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A charge como um input nos processos cognitivos dos leitores: uma reflexão sobre o uso in loco.

RC: 128607
934
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/letras/charge

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SILVA, Lucimar de Cássia Fonseca [1]

SILVA, Lucimar de Cássia Fonseca. A charge como um input nos processos cognitivos dos leitores: uma reflexão sobre o uso in loco. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 09, Vol. 08, pp. 210-226. Setembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/letras/charge, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/letras/charge

“A natureza do humor é ser contra. Contra a autoridade, o estabelecido. A natureza do humor é revelar o que está escondido por trás da aparente normalidade, do poder.” Claudius Ceccon-cartunista brasileiro.

RESUMO 

A deficiência intelectual interfere de maneira negativa no desenvolvimento da linguagem da pessoa que vive em um contexto de avanço da tecnologia, onde, cada vez mais, se está submetido a leitura de diversificados textos multissemióticos ou não. Neste contexto, verifica-se que as charges, um texto jornalístico de grande circulação nas mídias sociais e que aborda os fatos do cotidiano, pode ser uma aliada para o desenvolvimento dos processos cognitivos destes estudantes. Sendo assim, o presente artigo buscou-se responder: como as charges podem ajudar o aluno, principalmente os que possuem alguma limitação no que tange a habilidade mental, a desenvolver a sua capacidade intelectual? Tem-se, portanto, como objetivo trazer algumas notas e reflexões sobre o uso do gênero textual charge como um objeto de ensino para estimular a leitura e a habilidade de interpretação de textos dos estudantes que possuem algum tipo de deficiência intelectual. Na busca por respostas, optou-se por realizar uma revisão bibliográfica, alicerçando-se, também, na observância da autora de práticas educacionais in loco durante aulas de Língua Portuguesa na Educação de Jovens e Adultos com deficiência intelectual. Por fim, compreendeu-se que a charge é útil para impulsionar os processos cognitivos voltados para a percepção, atenção, memória e pensamento daqueles que precisam dos estímulos mais imagéticos para se desenvolverem linguisticamente.

Palavras-chave: Charge, Cognição, Linguagem.

1. INTRODUÇÃO

Na atualidade, os recursos de imagens usados nos textos contribuem para que as práticas educacionais sejam mais inclusivas e, nesse sentido, impulsionem cada vez mais os processos cognitivos do corpo discente que, muitas vezes, enfrenta muita dificuldade com a leitura e a escrita dada a arbitrariedade do signo. Neste contexto, se o sujeito não for dotado da capacidade de fazer a associação entre o significante/conceito e o significado/imagem acústica em sua mente, ocorrerá uma abstração no lugar do objeto concreto. Desse modo, a interpretação dos textos orais e escritos ficará comprometida (SAUSSURE, 1995).

Sendo assim, o presente artigo aborda as características do gênero textual charge e o sugere como um texto relevante na aplicabilidade das atividades pedagógicas para o exercício da Língua Portuguesa na sala de aula.

A escolha do tema surgiu pela formação da autora na área de letras; e, sobremaneira, pela percepção − advinda das práticas pedagógicas de ensino in loco na Educação de Jovens e Adultos (EJA) com dificuldades de interpretação de textos, bem como do interesse dos alunos pelas charges, principalmente quando a temática futebolística e/ou política. A veemência pela discussão mais aprofundada desse gênero textual, também, se deve ao caráter humorístico provocado por ele, muitas vezes, pela linguagem não verbal e pela caricatura dos personagens, tal qual à sua maneira de observar criticamente as coisas, as pessoas e os objetos.

Por essas razões, considera-se sine qua non o trabalho com textos que estabelecem uma relação entre a palavra, a sonoridade e a imagem, o que auxilia o professor a estimular o desenvolvimento dos processos cognitivos dos alunos que têm dificuldade de leitura e interpretação, que, muitas vezes, está relacionada a algum grau da deficiência intelectual.

Dessa maneira, atentando ao desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de práticas de leituras mais atrativas e eficazes para os alunos, bem como tendo em vista o quanto a ilustração do texto pode contribuir para a aprendizagem deles e para a construção do conhecimento linguístico, o presente artigo visa responder: como as charges podem ajudar o aluno, principalmente os que possuem alguma limitação no que tange a habilidade mental, a desenvolver a sua capacidade intelectual? Tem-se, portanto, como objetivo trazer algumas notas e reflexões sobre o uso do gênero textual charge como um objeto de ensino para estimular a leitura e a habilidade de interpretação de textos dos estudantes que possuem algum tipo de deficiência intelectual.

Motivada por essas observações, dar-se-á uma ênfase às características da charge, bem como se dá a sua construção e por que é importante tê-la como objeto de ensino na sala de aula. Desenvolveu-se, também, algumas análises sobre a maneira de como o sujeito leitor pode ser atraído pelas charges e, consequentemente, é capaz de aprender a atribuir sentido a esse tipo de texto. Para isso, embasou-se, o presente artigo, na análise do discurso de Bakhtin (2003) e Mazière (2007); nas orientações da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) (BRASIL, 2018; 2021) para o trabalho com textos multissemióticos; nas definições do gênero charge trazidas por Brait (1996) e Guimarães (2013); entre outros estudos.

2. SUJEITO LEITOR EM CONTRASTE COM A DIVERSIDADE DE GÊNEROS TEXTUAIS

De modo geral, compreende-se que os gêneros textuais têm uma importante função social na organização dos discursos orais e escritos, notadamente, “cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2003, p. 262, grifo do autor).

O autor supracitado, ainda, afirma que

a riqueza e a diversidade dos discursos são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo (BAKHTIN, 2003, p. 262).

Dessa maneira, os gêneros discursivos e textuais tornam-se inumeráveis e estão sempre sujeitos às mudanças e as adaptações de acordo com a necessidade de comunicação. Todavia, cada um apresenta a sua particularidade voltada para o contexto de uso, em outras palavras, para a situação e o objetivo da comunicação. Nesse contexto, cabe ao leitor, durante o processo de desenvolvimento das suas habilidades comunicativas – que depende, também, de sua aptidão mental, do seu convívio social e escolar – seguir aprendendo e arquivando em sua mente, características diferenciadas dos incontáveis tipos de textos, bem como das situações de usos os quais circulam.

Conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID-10, 1993), compreende-se por deficiência intelectual ou retardo mental, um déficit que compromete as funções cognitivas das pessoas as quais dificultam a capacidade de compreender e aprender as coisas, o que inclui os aspectos linguísticos e enunciativos que arranjam um texto. Este manual, também, descreve o retardo mental como uma

parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual, caracterizados essencialmente por um comprometimento, durante o período de desenvolvimento, das faculdades que determinam o nível global de inteligência, isto é, das funções cognitivas, de linguagem, da motricidade e do comportamento social. O retardo mental pode acompanhar um outro transtorno mental ou físico, ou ocorrer de modo independentemente (CID-10, 1993, p. 44).

Por isso, a pessoa que apresenta algum comprometimento nas funções cognitivas[2] tende a ter dificuldade com a linguagem, pois não memoriza com facilidade os significados dados às palavras e, por este motivo, frequentemente, não consegue expressar o que entendeu de um texto, recontar uma história com princípio, meio e fim; podendo, desta forma, não atingir as competências que abrangem as técnicas da escrita para expressar as suas ideias. Trazendo esta realidade para o contexto escolar, é válido destacar que, mediante a presença de um aluno com essas características, é necessário que o docente esteja atento e faça o uso de recursos de imagens para que o que está sendo dito/lido faça mais sentido para ele.

Muitas pessoas, embora não saibam nomear os diversos tipos de textos, conseguem, mesmo que de modo inconsciente, perceber os locais que são específicos para a circulação de cada um deles, dos objetivos de uso, da temática abordada, outrossim, pois os textos apresentam formas de enunciação que lhes são peculiares. Sob a ótica Bakhtiniana (2003)

O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua construção composicional (BAKHTIN, 2003, p. 261-262).

Essa peculiaridade da língua permeia cada tipo de texto, bem como tende a facilitar e organizar a comunicação humana no meio social. Entretanto, é na escola que os discentes têm a oportunidade de aprender melhor sobre os objetivos e a finalidade desses enunciados que vão surgindo em formatos de textos diversificados e, logo, saber empregá-los em consonância com cada instância comunicativa; além disto, é neste ambiente que eles aprendem a atribuir sentido a cada tipo de texto de forma lógica e concisa. Desta forma, segundo a BNCC, é no componente da Língua Portuguesa que “amplia-se o contato dos estudantes com gêneros textuais relacionados a vários campos de atuação e a várias disciplinas, partindo-se de práticas de linguagem já vivenciadas pelos jovens para a ampliação dessas práticas, em direção a novas experiências” (BRASIL, 2018, p. 136).

Considerando a importância da interação para que a língua faça sentido, é necessário que o docente se aproprie de técnicas educacionais de ensino mais interativas e dinâmicas, utilizando como base gêneros textuais diversificados, a fim de que o que está sendo ensinado permita diálogos, diferentes interpretações e, assim, faça sentido para o alunado. Em consonância, Geraldi (1996, p. 26), afirma que “a língua nunca pode ser ensinada como um produto acabado, pronto, fechado em si mesmo”, nesse sentido, entende-se que é preciso examinar o conhecimento do outro sobre o que está sendo dito.

Diante do contexto da diversidade de textos que contribuem para a organização discursiva na sociedade, questiona-se: como o sujeito leitor não se perde com isso? Como as pessoas conseguem assimilar os sentidos dos diferentes textos, mesmo com pouco conhecimento das estruturas de cada texto? A resposta pode ser dada pela síntese elaborada por Mazière (2007):

O sujeito leitor faz sentido na história, por meio do trabalho da memória, incessante retomada do já dito, o encontro do “impensado de seu pensamento”. O indivíduo não está na fonte do sentido. E o sentido não aparece na conclusão das estatísticas. Mas o sentido é explicitável por um dispositivo que não é transparente nem às intenções e nem às mensagens dos interlocutores (MAZIÈRE, 2007, p. 63).

Com base nesse conceito, o sujeito leitor influenciado pelas suas ideologias e já com a sua bagagem de conhecimento sócio-histórico a qual o texto se vincula, ao acionar a sua memória, e se esta última não falhar e exigir outros estímulos[3], torna-se capaz de compreender a linguagem dos textos e se expressar.

Na perspectiva da comunicação por meio da oralidade, para o linguista Mattoso Câmara Junior (1977, p. 39), a linguagem é a “faculdade que tem o homem de exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais chamado língua, que os organiza numa representação compreensiva em face do mundo exterior objetivo e do mundo subjetivo interior”. Todavia, essa já tem se tornado uma concepção mais limitada da linguagem porque o homem pode expressar a sua compreensão de mundo fazendo o uso da linguagem dos gestos, por meio da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), bem como por meio das figuras, do olhar, do sorriso etc.

Naoki Higashida (2013)[4], conhecido como um autista não verbal e que escreve utilizando de uma prancha alfabética, na obra “O que me faz pular”, expressa como a sua dificuldade com a linguagem se manifesta e revela que nem sempre os seus sons de fala representam o seu pensamento:

Só porque alguns de nós conseguem emitir sons ou pronunciar palavras não significa que aquilo que é dito é o que a pessoa quer dizer. Cometemos erros mesmo em situações básicas de “Sim” ou “Não”. É comum acontecer comigo de a outra pessoa entender ou interpretar errado o que acabo de dizer (HIGASHIDA, 2013).

A capacidade mental do homem para desenvolver as habilidades de ler e interpretar o mundo à sua volta, vai se aperfeiçoando à medida que este entra em contato com a diversidade de textos. Mas, se essa competência for comprometida, pelo que Clavé (2020) denomina de empobrecimento da linguagem[5] ou, muitas vezes, em consequência de alguma doença que pode interferir no funcionamento do cérebro, além da ausência das práticas de leituras adequadas, o aluno terá como consequência: o precário conhecimento de mundo; a carência de acessos às informações e práticas literárias da cultura, da simplificação, da linguagem etc.

Neste cenário, devido a discrepância que há entre a palavra e o seu sentido, dependendo do leitor, é necessário que se faça um casamento do verbo com a figura do objeto (SAUSSURE, 2002). Sendo assim, a charge surge como uma importante ferramenta, sendo um gênero textual que, por razões da sua visível característica, rompe com a linguagem abstrata, ou seja, aquela em que se vê apenas a língua escrita. Por isso, atrai olhares de leitores que, frequentemente, não são capazes de ler signos linguísticos e escrevê-los, porque, segundo um ditado popular, “a imagem fala por si.”

3. A CHARGE

A charge é considerada como um texto atraente para os leitores, porque apresenta, com uma abordagem mais sarcástica, os assuntos do cotidiano do país que são noticiados todos os dias. Ela possui um caráter jornalístico e, em sua natureza, apresenta: a linguagem verbal, que é “o uso da escrita como meio de comunicação”; não-verbal, que são os “desenhos”; e mista, quando há a mistura desses dois tipos de textos. Quanto à abordagem de um tema, a charge, sob as bases do seu caráter crítico e humorístico, utiliza-se de caricaturas, atraindo a atenção dos leitores. Para Guimarães (2013, p. 6), “tem-se na charge um gênero discursivo, um estilo de ilustração cuja finalidade é satirizar, por meio da caricatura, algum acontecimento da atualidade”.

Na charge, a ironia torna-se uma manifestação discursiva sobre variedades de assuntos da atualidade, tais como: política, futebol, saúde, educação, alimentação, tecnologia, linguagem formal e informal, entre outros. É pela caricatura que a crítica é enfatizada e, assim, são representadas apreciações de semelhantes temas socioculturais. Para Brait (1996, p. 34) “no humor caricatural habita o riso e a violência. O riso está na ambiguidade propositalmente contraditória entre o que é dito e o sentido que se quer passar”, desse modo, a charge denuncia assuntos sérios do cotidiano, arrancando risos dos leitores ao invés de lágrimas.

O uso da linguagem mista, ou seja, a linguagem verbal e não-verbal concomitantemente, sempre está presente nas charges. A linguagem verbal não, necessariamente, segue a norma padrão da língua portuguesa, visto que ela não é homogênea no país e, por isso, tende a se aproximar mais, e de maneira divertida, da língua falada dos falantes do português no Brasil. Tais particularidades podem ser observadas na charge (Fig. 1) seguinte, referente à “Greve dos caminhoneiros do Brasil que aconteceu no ano de 2018”:

Figura 1. Charge: Greve dos caminhoneiros

Greve dos caminhoneiros.
Fonte: Mota (2018).

Essa charge critica a postura do ex-presidente da República Federativa do Brasil Michel Temer diante do aumento do combustível. Os caminhoneiros, na época, pressionavam o governo para que reduzisse o Diesel à 1.99 e a Gasolina à 2.99, já que os preços passavam de mais de $4,00 nos postos. Além disso, observa-se, nos textos escritos, propositalmente, na carroceria do caminhão, que os caminhoneiros enfrentavam outras situações difíceis que tornavam a carga “pesada”. Logo, quem vivenciou essa greve, acompanhava as informações nos noticiários e, mesmo que por alguma razão não conseguisse se expressar verbalmente, atribuiria algum sentido à charge.

Por outro lado, verifica-se que, em algumas charges, apenas a linguagem não verbal é empregada, entretanto, a imagem e a sua relação com os acontecimentos do cotidiano não impedem a possibilidade de interpretação. Na figura abaixo, por exemplo, denuncia-se o distanciamento físico do casal, onde a relação amorosa sai do mundo real para o virtual devido ao avanço da tecnologia:

Figura 2. Charge: Educação e Tecnologia

Educação e Tecnologia.
Fonte:  Santos (2014).

Tendo em vista a aparência multissemiótica da charge, o leitor pode ter o discernimento para “inferir e justificar, o efeito de humor, ironia e/ou crítica pelo uso ambíguo de palavras, expressões ou imagens ambíguas, de clichês, de recursos iconográficos, de pontuação, etc.” (BRASIL, 2021, p. 141), quando se faz uma leitura visual dela.

Verifica-se nas charges um trabalho artístico minucioso no campo das artes visuais, capaz de despertar o interesse e a curiosidade do leitor para compreendê-las e, desse modo, desenvolver a criticidade quanto aos fatos sociais. Outrossim, a respeito da arte visual trabalhada na elaboração da caricatura, pode-se refletir sobre as funções cognitivas do seu sujeito/autor que, de acordo com Arnheim (1980, p. 195), a “(…) percepção sensória do mundo exterior, a elaboração da experiência e pensamento de memória (…)” é capaz de dar vida e sentido a um material, que tem como pano de fundo os últimos acontecimentos políticos e sociais que são noticiados pelos meios de comunicação.

Na produção textual da charge, no primeiro momento, o processo de apreensão inicia-se com o sujeito/autor, tanto na elaboração mental do seu processo abstrato de criação, quanto do seu processo de composição. Em consonância, Queluz (2008, p. 52 apud BOOS QUADROS, 2008) diz que “o autor de charges é antes de tudo um leitor, um leitor do jornal ou da revista que o pública”. Desse modo, o autor cria um discurso sobre outro discurso abordado no jornal que, em outras palavras, permite “ler o espetáculo do mundo que o jornal nos oferece” (LANDOWSKI, 1995, p. 81 apud BOOS QUADROS, 2008, p. 52).

Em um segundo momento, há o que se pode chamar de revelação da charge ao sujeito/ leitor, o receptor, em cuja mente se dá a atribuição de significação e reflexão sobre essa representação simbólica da realidade. Assim, a percepção desse sujeito se abre para a representatividade artística da imagem caricatural, bem como para a mensagem textual que possa estar vinculada a ela − que figura contornos do contexto sociocultural vigente −, entrando em uma espécie de choque de sentidos, onde a fruição da arte e a experimentação do burlesco se misturam.

3.1 A CHARGE COMO OBJETO DE ENSINO

Nesta seção, realiza-se uma breve exposição das vivências da autora durante o trabalho com algumas charges, nos anos de 2017 e 2018, em aulas de Língua Portuguesa, com alunos que possuem deficiência intelectual matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A partir dessa experiência, percebeu-se que a charge funciona como um input capaz de acionar a memória do sujeito leitor que, muitas vezes, precisa de uma imagem do objeto para conseguir interpretar um texto e lembrar de algum acontecimento atual. Desse modo, trabalhar com esse tipo de texto pode contribuir de maneira expressiva para o desenvolvimento cognitivo e intelectual dos alunos, pois a presença da linguagem não verbal se destaca durante a prática.

As charges que foram trabalhadas, tinham como temática fatos recentes e acontecimentos que, de certo modo, afetaram a vida dos alunos, (ver em Fig. 3 “Copa do mundo”, Fig. 4 “Greve dos caminhoneiros”, Fig. 5 “Campeonato mineiro”, ou seja, fatos que marcaram e vão construindo a história do país); e, também, instigaram os aspectos cognitivo e comportamental deles, ao demonstraram a capacidade de correlacionar algum aspecto das charges aos acontecimentos divulgados pela mídia.  Abaixo, seguem as charges que fizeram parte de algumas práticas pedagógicas in loco:

Figura 3. A copa do mundo 2018

A copa do mundo 2018.
Fonte: Grupo Editores Blog (2018).

Figura 4. A greve dos caminhoneiros/2018

A greve dos caminhoneiros2018.
Fonte: Albuquerque (2018).

 Figura 5. O campeonato mineiro/2017

O campeonato mineiro2017.
Fonte: Dum (2017).

O emprego dessa tipologia textual, que advém do domínio jornalístico, na referida turma, ativou o conhecimento prévio dos alunos, levando-os a praticar as suas habilidades básicas de leitura − fazer inferência e relacionar texto ao contexto. Com isso, eles desenvolveram um pouco do criticismo, bem como um olhar atento e extensivo às relações que se dão no mundo, a nível social, econômico e cultural. A BNCC da área de Linguagens e suas Tecnologias destaca a relevância do “campo jornalístico-midiático” para a formação dos estudantes porque ele

caracteriza-se pela circulação dos discursos/textos da mídia informativa (impressa, televisiva, radiofônica e digital) e pelo discurso publicitário. Sua exploração permite construir uma consciência crítica e seletiva em relação à produção e circulação de informações, posicionamentos e induções ao consumo (BRASIL, 2021, p. 479-490).

Observou-se, assim, que a interação dos alunos, em sala de aula, tanto com a linguagem usada nas charges quanto com as imagens por elas veiculadas, mostrou-se construída sob as bases da conscientização de que não se tratava unicamente de desenhos seguidos de sentenças, ou vice-versa, mas sim de mensagens direcionadas a sujeitos e situações específicas.

3.2 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E A CHARGE

Vimos acima que a cognição/memória tem uma dimensão social de fundamental importância para que o ser pensante seja capaz de atribuir sentido aos signos linguísticos em um determinado contexto. Isso se deve ao fato de que uma mesma representação gráfico-visual pode ter sentidos diferentes dependendo do contexto de uso, por exemplo, os homônimos perfeitos: arma (instrumento de luta ou defesa) e arma (verbo armar), manga (parte da camisa) e manga (fruto da mangueira).  Portanto, para que o significado seja dado de forma adequada, o sistema cognitivo precisa ser acionado na interação entre o texto e o receptor da mensagem.

Em linhas gerais, todos nascem com predisposição para desenvolver a linguagem e ter a capacidade para interpretar diferentes tipos de textos que circulam no seu meio. Entretanto,

Adquirir uma língua em primeiro lugar requer uma vasta gama de habilidades cognitivas básicas de primatas tais como percepção, categorização, memória, compreensão relacional, resolução de problemas e assim por diante. (…) requer a forma unicamente humana de cognição social – compreender as outras pessoas como agentes intencionais como si próprio- sem a qual não haveria nenhuma forma de atividade simbólica ou cultural como a do ser humano. (…). (SOUZA, 2012, p. 211).

Quando se trata de metáfora, sabe-se que sua interpretação exige um pouco mais da capacidade de interpretação e atribuição de significado do indivíduo, sendo necessário que o sujeito esteja inserido em uma comunidade onde o sentido da metáfora originou-se com o uso cotidiano da linguagem, a fim de que possa entendê-la. Conforme Ferrari (2014, p. 91), “a metáfora está relacionada à noção de perspectiva, na medida em que diferentes modos de conceber fenômenos particulares estão associados a diferentes metáforas”.

No caso da charge que, também, é um tipo de metáfora visual, a imagem apresentada é elaborada para a caracterização das mensagens a serem divulgadas. Em detrimento disso, o sujeito pensante fará o seu percurso para interpretar uma charge com base nas informações sobre o assunto contidas em sua mente. Além disso, com seu caráter irônico, esta traz algo que está subentendido, o que exige do leitor um esforço para compreender o seu sentido, que está acompanhado de uma imagem.

O gênero veicula, assim, uma imagem carregada de sentidos, que, de acordo com Massaud Moisés (2004, p. 235), “corresponderia, como uma fotografia, àquela que se formou na mente do escritor em contato com a realidade física.” Desta forma, no momento do seu encontro/confronto com essa imagem, o sujeito/ espectador, vê-se diante da realidade, que, de certa maneira, pode ser pensada como sendo os fatos do cotidiano político e social, aqueles que estão em destaque na mídia, sob vários aspectos.

Nesse sentido, as peculiaridades da imagem chargista podem levar os sujeitos a experienciarem sensorialmente, tanto o seu mundo interior, quanto o que o circunda. Isso se daria, dentre outras, de duas formas: a primeira seria uma espécie de processo crítico, no qual ele faria deduções advindas do seu entendimento; a segunda, uma rememoração (seja por ter vivenciado ou por ter presenciado) de aspectos já contemplados em algum momento. Sobre o poder de rememoração das imagens, Jorge Iskandar, comenta:

Nossa percepção da realidade através do desenho é um ato individual sustentado em fragmentos, vivenciados pela história de cada indivíduo. Isto é: as imagens só podem ser recebidas através das experiências vividas anteriormente por cada um, e que se encontram gravadas intransferivelmente na alma de cada pessoa. É a imaginação entrando em cena (ARBACH, 2007, p. 52).

Não obstante, não se pode pensar o gênero somente no seu aspecto imagético, visto que

A charge constitui um gênero textual interessante, que combina a linguagem verbal e a não verbal […]nela estão inscritas diversas informações construídas a partir de um interessante processo intertextual que obriga o interlocutor a fazer inferências e a construir analogias, elementos sem os quais a compreensão textual ficaria comprometida. (PEREZ, s.d.).

Concernente a isso, depreende-se que o mundo circundante ou o entorno sociocultural do sujeito, seria colocado à prova pela ativação do seu senso crítico, motivada pelo contato com a charge. Esse contato exerce uma influência sobre esse sujeito, o qual desenvolve a sua capacidade de leitura dos acontecimentos, dos outros sujeitos e de si mesmo. Entende-se, portanto, que ele sai do estado que se poderia chamar de ócio mental para se dar, com empenho, ao exercício da reflexão. Nesse sentido, pode-se dizer que a charge, como uma forte expressão que é, comunica ao sujeito uma nova perspectiva da vida, possibilitando-o um novo despertar para a realidade, seja ela sociopolítica ou cultural.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante ao exposto, infere-se que as reflexões abordadas nesse trabalho auxiliam a perceber as particularidades que envolvem a capacidade cognitiva do leitor.

A ênfase dada para a deficiência intelectual é consequência das observâncias de práticas educacionais in loco com a charge durante o trabalho com a Língua Portuguesa, realizado com estudantes da modalidade EJA, cuja aprendizagem da língua foi comprometida devido a alguma deficiência intelectual. Quiçá, observa-se que essa problemática somada a abstração da linguagem faz com que esses estudantes tenham dificuldade expressiva para acompanhar a linearidade do ensino regular durante o seu curso de formação escolar.

No entanto, isso não faz desse aluno um sujeito analfabeto funcional que, muitas vezes, é estigmatizado como um burro, pois, este compreende a mensagem e quando não tem palavras para escrever e dizer sobre um determinado assunto, pode expressar a sua compreensão com um sorriso, apontando para a imagem, para algum objeto, desenhando etc.

Nesse contexto, o presente artigo teve como objetivo trazer algumas notas e reflexões sobre o uso do gênero textual charge como um objeto de ensino para estimular a leitura e a habilidade de interpretação de textos dos estudantes que possuem algum tipo de deficiência intelectual, visando responder: como as charges podem ajudar o aluno, principalmente os que possuem alguma limitação no que tange a habilidade mental, a desenvolver a sua capacidade intelectual?

Em resposta à problemática levantada, constata-se que pelo fato de a charge ter a linguagem não-verbal, verbal e ser sempre constituída por uma linguagem mista, a possibilidade de que o texto seja compreendido pelos leitores que apresentam dificuldades é maior quando comparada a possibilidade de compreender textos apresentados somente na linguagem verbal e que são mais complexos.

É importante, também, resgatar com esses estudantes os fatos que impulsionaram o surgimento da charge, ativando a sua memória, para que sejam capazes de fazer as inferências necessárias durante o estudo dela.

A charge é um texto atraente aos olhares do leitor visto que é formada com base em fatos políticos e sociais, divulgados por diversificados meios de comunicação, que vão acontecendo dia após dia e, consequentemente, marcando e influenciando a história. Os alunos se interessam pela charge justamente porque nela é revelado as ocorrências com humor, crítica e de forma caricatural.

Por fim, levando em consideração a necessidade de trabalhar com textos relevantes que trazem temas temporais com o propósito de perceber o conhecimento dos alunos sobre os acontecimentos no âmbito político, econômico e social e desenvolver a sua capacidade de leitura e interpretação, de senso crítico, o trabalho com a charge torna-se significativo. Podendo o professor trabalhar com várias características da linguagem e, de algum modo, desenvolver um estudo da língua de maneira menos abstrata, tornando perceptível aos alunos as diferentes formas de texto que existem, bem como os seus significados.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Nonato. CHARGES. Greve de caminhoneiros gera charges na mídia. Blog Gente de Mídia, 2018. Disponível em: https://gentedemidia.blogspot.com/2018/05/charges-um-salve-para-o-sinfronio-pela.html. Acesso em: 13 jul. 2022.

ARBACH, Jorge Mtanios Iskandar. O fato gráfico: o humor gráfico como gênero jornalístico. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação. Jornalismo e Linguagem) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 252, 2007.

ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. Tradução Ivone Terezinha de Faria. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1980.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. Brasília, 2018.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. Brasília, 2021.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. (1ª edição de 1929). Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2004. In: BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, [1953] 2003.

BRAIT, Beth. Ironia em perspectiva polifônica. Campinas: Editora UNICAMP, 1996.

BOOS QUADROS, Cynthia Morgana. As relações interdiscursivas entre a arte, a política e o jornalismo: as charges de Cao Hering. Dissertação (Mestrado em Ciências da Linguagem) – Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. Palhoça, SC, 2008.

CID-10. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID – 10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artmed, 1993.

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APÊNDICE – REFERÊNCIA NOTA DE RODAPÉ

2. “As funções cognitivas têm um papel fundamental no processo cognitivo e trabalham em conjunto para que possamos adquirir novos conhecimentos e criar interpretações. Algumas das principais funções cognitivas são: percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem e aprendizagem.” MEDICINA. Cognição: o que é cognição.  Significados. Disponível em: https://www.significados.com.br/cognicao/. Acesso em 30/07/2022.

3. Devido a abstração dos signos linguísticos de que fala Saussure (2002), as pessoas com deficiência intelectual, muitas vezes, precisam de outros estímulos que vão muito além do texto, cuja linguagem é verbal, para conseguir entender a mensagem e dialogar com ela. Esses estímulos podem ser: objetos, desenhos, a situação de comunicação, o teatro etc.

4. Naoki Higashida (Kimitsu, 1992) é um escritor japonês conhecido por, em decorrência de seu autismo não verbal, escrever utilizando uma prancha alfabética. Foi diagnosticado com autismo severo aos 5 anos de idade, em 1998. Nesta mesma época, passou a frequentar uma escola voltada pra crianças com deficiência.

5. “Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece” (CLAVÉ, 2020).

[1] Pós-graduação, graduação. ORCID: 0000-0003-0039-5113.

Enviado: Agosto, 2022.

Aprovado: Setembro, 2022.

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Lucimar de Cássia Fonseca Silva

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