REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

Condições de autocuidado relacionado à saúde sexual de puérperas adolescentes: revisão integrativa

RC: 128536
347
4.9/5 - (11 votes)
DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/saude-sexual-de-puerperas

CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

SERRANO, Anna Karolyne Soares [1]

SERRANO, Anna Karolyne Soares. Condições de autocuidado relacionado à saúde sexual de puérperas adolescentes: revisão integrativa. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 09, Vol. 08, pp. 122-135. Setembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/saude-sexual-de-puerperas, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/saude-sexual-de-puerperas

RESUMO

A adolescência, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, corresponde ao período da vida entre os 12 e 18 anos, é considerado um momento de descoberta que ocasiona um período de instabilidade emocional. Quanto mais cedo é a iniciação sexual, maior é a chance de ocorrer uma gravidez indesejada. Após o nascimento da criança, ocorre o puerpério, nessa fase a jovem passa por muitas adaptações físicas e emocionais. Dessa forma, a questão norteadora deste estudo é: O que a literatura científica aborda sobre as condições de autocuidado relacionado à saúde sexual de puérperas adolescentes? Sendo assim, o trabalho optou por estudos seletivos ao aspecto de educação sexual e reprodutiva de adolescentes e o autocuidado no período puerperal. O objetivo geral deste foi analisar na literatura científica as condições de autocuidado relacionado à saúde sexual das puérperas adolescentes. Trata-se de uma revisão integrativa de literatura nas seguintes bases de dados: Base de dados bibliográfica especializada na área de Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE). Para ter acesso a estas bases utilizou-se a Biblioteca Virtual em Saúde Pública (BVS), no período de agosto a setembro de 2021. Fizeram parte dessa pesquisa 10 artigos, que permitiram compreender a necessidade de ações de promoção a saúde para o autocuidado relacionado à saúde sexual das puérperas adolescentes. Evidencia-se, na literatura científica, além do desconhecimento das puérperas adolescentes sobre as condições de autocuidado referente à sua saúde sexual, como também a necessidade de ter mais pesquisas científicas sobre o assunto. Ao considerar a necessidade de aprimorar o conhecimento das adolescentes a respeito da saúde sexual, ressalta-se a pertinência da realização de atividades educativas a respeito da promoção da saúde sexual e reprodutiva. Destaca-se, entre os principais desafios encontrados pelas adolescentes no puerpério, o desconhecimento e despreparo para vivenciar uma mudança tão drástica em suas vidas.

Palavras-chave: Adolescente, Educação Sexual, Puerpério.

INTRODUÇÃO

O período de transição entre a infância e a fase adulta é denominado adolescência. Neste período da vida, ocorre a maturação biológica, psicológica e social dos indivíduos, além de ser uma fase considerada de conflito ou de crise. Constitui-se em um momento de descobertas, mudanças e escolhas, envoltas em um turbilhão de hormônios que, em conjunto, ocasiona um período de grande instabilidade emocional (LAGO et al., 2019; LIMA et al., 2017).

Os conflitos mais comuns no período da adolescência encontram-se relacionados ao campo da sexualidade e as mudanças corporais. Estudos comprovam que quanto mais cedo é a iniciação sexual, maior é a chance de ocorrer adversidades como, por exemplo, uma possível gravidez indesejada. Posteriormente ao nascimento da criança ocorre o puerpério, que é um processo que costuma ter aproximadamente uma duração equivalente de três meses. É nessa fase que a jovem incidirá por adaptações tanto físicas quanto emocionais, como também seu processo de ser criança/adulta e futura mãe. Caracteriza-se como um período de transição onde a mulher torna-se especialmente sensível e confusa, com o aparecimento de sintomas ansiosos e depressivos (LIMA et al., 2020; FREITAS et al., 2020).

Diante dessa realidade, a sexualidade deve ser um tema de discussão e debate entre pais, educadores e profissionais de saúde, tendo como objetivo encontrar maneiras de informar e orientar os jovens para que protelem ao máximo sua iniciação sexual, tenha responsabilidade, autoestima e pratiquem sexo com segurança. O enfermeiro então surge nesse cenário, não apenas como membro da equipe de saúde que executa suas tarefas assistenciais, durante o pré-natal, parto e pós-parto, mas também como um profissional com competências para ajudar e direcionar a adolescente diante dos conflitos que envolvem a gravidez na adolescência (LAGO, 2019).

