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Evasão escolar no ensino de jovens e adultos: reflexões e intervenções

RC: 128169
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

LIMA, Gercileide da Costa [1], CÓRDULA, Telma Maria [2], COSTA, Sueli Xavier de Melo Silva [3], LIMA, Larissa Sofia Freire de Sá [4], MELO, Thais Susane Ananias Silva de [5], ANDRADE, Josecleide Pereira de [6], PAIVA, Francisco Aldy Ferreira de [7]

LIMA, Gercileide da Costa. Et al. Evasão escolar no ensino de jovens e adultos: reflexões e intervenções. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 09, Vol. 06, pp. 145-160. Setembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/reflexoes-e-intervencoes

RESUMO

A modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) é alvo de diversos estudos no país, discussões em eventos educacionais e objeto de estudos de diversas obras literárias, além de fazer parte das reivindicações sociais por uma educação de qualidade que, historicamente, é defendida por grandes pensadores e sociólogos brasileiros, ao longo de mais de meio século de existência. A problemática do estudo volta-se à inquietação referente à seguinte questão-problema: De que forma a Educação de Jovens e Adultos hoje se configura no cenário educacional brasileiro diante do insucesso de históricas e contínuas políticas públicas em prol da alfabetização? O presente artigo pressupõe a análise teórica em torno da modalidade da EJA e possíveis intervenções pedagógicas, almejando-se, enquanto objetivo geral, evidenciar situações que podem ser deflagradas em instituições de ensino e na prática escolar, em decorrência de certos aspectos contraproducentes da formação, no que se refere à evasão escolar na modalidade. Para isso, adotamos a metodologia de abordagem qualitativa, de natureza básica, de objetivos exploratórios e de procedimento de pesquisa bibliográfica e documental, que tende a analisar materiais científicos já existentes e atualizar o acervo literário com novas produções a partir destas pesquisadas e dos documentos oficiais da educação nacional. Diante dos resultados, é possível afirmar que há um elevado índice de evasão escolar na EJA, devido a vários motivos, sendo dever do Estado resgatar os jovens e adultos não alfabetizados para a sala de aula, de forma a oferecerem condições viáveis de práticas de ensino voltadas a essa faixa etária e com metodologias atrativas que estimule a continuidade dos estudos, possibilitando os alunos ao exercício pleno da cidadania, após o processo de escolarização.

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos, Evasão escolar, Cidadania.

1. INTRODUÇÃO

A proposta da modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) é resgatar aqueles indivíduos cuja formação escolar não pôde ser completada em tempo adequado (CAMPOS; OLIVEIRA, 2003), o que ocasionou uma série de prejuízos sociais, na maioria das vezes irreparáveis a esses indivíduos que não puderam usufruir dos processos escolares formativos que os subsidiassem à ascendência social. Portanto, conforme os documentos oficiais da educação nacional, é dever do Estado promover estratégias de resgate e, ao mesmo tempo, conscientização acerca da importância de se retomar os estudos.

Na busca de esclarecimentos acerca de necessidades da modalidade da EJA, a problemática do estudo volta-se à inquietação referente à seguinte questão-problema: De que forma a Educação de Jovens e Adultos hoje se configura no cenário educacional brasileiro diante do insucesso de históricas e contínuas políticas públicas em prol da alfabetização?

O objetivo geral deste estudo é analisar o contexto atual da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e plausíveis intervenções, procurando minimizar as situações que poderão ser encontradas nas instituições e na prática escolar, em decorrência de alguns pontos contraproducentes no que se refere à evasão escolar na referida modalidade, com o intuito de compreender a motivação que leva os alunos a se evadirem do âmbito escolar desistindo de sua formação escolar básica.

A metodologia utilizada foi a Pesquisa Bibliográfica e Documental que são muito parecidas, mas se diferenciam em alguns aspectos. É uma pesquisa bibliográfica por analisar escritas de outros autores relacionados ao tema proposto, já publicados em livros ou em meios digitais, com o intuito de se chegar a uma concepção a partir de outras. Já a pesquisa documental não analisa as concepções de autores, mas de documentos oficiais e até outras fontes oficiais.

