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Câncer: Repercussões psicológicas relacionadas com a trajetória da doença oncológica

RC: 43074
313
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO     

SILVA, Denílson Alves da [1], SILVA, Katia Andrade [2], PORFÍRIO, Regiane Baptista Martins [3]

SILVA, Denílson Alves da. SILVA, Katia Andrade. PORFÍRIO, Regiane Baptista Martins. Câncer: Repercussões psicológicas relacionadas com a trajetória da doença oncológica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 01, Vol. 02, pp. 31-43. Janeiro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/repercussoes-psicologicas

RESUMO

Introdução: O câncer é uma doença caracterizada pelo crescimento descontrolado de células que possuem a capacidade de espalhar-se entre os tecidos e órgãos. O diagnóstico do câncer gera sentimentos como insegurança e medo, devido ao fato de estar associado à finitude humana. Objetivo: Identificar, na literatura nacional e internacional, publicações sobre o câncer e as repercussões psicológicas no contexto da vida dos portadores. Método: Pesquisa descritiva, retrospectiva de análise quantitativa por meio de revisão narrativa de literatura. Resultados: Os resultados encontrados basearam-se na leitura dos 12 artigos selecionados. Discussão: O conforto do paciente com câncer depende dos cuidados da enfermagem com o ambiente, com comunicação verbal e não verbal, intervenções para aliviar a angústia, e manobras que objetivem minimizar seu sofrimento. Conclusão: Os enfermeiros devem se atentar repercussões psicológicas do câncer, com o intuito de elaborar estratégias de apoio aos pacientes, objetivando minimizar os efeitos causados pela doença e o retorno às condições psíquicas anteriores ao surgimento da doença.

Descritores: Oncologia, sobreviventes de câncer, trauma psicológico, transtorno de estresse pós-traumático.

INTRODUÇÃO

O câncer inclui um agrupamento de mais de 100 doenças determinadas pelo crescimento descontrolado de células que possuem a capacidade de espalhar-se entre os tecidos e órgãos próximos à estrutura afetada inicialmente. O câncer consiste em um grande problema de saúde pública, dado a sua relevância epidemiológica, social e econômica (BATISTA; MATTOS; SILVA,2015).

No Brasil, estima-se que até o final do biênio 2018-2019, aproximadamente 600 mil casos novos de câncer em cada ano serão notificados. Os tipos de câncer mais incidentes são os cânceres de próstata, pulmão, mama feminina e cólon e reto, porém o país ainda detém altas taxas de câncer do colo do útero, estômago e esôfago (INCA, 2017).

O câncer caracteriza-se como um episódio traumático específico por dois motivos: ameaça à vida e ameaça à integridade física. Os sintomas peculiares do estresse pós-traumático decorrente do câncer incluem revivência constante do evento traumático, fuga dos estímulos associados ao trauma, dificuldades para exteriorizar sentimentos em geral, e sintomas de excitação ampliados (ZANCAN; CASTRO, 2013).

No momento em que o paciente descobre estar com câncer, utiliza-se da  negação, que caracteriza-se como um mecanismo defensivo, quando o ego se faz uso para afastar um evento terrível e assustador que possa desestabilizá-lo, vinculado à ideia de que o câncer é um elemento gerador de desordem, frente ao estigma que ele carrega pelo fato de ser visto como enfermidade dolorosa e mortal (MACHADO;SOARES; OLIVEIRA, 2017).

Monteiro e Mangilli (2015, p.32), fazem referência aos estágios vivenciados pelos pacientes acometidos por câncer terminal, conforme segue:

Os pacientes terminais passam por cinco estágios caracterizados por atitudes especificas diante da morte e do morrer: choque e negação, ocorre quando se toma conhecimento de que está próximo a morte e se recusa a aceitar o diagnóstico; raiva: os pacientes sentem-se frustrados, irritados ou com raiva por estarem doentes; barganha: é nessa fase que o paciente tenta negociar sua cura com a equipe médica, com amigos e até mesmo com forças divinas, em troca de promessas; depressão: apresentam-se sinais típicos da depressão, desesperança, ideação suicida, retraimento, retardo psicomotor, e quanto ao corpo, como a antecipação à possível perda da vida; aceitação: quando percebe a morte inevitável e aceita a experiência como universal (MONTEIRO; MANGILLI, 2015 p.32).

