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Libras uma Questão Identitária e Cidadã

RC: 16081
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CONTEÚDO

VIANA, Timóteo João Santos [1], SANTOS, Wandson Silva [2]

VIANA, Timóteo João Santos; SANTOS, Wandson Silva. Libras uma Questão Identitária e Cidadã. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 05, Vol. 06, pp. 34-47, Maio de 2018. ISSN:2448-0959

Resumo

O presente artigo buscar enveredar a tamanha importância da libras para a construção da identidade surda, apresentando também num aspecto histórico sobre a educação do surdo, considerando-se que inúmeras vezes são vistos como incapaz, portadores de patologias, e por isso, que levou a inclusão do surdo na sociedade a delongar este fato, ainda de evidenciar as inadvertências das principais formas da experiência de inclusão  no processo de ensino pelo meio do oralismo, e o progresso causada pela libras e pelas educação especial.  Outra questão primordial a se abordar é a identidade surda, como movimento escudado pelos mesmos, tal como quaisquer equívocos e ausência de conhecimento presente no dia a dia como a ideia de surdo-mudo e a marginalização, por meio dos estereótipos inseridos pela cultura ouvinte. Diante disso, realizaremos estas e outras abordagens sobre os sujeitos surdos, visto que a vivência dos surdos e aqueles que acabaram desenvolvendo determinado tipo de falha auditiva, então através de uma análise bibliográfica, sendo preciso assim, um estudo sua clareza para que testifique com respeito e da solidariedade para com o surdo contribuindo para o exercício da alteridade.

Palavras-chave: Libras, Estereótipos, Educação Inclusiva, História.

Introdução

Com o desenvolvimento e a implantação da Constituição Federal de 1988, a educação que antes era para poucos por não ser obrigatória, passou a ser um direito de todos e obrigatória para crianças entre 4 e 14 anos (pré-escolar e fundamental I e II), além de garantir o ensino médio dos 14 aos 16 anos. Anos depois em 1996 e 1997 com a promulgação da LDB (Leis de Diretrizes e Bases) e os PCNs (Parâmetro Curriculares Nacionais) surgiu uma nova forma de levar e construir a educação para os considerados diferentes, através da educação especial.

Atualmente essa questão da educação especial tem se expandido no século XXI, surgindo novas concepções de como se educar a criança considerada especial, essa nova concepção esta presente nas leis, como neste trecho da LDB, no artigo 59:

Os sistemas assegurarão aos educadores com necessidade especial: currículos, métodos, técnicas, recursos educacionais e organizações específicas para atender suas necessidades, terminalidade específica para aquele que não puderem atingir o nível exigido para conclusão do ensino fundamental em virtude de sua deficiência, e aceleração para concluir em menos tempo o programa escolar para os superdotados. (BRASIL, 1988, p.150)

Antes destas leis a criança com necessidade especial recebia sua educação formal em um estabelecimento de ensino chamado de escola especial, já que, neste local somente poderia estudar as crianças que tivessem algum tipo de necessidade especial, e muitas das vezes colocavam-nas nas escolas especializadas em ensinar as crianças que tivessem o mesmo tipo de necessidade, assim, os surdos e os deficientes auditivos frequentavam escolas que somente a eles, e os considerados normais que não possuíam nenhum tipo de deficiência eram colocados na escola regular.

Após a criação das leis a escola especial não foi extinta, mas, foi mesclada a educação regular, agora a criança com necessidade especial, segundo a lei, deve estar matriculada na escola regular e em turno oposto está estudando em uma escola especial, a constituição diz que é dever do estado: “Dar atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1998, artigo 208 parte III)

Esse procedimento implantado pelos governantes é de grande importância, visto que, a criança com necessidade especial precisa está se socializando tanto com os não deficientes, assim como, com os deficientes. Quando o surdo vai para a escola regular ele passa a construir uma socialização que se tornará importantíssima para o seu futuro, já que, ele como surdo terá que viver em um mundo onde o ouvinte é dominante, e a escola especial são descrita por muitos surdos, como sendo o ponto fundamental e primordial para o pleno desenvolvimento do surdo, no sentido cultural e pessoal, já que a aproximação da criança surda com outras crianças surdas e até mesmo com adultos surdos, construirá sua identidade, e sua compreensão de mundo.

