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Docência e a incorporação das midias digitais no ensino fundamental II no Brasil: inovações e visão

RC: 147409
699
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/midias-digitais-no-ensino

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

CRUZ, Zuleica Oliveira [1], COSTA, Luciane Cunha da [2]

CRUZ, Zuleica Oliveira. COSTA, Luciane Cunha da. Docência e a incorporação das midias digitais no ensino fundamental II no Brasil: inovações e visão. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 08, Ed. 08, Vol. 02, pp. 192-207. Agosto de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/midias-digitais-no-ensino, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/midias-digitais-no-ensino

RESUMO

Sendo um dos organismos da sociedade civil, a escola é o local, por excelência, para o desenvolvimento do processo de transmissão-assimilação do conhecimento elaborado. Talvez, por isso que os profissionais de educação estejam enfrentando novos desafios na sua prática pedagógica com o advento das tecnologias digitais no espaço escolar. Atenta a esta nova realidade, este estudo procurou investigar de que forma o profissional de educação no Ensino Fundamental 2 está incorporando as mídias digitais no processo de ensino e conhecer as concepções dos docentes acerca da utilização de mídias digitais no cotidiano escolar, assim como identificar os principais obstáculos que tem este profissional em aliar a mídia digital à prática educativa, e analisar os princípios norteadores de práticas pedagógicas articuladas ao processo inovador de mídia digital. Para tanto, utilizamos, como metodologia, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa etnológica, levando em consideração o ProInfo (Programa Nacional de Informática na Educação) que foi responsável pela implantação do laboratório de informática na escola onde a pesquisa aconteceu motivada pela observação do ambiente.

Palavras-chave: Inovações, Mídias digitais, Prática educativa.

1.INTRODUÇÃO

A introdução da mídia no ambiente educativo é um fenômeno decorrente das transformações socioeconômicas que estão ocorrendo no mundo contemporâneo, marcado pela Era da Informação e pela Globalização. Nas últimas décadas, tem-se colocado a necessidade de sua adoção no ambiente escolar. Mecanismos internacionais ligados à UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e ao  Banco Mundial têm recomendado que sejam adotadas políticas educacionais voltadas para a sua inclusão, porque entendem que o processo de expansão das tecnologias na sociedade atual acabou criando uma série de demandas sociais, com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) exercendo “um papel cada vez mais importante na forma de nos comunicarmos, aprendermos e vivermos” (NETO CUNHA, 2020, p.185), e, ao mesmo tempo, seus efeitos têm exigido uma mudança de comportamento dos mercados e dos indivíduos, seus consumidores. Desse modo, as novas gerações estão sob pressão dos mercados, por conta de suas demandas que vêm determinando o que deve ser transmitido e consumido.

A escola, como espaço político, inserida em uma “polis”, ainda parece não acompanhar estas mudanças socioeconômicas que o mundo contemporâneo vem impondo a vida de todos, ou seja, ela parece estar desatenta as necessidades do mundo contemporâneo, embora a sociedade (polis globalizada) reconheça que a valorização das tecnologias, “já faz parte das atuais concepções culturais e sociais” (KENSKI, 2003, p.62). Neste caso, cabe questionar: por quais motivos as escolas ainda não se adequaram a nova realidade?

Ora, esta questão não pode ser refletida sem levarmos em consideração as palavras de Paulo Freire, quando dizia que “educar é um ato político”, retomando as palavras de Aristóteles que, segundo a tradição filosófica ocidental, teria afirmado que o homem é um ser político por natureza. Em outros termos, para responder tal questão precisamos entrar na ordem do político, principalmente, porque vivemos em um mundo cada vez mais globalizado e em um tempo histórico identificado como Era da Informação em que as fronteiras reais têm sido abaladas pela necessidade de se viver conectados a uma grande rede virtual chamada Web. Nesta perspectiva, pode se dizer que a tecnologia é parte da sociedade (globalizada ou em rede), por isso, “a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas” (CASTELLS, 2002, p.43).

Por esta razão, o propósito desta pesquisa é refletir sobre tal questão, tendo como objetivo principal descobrir quais são os motivos que levam a tal descompasso, ou seja, por que as escolas ainda estão desconectadas do mundo contemporâneo que está sob a égide da globalização e da Era da Informação?

A hipótese que se formulou a partir desta questão-problema, foi que o principal entrave para que ocorra tal descompasso seja a precarização da educação com a ausência de políticas consistentes (ou continuada), voltadas para a adequação das escolas neste mundo cada vez mais conectado pela rede mundial de informação (internet). E como chegar as evidências de tal hipótese?

A pesquisa procurou encontrá-las na mesma unidade escolar onde suscitaram a questão-problema e a hipótese. Em outras palavras, ela teve lugar no Centro de Atenção Integral à Criança (CAIC – Jorge Amado), instituição de ensino fundamental II que faz parte da rede municipal de ensino. As pesquisas bibliográficas e a pesquisa etnográfica compuseram a nossa metodologia, pois buscamos, primeiramente, verificar como as mídias têm sido introduzidas no país e, depois, observar como se deu o processo de inclusão das mídias na escola em questão, procurar comparar com o primeiro cenário com o intuito de conhecer a realidade local para compreender melhor os processos envolvidos.

Na época em que elas foram empreendidas, esta unidade escolar tinha um laboratório de informática, montado por meio de um projeto de informatização das escolas públicas, desenvolvido pelo Ministério da Educação. Diante daquele contexto, sem perceber toda a dimensão política que envolvia a questão, perguntávamos ainda: a) Por que alguns profissionais da educação têm dificuldades em conduzir suas práticas educativas moderadas pelos atuais suportes multimídia? Poderia ser uma falta de domínio da mídia digital? b) Qual é a concepção de ensino sobre mídia digital? Como isso ajuda (ou atrapalha) a classe? c) Por que as escolas têm mídias digitais, mas nem todos os professores as usam? d) O que significa inovar? (cf. CRUZ, 2017, p.13, tradução nossa).

Estas questões direcionavam a problemática mais para o campo pedagógico, envolvendo a resistência ao emprego das TICs no meio escolar por parte dos professores, no nosso caso específico, os de inglês como língua estrangeira. Fazendo uma revisão de literatura, nos deparamos com autores como Sousa, Moita e Carvalho (2011); Almeida (2000; 2003), Almeida e Moran (2005); Salinas (2004); Kenski (2003; 2007); Tedesco (2004; 2007; 2011); Brunner (2004); Lévy (2000; 2010); Prensky (2010), entre outros. Foram estas referências que nos levaram a compreender melhor que o papel das mídias vai além de atuar como fonte de inclusão de dados, já que a Era da Informação está causando uma súbita transformação nas relações econômicas em todo o planeta cujo impacto recai sobre o cultural e o social de cada país.

A pandemia de covid-19 e a mudança de governos interferiam drasticamente no processo da inclusão digital no ambiente escolar. Foi aí que tomamos consciência de que não se tratava apenas de problemas ligados às questões específicas ao trabalho docente, ou seja, da resistência à inclusão das TICs em sala de aula por parte dos professores de inglês língua estrangeira (sujeitos da pesquisa em questão), mas de um processo de precarização da educação pública no Brasil.

Portanto, este artigo traz uma nova abordagem que resultou da releitura da pesquisa apresentada na dissertação de mestrado em educação na Facultad de Ciencias de la Educación y de la Comunicación Social da Universidad del Salvador. Em outros termos, apresentamos aqui uma versão mais atualizada em razão da mudança no cenário político e social, e do cenário pós-pandemia. Aqui a discussão foi dividida em três seções principais como se verá mais adiante. Na primeira delas, discutimos sobre as questões ligadas ao trabalho do professor e as questões ligadas às políticas de inclusão das TICs no ambiente escolar. Já na segunda parte, o debate gira em torno da necessidade do letramento digital exigido pela sociedade globalizada. Por fim, nos dedicamos a discussão sobre a mediação do professor e o uso das mídias no espaço escolar.

