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Neurociência num Estudo Sobre o Autismo

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CONTEÚDO

SALES, Gutemberg Martins de Sales [1]

SALES, Gutemberg Martins de Sales. Neurociência num Estudo Sobre o Autismo. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 07, Vol. 04, pp. 5-19, Julho de 2018. ISSN:2448-0959

Resumo

Observando-se que no Brasil não existe a preocupação ao atendimento de crianças autistas questiona-se se na atualidade, algum estudo significativo já proporciona mudanças no tratamento de pacientes com deficiência autista? E se é possível desenvolver habilidades sociais para que o indivíduo autista possa interagir, de forma aceitável, na sociedade? Objetivou-se abordar o conceito, características e critérios de diagnóstico do autista; destacando a possibilidade do autista poder se relacionar com a sociedade permitindo assim o conhecimento de estratégias usadas na alfabetização da criança autista. A escola recebe uma criança com dificuldades em se relacionar, seguir regras sociais e esse comportamento é logo confundido com falta de educação e limite, por falta de conhecimento de alguns profissionais da educação. Por meio da revisão de literatura pudemos responder que a Neurociência estuda o comportamento das pessoas autistas auxiliando em seu desenvolvimento e aprendizagem.

Palavras-Chave: Neurociências, Estudo, Sistema Nervoso, Vida Humana.

Introdução

Questiona-se se na atualidade, algum estudo significativo já proporciona mudanças no tratamento de pacientes com deficiência autista? È possível desenvolver habilidades sociais para que o indivíduo autista possa interagir, de forma aceitável, na sociedade?

Objetivou-se abordar o conceito, características e critérios de diagnóstico do autista; destacando a possibilidade do autista poder se relacionar com a sociedade em potencial para aprender; levar o conhecimento sobre o autismo ao maior número possível de profissionais envolvidos na educação; e permitir o conhecimento de estratégias usadas na alfabetização da criança autista.

Observa-se que os profissionais da educação não são preparados para lidar com crianças autistas e a escassez de bibliografias apropriadas dificulta o acesso à informação na área, por essa razão justifica-se entender que a escola tem importante papel na investigação diagnóstica, pois é o primeiro lugar de interação social da criança separadas de seus familiares, é onde a criança vai ter maior dificuldade em se adaptar às regras sociais, tarefa muito difícil para o autista.

Faz-se então necessário entender o processo de desenvolvimento e aprendizagem e, para isso, utilizaremos como referência a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, que traduz diferentes formas de organização mental e diferentes estruturas cognitivas, que servirá como base para realizar um plano de ensino apropriado para cada criança autista.

Hoje, porém, através da Neurociência, sabe-se que existe a plasticidade cerebral e que a mesma necessita de muito estímulo daqueles que estão próximos a estes indivíduos. Os aspectos educacionais foram estudados, tendo como finalidade a descrição das principais dificuldades encontradas nesse aspecto, buscando relacionar como deve ser a educação dos autistas nas escolas e como eles se apresentam frente a esta educação.

Com base na revisão de literatura a metodologia utilizada é estritamente bibliográfica a qual segundo Severino (2007) tem como fonte primordial os registros impressos decorrentes de pesquisas anteriores, como livros, artigos ou teses que contêm texto analiticamente processados pelos seus autores.

Neurociência

Compreende-se a neurociência como um campo complexo de pesquisa pautado em evolução, por se tratar do sistema nervoso e suas implicações na vida humana. Sendo assim pode-se dizer que a neurociência estuda o sistema nervoso e seu funcionamento, assim como suas estruturas e alterações que surgem no decorrer da vida.

A neurociência trabalha três elementos, sendo estes o cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos. Essa separação existe para facilitar a assimilação de profissionais e estudiosos.

Os campos que especificam a complexidade do sistema nervoso se dividem em[2]:

  • Neuropsicologia estuda a interação existente entre as ações dos nervos e as funções ligadas à área psíquica.
  • Neurociência cognitiva centra-se na capacidade de conhecimento do indivíduo (raciocínio, memória e aprendizado).
  • Neurociência comportamental procura estabelecer uma ligação entre o contato do organismo e suas emoções e pensamentos a forma de falar e os gestos utilizados pela pessoa.
  • Neuroanatomia considerada uma das partes mais complexas da neurociência, tem por objetivo compreender as estruturas do sistema nervoso. Razão pela qual é necessário separar o cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos externos para que se analise item a item com cautela para maior compreensão sobre a respectiva função de cada parte.
  • Neurofisiologia estuda as funções ligadas às várias áreas do sistema nervoso.