Um olhar histórico sobre a educação do surdo

Para que possamos falar com mais propriedade sobre esse assunto da educação especial é preciso que se tenha um olhar e um pensamento reflexivo sobre sua história, como explica Pinto e Noronha (s/n p. 01):

Para que se possa falar em educação especial e educação inclusiva, é fundamental que se reflita a história, atitudes e formas de vida em sociedade e os produtos de escolhas culturais que atendem as necessidades dos homens, num determinado contexto, numa determinada época.

Ao fazer esta reflexão percebemos que o processo educacional e principalmente o processo de inclusão e de aceitação do indivíduo com deficiência foi conturbada e complicada ao longo da história humana, esses indivíduos sofreram muitos preconceitos e discriminações, que os colocavam como incapazes.

Na antiguidade, mais especificamente em Esparta, o preconceito, a discriminação e a exclusão eram quase totais, em Esparta de acordo com registros históricos existem na sociedade espartana as famílias chamadas de Homoio, (“os iguais”) quando estas tinham um filho, a criança era levada a um conselho que avaliaria a saúde da criança, caso não tivesse nada de “errado” com a criança ela era devolvida a família, porém, a criança que parecia fraca ou que tivesse algum tipo de deficiência, era levada para ser sacrificada, muitas das vezes era lançada ao mar ou jogadas de precipício. Tudo isso ocorria por que quando uma criança completava seus sete anos de idade ela era devolvida aos cuidados do estado espartano, pois os espartanos iriam treinar as crianças para aprender a guerrear, assim, crianças sem deficiência seriam excelentes guerreiros, já as que possuíam deficiência intelectual, visual, corporal, auditiva, e entre outros tipos de deficiência era vistas como incapazes de lutar e serviriam somente para prejudicar a sociedade, por isso, para o bem e o bom desenvolvimento do estado e da sociedade espartana era necessário sacrificar esses indivíduos.

Mas na antiguidade havia também aqueles que acolhiam e ajudavam os deficientes, isso acontecia em Atenas, onde eles eram amparados e protegidos pela sociedade, o interessante é observar que apesar de Esparta e Atenas serem cidades-estados de uma mesma região a Grécia antiga, eles tinham pensamentos diferentes em relação ao tratamento dos indivíduos que possuíam algum tipo de necessidade especial, sendo que, Atenas somente passou a ter um pensamento de inclusão após o surgimento da filosofia aristotélica.

Na passagem da antiguidade para a idade média, houve uma revolução do pensamento dos povos europeus em como tratar o deficiente, isso aconteceu por causa da cristianização da Europa através da Igreja católica, sendo que o cristianismo significou em diferentes aspectos, uma mudança na forma de compreender o mundo e as pessoas, sendo criado com isso um pensamento de caridade, humildade e amor ao próximo. A Igreja Católica passou a criar hospitais voltados para o atendimento de pessoas com deficiência, além de acolhê-las nas igrejas, porém, ao alcançar seu auge de dominação populacional já na no período da idade média, o pensamento católico em relação aos deficientes mudou, pois, pessoas surdas, cegas, mudas, deficientes físicas ou intelectuais, passaram a serem vistas como um “sinal da ira divina”, pois, acreditavam que a deficiência que essas pessoas possuíam era derivada dos pecados dos seus pais, assim, quando uma pessoa tinha muitos pecados os seus filhos eram punidos, e recebia a deficiência como punição, esse era o pensamento da época, os pais e a sociedade viam as pessoas deficientes como um fardo, já que muitas das vezes eles não poderiam trabalhar esse pensamento errôneo, levou os deficientes a derem discriminados, perseguidos e a serem excluídos socialmente, passando a serem marginalizados e a viverem na pobreza extrema.

O começo das mudanças significativas em relação à inclusão é datada a partir do século XVIII, onde ocorreu a mais importante inovação da visão sobre os deficientes, pois, antes desta época os deficientes eram tratados de forma homogênea, como se fossem todos igual, por isso a história dos deficientes se confunde ao longo da história antes do período conhecido como renascimento, assim, a história dos cegos, mudos, surdo e entre outros tipos de deficiência, eram bem parecidas,  podendo ser contada de forma homogêneo, como aqui foi descrita. Com o renascimento, surgiu a chamada certificação das coisas, ondes os problemas e as dúvidas eram analisados de forma teórico-prática através de estudos, deixando de lado os “achismos” e misticismos. Através desse pensamento começou a surgir novas ideias, passou se a pensar nos deficientes de forma separada e isso foi um importante avanço, devido que á partir disso passou-se a surgir metodologias específicas que ajudassem no desenvolvimento desses indivíduos, como por exemplo, a educação para surdos e cegos, e escolas somente especializadas em um tipo de deficiência.

