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Proposta de Escala de Avaliação de Movimentos de pacientes em pós-operatório imediato: Revisão integrativa [1]

RC: 19928
781
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CONTEÚDO

WEBER, Adriana Borges [2], BRASILEIRO, Marislei Espíndula [3]

WEBER, Adriana Borges, BRASILEIRO, Marislei Espíndula. Proposta de Escala de Avaliação de Movimentos de pacientes em pós-operatório imediato: Revisão integrativa. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 09, Vol. 03, pp. 05-18, Setembro de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

Objetivo: analisar as avaliações quanto à mobilidade do paciente em pós-cirúrgico imediato, com base na literatura. Metodologia: Foi realizada uma revisão bibliográfica através de uma busca nas bases de dados Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Scielo (Scientific Eletronic Library Online). Resultados: A pesquisa bibliográfica resultou na obtenção de seis artigos completos, dos quais foram incluídos aqueles avaliavam as condições do paciente em Unidade de Recuperação Anestésica, controle da dor e mobilização terapêutica. Conclusão: dentre os artigos escolhidos para a pesquisa, nenhum citou uma escala de avaliação relacionada à imobilidade do paciente no período pós-cirúrgico.

Palavras-chave: Recuperação pós-anestésica, cuidados de enfermagem, escala de avaliação de riscos.

INTRODUÇÃO

O posicionamento cirúrgico é um procedimento comumente executado pela equipe de saúde envolvida no atendimento do cliente no período transoperatório. E para essa prática, devem ser consideradas as especificidades e características do cliente, preferências do cirurgião, técnica cirúrgica a ser realizada, monitorização e ventilação, e para isso foi desenvolvida uma escala para avaliação de risco para lesões decorrentes do posicionamento cirúrgico, denominada como Escala de ELPO, essa escala veio para reduzir o índice de lesões de pele decorrentes do posicionamento cirúrgico.1

Dessa forma, a motivação em pesquisar uma Proposta de Escala para avaliar a movimentação do cliente no período de pós-operatório imediato, surgiu ao se observar que não há um parâmetro a seguir para se avaliar quais os benefícios e ou malefícios decorrentes de se incentivar a movimentação corporal do cliente que está em pós-operatório imediato, que compreende as primeiras 24 horas posteriores à cirurgia.2 A falta de uma proposta para esse tipo de avaliação ocorre provavelmente, pela correria do dia-a-dia na rotina do Centro Cirúrgico, falta de sistematização da assistência, ou pela dificuldade de atualização e acesso a novos estudos.

Dentre as principais complicações e/ou consequências relacionadas à imobilidade prolongada são: a dor musculoesquelética, lesões de pele e em nervos periféricos e diminuição da perfusão sanguínea.3 Já as complicações relacionadas à movimentação indevida são: risco de queda associado ao bloqueio neuromuscular residual que é caracterizado por fraqueza ou paralisia muscular, risco de reabertura da ferida cirúrgica, lesão de plexo devido à movimentação brusca, entre outros fatores relacionados a cirurgias específicas.4

Sendo assim, se torna imprescindível que o enfermeiro pós-operatório tenha conhecimento das alterações anatômicas e fisiológicas decorrentes do posicionamento cirúrgico e pós cirúrgico e da mecânica do processo de recuperação de cada cirurgia específica.1

Nesse sentido, define-se escala, segundo o Dicionário Aurélio, como uma sequência de valores graduados para servir de medida de intensidade de uma grandeza.5 Na enfermagem, escalas são utilizadas como instrumentos de avaliação com o objetivo de medir intensidade, opiniões e atitudes, dentre os quais o correspondente deve assinalar aqueles que melhor se encaixam à sua percepção sobre aquilo que se quer investigar.6 Com base nessas informações, pode-se utilizar as escalas para avaliar por exemplo os movimentos de um cliente, que são aqueles movimentos orientados pela enfermagem, como a troca de decúbito, a deambulação, sentar-se ou permanecer deitado, entre outros.

Diante do exposto, é nota-se a necessidade da implementação de ferramentas efetivas para auxiliar e direcionar o profissional de enfermagem na detecção de prováveis riscos de cada paciente. Colocada em prática poderá auxiliar o enfermeiro na identificação dos fatores predisponentes para o desenvolvimento de lesões, facilitará a tomada de decisões de forma direcionada para se alcançar um cuidado eficaz, solucionando problemas num tempo menor e prevenindo novas ou maiores complicações.7

Com o propósito de oferecer subsídios por meio de condução de pesquisa que contribua para melhorar o cuidado ao paciente cirúrgico, neste estudo o objetivo foi analisar e propor uma escala para avaliação dos riscos de locomoção no período pós-operatório imediato.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente artigo científico resultou de uma pesquisa bibliográfica, com análise integrativa, visando fazer uma ilustração geral sobre a avaliação de movimentos de clientes em pós-operatório imediato.

A pesquisa classifica-se como bibliográfica, pois foi feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto.8

Também é uma análise integrativa, que “é aquela que inclui análise de pesquisas relevantes que deram suporte para a tomada de decisão e a melhoria da prática clínica, possibilitando a síntese do estado do conhecimento de um determinado assunto”.9

Após a análise e definição do tema foi realizada uma busca em bases de dados virtuais em saúde, especificamente na Biblioteca Virtual de Saúde – Bireme. Foram utilizados os descritores: Recuperação pós-anestésica, cuidados de enfermagem e escala de avaliação de riscos. O segundo passo foi uma leitura seletiva e exploratória das publicações apresentadas no Sistema Latino-Americano e do Caribe de informação em Ciências da Saúde – LILACS, National Library of Medicine – MEDLINE e Bancos de Dados em Enfermagem – BDENF, Scientific Electronic Library online – Scielo. Os critérios de inclusão foram: serem publicados nos últimos dez anos e responderem aos objetivos do estudo. Foram excluídos os anteriores a 2007 ou que não responderam aos objetivos.

Realizada leitura exploratória e seleção do material, iniciou-se uma leitura analítica, por meio da leitura das obras selecionadas, que possibilitou a organização e sintetização das ideias por ordem de importância, assim fixando as ideias essências para a solução do problema da pesquisa.

Após leitura e análise das publicações, iniciou-se uma leitura interpretativa ligando os dados obtidos nas fontes ao problema da pesquisa e conhecimentos prévios. Na leitura interpretativa houve uma busca mais ampla de resultados, pois ajustaram o problema da pesquisa a possíveis soluções. Feita a leitura interpretativa se iniciou o registro de observações que se referiram a anotações que consideravam o problema da pesquisa, ressaltando as ideias principais e dados mais importantes.

A partir do registro das observações, foram confeccionados fichamentos, em fichas estruturadas em um documento do Microsoft word, que objetivaram a identificação das obras consultadas, o registro do conteúdo das obras, o registro dos comentários acerca das obras e ordenação dos registros. Os fichamentos propiciaram a construção lógica do trabalho, que consistiram na coordenação das ideias que acataram os objetivos da pesquisa.

As ideias mais importantes do estudo foram inseridas em um quadro, que consistiu na desconstrução dos estudos, dividido em quatro colunas: 1) numeração dos estudos, 2) resultados das pesquisas e suas referências. A leitura repetida dos resultados, em busca dos pontos comuns entre eles resultou em uma terceira coluna: 3) pontos comuns entre os resultados das pesquisas, onde se descreveu em que os autores concordaram. O último passo foi a construção das categorias, que consistiu na síntese de cada ponto comum.

Para a discussão dos resultados encontrados, iniciou-se a reconstrução do conjunto dos estudos em sete etapas: 1) Uso da categoria como subtítulo de resultados e discussão; 2) introdução e quantificação dos pontos comuns; 3) exposição dos resultados dos estudos comuns, com argumentação lógica e defesa do tema; 4) interpretação e discussão da síntese dos resultados dos estudos; 5) conclusão da categoria, respondendo aos objetivos; 6) construção do paradoxo, demonstrando que toda tese tem sua antítese; 7) fundamentação da antítese; 8) conclusão geral da categoria.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos últimos anos ao se buscar as Bases de Dados Virtuais em Saúde, tais como a LILACS, MEDLINE e SCIELO, banco de teses da CAPES, Teses e dissertações defendidas no Brasil a partir de 1987. Utilizando as palavras-chave: Recuperação pós-anestésica, cuidados de enfermagem e escala de riscos de lesão, encontrou-se 22 artigos publicados entre 2007 e 2018. Foram excluídos 16, sendo, portanto, incluídos neste estudo 6 publicações.

Após a leitura exploratória dos mesmos, foi possível identificar a visão de diversos autores a respeito das intervenções de enfermagem na recuperação pós-anestésica e escalas utilizadas para mobilização, assim então, selecionados os artigos, que foram agrupados em uma tabela para a apresentação dos resultados.

Tabela 1: Informações obtidas sobre avaliação do paciente em pós-operatório, após a análise dos artigos.

Autor Objetivo Resultados Conclusão
Autor1: Popov, D. C. S., & Peniche, A. D. C. G.

Ano: 2008

Método: Estudo exploratório, retrospectivo, descritivo com abordagem quantitativa.

Amostra: 400 prontuários de pacientes maiores de 18 anos, submetidos à procedimento cirúrgico de grande e médio porte.

Nível de Evidência: 3 (Forte /
Moderada)

Objetivou identificar complicações prevalentes em Sala de Recuperação Pós-Anestésica (SRPA). Resultados:

Como complicações prevalentes em SRPA identificou-se a dor em 216 (54%) pacientes no pós-operatório imediato, hipotermia em 174 (43,0%) pacientes. Em relação às complicações e o estado físico, segundo ASA, verificou-se resultados significativos relativos a náusea, vômito, hipoxemia e hipotermia.

Conclusão:

Dor, náuseas e vômitos, agitação/ansiedade e sangramento são complicações que se relacionam significativamente de forma positiva à jornada de trabalho, quando se fixa um enfermeiro na SRPA.

Autor2: Lopes, C. M. D. M

Ano: 2013

Método: Pesquisa Metodológica

Amostra: Pacientes de ambos os sexos, submetidos à procedimentos cirúrgicos eletivos de qualquer especialidade cirúrgica, no hospital selecionado.

Nível de Evidência: 2 (Forte/moderada)

A construção e validação da Escala de Avaliação de Risco para o Desenvolvimento de Lesões Decorrentes do Posicionamento Cirúrgico (ELPO). Para avaliar a validade de critério testou-se a associação da presença de dor e o desenvolvimento de úlcera por pressão com o escore de ELPO, sendo que os resultados do tratamento estatístico de regressão logística evidenciaram diferença estatisticamente significante.

A prevalência de complicações foi de 58%, sendo a maioria pulmonar (31,02%), seguida pelas complicações cardíacas (15,78%) e neurológicas (13,9%). Dentre as complicações infecciosas (9,89%), o sítio pulmonar foi o mais comum.

A ELPO é um instrumento válido e confiável para a avaliação de risco para o desenvolvimento de lesões decorrentes do posicionamento cirúrgico em pacientes adultos. É um instrumento de fácil aplicação e pode ser útil na prática clínica.
Autor3: Soares, GMT., de Souza Ferreira, DC., Gonçalves, M P C. At all.

Ano: 2011

Método: Estudo do tipo observacional transversal, realizado no município de Juiz de Fora, localizado na Zona da Mata de Minas Gerais, com uma população estimada em 600.000 habitantes.

Amostra: 204 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca na Santa Casa de Misericórdia do município de Juiz de Fora (MG), no período de 01 junho a 31 dezembro 2009.

Nível de Evidência: 3 (Forte/moderado)

Identificar quais são e como se apresentam as complicações mais frequentes no pós-operatório imediato de pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, no município de Juiz de Fora (MG). A prevalência de complicações foi de 58%, sendo a maioria pulmonar (31,02%), seguida pelas complicações cardíacas (15,78%) e neurológicas (13,9%). Observou-se uma considerável prevalência de complicações, principalmente pulmonares, na população estudada. Os resultados encontrados poderão direcionar os cuidados prioritários que serão implementados a esses pacientes e assim contribuir para melhor intervenção.
Autor 4: DE SOUZA, Talita Monteiro; DE CARVALHO, Rachel; PALADINO, Camila Moreira.

Ano: 2012

Método: Pesquisa de campo, descritivo-exploratória

Amostra: A coleta de dados foi feita com 65 pacientes internados na SRPA de um hospital geral, de extra porte, situado em São Paulo.

Nível de Evidência: 2 (Forte/moderada)

Identificar os Diagnósticos de Enfermagem de pacientes submetidos à cirurgia geral e internados na Sala de Recuperação Pós-Anestésica (SRPA) e listar as Intervenções e os Prognósticos propostos pelas Classificações de Resultados e Intervenções de Enfermagem para os diagnósticos identificados. Foram identificadas 22 categorias diagnósticas, sendo 11 Diagnósticos de Risco e 11 Diagnósticos Reais. Verificou-se incidência de 100% dos diagnósticos: Risco de queda, Risco de aspiração, Risco de infecção, Risco de desequilíbrio da temperatura corporal, Risco de desequilíbrio do volume de líquidos, Integridade da pele prejudicada, Proteção ineficaz e Mobilidade no leito prejudicada. Os Resultados e as Intervenções abordaram os seguintes aspectos: prevenção de queda, precauções contra aspiração, proteção contra infecção, promoção do equilíbrio da temperatura corporal, manutenção das condições basais do organismo, promoção da cicatrização, controle da dor, troca gasosa adequada, promoção do conforto e prevenção de complicações.
Autor 5: COSTALINO, Lídia Regina.

Ano: 2015

Método: pesquisa qualitativa realizada em um hospital particular do interior de São Paulo, no segundo semestre do ano de 2010.

Amostra: Foram entrevistados os colaboradores da área de enfermagem, que trabalham na SRPA nos turnos da manhã, tarde e noite mediante autorização dos diretores da Instituição.

Nível de Evidência: 2 (forte/moderado)

Pretende-se averiguar a percepção desse profissional mediante a dor do paciente no pós-operatório e as formas de conduta implementadas por ele no atendimento à queixa do paciente. Os resultados do estudo demonstraram a existência de uma distância entre o ideal de uma prática de enfermagem na SRPA e as ações ali efetivadas no cotidiano de enfermeiros e pacientes. Assim considera-se que os resultados do estudo em questão contribuirão para objetivação de condutas mais efetivas por parte dos profissionais em relação aos pacientes pós-operados, o que poderá trazer ganhos importantes na recuperação de sua saúde.
Autor 6: MEIER, Alcione Carla et al.

Ano: 2017

Método: Analítico, transversal,

Amostra: 336 pacientes, formulário sociodemográfico e clínico, escala numérica da dor e McGill reduzida. Dados coletados em setembro-outubro de 2015 em Unidade de Recuperação Pós-Anestésica (URPA), hospital geral do Noroeste do Rio Grande do Sul.

Nível de Evidência: 3 (Forte/moderada)

Avaliar a dor de pacientes em pós-operatório imediato, na admissão, uma hora após e na alta de uma Unidade de Recuperação Pós-Anestésica quanto a intensidade, aspectos sensoriais e afetivos. 57,3% não referiram dor, 47% dor da admissão à alta, estatisticamente significativas. Pacientes submetidos a cirurgias oncológicas e traumatológicas relataram mais dor. Percentual elevado de pacientes com dor no pós-operatório imediato, desde a admissão na unidade até a alta. Resultados podem instigar pesquisadores e profissionais de saúde às investigações, inclusive com maior número de participantes que permitam inferências.

Resposta ao objetivo do estudo:

O primeiro estudo relata as dificuldades ao descrever as intervenções de enfermagem, comprovando que a equipe ainda tem limitações quanto ao registro adequado, e sistematização dos fatos e intervenções referentes à SRPA. Já o segundo autor avaliou a utilização de ELPO na prática clínica como ferramenta para sistematizar a assistência, mas verificou que essa utilização ainda depende da condução de novos estudos em diferentes contextos hospitalares, além de incentivar a tomada de decisão do enfermeiro perioperatório fornecendo subsídios para a melhoria da assistência. O quarto artigo, em concordância com o primeiro autor mostrou a importância da implementação do Sistema de Assistência de Enfermagem Perioperatória (SAEP) e da prestação de cuidados por profissionais qualificados e envolvidos na prestação da assistência aos clientes no pós-operatório imediato de cirurgias gerais. Os outros artigos relatam a observação de uma considerável prevalência de complicações, principalmente pulmonares nos pacientes em recuperação pós-anestésica e avaliação da dor. Fundamentando tudo que foi analisado nos artigos, o quinto artigo vem correlacionar a percepção do profissional de enfermagem e a conduta interventiva por ele implementada no manejo da dor pós- -operatória, constatou-se diversas lacunas para o tratamento adequado da dor e de seus efeitos deletérios no organismo.

3.1. AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO CLIENTE EM UNIDADE DE RECUPERAÇÃO

As Unidades de Recuperação Pós-anestésicas (URPA) recebem pacientes que necessitam de uma assistência mais complexa, devido ao seu estado clínico de natureza mais crítica, cuidados altamente complexos e controles específicos.3 Levando em consideração essa informação, dois dos artigos objetos desse estudo afirmam que a enfermagem presta uma assistência específica. Já o conhecimento adquirido na SRPA se destaca, sobretudo, pelo avanço progressivo e rápido dos novos estudos na área.1

Essas intervenções possuem objetivos específicos, como por exemplo, a mudança de decúbito, que é referenciada como uma forma de prevenção das lesões por pressão. Um dos seis artigos ainda estudados, cita que uma das causas das lesões por pressão é a imobilidade do paciente no leito sem a possibilidade de movimentar-se por si próprio.10 Essa imobilidade pode estar associada à alterações fisiológicas como a demora em deambular e o risco de tromboembolismo.1 Três dos artigos estudados referem ainda, que a dor também traz prejuízos na recuperação do cliente devido aos procedimentos cirúrgicos, à imobilidade, alterações emocionais, como o medo e outros fatores.2,4,6

Um número considerável de pacientes relata que a dor pós-cirúrgica é a pior experiência da sua vida o que torna o processo de recuperação pós-anestésica mais difícil.7 Quatro dos autores citados falam que a dor e o desconforto podem alterar o metabolismo do paciente, afetando os sistemas respiratório, cardiovascular, gastrintestinal, neurológico e tegumentar4,6,7,11. Portanto, a mobilidade e o alívio da dor trazem a diminuição de intercorrências.

O gerenciamento adequado da recuperação pós-operatória, controla a dor, o estresse físico e psicológico, além de permitir a elaboração de cuidados relacionados à mobilidade e à movimentação.10 Assim, todos os artigos demonstraram que o objetivo principal das intervenções de enfermagem é a segurança do paciente e seu conforto.

3.1.2 CONTROLE DA DOR

“Dor: sensação corporal penosa, sendo classificada pelo seu tipo, intensidade, caráter e ocorrência: dor de barriga; dor difusa. ”5

De acordo com as autoras do quarto artigo estudado, as ferramentas para controle da dor são as farmacológicas (administração de medicamentos), e não farmacológicas (mobilidade e movimentação, acupuntura, massagem terapêutica, relaxamento, posicionamento e conforto)12. Um dos artigos fala que as alternativas para analgesia farmacológica se destacam a infusão de analgésico, a analgesia controlada pelo paciente (ACP) e a administração por via venosa de medicação, onde a morfina é o analgésico opióide de primeira escolha no tratamento da dor aguda de grande intensidade13, como é a dor pós-cirúrgica.

Segundo dois dos artigos avaliados, a Enfermagem avalia a intensidade da dor e adota estratégias para minimizar o desconforto, através de planejamento dos cuidados, levando em consideração as alterações dos sinais vitais, das condições físicas e emocionais e do quadro doloroso propriamente dito.7,10

A equipe de enfermagem é a ferramenta principal no cuidado dos pacientes que vivenciam complicações no pós-operatório imediato de forma segura.14 Dentre as complicações mais comuns citadas pelos autores, se destaca a dor.

A área de Enfermagem vem passando por avanços constantemente no controle da dor, pelo desenvolvimento de técnicas e equipamentos para analgesia; a necessidade de atualização permanente dos profissionais, é necessário se trabalhar a prevenção, tanto farmacológica, como as intervenções posturais e mobilidade, pois o tratamento inadequado da dor pós-cirúrgica traz como consequência um aumento considerável da morbimortalidade.10

A enfermagem, atua suprindo as necessidades emocionais e físicas do cliente com dor, nos aspectos emocionais age de maneira não farmacológica e no campo biológico, usa técnicas farmacológicas para alívio.7 Comparando dois dos estudos analisados, pôde-se observar que quando trabalhadas de forma adequadas as práticas medicamentosas e complementares associadas trazem resultados positivos significativos em relação ao conforto e tratamento da dor.3,12

Os seis artigos demonstram que a constante comunicação entre a equipe de enfermagem e o cliente favorece a implementação de terapias de alívio da dor que promove uma assistência integral e aumenta a qualidade de vida do cliente com dor.7,10 Ainda, é importante ressaltar a importância do tratamento farmacológico para o alívio da dor pós-cirúrgica, como relatam alguns autores: “A qualidade da analgesia obtida pelo uso de morfina no alívio da dor pós-operatória de pacientes submetidos à cirurgia ortopédica foi satisfatória”15; “Em nossa prática, observamos que 4% dos pacientes submetidos à cirurgia ortopédica requerem tratamento farmacológico da dor”.16

Dessa forma, os autores conseguiram demonstrar que a efetiva comunicação e a implementação de uma assistência sistematizada são essenciais para a qualidade do alívio da dor do paciente em recuperação pós-anestésica.

3.1.3 MOBILIZAÇÃO TERAPÊUTICA

Três dos seis artigos revisados, apontam que possíveis complicações na SRPA, estão diretamente ligadas às condições e orientações pré-operatórias, ao tipo e porte da cirurgia, também estão ligadas às intercorrências intra-operatórias e à anestesia, e claro, intimamente associadas às medidas e cuidados pós anestésicos.3,7,12

De acordo com três dos artigos utilizados nessa pesquisa, alguns diagnósticos ligados aos cuidados pós anestésicos são: Mobilidade no leito prejudicada, que consiste na limitação da movimentação do cliente de forma independente, de uma posição para outra no leito, tem como fator relacionado a experiência pós-operatória, juntamente com o uso de sedativos17. Esse diagnóstico pode estar associado à restrição do cliente ao leito, decorrente do procedimento cirúrgico, da presença de drenos e à sensação de dor ao movimentar-se.12

Para esse diagnóstico, uma intervenção que pode ser relacionada é a promoção da Mecânica Corporal, que destaca a importância da orientação e monitorização da mobilidade corporal do cliente, assim proporcionando um cuidado mais adequado para o seu estado e prevenindo possíveis lesões, em decorrência da limitação de movimentos.

A deambulação prejudicada, mobilidade no leito prejudicada e a incapacidade de transferência estão diretamente relacionados com a mobilidade física prejudicada e interligadas entre si, outro diagnóstico também mencionado pelos autores está relacionado a integridade tissular prejudicada, que apresenta como característica definidora, tecido destruído e/ou lesado em decorrência de um evento traumático.17

Em um dos estudos, a integridade da pele prejudicada apareceu 26,1 e 15,4% pacientes, e está relacionada aos fatores mecânicos, como a própria incisão cirúrgica, como também à presença de cateteres, sondas e drenos.12

A imobilização no leito, a diminuição da atividade motora, a perfusão inadequada e o repouso prolongado são fatores que contribuem para a formação de contraturas musculares em posição de conforto (flexão de quadris e joelhos, tornozelos, flexão do cotovelo, punho e dedos), que sua têm origem nas articulações e nas partes moles ou nos músculos, e todos estes tecidos acabam desenvolvendo limitações secundárias, o que dificulta a mobilidade, o autocuidado e os procedimentos de enfermagem.4

A imobilidade pode causar várias complicações que influenciam na recuperação de doenças críticas, incluindo atrofia e fraqueza muscular esquelética. Esse efeito pode ser reduzido com a realização de mobilização precoce sempre que possível.

Nesse sentindo, foi elaborado um modelo de proposta de escala para a avaliação da movimentação de pacientes em pós-operatório imediato.

Tabela 2: Modelo de Escala de Avaliação de Movimentos de pacientes em pós-operatório imediato

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo teve como tema principal a importância da avaliação e controle do paciente em recuperação pós-anestésica, já que este é um período crítico e muitas vezes pouco comentado com o próprio cliente. Algumas complicações como problemas pulmonares, vasculares, tissulares, e até mesmo a dor são de grande influência na recuperação do paciente, assim podendo lhe causar danos de difícil reversão.

O estudo ainda demonstrou que a mobilidade está direta ou indiretamente ligada a essas complicações, assim, foi possível identificar a falta de uma escala mais direcionada à mobilidade do paciente, para que os cuidados de enfermagem possam ser mais direcionados e eficazes na assistência.

Esta pesquisa ainda possibilitou a ampliação de conhecimentos direcionados à recuperação pós-anestésica, e a enfatizar a suma importância de uma Sistematização da Assistência de Enfermagem, utilizando ferramentas atualizadas e dinâmicas e parâmetros direcionados para a organização e efetividade da assistência, já que não foi encontrada nenhuma escala ou parâmetro de avaliação dos movimentos do paciente.

Percebe-se, portanto, a necessidade da criação de uma escala para avaliação da mobilidade do paciente em recuperação pós-anestésica, levando em consideração sua história clínica, visto que essa mobilidade pode tanto proporcionar uma recuperação mais rápida como dificultar sua recuperação.

REFERÊNCIAS

1. Lopes CM de M. Escala de avaliação de risco para o desenvolvimento de lesões decorrentes do posicionamento cirúrgico: construção e validação. Revista Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2016;24–2704. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692016000100395&lng=en&tlng=en

2. Ribeiro H. Avaliação da satisfação dos utentes em relação à informação prestada no pós-operatório em cirurgia ambulatória. Instituto Politécnico de Setúbal. Escola Superior de Saúde.; 2015.

3. Popov DCS, de Cássia Giani Peniche A. As intervenções do enfermeiro e as complicações em sala de recuperaçõo pós-anestésica. Revista da Escola de Enfermagem. 2009;43(4):946–54.

4. Cazeiro a. PM, Peres PT. a Terapia Ocupacional Na Prevenção E No Tratamento De Complicações Decorrentes Da Imobilização No Leito. Cad Ter Ocup da UFSCar. 2010;18(2):149–67.

5. Cândido de Figueiredo. Novo Diccionário da Língua Portuguesa. Portugues. 2010. 947 p.

6. Rossetti AC, Carqui LM. Implantação de sistema informatizado para planejamento, gerenciamento e otimização das escalas de enfermagem. ACTA Paul Enferm. 2009;22(1):83–8.

7. Meier AC, Siqueira FD, Pretto CR, Colet C de F, Gomes JS, Dezordi CCM, et al. Análise da intensidade , aspectos sensoriais e afetivos da dor de pacientes em pós-operatório imediato. Revista Gaúcha de Enfermagem. 2017;38(2).

8. Metodologia da Pesquisa Cientìfica. Universidades Estadual do Ceará; 2002.

9. Mendes KDS, Silveira RC de CP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Context – Enferm [Internet]. 2008;17(4):758–64. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072008000400018&lng=pt&tlng=pt

10. Costalino LR. A enfermagem e a dor do paciente na sala de recuperação pós-anestésica: formas de identificação e condutas interventivas. Salusvita [Internet]. 2015;34(2):231–50. Available from: http://www.usc.br/biblioteca/salusvita/salusvita_v34_n2_2015_art_04.pdf

11. Almeida, Anita and SGI de enfermagem para a prevenção das úlceras de pressão (UP) nos utentes acamados no serviço de cirurgia. Intervenção de enfermagem para a prevenção das úlceras de pressão (UP) nos utentes acamados no serviço de cirurgia. Portal do Conhecimento. 2013;C.

12. Souza TM de, Carvalho R de, Paldino CM. Diagnósticos, prognósticos e intervenções de enfermagem na sala de recuperação pós-anestésica. Revista SOBECC [Internet]. 2012;17(4):33–47. Available from: http://itarget.com.br/newclients/sobecc.org.br/2012/pdf/2.pdf

13. Lima LR, Stival MM, Barbosa MA, Pereira LV. Controle da dor no pós-operatório de cirurgia cardíaca: uma breve revisão. Rev Eletrônica Enferm [Internet]. 2008;10(2):521–9. Available from: http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n2/v10n2a23.htm

14. Fontes AP, Botelho MA, Fernandes AA. Artigos Originais [Internet]. Vol. 2, Incontinência Urinária e Funcionalidade: um estudo exploratório numa população idosa. 2011. p. 12–9. Available from: http://www.apurologia.pt/acta/2-2011/inc-urin-func.pdf

15. Paula GR De, Gagliazzi MT. Assistência de enfermagem e dor em pacientes ortopédicos na recuperação anestésica , no Brasil. Revista Dor. 2011;12(3):265–9.

16. Soares GMT, Ferreira DC de S, Gonçalves MPC, Alves TG de S, David FL, Henriques KM de C, et al. Prevalência das Principais Complicações Pós-Operatórias em Cirurgias Cardíacas. Rev Bras Cardiol. 2011;24(3):139–46.

17. Guimarães HC, Barros AL. Classificação das Intervenções de Enfermagem. Vol. 35, Revista da Escola de Enfermagem da U S P. 2001. 130-134 p.

[1] Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Enfermagem em Gestão de Bloco Cirúrgico: Recuperação Pós Anestésica, Central de Material e Esterilização, turma nº 10, do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição/Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

[2] Enfermeira, especialista em Bloco Cirúrgico.

[3] Doutora em Ciências da Saúde – FM-UFG, Doutora – PUC-Go, Mestre em Enfermagem – UFMG, Enfermeira, Docente do CEEN.

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Adriana Borges Weber

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