A Neurociência procura estudar as variações entre o comportamento e a atividade cerebral, tratando-se de um campo interdisciplinar que abrange várias outras disciplinas como neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica, neuroimagem, genética, neurologia, psicologia, psiquiatria e pedagogia (HENNEMANN, 2012).

Essas ciências reunidas formam a Neurociência e juntas investigam o sistema nervoso procurando entender como ele se desenvolve, sua aparência entre indivíduos e espécies bem como ele deixa de funcionar.

Em suma a Neurociência revela como o cérebro produz nosso comportamento, procurando perceber a individualidade de cada um, e a partir daí entender como as lesões no cérebro interferem no modo de ser dos indivíduos.

O desenvolvimento atual das Neurociências é verdadeiramente fascinante e geram grandes esperanças de que, em breve, tenhamos novos tratamentos para uma grande gama de distúrbios do sistema nervoso, que debilitam e incapacitam milhões de pessoas todos os anos. Apesar dos progressos durante a última década e os séculos que a precederam, ainda existe um longo caminho a percorrer antes que possamos compreender completamente como o encéfalo realiza suas impressionantes façanhas. Entretanto, essa é a graça em ser um neurocientista: nossa ignorância acerca da função cerebral é tão vasta que descobertas excitantes nos esperam a qualquer momento (BEAR, 2010, p. 21).

Para Hennemann (2012) através das Neurociências procura-se perceber a individualidade de cada um, e a partir disso, entender como as lesões no cérebro interferem no modo de ser dos indivíduos.

A teoria da construção da inteligência de Piaget possibilita-nos compreender os fenômenos e processo de desenvolvimento e aprendizagem do sujeito. Essa compreensão nos auxilia, a saber, e a o que esperar das crianças em determinada idade, além entender de que forma elas percebem o mundo ao seu redor.

A teoria de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo é uma teoria de etapas, uma teoria que pressupõe que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis conforme diz Pulaski (1996).

Pulaski (1996, p. 218) diz que para Piaget as ações da criança não se desenvolvem num mesmo plano no sentido de se tornarem experiências cumulativas. Elas se diferenciam e conquistam qualidades novas, transformando-se. Tais ações se constroem em planos diferentes: sensório-motor, operatório concreto e operatório formal. Obedecem a uma direção progressiva que parte do plano sensório-motor e se complexifica e se aperfeiçoa continuamente, e que está sempre sustentada nas experiências sensório-motoras.

Assim, a construção da inteligência pode ser esquematizada como uma espiral crescente voltada para a equilibração resultante da combinação dos processos de assimilação e acomodação.

As definições de estágio, níveis do desenvolvimento caracterizados por padrões de pensamento ou comportamento sucessivamente diferenciados, mais complexos e integrados em níveis mais elevados. São habitualmente característicos de certas faixas etárias cronológicas (PULASKI, 1996, p. 220).

Nesse processo, ocorrem estados de equilíbrio diferenciados que expressam a capacidade de adaptação da inteligência. Esta se consolida ao construir conhecimentos que possibilitam uma ação do sujeito sobre o meio, voltada para a adaptação.

Segundo Piaget, a capacidade de um aluno resolver problemas de conservação depende de compreensão de três elementos básicos do raciocínio: identidade, compensação e reversibilidade. Neste período, o egocentrismo intelectual e social (incapacidade de se colocar no ponto de vista de outro), que caracteriza a fase anterior, dá lugar à emergência da capacidade da criança de estabelecer relações e coordenar pontos de vista diferentes e de integrá-los de modo lógico e coerente (COUTINHO, 2001).

Conforme Piaget, a maioria dos alunos pode ser capaz de usar o pensamento operacional formal em apenas algumas áreas nas quais eles tenham mais experiências ou interesse. Portanto, como o foco deste trabalho é o autista, faz-se necessário situarmo-nos na problemática do tema (BANKS, 2002).