O tratamento oncológico resulta também em repercussões pessoais. Conforme estudo realizado com pacientes que acessaram a Farmácia Central da Quimioterapia de um hospital universitário, localizado em um município do Estado de São Paulo, o câncer alterou a vida desses indivíduos que se encontravam em tratamento quimioterápico. Os dados do estudo demonstraram que o câncer, além de causar sofrimento e modificações no contexto de vida do paciente, provocou alterações físicas, psíquicas e sociais, sendo mais comuns a partir do diagnóstico da doença (BATISTA; MATTOS; SILVA, 2015).

O câncer de próstata, tipo de tumor que mais acomete homens, traz diversas repercussões negativas à vida dos homens acometidos pela doença. Dentre os tratamentos, o mais indicado é a prostatectomia radical. Considerada um procedimento cirúrgico profundo, consiste na retirada total da próstata, órgãos adjacentes e pequena porção da bexiga em contato com a próstata. Os pacientes que realizam o procedimento podem apresentar sintomas depressivos e medos relacionados à morte e isolamento. Os efeitos decorrentes do procedimento cirúrgico são devastadores, afetando a integridade emocional e social do sujeito, pois além da disfunção sexual, a incontinência urinária é um dos principais efeitos da prostatectomia radical e inibe a permanência do homem no convívio em sociedade (NOVAK; SABINO; COELHO, 2015).

Já no gênero feminino, o câncer de mama figura como o primeiro entre todas as neoplasias, sendo o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo. No Brasil, anualmente, cerca de 22% dos novos casos de câncer em mulheres são de mama. O tratamento é composto pela cirurgia, quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia, realizando-se com muita frequência a cirurgia de mastectomia, que se caracteriza pela remoção da mama e em alguns casos tecidos adjacentes. A mastectomia ocasiona uma série de consequências físicas e emocionais na mulher, como depressão, baixa autoestima, inferioridade, desespero, medo da recidiva, desconforto físico, redução das atividades, entre outras (LIMA et al, 2018).

Assim, evidenciam-se as repercussões da doença oncológica na vida dos pacientes, impactando nos diversos aspectos de sua vida e consequentemente da dinâmica familiar. Desse modo, surgiu o seguinte questionamento: quais as repercussões psicológicas dos indivíduos inerentes ao processo de adoecimento por câncer?

Frente ao grande impacto sofrido pelos pacientes que vivenciaram o processo de adoecimento pelo câncer e todos os efeitos deletérios do tratamento, surgiu assim o interesse em conhecer mais profundamente os traumas psíquicos decorrentes desse processo, com o intuito de assim obter subsídios para proporcionar uma assistência de enfermagem qualificada e humanizada, que contemple o paciente em todas as suas necessidades biopsicossociais.

OBJETIVOS

Identificar, na literatura nacional e internacional, publicações sobre o câncer e as repercussões psicológicas no contexto da vida dos portadores.

METODOLOGIA

TIPO DE ESTUDO

Tratou-se de uma pesquisa descritiva, retrospectiva de análise quantitativa por meio de revisão narrativa de literatura.

A revisão narrativa vem a ser um levantamento de estudos realizados anteriormente sobre o assunto a ser abordado no momento, procurando identificar novos métodos e técnicas a serem desenvolvidos em determinado tema. Em suma ela proporciona ao leitor os antecedentes para a compreensão do conhecimento atual sobre um tópico e esclarece a importância de um novo estudo (ROTHER, 2007).

MATERIAL

Foram incluídos artigos publicados no período compreendido entre 2013 e 2019, nos idiomas português e inglês. A busca se deu nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (Medline/Pubmed) e Scientific Eletronic Library Online (SciElo). Os descritores utilizados foram: Oncologia; Sobreviventes de Câncer; Trauma Psicológico; Transtorno de Estresse Pós-traumático. Os descritores utilizados foram identificados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).

