REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

A vocação local: a pertinência para o dinamismo do ecoturismo no Cuando Cubango, em Angola

RC: 86427
350
5/5 - (1 vote)
DOI: ESTE ARTIGO AINDA NÃO POSSUI DOI
SOLICITAR AGORA!

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

EZEQUIAS, José Eduardo [1]

EZEQUIAS, José Eduardo. A vocação local: a pertinência para o dinamismo do ecoturismo no Cuando Cubango, em Angola. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 05, Vol. 13, pp. 96-110. Maio de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/turismo/dinamismo-do-ecoturismo

RESUMO

O Cuando Cubango é a segunda maior província da Angola, depois do Moxico, em um universo de 18 Províncias. A sua atividade ecoturística ainda não ganhou protagonismo, por falta de um levantamento dos seus atrativos, de sua vocação local e aproveitamento deste potencial. Esta insuficiência, motivou a elaboração da presente investigação, que tem como objetivo avaliar a vocação local para conhecer as aptidões do Cuando Cubango. A pesquisa proposta é empírica, de natureza descritiva-quantitativa e qualitativa, realizada através de um estudo empírico e documental, utilizando o questionário, a observação e a revisão de documentos. Considerando a vocação local, o conjunto de habilidades, disposições e potencialidades de um território, a pesquisa de campo concluiu que a construção civil e o comércio, neste momento, são as principais vocações e oportunidades econômicas geradoras de emprego, renda e desenvolvimento para a província. Quanto à vocação local potencial, a amostra demonstrou que o comércio e o ecoturismo, somados a agricultura e a construção civil, serão as principais bases da economia a médio e longo prazo.

Palavras-chaves: vocação local, ecoturismo, desenvolvimento.

INTRODUÇÃO

O ecoturismo é uma modalidade turística que vem ganhando notoriedade nos últimos anos devido a globalização e o aumento da procura por áreas naturais. As novas tendências das sociedades, em busca de lugares mais exóticos e naturais por razões ecológicas, têm impulsionado o amplo crescimento que se regista no campo do ecoturismo. “O número de ecoturistas que frequentemente visitam áreas naturais, especialmente áreas naturais protegidas ou unidades de conservação, aumentou drasticamente em todo o mundo” (OLIVEIRA e BLOS, 2012, p. 146).

Para a Organização Mundial do Turismo, WTO (2019), o ecoturismo, no mundo, representa “7% das despesas de viagens internacionais e um crescimento de 10% a 30%.” (p.7). Estes dados são produto do aproveitamento do potencial turístico e das valências territoriais endógenas e exógenas. Este potencial turístico, traduzido em vocação local, segundo a Organização das Nações Unidas (2017), é reconhecido pelos responsáveis para formulação de políticas a nível nacional e internacional, como o motor para o crescimento e desenvolvimento sustentável, capaz de gerar empregos, atrair investimentos e fomentar o espírito empresarial, contribuindo, ao mesmo tempo, para a preservação do ecossistema e do património cultural, bem como o empoderamento das comunidades locais.

A vocação local, resulta das potencialidades naturais e antrópicas existentes, que devem configurar aptidões necessárias para planejar estratégias de desenvolvimento com impacto multissetorial. A vocação está alicerçada nos processos de levantamento dos fatores econômicos, sociais, culturais, políticos, ambientais e geológicos, que representam a capacidade que tem a localidade para o seu desenvolvimento (LIRA E ESCUDERO, 2012).

Em uma estratégia de ecoturismo, é fundamental um trabalho favorável para identificar as potencialidades turísticas de relevância natural e antrópica, que segmentam as bases de sua realização. As políticas de ecoturismo em nível local são frequentemente elaboradas a partir das aspirações do território, não levando em consideração suas reais vocações. Isto se acontece devido a base das estratégias de desenvolvimento ser realizada sem uma análise competitiva do território e de suas potencialidades turísticas. De acordo com Pollice (2010), este é um fator que pode condicionar o correto estudo da sustentabilidade e de seus princípios.

Este estudo tem como objetivo compreender a vocação local do entorno de estudo. Para isto, foi selecionado o território do Cuando Cubango, no centro do sul da África, em Angola, onde se reconhece as potencialidades em termos florestais e faunísticas, com rios navegáveis e zonas turísticas inexploradas que podem configurar vocação local e facilitar a elaboração da estratégia para o desenvolvimento do ecoturismo.