Conhecer a magnitude da ocorrência atual de gravidez na adolescência, no país, constitui um passo importante para o fornecimento de dados para a construção de políticas públicas eficientes voltadas ao planejamento familiar e assistência materna infantil dessa população. Desse modo, é de suma importância para os profissionais de saúde entender o nível de conhecimento das adolescentes em relação a sua saúde sexual, visto que esse aprendizado pode contribuir positivamente na hora do acolhimento. Além disso, a partir deste domínio o profissional conseguirá criar um conjunto de ações de promoção de saúde, com o objetivo de trazer o mais cedo essas adolescentes para dentro dos serviços de saúde (MONTENEGRO et al., 2020).

Com base, nessas análises preliminares, o objetivo geral  deste foi analisar na literatura científica as condições de autocuidado relacionado à saúde sexual das puérperas adolescentes, baseada em evidências científicas comprovadas, e responder à pergunta norteadora sobre o que a literatura científica aborda sobre as condições de autocuidado relacionado à saúde sexual de puérperas adolescentes, avaliando os níveis de conhecimento acerca do assunto e selecionado o que pode ser trabalhado com esse grupo a fim de diminuir os agravos nessa população que muitas vezes tem vergonha ou receio de procurar pelos serviços de saúde. Espera-se então adquirir um suporte teórico para que a equipe da saúde da família possa promover ações de prevenção diante do assunto, com enfoque na melhoria da assistência prestada a essas adolescentes.

MÉTODO

Como método de estudo optou-se por revisão integrativa, a qual tem como objetivo agrupar e sintetizar resultados de pesquisas prévias sobre um tema específico, de maneira metódica e ordenada. É uma ferramenta para o aprofundamento do conhecimento da hipótese pesquisada, proporciona a condensação de diversos estudos publicados e conclusões gerais com referências a uma específica área de estudo.

A revisão integrativa colabora para uma possível influência positiva na qualidade dos cuidados prestados ao paciente. Percebe-se, então, que o resultado da utilização da revisão integrativa auxilia não somente no desenvolvimento de políticas, protocolos e procedimentos, mas também no pensamento crítico que a prática diária carece.

Para a construção da presente revisão integrativa foram empregadas todas as fases de uma revisão integrativa e como pergunta norteadora para o estudo foi escolhida: “O que a literatura científica aborda sobre as condições de autocuidado relacionado à saúde sexual das puérperas adolescentes?”.

Após a definição da temática, foram utilizados a fim de realizar as buscas nas seguintes bases de dados: Base de dados bibliográfica especializada na área de Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e o Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE). Para ter acesso a estas bases utilizou-se a Biblioteca Virtual em Saúde Pública (BVS) no período de agosto a setembro de 2021.

Os critérios de inclusão foram artigos na íntegra no período de publicação entre os anos de 2011 e 2021; estar disponível no idioma português e ter disponibilidade de visualização na íntegra nas bases selecionadas. Como critério de exclusão optou-se por não utilizar artigos que não respondessem aos objetivos do estudo, fora do período de publicação e cartas editoriais, dissertações, monografias, teses.

Após a seleção dos artigos, foi realizada uma leitura dos títulos e resumos de todos os artigos de forma criteriosa, a fim de constatar a adequação aos critérios de inclusão, passou-se, então, para a leitura na íntegra de cada artigo.