Os capítulos de desenvolvimento deste estudo abordam a temática proposta de forma dividida para o melhor entendimento e formação da concepção dos leitores acerca dos objetivos aqui propostos. O capítulo 2 apresenta a evasão escolar de alunos da educação de jovens e adultos como uma temática já conhecida e comum nas instituições de ensino, inclusive, aponta as motivações primárias e secundárias, e até outras, que conduzem o alunado desta modalidade a evadirem da sala de aula. O capítulo 3 aborda as práticas pedagógicas na educação de jovens e adultos, fazendo um paralelo entre o que é fato e cotidiano e o que deveria ser objetivado para esta modalidade, haja vista, se tratar de alunos adultos e outros já letrados, mas que não obtiveram sucesso escolar na idade certa. Já o capítulo 4 descreve a educação de jovens e adultos para a melhor compreensão dos leitores, a partir da perspectiva dos autores, considerando as experiências de sala de aula nesta modalidade.

2. EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CAUSAS CONHECIDAS, SOLUÇÕES POSTERGADAS

Historicamente, a proposta da Educação de Jovens e Adultos (EJA) buscou resgatar aqueles indivíduos cuja formação escolar não pôde ser completada em tempo adequado, logo, esses indivíduos não puderam usufruir dos processos escolares formativos que os subsidiassem à ascendência social devendo o Estado promover estratégias de resgate e, ao mesmo tempo, conscientização acerca da importância de se retomar os estudos.

Amparada legalmente, a EJA tornou-se símbolo de luta de diversos representantes educacionais e sociais, bem como o honorável Paulo Freire que dedicou grande parte de sua vida aos esforços pela “libertação social” através da alfabetização do público adulto do país que, em sua época de atividade atingia elevados níveis em escala nacional, especialmente nas regiões Norte e Nordeste que se perduram até os dias atuais.

De acordo com Silva et al. (2019):

A Educação de Jovens e adultos – EJA – é a modalidade de ensino contemplada na LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira nº 9.394/96 – que tipifica e regulamenta esta modalidade, cujo público que atende é composto de jovens e adultos em idade-série escolar distorcidas, em detrimento de vários fatores sociais que interferem no ingresso do processo de escolarização na idade certa (SILVA et al., 2019, p. 2).

No entanto, os desafios em torno do retorno escolar de jovens, adultos e idosos que por motivos diversos e oriundos das mazelas sociais evadiram ou abandonaram a escola vêm à tona diante de novas tentativas de retomada do processo de aprendizagem, partindo-se da matrícula destes, pois persuadi-los – bem como persuadir-se –, a retornarem à escola já representa um grande obstáculo, principalmente diante do sentimento de frustração do tempo decorrido e de certo constrangimento, por parte de muitos, em ingressar à escola em faixas etárias mais elevadas. Superada esta fase de provação inicial, surge o desafio da permanência no decorrer do ano letivo e da necessidade de se conciliar as atuais responsabilidades, como, por exemplo, trabalho, família etc. com a rotina escolar e de estudos extraclasse e, diante desta constatação, o processo de ensino do público-alvo da EJA necessita ser diferenciado.

Ao refletirmos os princípios fundadores das políticas públicas educacionais promovidas em prol do resgate social por meio da alfabetização dos indivíduos nas décadas de 1940/50, deparamo-nos com indícios da oferta de movimentos educacionais prol alfabetização social conhecidos outrora como “supletivos” que representavam políticas de alfabetização em massa com o propósito exordial de erradicar o analfabetismo do país que atingia, por exemplo, 95% da população brasileira que girava em torno de 40 milhões de indivíduos (IBGE, 2022). No entanto, as políticas e campanhas de alfabetização em massa possuíam algo em comum, a sua “efemeridade”, isto é, não se pretendia adotar políticas de resgate educacional continuamente, pois, alfabetizando-se aqueles indivíduos analfabetos tais políticas haveriam de ter cumprido a sua missão e não seriam mais necessárias. Porém, décadas passadas, constata-se certo insucesso em conseguir atingir/cumprir tais princípios e seus objetivos. A população analfabeta do país perpassou gerações e, infelizmente, ainda representa um mártir que continuamente se apresenta presente e resistente às ações e iniciativas de sua erradicação em pleno século XXI.