O Cuando Cubango possui uma superfície de 199.335 Km2 e uma população estimada em 535.838 habitantes. Distancia-se do litoral em cerca de 771 km e 1100 km da capital Luanda. Se localiza entre as coordenadas geográficas 13º e 18º de Latitude Sul e 16º e 23º de Longitude Oeste. Pela província transitam os principais rios da África Austral: O Cuito, o Cuanavale e o Cubango, com menos altitude, que deságuam no Delta do Okavango; o Cuando, com maior altitude, que reforça o Zambeze, na Zâmbia, resultando em quedas do Victória Fols, depois dirige-se a Zimbabué, Moçambique e deságua no Oceano Índico. Com sua estrutura hidrográfica, faunística, florestal e cultural interrelacionada, Angola forma parte da Área de Conservação Transfronteiriça Kavango-Zambeze (Zâmbia, Namíbia, Botswana, Zimbabué e Angola).

Dos cinco países da zona de conservação, apenas a Angola apresenta indicadores negativos sobre o ecoturismo. O Cuando Cubango, como província representante de Angola escolhida para este projeto, ainda não ganhou protagonismo, por falta de um coerente levantamento da vocação local e aproveitamento deste potencial, a fim de fomentar sua indústria do turismo.

Através de observações realizadas e consulta de documentos da província entre os anos 2018 e 2020, foi possível identificar algumas insuficiências que enlaçam o estudo:

  • Deficiente conhecimento da vocação local;
  • Debilidade na vinculação das potencialidades endógenas à perspectiva de desenvolvimento territoriais;
  • E, inexistente diagnóstico das oportunidades da região.

As respostas a estas indagações motivaram a elaboração da presente investigação, que julga essencial cumprir o objetivo de avaliar a vocação local, a fim de conhecer as aptidões do Cuando Cubango. Os resultados deste estudo podem ajudar a projetar e tomar decisões estratégicas mais realistas.

MÉTODO

A pesquisa proposta é empírica e de natureza descritiva-quantitativa e qualitativa. Para cumprir o objetivo da investigação, foi realizado um estudo empírico e documental, utilizando entrevistas, questionário e observação, bem como, a revisão de documentos.

Tabela 1 – Etapas para analisar a vocação local

Revisão de documentos Observação direta Questionário aos turistas Questionário a comunidade local Grupo de Consulta Processamento dos resultados por SPSSv22

Fonte: Elaboração própria

Consideramos a fase do planejamento estratégico proposto por Lira y Escudero (2012), mas compreendemos necessário a inclusão dos autores locais como premissa para desempenhar a fase do levantamento da vocação.

VOCAÇÃO LOCAL E ECOTURISMO: A VINCULAÇÃO

O termo vocação é derivado do verbo no latim “vocare” que significa “chamar”.  Compreendido como tendência, conhecimento ou habilidade que leva o indivíduo a exercer e desenvolver uma determinada carreira ou profissão. Na antiguidade clássica, o termo vocação era interpretado como a forma na qual cada indivíduo desenvolvia e manifestava a sua habilidade e, também, as aptidões locais intrínsecas.

Por trás da vocação, está a habilidade técnica. Jover (2018, p. 8) diz que a “ideia de técnica é geralmente associada a fazer procedimentos operacionais praticamente úteis para certos fins”. Se a vocação está relacionada a técnica, significa que o indivíduo sabe fazer algo. Logo, vocação é o que cada indivíduo ou local pode fazer para um fim. Esta habilidade poder ser impulsionada com mais conhecimento, que podem ser obtidos em on job, frequentando cursos ou adquirindo experiência ao longo de anos.

Já o conceito de território, também entendido como local delimitado, de acordo com Souza (1995) citado por Figueiredo (2009) considera o território o “espaço definido e delimitado a partir de relações de poder” (p. 18), ao passo que Haesbaert (1997, p. 39-40) também citado por Figueiredo (2009) o caracteriza em três correntes: o território político-jurídico, representado, principalmente, pelo Estado-nação; o território econômico, relacionado a fontes de recursos, fruto do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho; e, por fim, o território cultural, tomado enquanto produto da apropriação simbólica e/ou da identificação no/com o espaço.

