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Perfil sociodemográfico de psicólogos do Rio Grande do Sul e seu Interesse na Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista

RC: 147435
246
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/perfil-sociodemografico

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

DORNELLES, Paola do Carmo Richter [1], MARRONE, Luiz Carlos Porcello [2], VIVIAN, Aline Groff [3], DUARTE, Regina Cardoso [4], MARTINS, Maria Isabel Morgan [5]

RIBEIRO, Viviane Pinto Alves. Perfil sociodemográfico de psicólogos do Rio Grande do Sul e seu Interesse na Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 08, Ed. 08, Vol. 03, pp. 35-49. Agosto de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/perfil-sociodemografico, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/perfil-sociodemografico

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo descrever o perfil de psicólogos do Rio Grande do Sul, e seu interesse, bem como atuação com a análise do comportamento aplicada e o Transtorno do Espectro Autista – TEA. Trata-se de estudo descritivo-exploratório, de caráter quantitativo e transversal. Participaram 152 psicólogos, com idade igual ou superior a 18 anos, com CRP ativo e que estavam atuando clinicamente no Rio Grande do Sul. A coleta de dados foi realizada através de formulário eletrônico, enviado por e-mail, com dados sobre a formação, bem como o conhecimento acerca da Ciência da Análise do Comportamento Aplicada (ABA). Os instrumentos utilizados foram ficha de dados sociodemográficos e um formulário de pesquisa sobre o conhecimento em ABA. Os dados foram analisados de forma descritiva (percentagens, médias e desvio-padrão), considerando-se o nível de significância p < 0,05. Dos participantes, 96,1% do sexo feminino, 46,7% casados, 45% possuíam pós graduação e 94,1% realizaram sua graduação em instituição privada. Os resultados evidenciaram que a grande maioria ouviu falar sobre ABA após formada (n= 143; 94,1%), mas apenas 47,4% deles realizaram algum curso sobre o tema específico. Os dados evidenciaram, ainda, um menor interesse por parte dos profissionais em cursos, congressos e artigos sobre a temática ABA, quando comparado a outras temáticas. Ressalta-se a necessidade de que as grades curriculares das graduações sejam revistas, uma vez que a prática ABA é considerada, atualmente, como acompanhamento ouro para o TEA, para que o indivíduo possa, assim, além de despertar o interesse na temática.

Palavras-chave: ABA, Análise do Comportamento Aplicada, TEA, Transtorno do Espectro Autista, Psicologia.

1. INTRODUÇÃO

Em agosto de 2022, a regulamentação da Psicologia como ciência e profissão no Brasil completou 60 anos. Período esse marcado por diversos avanços e importantes contribuições para os mais variados campos de atuação. Nestas seis décadas, mais de 420 mil profissionais foram registradas(os) e inseridos nas mais diversas áreas de atuação:  clínicas, escolas, empresas, hospitais, esporte, trânsito, justiça etc. Com a ampla gama de possibilidades de atuação, surge a dificuldade em implementar graduações que consigam contemplar o conhecimento da pluralidade de campos de atuação possível após a graduação.

Ao longo destas seis décadas, houve maior acesso da população ao atendimento psicológico, devido à possibilidade de atendimento por plano de saúde, clínicas, escolas e etc.  Por consequência, a pluralidade de demandas clínicas nos consultórios aumentou, trazendo consigo a necessidade de, além da graduação, os profissionais se aprofundarem e especializarem, a fim de possuir aporte teórico para o melhor desenvolver dos pacientes. Dentre as demandas clínicas que apresentaram uma crescente de casos diagnosticados, destaca-se o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O TEA atinge, hoje, aproximadamente 70 milhões de pessoas no mundo (APA, 2014; ONU, 2016). Maenner et al. (2020) refere que a prevalência mundial de casos de TEA é de um caso de autismo a cada 54 pessoas no mundo. A partir disso, pode-se estimar que, no Brasil, existem cerca de 2 milhões de pessoas com TEA. Nos últimos anos, com o aumento considerável de casos diagnosticados com autismo, houve maior interesse dos profissionais, bem como investimentos em pesquisa para a compreensão do transtorno, e a busca pela criação de instrumentos capazes de identificar precocemente os sintomas, assim como a elaboração de acompanhamentos eficazes para tal público, visando a melhora na sua qualidade de vida.

O TEA classifica-se como um transtorno do neurodesenvolvimento, presente desde a infância, apresentando déficits nas dimensões sociocomunicativas e comportamentais (ALMEIDA et al., 2019; APA, 2014). Tais prejuízos podem dificultar o funcionamento adaptativo no dia a dia, o que acaba por interferir na relação com pares, nos diversos contextos que o sujeito está inserido, devido à dificuldade em ajustar comportamentos no contexto social.

A partir da última versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), o TEA passou a englobar diversas patologias que, antes, eram individualizadas, são elas: Transtorno de Asperger, Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação, autismo infantil precoce, autismo atípico, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo infantil e transtorno desintegrativo da infância (APA, 2014). Ainda conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V), o Transtorno do Espectro Autista pode ser classificado em três níveis distintos conforme a gravidade e, por consequência, a necessidade de apoio. A definição da gravidade do transtorno baseia-se nos prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos (APA, 2014).

O diagnóstico dos casos de TEA baseiam-se na observação clínica dos comportamentos apresentados e nos marcos do desenvolvimento de cada indivíduo, atentando ao seu histórico, bem como a habilidades adquiridas, se possuiu regressão ou parada nos avanços, feita por profissionais da saúde capacitados. Os critérios diagnósticos utilizados para o TEA baseiam-se no Manual Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM, atualmente em sua quinta versão (APA, 2014), além de instrumentos padronizados, tais como escalas e checklists que podem ser utilizados conforme a idade do paciente (BOSA e TEIXEIRA, 2017).

Assim como outras patologias, no Transtorno do Espectro Autista existem diversas possibilidades de intervenção. Dentre elas, destaca-se a Análise do Comportamento Aplicada, por ser considerada, atualmente, como padrão ouro de acompanhamento para o TEA, apresentando resultados comprovados de melhora na qualidade de vida, bem como na aquisição de novas habilidades e redução de comportamentos indesejados.

Ainda sobre a disponibilidade de acompanhamento, Souza e Marques (2018) alertam para a urgência no investimento em capacitação para profissionais que prestem atendimentos para pacientes com TEA. Capacitar os profissionais envolvidos, além dos professores e familiares, para que se tenha o melhor prognóstico aos pacientes. Tendo em vista que o TEA se trata de um transtorno multifacetado, faz-se essencial que tais capacitações sejam feitas de maneira adequada visando o melhor desenvolver do paciente.

Diversos autores já realizaram estudos sobre a formação e a prática profissional do psicólogo no Brasil, feitos, em sua grande maioria, sob a perspectiva de uma região específica, campo de atuação específico ou, ainda, instituições específicas (COELHO & MACIEL, 2002; BARDAGI et al., 2008; SANTOS et al., 2014; TOMASI et al., 2008., BRASILEIRO e SOUZA, 2010). A partir da lacuna de informações atuais em relação ao estado do Rio Grande do Sul, pretendeu-se fornecer dados visando contribuir para as discussões acerca da realidade da prática psicológica no sul do país, bem como auxiliar em futuras pesquisas comparativas com as demais regiões do país em relação à temática proposta.

2. MÉTODO

Quanto ao delineamento do estudo, caracteriza-se como descritivo-exploratório, de caráter quantitativo e transversal. Descritivo-exploratório, pois tem por objetivo descrever o perfil sociodemográfico de profissionais da área da Psicologia que atuam em território Brasileiro, seu conhecimento sobre a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para o acompanhamento de pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), bem como atuação e interesse nas temáticas abordadas. O estudo caracteriza-se, ainda, como transversal, por descrever tal situação em um determinado momento do tempo.

A amostra é caracterizada como não probabilística e foi selecionada pelo critério de conveniência. Participaram do estudo 152 psicólogos com idade igual ou superior a 18 anos, com CRP ativo e atuando clinicamente no Rio Grande do Sul. Foram considerados os seguintes critérios de inclusão neste estudo: Participantes de ambos os sexos; com graduação em Psicologia e devidamente inscritos no Conselho de Psicologia de sua região, além de possuírem CRP ativo no Rio Grande do Sul. Para exclusão neste estudo: participantes que não atuavam na área clínica.

Devido ao agravamento da situação de pandemia de covid-19 no momento em que a pesquisa ocorreu, e visando alcançar o maior número possível de profissionais, a coleta de dados ocorreu por meio digital, através do Google formulário. A coleta teve início após a aprovação do Comitê de Ética da Universidade Luterana do Brasil (CAEE 51749621.9.0000.5349). Inicialmente, foi realizado contato através dos grupos de WhatsApp (exclusivos de psicólogos) já existentes, provenientes dos cursos ofertados pela pesquisadora e sua equipe. Neste momento, foi feita a apresentação da pesquisa, bem como explicados os objetivos e esclarecidas possíveis dúvidas. Posteriormente, foi realizado o convite a participar da pesquisa aos profissionais que se enquadravam nos critérios de inclusão, bem como aos que demonstraram interesse. Tendo isso feito, foi requerido o e-mail desses participantes e enviado o formulário para participação da pesquisa através de Google formulário, bem como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), para assinatura digital. Previamente, visando a maior confiabilidade do formulário de pesquisa, um grupo de vinte pessoas de diferentes níveis de formação, sexo e idade, foi convidado a responder o formulário para auxiliar na identificação de possíveis dificuldades de compreensão em relação às questões propostas.

Essa pesquisa foi conduzida dentro dos padrões éticos exigidos pela Resolução Nº 466/12, que trata sobre as exigências éticas e científicas fundamentais com os seres humanos, da autonomia, beneficência, não maleficência e justiça, visando assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes. Os participantes foram informados dos objetivos e procedimentos de coleta de dados, bem como estavam cientes de que poderiam obter qualquer esclarecimento quando desejassem e decidir livremente sobre sua participação. Todos assinaram digitalmente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que foi enviado juntamente ao formulário da pesquisa.

A privacidade e a confiabilidade foram asseguradas, e os materiais obtidos pela pesquisa FORAM devidamente arquivados no Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde, Desenvolvimento Humano e Sociedade da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Após o final da pesquisa será disponibilizada, aos participantes que assim desejarem, a apresentação dos resultados obtidos. (REMOVI PREDIO 1 e SALA 124). Após o recebimento dos formulários preenchidos, foi realizada a tabulação dos dados e analisados de forma descritiva (percentagens, médias e desvio-padrão). Para realização das análises será utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 22.0, e considerar-se-á o nível de significância p < 0,05.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisadas 152 respostas de psicólogos através de formulário digital Google, com o objetivo de descrever o perfil sociodemográfico de profissionais da área da Psicologia que atuam no Rio Grande do Sul, seu conhecimento sobre a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para o acompanhamento de pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), bem como atuação e interesse nas temáticas abordadas. Abaixo, apresenta-se a tabela 1, contendo o perfil dos psicólogos participantes:

Tabela 1- Distribuição das características sociodemográficas predominantes dos profissionais de psicologia que aceitaram responder aos instrumentos

Variáveis n=152  
Sexo:    
Feminino 146 (96,1%)
Masculino 6 (3,9%)
 

Idade:

(média+/- DP)
31.9 +/-6.6 anos
Estado Civil:    
Casado 71 (46,7%)
Solteiro 40 (26,3%)
União Estável 24 (15,8%)
Divorciado 10 (6,6%)
Separado 4 (2,6%)
Viúvo 3 (2,0%)
Nível de Escolaridade:    
Graduação 21 (13,9%)
Pós-Graduação 68 (45,0%)
Especialização 47 (31,2%)
Mestrado 13 (8,6%)
Doutorado 2 (1,3%)
Tempo de formação:
Menos de um ano 20 (13,2%)
De 2 a 5 anos 42 (27,6%)
De 6 a 10 anos 32 (21,1%)
De 11 a 15 anos 22 (14,5%)
De 16 a mais anos 36 (23,6%)
Sua graduação ocorreu em:    
Instituição privada 143 (94,1%)
Instituição publica 9 (5,9%)
Possui filhos:    
Sim 103 (67,8%)
Não 49 (32,2%)
Possui algum familiar com TEA:    
Não 123 (80,9%)
Sim 29 (19,1%)

Resultados expressos através de análises de frequência

Fonte: Dados do estudo (2022). 

A tabela 1 mostra uma predominância de profissionais do sexo feminino (96,1%), quase metade são casados (n = 71;46,7%), o nível de escolaridade mais citado foi a pós-graduação (n=68; 45%), seguida da especialização (n=47; (31,2%), quarenta e dois profissionais possuem formação entre 02 a 05 anos (27,6%), em 143 casos (94,1%), a graduação ocorreu em instituição privada. No que tange ao vínculo familiar, percebe-se uma maioria de profissionais com filhos (67,8%) e 29 relatam possuir algum familiar com TEA (19,1%).  Os participantes tinham, em média, 32.9 anos (dp 6,6 anos).

Dos participantes,105 leram de um a dez artigos de assuntos diversos (69,1%) no ano e 53 participaram de um a cinco congressos de assuntos diversos no último ano (35,1%). Em relação ao TEA, os números se tornam mais reduzidos, 77 profissionais leram de um a cinco artigos na área de TEA e 115 não participaram de nenhum congresso específico na área. A grande maioria ouviu falar sobre ABA após formada (n= 143; 94,1%), mas apenas 47,4% deles realizaram algum curso sobre o tema específico. Ressalta-se a necessidade de que as grades curriculares das graduações sejam revistas, uma vez que a prática ABA é considerada, atualmente, como acompanhamento ouro para o TEA (ZANINI, 2017). Quando questionados sobre a realização de algum curso sobre a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), a distribuição foi bem uniforme, 72 profissionais não realizaram (47,4%). Já em relação a outras temáticas, 77% (n=117) dos profissionais realizaram algum tipo de pós-graduação (Lato Sensu), mestrado ou doutorado (Stricto Sensu), após o ensino superior. Tais dados evidenciam um menor interesse por parte dos profissionais em cursos, congressos e artigos sobre a temática ABA, quando comparado a outras temáticas. Tal fato pode estar ligado a não apresentação da análise do conhecimento aplicada durante a graduação, conforme afirmado por quase a totalidade dos participantes.

Então, quando questionados sobre os motivos de não se ter interesse no atendimento com ABA, os mais citados foram a Especificidade da intervenção
(n =58;47,5%), seguido pela necessidade de Supervisão (n = 20;16,4%) e alto custo da intervenção (n =17; 13,9%). De encontro a isso, 16% dos participantes mencionaram não ter interesse em aprender sobre Análise do Comportamento Aplicada (16%), como justificativa, 33,3% não têm interesse pela demanda, enquanto 12,5% relatam ter outro foco e 8,3% não possuirem disponibilidade.  Tal indisponibilidade e desinteresse vai de encontro aos achados por Matos (2019), o qual ressalta que apesar da análise do comportamento aplicada estar ganhando espaço nos atendimentos de TEA, ainda são poucos os profissionais capacitados a atuarem. A autora ressalta, ainda, a necessidade de que, além de psicólogos, os demais profissionais da saúde possam também estar se capacitando para suprir a demanda de atendimento que cresce a cada dia.

A maior parte dos profissionais atende todas as idades (n= 62;40,8%), mas quando questionado sobre os que mais atendem, temos que mais da metade dos atendimentos são direcionados às crianças (50,3%), seguido pelos adultos (n = 57; 37,5%) e adolescentes (n= 18; 11,9%). A alta prevalência no atendimento de crianças corrobora os achados de Patel et al. (2007), que apontam que uma entre quatro a cinco crianças, no mundo, apresentam algum transtorno mental. Sobre as patologias mais atendidas nesta faixa etária, mais da metade dos atendimentos são em relação ao Transtorno do Espectro Autista (50%) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) (44,7%). Dados esses que corroboram os achados de estudos recentes realizados (ALMEIDA e NEVES, 2020; FERREIRA DA SILVA; ARAÚJO e DORNELAS, 2020; FATORI et al.,2018; SOUZA et al., 2021) indicando a alta prevalência de tais transtornos.

Já na faixa etária dos adolescentes, os atendimentos mais frequentes são em relação à ansiedade (n =14; 77,8%) e depressão (n=12; 66,7%) o mesmo ocorre com os adultos, em que a ansiedade acometeu 73,7% dos casos e a depressão, 61,4%. Segundo estudo realizado por Brito et al. (2022), a prevalência global de depressão autorreferida em adultos domiciliados no Brasil, em 2019, foi de 10,2%, esse ainda destaca que, entre as regiões brasileiras, a região Sul apresentou a maior prevalência e, entre os estados, a maior prevalência foi observada no Rio Grande do Sul (17,9%).

Entre os adolescentes, segundo Silva et al. (2019), os dados são semelhantes, demonstrando um acometimento de cerca de 20% dos adolescentes em relação à depressão. Já em relação à ansiedade, estudos apontam que a prevalência de transtornos de ansiedade foi de 27,4% entre os adultos (COSTA et al. 2019; ALVES et al., 2021) e entre os adolescentes também foi um dos quadros psíquicos mais recorrentes em adolescentes, com prevalência variando 34,3% e 36,1% (LEÃO et al., 2018; LAMÔNICA, 2019). Cabe ressaltar que um dos fatores que culminou no aumento drástico de casos de ansiedade e depressão foi a pandemia de COVID-19 enfrentada. Diversos estudos realizados nos últimos anos abordaram a temática, apontando o distanciamento social, homeschool e home office, além da preocupação em relação à doença, como grandes fatores associados ao aumento significativo de casos de ansiedade e depressão evidenciados em todas faixas etárias nos últimos anos (MILIAUSKAS e FAUS, 2020, SANTOS, et al., 2021; FREITAS, et al., 2021; MEDEIROS, et al., 2021. MOCELIN e ALVES FILHO, 2022; GUILLAND et al., 2022; BARBOSA et al., 2021; NEUMANN et al., 2021).

Grande parte das consultas são realizadas em consultório privado (n= 91; 61,1%), em 91 casos cobertos por plano de saúde (59,9%), os atendimentos baseados na Análise do Comportamento Aplicada (ABA) são em torno de 34%, sendo citados 51 casos. Cento e quatorze (76%) entrevistados mencionaram conhecer alguém que trabalha com Análise do Comportamento Aplicada (ABA), sendo mais da metade psicólogos (51,8%), seguido por fonoaudiólogos (28,1%) e psicopedagogos (3,5%). Fato esse que corrobora a literatura, que afirma que a Análise do Comportamento Aplicada ainda está muito atrelada aos profissionais da psicologia, mesmo se tratando de uma ciência que pode, e deve, ser trabalhada em conjunto pelas diversas áreas do saber que sejam necessárias a cada caso (PAULA; BELISÁSIO FILHO; TEIXEIRA, 2016).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo contemplou o perfil sociodemográfico de psicólogos que atuam no sul do Brasil, seu conhecimento sobre a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para o acompanhamento de pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), bem como atuação e interesse nas temáticas abordadas. A regulamentação da Psicologia como ciência e profissão no Brasil completa 60 anos neste ano, os dados do estudo comprovam a necessidade de que as grades curriculares dos cursos de graduação sejam revistas para que possam acompanhar a necessidade do mercado de trabalho.

Com o aumento significativo dos casos de Transtorno do Espectro Autista nas últimas décadas, a demanda de atendimento especializada para tais pacientes vem aumentando paralelamente. Dentre as possibilidades de intervenções, a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é considerada o padrão ouro de acompanhamento, e está fortemente atrelada à figura do psicólogo, uma vez que a profissão de analista do comportamento não é regularizada no país.

Faz-se necessário que a ciência ABA esteja presente nas grades curriculares dos cursos de psicologia, visando despertar o interesse dos alunos e futuros profissionais, para que a lacuna presente possa estar sendo suprida e mais pacientes possam estar usufruindo dos benefícios da terapia ABA, que tem melhora comprovada por diversos estudos em várias áreas (SELLA; RIBEIRO, 2018; GOYOS, 2018; FILHA et al., 2019; DE BORBA et al., 2016; PAIS e FERRAZ, 2022). As graduações em psicologia precisam ser atualizadas de modo a oferecerem uma formação mais diversificada, que possa apresentar aos alunos os conhecimentos sobre as áreas que estão emergindo na prática em Psicologia, atualmente.

Estima-se   que   o presente estudo, aqui apresentado, possa servir   de incentivo para os profissionais da área da saúde, em especial aos psicólogos, para que ampliem seus conhecimentos sobre a Análise do Comportamento Aplicada, e a partir de então, possam estar se especializando neste campo do conhecimento que, atualmente, está carente de profissionais capacitados. Sugere-se que novos estudos com outras especialidades da saúde possam ser feitos, uma vez que o trabalho interdisciplinar é fator importante para o melhor prognóstico dos pacientes com Transtorno do Espectro Autista.

REFERÊNCIAS

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[1] Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental na Infância e Adolescência. ORCID: 0000-0002-2728-5128. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3767439854582476.

[2] Doutor em Neurociências. ORCID: 0000-0002-8071-813X. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0706744072158586.

[3] Doutora em Psicologia. ORCID: 0000-0003-2628-629X. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5730197341917803.

[4] Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental na Infância e Adolescência. ORCID: 0000-0003-0810-8772. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1381416513045848.

[5] Doutora em Ciências Biológicas ênfase em Fisiologia. ORCID: 0000-0003-1833-1548. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0372820116852027.

Enviado: 22 de dezembro, 2022.

Aprovado: 19 de julho, 2023.

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