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A cegueira botânica no ensino de biologia: Um relato de caso

RC: 40082
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

AZEVEDO, Hugo José Coelho Corrêa de [1], RIBEIRO, Sílvia Arcanjo Carlos [2], SÁ, Natália de Paula [3]

AZEVEDO, Hugo José Coelho Corrêa de. RIBEIRO, Sílvia Arcanjo Carlos. SÁ, Natália de Paula. A cegueira botânica no ensino de biologia: Um relato de caso. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 10, Vol. 11, pp. 129-136. Outubro de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/cegueira-botanica

RESUMO

O ensino de botânica encontra-se muitas das vezes altamente conteudista e pouco proveitoso na relação aluno-objeto de estudo, acarretando aos discentes inúmeras dificuldades em observar a biodiversidade vegetal como seres vivos pertencentes a biosfera. Esse evento se chama plant blindness e possui nocividades para o ensino de biologia e torna-se presente em todo o ensino e também no âmbito social. O presente artigo, relata o caso de uma pesquisa intervencionista realizada com alunos do 1º ano do ensino médio de uma escola pública do interior do estado de Minas Gerais/Br, onde averiguou-se a existência ou não desta dificuldade e o desenvolvimento de uma intervenção pedagógica com a finalidade de observar se houve mudanças.

Palavras-chave: Cegueira botânica, ensino em botânica, intervenção pedagógica.

INTRODUÇÃO

A botânica no ensino de biologia apresenta um elevado índice de rejeição tanto por docentes como por discentes, dado seu alto valor conteudista que preza a memorização (FARIA et al,. 2011), promovendo uma educação bancária que Freire (1996) critica e demonstra não ser proveitosa na relação de ensino-aprendizagem. Além, de conteúdos genuinamente simbólicos, limitados as informações presentes apenas nos livros didáticos. Quando o conteúdo é meramente simbólico e existe uma linha de diferença entre o conceito e a realidade cotidiana, o ensino não cumpre sua função. A não promoção da realidade escolar junto à realidade do indivíduo acaba desfavorecendo uma visão integradora (CHASSOT, 2003). Porém não é apenas esta, mas também outras áreas da biologia (e.g. zoologia) sofrem com esta configuração de ensino (OLIVEIRA&SOUZA, 2014).

A falta de interesse em aprender sobre Botânica está enraizada, pode-se observar tal fato nos relatos dos próprios alunos, que consideram as plantas apenas como objetos de decoração (ARRAIS et al, 2014), ou seja, não considerando-as na ótica de seres vivos e muito menos como componentes de uma biodiversidade. Esta falta de visão acerca das plantas como seres vivos promove uma problemática chamada de “Plant blindness”.

Descrito por Wandersee et al., (2001), o mesmo relata o “plant blindness” ( traduzido para o português como cegueira botânica) como a falta de habilidade de observar organismos vegetais como seres vivos pertencentes a nossa biosfera e até mesmo como componentes da biodiversidade do planeta. Deixando de ser assim apenas uma problemática social, mas tornando-se também um empecilho no ensino de ciências, onde os alunos terão seu primeiro contato formal com estes organismos. Allen (2003) reconhece este mesmo evento no ensino formal nos EUA, e ainda o considera nocivo em questões não apenas de reconhecimento das plantas como seres vivos, mas também no sentido de conservação, defendendo a necessidade de intervenções, para que a mesma seja sanada.

Strgar (2007) desenvolveu uma pesquisa acerca desta problemática, onde o mesmo conseguiu observar que a falta de interesse e estímulos sobre as plantas, auxilia no desenvolvimento da cegueira botânica, incluindo discentes do ensino superior em biologia, sendo este então um problema estrutural do ensino que acomete vários estágios da formação.

Francisco & Klein (2015) apontam em seus estudos que as aulas práticas são mecanismos para a mudança desta realidade. Pois buscam promover de forma construtivista a interação entre o indivíduo com seu objeto de estudo. Uma intervenção pedagógica com a finalidade de mostrar plantas diferentes do cotidiano com uma abordagem acerca da biodiversidade seria o mais próximo do ideal para se desconstruir esta falta de habilidade de reconhecimento das plantas no dia a dia. Para isso, durante a disciplina de estágio supervisionado, fora realizado em uma escola do interior do estado de Minas Gerais uma intervenção acerca desta problemática.

Como descrito por Strgar (2007), há a necessidade de estimular os alunos a respeito do conteúdo. Para isso, utilizou-se um representante de Dionaea muscipula, tornando possível dar início a uma abordagem sobre as plantas e sua diversidade.

A Dionaea muscipula (Figura 1) é uma planta popularmente conhecida como “planta carnívora” dadas suas estruturas foliares em forma de armadilhas que tem por finalidade atrair e capturar insetos. Pertencente à Família Droseraceae, esta que possui outras espécies de “plantas carnívoras”, o gênero Dionaea é a que mais desperta curiosidades em meio popular. Sendo assim justificada sua escolha como representante vegetal para esta intervenção.

Sendo assim, o objetivo deste estudo de relato de caso, foi de verificar se os alunos do Primeiro ano de uma escola situada no Sul de Minas Gerais da cidade de Itajubá, possuíam uma dificuldade em reconhecer os organismos vegetais como seres vivos seguindo os pressupostos de Wandersee at al,. (2001). Além de observar de forma quantitativa, se o uso de intervenções pedagógicas pode atuar como auxiliares nesta dificuldade de acordo com Francisco & Klein (2015).

Figura 1: Dionaea muscipula 

(Fonte: Acervo Fotográfico dos Autores)

METODOLOGIA

A intervenção pedagógica foi desenvolvida em duas turmas do 1° ano do ensino médio, com o total de 45 alunos que apresentavam idades entre 14 e 16 anos de idade, nestas apresentavam-se alguns alunos em defasagem de idade.

Aplicou-se um total de dois questionários neste percurso metodológico. Sendo ambos possuindo o mesmo conteúdo (Anexo 1). A diferença entre eles, está no momento de sua aplicação, o primeiro questionário foi oferecido aos alunos antes da intervenção pedagógica acontecer, pedindo para que eles listassem um total de 10 seres vivos que eles compreendem como pertencentes da bioesfera, ou seja, como seres viventes em nosso planeta e participantes de ciclos naturais.

Logo após o recolhimento do primeiro questionário, iniciou-se a intervenção pedagógica com a apresentação de uma aula expositiva acerca da Dionaea muscipula (FIGURA 02), neste momento a identificamos como componente da biosfera, ao mesmo tempo em que indagações eram suscitadas aos estudantes: “Vocês conhecem esse ser vivo?”, “Sabiam que as plantas de maneira geral são seres vivos de suma importância?”, “Qual a importância das plantas pra manutenção da vida na Terra?”.

As variantes discursivas no momento da aula se basearam nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), onde é previsto enquanto documento nacional curricular a diversidade vegetal como conteúdo de saber escolar. Sendo assim, aspectos sobre a diversidade de formas, fisiologia, habitats, localidades, biogeografia, reprodução e fotossíntese foram alvos deste percurso intervencionista.

Após esta discussão a aula foi finalizada. Sendo retomada na próxima semana com a aplicação do questionário 2, o qual apresentava a mesma pergunta.

Figura 2: Início da abordagem com o uso da Dionaea muscipula

(Fonte: Acervo fotográfico dos Autores)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No questionário 1 antes da intervenção pedagógica, nota-se que houveram poucos alunos que lembraram de citar uma planta, como um dos 10 organismos solicitados para serem citados como componente da biosfera do planeta. Como podemos observar no gráfico 1:

Gráfico 1: Relação entre o número de alunos que citaram ao menos uma planta como integrante da biodiversidade do planeta no questionário 1.

(Fonte: Os Autores)

No segundo questionário, após a intervenção proposta, observou-se um aumento significativo do número de alunos que consideraram pelo menos uma planta como pertencente á biosfera do planeta. Como observa-se no gráfico 2:

No questionário 2 obteve-se os seguintes dados:

Gráfico 2: Relação entre o número de alunos que citaram uma planta como integrante da biodiversidade do planeta no questionário 2.

(Fonte: Os Autores)

Como observado nos dados acima, um número muito grande de alunos não reconheceu as plantas como seres vivos pertencentes a uma biodiversidade ou até mesmo como seres vivos no primeiro questionário. Esses dados corroboram com o que Wandersee et al (2001), configura como cegueira botânica, ou seja, a falta de habilidade de reconhecer as plantas como organismos. Não promovendo a eles uma visão integradora e crítica sobre os seres vivos.

É notável que majoritariamente, em ambos os questionários, os animais são os mais citados. Salatino & Buckeridge (2016) apontam esse cenário como um zoocentrismo. Que seria uma predileção por mostrar e exemplificar tudo com animais, inclusive no ensino formal, o que poderia exacerbar ainda mais o processo de cegueira botânica.

Após a intervenção pedagógica, nota-se que houve um aumento no número de alunos que reconheceram algum tipo de planta como pertencente a biodiversidade do planeta. O que também corroborou com os apontamentos levantados por Francisco & Klein (2015). Os quais diziam que uma intervenção pedagógica ajudaria a diminuir a cegueira botânica presente nos alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do relato apresentado, pode-se observar que o ensino de biologia deve dar maior importância as intervenções pedagógicas, seja tanto no planejamento e elaboração quanto na execução das mesmas. Tendo como base os exemplos citados, é de extrema importância que os educadores se lembrem que ao abordar o tema acerca da diversidade dos organismos demonstrem e evidenciem que as plantas são organismos vivos pertencentes a biosfera, não se limitando apenas a citar exemplos de animais. Além de tomar para si a responsabilidade depositada e atribuída ao professor que é de saber organizar, abordar e tornar o mais atrativo possível aos alunos conteúdos que contemplem a diversidade vegetal.

É importante assinar, que o conhecimento da diversidade dentro do consenso do aluno se torna de grande valor, uma vez que este também atua na sociedade enquanto cidadão, e como tal atuará em decisões coletivas acerca de temas como meio ambiente, reforma agrária e desmatamento. Entender que as plantas são organismos vivos e possuem sua função e importância dentro do ciclo da vida, pode ajudá-lo a tomar estas decisões mais consciente. Portanto, cabendo ao ensino básico contribuir com esta visão integradora.

Logo, esta e outras intervenções com a mesma finalidade devem e precisam ser repetidas nas mais diversas localidades do Brasil e nas demais séries do ensino básico, pois o tema diversidade biológica e vegetal permeia todas as séries desta etapa de ensino, sendo abordadas de maneiras e complexidades distintas. Por último se torna importante apontar a necessidade de análises múltiplas acerca de seus processos sobre o tema, como possíveis relações curriculares que podem estar atuando neste cenário, além da formação iniciar do professorado.

REFERENCIAS

ALLEN, W. Plant blindness. AIBS Bulletin, v. 53, n. 10, p. 926-926. 2003.

ARRAIS, M.; SOUSA, G. M.; MASRUA, M. L. A. O ensino de botânica: investigando dificuldades na prática docente. Revista da SBENBIO, n. 9. 2014.

CHASSOT, A. Educação ConsCiência. Santa Cruz do Sul: EDUNISC. 2003.

FARIA, G. R; JACOBUCCI, D. F. C.; OLIVEIRA, R. C. Possibilidades de Ensino de Botânica em espaço não-formal de educação na percepção de professoras de Ciências. Rev. Ensaio, Belo Horizonte, v.13, n.01, p. 87-104. 2011.

FRANCISCO, M.C. & KLEIN, T.A.. A importância modalidade prática na construção do conhecimento de biologia vegetal. XII congresso de ensino nacional de educação. 2015.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente. São Paulo: Paz e Terra, p. 25. 1996.

OLIVEIRA, L.S; SOUZA, M.L. Articulando o ensino de zoologia com a etnozoologia: análise de uma proposta educativa com estudantes do ensino fundamental.  Revista de Ensino de Biologia da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBENBIO), v. 7. 2014.

PEREIRA, A. B.; PUTZKE, J. Ensino de Botânica e Ecologia: proposta metodológica. Porto Alegre: Sagra-Luzzatto. 1996.

SALATINO, A; BUCKERIDGE, M. Mas de que te serve saber botânica? Estudos avançados, v. 30, n. 87, p. 177-196. 2016.

STRGAR, J. Increasing the interest of students in plants. Journal of Biological Education, v. 42, n. 1, p. 19-23. 2007

WANDERSEE, J. H.; Schussler, E. E. Towards a theory of plant blindness. Plant Science Bulletin. v. 47 (1):2-9. 2001.

APÊNDICE

Modelo do questionário 1 e 2

Turma: 1001 ( ) 1002 ( )

Dentro dos seus conhecimentos, cite 10 seres vivos que compõe a biosfera do planeta em sua opinião.

1__________________________

2__________________________

3__________________________

4__________________________

5__________________________

6__________________________

7__________________________

8__________________________

9__________________________

10_________________________

Obrigado!

[1] Especialista em Ensino em Ciências. Graduação em Ciências Biológicas -Licenciatura.

[2] Mestranda em Educação em Ciência. Graduada em Ciências Biológicas- Licenciatura.

[3] Doutorado em Geociências (PaleoBotânica). Mestrado em Botânica. Graduação em Ciências Biológicas (Bacharelado e Licenciatura).

Enviado: Outubro, 2018.

Aprovado: Outubro, 2019.

5/5 - (1 vote)
Hugo José Coelho Corrêa de Azevedo

4 respostas

  1. Artigo muito interessante como base metodológica para futuras pesquisas! Nunca tinha pensado em usar isso em minha sala de aula.

  2. Já tinha ouvido falar sobre cegueira botânica, mas não sabia que dava para transformar em um artigo, relato de caso muito legal de se ler!

  3. Parabéns aos autores por trazarem da sala da sala de aula e pesquisar na mesma um tema tão acadêmico é complexo que é a cegueira botânica. Irei experimentar a metodologia de vocês em minha sala. Abraços

  4. Eu conhecia esse evento mas não conhecia o nome cegueira botânica. Meus alunos tem isso! Irei fazer o recolhimento do conhecimento prévio deles !
    Obrigada !

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