Mas, de fato, o que falta para o sistema educacional nacional conseguir para se combater o analfabetismo e suas expressões, como, por exemplo, o analfabetismo funcional? A resolução dessa inquietude tem sido pauta de inúmeros estudos e eventos em escala nacional. Diversos autores, mestres e doutores em educação apontam a necessidade de se promover uma base de ensino sólida ainda nos primeiros anos de escolarização, além de voltarem as atenções aos obstáculos enfrentados tanto por alunos quanto por profissionais da educação em desenvolverem metodologias e estratégias de ensino capazes de se tornarem efetivas e significativas na vida de todos que constituem o processo de resgate social através da educação. “Na EJA, a metodologia sugere adequar-se de acordo com a realidade dos estudantes, de modo a inserir estes sujeitos no contexto social; um “método que seja ativo, dialógico, crítico e criticista”” (FREIRE, 1979 apud SILVA, 2019, p. 3).

Alguns necessitam da escola por causa do trabalho que desempenham: na feira, no mercado, no comércio em geral e a escola é o caminho para melhorar as condições de aceitação social e de manipulação naquilo que necessitam – fazer um cálculo, ler uma bula, dentre outras necessidades. Santos (2003) afirma que para assumir e manter a identidade de estudantes, esses sujeitos, tendo no trabalho e na família a centralidade de suas vidas, acabam precisando arcar com custos objetivos e subjetivos diversos, e, em muitos casos, bastante altos; o que pode se tornar um empecilho na permanência dos estudos (SILVA et al., 2019, p. 10).

Os motivos que levam diversos alunos da EJA a desistirem dos estudos estão diretamente relacionados a sua subsistência e de seus entes familiares. Muitos deles trabalham em jornada diurna e se esforçam para poder conciliar os estudos, e no decorrer dos períodos letivos, o fardo físico e cognitivo chega ao seu limite e se manifesta por meio de atos de abandono, desistência, evasão e, até mesmo reprovação e não mais retorno à escola.

Além do mais, Campos e Oliveira (2003) destaca que:

Os motivos para o abandono escolar podem ser ilustrados quando os jovens e adultos deixam a escola para trabalhar; quando as condições de acesso e segurança são precárias; os horários são incompatíveis com as responsabilidades que se viram obrigados a assumir; evadem por motivo de vaga, de falta de professor, da falta de material didático; e abandonam a escola por considerarem que a formação que recebem não se dá de forma significativa para eles (CAMPOS; OLIVEIRA, 2003, p. 12).

No entanto, conhecer as causas e origens da evasão em massa da modalidade da EJA representa apenas uma parte da missão dos educadores em resgatar os indivíduos do analfabetismo. Diversos estudos, pesquisas, obras etc. estão repletas de exemplos que acabam por justificar atitudes de desistência dos estudos, porém ações enérgicas referentes a políticas públicas em promoção a essa modalidade acabam por ser pífias, pois é notório expressões de desamparo governamental, como, por exemplo, material didático defasado – desatualizado – (quando disponível), deficiência e/ou inexistência de formação continuada aos profissionais atuantes na modalidade que, em sua maioria, exercem docência com formação inicial em pedagogia quando a formação adequada seria em andragogia[8].

Sendo assim, para que se possa realmente erradicar o analfabetismo no país, torna-se de suma importância que o governo assuma a responsabilidade de se fazer cumprir um plano de metas objetivas que sejam postas em práticas desde a Educação Infantil e EJA que, em longo prazo, possa ser ininterruptamente acompanhado com o intuito de se observar seus êxitos e solver as suas falhas de maneira eficiente, ágil e absoluta, caso contrário, o analfabetismo irá perdura-se secularmente na nação, em todas as suas regiões.

3. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Conforme mencionado anteriormente, as práticas de ensino na modalidade da EJA precisam ser concebidas de forma diferenciada, tendo em vista que o docente que exerce o magistério em turmas regulares do Ensino Fundamental precisará possuir um novo olhar mais refinado acerca das possibilidades de se promover aulas para adultos, logo, a proposta do subtítulo desta seção tenderia a ser mais adequada se voltado em torno de “Práticas andragógicas na Educação de Jovens e Adultos…”, porém isso se distanciaria de uma realidade e se expressaria de uma utopia.

E se tratando de efetividade na prática do ensino de adultos, ninguém melhor de ser exemplificado do que a pessoa de Paulo Freire que, ao longo de décadas, buscou demonstrar, exitosamente, a possibilidade de alfabetização de adultos de maneira significativa para a vida dos aprendizes, demonstrando, ainda, que as educações formal e informal devem acontecer, independentemente de quaisquer contextos políticos, religiosos, culturais etc.

Para Freire (1989):

Alfabetização é mais que o simples domínio mecânico de técnicas para escrever e ler. Com efeito, ela é o domínio dessas técnicas em termos conscientes. É entender o que se lê e escreve o que se entende. […] Implica uma autoformação da qual se pode resultar uma postura atuante do homem sobre seu contexto. Para isso, a alfabetização não pode se fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou uma exposição, mas de dentro para fora pelo próprio analfabeto, apenas ajustado pelo educador. Isto faz com que o papel do educador seja fundamentalmente diálogos com o analfabeto sobre situações concretas, oferecendo-lhes os meios com que os quais possa se alfabetizar (FREIRE, 1989, p. 72)

Em suma, Freire (1989) revela que o aprendizado efetivo e significativo do aluno analfabeto – público originário da EJA e hoje parcialmente concomitante a outros sujeitos alfabetizados – exprime uma responsabilidade que vai além da teoria, pois os profissionais da educação que assumiram o compromisso com a modalidade precisam estar cientes de que ao entrar em uma sala de aula da EJA deve-se buscar conhecer os alunos e não simplesmente apresentar assuntos aleatórios e expressos em livros e manuais para que possam aprendê-los ou decorá-los, mas, sim, serem capazes de engajarem-se com as histórias e experiências de vida de cada um deles e, a partir disso (temas geradores) incitarem a ampliação de seus conhecimentos através do domínio ou avanço da escrita, leitura e interpretação textual.

De acordo com Lira e Silva (2005):

[…] evidenciamos a prática pedagógica docente na EJA, como fator primordial de ensino/aprendizagem nessa modalidade, cujo público-alvo apresenta especificidades quanto ao perfil dos discentes, experiências de vida, objetivos, anseios, curiosidades, aprendizagens, entre outros. Uma prática que mobiliza saberes, interações pessoais, vivências, formação institucionalizada, que se circunscreve dentro do ambiente escolar, reverberando na aprendizagem do estudante enquanto sujeito da formação humana (LIRA e SILVA, 2005, p. 5).

Assim, compreende-se o processo de ensino-aprendizagem na modalidade da EJA enquanto uma ação omnilateral, isto é, voltada a todos os aspectos da formação humana e de suas reflexões acerca desse processo. Não se trata, por exemplo, de ministrar aulas direcionadas ao registro gráfico – lousa/caderno –, mas da reflexão desse conteúdo na vida dos discentes em suas próprias relações sociais, pois, o aprendizado que não é praticado tende a ser esquecido ou abandonado.

