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Pode ser perigoso? Mudando de uma área de estudo para outra – Conhecendo a escrita acadêmica e quais são os seus níveis de exigência

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Compreendendo o cenário da escrita acadêmica: técnicas de pesquisa que podem ajudar o seu estudo a tomar forma com qualidade

Olá, tudo bem? Hoje a nossa discussão tem como objetivo discutir um pouco sobre as peculiaridades dos mais diversos campos do saber e de suas linhas de pesquisa. Assim sendo, iremos nos concentrar nessas diferenças por área a fim de que compreendamos o seu modus operandi. Iremos compreender como essas diferenças aparecem na escrita do material. Dúvidas sobre a escrita acadêmica são muito comuns, então iremos partir desse gancho para tecermos nossas considerações e dicas. A outra questão diz respeito à formação acadêmica. O pesquisador de nosso exemplo tem formação na área de Engenharia e quer fazer mestrado na área da Educação. Com esse post, queremos conscientizar o leitor de que quando mudamos de uma área para outra podemos enfrentar certos tipos de dificuldades ao longo de nosso processo de escrita. A fim de que comecemos essa discussão, iremos falar um pouco sobre nossa revista.

Os elementos que diferenciam a Revista Núcleo do ConhecimentoOs elementos que diferenciam a Revista Núcleo do Conhecimento

A nossa revista opera como um mega journal. Um mega journal nada mais é do que uma espécie de “mega revista”. Adquire esse caráter porque publica materiais de todas as áreas do conhecimento e de suas diversas linhas de pesquisa. Se você acessar a nossa página inicial, perceberá que haverá uma série de áreas com as quais trabalhamos. A nossa contribuição para você é que de forma rápida e fácil conseguirá encontrar uma série de materiais de todas as áreas que podem ajudar você a desenvolver o seu próprio material, desde um artigo até uma dissertação ou tese. Se você manusear esses artigos, perceberá que há uma diferença de escrita entre as áreas, visto que cada uma possui a sua própria lógica. Além de nossa revista ser caracterizada como multidisciplinar, ela adquire, ainda, um caráter interdisciplinar. Assim sendo, acreditamos que é fundamental entendermos essa atuação.

A atuação interdisciplinar

Este tipo de atuação permite, como é o caso de nosso exemplo, que um pesquisador formado na área de Engenharia possa transitar para a área da Educação e contribuir para com esses dois campos do saber e muitos outros que estão correlacionados. Migrar para esse outro campo não irá anular a sua formação anterior, muito pelo contrário, irá somar-se a ela. As áreas são agregadas, e, dessa forma, contribuem entre si de forma mútua e significativa. A produção do seu material científico, portanto, irá adquirir esse viés interdisciplinar, incluindo saberes de campos diversos para pensar em um fenômeno da Engenharia, por exemplo. Partiremos de um exemplo prático de nossa revista para pensarmos nessas questões sobre a atuação interdisciplinar. Iremos começar por um material da área da Literatura. Muitos ficam surpresos como a forma a partir da qual uma análise é realizada neste campo do saber.

Peculiaridades da área da literatura e da composição de um artigo

Peculiaridades da área da literatura e da composição de um artigo

A primeira coisa que podemos observar quando abrimos um artigo é que identifica-se a titulação dos autores. Algo que devemos pontuar é que essa titulação irá influenciar diretamente no nível de conhecimento e profundidade do pesquisador em relação a um assunto/linha de pesquisa. A condução linguística, de tratamento dos dados, de profundidade de análise são aspectos relacionados com a titulação e que devem ser mencionados. Os artigos desenvolvidos por doutores na área da literatura irão colocar em cheque concepções que sequer podem ter sido pensadas por graduandos e graduados da área ou mesmo por mestres, pois é preciso muitos anos de estudo e dedicação à temática/linha de pesquisa. Além disso, artigos desenvolvidos apenas por alunos ou por alunos em coautoria com os seus professores possuem um outro tipo de linguagem, podendo ser mais ou menos denso.