Do grego: autos, que quer dizer em si mesmo. A palavra autismo foi usada pela primeira vez em 1943 pelo Dr. Leo Kanner, um psiquiatra infantil americano que percebeu em sua atuação profissional um grupo de crianças que se destacava das demais por duas características básicas: forte resistência a mudanças e incapacidade de se relacionar com pessoas (estavam sempre voltadas para si mesmas) (BOSSA, 2000, p. 167).

O autismo passou e passa por um constante processo de investigação no que diz respeito à sua definição. A educação tem papel fundamental no desenvolvimento das crianças, sendo conforme Coll (et al, 2004, p. 285), “função de o professor ajudá-las a aproximarem-se desse mundo de significados proporcionando os instrumentos funcionais dentro da possibilidade da criança” (apud FRANÇA, SILVA, e MARCELINO, 2014, p. 5).

França, Silva, e Marcelino (2014) dizem ainda que a atividade educativa objetiva proporcionar o desenvolvimento máximo de habilidades e competências; garantir um equilíbrio pessoal; estabelecer relações significativas e até mesmo proporcionar um bem estar emocional. Isso tudo deve ser objetivo para a educação de todas as crianças, sejam elas normais ou autistas como proposto neste trabalho. Tais objetivos educacionais devem ser para todos, pois, os autistas necessitam de modelos especiais por apresentarem fortes deficiências de comunicação, interação, linguagem e atenção.

A incapacidade de desenvolver um relacionamento interpessoal se mostra na falta de resposta ao contato humano e no interesse pelas pessoas, associada a uma falha no desenvolvimento do comportamento normal, de ligação ou contato. Na infância, estas deficiências se manifestam por uma inadequação no modo de se aproximar, falta de contato visual e de resposta facial, indiferença ou aversão a afeto e contato físico (GAUDERER, 1985, p. 14).

Felício (2007, p. 25) salienta que, “para educar um autista é preciso também promover sua integração social e, neste ponto, a escola é, sem dúvidas, o primeiro passo para que aconteça esta integração”, sendo possível por meio dela a aquisição de conceitos importantes para o curso da vida (apud BARBOSA, 2013, p. 8).

A escola deve conduzir o desenvolvimento intelectual e afetivo das crianças autistas fazendo interações entre os ambientes dos quais ela faz parte, e, fazendo-as conhecer a realidade existente na sociedade, proporcionando-lhes saber sobre a humanidade e as relações que a cercam.

Para Felício (2007, p. 26) os autistas necessitam de ambientes educacionais estruturados e adequados às suas necessidades.

As crianças autistas têm um maior aproveitamento, quando são educadas em grupos pequenos, que possibilitem um planejamento bastante personalizado dos objetivos e procedimentos educacionais em um contexto de relações simples e, em grande parte, bilaterais; O ambiente deve facilitar a percepção e compreensão, por parte da criança, de relações contingentes entre suas próprias condutas e as contingências do meio; além disso, o educador deve manter uma conduta educadora estabelecendo, de forma clara e explícita, seus objetivos, procedimentos, métodos de registro, etc. (COOL et al, 2004, p. 286).

Felicio (2007, p. 27) diz ser importante haver uma educação que envolva o autista com seu contexto de vida, de acordo com suas particularidades, para que assim ele possa interagir de forma a se tornar familiarizado com aquela situação.

Existem, atualmente, vários enfoques discutidos a respeito dos conteúdos mais adequados e também dos procedimentos a ser desenvolvido para a educação dos autistas, levando-se em consideração a conduta, o nível evolutivo em relação a uma pessoa normal, análise da capacidade do autista se adaptar ao ambiente em que vive o nível de interação, etc. Porém, apesar dos vários enfoques existentes, a educação se torna eficaz com a junção de todos esses pontos (COOL et al, 2004, p, 281).

A grande dificuldade na educação dos autistas, é a de reduzir a rigidez de sua cognição e sua maneira de agir, diminuindo aqueles rituais próprios e gestos e ações estereotipadas, a fim de que eles consigam desenvolver-se de maneira próxima às crianças normais (FRANÇA, SILVA, e MARCELINO, 2014, p. 4).

Sabemos que, por não desenvolverem adequadamente sua linguagem e aquisição de símbolos, os autistas acabam não conseguindo se inserir no mundo das outras pessoas, tornando seus próprios mundos sem significados, sendo desse modo: “A função do professor é ajudá-las a aproximarem-se desse mundo de significados e proporcionar os instrumentos funcionais que estão dentro da possibilidade da criança” (COOL et al, 2004, p. 285).