Para tanto, a prática ‘pedagógica’, por assim dizer, na modalidade da EJA deve ser promovida de maneira crítica e reflexiva pelos profissionais da educação de modo a se estabelecer objetivos concretos em torno das habilidades e capacidades dos alunos em assimilar e, ao mesmo tempo, envolver-se com o conteúdo ministrado de maneira com que haja, de fato, reciprocidade, engajamento, interação e reconhecimento do potencial de cada um dos alunos, ou seja, o ensino tradicionalista pode ser uma das causas que distancia o aluno da EJA da escola tendo em vista que o ensino historicamente enraizado e promovido na educação brasileira acaba por não suprir a necessidade do aluno da EJA em dar continuidade aos seus estudos, devendo-se oferecer-lhes maneiras para que possam encontrar possibilidades e estratégias de aprendizagem capazes de auxiliar na superação do analfabetismo e, ao mesmo tempo, poderem se apropriar de conhecimentos capazes de subsidiá-los em suas relações sociais, políticas, culturais e outras. 

4. O ENSINO DE JOVENS E ADULTOS

A escola de “hoje” deve mudar a visão do que a de “ontem” possa ter contribuído sobre si mesma, sem esquecer do seu processo de mudança naquilo que continua proveitoso. Nessa concepção, o professor deve incluir como aspecto relevante em sua prática a seguinte pergunta: qual o significado de alfabetizar jovens e adultos? É como se nossa educação tenha se perdido no caminho e face aos investimentos malfeitos para o ensino fundamental, os jovens e adultos voltam à sala de aula não porque não lhe foi negado o espaço escolar, mas por terem sido excluídos da sociedade que é capitalista e elitista.

O Brasil, por sua vez, compromete seu desenvolvimento ao formar gerações de analfabetos e/ou analfabetos funcionais, pessoas essas que, estão aprendendo a ler e a escrever após adultas, e que são incapazes de competir em um mercado de trabalho cada vez mais dominado pela tecnologia.

É preciso respeitar o aluno, utilizando-se uma metodologia apropriada no que diz respeito a sua história de vida. É importante rever tudo o que serve de apoio e subsídio para a metodologia a ser trabalhada em sala de aula. Temos como exemplo as cartilhas e alguns tipos de livros que se apoiam na escrita, no ensinar sem valorizar a capacidade do educando de aprender, descobrir, criar soluções, desafiar enfrentar, propor, escolher entre outros. Essas competências serão adquiridas a longo prazo, e trabalhadas, sem negar o direito de afirmação de identidade do aluno, de seu saber e de sua cultura. Essas particularidades trarão resultados satisfatórios para ambos envolvidos no processo de ensino, inclusive, existe uma nova concepção de alfabetização, tanto para crianças, como para jovens e adultos, baseado em Freire (1989) que possibilita a construção de uma cultura de alfabetização, destacando a leitura e a escrita como práticas culturais e sociais.

Deste modo, a alfabetização é uma expressão cultural que não se desenvolve fora do mundo da cultura. Os estudos sobre a psicogênese da língua escrita, desenvolvidas por Emília Ferreiro, revolucionando o conhecimento que se tinha sobre a aquisição da leitura e da escrita defende que os alunos utilizem diversos tipos de textos, pois, ainda analfabetos, devem ter contato com diversos tipos de textos, pois, possibilita desviar o centro do trabalho do professor para a pessoa que aprende e a sua relação com o objeto da reconstrução do código linguístico não é o cumprimento de uma série de tarefas ou conhecimentos das letras e das sílabas, mas há uma compreensão do funcionamento desse código. Para que se aprenda algo é preciso que o aluno sinta uma “falta” por não saber ler e escrever. Para que ele sinta esta falta, ele necessita saber já um pouco a respeito do que é ler e escrever, para que serve ler, que as pessoas sabem ler e escrever, se vale a pena se identificar com eles e com o mundo das letras.