A relação entre o nível de exigência e a titulação dos autores

É muito comum que as revistas mencionem a titulação dos autores envolvidos com a produção porque têm como intuito saberem qual o nível de exigência será cobrado ao longo da avaliação desse material que os professores-avaliadores têm em mãos. Não é possível cobrar o mesmo nível de exigência de um material desenvolvido apenas por alunos e de um escrito por doutores que atuam há muito tempo nesse campo. Comecemos com o exemplo do campo da literatura. O tema é o seguinte: “O ciclo da borracha na literatura amazonense – uma análise da obra “Um punhado de vidas – Romance de um soldado de borracha”, de Aristófanes Castro”. Conhecendo a temática, é necessário compreendermos o nível que está sendo exigido desses autores. Temos, aqui, um graduando em Licenciatura em Letras e o seu orientador, que é Mestre em Letras e Artes e Especialista em Didática do Ensino Superior.

Compreendendo a exigência do primeiro exemploCompreendendo a exigência do primeiro exemplo

Temos aqui um aluno graduando que publicou junto ao seu orientador, Mestre em Letras. A escrita desse artigo começa de uma forma diferenciada em relação às produções da área da saúde, das exatas e mesmo de outras áreas que integram as ciências humanas. Um resumo estruturado segue algumas regras, porém, no âmbito da literatura, ganha certas peculiaridades. Geralmente, apresenta-se o contexto da obra, o problema de pesquisa, os objetivos, a metodologia e os resultados. Tem-se, aqui, um processo sistematizado. Porém, no âmbito da literatura, essa sistematização adquire uma outra roupagem. Temos uma escrita mais tranquila e fluida. Há bastante exemplos práticos. O pesquisador participa muito mais desse processo, pois estamos falando de literatura, da vida real representada pela arte. Aqui temos também um outro tipo de construção do pensamento, que é mais filosófico, sensitivo.

A linguagem na construção literária

O primeiro ponto que gostaríamos de frisar é a escolha de uma linguagem diferenciada. O autor se coloca no texto (como, por exemplo, em “traçamos algumas considerações”). São áreas específicas que permitem essas marcações, pois, se colocar em outra área, como é o caso da saúde, essa construção textual será refutada. Isso se dá em virtude do fato de que fala-se muito sobre o distanciamento na pesquisa e muitas áreas levam essa necessidade à risca. Temos aqui dois tipos de ciência e as duas são válidas. A construção reflexiva do domínio das artes em geral ganha um teor mais sensível, porém, não deixa de ser científico. Aqui, no domínio da literatura, o autor introduz essa obra e apresenta trechos para comprovar as discussões mais teóricas que traz à luz. O texto em saúde é escrito de forma mais “dura”. São práticas de ciência que se dão de formas diferentes. Podemos introduzir um exemplo dessa área.

A construção analítica na área da saúde

Como temos salientado, os textos da área da saúde partem de fatos, de resultados concretos. O exemplo da área da saúde que pegamos é intitulado de: “Parada cardiorrespiratória e reanimação cardiopulmonar: estratégias utilizadas para educação permanente na Enfermagem”. Temos aqui um artigo desenvolvido por um graduando junto ao seu professor, que é Doutor em Enfermagem e Obstetrícia e que possui Especialização em Pediatria e Gerenciamento de Serviços de Saúde. Seu Doutorado é na área de Ciências da Saúde. As características desse artigo nos levam a crer que os autores envolvidos fazem parte de um mesmo grupo/núcleo de pesquisa. Os resumos costumam ser realizados de forma sistematizada, especialmente nas “ciências duras”. Aqui, temos um resumo que segue à risca aquele modelo que apresentamos (contexto, objetivo, método, resultados e contribuições).

A organização dos materiais na área da saúdeA organização dos materiais na área da saúde

Aqui temos a apresentação de fatos científicos relacionados ao problema de pesquisa em questão. Além da apresentação de um pequeno contexto, menciona-se os motivos que justificam a elaboração de uma pesquisa desse tipo e como ela pode contribuir para com o aperfeiçoamento das práticas médicas. A forma a partir da qual a coleta desses materiais foi feita também é apresentada com detalhes no momento da metodologia. Ao final, são elencados alguns dos resultados suscitados por este estudo. Em relação à composição do texto, notamos que, a cada afirmação, menciona-se uma fonte. Não há qualquer informação apresentada nesse texto que não parta de uma fonte, sendo que esta deve ser corretamente referenciada. No primeiro texto, as fontes não deixam de existir, mas há um espaço maior dedicado às reflexões filosóficas da obra em questão, sendo que esta possui um viés mais subjetivo.

As preocupações nas áreas diversas

No primeiro exemplo, temos um autor que preocupa-se com a apresentação da obra e de uma análise a partir de um viés cultural, social, político sobre o conteúdo desta e, assim, a quantidade de citações é menor. Além disso, devemos destacar que, no segundo exemplo, temos, inclusive, um autor que é pós-doutor, de modo que possui uma preocupação grande com a apresentação de fontes para cada afirmação que faz, sendo uma prática que se torna mais comum à medida em que adquirimos maior expertise acadêmica. A questão da metodologia também é um aspecto que deve ser pontuado. No exemplo da literatura, esses aspectos não adquirem um viés tão forte. Desde o título fica claro que se trata de uma análise, não dispendendo uma atenção muito grande para esses aspectos metodológicos, o que não acontece em um material da saúde.

Exemplo prático da área das ciências exatas

Também iremos apresentar um exemplo de construção textual que perpassa pela área das ciências exatas. O artigo é intitulado de: “Aplicação do método de Bound Contraction para problemas de programação não linear inteira mista contendo bilinearidade”. Temos aqui o exemplo de dois doutores, o que aumenta o nível de exigência desse material no momento da avaliação. Como sabemos, as ciências exatas são mais “duras”, mais rígidas. Nesse artigo, desde a introdução os autores partem de um viés mais teórico para desenvolverem as suas contribuições. Entretanto, mesmo que parta de uma ciência mais rígida, o resumo não é tão sistematizado como na área da saúde. Como aqui temos um material desenvolvido por três autores, eles vão direto ao ponto. Os autores escrevem de uma forma muito fluida, porque fica muito claro o que pretendem com esse estudo em específico.

A importância da linguagem na comunicação científica

Algo importante de ser pontuado sobre esse exemplo de artigo é que os autores têm o cuidado de escreverem para um público específico. Os outros dois exemplos de artigo podem ser lidos por pessoas que não são da área. Os artigos desses doutores são direcionados para pessoas de um nicho muito específico, visto que há inúmeros termos técnicos, bem como demanda-se um conhecimento prévio sobre o assunto a fim de que a discussão possa ser compreendida. As pessoas que têm interesse nesse tipo de material estão associadas a esse nicho específico de pesquisa. Como aqui os autores explicam sobre o algoritmo com o qual querem trabalhar desde o início da discussão, o restante do artigo concentra-se em outros aspectos, visto que parte-se do pressuposto de que o leitor já sabe do que se trata o método. Temos aqui um artigo aplicado, pois há uma série de cálculos apresentados ao longo do texto.

A união da teoria com o objetoA união da teoria com o objeto 

Aqui no contexto da Engenharia, percebemos uma prática de pesquisa muito comum. Os cálculos não aparecem de forma isolada no texto. Os autores recuperam a literatura relacionada a esse algoritmo a fim de que possam promover uma discussão que relacione o objeto da pesquisa, aqui, no caso, os cálculos, com a teoria que está sendo defendida. Por fim, podemos concluir essa discussão com um exemplo de um material da área da comunicação. São pessoas da área da Publicidade e da Propaganda, do Jornalismo, dentre outras, visto que as mais diversas áreas podem se beneficiar das teorias da semiótica e da análise do discurso. A linguagem se dá de uma forma diferente. O interesse aqui é discutir sobre os signos da moda nas capas da Revista Vogue America no período de 1950 a 2000.

Temos aqui uma autora que é doutoranda no programa de Comunicação e Semiótica que está escrevendo junto a sua orientadora, que também é dessa área. As autoras estão analisando as produções dos últimos cinquenta anos dessa revista em específico, com ênfase nas capas. Nessa perspectiva, a análise se dá de forma bastante teórica, porém, articulada com o objeto de pesquisa. Como a Semiótica é uma área ampla, há uma ampla gama de autores e teorias que podem embasar o seu estudo, e, dessa forma, você precisará escolher por essa vertente e seguir ao longo de todo o desenvolvimento do seu estudo. A linguagem aqui também é menos dura como no caso da literatura, visto que os autores se colocam no texto. A teoria é fácil de ser visualizada, assim como a forma a partir da qual a análise será desenvolvida.

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