Felício (2007, p. 27) completo que o trabalho educacional deve ser feito de maneira minuciosa por parte do professor, pois os autistas não aprendem se não estiverem submetidos a condições especiais:

Para promover uma verdadeira aprendizagem, o professor deve ser muito cuidadoso com: 1) a organização e condições estimuladoras do ambiente, 2) as instruções e sinais que a criança apresenta 3) os auxílios que lhe são proporcionados, 4) as motivações e reforços utilizados para fomentarem sua aprendizagem (COOL et al, 2004, p. 288 apud FELICIO, 2007, p. 27).

Conforme Felício (2007) o contexto educacional apresentado e na preocupação com uma verdadeira inclusão de crianças com autismo em instituições de ensino regular é latente a necessidade de se trabalhar com essas crianças dentro da escola, observando, no entanto, que:

A escola pública não dá conta de todas as deficiências e suas necessidades, sendo este talvez o papel das associações de deficientes ou de pais de deficientes – responsabilizar-se pela organização e supervisão da metodologia (MANTOAN, 2007, p. 14-15 apud FELICIO, 2007, p. 27).

Para Felício (2007, p. 27) a intervenção social junto das famílias e instituições implica construir uma rede que reúna num mesmo espaço e à volta de uma mesa, os pais, as equipes terapêuticas e pedagógicas assim como pessoas influentes que fazem parte do contexto familiar.

É na creche, jardim de infância, público ou privado ou ainda na escola que a criança frequenta que damos início a este processo em que interatuam os vários parceiros sociais e comunitários nele envolvidos. Os saberes e os esforços desenvolvidos pelos distintos técnicos e outros parceiros sociais, até aí dispersos e descoordenados, passam a convergir num único processo de apoio, mais centrado na família do que na criança com esta perturbação (RONCON, 2003, p. 56).

Conforme Gauderer, (1985) o autista apresenta-se distante das outras pessoas, trazendo aos pais a sensação de rejeição e abandono. Com a culpa em seus sentimentos, os pais buscam reter seus filhos, sendo tal atitude a necessidade para não se sentirem pior. Dessa forma, os profissionais devem desenvolver um trabalho com os pais oportunizando-os a tirarem suas dúvidas e resistências para que o afastamento de seus filhos traga benefícios não só a eles, mas à família também.

A educação precisa estar intimamente ligada à socialização e integração dos autistas, pois o contato com os professores e com as crianças da escola será fundamental (GAUDERER, 1985).

Sabendo-se não haver cura para o autismo, mas um possível desenvolver de habilidades sociais, o indivíduo autista passa a interagir de forma aceitável na sociedade. “Educar uma criança, por mais difícil que seja, aumenta o sentimento de amor na maioria das pessoas” (GAUDERER, 1985, p. 127).

Os pais sentem que a criança é parte deles e da família, não querendo que ela vá embora. Além disso, a criança autista pode ser bastante cativante, e, sua própria impotência e confusão fazem brotar emoções profundas nos que lidam com ela. Então, quando começam a fazer progresso, a alegria que cada pequeno passo avante traz, parece muitas vezes maior do que o que é dado por uma criança normal (GAUDERER, 1985, p. 127).

A escola, e em especial, o professor pode assumir um papel importante na vida de alunos autistas se informados corretamente. O currículo das escolas deve ser adaptado às necessidades das crianças e não o contrário. E para isso, é preciso proporcionar oportunidades curriculares que sejam apropriadas à criança com habilidades e interesses diferentes.

Diante do exposto, sabe-se que uma educação inclusiva é ponto crucial para que os alunos especiais se desenvolvam na sociedade. Porém, o que se observa no atual modelo de currículo para a formação dos professores que irão atuar nessas situações não é satisfatório para que estes sejam capazes de atuar com alunos que apresentam necessidades especiais em classe comum.

O currículo pode ser identificado como um dos obstáculos à Inclusão. A diferenciação curricular que se procura na Inclusão é a que tem lugar num meio em que não se separam os alunos com base em determinadas categorias, mas em que se educam os alunos em conjunto, procurando aproveitar o potencial educativo das suas diferenças, em suma, uma diferenciação na classe assumida como um grupo heterogêneo (RODRIGUES, KREBS, FREITAS, 2005, p. 49).