Para Vygotsky (2002), o professor é mediador e equilibrador de situações de aprendizagens e de conflitos que ocorrem em sala de aula. Na verdade, o aluno da EJA chega à escola trazendo conhecimentos que adquiriu ao longo de sua vida. Cabe ao professor fazer o entrelaçamento dessa bagagem com as condições mentais que todos os sujeitos possuem. Podemos citar alguns: O raciocínio lógico/abstrato, memória ativa e resolução de problemas. Acontece que, grande parte dos alunos do supletivo para jovens e adultos na escola pública se acham incapazes de aprender. E não é fácil convencê-los do contrário. Contudo, sabe-se que nesses casos entram em ação as pesquisas feitas por psicólogos e pedagogos, estudiosos do comportamento humano no âmbito da educação.

Conforme Luckesi (1994, p. 32):

O ser humano se constitui numa trama de relações sociais, na medida em que ele adquire o seu modo de ser, agindo no contexto das relações sociais nas quais vive tudo isso nos leva a entender o aluno jovem ou adulto como em conjunto de relações com condutas que se originaram a partir de sua vivência, traumas, conflitos e questões sociais na sociedade e muitas vezes na família (LUCKESI, 1994, p. 32).

Portanto, o docente deve pensar e agir na base da teoria de que cada sujeito é um conjunto de capacidades, de observação, de atenção, memória, raciocínio etc. Para Luckesi (2002) as faculdades intelectuais são capazes de individualmente, aplicada a um campo de trabalho, intervir na ação operacional das outras.

Portanto, se um indivíduo aprende a fazer bem determinada coisa, consegue fazer bem outras coisas em conexão com as capacidades adquiridas. Ao se deparar com o processo de ensino e imbuídos da vontade de aprender a ler a escrever, o aluno entra na fase que chamamos de letramento.

E é talvez um momento difícil para o aluno e professor, mas não é impossível de ser considerada parte fundamental do processo de “ressignificação” da aprendizagem para jovens e adultos na escola moderna. Citando textos de Tfouni (1995, s.n.) diz que para esse estudioso, o termo “letrado” não tem sentido único, nem descreve um fenômeno simples e uniforme “Daí falarmos em dificuldades”. Porém, diz Tfouni (1995, s.n.) sobre o termo letramento: “está ultimamente ligado a questões das mentalidades da cultura e da estrutura social como um todo”.

Podemos ver estas afirmações em outros parágrafos deste texto, o que nos faz insistir na seguinte pergunta: até quando o professor e a escola estarão capacitados para fazer da alfabetização um passo para a resolução de tantos problemas decorrentes de falhas estruturais da educação brasileira?

A interdisciplinaridade, agregada ou não a outras formas de ensinar, faz parte da construção do conhecimento, da epistemologia do universo cognitivo do íntimo do ser humano. O importante é a intenção, a busca pelo prazer de ajudar o jovem ou adulto a conhecer a escrita, ler o mundo ao seu redor e reinventar sua vida e sua história. Segundo Tfouni (1995), escrita, alfabetização e letramento estão ligados entre si, mas nem sempre tidos como em conjunto pelos estudiosos.

Nessa perspectiva, entende-se que é imprescindível que o aluno em processo de aquisição da leitura e escrita, carregue consigo para a sala de aula alguns agentes formadores: desejo de mudar, de crescer como ser que pensa, que critica e age em função de sua cidadania.

A alfabetização acontece em decorrência de necessidades peculiares ao sujeito, que está inserido num processo de evolução da sociedade em todos os sentidos. Quando o aluno busca aprender a ler e escrever, ele não está se tornando apenas capaz de decodificar um livro, mas capacita-se para enfrentar o mundo, encarar a vida e confrontar-se com o outro num mundo cheio de ganhos e de perdas.

Em se tratando do indivíduo adulto, Soares (1998) aponta que:

[…] um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado social e economicamente, mas se vive em um meio em que a leitura e a escrita têm presença forte, se recebe cartas que outros leem para que um alfabetizado as escreve… Se pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum lugar, esse analfabeto é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e de escrita (SOARES, 1998, p. 8).