Isso também marcou o início da educação especial, pois, havia uma preocupação em se ensinar os deficientes. Charles Michel I’Épée ficou marcado na história como a primeira pessoa a pensar sobe a educação dos surdos, sendo o criador do Instituto Nacional de Surdos – Mudos, em paris (primeira escola de surdos mudos do mundo), ele também passou a reconhecer os surdos como seres humanos, por reconhecer a sua linguagem, quebrando assim,  os velhos preconceitos derivados da idade média que dizia que os surdos não tinham alma por que não poderiam ouvir e nem falar as profecias religiosas. Ele também foi o idealizador de educação coletiva, onde surdo aprenderiam com outros surdos, mas, o mundo em 1880 passou por um retrocesso, pois, neste ano ocorreu o segundo congresso mundial de educação de surdos, em Milão na Itália, que considerou o oralismo como metodologia mais adequada para a inclusão dos indivíduos surdos na sociedade, deixando de lado a metodologia da linguagem de sinais, sendo a teoria do oralismo difundida por todo o mundo.

O Brasil também passou por esta transformação mais de maneira mais tardia, em 1954, surge o movimento das Associações dos Pais dos Excepcionais (APAE), que possibilitou o aumento do número de escolas especiais no país, mas, em um contexto mais amplo a verdadeira mudança somente veio com a criação da LDB e dos PCNs, influenciados pela declaração de Salamanca, essa declaração foi o marco mundial para que surgisse no mundo leis que regulamentassem a educação especial e a educação inclusiva como um direitos de todos os indivíduos portadores de alguma necessidade especial, além de ter influenciado em questões de direitos civis e sociais, como o direito e o trabalho.

Segundo a declaração de Salamanca:

O princípio fundamental desta linha de ação é de que as escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem-dotadas, crianças que vivem nas ruas e que trabalham, crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavoráveis ou marginalizadas. (1994, p.17-18)

É importante salientar que para que ocorra a educação inclusiva se torna necessário desenvolver métodos que consiga não somente acolher, mas também, desenvolver a criança, de forma completa.  Assim, o sentido de inclusão pode ser definido pelas palavras do filosofo Aristóteles: “tratar os desiguais de forma igual, se constitui em injustiça”, ou seja, a verdadeira inclusão acontece quanto tratamos os diferentes de forma diferente, já que tratar igual seria ou injustiça, isso parece meio contraditório, mas vejamos um exemplo, em certo momento do passado o surdo passou a ser tratado como “igual”, então começaram a lhe ensinar a falar para poder assim ser incluído na sociedade, mas essa igualdade se transformou em injustiça, já que muitos surdos não conseguiam falar corretamente ou compreender tudo que o ouvinte falava, prejudicando assim o seu desenvolvimento, e o principal objetivo do oralismo era curar o “surdo-mudo”. Mas foi somente no século XX, que se percebeu que deveriam tratar o surdo como diferente, pois ele é diferente e não igual, passou se então a ensinar os surdos através da língua brasileira de sinais.

Desse pensamento surge a relação entre educação especial e educação inclusiva, já que a educação especial trata o diferente de forma diferente, não excluído, mais incluído através de um tratamento especial, que se caracteriza, pela utilização de metodologias e didáticas diferenciadas como, a utilização, das libras, do Braille, de jogos específicos e etc. E ao longo da história é possível perceber que a educação especial, através das escolas possibilitou a primeira forma de inclusão significativa.  A educação para os portadores de necessidades especiais também se caracteriza como a melhor forma de inclusão social, com isso, a escola adquire uma responsabilidade muito maior, já que a educação atual prevê alunos deficientes estudando junto com os nãos deficientes na escola regular, proporcionando assim a inclusão como é prevista no contexto contemporâneo.