Para definição dos Níveis de Evidência os estudos foram avaliados visando determinar a confiabilidade para uso de seus resultados, contribuindo para conclusões que proporcionaram conhecimento atual sobre a temática. Para essa classificação, será utilizado a seguinte proposta como base: Nível I refere-se a resultados de meta análise de estudos clínicos controlados e com randomização; Nível II concerne à estudo de desenho experimental; Nível III trata-se de pesquisas quase experimentais; Nível IV corresponde a evidências obtidas de estudos descritivos ou com abordagem metodológica qualitativa e quantitativa; Nível V se refere a relatos de casos ou de experiências; Nível VI corresponde a opiniões de especialistas ou com base em normas ou legislação (GRUPO ÂNIMA EDUCAÇÃO, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A base de dados que foi encontrado maior número de artigos foi o LILACS, seguida pela base de dados BDENF e MEDLINE, sendo que foram incluídos 6 artigos encontrados na base de dados LILACS e 4 na BDENF, respeitando os critérios de inclusão e exclusão. Foram encontrados inicialmente 125 artigos, com os descritores utilizados. Na primeira leitura dos títulos foram excluídos 89 artigos, e na segunda leitura de resumos foram excluídos 26 artigos, sendo eles 6 artigos em inglês,12 fora do tema, 5 artigos repetidos, 03 artigos de revisão integrativa.

Dessa forma, restaram 10 artigos, que fizeram parte dessa revisão integrativa de literatura. Para uma melhor compreensão, os artigos selecionados foram organizados no quadro 1, quanto ao periódico em que foi publicado, título do artigo, nome dos autores, ano de publicação, objetivos da pesquisa inicial, metodologia e nível de evidência.

Quadro 1 – Classificação dos artigos e dos níveis de evidência

PERIÓDICO TÍTULO AUTOR/ANO OBJETIVO METODOLOGIA NÍVEL DE EVIDÊNCIA

 

LILACS Conhecimentos de adolescentes sobre métodos contraceptivos e infecções sexualmente transmissíveis

 

VIEIRA et al., 2021. Identificar os conhecimentos de adolescentes sobre práticas sexuais seguras e identificar as necessidades de informação dos adolescentes sobre infecções sexualmente transmissíveis e gravidez.

 

Estudo exploratório, transversal, descritivo e de caráter quantitativo IV
BDENF Educação em saúde sexual e reprodutiva do adolescente escolar

 

FRANCO et al., 2020. Relatar a experiência de estudantes do Curso de Enfermagem na implementação de intervenções educacionais para a promoção da saúde sexual e reprodutiva do adolescente escolar.

 

Estudo descritivo, tipo relato de experiência V
LILACS A gravidez na adolescência e os métodos contraceptivos: a gestação e o impacto do conhecimento

 

RIBEIRO et al.; 2019.  Avaliar o conhecimento de adolescentes gestantes sobre métodos contraceptivos. Estudo descritivo, exploratório, qualitativo IV
BDENF Conhecimento de escolares sobre infecções sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos

 

BRASIL, CARDOSO, SILVA, 2019. Avaliar o nível de conhecimento de escolares sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis e métodos contraceptivos. Estudo descritivo, exploratório, qualitativo IV
BDENF Autocuidado de adolescentes no período puerperal: aplicação da teoria de Orem

 

LIMA et al., 2017. Identificar o conhecimento de puérperas adolescentes sobre o autocuidado Estudo descritivo, exploratório, qualitativo IV
LILACS A Abordagem do Tema Sexualidade no Contexto Familiar: o Ponto de Vista de Mães de Adolescentes

 

SAVEGNAGO, ARPINI, 2016 Apresentar alguns aspectos referentes ao diálogo sobre sexualidade entre pais e adolescentes, a partir do ponto de vista de mulheres que possuem filhos(as) adolescentes. Estudo descritivo, exploratório, qualitativo IV
LILACS Diálogos sobre sexualidade na família: reflexões a partir do discurso de meninas

 

SAVEGNAGO, ARPINI, 2014  Conhecer como se apresenta a temática da sexualidade no contexto familiar de adolescentes de grupos populares. Estudo descritivo, exploratório, qualitativo IV
LILACS Maternidade na adolescência e apoio familiar: implicações no cuidado materno à criança e autocuidado no puerpério

 

VIEIRA et al., 2013. Identificar e analisar os sentidos do cuidado com a criança e do autocuidado no puerpério entre mães adolescentes, usuárias da rede básica de saúde, e os recursos disponíveis, em seu meio social, para a promoção e apoio ao cuidado materno e ao autocuidado.

 

Estudo descritivo, exploratório, qualitativo IV
BDENF Aspectos que influenciam a gravidez na adolescência

 

CORTEZ et al., 2013. Analisar os aspectos relacionados à gravidez na adolescência na área de abrangência de uma equipe de saúde da família no município de Divinópolis.