A partir do exposto, pode-se afirmar que a vocação local é o saber fazer de cada população de um determinado território que se soma a outras potencialidades locais, ou seja, segundo Veja et. al. (2009, p. 9) “A vocação local é o conjunto de habilidades, disposições e potencialidades de um território, considerado o ambiente físico socialmente construído, sobre uma determinada natureza”. Permite compreender, a partir dos fatores endógenos e exógenos, as aptidões locais que favorecem a definição dos objetivos, ações e metas no planejamento estratégico. A vocação local revela-se através da atuação típica da comunidade local, de suas lideranças, dos imputes e distintas manifestações. Já a definição de ecoturismo, assim como outras modalidades turísticas, tem ligação regular com o ambiente natural em que se desenvolve. A Conferência de Québec, em 2002, a partir do aporte da Sociedade Internacional de Ecoturismo (sigla em inglês -IES), definiu o ecoturismo como “viagem responsável em áreas naturais que preservam o meio ambiente e melhoram o bem-estar da população local” (2002, p. 8). Compreende-se que o ecoturismo tem sido considerado como uma modalidade de turismo que pode criar uma prática de lazer associada à conservação da natureza. A vinculação do ecoturismo, a vocação local e o campo de estudo, fundamenta-se a partir da analogia de que o planejamento do turismo passa por uma avaliação metodológica sobre a vocação local, que considera os aspetos econômicos, socioculturais e ambientais, o que também implica concluir que avaliar a vocação local significa interpretar o campo de estudo, obtendo dados atuais e fatores potenciais do entorno.

A interpretação mais convincente e antiga sobre a vocação encontra respaldo nas teses do economista David Ricardo, que fez uma análise intemporal sobre a vantagem comparativa de cada local ou território. A assunção das potencialidades intrínsecas do território agrega valor não apenas a competitividade, mas também impulsiona a vantagem comparativa com outros locais. Ricardo (1946) difundiu amplamente, no âmbito da economia, a teoria da vantagem comparativa, enfatizando, em sua visão, que mediante o custo de oportunidade, cada lugar poderia apresentar mais relevância do que outro em produção, ou seja, para o ecoturismo, um destino de viagem poderá, a partir da sua vocação, ter algum proveito diferenciado em relação a outro destino.

Os destinos de viagem ou turísticos têm forte dependência da sua atratividade e vocação. Como afirma Gunn (2000), pesquisador norte-americano, a menos que haja lugares interessantes, divertidos e dignos de visita, não há necessidade de hospedagem e serviços de alimentação, o que significa dizer que o atrativo turístico é o fator básico para poder desenvolver um destino com vocação turística e se diferenciar da concorrência. Um recurso turístico em si deve revestir-se de um valor único ponderando o custo de oportunidade. É em torno deste recurso que se podem criar condições de restauração, serviços de alojamento e estruturas de apoio.

São as potencialidades econômicas, sociais, culturais e ecológicas que devem ser levadas em conta para um destino gerar resultado, (GÓMEZ; AMAYA e MUNDO, 2014 apud ALFONSO et al., 2016). Mas para este estudo, o autor considera avaliar a vocação local, traduzindo as atitudes internas e convicções, manifestadas no campo do estudo que possam servir como a principal motivação ecoturística.

O território deve ser capaz de demonstrar as suas valências, vocação e aspectos, que tendencialmente deverão ser o seu valor intrínseco, onde atingiu o processo de seu progresso. O processo de desenvolvimento local não pode ser totalmente compreendido se forem consideradas apenas variáveis econômicas, sem abordar aspectos sociológicos, culturais e políticos (GUZMÁN e ROMERO, 2008 citados por GOMES et al., 2018). Esta análise coincide com os princípios do desenvolvimento sustentável (sustentabilidade econômica; sustentabilidade ecológica e sustentabilidade social – equidade) Organização das Nações Unidas, ONU (2015). Do exposto, se pode inferir que o valor cultural de um povo é determinante, e outros fatores produtivos, são necessários para processar o desenvolvimento.

RESULTADO

Prevê-se estruturar um diálogo com o território, originado uma análise das valências da província do Cuando Cubango, que permite compreender os elementos que atualmente sustentam a província no quadro multissetorial e na dimensão sócio étnica, bem como, identificar áreas potenciais onde os planos de gestão possam contar como fortalezas e oportunidades para apoiar o desenvolvimento territorial.