Tabela 1: Levantamento das publicações por bases de dados e os descritores, 2019.

Base de dados N %
Lilacs 3 25
Medline 1 1
Biblioteca on-line
Scielo 8 74
Descritores
Oncologia 3 25
Sobreviventes de Câncer 2 16,5
Trauma Psicológico 4 33,5
Transtorno de Estresse Pós-traumático 3 25
  TOTAL 12 100

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras.

COLETA DE DADOS

Para a coleta de dados, foram utilizados os passos descritos a seguir: identificação, dos dados específicos do artigo como título, bases de dados e ano de publicação e posteriormente, análise metodológica para obtenção dos resultados propostos nos objetivos do presente estudo.

OPERACIONALIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS

Foram encontrados, na busca bibliográfica, 68 artigos. Procedeu-se com a leitura dos resumos dos artigos e 12 foram os selecionados por atenderem aos critérios propostos para a pesquisa, sendo artigos publicados no período de 2013 a 2019, em português e inglês, abordando os impactos psicológicos das pessoas que passaram pelo câncer. Foram excluídos artigos em duplicidade, incompletos, e que não abordaram o tema proposto no presente estudo.

 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS DADOS

Os dados foram descritos por meio de técnicas estatísticas descritiva e os resultados apresentados sob a forma de quadro. O conteúdo das publicações escolhidas foi analisado, a partir da temática selecionada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

RESULTADOS

Os resultados encontrados basearam-se na leitura dos 12 artigos selecionados, na íntegra. Assim sendo, elaborou-se um quadro (Quadro 1), contendo os autores dos artigos, título, ano de publicação e tema central abordado.

Quadro 1: Artigos selecionados sobre repercussões psicológicas relacionadas ao portador de câncer, segundo autor, título, ano de publicação e tema central do estudo.

Autor Título/Ano Tema abordado
Almeida MD, Santos APAL. Câncer infantil: o médico diante de notícias difíceis

– uma contribuição da psicanálise, 2013.

O câncer infantil e os aspectos relacionados às emoções envolvidas, decorrentes do diagnóstico e tratamento. O trauma e a angústia podem acarretar sentimentos de impotência e desamparo, promovendo sofrimento, atitudes passivas ou fuga.

 

Batista DRR, Mattos M, Silva SF. Convivendo com o câncer: do diagnóstico ao tratamento, 2015. As dificuldades enfrentadas pelo paciente oncológico, do diagnóstico ao tratamento. Os pacientes oncológicos precisam de respostas rápidas e efetivas, com uma atuação eficaz e qualificada para atender essa demanda.

 

Caporossi JAM, Ribeiro HS, Morinigo T, Campos A, Stoppiglia LF. Mastectomia e a incidência de transtorno de estresse pós-traumático, 2014. O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) ainda é pouco abordado pela literatura científica no Brasil, principalmente relacionado câncer de mama. Este estudo foi realizado com 20 mulheres mastectomizada e revelou a incidência de TEPT em 20% desta amostra.

 

Kochla, Kátia Renata Antunes. O encontro do sentido: uma luz para a trajetória resiliente das mães que vivenciaram o câncer, 2014. Tríade trágica: marcas deixadas na existência pela vivência do câncer no filho e o encontro do sentido. Compreendeu-se que o primeiro trauma que possibilitou às mães vivenciarem a tríade trágica da existência humana foi o diagnóstico do câncer.
Lima MMG, Leite KNS, Caldas MLLS et al. Sentimentos vivenciados pelas mulheres mastectomizadas,2018. A maioria das mulheres vivenciam emoções negativas em resposta da retirada da mama. A tristeza ao perder a mama é algo impossível de se evitar, visto que ela é o símbolo da maternidade, sexualidade e sensualidade.
Machado MX, Soares DA, Oliveira SB et al. Significados do câncer de mama para mulheres no contexto do tratamento quimioterápico, 2017. O significado que o câncer de mama tem para as mulheres portadoras e em tratamento quimioterápico, no contexto de interações socioculturais, comportamentais e biológicas e a ação de cada mulher na construção da experiência desta enfermidade.

 

Martins AM, Moraes CAL, Ribeiro RBN, Almeida SSL, Schall VT, Modena CM. A Produção Científica Brasileira sobre o Câncer Masculino: Estado da Arte, 2013. Identificação e análise da produção científica brasileira sobre o câncer masculino, buscando evidenciar lacunas e dimensões abordadas ou privilegiadas quanto ao tema.
Mangilli KR, Monteiro IN. O pensamento e o sentimento de mulheres que passam pela mastectomia radical, 2015. Os pensamentos e os sentimentos de mulheres que passaram pelo câncer de mama e consequentemente fizeram a mastectomia radical.
Novak JC, Sabino ADV, Coelho GG. Efeitos psicossociais da prostatectomia radical em pacientes com câncer de próstata, 2015.  Atualmente, o método curativo para câncer de próstata é a prostatectomia radical que, acomete outras propriedades da próstata, resultando em sequelas na vida do paciente. Assim, procura-se identificar os efeitos psicossociais da prostatectomia radical em pacientes com câncer de próstata.
Soares MLCA, Trezza MCSF, Oliveira SMB, Melo GC, Lima KRS, Leite JL. O custo da cura: vivências de conforto e desconforto de mulheres submetidas à braquiterapia, 2016. Os principais desconfortos nos contextos físico, psicoespiritual, sociocultural e ambiental vivenciados pelas mulheres entrevistadas em todas as fases do processo de braquiterapia.
Sharp KMH, Lindwall JJ, Willard VW, Long AM, Martin-Elbahesh KM, Phips S. Cancer as a Stressful Life Event: Perceptions of Children With Cancer and Their Peers, 2017. O estresse traumático é comum no câncer infantil, sendo o diagnóstico de câncer  um evento traumático. No entanto, pouco se sabe sobre como as crianças percebem o estresse  do câncer ou como ele se compara com outros eventos estressantes experimentados por crianças.
Zancan RK, Castro EK. Transtorno de estresse pós-traumático em sobreviventes de câncer infantil: uma revisão sistemática, 2013 O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), é caracterizado pelo desenvolvimento de sintomas característicos após a exposição a um estressor traumático extremo. A resposta ao evento envolve intenso

medo, impotência ou horror.

 DISCUSSÃO

O câncer não invasivo ou carcinoma in situ é o estágio inicial da doença, em que o as células cancerosas estão apenas na camada de tecido na qual se desenvolveram e ainda não se disseminaram para outras camadas no órgão de origem. A maioria dos cânceres in situ pode ser curado se for tratado antes de evoluir para a fase de câncer invasivo. No câncer invasivo, as células cancerosas penetram outras camadas do órgão, invadem a corrente sanguínea ou linfática e se expandem para outras partes do organismo. A capacidade de invasão e disseminação que os tumores malignos detêm de produzir outros tumores, em outros órgãos, a partir de um tumor preexistente, é a principal característica do câncer, sendo os novos focos de doença denominados metástases (INCA, 2011).

Assim sendo, o diagnóstico do câncer gera uma variedade de sentimentos, como insegurança e medo, devido ao fato de ser uma doença associada à finitude humana, e que acarreta marcas tanto para os que a vivenciam quanto para quem acompanha a trajetória do adoecimento (KOCHLA, 2014).

A palavra câncer traz implícita uma associação com intenso sofrimento e morte. Desse modo, a angústia é o principal sentimento que surge no indivíduo portador da doença (ALMEIDA; SANTOS, 2013). A estabilidade emocional e social do indivíduo se torna fragilizada pelo comprometimento de diversas funções fisiológicas e, principalmente, da sexualidade (NOVAK; SABINO; COELHO, 2015), levando a baixa autoestima, depressão e medo de rejeição (CAPOROSSI et al, 2014), como também  mudanças na percepção da imagem corporal, de seus papéis sociais e qualidade de vida (LIMA et al, 2018).