 

Estudo descritivo, exploratório, qualitativo IV
BDENF Educação em saúde com adolescentes: compartilhando vivências e reflexões

 

COELHO et al., 2013. Descrever experiências de educação em saúde em dois encontros

 

Estudo descritivo, tipo relato de experiência V

 

 

 

 

 

Fonte: Serrano, 2021.

Quanto ao ano de publicação, percebeu-se que a maioria dos estudos foram desenvolvidos no ano de 2013, com três publicações, seguido de 2019, com duas publicações. Os anos de 2021, 2020, 2017, 2016 e 2014 tiveram apenas um artigo publicado em cada ano. Os anos de 2011, 2012, 2015, 2016 e 2018 não apresentaram nenhum artigo publicado.

No que diz respeito à distribuição do local de publicação dos artigos selecionados, todos são nacionais, sendo que a maioria foram desenvolvidos no Rio Grande do Sul, tendo quadro de publicações e dois artigos foram realizados no Rio de Janeiro. Alagoas, Ceará, São Paulo, Minas Gerais e Piauí tiveram uma publicação em cada estado. Ressalta-se, o número expressivo de publicações desenvolvidas no Brasil, sendo que a maioria das pesquisas foram desenvolvidas na Região Sul.

Quanto a metodologia, a grande maioria dos estudos são descritivos, exploratórios e qualitativos, com um total de sete artigos. Duas pesquisas foram caracterizas como descritivas, do tipo relato de experiência e uma exploratória, transversal, descritivo e de caráter quantitativo. Dessa forma, os níveis de evidência dos estudos que compuseram a revisão integrativa da literatura consideraram a subjetividade do assunto relacionado as condições de autocuidado sobre a saúde sexual das puérperas adolescentes. Com base nas metodologias descritas, observou-se 8 evidências nível IV e 2 evidências nível V.

O estudo de Lima et al. (2017), realizado com sete puérperas adolescentes, identificou que elas têm conhecimento positivo sobre as principais medidas de prevenção de infecção puerperal, como a higiene íntima, cuidados com a ferida operatória e com as mamas e sobre os alimentos que devem ser consumidos no período puerperal. Entretanto, em algumas dessas ações de autocuidado, as participantes não souberam informar a sua verdadeira finalidade. Foi observado lacunas no conhecimento das puérperas adolescentes sobre a prática de exercícios físicos, a anticoncepção no puerpério, o retorno ao serviço de saúde e os benefícios da amamentação para a saúde materno-infantil, havendo uma carência de instrução sobre esses aspectos.

Foi percebido, por meio dos relatos das adolescentes, que elas preferem abster-se de alimentos de sua preferência em prol do bem-estar do recém-nascido, pois tudo o que a mãe come é transmitido ao filho pelo leite. Porém, elas parecem não ter consciência de que esses alimentos podem ser prejudiciais também para seu organismo, interferindo na recuperação do peso. Observa-se a priorização do cuidado à criança e o esquecimento ou desconhecimento do seu autocuidado. O puerpério é repleto de crenças e tabus, sendo destacado que no imaginário social da maternidade tem um enorme poder redutor sobre a condição da mulher, colocando-a como ser relativo ao filho (VIEIRA et al., 2013).

Além disso, as puérperas adolescentes possuem muitas incertezas quanto ao uso de anticoncepcionais, o tempo ideal para começar o uso e se há algum específico para esse período. É evidente a carência de informações sobre a sexualidade e a anticoncepção destas adolescentes, tanto no período pré-gestacional, quanto no pós-parto, o que coloca em risco a ocorrência de uma nova gravidez. Esta situação exige, portanto, uma solução emergente, que seria a orientação sobre o planejamento familiar em todo o ciclo gravídico-puerperal (LIMA et al., 2017).

