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Relato De Experiência No Estágio Supervisionado Em Biologia No Noturno

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SANTOS, Rutiele Notran [1], MENDES, Valdirene Souza [2], MENEZES, Márcia de Oliveira [3]

SANTOS, Rutiele Notran. MENDES, Valdirene Souza. MENEZES, Márcia de Oliveira. Relato De Experiência No Estágio Supervisionado Em Biologia No Noturno. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 06, Vol. 14, pp. 55-68. Junho de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/biologia/biologia-no-noturno

RESUMO

O ensino de biologia, em sua essência, nos encanta ao retratar a vida e as células dentro do nosso corpo e dos demais seres vivos, tornando-se cada vez mais fascinante. A realidade escolar está diretamente associada com a relação professor e aluno e o ensino de biologia agrega o contato com termos científicos, muitas vezes de difícil entendimento pelos alunos. Entretanto, a falta de interesse dos alunos e metodologias ineficazes que corroboram para o insucesso do ensino/aprendizagem. Na tentativa de romper com essa lógica, esse artigo objetiva relatar a experiência vivenciada durante o estágio supervisionado de biologia no turno noturno, dando ênfase aos recursos didáticos utilizados. A utilização desses recursos fez com que as aulas se tornassem dinâmicas, influenciando no conhecimento e na aprendizagem dos alunos de forma positiva e sua aplicabilidade no turno noturno se constituiu como um desafio e uma experiência importante de atuação para futuros professores de ciências e biologia.

Palavras-chave: Ensino de Biologia, Ensino Noturno, Estágio Supervisionado, Recursos Didáticos.

INTRODUÇÃO

É sabido que, desde os seres microscópicos até os animais de grande porte, sendo eles extintos ou não, a biologia transita por todos os ambientes, todos os seres vivos, tanto no passado quanto nos dias atuais, inclusive na anatomia e fisiologia da complexidade do ser humano, a biologia está sempre presente, colaborando para os aspectos biopsicossocial que o envolve.

Na educação, a articulação da teoria e prática para professores iniciantes diante dos problemas enfrentados pela escola nos dias atuais se constitui como um desafio. No entanto, esse desafio no ensino noturno encontra algumas barreiras pelo fato dos alunos apresentarem um perfil de realidade distinta dos demais, possuindo uma jornada de trabalho no período diurno e estudando no período oposto.

De acordo com Terribelle (2006), são jovens que entram no mercado de trabalho antes de terminarem a escolarização básica e tem como um dos principais motivos ajudar no sustento da família, o que implica a escolha do turno para estudo, ou seja, não é uma escolha aleatória. Para isso, é preciso muito esforço para conciliar o trabalho com a escola, o que muitas vezes leva ao abandono escolar (TERRIBELLE, 2006).

Outro aspecto encontrado no ensino de biologia são as especificidades de conteúdos considerados abstratos e de difícil compreensão para os alunos, devido a uma nomenclatura clássica e científica.

Desse modo, é imprescindível a utilização de metodologias diversificadas que tornem as aulas mais dinâmicas e diferenciadas, possibilitando aos alunos um aprendizado melhor sobre cada tema exposto.

A inclusão das metodologias diversificadas poderá auxiliar não só a aprendizado dos alunos, como também no aprimoramento das práticas didático-pedagógicas do professor, as quais poderão ser socializadas para sua utilização por outros docentes que já atuam, como também para os futuros professores que estão em formação.

Quando se fala de professores que estão em formação, a escola é um espaço privilegiado, se constituindo como um verdadeiro laboratório, que permite ao futuro professor vivenciar as situações reais do contexto didático-pedagógico, e um dos mecanismos que permite essa vivencia é o Estágio Supervisionado.

O Estágio Supervisionado, nesse sentido, caminha ao lado da teoria e prática, como base para todo o processo de ensino e aprendizado do aluno/estagiário, ajudando na execução das aulas e na construção do material que será instrumentalizado. Em decorrência disto, Raymundo (2013, p. 358) declara que:

A Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado constituem componentes curriculares que podem contribuir para a construção de saberes durante o processo formativo e, assim, formar profissionais competentes e cidadãos capazes de solucionar os desafios existentes na dinâmica interna da sala de aula.