Cada aluno terá um tratamento específico, de acordo com o nível em que se encontra frente a determinado conhecimento. Nesse sentido, Moreira (1999, p. 11) afirma que para Ausubel (1968) “A aprendizagem significativa é um processo por meio do qual uma nova informação se relaciona, de maneira substantiva e não arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do indivíduo”. O saber se democratiza quando são consideradas as hipóteses incompletas, formuladas pelos alunos, os seus saberes parciais e se centralizam ao se considerar como válidos o ponto de chegada no qual somente se encontra o professor.

Outra característica do processo de aprendizagem será a mobilidade e não a rigidez. E essa mobilidade se dá de forma natural e prazerosa, onde o aluno encontra sua maneira de aprender com o outro. Nessa parceria é de fundamental importância a criatividade do professor e acolhida por parte da escola e dos colegas de classe e levando em consideração o nível, a faixa etária e principalmente valores incutidos em cada aluno como os de religião e sexualidade.

Diante de tantos argumentos e concepções, destaca-se neste espaço as citações de interdisciplinaridade não deve ser prioridade para um possível investimento ou mudança no processo de ensino-aprendizagem. Mas acredita-se que é o começo de uma reestruturação do que antes era ensinar a ler e escrever na escola de jovens e adultos. A escola precisa aprender a se mover em outros espaços, sem fazer da sala de aula a única possibilidade para a construção de aprendizagem pelo próprio aluno na EJA e não é diferente quando a questão é alfabetizar. É lógico que a realidade, o contexto e o método é outro, mas a criatividade e o querer mudar tem que ser levado em consideração. Nesse pensamento, a interdisciplinaridade, é um conceito que contribui para uma visão de construção do conhecimento.

Este pensamento tão amplo para o contexto educacional brasileiro nos dá esperança de que alfabetizar em nosso país possa ser no futuro algo além de “extraordinário”. E esse despertar para a mudança chega até os professores quando se acredita que as disciplinas não são individuais, mas um conjunto de saberes científicos onde outros conceitos como a transdisciplinaridade possam interagir com os métodos mais usados pelos educadores da EJA. Na verdade, a escola não é o único lugar onde se aprende a ler e escrever. O educador em sua visão de ensino, voltado para as mudanças na escola, deve estar atento a tudo e a todos. Além de organizar novos espaços para utilizar a escrita e a leitura a partir das contínuas exigências sociais.

Para estudiosos, como Carvalho et al. (2010), há uma forte relação da educação com o letramento, que nada é mais do que o aluno fazer da escrita e da leitura o meio para adentrar no mundo das letras, do conhecimento e do saber. Para a EJA é importante fazer esta experiência e reflexão. A escola que tem turno noturno e ensino supletivo deve ser um elo entre o ensino novo e a transformação de alunos apenas alfabetizados, para sujeitos que sabem interagir com a sociedade diante de suas exigências e tendências para os novos tempos.

Com o apoio da comunidade escolar, tendo como base o maior princípio que é a educação e fazendo sempre uma reflexão sobre os modelos de gestão democrática, deve-se dar ênfase à Educação de Jovens e Adultos (EJA), possibilitando aos menos favorecidos uma ampla participação na construção e no direcionamento das ações educativas efetivadas na escola, proporcionando a comunidade um amplo espaço de conhecimento e interação comunidade/escola. Especificando-se sempre a função do gestor escolar frente ao processo de planejar coletivamente em busca da gestão democrática e qual sua importância na EJA, identificando como se dá a interação entre escola e essa modalidade de ensino, e a maneira de avaliação proposta pelos mesmos, as ações e instrumentos necessários a implantação efetiva da gestão democrática na escola pública a emergir das experiências que se concretizam em outras escolas da rede pública de ensino, tornando-as como base para a construção desse processo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo discorreu acerca de concepções sobre a evasão escolar de alunos da educação de jovens e adultos (EJA), haja vista que é uma temática de extrema importância, na medida em que desejamos uma escola que atenda às atuais exigências da vida social: formar cidadãos, oferecendo, ainda, a possibilidade de apreensão de competências e habilidades necessárias e facilitadoras para a inserção social. Falar sobre o ensino de jovens e adultos salientando que a escola de “hoje” deve mudar a visão que a de “ontem” contribuiu sobre si mesma, sem esquecer em seu processo de mudança aquilo que continua proveitoso, é de fundamental importância para o desenvolvimento da escola atual.