Um estudo realizado em uma maternidade do Rio de Janeiro, com 25 puérperas adolescentes, com idade entre 13 a 19 anos, evidenciou que, apesar da gestação na adolescência, na maioria das vezes não ter sido planejada ela foi aceita pelas adolescentes entrevistadas, pois elas relatam ter responsabilidade o suficiente para cuidar de seu filho, mesmo sem conhecer devidamente o processo do cuidar. Deve-se considerar que as causas da gravidez na adolescência não se referem exclusivamente à desinformação sexual, mas também ao desejo de ter um filho na adolescência, seja para testar sua feminilidade ou pelo próprio desejo de ser mãe. Assim, são necessárias melhorias na preparação das puérperas adolescentes para a execução das ações de autocuidado no puerpério, de modo que este período possa ser vivenciado de forma saudável e tranquila (RIBEIRO et al., 2019).

Percebe-se a carência no conhecimento que envolve a temática da saúde sexual e reprodutiva por parte dos adolescentes e que a pobreza deste conhecimento se configura como uma grande vulnerabilidade para a gravidez na adolescência. Nesse aspecto, é de suma importância a promoção de saúde das adolescentes que tiveram uma gravidez nessa fase da vida e estão na fase de puerpério, de forma a abordar questões relacionadas, como a evasão escolar e riscos gestacionais, os quais são agravos bastante frequentes nessa população. Deste modo, não deve se restringir às atividades educativas de gravidez na adolescência apenas aos métodos contraceptivos, sendo que elas precisam de conhecimento no puerpério, quanto ao autocuidado (FRANCO et al., 2020).

A gravidez precoce e não planejada pode resultar em diversos desafios para a adolescentes puérpera, como sobrecarga psíquica, emocional e social para o seu desenvolvimento, contribuindo para alterações no seu projeto de vida futura, assim como na perpetuação do ciclo de pobreza, educação precária, falta de perspectiva de vida, lazer e emprego e consequentemente na busca de melhores condições de vida. Ainda, a gestação precoce pode trazer desvantagens na trajetória educacional, considerando o grande risco de evasão escolar, dificultando o retorno à escola. Mesmo que essa adolescente tenha a ajuda da família ela acaba se vendo na necessidade de exercer atividades remuneradas para complementar a renda familiar (RIBEIRO et al., 2019).

A adolescente que se vê diante de um filho recém-nascido passa por um processo de amadurecimento que se caracteriza pela busca da identidade, com envolvimento e integração de desenvolvimento físico, como psicoemocional, familiar e social próprio da fase em que se encontra. É uma fase de ambiguidade, na qual a adolescente se vê diante de responsabilidades e precisa assumir e desempenhar papéis de adultos, como realizar afazeres domésticos e cuidados com a criança. As vivências da maternidade pelas adolescentes trazem mudanças no seu modo de ser e pensar, tendo o aumento repentino da responsabilidade e o medo de não fazer as coisas certas e sentir-se velha (VIEIRA et al., 2013).

As adolescentes possuem dificuldade de cuidar do banho, do umbigo ou mesmo de lidar com situações como cólica, engasgo, choro e reconhecer as necessidades da criança, evidenciando que a adolescente se preocupa muito com a saúde da criança, mas se esquece do autocuidado no puerpério. Elas se veem como mães por meio de vivências no cuidado com o filho frágil e dependente, colocando-o como prioridade em suas vidas, estando em consonância com o valor social e moral do ser mãe na sociedade. A condição materna de ser continente às infinitas demandas da criança e a estrutura social de apoio têm reflexos nos sentidos que atribuem ao autocuidado no puerpério, sustentado no mesmo universo simbólico da maternidade (VIEIRA et al., 2013).

No entanto, de modo geral, as adolescentes puérperas negaram a possibilidade de uma segunda gravidez, pensando não ser possível por estar no puerpério ou por estar amamentando, evidenciando a falta de informação sobre a necessidade de anticoncepção no puerpério. Contudo, a maioria das adolescentes não pretendem ter mais filhos tão cedo. Muitas adolescentes puérperas mergulharam no presente sem se preocupar com o futuro, sendo que há dificuldades de expor um projeto de vida. Esta realidade leva a refletir sobre as ações preventivas e de promoção da saúde sexual e reprodutiva, as quais devem pautar-se pela ideia de desenvolvimento da autonomia das adolescentes, a partir das suas identidades, contextos de vida e necessidade sou pela repetição de conceitos formados e fracassados (COELHO et al., 2012).

O estudo de Savegnago e Arpini (2016), realizado no Rio Grande do Sul, com 17 mães de adolescentes, salienta como é importante que os pais dialoguem sobre sexualidade com os filhos e que essa conversa aborde assuntos como o autocuidado, principalmente com as adolescentes durante o puerpério. Também evidencia que tanto o pai quanto a mãe assumem um papel importante no desenvolvimento sexual de seus filhos e que o diálogo sobre sexualidade deve ser um compromisso de ambos, a conversa no âmbito familiar é o espaço mais seguro para o adolescente falar sobre seus anseios, dúvidas e questionamentos.

A mãe as­sume um papel importante quando se trata da abor­dagem do tema da sexualidade, uma vez que as adolescentes referem como a pessoa da família mais aberta para conversar sobre este assunto. Enquanto isso, o pai é visto pelas meninas como alguém indis­ponível para o diálogo relativo à sexualidade, tendo mais facilidade com os meninos. No entanto, observou-se a partir do discurso das adolescen­tes que os pais ainda não conseguem tratar deste assunto de forma direta, dire­cionada para as vivências delas. Assim, quan­do os pais abordam o tema com as filhas, geralmen­te o fazem sinalizando principalmente para o uso da camisinha e para a importância dos cuidados para evitarem doenças e outra gravidez (SAVEGNAGO; ARPINI, 2014).

Contudo, um estudo realizado com 153 adolescentes em uma escola do Rio de Janeiro, constatou que a respeito de com quem e onde os adolescentes procuram saber sobre relação sexual e prevenção, somente 35,2% responderam que dialogam com os pais sobre essa temática (BRASIL; CARDOSO; SILVA, 2019). Entretanto, o estudo de Vieira et al. (2013), com 13 adolescentes em São Paulo, reconheceu que o apoio social da família é de fundamental importância para promover a saúde da adolescente e de seu filho, durante o puerpério, garantindo o protagonismo da adolescente frente às vivências da maternidade. As práticas no cuidado pós-parto são transmitidas a cada geração por crenças e costumes. É principalmente no meio familiar que as mulheres buscam apoio e recursos para a prática do cuidado, aprendizado e adaptação.

Evidenciou-se que as adolescentes atribuem grande importância às conversas sobre sexualidade no contexto familiar, uma vez que destacaram que a ocorrência desses diálogos pode contribuir para diminuir a incidência da gravidez nessa faixa etária, além de terem na lembrança as recomen­dações dos pais na ocasião de sua iniciação sexual. A ausência de abertura para o diálogo a respeito do tema da sexualidade distância pais e filhos e pode gerar um sentimento de de­samparo nos adolescentes, uma vez que esse período é marcado por dúvidas, angústias e muitas transfor­mações no âmbito da sexualidade (SAVEGNAGO; ARPINI, 2014).

É de extrema importância a aproximação dos profissionais enfermeiros com o espaço escolar, enquanto educador em saúde a partir da operacionalização de ações para promover a saúde de grupos específicos como os adolescentes, conversando abertamente sobre sexualidade, prevenção de doenças, gravidez na adolescência e autocuidado no puerpério. É necessário promover um ambiente enriquecedor nas dimensões do conhecimento sobre a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, para eles possam atuar como sujeitos promotores do desenvolvimento em conjunto com outros profissionais da saúde e da educação, com medidas que proporcionem mudanças de realidades desfavoráveis, beneficiando a saúde e o bem-estar (FRANCO et al., 2020; VIEIRA et al., 2021).

Em concordância, Ribeiro et al. (2019) ressalta que há uma necessidade do enfermeiro, como educador, intervir de forma estratégica, desenvolvendo palestras em educação para a saúde que não sejam apenas ocasionais curativas e preventivas, assim como orientações que não só informem, mas também formem e eduquem pais e filhos, que abordem, além da anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor humano, as vivências emocionais, sociais e culturais, mostrando a realidade sobre a gravidez e puerpério na adolescência, visto que o índice de informações recebidas é insuficiente. Além disso, deve-se valorizar o discurso da própria adolescente sobre sua gravidez, visto que os desejos e fantasias destas adolescentes quanto à sua gravidez não são priorizados.