Pode-se concluir que a educação para todos ainda não é realidade nas escolas e estas, sem dúvida, não estão preparadas para lidar com as diversidades existentes. Porém, sabemos que esta mudança só se dará a partir do momento que houver um esforço de toda a sociedade, unida, lutando por condições educacionais respeitáveis e agindo conjuntamente com as autoridades que auxiliarão no processo.

É preciso estar aberto a novas metodologias, novos horizontes pedagógicos e curriculares, um mínimo aceitável de recursos e um povo forte vencido pela esperança.

Segundo Bear (2010, p. 21) ainda temos pouco conhecimento neurocientíficos, mas a base de tudo é essa busca, esse entendimento, esse comprometimento com a melhora de outros.

Para Mietto (2012) a Neurociência da aprendizagem, em termos gerais, é o estudo de como o cérebro aprende. É o entendimento de como as redes neurais são estabelecidas no momento da aprendizagem, bem como de que maneira os estímulos chegam ao cérebro, da forma como as memórias se consolidam e de como temos acesso a essas informações armazenadas.

Podemos compreender desta forma que o uso de estratégias adequadas em um processo de ensino dinâmico e prazeroso provocará consequentemente, alterações na quantidade e qualidade destas conexões sinápticas, afetando assim o funcionamento cerebral de forma positiva e permanente com resultados extremamente satisfatórios (MIETTO, 2012).

Conforme Mietto (2012) uma grande descoberta das neurociências é que através de atividades prazerosas e desafiadoras o “disparo” entre as células neurais acontece mais facilmente: as sinapses se fortalecem e redes neurais se estabelecem com mais facilidade.

Há uma série de regras e lembretes que facilitará o relacionamento entre o professor e a criança autista. Isto porque o maior desafio para o profissional é lembrar-se da teoria na hora em que os problemas estão ocorrendo. Fazer esta transposição do conhecimento teórico para a prática é muito difícil.

O ensino é o principal objetivo do trabalho com crianças autistas. Ensinar coisas funcionais para a criança autista é a essência de um trabalho adequado e a persistência é um grande aliado deste objetivo.

Quando se deseja que a criança olhe para o professor, se segura delicadamente o rosto dela, direcionando-o para o rosto do professor. Pode-se falar com a criança, mesmo que seu olhar esteja distante, tendo como meta um desenvolvimento de uma relação baseada em controle, segurança, confiança e amor.

O conteúdo do programa de uma criança autista deve estar de acordo com seu potencial, de acordo com sua idade e de acordo com o seu interesse. Se a criança estiver executando uma atividade nova de maneira inadequada, é importante a intervenção rápida do professor, mesmo que para isso seja necessário segurar a mão da criança ou até mesmo dizer-lhe a resposta (PEETERS, 2000).

No caso de autista Mercadante (2006) diz que o que se sabe é que os cérebros de autistas são diferentes em três áreas principais: a amígdala, ligada à emoção e ao comportamento social, o giro fusiforme e o sulco temporal superior. As duas últimas costumam ser ativadas quando se olha para a face de alguém ou se escuta uma voz humana. Os autistas, ao verem ou ouvirem alguém, ativam outra área, responsável pela identificação de objetos Hennemann (2013).

A democratização de ensino é a permanência do educando na escola e a consequente terminalidade escolar, onde o aluno que teve acesso à escola deve ter a possibilidade de permanecer nela até o nível da terminalidade significativa, tanto do ponto de vista individual quanto social.

A educação é por natureza o lugar da construção de uma arquitetura de valores de um projeto harmonizador de motivações e interesses individuais e coletivos.

Essa democratização implica em primeiro lugar ao acesso à educação escolar, significando na sociedade moderna e civilização urbana a garantia do atendimento às necessidades de escolarização de todo cidadão, pois desde os atos mais simples à participação dos bens culturais, da vida econômica à profissional há necessidade da escolarização.

Acredita-se que a Neurociência seja uma importante ferramenta na educação como motivadora. A palavra motivo é usada quando nos referimos ao comportamento humano. As forças que levam os animais a agirem denominam-se como impulso ou instinto. Logo a palavra motivo é usada, na linguagem comum, com o sentido de causa.