Escolas integradoras constituem um meio favorável à construção da igualdade de oportunidades da completa participação; mas, para ter êxito, requerem um esforço comum, não só dos professores e do pessoal restante da escola, mas também dos colegas, pais, famílias e voluntários. A reforma das instituições sociais não só é uma tarefa técnica, mas também depende, antes de tudo, da convicção, do compromisso e da boa vontade de todos os indivíduos que integram a sociedade (JANUZZI, 2004, p. 14).

Portanto, para que isso ocorra se torna necessário que as escolas regulares estejam reparadas para acolher estas crianças, a preparação parte dos gestores e dos professores, os gestores já têm consigo o apoio das leis que garantem à escola a autonomia de produzir meios que ajudem no desenvolvimento da criança na escola, como a acessibilidade, mas é o professor que tem o maior papel no sentido de inclusão, pois, é ele que estará constantemente em contato com a criança. Mas a maioria dos professores não sabem lidar com uma criança com deficiência em sala de aula, muitos por estarem despreparados, e isso, leva a insegurança e ao medo, percebendo isso os governantes começaram a incentivar a e propor leis que ajudassem os professores a se especializarem em educação especial, como a lei que obriga a universidade a colocarem a Libras e educação especial como matéria obrigatória dos cursos de licenciatura, além disso, é necessário que gestores proponham rodas de discussões e seminários para ajudar na parte psicológica dos professores. Tudo isso é de grande importância para que ocorra a inclusão de qualidade.

A vivência escolar tem demonstrado que a inclusão pode ser favorecida quando observam as seguintes providencias: preparação e dedicação dos professores; apoio especializado para os que necessitam; e a realização de adaptações curriculares e de acesso ao currículo, se pertinentes (CARVALHO. 1999 p. 52).

Além de tudo isso, a família tem um dos papéis mais importante s para que ocorra a inclusão, já que o primeiro contado social que a criança tem é a família, tendo ela o papel da educação formal e principalmente de ensinar a criança sobre a vida, como o que ocorreu com Shirley, que é deficiente auditiva, onde ela em seu livro, “Despertar do silêncio” descreve a importância do seu padrasto em sua vida, pois foi ele que a ensinou a gostar de ler e a escrever, ela diz em seu livro que: “Quando o conheci eu não conseguia me comunicar porque ele usava bigode, então ele sempre escrevia o que queria falar comigo, essa fase foi uma das melhores me trouxe segurança e mais certeza de minha existência.”.

A família é a primeira a descobrir a deficiência, tendo assim o papel de procurar meios de melhorar a vida futura do seu filho, como procurar médicos, para que passe por algum tratamento, no destino de promover o bem estar da criança, como a utilização do aparelho auditivo para o deficiente auditivo, a utilização de óculos para o deficiente visual, e a utilização de próteses para o deficiente físico, além de que a família é a responsável por procurar os direitos dos deficientes, que vão deste o auxílio da comprar de algum aparelho, o direito educacional e o social (trabalho e respeito) e tudo isso é garantido por lei.

Mas a grande maioria das famílias que possuem uma criança com deficiência, não busca a lei para ajudar seus filhos, muitos por não as conheces, podendo assim prejudicar o desenvolvimento da criança. De acordo com Batista e França. (2007), a vinda de uma criança com deficiência na maioria das vezes torna-se um evento bastante traumático e um momento de transformações, desconfianças e confusão. O modo como cada família lida com esse evento influenciará decisivamente na construção da identidade do grupo familiar e, logo, na identidade individual de seus membros.

A grande maioria das famílias acaba deixando a criança deficiente de lado, por medo, derivado dos achismos e misticismos históricos, pois, quando uma mãe e pai tem um bebê com deficiência, ele logo imaginar que a criança será incapaz, e nunca será autônoma sempre necessitando da ajuda deles, mas tudo isso é um equívoco já que as maiorias das pessoas que possuem necessidades educacionais especiais são muito inteligentes e vivem sua própria vida com autonomia. Contudo, estamos muito longe de alcançar a verdadeira inclusão.