Nesse contexto, o enfermeiro se apresenta como instrumento primordial no processo de educação sexual das adolescentes puérperas, principalmente no que diz respeito ao autocuidado destas. É necessário fortalecer o trabalho de educação em saúde junto às adolescentes, buscando equidade em relação às práticas de saúde e de enfermagem, atentando para a importância dos fatores sociais e ambientais envolvidos no comprometimento da saúde, promovendo ações educativas de prevenção e orientação, visando a ajudar as adolescentes a lidar com a sexualidade com responsabilidade e a minimizar os agravamentos causados, seja pela gravidez precoce ou por infecção adquirida sexualmente (BRASIL; CARDOSO; SILVA, 2019).

Além disso, na fase de puerpério, é fundamental o acompanhamento do enfermeiro perante essa adolescente, estimulando o autocuidado e fornecendo informações, apoio e segurança para isso. Deve haver o incentivo a essas adolescentes para que se dirijam precocemente a Estratégia de Saúde da Família, a fim de buscarem orientações e um plano de prevenção adequado aos seus estilos de vida e rotina, mantendo o acompanhamento, visando a recuperação e prevenção de agravos. Torna-se de suma importância a orientação do enfermeiro quanto a prevenção de uma nova gravidez, instruindo e estimulando o uso de anticoncepcionais no puerpério (CORTEZ et al., 2013).

CONCLUSÕES

A realização deste trabalho, a partir da revisão integrativa de literatura, permitiu refletir sobre a sexualidade como um processo que surge na adolescência, devendo assim pensar num universo de desejos, excitações, descobertas e sentimentos. A gravidez e puerpério vivenciado na adolescência é uma realidade e não pode ser ignorada, devendo ser elaborado, discutido e construído a saúde sexual desde o início da adolescência, pelos pais, escola e enfermeiros, visto que a idade da menarca está ligada a inicialização sexual.

Evidencia-se, na literatura científica, o desconhecimento das puérperas adolescentes sobre as condições de autocuidado referente à sua saúde sexual, principalmente no que se diz respeito aos métodos anticoncepcionais no puerpério. Ao considerar a necessidade de aprimorar o conhecimento das adolescentes a respeito da saúde sexual, ressalta-se a pertinência da realização de atividades educativas a respeito da promoção da saúde sexual e reprodutiva. Essas ações devem valorizar o empoderamento das adolescentes, além da participação ativa em seu autocuidado.

Assim, pode-se concluir a partir da literatura científica que são necessárias melhorias na preparação das puérperas adolescentes para a execução das ações de autocuidado no puerpério, de modo que este período possa ser vivenciado de forma saudável e tranquila. Ressalta-se, entre os principais desafios encontrados pelas adolescentes no puerpério, o desconhecimento e despreparo para vivenciar uma mudança tão drástica em suas vidas. Dessa forma, os resultados alcançados no estudo podem servir como um norteador para os profissionais envolvidos no cuidado a esse público sobre suas principais carências e, então, serem usados como um subsídio para a remodelação das orientações oferecidas.

Por fim, entende-se que a gravidez nessa etapa da vida é algo preocupante para toda a sociedade e existe a necessidade de criar abertura para abordar tal tema dentro de casa e nos serviços de saúde, quebrando tabus relativos à questão e que a literatura científica atualmente aborda pouco sobre as condições de autocuidado em relação à saúde sexual de puérperas adolescentes. Deve-se fazer mais pesquisas que possam ampliar o conhecimento dos profissionais para garantia de segurança para as pacientes envolvidas se faz necessário para a melhoria dos indicadores em saúde atuais.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Marcela Estevão; CARDOSO, Fabrício Bruno; SILVA, Luanna Malafaia. Conhecimento de escolares sobre infecções sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos. Revista de Enfermagem UFPE on line, v. 13, p. e242261, 2019. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1051535. Acesso em: 24 nov. 2021.

COELHO, Manuela de Mendonça Figueirêdo et al. Educação em saúde com adolescentes: compartilhando vivências e reflexões. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 11, n. 2, p. 390-395, 2012. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1129809. Acesso em: 25 nov. 2021.