Para tanto, diante dos apontamentos teóricos reunidos neste estudo, tornou-se possível compreender a forma com que a Educação de Jovens e Adultos se encontra no atual cenário educacional brasileiro diante do insucesso de históricas e contínuas políticas públicas em prol da alfabetização, evidenciando-se a resolução de sua problemática e apresentando novos dados à comunidade científica acerca das características mais específicas em torno de uma modalidade educacional brasileira ainda carentes de ações governamentais e educacionais emergentes, bem como se descreve a EJA.

Além do mais, foi possível identificar, através das pesquisas bibliográficas e de uma análise da realidade contemporânea, que por algum motivo, os alunos da EJA não tiveram uma educação escolar regular na idade certa, então, as instituições de ensino se empenham em atrair esses alunos para a sala de aula e trabalham no sentido de uma autorreflexão, por parte deles, que precisam dar continuidade aos estudos para conseguirem melhores oportunidades na vida.

Isso significa afirmar que o objetivo proposto neste trabalho foi alcançado, pois elaborou-se um trabalho com escrita de forma clara e precisa, em que se encontram subsídios teórico-metodológicos, os quais poderão contribuir para a redução de evasão escolar, pois não se tem pretensão de enfatizar que um trabalho desse tipo poderá extinguir tal problema na escola, dando ênfase no trabalho da gestão escolar com o objetivo de combater esse problema.

Diante disso, destaca-se também a importância da gestão e do professor incentivar os alunos a continuar frequentando a escola. Além desse estímulo é necessário que sejam oferecidos aos alunos da EJA as devidas condições, tais como: professores capacitados que atuem como mediadores do processo de alfabetização e que compreendam que a educação é uma forma de intervenção no mundo envolvendo ação-reflexão-ação, tendo em vista a transformação da realidade; desenvolvimento de atividades interdisciplinares, destacando-se nesse processo o trabalho por projetos; recursos didáticos que não se limitem somente ao quadro e pincel; iluminação satisfatória; levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos sobre os assuntos a serem estudados; considerar a realidade de vida dos discentes, trabalhando temáticas referentes ao seu cotidiano visando à formação integral dos alfabetizandos e avaliar os educandos no processo; dar encaminhamento para que as dificuldades de aprendizagem apresentadas sejam superadas e uma biblioteca com acervo atualizado para a realização de pesquisas.

REFERÊNCIAS

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MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagem. Primeira Edição. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1999.

SILVA, Rita de Cássia Santos da; SOUSA, Evanilde Almeida Araújo; QUEIROZ, Joane Mary Araújo de; ONOFRE, Joelson Alves. As causas da evasão escolar na EJA: uma concepção histórica. Santa Inês – BA, 2019, 1-18 p.

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

TFOUNI, L. V. Letramento e alfabetização. São Paulo: Cortez, 1995.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

APÊNDICE – REFERÊNCIA NOTA DE RODAPÉ

8. A andragogia significa ensino de adultos. No modelo andragógico a educação é de responsabilidade compartilhada entre professor e aluno. O professor deve aprender que os adultos preferem que ele lhes ajude a compreender a importância prática do assunto a ser estudado, preferem experimentar a sensação de que cada conhecimento fará diferença em suas vidas, mudará efetivamente suas vidas (CARVALHO et al., 2010, p.78).

[1] Mestranda em Ciências da Educação.

[2] Mestranda em Ciências da Educação.

[3] Mestranda em Ciências da Educação.

[4] Mestranda em Ciências da Educação.

[5] Mestranda em Ciências da Educação.

[6] Mestranda em Ciências da Educação.

[7] Mestrando em Ciências da Educação.

Enviado: Novembro, 2021.

Aprovado: Setembro, 2022.

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