Apesar de todo o discurso que cerca a educação especial e inclusiva, homogeneizando comportamentos e culturas, estamos presos nas amarras de velhos paradigmas que nos remete ao preconceito em relação ao que é diferente. A discussão sobre as diferenças demanda uma concepção de igualdade para que se possa pensar no eu e no outro na sociedade. E, para efetivar as possibilidades para uma educação inclusiva é preciso se resignificar enquanto pessoa rompendo barreiras (PINTO; NORONHA s/n. p. 5).

Portando, é necessário o respeito, mas vivemos em um país com uma educação de má qualidade para os considerados normais, imagina para os portadores de necessidades especiais que necessitam de muito mais ajudo, como metodologia diferenciada, e a acessibilidade estrutural nas escolas, através de rampas, salas modificadas e banheiros especiais, sendo que muitas das nossas escolas então “caindo aos pedaços” literalmente, sem carteiras, sem teto, e até sem quadros negros.

Mas, é preciso que os pais, professores, gestores, governantes, ONGs, ou seja, todas as sociedades se unam e acreditem que seja possível mudar a realidade e incluir verdadeiramente a criança  portador de deficiência na escola e na sociedade, pondo a teoria em prática, acredito que será possível, também veja que já avançamos muito, temos ótimos leis e pessoas dedicadas a inclusão.

Educação inclusiva: libras como uma forma de cidadania

O processo de inclusão das pessoas que possuem algum tipo de necessidade educacionais especiais em sala de aula é uma tarefa muito delicada e complexa, onde o profissional de educação terá que tomar os devidos cuidados para que não venha incluir um e excluir os demais, e ter a certeza que o aluno está realmente incluso e não integrado, especificando aqui a questão os surdos e o que mais ocorre é que muitas das vezes o estudante surdo até se comunica através da linguagem de sinais na sala multifuncional com o professor especializado, porém os demais docentes não sabe, pelo fato de não ter tido a disciplina de libras na sua graduação e às vezes por não querer uma formação continuada na busca por uma qualificação, assim o estudante estará em sua turma apenas integrada em sala, mas não inclusa e esse é o maior problema da inclusão do surdo, pois para que isso aconteça realmente era necessário que os professores e demais colegas soubessem se comunicar por meio da libras e diante destas questões se faz necessário desmistificar algumas questões acerca dos surdos.

A surdez é a perda total ou parcial quer seja de nascimento ou adquirida por isso é preciso esclarecer alguns equívocos muito corriqueiros no senso comum a respeito dos surdos cometido pelos ouvintes, principalmente nessa generalização ao pronunciar surdo-mudo, pois nem todo surdo é mudo e vice versa e isso também se vale de uma questão de identidade surda, visto que o surdo não fala por que nunca ouviu e isso não quer dizer que seus órgãos fonadores não estejam funcionando perfeitamente.

[…] a criança surda congênita, quando bebê, emite os mesmos sons que as crianças ouvintes. Porém, como não escuta os próprios gorjeios, eles se extinguem. Isso significa que a criança surda não é necessariamente muda, pois seus órgãos fonadores permanecem intactos. Ela não aprende a falar porque não ouve. Ainda hoje ouvimos a expressão “surda-muda”, como referência à pessoa surda, o que é um equívoco, pois ela pode não ser muda e adquirir a linguagem (LIMA; VIEIRA, 2006 apud, SANTOS 2009, p. 16).

Portanto é essencial ter em mente os domínios desses conceitos para que não venha cometer esses equívocos que contribui para o preconceito com os surdos que estão em busca da sua identidade que muitas vezes é marginalizada pela cultura ouvinte como corriqueiramente pessoas chamaram os surdos de “mudinho”.

Em certos casos as famílias possuem até boas condições financeiras, porém não tem instrução em relação à surdez, tratando como doença, e esta visão estão presentes no cotidiano de muita gente. Graças à imposição da cultura ouvistista, no qual possui uma ideologia discriminatória em defensa de uma sociedade oralizada deixando marcas iminentemente profundas e isso não foi algo que aconteceu de imediato, mas tudo isso traz consigo um ranço histórico sendo este um dos resquícios do congresso de Milão de 1880, acontecimento esse, no qual os adeptos da visão terapêutica da medicina proibiram os surdos de sinalizares, sendo obrigado a oralizar-se e tudo isso influenciou essa prática da oralização que segundo Gesser (2009), a oralização deixou marcas extremamente profundas na vida da maioria dos surdos, no qual a constante busca pela recuperação da audição e a elevação do desenvolvimento da fala vocalizada pelo surdo são elementos que traduzem vários sentimentos como opressão, privação, frustação, discriminação e não aceitação do diferente ocasiona tudo isso.

É preciso que a sociedade e autoridades políticas se coloquem no lugar das pessoas surdas ao ver sua identidade serem tomadas ao começar pelas escolas, pois a educação necessita desconstruir os vários preconceitos constituídos pela imposição do oralismo que é uma filosofia dominante, que permeou no século XIX e segue até hoje, em grande do mundo, sendo uma ideologia dominante da educação do surdo. A visão do sujeito surdo ali presente referente excepcionalmente uma dimensão clínica a surdez como deficiência, e os surdos como sujeito patológicos – numa perspectiva terapêutica.

Tendo visto isso, não é justo obrigar o surdo se tornar um ouvinte, o surdo é um sujeito surdo e a escola deve compreender esta situação que envolve a cultura e identidade surda. Sendo assim é primordial que se tenham condições dignas para uma educação de qualidade e inclusão dos surdos, mas para que venha acontecer, sobretudo é preciso, que eles tenham conhecimento de toda sua história, de luta e dessa relação de poder que estão envolvidas. A comunidade surda carece de se organizar, para que possa garantir todos seus direitos, uma vez que ouvintes e surdos dividem o mesmo espaço e hábitos na mesma sociedade.

Pelo fato de surdo e ouvintes encontrarem-se imersos, normalmente, no mesmo espaço físico e partilharem de uma cultura ditada pela maioria ouvinte, no caso do Brasil, a cultura brasileira, surdos e ouvintes compartilhavam uma série de hábitos e costumes, ou seja, aspectos próprios da cultura surda (FIGUEIRA, 2011, p. 40).

Portanto, seria sim, possível que convivessem bem ouvintes e surdos desde que houvesse respeito humano, é notório que um dos principais problemas é questão da não aceitação do diferente, obrigando a todo indivíduo devesse falar, em outra questão agora no viés econômico é que a dificuldade da inclusão de pessoa com necessidades especiais seria o não retorno lucrativo para o país e isso compromete os possíveis interesses políticos de um sistema capitalista.

No âmbito escolar como deverá ser feita essa adaptação? A escola deverá se adaptar aos surdos ou os surdos à escola? Para que realmente houvesse a inclusão seria necessário que todos aprendessem a se comunicar como eles, ou seja, falar em libras e isso deveria ser feito desde, a base escolar para que assim pudesse haver uma reeducação social, porém isso bastante complexo, pois surge a seguinte indagação será que o uso da língua de sinais atrapalha a oralidade em sala de aula? Segundo Gesser (2009), os oralistas convictos defendem essa tese, também a falta de interesse dos surdos aprender a lingual está intercalada aos castigos que a história da educação dos surdos tende a narrar e isso só auxilia no quesito da exclusão primeiro que nem todas as escolas particulares e principalmente públicas não possuem professores competentes para lhe da com está situação.

A sociedade hegemônica ouvinte alimenta esse preconceito quer seja no âmbito escolar ou social, no qual defende a tese do monolinguíssimo querendo criar um embate entre a língua portuguesa versus a linguagem em libras, no qual impede o uso da linguagem de sinais isso também é uma questão de se proibir o exercício de cidadania pelos surdos, mesmo sabendo da importância da língua portuguesa na escolarização e na vida do surdo como todas as pessoas ditas “normais”, porém dizer que a língua de sinais atrapalha a aprendizagem do surdo e da língua dominante é contribuir para a discriminação e a negação da realidade multilíngue.

Na verdade, o surdo não “sobrevive” se lhe for tirado o direito de usar a sua língua primeira em seus ambientes de convívio social tirar deles esse direito é tolher-lhes o próprio direito de cidadania (…) é sem a língua de sinais que o surdo não sobrevive na sociedade majoritária ouvinte (GESSER, 2009, p. 60).

Com isso é possível perceber que ao proibir o uso de uma língua remete a uma destruição cultural, por isso que as escolas deveriam incentivar o uso de libras a partir das séries iniciais e para que possam aprender desde cedo à aceitação das diferenças e também é fundamental a qualificação dos professores para que assim soubesse mediar.