CORTEZ, Daniel Nogueira et al. Aspectos que influenciam a gravidez na adolescência. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, v. 3, n. 2, p. 645-653, 2013. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-734091. Acesso em: 24 nov. 2021.

FRANCO, Maurilo de Sousa et al. Educação em saúde sexual e reprodutiva do adolescente escolar. Rev. enferm. UFPE, p. 1-8, 2020. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1116175. Acesso em: 24 nov. 2021.

FREITAS, Daiany Paulino et al. A importância da enfermagem no processo de educação sexual dos adolescentes. Revista multidisciplinar em saúde, v. 1, n. 2, p. 126-137, 2020.

GRUPO ÂNIMA EDUCAÇÃO. Manual revisão bibliográfica sistemática integrativa: a pesquisa baseada em evidências. Belo Horizonte. 2014.

LAGO, Pamela, et al. A atenção primária em saúde como fonte de apoio social a gestantes adolescentes. Rev. Enfermagem Brasil. v. 18, n. 1 Minas Gerais 2019.

LIMA, Antonia; RIBEIRO, Taynara. Aspectos biopsicossocias na gravidez da adolescente e o período puerperio e puerperal. Rev.Sobre mulheres: as melhores coletâneas, 2020.

LIMA, Géssica Kyvia Soares de et al. Autocuidado de adolescentes no período puerperal: aplicação da teoria de Orem. Rev. enferm. UFPE on line, p. 4217-4225, 2017. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1032305. Acesso em: 24 nov. 2021.

LIMA, Maryama Naara Felix de Alencar et al. Adolescentes, gravidez e atendimento nos serviços de atenção primária à saúde. Rev. enferm. UFPE on line, p. 2075-2082, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/23361. Acesso em: 25 nov. 2021.

MONTENEGRO, Mariana et al. Estudo comparativo de gravidez em adolescentes e em adultas no Brasil: 2013 a 2017. Brazilian Journal of development, v.6, n.8, p.58102-58110, 2020.

RIBEIRO, Wanderson Alves et al. A gravidez na adolescência e os métodos contraceptivos: a gestação e o impacto do conhecimento. Nursing, v. 22, n. 253, p. 2990-2994, 2019. Disponível em: http://www.revistanursing.com.br/revistas/253/pg98.pdf. Acesso em: 24 nov. 2021.

SAVEGNAGO, Sabrina Dal Ongaro; ARPINI, Dorian Mônica. A abordagem do tema sexualidade no contexto familiar: o ponto de vista de mães de adolescentes. Psicologia: ciência e profissão, v. 36, p. 130-144, 2016. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-777569. Acesso em: 24 nov. 2021

SAVEGNAGO, Sabrina Dal Ongaro; ARPINI, Dorian Mônica. Diálogos sobre sexualidade na família: reflexões a partir do discurso de meninas. Psicologia Argumento, v. 32, n. 76, p. 57-67, 2014. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-754662. Acesso em: 24 nov. 2021.

SILVA, Mônica Magrini de Lima et al. Família e orientação sexual: dificuldades na aceitação da homossexualidade masculina. Temas psicol, v. 23, n. 3, p. 677-692, 2015. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v23n3/v23n3a12.pdf. Acesso em: 23 nov. 2021.

VIEIRA, Ana Paula Rodrigues et al. Maternidade na adolescência e apoio familiar: implicações no cuidado materno à criança e autocuidado no puerpério/Motherhood in adolescent and family support: implications in breast care and self-care in po. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 12, n. 4, p. 679-687, 2013. Disponível em: http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-38612013000400009. Acesso em: 24 nov. 2021.

VIEIRA, Kleber José et al. Conhecimentos de adolescentes sobre métodos contraceptivos e infecções sexualmente transmissíveis. Revista Baiana de Enfermagem‏, v. 35, 2021. Disponível em: http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2178-86502021000100314. Acesso em: 24 nov. 2021.

[1] Enfermeira, pós-graduanda em Saúde Pública e Gestão de Saúde. ORCID: 0000-0002-8563-2159.

Enviado: Junho, 2022.

Aprovado: Setembro, 2022.

4.9/5 - (11 votes)
Anna Karolyne Soares Serrano

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita