevem que:

Sim. Pesquiso, planejo, organizo a melhor prática experimental dentro da realidade da Instituição (PROFESSOR A).

Olha, eu geralmente quando estou estudando para dar a aula, fico imaginando como mostrar aquilo por meio prático, geralmente a inspiração surge naturalmente. Agora quando a pratica é experimental mesmo, vou ao laboratório, faço teste com antecedência para que tudo ocorra bem (PROFESSOR B).

Segundo Libâneo (2002, p. 6), o planejamento deve conter elementos concisos com a finalidade de preparar o aluno para a vida social com objetivos amplos que ao serem alcançados possam dar significado real para a aprendizagem do conteúdo ensinado, auxiliando a formação do cidadão. Tais objetivos vão orientar na seleção e organização dos conteúdos e na escolha da metodologia.

O papel do professor, portanto é o de planejar, selecionar e organizar os conteúdos, programar tarefas, criar condições de estudo dentro da classe, incentivar os alunos, ou seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria aprendizagem (LIBÂNEO, 2002, p. 6).

É possível perceber na fala dos pesquisados, elementos essenciais que convergem o pensamento desse autor para um bom planejamento. Os professores estão preocupados não só com a transmissão de conhecimentos, mas sim com a formação social do educando, buscando estratégias, dentro das possibilidades, para torná-lo cada vez mais autônomo e construtor da sua própria aprendizagem.

3.2 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE A APRENDIZAGEM

Buscando conhecer a percepção dos professores sobre a aprendizagem dos alunos mediante a utilização de aula experimental, foram feitos os seguintes questionamentos: na sua opinião a aula experimental desperta o interesse dos estudantes para o estudo de Química? É possível perceber uma melhora no rendimento da turma?

A maioria dos sujeitos da pesquisa afirmaram que sim, relatando que as práticas despertam a curiosidade dos alunos para a ciência estudada, aumenta a participação, principalmente quando conseguem relacionar teoria e prática, a aula torna-se mais dinâmica e atrativa e a aprendizagem fica mais fácil. Para eles, a Química é uma ciência experimental, sem tal, as aulas tornam-se monótonas, desinteressantes e imaginárias, dificultando a aprendizagem, como afirma o professor B: “A disciplina de química sem prática é chata e complicada de se entender. Vira uma espécie de química da imaginação. E ciência só na imaginação torna-se difícil e desinteressante” (PROFESSOR B).

As atividades experimentais são intrinsecamente empolgantes e envolventes, auxiliam no desenvolvimento de habilidades de observação, ajudando a enfocar a atenção dos estudantes para perceber as propriedades e comportamentos das substâncias químicas, além de contribuir para a formação do pensamento científico que acontece por meio de um processo de investigação de fenômenos (GALIAZZI, 2004; ARROIO, 2006; GIORDAN, 1999).

Sobre o rendimento da turma, a maioria respondeu que sim, apenas um professor divergiu dos demais, embora concorde que a Química é uma ciência genuinamente experimental, não há relação direta nem com o interesse nem com a aprendizagem. Para ele nem sequer deve haver essa separação entre a teoria e a prática, não é uma metodologia diferenciada que deva ser usada como recurso, em se tratando de Química, é o cerne de como deve ser.

Não é o experimento que desperta o ato de se estudar química. Assim como não é uma peça teatral que desperta o ato de estudar dramaturgia. O problema é que as pessoas pensam que o experimento é algo afastado da química. Enquanto houver esse pensamento haverá química experimental e química teórica. A química é uma ciência estritamente experimental. Qualquer coisa que se ensine sem experimento, não é química (PROFESSOR E).

Assim como Galiazzi (2004), que faz uma crítica à forma simplista como os experimentos são muitas vezes utilizados, ou seja, apenas entretenimento para chamar atenção, ao fazer essa relação com uma peça teatral, o Professor E quis dizer que nem todo mundo que assiste a uma peça vai querer ser ator, assim como nem todos os alunos que participam de uma aula prática vão realmente se interessar pelo conteúdo. Para ele, independente de os alunos gostarem ou não, os experimentos estão além, porque fazem parte do conteúdo para ser compreendido, não é uma questão de chamar atenção, e sim de se fazer compreender.

3.3 RELEVÂNCIA DO TEMA

Neste último tópico, buscou-se conhecer a opinião destes no tocante à relevância do tema. Ao serem questionados sobre o grau de importância, quatro deles apontaram a prática de experimentação como importante ou muito importante, como mostrado na Figura 1.

Figura 1- Importância da experimentação no ensino de Química segundo os pesquisados.

Fonte: autor.

Dos cinco pesquisados 80% responderam à questão, desses 50% consideram muito importante e 50% consideram importante. Apenas 20% não respondeu. Para o Professor não se trata de ser importante ou não, a experimentação “é inerente” a disciplina de Química.

Como foi dito anteriormente. Química é uma ciência experimental. Apesar de algumas faculdades arriscarem em “Química teórica”, ou “Química a distância”, isso não existe. Não faz sentido se ensinar química sem experimentos. Não faz sentido porque os alunos não conseguirão entender o que não veem. Não conseguirão entender que toda a teoria desenvolvida da química partiu de observações de fenômenos corriqueiros. O que hoje se tem em livros são modelos científicos de fenômenos. Modelos que explicam esses fenômenos” (PROFESSOR E).

Ou seja, de acordo com a resposta do professor E, não é possível fazer a separação entre prática e teoria quando se trata de uma ciência tão palpável, que para ser compreendida precisa ser vivenciada. Então, infere-se que a experimentação para esse professor é fundamental ao ensino de Química, sem ela esse ensino não acontece de forma efetiva.

Galiazzi (2004), faz uma crítica sobre a forma simplista como alguns professores tratam os experimentos em sala de aula, apenas como “show”, e acabam por esquecer o teor científico. Atividades experimentais são importantes e devem ser utilizadas em sala de aula, desde que favoreçam a aprendizagem não só das teorias, mas também de como se constrói o conhecimento científico por meio de discussões e argumentos, possibilitando a problematização de teorias empíricas, ou seja, observando os fenômenos, formulando as hipóteses, discutindo sobre o que foi observado de maneira crítica e procurando derrubar mitos, de modo a construir o pensamento científico.

Em seguida buscou-se conhecer os impactos que as atividades experimentais têm na aprendizagem. Segundo Suart e Marcondes (2009), se os alunos tiverem a oportunidade de participar das etapas de uma investigação científica, possivelmente eles irão conseguir elaborar hipóteses, testá-las e discuti-las, tornando a aprendizagem mais significativa, pois conseguirão aprender sobre os fenômenos e os conceitos que os explicam, atingindo os objetivos de uma aula experimental, favorecendo o desenvolvimento das habilidades cognitivas.

Diante das análises dos dados coletados e corroborando com a falas dos autores, é possível perceber que são inúmeros os impactos da relação entre a teoria e a prática, tais como: a melhora do raciocínio lógico, a desmistificação de mitos criados durante toda a história da ciência e aproximando, assim, o educando das ciências exatas, principalmente quando começam a enxergar a teoria no cotidiano. A disciplina torna-se mais interessante e atrativa, pois sai do abstrato e transforma-se em algo real, concreto e compreensível, conforme apontam esses professores:

O impacto das atividades experimentais na aprendizagem dos alunos gera uma visão diferente da química, deixa de ser uma disciplina chata e passa a ser uma disciplina atrativa e compreensível (PROFESSOR D).

Quando conseguimos relacionar a prática com a teoria vemos realmente a presença da teoria na vida cotidiana. Isso traz interesse, estímulo, ânimo. Assim só tende a melhorar a aprendizagem dos discentes (PROFESSOR B).

O Professor E ainda faz uma crítica ao tipo de professor que explica a tabela periódica meramente através da distribuição eletrônica, falando em orbitais moleculares, níveis e subníveis de energia como algo muito abstrato e fora da realidade do aluno do ensino básico. Afinal, grande parte nem sequer consegue entender as representações matemáticas “s, p, d e f” com razoável nível de profundidade. Esse tipo de aula torna a Química “um bicho de sete cabeças”, a qual os alunos não têm interesse em enfrentar. De acordo com esse professor, no ensino médio devem ser abordados assuntos de energias palpáveis, que possam ser verificados por cada estudante, possíveis de serem relacionados com o cotidiano, para que ele torne-se um cidadão mais ciente dos benefícios e também dos perigos de agentes químicos presentes na sociedade, os quais podem ser representados pelos inseticidas, materiais de limpeza, tintas, panelas de alumínio, dentre outros.

Segundo os PCNEMs essa abordagem citada pelo pesquisado, embora ainda usual no Brasil, está ultrapassada e não deve mais ser acatada em sala de aula. Em escala mundial, nos últimos 40 anos a promoção do conhecimento de Química incorporou novas abordagens objetivando a formação de futuros cientistas, cidadãos mais conscientes e também o desenvolvimento de conhecimentos aplicáveis ao sistema produtivo, industrial e agrícola.