Estudado pela psicologia, os motivos tem por finalidade determinar as causas de nossas ações. Ao olharmos para dentro de nós mesmos e para as pessoas ao nosso redor, perceberemos que somos um ser único e especial. No mundo, ninguém é igual a nós. Todos nós somos diferentes uns dos outros.

A preocupação em formar cabeças pensantes que saibam entender e se expressar em diferentes situações atravessará todos os ciclos do ensino. É uma postura de ensino que procura levar em consideração a realidade e os interesses dos próprios alunos.

Assim, podemos dizer que a motivação pelo desejo de novas experiências, é o que leva os jovens e adolescentes a quebrar a rotina de suas vidas, procurarem fazer novas aventuras e desafios e fugir da monotonia. Com isso garantimos, o professor deve aproveitar do aprendizado do aluno e não apenas acrescentar conteúdos.

Sem motivação não há solução, se você conversar com dez experientes professores e perguntar o que fazem para despertar o interesse dos alunos, você vai se deparar com um rol de respostas diferentes.

Cada docente tem um jeito próprio de criar suspense, provocar, atiçar a curiosidade da turma para a proposta que vai apresentar. No entanto, alguns comportamentos são comuns a todos eles. Relacionam as propostas à vida real e sempre explicam o porquê da atividade com isso, o aluno passa a ver sentido no que está fazendo.

É preciso seduzi-lo a se interessar por aquele conteúdo, e a única maneira disso ocorrer é através de muita, mas muita motivação acompanhada de uma postura rígida de ações por parte do professor.

O desprezo, o menosprezo de um aluno por parte do professor gera um imenso conflito indisciplinar que acaba envolvendo toda a sala de aula. Depois desse conflito formado, organizá-lo novamente é muito difícil, logo a motivação envolvendo a todos os presentes em sala de aula ainda é o melhor recurso.

A neurociência se constitui atualmente como uma grande aliada do professor para poder identificar o indivíduo como ser único, pensante, atuante, que aprende de uma maneira toda sua única e especial.

Para Mietto (2012) graças à neurociência da aprendizagem, os transtornos comportamentais e da aprendizagem passaram a ser mais facilmente compreendidos pelos educadores uma vez que proporciona mais subsídios para a elaboração de estratégias mais adequadas a cada caso.

Esta nova base de conhecimentos habilita o educador a ampliar ainda mais as suas atividades educacionais, abrindo uma nova estrada no campo do aprendizado e da transmissão do saber. O sistema nervoso do aluno precisa estar direcionado à experiência. Se o professor não consegue chamar a atenção do aluno para que as redes neurais sejam ativadas, ele não vai memorizar e armazenar informações.

O professor deve entender que todos podem aprender desde que as estratégias de ensino sejam adequadas, motivadoras e estimulantes. Esse é o papel do profissional da Neurociência, descobrir e adequar estas estratégias a educação. É o estímulo que a criança e adolescente recebem do meio externo que fará com que eles adquiram atitudes, hábitos e valores.

As hipóteses que a Neurociência tem levantado para o autismo contribuem, em especial, para o fim da cultura da subjetividade na etiologia do autismo. Alterações morfológicas e funcionais dos Neurônios, no Córtex Cerebral, em estruturas que conectam os dois hemisférios cerebrais, no Sistema Límbico e no cerebelo são objetos de pesquisas em autismo e podem, no futuro, contribuir para novos caminhos em prevenção, diagnóstico e tratamento.

Refletir sobre a integração da pessoa com deficiência mental implica necessariamente repensar o sentido atribuído à educação. Implica, portanto, atualizar nossas concepções e dar um nono significado aos propósitos educacionais, compreendendo a complexidade e a amplitude que envolve o processo de construção de cada individuo, seja ou não deficiente.

A educação a que nos referimos tem um caráter amplo e complexo, envolvendo todas as ações e as relações planejadas ou não, formais ou informais produzidas pelo individuo e para ele, tendo como propósito uma atitude continua de preparar e se preparar, formar e se formar, pela vida e para ela.

Assim entendendo, lembramo-nos de Freinet, para quem a “Educação não é uma fórmula de escola, mas sim uma obra de vida”.

Considerações Finais

Hoje em dia muito se discute sobre a situação da vida de uma pessoa com deficiência, principalmente a sua entrada e permanência na escola, além do preparo dos professores para adaptar a criança deficiente com o objetivo de prolongar sua permanência na escola.