Adoecer por câncer pode causar alterações que impactam no bem-estar físico e emocional, incluindo a alimentação, higiene, sono, repouso, eliminações fisiológicas, até a rotina de trabalho e relações sociais (SOARES et al, 2016).

Assim, essas pessoas apresentam um alto risco de desenvolver estressores e sintomas de Transtorno de Estresse Pós-traumático, como recordar as imagens da vivência, revivendo o evento com toda a intensidade do sofrimento ocasionado, medo intenso, sensação de impotência ou horror, que se traduzem em alterações neurofisiológicas e mentais (BARBOSA et al, 2011; ZANCAN; CASTRO, 2013).

Os tratamentos a que o paciente é submetido também são causadores de grande impacto para todos os pacientes, independente de gênero ou idade.  Mulheres acometidas pelo câncer e com indicação cirúrgica apresentam níveis elevados de ansiedade e perturbações emocionais pré e pós-cirúrgicos em comparação com as que fazem cirurgias para doenças benignas. Possuem também taxas de recuperação emocional mais baixa e sentimentos mais intensos de crise e impotência, por até dois meses após o procedimento (HUFF; CASTRO, 2011).

As crianças incluídas no estudo de Sharp et al (2017) fazem referência ao desconforto causado pelo tratamento ao serem submetidas a radioterapia, quimioterapia e procedimentos invasivos, bem como efeitos colaterais decorrentes desses tratamentos como perda de cabelo e perda de peso, decorrentes principalmente da quimioterapia.

Em contrapartida, há pacientes que apresentam uma percepção mais ampliada de autocuidado, fé e otimismo, mesmo frente a compreensão da finitude determinada pelo câncer (MACHADO; SOARES; OLIVEIRA, 2017).

No que se refere ao apoio da enfermagem durante o tratamento do câncer, Kochla (2014) ressalta em seu estudo:

O carinho, o tratamento e a proximidade da equipe de enfermagem foram citados pelas mães como fatores positivos, que auxiliaram durante a trajetória de internamento. Essa profissão apresenta características específicas, porque, ao desenvolver a prática de cuidados, passa-se a maior parte do tempo ao lado do paciente e seus familiares (KOCHLA; 2014, p. 75).

Caporossi et al apontaram que as principais fontes de apoio para portadores de câncer são os cônjuges e familiares, sendo também citados médicos e enfermeiras, principalmente no período de hospitalização (CAPOROSSI et al, 2014).

O conforto do paciente com câncer depende dos cuidados da enfermagem com o ambiente, na comunicação verbal e não verbal com os doentes, intervenções para aliviar a angústia, e manobras que objetivem acalmá-los, além do controle dos fatores externos como temperatura do ambiente, sons e ruídos, aroma e luminosidade (SOARES et al, 2016).

A enfermagem, ao figurar como os profissionais que prestam cuidado initerruptamente nas 24 horas do dia aos pacientes submetidos à internação hospitalar, são os componentes da equipe multiprofissional que se mantém mais próximos e que passam mais tempo ao lado dos pacientes e seus familiares. Desse modo, exercem um papel preponderante no apoio emocional dispensado aos pacientes e cuidadores, sendo para estes um porto seguro durante esse processo.

CONCLUSÃO

Quanto ao câncer e as repercussões psicológicas no contexto da vida dos portadores, conclui-se que: O câncer acarreta diversas repercussões no contexto de vida dos portadores, entre elas as psicológicas como a baixa autoestima, depressão, medo de rejeição, mudanças na percepção da imagem corporal, de seus papéis sociais, causando grande impacto na vida de doentes oncológicos.

Para tanto, os enfermeiros devem se atentar as nuances demonstradas pelos indivíduos, que podem demonstrar a ocorrência de tais repercussões, com o intuito de elaborar estratégias de apoio a esses pacientes, objetivando minimizar os efeitos deletérios causados pela doença e o retorno às condições psíquicas anteriores ao surgimento da doença.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M.D.; SANTOS, A.P.A.L. Câncer infantil: o médico diante de notícias difíceis– uma contribuição da psicanálise. Mudanças – Psicologia da Saúde. São Paulo, v.21 n.1, p. 49-54, Jan-Jun., 2013.