A experimentação faz parte da vida, na escola ou no cotidiano de todos nós, e não deve ser tratada apenas como atividade exclusiva das aulas de laboratório, onde os alunos recebem uma receita a ser seguida nos mínimos detalhes e cujos resultados já são previamente conhecidos. Na atual conjuntura não deve haver espaços para “receitas de bolo”, mas sim, “as atividades experimentais devem partir de um problema, de uma questão a ser respondida” (BRASIL, 2000, p. 55).

O Ensino de Química não deve se ater a um professor na frente de um quadro escrevendo fórmulas e teoremas que nunca serão compreendidos por fileiras de alunos passivos e sonolentos. Essa forma de ensinar está ultrapassada e não contribui em nada para a formação do cidadão que a sociedade atual necessita, consciente, crítico, racional, questionador e inovador.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista as dificuldades enfrentadas pelos professores em sala de aula, buscamos por meio deste trabalho, contribuir para futuras pesquisas acerca das metodologias e recursos mais eficazes para a melhoria da ação pedagógica no ensino de Química.

Ao analisar os dados, verificou-se que o uso de experimentação científica é utilizado por todos os pesquisadores com grande frequência. As práticas são realizadas de acordo com o conteúdo abordado, acontecendo no laboratório ou em sala de aula pelo o uso de materiais de fácil aquisição, mediante um planejamento prévio.

Diante dos resultados obtidos, entendemos que todos os objetivos da pesquisa foram alcançados, na medida em que todos os participantes elencaram a utilização de experimentos como um recurso metodológico que faz parte das suas práticas docentes.

Conclui-se que a aula experimental não é, e nem deve, ser tratada como uma metodologia diferenciada, e nem pode ter a incumbência de atrair a atenção, vai além, faz parte da disciplina e é necessária para a compreensão da mesma, dessa forma, não se pode ensinar a Química sem o uso da experimentação.

Esta pesquisa poderá ser utilizada como base para outras investigações, tendo em vista que sua fase inicial, é passível de contestação por outros pesquisadores, que para análises mais precisas podem realizar o método quantitativo ou expandir a amostra buscando novos campos de pesquisa.

REFERÊNCIAS

ARROIO, Agnaldo et al. O show da química: motivando o interesse científico. Química Nova, v. 29, n. 1, p. 173-178, 2006.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio. Parte I-bases legais. Brasília/2000, disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf>, acessado em 10 de fevereiro de 2019.

CAMPOS, Claudinei José Gomes; TURATO, Egberto Ribeiro. Análise de conteúdo em pesquisas que utilizam metodologia clínico-qualitativa: aplicação e perspectivas. Rev Latino-Am Enfermagem, v. 17, n. 2, 2009.

CÁSSIA SUART, Rita de; MARCONDES, Maria Eunice Ribeiro. A manifestação de habilidades cognitivas em atividades experimentais investigativas no ensino médio de química. Ciências & Cognição, v. 14, n. 1, p. pp. 50-74, 2009.

DA FONSECA, João José Saraiva. Apostila de metodologia da pesquisa científica. João José Saraiva da Fonseca, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 49. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

GALIAZZI, Maria do Carmo; GONÇALVES, Fábio Peres. A natureza pedagógica das atividades experimentais: uma pesquisa no curso de licenciatura em química. 2004.

GIORDAN, Marcelo. O papel da experimentação no ensino de ciências. Química nova na escola, v. 10, n. 10, p. 43-49, 1999.

GUIMARÃES, Cleidson Carneiro. Experimentação no ensino de química: caminhos e descaminhos rumo à aprendizagem significativa. Química nova na escola, v. 31, n. 3, p. 198-202, 2009.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. Cortez Editora, 2002.

MARCONDES, Maria Eunice Ribeiro. Proposições metodológicas para o ensino de Química: oficinas temáticas para a aprendizagem da ciência e o desenvolvimento da cidadania. Em Extensão, v. 7, n. 1, 2008.

ROCHA, Joselayne Silva; VASCONCELOS, Tatiana Cristina. Dificuldades de aprendizagem no ensino de química: algumas reflexões. XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química. VIII ENEQ, Florianópolis, SC, v. 25, 2016.

SPINK, Peter Kevin. Pesquisa de campo em psicologia social: uma perspectiva pós-construcionista. Psicologia & Sociedade, v. 15, n. 2, p. 18-42, 2003.

THERRIEN, Jacques. Professores em formação: a escola como lugar de pesquisa. Fortaleza: Seduc, p. 50-68, 2011.

[1] Licenciatura em Química pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Iguatu.

[2] Mestranda em Química pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) – Campus Marabá.

[3] Mestrando em Química pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA) – Campus Altamira.

[4] Mestra em Educação e Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Iguatu.

Enviado: Setembro, 2020.

Aprovado: Outubro, 2020.

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Aldimar Machado Rodrigues

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