2. O ENSINO E AS NOVAS TECNOLOGIAS ENTRE O POLÍTICO E O PEDAGÓGICO

O professor, nesse contexto, experimenta a necessidade de mudanças nos parâmetros educacionais relacionados ao uso da mídia na sala de aula. Mesmo sabendo que o trabalho didático vai além da tecnologia, com ou sem a presença dele, o professor consegue gerenciar sua turma. Mas é necessário ajustar-se para acompanhar as transformações que estão sempre evoluindo e, preparando-se para qualquer eventualidade presente na aula, porque “nenhum tipo de conhecimento, mesmo que pareça tão natural, por exemplo, quanto à teoria, é independente do uso de tecnologias intelectuais” (LÉVY, 2010, p. 75). “Sem dúvida, a Internet já ocupa espaço vital como fonte de informações, tanto pela proliferação de mensagens via correio eletrônico, como através do precioso papel informativo alimentador de investigações e pesquisas, seu objetivo acadêmico inicial.” (BALARINE, 2002, p. 04). Portanto, “quando disseminadas socialmente, alteram as qualificações profissionais e a maneira como as pessoas vivem diariamente, trabalham, informam-se e se comunicam com outras pessoas e com o mundo” (KENSKI, 2007 p. 22). Diante disso, o setor educacional parte de experiências e situações reais que permitem a reflexão, adaptando-se às atribuições e impactos da mídia ou da internet e à percepção da complexidade vivenciada na “nova sociedade em rede” (CASTELLS, 2002, p. 371).

Desde os tempos antigos, o homem usava instrumentos audiovisuais para representar elementos, símbolos de domínios ou códigos sociais através do desenho, pintura, relevo em pedras e paredes. Um exemplo disso são os monumentos egípcios que foram manifestações dos primeiros recursos tecnológicos. Segundo Kenski (2007) “desde o início dos tempos, o domínio de certos tipos de tecnologias, bem como o domínio de determinadas informações, distinguiram os seres humanos. Tecnologia é poder” (p.15).

Com a criação ao longo dos anos de políticas educacionais, percebe-se um esforço para se melhorar o funcionamento do sistema educacional. Como consequência disso, “a educação no mundo e no Brasil vem sofrendo novas intervenções nos últimos 10 (dez) anos, no que se refere à presença e implementação de tecnologias recentes em educação” (SOUSA; MOITA; CARVALHO 2011, p.20).

A Lei 9394/96, de Diretrizes e Bases da Educação, havia estabelecido que todo o sistema educacional deve valorizar os profissionais da educação e garantir, por meio de estatutos e planos de carreira, o desenvolvimento profissional contínuo (Art, 67, Inc. II).  Isso obrigou os municípios, por meio das Secretarias de Educação e dos NTEs (Núcleo de Tecnologias Educacionais), responsáveis pela formação de professores em tecnologias digitais e pela formação pedagógica, garantir e assegurar o uso dessas novas tecnologias no universo escolar, uma vez que conhecê-los e dominá-los permite maior autonomia em seu uso.

No entanto, tornou-se necessário observar as concepções sobre o que são mídias digitais e suas contribuições na sociedade para que as absorções desses saberes fossem mais significativas no sentido de fomentar o surgimento de uma rotina pedagógica mais consistente e consciente, sobretudo, porque “este é um bom momento para refletir sobre se deve haver um campo dedicado ao ensino da gestão de TIC” (TEDESCO, 2011, p.184).

O Quadro 1 apresenta uma síntese do modo como alguns pesquisadores do assunto vêm lidando com as mídias digitais em seus estudos, observando, especialmente, qual o papel desses novos saberes e como as escolas e seu corpo docente devem agir diante dessa nova demanda sociocultural na vida do homem contemporâneo nessa nova Era, a Era da Informação.

Quadro 1- As percepções teóricas e pedagógicas das TIC’s

Autor Visão Sobre Mídia Digital Mídia na escola Papel Docente
Kenski Engloba a totalidade de coisas que a engenhosidade do cérebro humano conseguiu criar em todas as épocas, suas formas de uso e suas aplicações…serve para informar e comunicar. Se faz necessário é que a escola e os professores compreendam os espaços pedagógicos que se abrem com essas relações e comecem a utilizá-los. É preciso saber usar pedagogicamente as mídias, as redes com alunos de diferenciados níveis, e isso se aprende na escola.
Levy

 