Não devemos e nem podemos pensar no autismo como algo distante e condenado ao isolamento em escolas especializadas. Existem inúmeras possibilidades que podem ser feitas pelo próprio autista, sendo a principal entre elas fazê-lo acreditar que tem potencial para aprender.

Crianças autistas necessitam de instruções claras e precisas e o programa deve ser essencialmente funcional, ligado diretamente a elas. É preciso saber que ele enxerga o mundo de uma forma diferente, mas vive no nosso próprio mundo.

Consideram-se as autistas pessoas difíceis de trabalhar e desenvolver, apresentando inúmeras desordens em seus comportamentos, e para isso, é necessário o desenvolvimento de estratégias eficazes, assim como a Neurociência, a fim de alcançá-los em suas limitações. Por outro lado, os autistas também apresentam inúmeras habilidades que devem ser também estimuladas e trabalhadas por meio de estratégias, para que tenham a chance de obter seu espaço dentro da comunidade.

Acredita-se que a Neurociência possa servir de ferramenta importantíssima no processo de ensino aprendizagem, bem como descobrir grandes avanços para o desenvolvimento de pessoas autistas.

A Neurociência busca desvendar o desenvolvimento humano, bem como seus desvios, numa perspectiva de processo evolutivo da espécie, e evolutivo individual, além de sócio-histórica.

Não se dá por encerrado este artigo com a esperança de ver futuros estudos acerca do autismo e professores executando trabalhos efetivos nas escolas amparados por cursos e profissionais experientes e capacitados, trazendo sentido e nova realidade à vida dos autistas.

Conclui-se que a aprendizagem ao contrario do que pensam muitos responsáveis, não depende só das condições internas inerentes ao individuo que aprende. Ela constitui o corolário do equilíbrio de tais condições internas de aprendizagem com as condições externas de ensino inerentes ao individuo que ensina. Piaget nos ajuda a compreender, a adaptação a situações e exige um equilíbrio e uma organização entre o processo de assimilação do exterior para o interior e de acomodação do interior para o exterior.

Referências

BANKS, L. L. (Org.). Piaget e a escola de Genebra. São Paulo: Cortez. 2002.

BARBOSA, A. M. (org.). O papel do professor frente à inclusão de crianças com autismo. UNEAL – 2013. Disponível em: http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2013/7969_6165.pdf. Acesso em 28/jul. 2017.

BEAR, M. F. CONNORS, B. W. Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

COLL, C; PALACIOS, J; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação. Necessidades Educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2004.

FELICIO V. C. O autismo e o professor: um saber que pode ajudar – trabalho de conclusão de curso. Bauru: Universidade Estadual Julio Mesquita; 2007. Disponível em: https://www.passeidireto.com/arquivo/2737806/o-autismo-e-o-professor—um-saber-que-pode-ajudar. Acesso em 12 jul. 2017.

FRANÇA, K. M, SILVA, A. C, MARCELINO, R. O. Intersetorialidade: uma experiência clínica no acompanhamento de uma criança autista na escola. Em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/7mJZxIvV5NWU8Um_2014-4-16-0-53-3.pdf. Acesso em 28 jul. 2017.

GAUDERER, E C. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento Uma atualização para os que atuam na área: do especialista aos pais. São Paulo: Sarvier, 1985.

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SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007.

[1] Licenciado em Matemática pela Universidade Guarulhos, Pós-Graduado em Pedagogia com administração e supervisão escolar, Pós-Graduado em Matemática, Pós-Graduado em Docência do ensino Superior pela Universidade Iguaçu (UNIG). Experiência profissional na Rede Pública e Privada de Ensino nas disciplinas de Matemática e Física – Atuou como Coordenador Pedagógico, Diretor e Vice-Diretor de Escola.

[2] https://neurosaber.com.br/artigos/o-que-e-neurociencia/

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Gutemberg Martins de Sales

Uma resposta

  1. Sou professora de História (aposentada), avó de uma criança com 8 anos portadora de TEA. Ótimo artigo, mas é necessário atualizar o texto quando compara autistas com “crianças normais”. O termo atual é “atípico” que é a pessoa cujo desenvolvimento neurológico ou intelectual se diferem do que é considerado padrão. Mas, como disse, é um ótimo artigo para esclarecer pais e professores.

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