Um surdo não é inferior a ninguém só por que não ouvir não quer dizer que possa fazer as mesmas coisas dos ouvintes vale ressaltar também que os surdos também se comunicam possuem a sua linguagem por que não aceitar, visto que libra já é considerada a segunda língua brasileira e é de grande relevância se estudar a cultura surda e entender que sua língua também é sua identidade e romper os estereótipos, pois o surdo ouve com os olhos e fala através das mãos, com isso é essencial que a família, é preciso que as escolas conscientizem e não pare de lutar contra os estereótipos que menosprezam essas minorias.

Considerações finais 

Em meio a toda essa discussão, é possível compreender a importância das libras para a formação do surdo, seja ela para o social ou para o pessoal, quando olhamos a história percebemos que o que mais prejudicou o desenvolvimento do surdo e do deficiente auditivo foi à utilização do oralismo como método de ensino, já que, o oralismo procurava curar os surdos torna-los normais, ou seja, ensina-los a falar, mas isso demorava muito e quando ele aprendia a falar, não conseguir desenvolve-la de forma clara.

Isso somente mudou no século XX, como o surgimento da educação especial, que implantou uma nova visão de como se ensinar o surdo, passando a ensina-los não mais através da oralidade, mas da língua de sinais, este foi o maior avanço conseguido pelos surdos e pelos deficientes auditivos deste a inclusão deles na educação.

As libras não possibilitou somente uma melhora na forma do surdo aprender, mas possibilitou o maior avanço, e o importante, que proporcionou o surgimento da identidade surda, pois antes no oralismo o surdo ou deficiente auditivo que aprendia a fala somente conseguia se comunicar se ele tivesse de frente com quem tivesse conversando com ele, já que, como o surdo não ouve ele tinha que fazer leitura labial, isso com o ouvinte, mas, e se dois surdos quisessem conversar? Seria extremamente difícil, pois, para que ele conseguisse fazer a leitura labial, era necessário que quem estivesse falando, falasse de forma calma e correta, mais um surdo não consegue estabelece certa coerência da linguagem, tornando assim, a conversa entre dois indivíduos surdos muito difíceis.

A libras é uma linguagem completa e por isso possibilita a interação linguística perfeita entre dois surdos, da mesma forma que acontece entre dois ouvintes, e a partir do momento que surdos e deficientes auditivos puderam se comunicar através da libras, pode surgir com isso as comunidades surdas, onde eles passaram a se comunicar e a trocar experiências, passando a surgir com isso, uma cultura surda ou identidade. Essa identidade surda possibilitou a eles a não somente serem vistos pela sociedade como pessoas normais, mas, também possibilitou a eles próprios a se verem como normais, como um ser capaz de fazer qualquer coisa, construindo assim sua cidadania diante da sociedade, deixando por de lado por definitivo os velhos achismos e preconceitos.

Referências

BATISTA, Sérgio Murilo Rodrigo; FRANÇA de Marcellino. Família de pessoas com deficiência desafios e superação Revista de divulgação técnico-científica do ICPG Vol. 3 n. 10 – jan.-jun./2007 ISSN 1807-2836.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.

CARVALHO, Rosita Elder. O Direito de Ter Direito. In: Salto para o futuro. Educação Especial: Tendências atuais/ Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEEP, 1999.

FIGUEIRA, Alexandre dos Santos. Material de apoio para o aprendizado de libras. São Paulo: Phorte, 2011.

GESSER, Audrei. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

JANUZZI, Gilberta de Martinho. A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do século XXI. Campinas. Autores Associados, 2004.

PINTO, Cibele Lemes; NORONHA, Eliane Gonçalves. Educação Especial e Educação Inclusiva: Aproximações e Convergências. S/N.

DECLARAÇÃO de Salamanca sobre Princípios, Política e Prática em Educação Especial. Salamanca: S.l., 1994.

SANTOS, Elias Souza dos. Comunidade surda: a questão das suas identidades. In: DÍAZ, F., et al., org. Educação inclusiva, deficiência e contexto social: questões contemporâneas [online]. Salvador: EDUFBA, 2009.

[1] Acadêmico de Matemática no Centro Universitário AGES m

[2] Acadêmico de História no Centro Universitário AGES

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Wandson Silva Santos

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