A nova realidade mundial é uma necessidade que precisa ser visualizada, pois a cada dia, o mercado de trabalho exige mão-de-obra mais qualificada e as pessoas precisam trabalhar para sua sobrevivência. Sobretudo, sem a escolarização as oportunidades que possibilitam novas ofertas de conhecimentos e outros trabalhos, vão restringindo-se, tornando-se difíceis.

Falar em qualificação profissional para atuação em sala de aula é algo muito complexo e requer uma abordagem bem ampla. No sentido de direcionar para a abordagem central deste trabalho, dentre as várias questões que poderão estar ligadas a este contexto podemos destacar a importância de implementar no processo de formação a atenção que deverá ser dada as especificidades do perfil dos alunos que frequentam as escolas nos diferentes turnos juntamente com a sua modalidade de ensino.

Diante das especificidades do ensino noturno, este artigo teve como objetivo analisar a importância dos recursos didáticos utilizados pelos licenciandos no desenvolvimento do Estágio Supervisionado em Biologia, em especial, na Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E SEU INFLUXO NA RELAÇÃO TEORIA-PRÁTICA

O estágio é um processo de suma importância na formação docente, pois, permite que a teoria seja aplicada na prática, o que assegura futuramente, os profissionais estarem melhor instruídos e com mais experiência para lidar com a sala de aula. Nessa perspectiva Borssoi (2008, p. 2) ressalta elementos fundamentais que configuram o estágio:

No sentido de compreender o estágio como via fundamental na formação do professor, é essencial considerar que o mesmo possibilita a relação teoria-prática, conhecimentos do campo de trabalho, conhecimentos pedagógicos, administrativos, como também conhecimentos da organização do ambiente escolar, entre outros fatores. Dessa forma, o objetivo central do estágio é a aproximação da realidade escolar, para que o aluno possa perceber os desafios que a carreira lhe oferecerá, refletindo sobre a profissão que exercerá, integrando – o saber fazer – obtendo (in) formações e trocas de experiências.

Sabemos que, a principal função do professor é mediar o processo ensino e aprendizagem para que os alunos percebam a relação entre os conteúdos discutidos em sala, com o seu cotidiano e assim, desenvolver o seu exercício pleno da cidadania na construção de conhecimentos e na formação de atitudes e valores que permitirão ser ético e participativo.

Na perspectiva da mediação, termo muito usado por diversos autores, principalmente por Paulo Freire que o utiliza para discorrer uma educação dialógica e horizontal. Nesse sentido, tentamos associar os conteúdos de Biologia proposto para o ensino médio e as especificidades do ensino noturno no desenvolvimento do Estágio Supervisionado em Biologia.

Na EJA busca atender as especificidades do público que é composto de sujeitos que não tiveram acesso à escola na idade regular, entretanto, busca os estudos na tentativa de alcançar uma vida melhor, principalmente no trabalho. Paula, Xavier e Ribeiro Júnior (2017, p. 22) destacam “a necessidade de políticas públicas capazes de contribuir para ampliar e fortalecer a cidadania, a autonomia e o desenvolvimento de cada estudante da modalidade”.

No EM é necessário considerar as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio no Brasil, elaborada e homologada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em maio de 2011 e homologada pelo Ministro da Educação em janeiro de 2012 (BRASIL, 2012). Esse documento considera temas como o financiamento e a qualidade da Educação Básica; o perfil e a formação dos docentes e a relação do EM com a educação profissional.

Além disso, o documento, “reforça o valor da construção do projeto político pedagógico (PPP) das escolas, de maneira a possibilitar diferentes formas de organização e oferta dos saberes na escola”, mantida a unidade curricular nacional. Entretanto, “deixa a matriz curricular do ensino médio mais flexível, conferindo assim mais autonomia às instituições de ensino” (PIMENTEL, 2015, p. 55).

Em se tratando do ensino de biologia, ainda é visível nas escolas, os conteúdos sendo abordados de maneira descontextualizada, privilegiando a teoria distante da prática e das aprendizagens para a vida. Nesse sentido, o estágio possibilitou-nos a articulação entre a teoria e prática importante para o papel discente no qual exercemos reflexões e experiências daquilo que não pode ser visto somente na teoria.

Todas essas questões perpassam pela concepção freireana quando o autor afirma: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 169). Na concepção do autor, a escola desponta como o espaço de produção da superação das marginalidades, em suas palavras, na promoção da emancipação dos sujeitos oprimidos.

Freire (1996), discute a escola, especificamente como os processos educativos nela desenvolvidos, por meio do que ele denomina de “Concepção Bancária da Educação”, na qual o aluno, mero depositário do conhecimento acadêmico do qual a escola é portadora, está presente nesse ambiente, porém, desprovido de sonhos, de beleza e encanto.

Nessa perspectiva, a escola é um dos espaços em que o estudante se constitui como sujeito, ao mesmo tempo humano, social e singular, produtor de sentidos e significados (CHARLOT, 2002).

Nossa experiência teve como objetivo principal, escolher a melhor maneira de trabalhar na sala de aula e de obter um retorno positivo, com aulas produtivas e com alunos engajados no processo de construção da aprendizagem, rompendo com a educação bancária no sentido de construir um ambiente mais democrático e dialógico.

Assim, a relação da teoria e prática se constituem como elementos que se retroalimentam como um todo único, as quais não há prevalência de uma sobre a outra, há interdependência, reciprocidade e dinamicidade.

DESAFIOS NO ENSINO NOTURNO

A EJA é uma modalidade de ensino que deve ser efetivada aplicando-se ao contexto social e desdobrando-se em sua leitura de mundo, favorecendo uma aprendizagem que tenha significado para sua vida. Desta forma, a mediação entre os conhecimentos adquiridos pelos educandos com os recursos utilizados em sala de aula apresenta algumas considerações.

Dentre elas, destacamos aquelas apresentadas por Castro e Aoik (2010, p. 43): “[…] a evasão escolar, número considerável de faltas, pouco interesse e saída antes do término da aula por conta do cansaço, acarretando assim uma desmotivação tanto por parte do aluno quanto do professor”. Nem sempre a escola noturna está preparada para lidar com o aluno que trabalha durante o dia, o que influencia diretamente no seu desenvolvimento escolar.

São essas as dificuldades que se contrapõem ao desejo de promover estratégias para um melhor rendimento nas aulas, uma vez que, nesse cenário é necessário criar uma dinâmica diferenciada na organização individual e coletiva, possibilitando um espaço de maior interação.

O professor que leciona neste turno, precisa levar em consideração, que uma parcela desses alunos são trabalhadores, que chegam à escola com diversos problemas sociais, além dos conflitos de convivência familiar, a relação trabalho-escola normalmente faz com que o aluno veja o ensino médio apenas como uma exigência do mercado de trabalho, acarretando muitas vezes na não valorização da aprendizagem, situação que extrapola aos nossos limites.

Corroborando com essa ideia, Canofer (2013) destaca que o adolescente que precisa trabalhar começa a ter este ofício como norteador de sua vida a partir do momento que o inicia, ao trabalhar limita suas horas livres que seriam para o estudo, lazer e descanso.

É a partir daí que são observadas as dificuldades desses alunos para permanecerem de maneira ativa no processo educacional. É evidente a preferência dada ao tempo referente ao trabalho em vista das outras atividades, e entre estas está a educação formal que é sempre colocada em segundo plano.

Os obstáculos encontrados pelos professores na aprendizagem não param por aí, os recursos didáticos são escassos e frequentemente o professor possui apenas o livro didático para trabalhar em sala de aula. O que reduz a aula apenas a teoria e exposição e não a dinamiza visando entusiasmar o aluno.

Nesse sentido, Pimentel (2015, p. 21) destaca que,

A escola pode possibilitar ao indivíduo, por meio da aprendizagem sistematizada, o acesso às formas mais evoluídas de comportamento/atividade social, geradoras de um desenvolvimento global, ou seja, nos aspectos motores, afetivos, cognitivos e da socialização. A escola é uma instituição criada para promover, embora por vezes não alcance seus propósitos, o aprendizado adequadamente organizado.

Mesmo com as fragilidades que encontramos nesse cenário, não podemos deixar de registrar as histórias de vida, luta e persistência que esses educandos tanto nos ensinam, em suas diversas nuances do viver, despertando paixões para com esse público em questão.

Portanto, ser um educador atualmente em um colégio público é um ofício que depara com muitos desafios a enfrentar, mas é totalmente possível fazê-lo de forma diferenciada e prazerosa, tanto para o aluno quanto para o professor.

Além disso, os cursos de licenciatura devem considerar todas as modalidades que compõem a educação básica para atuação dos futuros professores. Nesse sentido, a EJA se constitui como um dos espaços de importante oportunidade de ensinar e aprender com pessoas que levam suas histórias de vidas para a sala de aula e ao mesmo tempo oportunizar aos alunos do ensino médio aulas mais dinâmicas.

MATERIAIS E MÉTODOS

O Estágio Supervisionado é regulamentado na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) pela Resolução CONSEPE nº 98/2004 (BAHIA, 2004) que sistematiza a realização do estágio obrigatório dos cursos de licenciatura da UESB.

De acordo a resolução, o estágio deve contemplar as etapas de observação, coparticipação e regência. Nesse sentido, o estágio supervisionado em biologia, ocorreu na Forma de Projeto no Centro Integrado de Educação Luís Navarro de Brito (CIENB), na cidade de Vitória da Conquista, Bahia. Durante a observação e coparticipação foi possível traçar um perfil da turma e interagir com os alunos. Essas etapas muito contribuíram para a elaboração do projeto e posterior aplicação do mesmo.

A regência propriamente dita, ocorreu durante três dias consecutivos, durante os cinco horários de aulas, totalizando quinze horas aulas, distribuídas no período noturno, realizado na turma do 1º ano C, que contém 38 alunos com faixa etária de 15 a 28 anos.

Embora a faixa etária dos alunos corresponda aos sujeitos da EJA, essa turma não integra as turmas da EJA da escola, integram as turmas do Ensino Médio Noturno (EMN) apesar de tratar de alunos trabalhadores. Tal destaque é importante porque apesar do colégio atender a EJA e o EMN, durante as observações e o desenvolvimento do estágio supervisionado não percebemos diferenças entre o público, exceto no que se refere ao currículo e a organização dos horários de aulas.

Assim, esse projeto objetivou planejar as aulas que foram desenvolvidas durante o estágio considerando aspectos como: as observações das especificidades da turma do estágio; especificidades do turno noturno; reflexão dos problemas enfrentados pelo ensino médio e ensino e aprendizagem de conteúdos da biologia. Dentre esses aspectos, buscamos atividades possíveis de serem realizadas na sala de aula atendendo ao público do ensino noturno composto em sua maioria de alunos trabalhadores. Nesse sentido, todas as atividades foram desenvolvidas e avaliadas no espaço da sala de aula e no próprio horário de aulas.

Anteriormente a dupla de estagiários elaborou um projeto com a orientação da professora da disciplina buscando atender as especificidades que posteriormente foram colocadas em prática no estágio supervisionado em biologia na forma de projeto como citado anteriormente.

Citologia foi o tema sugerido pelo professor de biologia credenciado, para aplicação no decorrer do estágio supervisionado, conforme explicitado no Quadro 1 abaixo, com as principais atividades.

Quadro 1- Conteúdos e atividades desenvolvidas no estágio de biologia

CONTEÚDO RECURSOS DIDÁTICOS CARGA HORÁRIA
Células Procariontes/ Eucariontes e Membrana Plasmática Imagens coloridas impressas

Caça-palavras

Aula prática;

5h/aula
Citoplasma e suas organelas Paródia

Cruzadinha

5h/aula
Revisão sobre Citologia

Avaliação do Estágio

Dinâmica com perguntas em bexigas

Roleta Didática

Questionário Avaliativo

 

5h/aula

Fonte: Autoria própria, 2019.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No início de cada atividade, os alunos eram informados sobre as mesmas e convidados a participar. Importante destacar que a necessidade da aula expositiva com uso do quadro branco, desenhos e imagens sempre foram importantes para situar os alunos antes das atividades propostas que envolviam a participação deles.

As atividades de fixação sobre o conteúdo como a cruzadinha e o caça-palavras, realizadas individualmente, foram estratégias que fizeram retomar o conteúdo abordado, porém de uma maneira leve e descontraída. É provável que, por esta razão foram avaliadas por 60% dos alunos como seus recursos preferidos no momento de avaliação do estágio pelos alunos que ocorreu por meio de uma pesquisa curta, a qual, utilizamos um questionário impresso, sem identificação pessoal dos sujeitos.

A paródia utilizada também com o objetivo de fixação do conteúdo, dessa vez em dupla, foi uma ferramenta metodológica de grande relevância. Após a explanação do conteúdo, os alunos foram convidados a cantar, observando a letra impressa da música, no intuito de exercer o método de estudo ativo (utiliza a fala e a audição) e, principalmente perdendo aos poucos, a timidez presente na maioria deles. Oportunizar os alunos que dividem o tempo diário entre o trabalho e a escola se destacou como uma atividade importante. O que foi percebido na fala de alguns alunos, conforme destacadas a seguir:

“Nunca pensei que eu tivesse coragem de cantar em público”. Fala do aluno 5;

“Minha timidez foi aos poucos esquecida com a ajuda de meu colega que também é meu melhor amigo, pois ele me fez cantar junto”. Fala do aluno 11.

Quanto a dinâmica com bexigas e a roleta didática, os alunos participaram de forma engajada, respondiam as questões e o fato de ser uma competição, incentivavam a discutirem entre si a resposta correta com base nos conteúdos abordados. Na avaliação dos alunos, a roleta didática foi a dinâmica escolhida por uma maior quantidade de alunos, atingindo o percentual de 80% dos alunos presentes que participaram da avaliação. Talvez a aceitação dessa atividade tenha sido expressiva por ter sido trabalhada em grupos. A dinâmica das bexigas por possibilitar a competitividade entre os grupos para acertar as questões e consequentemente ganhar e dividir o brinde entre os integrantes do grupo vencedor. Quanto a roleta didática talvez esteja associada a participação de todos que são, de certa forma, motivados por aqueles que iniciam e vibram ao participar da dinâmica.

Ao opinarem sobre o Projeto utilizado com diferentes recursos didáticos, através do questionário impresso e aplicado no final das atividades no último dia da realização do projeto, justificaram a facilidade da compreensão e aprendizagem do conteúdo e a dinamização com as aulas teóricas, citadas por 40% dos alunos. Também apontaram que o Projeto despertou o interesse pela Biologia, e que antes não haviam tido esse olhar, o que foi destacado por 60% dos alunos.  A maioria deles, (80%) finalizaram ressaltando a importância de existir, na escola, formas diferentes de aprenderem o conteúdo de biologia, acrescentando inclusive que deveriam ser utilizadas também por outras disciplinas.

A partir dessas observações facilitadas pelos alunos estagiários e alunos do ensino médio foi possível perceber, em relação aos estagiários a importância do estágio como afirmam Carmo e Rocha (2016, p. 726) que:

O estágio assume de fato o papel formativo que lhe cabe, que é o de proporcionar um aprendizado em que o estagiário é orientado pelo professor da escola, a elaborar um plano de trabalho consistente, considerando as dimensões educacionais da escola e as reais necessidades de aprendizagem dos alunos.

Assim, fica clara a importância da interação entre a universidade e a escola, nesse caso, entre o professor de biologia, os alunos e o professor orientador, além do apoio da direção e principalmente do coordenador pedagógico que possibilitou encontros e aproximações para a realização desse estágio.

Por outro lado, é importante discutir que aulas diferenciadas para um público de alunos trabalhadores, acostumados com aulas expositivas e registros no caderno, possibilita, aos alunos do ensino médio, à escola e aos estagiários sair da zona de conforto e compreender de alguma forma que os altos índices de evasão escolar, fracassos, repetições de estudos, tão presente no turno noturno, são reflexos de práticas pedagógicas obsoletas, autoritárias e inibitórias do crescimento criativo, desenvolvido em vários âmbitos do sistema educacional brasileiro.

Esses aspectos, associadas também ao contexto econômico e social, bem como as condições profissionais que os professores vivenciam nas suas escolas. “São práticas que estigmatizam o conhecimento, dificultam a produção ou construção do saber”. Portanto inibem a capacidade de pensar por si mesmo, eixo condutor da criatividade nas palavras de Pereira (2003, p. 95).

A autora acrescenta que:

Criar é estudar possibilidades para inovar, modificar, adaptar e propor ideias originais. Para tanto, é necessário adaptar a educação às demandas sociais, oportunizando condições aos estudantes para integrarem-se plenamente às exigências da sociedade globalizada ao desenvolverem o próprio potencial criativo (PEREIRA, 2003, p. 95).

Nesse sentido, a importância de o Estágio Supervisionado na modalidade de ensino envolver as etapas de observação, coparticipação e a regência possibilita “o contato dos professores em formação com a escola básica”, supervisionados por um professor da universidade, “pode ser compreendido como um rico espaço de integração entre dimensões acadêmicas e profissionais da formação” (VILELA, 2009, p. 91).

Sobre isso, Carmo e Rocha (2016, p. 729) destacam a importância do estágio como,

Uma fase de formação que se configura como uma importante etapa da graduação, uma vez que visa inserir os estudantes/estagiários nas escolas, para que mediante a experiência vivenciada, eles possam conhecer o ambiente se ensino e elaborar dispositivos pedagógicos adequados ao seu trabalho.

Além disso Tardif (2006) nos convida a reflexão de que o estágio é um período que o estagiário vai construir sua identidade profissional.

Assim, a prática docente deve estar embasada em teorias no conhecimento científico e também contemplar o saber docente no sentido de um “saber plural, formado de diversos saberes provenientes das instituições de formação, da formação profissional, dos currículos e da prática cotidiana” (TARDIF, 2006, p.54).

Nesse sentido, as relações estabelecidas na universidade, no chão da escola com seus pares, com os discentes vão dando significação a prática docente aqui iniciada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos que o estágio é importante na vida do docente em formação, uma vez que as experiências vividas nesse período irão compor uma bagagem de aprendizado que será levada durante toda a continuação da nossa carreira profissional docente.

Foi possível observar também, o quanto existem dificuldades no ato de ensinar, principalmente estando num espaço com falta de recursos, em que o professor precisa pensar em diversas maneiras de trazer novidades para os alunos, principalmente ao lecionar no período noturno, que possui um público e dinâmica totalmente diferentes dos demais turnos.

O cansaço tanto dos professores quanto dos alunos são uma dessas características latentes que não são tão marcantes durante o dia. Todas essas situações, que acarretam uma desmotivação por parte de ambos, fazem com que o professor se prenda apenas ao quadro e exercícios no caderno e em contrapartida os alunos fazem as atividades apenas para cumprimento e obtenção de nota visando somente a aprovação.

Não se pode negligenciar o fato do professor também possuir uma rotina de trabalho que os levam, muitas vezes, a lecionar nos três turnos e não possuir tempo para um planejamento mais eficaz. Aulas mais leves e descontraídas podem ser uma saída para transformar a rotina tanto do professor quanto dos alunos em suas nuances do ensinar e aprender.

Aqui, brotaram-se as paixões para essa modalidade tão especial, batalhadora e persistente de sonhos; encantadora em seu viver, trazendo as mais belas histórias de vida; outrora, sofrida. Seremos eternamente apaixonados pela EJA, com eles, aprendemos muito, uma vez que os sujeitos do turno noturno não se diferenciam dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 02, de 30 de janeiro de 2012. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da-educacao-basica/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/17417-ceb-2012. Acesso em 15 de mai./2020.

BAHIA. Resolução Consepe nº 98/2004. Aprova regulamentação do estágio obrigatório específico dos cursos de licenciatura da UESB. Disponível em: Anexo-unico-da-resolucao-consepe-no-98-2004-capitulo-i-da-finalidade.html. Acesso em10 de ago./2019

BORSSOI, Berenice Lurdes. O estágio na formação docente: da teoria a prática, ação-reflexão. 2008. Cascavel – PR. Disponível em: https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/34426298/Artigo_28. Acesso em: 15 dez. 2019.

CASTRO. M. P.; AOKI, C. D. Evasão escolar: um retrato do ensino médio noturno do colégio estadual “André Seugling”. Vol. 1. Paraná. 2010. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2010/2010_uenp_ped_artigo_marconde_padias_de_castro.pdf. Acesso em: 10 dez. 2019.

CANOFER, F. B. Níveis de estresse do aluno trabalhador no ensino noturno: uma proposta de intervenção. Monografia (especialização). Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curitiba. 2013. Disponível em: https://www.acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/49761/R%20-%20E%20-%20FABIANA%20BAUMEL%20CANOFER.pdf?sequence.  Acesso: em 14 dez. 2019.

CARMO, E. M.; ROCHA, W, K, S. A produção dos saberes docentes e o estágio supervisionado: o que dizem as narrativas dos alunos. Inter-Ação. Goiânia, v. 41, n. 3, p. 725-742, set./dez. 2016. Disponível em: file:///C:/Users/Admin/Downloads/41838-Texto%20do%20artigo-187565-1-10-20161217.pdf. Acesso em mar. 2020.

CHARLOT, B. Relações com o saber e com a escola nos bairros populares. Perspectiva, vol. 20, nº especial. Florianópolis, pp. 17-34, jul/dez, 2002.  Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/viewFile/10237/9476. Acesso 10 de mai 2020.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

PAULA, A. A. S. de.; XAVIER, G. J.; RIBEIRO JÚNIOR, R. M. Perfil dos sujeitos da educação de jovens e adultos no Instituto Federal de Goiás: implicações pedagógicas e curriculares. In: PEREIRA, J. V.; CASTRO, M. D. R. de.; BARBOSA, S. C. Diálogos sobre educação de jovens e adultos. Desafios políticos e pedagógicos da integração com a educação profissional. Mercado de letras, Campinas-SP: 2017. 208p.

PEREIRA, M. de L. Inovações para o ensino de ciências naturais. Método Lúdico criativo experimental. Editora Universitária/UFPB. João Pessoa, 2003. 152p.

PIMENTEL, G. S. R. Ensino Médio – contradições conceituais. 1ª edição. CRV: Curitiba-PR. 2015, 174p.

RAYMUNDO, Gislene Miotto Catolino. A prática de ensino e o estágio supervisionado na construção dos saberes necessários à docência. Olhar de Professor, v. 16, n. 2, p. 357-374, 2013. Disponível em: https://www.revistas2.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/4730/4422 Acesso em: 27 dez. 2019.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Ed. 7. Petropólis-RJ: Vozes, 2006.

TERRIBELLE, A. O. Juventude, Trabalho e Ensino Noturno: um estudo sobre os jovens da periferia de Goiânia. 2006. Dissertação (Pós-Graduação em Sociologia) Universidade Federal de Goiás (UFG). Goiânia – Goiás. Disponível em: https://pos-sociologia.cienciassociais.ufg.br/up/109/o/Alexssandra.pdf. Acesso em: 30 nov. 2019.

VILELA, M. L. A biologia na sala de aula pelas escritas de professores em formação: um olhar de pesquisa sobre relatórios de prática de ensino. In: MARANDINO, M et al. (Orgs). Ensino de Biologia: histórias, saberes e práticas formativas. Uberlândia-MG: EDUFU. 2009. P.89-105.

[1] Graduanda pela Universidade Estatual do Sudoeste da Bahia-UESB, Campus Vitoria da Conquista-Ba.

[2] Graduanda pela Universidade Estatual do Sudoeste da Bahia-UESB, Campus Vitoria da Conquista-Ba.

[3] Orientadora.

Enviado: Fevereiro, 2021.

Aprovado: Junho, 2021.

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