Para o cumprimento deste objetivo, foi aplicado um formulário a uma amostra intencional formada por agentes locais do turismo, nomeadamente: Especialistas (7), diretores do Turismo (13), líderes da comunidade (10), Turistas (19) e (1) observadores. Totalizando 50 pessoas selecionadas intencionalmente na província do Cuando Cubango. Foram consultados, também, dois documentos: Relatório Econômico da Administração Geral Tributária (2018) e Orçamento Geral do Estado (2019).

Para avaliar a vocação local com maior precisão, foi utilizado os resultados obtidos através do formulário aplicado. A informação foi processada mediante o software Statistic Package Social Science SPSS v22.0 para Windows versão em português. Através do sistema, permitiu uma análise estatística descritiva, para obtenção de informações como: dados válidos, dados perdidos, moda, média e frequência. A partir destes resultados, aplicou-se um teste de confiabilidade (Alfa de Crombach) ao questionário, de acordo com o agrupamento de cada uma das variáveis contidas no questionário para verificar sua consistência. O resultado indica um valor de 0,954 nos testes realizados com dois itens, sendo superior à média de 0,80, o que estatisticamente indica que o instrumento utilizado no trabalho apresenta uma consistência quase perfeita e confiável, como mostrado na tabela 2.

Tabela 2 – Teste de confiabilidade

Estatísticas de confiabilidade
Alfa de Cronbach Alfa de Cronbach com base em itens padronizados N de itens
,954 ,955 2

Fonte: Elaboração própria a partir de SPSS v22.0.

A partir da observação e da consulta de documentos, foram listadas as principais potencialidades setoriais da província do Cuando Cubango. Apesar de existir uma imensidão de recursos naturais, minerais e culturais, foram avaliados aqueles fatores que estão em fase de exploração regular, nomeadamente o ecoturismo, agricultura e floresta, pecuária, comércio, pesca fluvial, artesanato, caça e construção civil.

A pesquisa de campo permitiu concluir que a construção civil e o comércio, neste momento, são as principais vocações e oportunidades geradoras de emprego, renda e desenvolvimento da província. A justificativa para este comportamento explica-se pelo fato da província do Cuando Cubango ter sofrido com 27 anos de conflito armado interno, o que assolou o país. Esta situação danificou grandemente as suas estruturas e freou o desenvolvimento até 2002. No entanto, desde aquele ano, uma das missões estratégicas do Governo de Angola foi apostar na reconstrução nacional e em uma economia de mercado social.

Tabela 3 – Fortalezas atuais

Frequência Porcentagem Porcentagem válida Porcentagem acumulativa
Válido Construção Civil 16 32,0 32,0 32,0
Comércio 14 28,0 28,0 60,0
Agricultura e floresta 5 10,0 10,0 70,0
Caça 5 10,0 10,0 80,0
Pesca Fluvial 4 8,0 8,0 88,0
Pecuária 3 6,0 6,0 94,0
Ecoturismo 2 4,0 4,0 98,0
Artesanato 1 2,0 2,0 100,0
Total 50 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria a partir de SPSS v22.0.

A Construção civil, o comércio, a agricultura e floresta dominam a atividade econômica do campo de estudo. O mesmo coincide com as informações do Diretivo da Administração Geral Tributária (2018), que apresenta estes três setores como os principais geradores de receitas líquidas da província, sendo, também, os maiores contribuintes do Produto Interno Bruto da Província. Embora a construção civil seja o motor da economia local, e ainda seja pertinente para o amplo programa de reconstrução nacional, este segmento vem caindo em função da crise econômico-financeira causada pela redução do preço de petróleo no mercado internacional (de 117 USD em 2012 a 34 USD em 2018); depreciação da moeda nacional face ao dólar norte-americano e o euro; altos preços da matéria-prima e escasso incentivo à economia. Já o segmento do comércio, agricultura e florestas garantem o funcionamento regular da economia, mas também enfrentam problemas de incentivos e solidificação. Todos estes setores foram responsáveis pelas receitas locais entre 2004 e 2018, conforme tabela 4. No entanto, esta receita local não suporta as necessidades de investimento e despesas públicas e privadas da província. Para mitigar o quadro econômico resultante de fracas receitas fiscais e tarifárias, a província recebe anualmente um orçamento vindo das estruturas centrais, conforme tabela 5.

Tabela 4 – Receitas fiscais em USD

Ano econômico 1 Usd Valores em USD
2014 180 AKZ 5.036.458,21
2015 230 AKZ 7.626.610,8
2016 330 AKZ 5.184.091,8
2017 340 AKZ 8.525.257,4
2018 360 AKZ 5.670.511,3

Fonte: Administração Geral Tributária (AGT, 2019)

Tabela 5 – Despesas públicas

Ano econômico 1 Usd Valores em USD
2018 360 AKZ 55.555.555,00

Fonte: Orçamento Geral do Estado (OGE,2018)

Quanto à vocação local potencial, a amostra demonstrou que o comércio e o ecoturismo, somado a agricultura e a construção civil serão as principais bases da economia a médio e longo prazos. Este dinamismo será sustentado pelo potencial natural, cultural, mineiro, agrônomo e florestal da província, bem como, a vontade política declarada no Plano de Governo de 2018 – 2022, que considera o turismo o quarto eixo estratégico. Oportunidade que segundo o economista local, Domingos Cassela (2015), deverá contar com uma “gestão correta e racionalizada que pode permitir o crescimento econômico nos setores primários, secundários e terciário” (p. 3).

Tabela 6 – Vocação local potencial

Frequência Porcentagem Porcentagem válida Porcentagem acumulativa
Válido Comércio 11 22,0 22,0 22,0
Ecoturismo 9 18,0 18,0 40,0
Agricultura 9 18,0 18,0 58,0
Construção Civil 9 18,0 18,0 76,0
Pecuária 5 10,0 10,0 86,0
Artesanato 3 6,0 6,0 92,0
Pesca Fluvial 2 4,0 4,0 96,0
Caça 2 4,0 4,0 100,0
Total 50 100,0 100,0

Fonte: Elaboração própria a partir de SPSS v22.0.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Através das informações recolhidas durante a fase de pesquisa de campo, apresenta-se uma discussão dos resultados que demonstram a vocação na perspectiva dos aspetos naturais e antrópicos. Nesta etapa são descritos elementos etno-qualitativos da província do Cuando Cubango que intervêm para o dinamismo do ecoturismo.

Os turistas, a comunidade local, diretores do turismo e especialistas, numa percentagem de (82,2%), consideram que a partir das condições endógenas, a beleza natural e cultural local deve ser evidenciada como a principal base para desenvolver o ecoturismo; (57,8 %) Compreendem que exuberância dos recursos ecoturísticos locais também é um fator determinante; (79,6%) Avaliam o clima como elemento favorável para o desempenho de processos do ecoturismo; (56,25) Consideram o patrimônio natural e cultura conservado por estar afastados dos principais conglomerados habitacionais; (36,8%) Apreciam a integração das comunidades e (63,1%) avaliam como débil as políticas públicas de desempenho do ecoturismo e a existência de excesso de burocracia na criação de firmas e cooperativas empresariais.

Só é considerado ecoturismo quando a atividade turística gera conservação da natureza e impactos positivos as comunidades receptoras, daí que (85%) dos inquiridos consideram pertinente envolver as comunidades locais em ações de desenvolvimento local do ecoturismo; 42,8% considerem necessário a produção agropecuária para sustentar a cadeia de alimentação para a indústria do ecoturismo; 80% compreendem que tem de haver transformação da oferta, avulsa e dispersa, em produto concreto para comercialização; 100% dos especialistas e diretores do turismo consideram existir inúmeros constrangimentos em termos de provimento de infraestruturas (energia elétrica, água encanada, comunicações, redes técnicas, estradas, etc.) e falta de incentivo do Governo ao setor privado. Além disso, 60% entendem que há o excesso de importação de bens e serviços que torna a produção turística bastante dispendiosa e pouco estimulante para o setor (operadores turísticos e agências de viagens), produtores de bens e serviços, e clientes.

O Cuando Cubango é uma província com características rurais, onde o desenvolvimento social (água potável, energia elétrica, saneamento básico, serviços públicos e privados) apenas chega a 55.000 dos 550.000 habitantes da região. A população através dos seus hábitos e costumes, subsiste a partir da produção agrícola rudimentar, criação de gado, caça desregulada e pesca fluvial.

As comunidades locais enfrentam problemas que devem ser sanados, para tornar viável a condição socioeconômica. Este ponto também depende do aproveitamento que se pode desenvolver a partir das potencialidades locais e aspectos intrínsecos manifestados pela população e a localidade.

Problemas:

  • As habitações das comunidades são (80%) de construção precária (barro, pau-a-pique e cobertas de capim) e (20%) de construção definitiva;
  • As habitações/casas precárias de até dois quartos são ocupadas por famílias de 5 a 11 pessoas;
  • A qualidade do serviço de saúde nas comunidades é de 20% fraca e 80% inexistente;
  • 60% da população percorre longas distâncias, às vezes a pé, para ter acesso à vários serviços, dentre eles a saúde e educação;
  • 80% das comunidades locais não têm serviço de transporte público;
  • 80% dos habitantes quando estão enfermos recorrem a medicina tradicional, por meio de ervas e raízes;
  • Somente 14% das comunidades locais têm acesso à água potável;
  • 100% das comunidades estimam má qualidade de ensino e falta de professores;
  • 80% da população está desempregada ou trabalha no subemprego.

Potencialidades endógenas

  • Forte potencialidade cultural, folclórica, religiosa e costumeira;
  • Capacidade de fabricação de instrumentos tradicionais para música (Batuques, Sacaias, Malunga, Riquembe, Marimba) e organização de danças para celebração local (Tchianda, Kamandada, Maku, Katanga, Kandoa, Kuviala, Tungandzi, Kuvamba, Mivandye, Massakuila, Tchileya, Makapo, Mbongo);
  • Alimentação típica da região: Funge de Massambala, Massango, Kizaca, o Mutyetye, Carne de Macaco e Kambambi (Cabra Do Mato) e Buli – alimentos nutritivos;
  • Bebidas locais para consumo em refeições normais e eventos (Tchissangua, Hidromel, Kapuca, Kaporroto, Mundevele, Kapata);
  • Rituais de circuncisão em rapazes (Vamba) e efiko para as meninas (Mukula);
  • Beleza que percorre sobre a vegetação;
  • A comunidade local comunica-se fluentemente nas línguas em Ngangela (60%), Tchókue (20%) e Umbundo (20%);
  • A maioria vive e trabalha na agricultura familiar. Produzem tubérculos (batata e mandioca), Cereais (Milho, Massambala e Massango), Hortaliças (Tomate, Cebolas, Couve e Repolho) e a Cana-de-açúcar;
  • A comunidade local consome peixe do rio, pescado com instrumentos de pesca fluvial e vive da caça rudimentar;
  • Foi registada moderada quantidade de animais para venda e consumo (bois, Porcos, Cabritos e Galinhas);
  • Todas as comunidades locais estão próximas a recursos hídricos, onde podem ser desenvolvidas distintas práticas ecoturísticas;
  • A comunidade de Samaria possui um histórico-militar, por ser o local onde decorreram acesos combates entre as forças sul-africanas racistas e angolanas. A vitória angolana na batalha do Cuito Cuanavale propiciou a independência da Namíbia e o fim do apartheid – segregação racional na África do Sul;
  • A comunidade local possui um alto domínio do comportamento da fauna;
  • A juventude destas comunidades trabalha na construção civil, no corte e serração da madeira.

A partir do que foi listado, podem ser aproveitadas as potencialidades, para com algum investimento público e gestão eficiente, começar a minimizar os problemas identificados.

CONCLUSÃO

  1. O artigo considera muito pertinente desenvolver estudos sobre a vocação local da província do Cuando Cubango, pois deste modo podemos conhecer o potencial local e enlaçar as bases para desenho de estratégia. No quadro do ecoturismo, os aspetos da cultura das comunidades, uma vez trabalhados, vão significar atrativos para os turistas.
  2. A partir do levantamento do campo, concluiu-se que a construção civil e o comércio são a vocação local dinamizadora da economia. O comércio local é caracterizado essencialmente pelo sistema de compra e vendas, ou seja, são feitas compras nos principais mercados nacionais, desde produtos terciários, secundários e primários, vendidos na província.
  3. Como potencial, o estudo empírico demonstrou que a vocação será o comércio, agricultura, construção civil e o ecoturismo. Este último segmento, deverá contar com um conjunto de habilidades, disposições e potencialidades de um território, manifestados pela comunidade local e o ambiente físico, dentre os quais a potencialidade cultural, folclórica, artesanal, religiosa, costumeira, a gastronomia local, Rituais de circuncisão, a língua local.
  4. Entre os atrativos naturais e antrópicos, o ecoturismo também poderá contar com os recursos hídricos, onde podem ser desenvolvidos distintas práticas ecoturísticas; o monumento da batalha do Cuito Cuanavale, que propiciou a independência à Namíbia, o fim do apartheid/segregação racional na África do Sul e introdução do multipartidarismo em Angola, e o alto domínio da comunidade local do comportamento da fauna.

REFERÊNCIAS

ALFONSO, R.  RAMOS, M., G. CAMPOS, S. Y ESCUDERO, J. (2016). Estudio Base Para La Determinación De La Vocacion Territorial Del Distrito Jama Pedernales. Escuela Superior Politécnica Agropecuaria de Manabí “Manuel Félix López”. Consultado em 10 de Julho de 2020 de file:///C:/Users/hp/Downloads/EstudiobaseparaladeterminaciondelavocacionterritorialdeldistritoJama-Perdernales.pdf

FIGUEIREDO, R. (2009). Territórios noturnos de vidas “impuras”: Prostituição e Territorialidade Travesti em Governador Valadares. Monografia para bacharelato. Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.

GÓMEZ  A. M. S.; GONZÁLEZ B. S.R Y YOARNELYS V. V. (2018). Estrategias para el desarrollo sostenible y sustentable del Geoparque Imbabura. Ecuador: CIETCUBA.

GUNN, G. (2000). Community Tourism Basics. Texas: Texas A&M Universit.

JOVER,  J. N. (2018). La ciencia y la tecnología como procesos sociales. Lo que la educación científica no debería olvidar. La Habana: Universidad de La Habana.

JUNTA DE COMERCIO Y DESARROLLO DA ONU (2017). El crecimiento transformador e inclusivo. Ginebra. Consultado em 22 de Julho de 2020 de https://unctad.org/meetings/es/SessionalDocuments/tdb64d2_es.pdf

LIRA, I E ESCUDERO, C. (2012). Metodología para eleboración de estratégias de desenvolvimento. Santiago: Instituto Latino-americano e do Caribe de Planejamento Económico e Social.

OLIVEIRA, C. E BLOS, S.(2012). Ecoturismo: desenvolvimento, comunidades tradicionais e participação. Caderno Virtual de Turismo. Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p.137-151. Retirado em 2 de Agosto de 2020 de file:///C:/Users/hp/Downloads/643-1990-1-PB.pdf.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, ONU. (2017). Desarrollo económico en África: El turismo para

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (2004). Desenvolvimento sustentável do ecoturismo: Uma compilação de boas praticas. São Paulo: Editora Roca Ltda.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. (2019). Relatório sobre o ecoturismo. Madrid: OMT.

POLLICE, R E DE IULIO, R (2010). Avaliação da Competitividade Turística Do Território. Finisterra, retirado em 21 de julho de 2020, de file:///C:/Users/hp/Downloads/1329-Texto%20do%20Trabalho-3136-1-10-20121213%20(1).pdf

RICARD, D. (1996). Princípios de Economia Política e Tributação. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda. (Obra original publicada em 1817).

VEGA,  C.,  VARGAS, E. FIOL, D. SORAIA, Y V., ACIAR, E. (2009). Incursiones teóricas del concepto de vocación territorial desde la significación de los actores.  Argentina: Universidad Nacional de San Juan. Retirado em 10 de Julho de 2020 de file:///C:/Users/hp/Downloads/Dialnet-IncursionesTeoricasDelConceptoDeVocacionTerritoria-5537896.pdf.

[1] Graduado em Ciências Sociais, Pós-graduado em Ciências Económicas e Doutorando em Economia na Universidad Nacional de La Matanzas, Argentina.

Enviado: Novembro, 2020.

Aprovado: Maio, 2021.

5/5 - (1 vote)
José Eduardo Ezequias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POXA QUE TRISTE!😥

Este Artigo ainda não possui registro DOI, sem ele não podemos calcular as Citações!

SOLICITAR REGISTRO
Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita