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Reconstrução mamária: uma análise do perfil dos pacientes do hospital de câncer de Mato Grosso

RC: 129539
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

IANHES, Rogério Paulo Bitencourt [1], BARROS, Luis Fernando Correa de [2]

IANHES, Rogério Paulo Bitencourt. BARROS, Luis Fernando Correa de. Reconstrução mamária: uma análise do perfil dos pacientes do hospital de câncer de Mato Grosso.  Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 10, Vol. 04, pp. 74-99. Outubro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/reconstrucao-mamaria

RESUMO

O câncer aparece em segundo lugar dentre as principais causas de morte da população, sendo o de mama responsável por 25,2% dos tipos de câncer comumente diagnosticados nas mulheres. Diante desse cenário, a mastectomia é um recurso utilizado para o tratamento e prevenção desta neoplasia. Nesse contexto, o presente artigo tem como questão norteadora: qual é o perfil dos pacientes que buscaram a reconstrução mamária junto ao Hospital de Câncer de Mato Grosso? Tendo como objetivo analisar a incidência e o perfil dos casos de reconstrução mamária realizados no Hospital de Câncer de Mato Grosso no período compreendido entre 2013 e 2018.  Para tanto, aliado à revisão literária, foi realizado um estudo retrospectivo e descritivo dos prontuários dos pacientes do Hospital de Câncer de Mato Grosso (HC/MT) que foram submetidos ao procedimento de reconstrução mamária entre os anos de 2013 a 2018. Sendo possível, ao final, concluir que as pacientes que realizaram o tratamento de câncer de mama no período compreendido entre os anos de 2013 e 2018, no Hospital de Câncer de Mato Grosso, tinham entre 28 e 83 anos. A faixa etária predominante das pacientes oscilou entre 40 e 70 anos. Com relação à classificação histológica do tumor, a maioria era carcinoma ductal invasor e tinha estádio clínico IIA, IIB, IIIA, IIIB ou IIIC.

Palavras-chave: Reconstrução Mamária, Perfil dos pacientes, Câncer.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2020), nos países da região das Américas, o câncer aparece em segundo lugar dentre as principais causas de morte da população, sendo que, no ano de 2018, um total de 3,8 milhões de casos foram diagnosticados e, destes, 1,4 milhão de pessoas vieram a óbito em decorrência dessa doença. A OPAS (2020) ainda aponta que, em relação aos tipos de câncer comumente diagnosticados nas mulheres, o de mama corresponde a 25,2%. Já quanto aos efeitos de mortalidade, tal especificidade corresponde a 15,1%.

Ainda, de acordo com as estimativas de novos casos da doença apresentadas pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), lançadas em fevereiro do ano de 2020, tem-se reafirmada a segunda colocação da incidência do câncer de mama na população feminina do Brasil, destacando, também, que tal posição se mantém na ordem mundial, atingindo 2,1 milhões de mulheres (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).

Apesar de raro, o câncer de mama também acomete o público masculino e, ainda que os números não sejam inseridos nos principais relatórios de estimativa do INCA, avalia-se que, do total de casos de câncer de mama no Brasil, 1% destes é masculino, de forma que, para cada cem mulheres com diagnóstico de câncer de mama, existe um homem diagnosticado com a referida doença (OPAS, 2020).

Diante desse cenário, a mastectomia — procedimento cirúrgico em que se retira parte ou a totalidade da mama — se apresenta como um dos recursos utilizados para o tratamento e prevenção da neoplasia maligna da mama. No entanto, a retirada parcial ou total leva, na maioria das vezes, a um abalo psicológico e psicossocial, principalmente para o público feminino, fazendo com que a reconstrução mamária se apresente como um elemento essencial para auxiliar no processo de recuperação da mulher após a realização dessa cirurgia.

Nesse sentido, Regis e Simões (2005) indicam que a importância dos procedimentos de reconstrução mamária não se refere apenas à recomposição de um aspecto físico do corpo da mulher. Para além disso, a mama é vista como forma representativa da sua fertilidade, feminilidade e sexualidade, carregando, assim, uma concepção afetiva e psicológica.

Considerando esse contexto, busca-se realizar, por meio de uma revisão da literatura, com aporte em teóricos contemporâneos, a verificação sobre as principais concepções acerca da temática da reconstrução mamária, identificando as posturas de entendimento sobre o assunto e as técnicas mais recomendadas. Entretanto, deve-se levar em consideração que nenhum procedimento é superior ou melhor do que outro, pois, para a escolha deste, deve-se verificar aqueles que mais beneficiam os pacientes, com base no conhecimento do médico cirurgião, no desejo do paciente e, principalmente, a partir da observância das indicações e contraindicações de cada método.

Para tanto, aliado à revisão literária, será realizado um estudo retrospectivo e descritivo dos prontuários dos pacientes do Hospital de Câncer de Mato Grosso (HC/MT) que foram submetidos ao procedimento de reconstrução mamária entre os anos de 2013 a 2018, com o intuito de apurar: a) o perfil dos pacientes submetidos à reconstrução mamária; b) os tipos de reconstrução mamária propostos e efetivamente realizados no hospital no aludido período e c) os tipos de tratamento oncológicos realizados previamente ao procedimento de reconstrução mamária.

Nesse panorama, a partir da análise das informações coletadas — teóricas e dos registros de prontuários —, visa-se criar indicadores que apontem, por exemplo, as categorias etárias de maior incidência quanto aos casos de reconstrução mamária, dentre outras variáveis, colaborando com a adequação dos serviços prestados dentro do hospital, seja na escolha de estratégias e condutas de atendimentos ou na realização de campanhas e incrementos voltados ao público a ser identificado, buscando a redução de incidência de casos da doença e, em última instância, proporcionar maior qualidade de vida aos pacientes.

Para tanto, parte-se dos seguintes questionamentos: qual é o perfil dos pacientes que buscaram a reconstrução mamária junto ao Hospital de Câncer de Mato Grosso? Tendo como objetivo analisar a incidência e o perfil dos casos de reconstrução mamária realizados no Hospital de Câncer de Mato Grosso no período compreendido entre 2013 e 2018.

A forma vislumbrada para alcançar esse objetivo foi a partir da identificação do perfil epidemiológico e clínico dos pacientes submetidos à reconstrução mamária no Hospital de Câncer de Mato Grosso durante o aludido período, bem como mediante a verificação dos principais procedimentos cirúrgicos de reconstrução mamária propostos e realizados no hospital, acompanhados das informações sobre os tipos de tratamento oncológico pré‑cirúrgico indicados para esses casos, buscando, ao final, não só apresentar um indicativo sobre os procedimentos de reconstrução mamária, mas também servir de subsídio para auxiliar na implantação de campanhas e estratégias terapêuticas voltadas aos pacientes que buscam a referida técnica cirúrgica.

A relevância deste estudo se justifica, pois, a reconstrução mamária que se busca analisar é originária dos casos de câncer de mama, o que representa, na atualidade, a segunda causa de morte da população das Américas, sendo, ainda, de grande incidência entre a população feminina (OPAS, 2020).

Assim, uma vez que os fatores de risco que levam ao desenvolvimento da doença ainda sejam amplamente discutidos e devido à existência de vários tratamentos pré-operatórios, tipos de cirurgia e acompanhamento pós-operatório, ao promovermos dados que permitam a identificação cada vez mais precoce do câncer de mama, a escolha adequada do tratamento pode levar à implantação de práticas que ampliem a qualidade de vida dos pacientes.

Nesse contexto e conforme entendimento de Camargo e Marx (2000), aspectos etiológicos como a carga genética, o estilo e qualidade de vida, os hábitos alimentares, a situação socioeconômica, o estresse, dentre outros, constituem fatores de risco a serem verificados não só para auxiliar no diagnóstico como para atuar na redução de incidências da doença. Assim, conhecer o histórico familiar, por exemplo, é considerado um dos elementos mais importantes para promover a prevenção e se mostra ainda mais essencial nos casos do público feminino, quando estão vinculados ao histórico presente nos casos de câncer da mãe ou irmã da paciente.

Diante desse cenário, a busca pelo conhecimento ampliado sobre o perfil dos pacientes que procuram a reconstrução mamária, os fatores de riscos a que estão submetidos, os tipos de tratamentos e outros aspectos já apontados, se mostram como uma forma de atuar diretamente na melhoria da qualidade de vida dos pacientes do Hospital de Câncer de Mato Grosso. Isso porque se pauta no entendimento da Organização Mundial de Saúde (OMS), que define a qualidade de vida como sendo a percepção que a pessoa tem sobre si, sobre a sua posição na vida a partir do contexto sociocultural e do sistema de valores a que pertence e como os vivencia para alcançar os seus objetivos, expectativas e padrões, bem como para superar as suas preocupações e dificuldades (WHO, 1998).

Dessa forma, entender os fatores que fazem com que o câncer de mama possua elevada incidência nas Américas, em especial, no estado de Mato Grosso, por meio dos pacientes que buscam tratamento no hospital em comento, bem como verificar a frequência e os tipos de procedimentos pré-cirúrgicos e de reconstrução mamária que são realizados permitirão conhecer melhor os fatores envolvidos e sua relevância, de forma a atuar na ampliação do debate sobre as técnicas utilizadas e as alternativas existentes, buscando por soluções que melhorem a qualidade de vida dos pacientes e auxiliem na escolha e adoção de práticas e estratégias voltadas para a redução dos impactos decorrentes da doença e de seu tratamento.

2. CÂNCER DE MAMA: CONCEPÇÕES

Inicialmente, buscou-se entender o sentido da palavra câncer, que, de acordo com Braz (2001), tem sua origem no termo grego karkinos e karkinõma, sendo o primeiro utilizado para designar as úlceras neoplásicas não cicatrizantes e, o segundo, para tumores malignos sólidos. No latim, cancer, tem como significado caranguejo, o qual foi indicado para representar a doença em decorrência da semelhança entre as veias intumescidas ao redor do tumor e as patas deste animal.

Diante dessa concepção, aduz-se os significados que o câncer carrega o estigma de ser algo que devora a pessoa por dentro, o que amplia o seu sentido de doença incurável e dissemina o medo das pessoas de se verem sujeitas à doença. Gomes et al. (2002) já mostravam, em suas pesquisas, há quase duas décadas, que, partindo do imaginário social, o câncer abrange emoções e práticas complexas tanto ao paciente quanto aos profissionais envolvidos no tratamento, que vão desde a dor física e emocional, a partir da suspeita e diagnóstico da doença, sob o temor de uma indicação fatal e terminal, a negação da doença pelo paciente, até as posturas e tratamentos que melhor se aplicam a cada caso, de forma a garantir uma boa qualidade de vida ao paciente.

Nesse sentido, Veronesi et al. (2003) entendem que a realização de exames e tratamentos pré-operatórios permitem um estudo mais detalhado da doença e de sua possibilidade de metástases, bem como proporcionam a adoção de procedimentos que oportunizam uma melhor qualidade de vida do paciente e reduzem os riscos de morbidade. Ainda, segundo Pascoal (2008, p. 27), quando se trata de pesquisas e práticas voltadas ao tratamento do câncer de mama:

Paralelamente ao desenvolvimento de tecnologias modernas, objetivando máximo de eficácia e mínimo de desconforto e morbidades, torna-se necessário avançar também no campo de conhecimento que contemple a dimensão simbólica que é construída em torno desses procedimentos.

Geiger et al. (2000) reportam, em suas investigações, que a adoção de estratégias de conhecimento, enfrentamento e tratamento pré-operatório permitem ao indivíduo desenvolver habilidades que o capacitem a enfrentar situações como o diagnóstico de câncer de mama, por exemplo, corroborando para o entendimento de que atuar na fase de prevenção e tratamentos preparatórios e no conhecimento dos fatores de riscos aos quais o paciente encontra-se vinculado, possibilita implementar práticas que dão maior suporte ao enfrentamento dos aspectos que a doença impõe.

Isso se faz importante e urgente, pois, conforme apontam Medeiros et al. (2019), ainda que o avanço tecnológico esteja apresentando constantes melhorias e pesquisas, no que se refere aos procedimentos para tratamento do câncer de mama, a elevada incidência de casos, o lapso temporal existente entre a procura pelo serviço médico, o diagnóstico da doença e o início do tratamento, somados à concepção da doença ainda absorvida e tratada como fatal pela maioria da população, fazem com que a mulher — a principal afetada pela doença — altere a sua percepção sobre si e responda ao prognóstico de forma diferenciada (TAVARES; TRAD, 2005), influenciando diretamente na questão de sobrevida desses pacientes.

O diagnóstico de câncer representa, nesse contexto, alterações no modo de vida da pessoa, deslocando-a de uma posição ativa para uma condição imposta de passividade e de restrições de caráter social (BERGAMASCO; ÂNGELO, 2001). Diante desse contexto, uma vez que o tratamento do câncer de mama possui, dentre o seu rol de práticas, a reconstrução mamária, verifica-se a necessidade de se aprofundar os estudos objetivando alcançar uma maior segurança oncológica e resultados que melhorem a qualidade de vida dos pacientes (HO et al., 2014).

Ademais, de acordo com o INCA (2019), a partir da publicação “A situação do câncer de mama no Brasil: síntese de dados dos sistemas de informação”, o objetivo em reduzir a mortalidade por câncer de mama na população feminina se dá, em contrapartida, mediante diversas práticas, como por exemplo: o aumento da oferta de exames de diagnóstico e prevenção, como é o caso da mamografia para mulheres na faixa etária de risco — 29 a 50 anos —, mostrando que “o direcionamento de esforços para aumentar a cobertura nesse grupo” evidencia como resultado “a redução de mortalidade de câncer de mama e menores danos associados”, significando, assim, em “uma tendência positiva nas ações de controle” (INCA, 2019, p. 45).

Nesse mesmo sentido, aumentar os percentuais de realização de cirurgias de reconstrução mamária, além de uma prática assertiva para esses casos, encontra respaldo no ordenamento legal brasileiro, conforme se verifica na Lei n° 9.797, de 6 de maio de 1999 (BRASIL, 1999), com alterações efetuadas pelas Leis nos 12.802/2013 (BRASIL, 2013) e 13.770/2018 (BRASIL, 2018), com o intuito de garantir a “obrigatoriedade da realização de cirurgia plástica reparadora da mama pela rede de unidades integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS) nos casos de mutilação decorrentes de tratamento de câncer” (BRASIL, 1999).

3. TRATAMENTOS ONCOLÓGICOS PRÉ-CIRÚRGICOS

Alguns aspectos se mostram importantes para os pacientes com câncer que serão submetidos ao tratamento oncológico e procedimentos cirúrgicos, por exemplo, os cuidados pré-cirúrgicos. Assim, dentre os procedimentos pré-cirúrgicos para além da avaliação do médico cirurgião, uma avaliação fisioterapêutica também se mostra essencial. Esse procedimento possibilita não só acompanhar, de maneira geral, às possíveis consequências decorrentes da cirurgia, mas também auxilia na formulação do prognóstico de recuperação da paciente e, por conseguinte, na conscientização sobre a importância das práticas da Fisioterapia no pós‑operatório (BERGMANN et al., 2006).

Outro aspecto relevante no tratamento pré-cirúrgico do câncer refere-se à questão nutricional do paciente, tendo em vista que esta neoplasia interfere nas funções orgânicas, desviando nutrientes e suprimentos sanguíneos das células normais, fazendo com que os pacientes desenvolvam um processo de desnutrição (DIAS et al., 2006).

Em consonância, Fontoura et al. (2006) indicaram, em seus estudos, que a desnutrição atingia cerca de 30% dos pacientes de câncer e que isso aumentava em até 50% o período estimado para recuperação, quando comparado aos pacientes nutridos, o que evidencia a necessidade da realização de uma avaliação adequada e aprofundada quanto ao estado nutricional do paciente em fase pré‑cirúrgica para auxiliar no tratamento e mostrar uma provável evolução e prognóstico.

De acordo com as pesquisas de Celano et al. (2018), o aspecto nutricional se mostra de grande relevância para o tratamento pré e pós-cirúrgico de pacientes com câncer, uma vez que o estado nutricional destes está associado ao aumento da morbimortalidade.

Assim, os autores indicam a necessidade de que seja realizada uma avaliação nutricional periódica como parte da rotina do tratamento da paciente, pois esta reflete, diretamente, na vulnerabilidade a infecções, na resposta terapêutica e no prognóstico (CELANO et al., 2018). Diante disso, a verificação quanto ao risco e estado nutricional deve ser realizada a partir de parâmetros clínicos, físicos, dietéticos, sociais, subjetivos, antropométricos, laboratoriais e de bioimpedância, visando a uma melhor anamnese da paciente (SILVA, 2006).

Para além dos dois tratamentos apontados — fisioterápico e nutricional —, outros devem ser indicados considerando o estadiamento da doença, as características biológicas, bem como as condições da paciente (idade, comorbidades etc.). Diante disso, assim como em qualquer outro caso de doença, quando o câncer é diagnosticado no início, o tratamento terá maior potencial de cura.

No entanto, quando se evidencia a existência de metástases (doença de tempo longo), o tratamento terá por finalidade principal a atuação voltada para prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida do paciente. Neste cenário, a partir do TNM (Classificação de Tumores Malignos) (BRASIL, 2004), existe a prática de dividir os casos de câncer em estádios (I a IV). Tal procedimento decorre do fato de que as taxas de sobrevida se mostraram maiores para os casos em que o câncer era localizado do que para aqueles em que a doença tinha se estendido para além do órgão de origem.

Diante desse cenário, o estádio da doença, quando do diagnóstico, interfere na escolha adequada ao tratamento pré e pós-cirúrgico do paciente. Serletti e Moran (2018) apontam que os tratamentos do câncer de mama podem ser divididos em dois tipos principais, de acordo com o estádio da doença, sendo eles: tratamento local: cirurgia e radioterapia (além de reconstrução mamária) e tratamento sistêmico: quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica.

Para os autores, nos estádios I e II da doença, o procedimento habitual é o tratamento local, em que é realizada a cirurgia, com retirada apenas do tumor (conservadora), ou a mastectomia, com retirada da mama e reconstrução mamária, na maioria dos casos. Após a cirurgia, o tratamento complementar com radioterapia pode ser indicado em algumas situações. Já a reconstrução mamária deve ser sempre considerada nos casos de mastectomia. Ainda nesses estádios, o tratamento sistêmico é indicado de acordo com o risco de recorrência (idade da paciente, comprometimento linfonodal, tamanho tumoral, grau de diferenciação) e com as características tumorais, aspectos que indicam a terapia mais apropriada ao caso.

Já no estádio III, inserem-se as pacientes com tumores maiores e localizados, cujo tratamento inicial indicado é o sistêmico, na maioria dos casos, concomitantemente à quimioterapia. Após a resposta ao tratamento, dá-se sequência com o tratamento local por meio da cirurgia e radioterapia (SERLETTI; MORAN, 2018).

No estádio IV, o tratamento visa alcançar um equilíbrio entre a resposta tumoral e o possível prolongamento da sobrevida da paciente, sendo indicado, principalmente, o tratamento sistêmico. As cirurgias e outros tratamentos locais são reservados para casos de indicações restritas (SERLETTI; MORAN, 2018).

Assim, o registro sobre a extensão da doença — estádio — para cada localização anatômica se mostra essencial para a escolha do tratamento, bem como podem: ajudar o médico no planejamento do tratamento; dar alguma indicação do prognóstico; ajudar na avaliação dos resultados de tratamento; facilitar a troca de informações entre os centros de tratamento; e contribuir para a pesquisa contínua sobre o câncer humano (BRASIL, 2004).

Ademais, a partir do aprimoramento quanto às formas de prevenção e tratamento do câncer de mama e, por conseguinte, com a oferta de um atendimento à paciente de forma integral e de qualidade, tem-se um conjunto de práticas que permitem inovações, adoção de medidas de controle e mitigação dos casos de câncer de mama.

4. RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA: PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS

A reconstrução da mama se mostra um aspecto importante no tratamento do câncer de mama para as pacientes mulheres, fato esse que, somado ao alto índice de casos no público feminino, levou à escolha pelas mulheres no levantamento dos dados. Embora a conservação da mama seja adequada para muitas pacientes com câncer de mama, verifica-se a recomendação, em determinados casos, de que as pacientes tenham ou optem por se submeter a mastectomias tanto pelas razões oncológicas quanto para evitar a ansiedade associada à vigilância regular da doença.

De acordo com os estudos de Damen et al. (2010), altas taxas de satisfação foram relatadas pelas mulheres após passarem pelo procedimento de reconstrução da mama. Esses resultados vêm aumentando desde então, devido ao aprimoramento das técnicas cirúrgicas para reconstrução da mama que tem levado a melhores resultados e influenciam na decisão da paciente de se submeter a uma mastectomia em vez de cirurgia de conservação da mama (SERLETTI; MORAN, 2018).

Um dos destaques apresentados nos estudos de Serletti e Moran (2018) refere-se ao procedimento da mastectomia com preservação de pele — skin sparing mastectomy (SSM) —, que tem revolucionado a reconstrução mamária autóloga. Essa técnica permite a manutenção das bordas anatômicas cruciais da mama e, com isso, a reconstrução mamária mais se assemelha a um procedimento de ‘enchimento’ do que a um procedimento de ‘modelagem’.

Os principais referenciais no ramo da mastectomia indicam que as técnicas cirúrgicas para reconstrução mamária podem ser divididas em três grupos: (1) técnicas baseadas em implantes; (2) técnicas baseadas em tecido autólogo e (3) uma combinação dessas duas técnicas (RAMOS, 2021).

Assim, após a mastectomia, compete à mulher decidir sobre a realização de uma cirurgia para restaurar a aparência da mama, denominada reconstrução mamária, que pode ser realizada ao mesmo tempo que a mastectomia (reconstrução imediata) ou num momento posterior (reconstrução tardia).

Diante desse contexto, vários são os tipos de procedimentos cirúrgicos para reconstrução mamária, podendo, inclusive, ser necessário mais do que uma cirurgia. Dentre os principais tipos, destacam-se:

  • Implantes mamários.
  • Procedimentos usando retalhos cutâneos.
  • Reconstrução do mamilo e da aréola.

Conforme já apontado anteriormente, às vezes, pode ser utilizada uma combinação de técnicas, por exemplo, implantes e retalhos cutâneos, buscando obter um resultado mais satisfatório. Ademais, também são realizados procedimentos de reconstrução do mamilo e da aréola que fazem com que a mama reconstruída pareça com a mama original.

Nos casos em que a mastectomia realizada não efetua a retirada da mama (mastectomia conservadora), geralmente, não é necessária a reconstrução mamária. No entanto, em alguns casos, a cirurgia realizada resulta em alteração no formato da mama, por exemplo, pela cavidade formada devido à retirada de um tumor grande em uma mama pequena. Para essas situações, existem diferentes tipos de reconstrução mamária que podem ser utilizados para remodelar a mama, dentre os quais: implantes pequenos; enxerto de gordura; redução da mama; elevação da mama; revisão da cicatriz e uso de retalhos de tecidos menores.

Ainda, de acordo com o texto publicado em 2019, no site da American Cancer Society, para além da vontade da paciente em realizar (ou não) o procedimento cirúrgico de reconstrução mamária, alguns aspectos pessoais devem ser considerados, como: o estado geral de saúde da paciente; o estágio da doença; o tamanho original da mama; a extensão da cirurgia para câncer de mama; quais outros tratamentos serão necessários além da cirurgia; quantidade de tecido disponível, uma vez que mulheres muito magras podem não ter tecido suficiente para fazer enxertos de retalho; desejo de reconstruir e igualar as duas mamas; cobertura do plano de saúde e os custos relacionados à mama não afetada pela doença; tempo de recuperação da cirurgia; disposição de realizar mais de uma cirurgia como parte do processo da reconstrução e como isso irá afetar outras partes do corpo (CAMARGO; MARX, 2000).

Assim, compete ao médico cirurgião analisar o histórico médico e o estado de saúde geral da paciente, explicando as opções de reconstrução disponíveis e as mais adequadas para o caso, levando em consideração a idade, o biótipo, o estilo de vida, os objetivos e outros fatores inerentes à paciente.

Em que pese tais premissas, o fator psicológico da mulher também deve ser observado. Nesse sentido, Regis e Simões (2005, p. 82) apontam que “embora o prognóstico para o câncer de mama esteja mudando devido a avanços no diagnóstico e tratamento, as respostas das mulheres à possível doença incluem o medo da desfiguração, perda da atividade sexual e medo da morte”.

Diante dessa perspectiva, a cirurgia de reconstrução mamária irá depender de cada paciente, uma vez que as características do biótipo, associadas ao tipo de procedimento para ressecção do tumor de mama, são distintas para cada caso que se apresenta.

A partir dos tipos já indicados, apontam-se, a seguir, as cinco principais cirurgias realizadas para a reconstrução mamária após a mastectomia, sendo elas: reconstrução com prótese de silicone; expansor de mama; retalho do músculo grande dorsal; retalho do músculo reto abdominal (TRAM); enxerto de gordura.

A reconstrução com prótese de silicone refere-se ao procedimento geralmente indicado para as pacientes que desejam uma recuperação mais rápida, indicada para mamas pequenas e médias. Já a técnica de expansor de mama, que também possui histórico de recuperação rápida, é realizada para casos de mamas médias e grandes ou, ainda, quando se realiza a retirada de pele durante a mastectomia.

Ademais, a cirurgia de retalho do músculo grande dorsal tem se mostrado como um procedimento versátil, uma vez que pode ser indicada para quase todos os casos, podendo ser associada à colocação de prótese de silicone. Geralmente é indicada para pacientes que já realizaram radioterapia na mama e necessitam reconstruí-la. Já a cirurgia de retalho do músculo reto abdominal (TRAM) refere-se ao procedimento de reconstrução de uma mama com aparência mais natural e consistência macia ao toque. Por fim, o procedimento de enxerto de gordura se mostra um dos mais utilizados para a reconstrução total da mama em pacientes com mamas pequenas, tanto para a melhora do aspecto da pele após a radioterapia, como para a correção de defeitos após outros tipos de reconstrução, sendo, portanto, indicado em algum momento da reconstrução mamária.

5. METODOLOGIA

O estudo retrospectivo foi realizado a partir dos dados de casos de reconstruções mamárias realizadas pela equipe do Hospital de Câncer de Mato Grosso, em Cuiabá, no período de 2013 a 2018, mediante análise realizada nos prontuários médicos. Trata-se de uma pesquisa registrada na Plataforma Brasil com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) de número 38473820.7.0000.5541-2, aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Muller/Universidade Federal de Mato Grosso (HUJM/UFMT) para realização junto ao Hospital de Câncer de Mato Grosso (HC/MT).

Para seleção das pacientes incluídas no estudo, optou-se por aquelas que foram submetidas à reconstrução mamária imediata ou tardia junto ao Hospital de Câncer de Mato.

Assim, a seleção foi feita por este pesquisador com acompanhamento e supervisão do orientador, por meio da revisão dos prontuários de pacientes do hospital que se submeteram ao procedimento cirúrgico para reconstrução mamária, no período de 2013 a 2018, para posterior análise minuciosa.

Os prontuários foram analisados com o sigilo e anonimato dos pacientes que lhes são característicos, tendo em vista se tratar de documentos numerados que contêm dados de identificação dos pacientes, tais como: nome completo, data de nascimento, perfil socioeconômico, contato, diagnóstico, tratamento indicado e procedimento cirúrgico realizado. Devido à maior incidência dos casos recair sobre o sexo feminino, os pacientes masculinos foram excluídos para fins desta pesquisa.

Os dados foram coletados no período de outubro a dezembro de 2020, após parecer de aprovação para a realização desta pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Para tanto, além da criação de planilha para levantamento dos dados, foi também utilizado um formulário específico de registro de tumor, que possibilitou a verificação individualizada das informações, denominado prontuário (Anexo A).

Sobre cada paciente, foram verificados os seguintes dados: idade, sexo, etnia, classe social, estado civil, número de filhos, cidade de procedência, fatores de risco relacionados ao câncer de mama (paridade, amamentação, menarca, menopausa e história familiar de câncer de mama), comorbidades, tabagismo, etilismo, apresentação clínica da doença, estadiamento clínico tumoral da classificação TNM, tipo histológico, subtipo tumoral conforme classificação imuno-histoquímica (Sant Gallen), tratamentos pré-operatórios indicados, data da realização do procedimento cirúrgico, tipo de procedimento cirúrgico de mastectomia realizado, presença de reconstrução mamária associada, especificação do tipo de reconstrução realizada, complicações pós-operatórias, realização de radioterapia adjuvante e realização de quimioterapia adjuvante.

O registro da idade dos pacientes levou em conta a data registrada no prontuário médico.

Para fins de classificação histológica dos tumores de mama, adotou-se a tabela (1) publicada por Lakhani et al. (2012).

Tabela 1. Classificação histológica dos tumores de mama

Classificação histológica dos tumores de mama.

No que se refere ao diagnóstico, seguiu-se os protocolos realizados por meio do sistema Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS®) para mamografia e ultrassonografia, conforme disposto na tabela 2.

Tabela 2. Diagnóstico pelo Sistema BI-RADS®

Diagnóstico pelo Sistema BI-RADS®.

Quanto ao estadiamento clínico do câncer de mama utilizado para este estudo, utilizou-se o sistema TNM (tumor-node-metastasis) adotado pelo American Joint Committee on Cancer (AJCC) e pela International Union Against Cancer (UICC), recepcionado pelo Ministério da Saúde (MS), por meio da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) e do Instituto Nacional de Câncer (INC) com a publicação do “TNM: classificação de tumores malignos”.

De acordo com o prefácio do TNM, a utilização dos parâmetros da AJCC e UICC “é o resultado da nossa intenção de se ter somente uma padronização e reflete os esforços cooperativos feitos pelos comitês nacionais da classificação TNM para se alcançar uniformidade neste campo” (BRASIL, 2004).

A referida classificação parte da seguinte sequência: tem-se o tumor (T) relacionado ao diâmetro tumoral, onde (N) corresponde aos linfonodos regionais e (M) à presença de metástases, conforme apresentado na tabela 3.

Tabela 3. Classificação TNM

Classificação TNM.
Diagnóstico pelo Sistema BI-RADS®.

Já quanto às informações sobre a incidência de fatores de risco, tipos, subtipos, estadiamento, apresentações clínicas, fatores relacionados ao tratamento pré-cirúrgico, tipo de mastectomia e de reconstrução mamária, complicações pós‑operatórias e óbito, optou-se por apresentar gráficos, demonstrando o percentual relativo à amostra de pacientes submetidos ao procedimento de reconstrução mamária.

Ainda, vale ressaltar que, para fins de classificação da morfologia detectada, foram utilizadas as classificações CID–O2 e CID–O3.

6. RESULTADOS

Foi incluída no estudo a análise de um total de 1.516 prontuários de pacientes no período mencionado que foram submetidas à reconstrução mamária imediata ou tardia. A média das idades das pacientes foi de 58,3 anos (de 28 a 83 anos), sendo 38,85% abaixo de 50 anos, conforme representado no gráfico a seguir.

Gráfico 1. Faixa etária das pacientes (período de 2013 a 2018)

Faixa etária das pacientes (período de 2013 a 2018).
Fonte: autor.

Sobre os procedimentos e tratamentos a que essas pacientes foram submetidas, destacam-se: quimioterapia (95%), radioterapia (16%), oncologia cirúrgica (31%), oncologia clínica (29%), mastologia (11%), entre outros (4%). Os números encontrados estão representados no gráfico 2.

Gráfico 2. Tratamentos indicados para as pacientes do HC/MT com câncer de mama

Tratamentos indicados para as pacientes do HCMT com câncer de mama.
Fonte: autor.

Verificou-se, através da análise dos prontuários que os casos de oncologia clínica e cirúrgica representam as maiores incidências dos procedimentos utilizados com as pacientes que procuram o Hospital de Câncer e são diagnosticadas com um dos tipos de câncer de mama. A partir dos registros, verificou-se que houve 132 pacientes (8,7%) que vieram a óbito em decorrência de complicações da doença.

Quanto ao TNM obtido no diagnóstico durante a primeira consulta da paciente, verificou-se, pelos registros na instituição mencionada, que 61% dos casos não contam com o lançamento dessa informação.

No período compreendido entre os anos de 2013 e 2018, foram encaminhadas 134 pacientes para tratamento quimioterápico, bem como outras 441 pacientes foram submetidas ao ambulatório de oncologia clínica do HC/MT. Desse total, 7 pacientes foram excluídos por serem homens e não integrarem os sujeitos de pesquisa escolhidos para a pesquisa, restando 1.509 pacientes para fim investigativo.

Dos 1.509 pacientes, 52% contaram com registros pertinentes ao estadiamento da doença, sendo que 129 pacientes (8,55%) apresentavam câncer de mama em estádio clínico I; 245 (16,24%) nos estádios IIA ou IIB; 276 (18,30%) nos estádios IIIA, IIIB ou IIIC e 136 (9,01%) no estádio IV, conforme demonstrado no gráfico 3.

Gráfico 3. Estádio clínico na ocasião do diagnóstico das pacientes (2013–2018)

Estádio clínico na ocasião do diagnóstico das pacientes (2013–2018).
Fonte: autor.

A partir dessas informações, verifica-se que, dentro do percentual de pacientes que teve indicado o estadiamento em seu prontuário quando do diagnóstico da doença (52%), a maioria delas apresentava câncer de mama em estádio IIIA, IIIB ou IIIC, correspondendo a 35,16% dos registros, seguido das pacientes em estádio IIA e IIB (32,21%).

Já quanto aos tumores diagnosticados, tem-se que: 43% são classificados histologicamente como carcinoma SOE (8010/3); 39,7%, carcinoma ductal infiltrante (8500/3 – C50.-) e os demais são rotulados como carcinoma lobular invasor (5,25%); ducto-lobular invasor (4,28%); carcinoma tubular invasor (2,92%); carcinoma mucinoso invasor (3,02%); carcinoma infiltrante indiferenciado (1,83%); carcinoma in situ; carcinoma ductal invasivo; carcinoma lobular infiltrante misto com outros tipos de carcinoma (8524/3 –C50.-) etc.

Todas as pacientes inseridas neste estudo apresentaram, em seus históricos médicos, registros incidentes quanto a, pelo menos, um dos seguintes aspectos: história familiar de câncer de mama, comorbidades, tabagismo e etilismo

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante ao exposto, nota-se que o conhecimento e análise do perfil clínico e tumoral das pacientes com câncer de mama se mostra essencial para determinar seu prognóstico, traçar o melhor manejo terapêutico de forma individualizada e definir o seguimento necessário para fins da reconstrução mamária.

A pesquisa teórica, associada ao estudo dos registros constantes dos prontuários de pacientes, garantiu que fossem identificadas variáveis importantes, como a análise dos fatores de risco detectados e a decisão sobre realizar a cirurgia de reconstrução mamária, sob o ponto de vista dos pacientes, cirurgiões, equipes de mastologia, oncologia e demais profissionais, visto tratar de uma ação multidisciplinar.

Diante desse contexto, foi possível, ainda, coletar junto aos prontuários dos pacientes submetidos à reconstrução mamária no Hospital de Câncer de Mato Grosso, no período de 2013 a 2018, os seguintes dados: idade, tipo de reconstrução mamária realizada (técnica utilizada), procedimentos pré-operatórios indicados e demais informações que se fizeram importantes para a construção da pesquisa, como dados relativos à presença de fatores de risco relacionados à concepção e complicações da doença, dentre os quais se destacam: comorbidades, tabagismo, obesidade e radioterapia.

Nesse contexto, o presente artigo teve como objetivo: analisar a incidência e o perfil dos casos de reconstrução mamária realizados no Hospital de Câncer de Mato Grosso no período compreendido entre 2013 e 2018 e visou responder: qual é o perfil dos pacientes que buscaram a reconstrução mamária junto ao Hospital de Câncer de Mato Grosso? Sendo possível concluir que as pacientes que realizaram o tratamento de câncer de mama no período compreendido entre os anos de 2013 e 2018, no Hospital de Câncer de Mato Grosso, tinham entre 28 e 83 anos. A faixa etária predominante das pacientes oscilou entre 40 e 70 anos. Com relação à classificação histológica do tumor, a maioria era carcinoma ductal invasor e tinha estádio clínico IIA, IIB, IIIA, IIIB ou IIIC.

Apesar da reconstrução mamária poder seguir o rigor da cirurgia imediata com implantes, verificou-se que a possibilidade de reconstrução utilizando tecidos autólogos de forma imediata e/ou tardia deve sempre ser aventada, discutida e priorizada, quando necessário, pois se mostra menos invasiva e menos onerosa para a paciente.

Ademais, várias são as opções técnicas à disposição dos cirurgiões, no entanto cada uma deve ser individualizada e baseada nas características de cada paciente, na familiaridade da técnica pela equipe cirúrgica, nos recursos hospitalares disponíveis e nos custos gerados pelas técnicas, a fim de otimizar os resultados, reduzir custos e os índices de complicações.

Por fim, resta evidenciada a necessidade de investimento em campanhas de prevenção e detecção do câncer de mama, bem como de atuação na disseminação de maiores informações às pacientes diagnosticadas com a doença que necessitam passar por cirurgias de reconstrução mamária, visando ampliar as possibilidades de escolha quanto aos procedimentos e técnicas a serem adotados, garantindo, assim, uma melhor qualidade de vida, além da redução de gastos e de possíveis complicações.

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ANEXO A – FICHA DE REGISTRO DE TUMOR

Estádio clínico na ocasião do diagnóstico das pacientes (2013–2018).

FICHA DE REGISTRO DE TUMOR (2)

 

[1] Especialista em cirurgia oncologista e cirurgião geral. ORCID: 0000-0002-3631-201x.

[2] Orientador. ORCID: 0000-0002-94385671.

Enviado: Março, 2022.

Aprovado: Outubro, 2022.

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Rogério Paulo Bitencourt Ianhes

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