Refere-se ao suporte ou veículo da mensagem. O impresso, o rádio, a televisão, o cinema ou a Internet, por exemplo, são mídias. A escola do futuro será a escola social, onde a aprendizagem será colaborativa. o professor precisa se capacitar, porque ele só pode ensinar aquilo que ele domina. O professor também tem que se esforçar. Utilizar isso para si próprio.
Tedesco São consideradas TICs, às redes de informáticas e dispositivos que interagem com elas. A escola pode ajudar a criar estes valores (justiça social, solidariedade, coesão e respeito pela diversidade) exercendo um papel de contracultura à cultura dominante da sociedade atual. Dependerá do docente e de sua estratégia: estar introduzindo estratégias de ensino que promovam a aprendizagem participativa do aluno.
Dussel y

Quevedo

A partir da venda de serviços Internet até o desenvolvimento de jogos. Muda a dinâmica de trabalho, a ideia de cultura, bem como a relação de alunos e professores com o conhecimento e a forma de produzi-lo. Embora eles estejam conscientes de que deve se curvar aos tempos modernos, há alguns professores que não querem saber de nada com as novas tecnologias, eles acham que é apenas uma mudança de formas… O verdadeiro problema é o mau professor, com ou sem máquina.

Fonte: Adaptado de Cruz, 2017 (original em espanhol).

Apesar das questões acima estarem no centro das preocupações dos pesquisadores, elas chegam a passos lentos nas escolas porque há um descompasso muito grande entre teoria e a prática que se encontra num período de introdução das mídias como recurso ou suporte pedagógico. Por outro lado, as leis que asseguram o uso dessas novas tecnologias no ambiente escolar deveriam assegurar antes a formação continuada dos professores, pois ela tornaria o desempenho deles bem maior do que apenas colocar computadores em um espaço e chamar de laboratório de informática.

3. O ESPAÇO ESCOLAR E A NECESSIDADE DO LETRAMENTO DIGITAL

A partir do século XIX, houve um salto muito rápido nas (TICs) Tecnologias da Informação e Comunicação em todas as instâncias sociais, inclusive na organização educacional. Um bom exemplo dessa evolução foi a criação do livro didático, que vai da escrita em papiros até o livro digital em nossos dias. Outra inovação que trouxe essa revolução é a rede. A conexão de banda larga permite que todas as pessoas do planeta, através de um clique em qualquer lugar do mundo, tenham informações ao vivo, notícias e troca de experiências. Através da rede, existe um alto nível de interatividade que permite a integração entre diferentes idiomas e também facilita o aprendizado de maneira virtual e aberta.

A escola não poderia ficar de fora dessa realidade. Pelo contrário, abriu novas possibilidades para ampliar o escopo da educação sem fronteiras. Como destaca Kenski (2007) “exposto na tela do computador, a escola é apresentada pela imagem virtual. Fluida, mutante, a escola virtual é um ícone de um novo tempo tecnológico no espaço educacional” (p.55).

4. OBSTÁCULOS PARA UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS DIGITAIS COMO RECURSO PEDAGÓGICO

No ambiente escolar, o professor deve ser o principal agente ou mediador entre o mundo, conteúdos (apresentados digitalmente ou não) e a atividade do aluno. Por isso, ele precisa estar atento à nova demanda, adquirindo esses novos saberes para atuar nessa nova realidade. Nestes termos, em 2015, empreendemos uma pesquisa que focou na maneira como o profissional da educação no Ensino Fundamental 2 estava utilizando, em sua prática educativa, os meios de informação digital. Por exemplo, se os recursos digitais estão presentes e como eles são introduzidos no processo de ensino-aprendizagem.

Preliminarmente, realizamos um estudo exploratório, mas de cunho bibliográfico referente às pesquisas ligadas ao tema. Foi neste estágio da pesquisa que encontramos os trabalhos de Salinas (2008), Kenski (2003, 2007), Lévy (2000, 2010), Prensky (2010), Saccol, Schlemmer e Barbosa (2011), Sousa, Moita e Carvalho (2011), Tedesco (2004, 2007, 2011), Dussel e Quevedo (2010) e Almeida (2000, 2003), Almeida e Moran (2005), entre outros. Em seguida, resolvemos acompanhar as atividades pedagógicas no CAIC (Centro de Assistência à Criança Jorge Amado), uma escola pública municipal localizada no interior da Bahia, na cidade de Itabuna, onde um espaço digital para inclusão das novas tecnologias havia sido criado. Nesta unidade escolar, havia também um corpo docente considerável no seguimento do ensino fundamental 2.