BATISTA, D.R.R.; MATTOS, M.; SILVA, S.F. Convivendo com o câncer: do diagnóstico ao tratamento. Rev Enferm UFSM. Santa Maria, v.5, n.3, p.499-510, Jul./Set. 2015.

CAPOROSSI, J.A.M.; RIBEIRO, H.S.; MORINIGO, T.; CAMPOS A.; STOPPIGLIA, L.F. Mastectomia e a incidência de transtorno de estresse pós-traumático. Psicologia, saúde e doenças. Lisboa, v.15, n.3, p. 800-815, 2014.

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA). Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Educação ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer. Rio de Janeiro: INCA; 2011.

INSTITUTO NACIONAL DE CANCER JOSE ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA). Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro: INCA, 2017.

KOCHLA, Kátia Renata Antunes.O encontro do sentido: uma luz para a trajetória resiliente das mães que vivenciaram o câncer. Tese (Doutorado em Enfermagem), Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2015. 105 f.

LIMA, M.M.G.; LEITE, K.N.S.; CALDAS, M.L.L.S. et al. Sentimentos vivenciados pelas mulheres mastectomizada. Rev enferm UFPE on line, Recife, v.12, n.5, p.1216-24, maio, 2018.

MACHADO, M.X.; SOARES, D.A.; OLIVEIRA, S.B. et al. Significados do câncer de mama para mulheres no contexto do tratamento quimioterápico. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.27,n.3, p. 433-451, 2017.

MARTINS, A.M.; MORAES, C.A.L.; RIBEIRO, R.B.N.; ALMEIDA, S.S.L.; SCHALL, V.T.; MODENA, C.M. A Produção Científica Brasileira sobre o Câncer Masculino: Estado da Arte. Revista Brasileia de Cancerologia. Rio de Janeiro, v. 59, n.1, p. 105-112, 2013.

MANGILLI, K.R.; MONTEIRO, I.N.O pensamento e o sentimento de mulheres que passam pela mastectomia radical. Monografia (Graduação em Psicologia) Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium– UNISALESIANO, Lins-SP, 2015.79 f.

NOVAK, J.C.; SABINO, A.D.V.; COELHO, G.G. Efeitos psicossociais da prostatectomia radical em pacientes com câncer de próstata. Arq. Ciênc. Saúde.v.22, n.3, p.15-20,2015.

ROTHER, E.T. Revisão sistêmica X revisão narrativa. Acta Paul. Enferm. [online]. 2007 vol. 20, n.2, pp.1-3. Disponível em: http://www.scielo.com.br. Acesso em: 21 mai. 2019.

SOARES, M.L.C.A.; TREZZA, M.C.S.F.; OLIVEIRA, S.M.B.; MELO, G.C.; LIMA K.R.S.; LEITE, J.L.O custo da cura: vivências de conforto e desconforto de mulheres submetidas à braquiterapia. Esc Anna Nery. Rio de Janeiro, v.20, n.2, p.317-323, 2016.

SHARP, K.M.H.; LINDWALL, J.J.; WILLARD, V.W.; LONG, A.M.; MARTIN-ELBAHESH, K.M.; PHIPS, S. Cancer as a Stressful Life Event: Perceptions of Children With Cancer and Their Peers. Cancer, v.1, 2017.

ZANCAN, R.K.; CASTRO, E.K. Transtorno de estresse pós-traumático em sobreviventes de câncer infantil: uma revisão sistemática. Mudanças- Psicologia da Saúde,v.21,n.1, p.9-21, Jan-Jun 2013.

[1] Graduando do 8º semestre de enfermagem da Universidade Anhembi-Morumbi.

[2] Graduando do 8º semestre de enfermagem da Universidade Anhembi-Morumbi.

[3] Enfermeira, Doutora em educação em saúde.

Enviado: Novembro, 2019.

Aprovado: Novembro, 2019.

4.8/5 - (42 votes)
Katia Andrade Silva

Uma resposta

  1. Artigo muito importante, adorei como foi abordado o tema. Parabéns, me ajudou na minha pesquisa.

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