Com base nessas observações e nas pesquisas bibliográficas, decidimos elaborar questões para serem utilizadas em entrevistas com tais professores, as quais seriam usadas para coletar os dados da pesquisa. No cenário nacional, encontramos os dados que aparecem no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Atividades pedagógicas realizadas com os alunos e atividades realizadas com mídias digitais

Fonte: Brasil (2018).

Ora, estes dados estatísticos mostraram que o problema não está em equipar as escolas com tecnologias e internet, mas em promover a formação continuada do professor para que ele possa introduzir com segurança e eficiência esses novos saberes que a vida contemporânea exige, já que não se trata apenas de incentivar os alunos a usar mídia digital durante as aulas, mas de planejamento e formação docente continuada para que os professores utilizem os recursos digitais com mais propriedade e segurança.

Nas escolas particulares, os educandos usam muito mais a mídia digital na sala de aula para pesquisar as atividades da escola, porque já têm habilidades com o uso das tecnologias por questões ligadas a fatores socioeconômicos. Naquele momento, quando a pesquisa foi realizada, a tecnologia mais utilizada, segundo os entrevistados, era o MP3 player e, em segundo lugar, o projetor multifuncional aparece como recurso mais usado.

Já aqueles dados que foram obtidos na unidade escolar em questão, apresentaram as seguintes informações:

Gráfico 2: Actividades realizadas en el LABIN por los docentes[3]

Fonte: Cruz (2017, p.120).

Gráfico 3 – Uso do Labin

Fonte: Cruz (2017, p.119).

De acordo com as informações obtidas nesta unidade escolar, mesmo se houver mídia educacional digital no espaço escolar, ela é pouco utilizada por várias razões, dentre as quais elencamos:

  1. O tempo é limitado para ser usado durante as aulas e no planejamento;
  2. Falta de suporte técnico e interesse em buscar mais informações sobre os benefícios de algumas mídias digitais nas aulas;
  3. Não possui domínio da máquina;
  4. Falta de equipamento suficiente para o uso de todos os professores;
  5. O número de máquinas na sala de computadores não é compatível com o dos estudantes;
  6. Quando um filme ou música é apresentado, os alunos não prestam atenção;
  7. Existe medo de se abrir para o ‘novo’: você não sabe o que encontrará à sua frente, talvez tenha medo, porque precisará sentar-se para aprender a dominá-lo e esse pode ser um dos grandes obstáculos.

Dentre todos esses pontos, o de número 1 é único que contradiz todos os outros, talvez, porque ele demonstre uma falsa realidade. E este fato se deve porque o real motivo aparece no ponto 7.  Neste caso, a questão pode ser interpretada como tempo para se aprimorar e tempo para incluir as mídias no planejamento pedagógico escolar. A pandemia de covid-19 fez com que os sistemas educacionais tivessem que utilizar as mídias para manter a operacionalização de suas atividades, demonstrando a necessidade dos suportes digitais no ensino em todos os níveis da educação.

Ora, estas informações demonstram o quanto a formação docente continuada é necessária e importante, pois muitos desses problemas verificados são resultantes da ausência de uma política mais consistente no que se refere à fomentação e difusão das mídias no ambiente escolar. Nestes termos,

Para viver, aprender e trabalhar em uma sociedade cada vez mais complexa, rica em informações e baseada no conhecimento, estudantes e professores devem usar a tecnologia efetivamente, porque em um ambiente educacional qualificado, a tecnologia pode permitir que os alunos se tornem : usuários qualificados de tecnologias da informação; pessoas que pesquisam, analisam e avaliam as informações; solucionadores de problemas e tomadores de decisão; usuários criativos e eficazes de ferramentas de produtividade; comunicadores, colaboradores, editores e produtores; cidadãos informados, responsáveis ​​e contribuintes. (UNESCO, 2009, p.1).

Esta nova realidade tem impulsionado, portanto, o aparecimento de novas mídias digitais, as quais estão sendo criadas e incluídas no contexto educacional. Todos os dias, a virtualização do ensino cresce, expande, atualiza, é aperfeiçoada em uma sociedade da informação. Ter uma mente inovadora para sair do que é concebido como educação tradicional, sem desprezá-la, mas melhorá-la, é essencial para o professor. Por isso, Dussel e Quevedo (2010) alertam que:

Algumas questões das mudanças parecem positivas e outras serão analisadas com cautela. Os computadores são marcados pelo mundo do entretenimento, redes sociais e consumo cultural que coloca grandes indústrias; e que ele também entra na classe muito mais forte do que antes. A fronteira entre a escola e as zonas extracurriculares nunca foi muito firme, mas hoje é claramente mais porosa. (p.40)

Assim, a pesquisa sobre como o meio digital participa do Ensino Fundamental 2, com foco específico na sala de aula, serviu para apontar caminhos para uma mudança na posição do professor, uma vez que, independentemente dos meios tecnológicos que ele possui, a geração de conhecimento deve ocorrer em meio de tanta informação, embora seja essencial que esse mediador esteja aberto a novas formas de educar e com o objetivo de buscar competências para superá-lo nos desafios que a educação ‘nova e velha’ articula em todos os momentos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No período em que a pesquisa foi realizada, a impressão que se tinha era que o professor da escola de ensino fundamental estaria usando muito pouco o suporte digital em sala de aula, seja por falta de gerenciamento de tecnologia, seja por falta de interesse em planejar e ter que preparar aulas usando a tecnologia como suporte. Mas este estudo demonstrou que uso do meio digital em sala de aula vem exigindo requisitos básicos para sua realização e desempenho adequado.

Neste caso, observamos: a) O professor precisa estar preparado para usar os meios educacionais disponíveis em sua escola; b) A mídia digital precisa estar disponível e programada adequadamente para uso no dia solicitado; c) O professor precisa dominar a máquina e os dispositivos tecnológicos para planejar o que pode ser oferecido por eles; d) O professor deve estar preparado para o inesperado. A tecnologia escolhida parou de funcionar repentinamente; o professor deve ter outro plano em breve para que a aula aconteça, para que a qualidade do ensino não se perca.

Em suma, o perfil do professor precisa mudar para que as novas práticas e rotinas sejam incorporadas ao fazer da docência. Mas para que isso aconteça, será preciso que se crie as condições necessárias para a sua atuação. Foi com esse intuito que realizamos a presente pesquisa, buscando contribuir com a discussão e com o advento de políticas públicas atentas a esta nova realidade que surge com o advento da Era da Informação.

REFERÊNCIAS

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BALARINE, Oscar Fernando Osorio. Tecnologia da informação como vantagem competitiva.  RAE-eletrônica, V. 1, N.1, jan-jun, 2002. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/raeel/a/MbDTtvr8BnJ8H4zQDvwrnVR/?lang=pt&format=pdf>. Acesso em: 15 mar. 2023.

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CRUZ, Zuleica Oliveira. Docencia y la incorporación de los medios digitales en la Educación primaria 1: Innovación y visión. Dissertação. (Mestrado em Educação). Universidad del Salvador Facultad de Ciencias de la Educación y de la Comunicación Social Buenos Aires, 2017.

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KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, (Coleção Papirus Educação), 2003.

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APÊNDICE – NOTA DE RODAPÉ

3.  Tradução: Atividades realizadas no Labin pelos professores.

[1] Mestra em Educação- Universidade Del Salvador- Buenos Aires; Pós-graduada em Técnicas e Métodos de Ensino- Universidade Salgado de Oliveira; Graduada em Pedagogia- Universidade Estadual De Santa Cruz; Graduada em Letras-Inglês- Universidade Estácio de Sá; Técnica em Administração. ORCID: 0009-0008-1305-053X. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8515633670634386.

[2] Orientadora. ORCID: 0000-0002-8002-6889.

Enviado: 23 de fevereiro, 2023.

Aprovado: 14 de maio, 2023.

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Zuleica Oliveira Cruz

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