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As lesões por esforços repetitivos, os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho e a importância da intervenção ergonômica realizada pelo profissional fisioterapeuta

RC: 127103
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

BRITO, João Paulo da Silva [1]

BRITO, João Paulo da Silva. As lesões por esforços repetitivos, os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho e a importância da intervenção ergonômica realizada pelo profissional fisioterapeuta. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 09, Vol. 03, pp. 134-146. Setembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/esforcos-repetitivos

RESUMO

 A exposição aos variados fatores de risco presentes nas condições de trabalho, corrobora muitas vezes para a ocorrência, que é cada vez mais comum, de doenças, tanto de caráter físico quanto mental, em trabalhadores de diferentes atividades econômicas. Dentro desse cenário, tem-se a inserção do profissional fisioterapeuta, o qual no Brasil é o profissional de saúde graduado em bacharel em fisioterapia, devidamente registrado no conselho de classe. Nessa perspectiva surgiu o seguinte questionamento: qual o papel e importância da intervenção ergonômica realizada pelo profissional fisioterapeuta no ambiente laborativo na perspectiva da prevenção das Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT)? Assim, o presente estudo teve por objetivo compreender o papel e importância da intervenção ergonômica realizada pelo fisioterapeuta no ambiente laborativo na perspectiva da prevenção das LER e DORT, mediante a compreensão da relação nexo causal. Quanto ao aspecto metodológico, trata-se de uma pesquisa bibliográfica de cunho descritivo e abordagem qualitativa. As informações foram obtidas a partir de base de dados do Lilacs, Scielo, PubMed e Google Acadêmico, tendo como critérios de inclusão: textos de cunho bibliográfico, que abordem o tema da fisioterapia do trabalho e ergonomia, relação homem e máquina e saúde do trabalhador. Foram critérios de exclusão: materiais incompletos e/ou textos repetidos entre as bases de dados. Considerou-se então que o fisioterapeuta especialista em fisioterapia do trabalho tornou-se um profissional essencial no meio industrial decorrente principalmente de seu conhecimento em áreas como a ergonomia e biomecânica, o que resulta com essa intervenção melhora no desempenho e na produtividade no trabalho. Foi possível perceber com o estudo a importância dos benefícios que os trabalhadores bem como a empresa podem obter a partir da inserção desse profissional, já que o fisioterapeuta do trabalho visa o bem estar integral assim como maior rendimento do trabalhador, atuando de forma preventiva com uma visão estratégica de modo a minimizar o risco do trabalhador ser acometido por LER e DORT.

Palavras-chave: LER e DORT, Fisioterapia em Ergonomia, Saúde do Trabalhador, Fisioterapia Preventiva.

1. INTRODUÇÃO

A exposição aos variados fatores de risco presentes nas condições de trabalho, corrobora muitas vezes para a ocorrência, que é cada vez mais comum, de doenças, tanto de caráter físico quanto mental, em trabalhadores de diferentes atividades econômicas. Nessa perspectiva, a análise da exposição a fatores causais de risco ergonômicos favorece medidas cautelosas de planejamento de estratégias que garantem a melhoria das condições de trabalho, e por consequência, a redução de disfunções nesses trabalhadores (ZAVARIZZI; CARVALHO; ALENCAR, 2019).

Dentro desse cenário, tem-se a inserção do profissional fisioterapeuta, a qual no Brasil é o profissional de saúde graduado em bacharel em fisioterapia, devidamente registrado no conselho de classe, profissão essa que é regulamentada pelo Decreto-Lei 938/69 (BRASIL, 1969), Lei 6.316/75 (BRASIL, 1975), Decreto 9.640/84 (BRASIL, 1984), Lei 8.856/94 (BRASIL, 1994) e Resoluções do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO).

A atividade do fisioterapeuta no exercício da especialidade em fisioterapia do trabalho, foi regulamentada pelo plenário do COFFITO pela resolução nº 465, de 20 de maio de 2016 (COFFITO, 2016). Nessa perspectiva surgiu o seguinte questionamento: qual o papel e importância da intervenção ergonômica realizada pelo profissional fisioterapeuta no ambiente laborativo na perspectiva da prevenção das LER e DORT?

Levando em consideração que o curso de graduação em fisioterapia fomenta estudos dos aspectos biológicos, sociais, políticos e psicológicos, embasando-se da relação nexo causais, favorece que o fisioterapeuta, a qual tem uma formação atrelada a essa área de atuação, tenha uma atuação bastante ampla e efetiva ao que concerne a perspectiva da prevenção e promoção de saúde no trabalho.

Assim, o presente estudo teve por objetivo compreender o papel e importância da intervenção ergonômica realizada pelo fisioterapeuta no ambiente laborativo na perspectiva da prevenção das LER e DORT, mediante a compreensão da relação nexo causal. Para tanto, no estudo será abordado em um primeiro momento sobre o ambiente de trabalho e o processo de desenvolvimento das distúrbios ocupacionais, para posteriormente refletir criticamente sobre a perspectiva da fisioterapia do trabalho, e por fim associar a contribuição do fisioterapeuta e a intervenção ergonômica.

Nesse sentido, o presente estudo apresenta fundamental importância, considerando o impacto das LER e DORT no processo de saúde e doença. A sociedade é diretamente beneficiada, tendo em consideração que o estudo fortalecerá a reflexão dos fatores associados, bem como a intervenção da fisioterapia na prevenção às LER e DORT, possibilitando conhecimento amplo aos indivíduos que tiverem acesso ao estudo. Há também valor preditivo para os profissionais da saúde, em especial aos profissionais fisioterapeutas, que poderão se apropriar desse conhecimento para fortalecer a sua prática profissional.

Quanto ao aspecto metodológico, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, o qual consiste em uma pesquisa em material já processado e publicado em relação ao tema de estudo. É de cunho descritivo, o que compreende a descrição das características a respeito de determinado fenômeno ou população. O estudo teve abordagem qualitativa, sendo apropriada para a análise de estudos complexos. As informações foram obtidas a partir de base de dados do Lilacs, Scielo, PubMed e Google Acadêmico, tendo como critérios de inclusão: textos de cunho bibliográfico, que abordem o tema da fisioterapia do trabalho e ergonomia, relação homem e máquina e saúde do trabalhador. Foram critérios de exclusão: materiais incompletos e/ou textos repetidos entre as bases de dados.

2. DESENVOLVIMENTO

O Ministério da Saúde enfatiza que a promoção da saúde engloba todas as medidas que permitem que indivíduos, grupos e instituições maximizem o controle dos fatores que afetam seus processos de saúde (BRASIL, 2012). Esse é o principal foco do profissional fisioterapeuta ao que se refere ao ambiente de trabalho, compreendendo, portanto, toda a relação de causalidade (CARDOSO et al., 2013).

2.1 O AMBIENTE DE TRABALHO, OS DISTÚRBIOS RELACIONADOS E A ERGONOMIA

Entende-se que o trabalho ainda é um fator importante da vida social, e os riscos ocupacionais podem causar diversos danos à saúde dos trabalhadores. Os modelos culturais e estilos de vida modernos têm levado cada vez mais à especialização e atividades limitadas, resultando em uma sobrecarga na estrutura do corpo humano. A alta incidência de problemas posturais em adultos está relacionada à tendência desse padrão de atividade, que é especializado ou repetitivo, aliado ao sedentarismo e vícios posturais remanescentes da infância (CARDOSO et al., 2013).

A saúde do trabalhador pode ser comprometida por agentes agressivos, como o ruído, temperatura, mobiliário e iluminação não adequada. Além disso, as deficiências de fatores ambientais como a falta de atividade muscular, de comunicação com outras pessoas, diversificações em tarefas de trabalho, bem como a ausência de desafios intelectuais, pode influenciar a saúde do trabalhador (BOSI et al., 2006).

Cardoso et al., (2013) relatam que nos últimos anos, a incidência de doenças ocupacionais tem aumentado gradativamente, devido às inúmeras condições e tremendas pressões no ambiente de trabalho. O ambiente de trabalho é voltado para a produtividade, e as longas jornadas de trabalho se refletem na saúde do homem. É importante destacar esse fato, uma vez que essas doenças são causa de absenteísmo e insatisfação com o trabalho.

Razões de longa data para o absenteísmo são: estresse ou lesão por trabalho repetitivo e exaustivo e esforço imensurável. Esses eventos são decorrentes de hábitos sedentários, maus hábitos alimentares, ou mesmo falta de um ambiente adequado para trabalhar. Como resultado, há um aumento acentuado de muitas doenças e distúrbios relacionados ao trabalho, como LER e DORT, fazendo os funcionários queixar-se de condições de trabalho insatisfatórias, levando ao absenteísmo (GABRIEL et al., 2022).

As LER e DORT são distúrbios que podem acometer tendões, sinóvias, nervos, músculos, fáscias, ligamentos, que estão ou não relacionados com degeneração de tecidos, acometendo principalmente membros superiores, sendo sua principal sintomatologia a dor, as lesões do sistema músculo esqueléticos são principais causas do déficit de produtividade e afastamento do trabalho (BOSI et al., 2006).

As mulheres são mais acometidas por LER/DORT devido a várias condições fisiológicas, tais como menor desenvolvimento muscular e menor resistência da estrutura corporal do que os homens. Outro fato importante é que as mulheres ocupam cargos em diversas áreas no mercado de trabalho, porém não são valorizadas como os homens, estes também possuem mais acesso a treinamentos específicos para realizar determinadas funções, os quais não são fornecidos com a mesma frequência às mulheres. Um fator relacionado é que a maioria das mulheres trabalham em dois turnos (GABRIEL et al., 2022).

Conforme destacado por Barbosa et al., (2001) as LER/DORT estão cada vez mais presentes nas atividades profissionais, interferindo negativamente nos objetivos de empregados e empregadores, aumentando os custos, as insatisfações e as frustrações, entre outros aspectos negativos para atores dos dois lados, tornando-se um problema social. Nesse cenário, para Comper e Padula (2013), a análise dos fatores de risco de exposição em caráter ergonômico auxilia na perspectiva do planejamento de estratégias que favorecem para a melhoria das condições de trabalho, e em consequência para a redução dos distúrbios nesses trabalhadores, a qual muita das vezes são de caráter osteomusculares.

Conforme destacado por Cardoso et al., (2013) a ergonomia é uma disciplina científica dedicada a compreender a interação entre os humanos e outros elementos do sistema. É uma especialização dedicada ao estudo e promoção do bem-estar humano e do desempenho geral no trabalho. É uma ciência que visa desenvolver o conhecimento sobre as capacidades, limites e outras características do desempenho humano, o que está relacionado ao design de interfaces entre os indivíduos e outros componentes do sistema.

De acordo com Oliveira et al., (2016) a ergonomia física interfere exatamente sobre o posto de trabalho, alterando e/ou ajustando o mobiliário, ferramentas e instrumentos de modo que respeitem os limites antropométricos e desta forma poupem ou livrem a sobrecarga biomecânica sobre o corpo do funcionário. Como exemplo, Barbosa et al., (2001) citam em seu estudo que a existência de um número de colaboradores na área administrativa, com ocorrência de uma atividade em que a necessidade de adoção da postura sentada por longos períodos é uma realidade, corrobora com a prevalência de dores cervicais, torácicas e lombares.

Para Oliveira et al., (2016) esses problemas são regulares e progressistas nos postos de trabalho, logo, é necessário que seja instituído sistemas preventivos contra essas disfunções, como adaptações ergonômicas, ginástica laborativa e outras estratégias que mirem a saúde do trabalhador. Deste modo é possível conter ou diminuir o absenteísmo, reduzir custos e aumentar o rendimento da empresa.

Cardoso et al., (2013) destacam que muitos profissionais também são acometidos por problemas ocupacionais, como disfunções lombares decorrentes a posturas prejudiciais assumidas na execução da prática profissional, dentre eles o próprio fisioterapeuta é bastante susceptível a essas condições, considerando as posturas assumidas e a realização de movimentos repetitivos com as mãos, o que constituem os principais fatores de doenças ocupacionais entre os fisioterapeutas.

Oliveira et al., (2016) destacam que as funções que demandam o uso de teclado e monitor de vídeo, muitas vezes expõem servidores a posturas inadequadas, e os exercícios repetitivos e constantes das extremidades superiores têm sido constantemente relacionados como fontes de dor em ombro e pescoço. Maia (2014) relata que são dois os desafios para o mundo corporativo, o primeiro está pertinente à necessidade de uma força de trabalho saudável, determinada e preparada para a extrema competição presente, e o segundo é a capacidade da empresa arcar a demanda de seus integrantes em relação a uma maior qualidade de vida. Essas características estão intensamente interligadas, e induzem as empresas a investir mais na instalação de programas de qualidade de vida.

Para Vecchi, Santiago e Assis (2013), durante a realização de um trabalho, as exigências da tarefa e a atividade em curso tendem a prevalecer sobre a “consciência corporal”. O que está envolvido com um trabalho que exige atenção ou rapidez, requer que nos esqueçamos do próprio corpo, fixando a consciência no próprio trabalho, seus instrumentos e objetos.

Existem medidas que as empresas podem tomar para reduzir o absenteísmo, como: eliminar ou reduzir horas extras; adotar políticas de consolidação entre colegas; funcionários expressando gratidão em feriados, como aniversários, promoção programas de promoção à saúde e priorizar um bom relacionamento entre chefe e funcionário (GABRIEL et al., 2022).

2.2 A FISIOTERAPIA DO TRABALHO: FORMAÇÃO E PERSPECTIVAS

Conforme apontado pelo COFFITO (2020), a fisioterapia é a ciência da saúde que se ocupa em estudar, prevenir e tratar as disfunções cinético-funcionais decorrentes de distúrbios de órgãos e sistemas do corpo humano, ocasionado por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas. Para Maia (2014), o profissional especialista em fisioterapia do trabalho faz-se cada vez mais essencial no meio laborativo, devido atuar, sobretudo, em áreas como a ergonomia e biomecânica. Sua execução visa favorecer a qualidade de vida do funcionário e prevenir lesões musculoesqueléticas, e a soma desta intervenção é um avanço no desempenho e na produtividade no trabalho.

De acordo com Bosi et al., (2006) a especialidade da fisioterapia do trabalho, em processo de legitimação, preconiza a atuação do fisioterapeuta na prevenção, resgate e manutenção da saúde do trabalhador. O enfoque multiprofissional e interdisciplinar, a abordagem dos aspectos ergonômicos e biomecânicos e exercícios laborais devem estar presentes na atuação do fisioterapeuta do trabalho.

Sabe-se que desde a década de 1990, um pequeno grupo de fisioterapeutas do trabalho passou a cooperar de forma ordenada com a saúde dos funcionários, e se encorajou a constituir a Associação Nacional de Fisioterapia Ocupacional, cujo objetivo foi organizar e regular os terapeutas (MAIA, 2014). Em 2003, com o lançamento da Resolução COFFITO nº 259/03 (COFFITO, 2014) a resolução enfocou a área da fisioterapia no trabalho e divulgou referências aos procedimentos de saúde do fisioterapeuta ocupacional.

Conforme destacado por Bosi et al., (2006) a ergonomia é uma ciência interdisciplinar que estuda as adaptações dos instrumentos, condições e ambiente de trabalho às capacidades psicofisiológicas, antropométricas e biomecânicas do homem, com objetivos de reduzir o cansaço, acidentes de trabalho e os custos operacionais, a fim de aumentar o conforto do trabalhador, a produtividade e a rentabilidade.

Oliveira et al., (2016) relatam que a formação ergonômica é uma estratégia que busca a educação dos trabalhadores sobre posturas e métodos de trabalho com uso mais adequado da mecânica corporal, a qual proporciona conhecimento sobre o uso adequado do mobiliário e dos instrumentos de trabalho, capacita e incentiva o indivíduo a mudanças comportamentais e ao uso de formas laborais mais eficientes através de atividades práticas e orientações aplicadas, diretamente às situações do seu posto de trabalho ou utilizando recursos tradicionais como palestras e panfletos informativos.

Nesse cenário, o processo formativo em Fisioterapia vem sendo estudado, discutido, revisto e continuamente atualizado, agregando novos conceitos com base no cotidiano entre ensino, pesquisa e extensão, com uma intervenção ampliada na área do conhecimento da profissão de fisioterapia. O trabalho é intenso e extenso, alguns autores se debruçam sobre a teoria, outros sobre a prática (SIGNORELLI et al., 2010).

A fisioterapia do trabalho, hoje, baseia-se na ergonomia, na biomecânica, na terapia por exercícios como base para a intervenção, além dos conhecimentos básicos de fisioterapeutas (MAIA, 2014), como os conhecimentos da anatomia humana, antropometria, fisiologia, o estudo da postura de trabalho, trabalhos relacionados à segurança, saúde e conforto, manuseio de materiais relacionados ao trabalho e exercícios repetitivos (CARDOSO et al. 2013).

Comper e Padula (2013) destacam que além de favorecer as ações de promoção em saúde do trabalhador, a utilização de métodos para análise das condições de trabalho permite a mensuração dos níveis de exposição aos fatores de risco ergonômicos, a identificação das prioridades de atuação e o direcionamento para as intervenções mais apropriadas. Contudo, a escolha do método e da ferramenta a serem empregados torna-se, na maioria das vezes, um obstáculo aos profissionais da área de saúde do trabalhador decorrente da grande quantidade de técnicas e instrumentos disponíveis.

A maior parte dos riscos ergonômicos à saúde do trabalhador advém de operação e postura inadequadas, equipamento de direção insuficiente e organização e atividades assistenciais insuficientes. Esses comportamentos causam complicações de saúde para os trabalhadores, incluindo má-postura, fadiga, veias varicosas, hérnias, fraturas, entorses, contusões, dores lombares, etc. Portanto, a atuação do fisioterapeuta no ambiente de trabalho torna-se muito importante, pois ele é um profissional com habilidade e flexibilidade que pode realizar pesquisas científicas sobre a relação homem-máquina de forma segura e competente (MAIA, 2014).

2.3 O FISIOTERAPEUTA E A INTERVENÇÃO ERGONÔMICA

Para Maia (2014), é muito claro que o ambiente de trabalho há a necessidade da atuação do fisioterapeuta, profissional apto a atuar, quer seja ou não na prevenção, orientando apropriadamente o trabalhador quanto aos cuidados com a postura e a saúde em geral, de modo a minimizar os fatores de risco de surgimento de doenças ocupacionais. Bosi et al., (2006) destacam que independentemente do trabalho executado, as atividades repetitivas e as pressões emocionais podem desencadear as doenças relacionadas ao trabalho.

A fisioterapia laboral é uma especificidade da fisioterapia, conforme relatam Oliveira et al., (2016) o fisioterapeuta do trabalho é capaz atuar dentro ou fora das empresas ou organizações, objetivando a prevenção, oferta e reabilitação da saúde do trabalhador. O Fisioterapeuta opera papel crucial dentro de uma equipe pluridisciplinar de saúde ocupacional, pois está apto a desenvolver e fazer estratégias e programas de intermediação ergonômica, em especial dirigida ao controle de distúrbios musculoesqueléticos e de dores na coluna vertebral ao executar a instrução ergonômica, higiene postural dos trabalhadores, a pesquisa e adaptação dos postos de trabalho e a melhora do desempenho morfofuncional no emprego através da cinesioterapia particular ou coletiva.

Comper e Padula (2013) destacam que os trabalhadores apresentam alta prevalência de dor na região da coluna e membros superiores, conjunto à frequente exposição aos diferentes fatores de risco físicos (força, posturas inadequadas e repetição de movimentos) e organizacionais (trabalho excessivo e ausência de pausas) e psicossociais. Cardoso et al., (2013) destacam que referenciar a atividade do fisioterapeuta para determinar as causas das dores na coluna vertebral comuns pode trazer uma importante contribuição para a pesquisa e a ergonomia, pois esta visa melhorar as condições de trabalho para maior facilidade, segurança e conforto. Nesse sentido, a ergonomia pode ser utilizada como método alternativo para identificar as dificuldades associadas a essas condições nocivas e traduzi-las em requisitos e parâmetros ergonômicos que conscientizam os trabalhadores ou elaboram projetos ergonômicos.

Um estudo de Oliveira et al., (2016) na qual ele utilizou uma enquete para investigar os hábitos indicados e inapropriados na estação de trabalho pertinentes com o uso do computador, teclado, mouse, cadeira e mesa, ressaltou que após 6 meses de intervenção, a formação e ajustes ergonômicos dispuseram melhora nos hábitos dos trabalhadores no ambiente de trabalho além da contenção dos distúrbios musculoesqueléticos relatados.

Nesse sentido, Cardoso et al., (2013) confirmam o entendimento que pode ser observado na literatura, de que o número de trabalhadores das mais diversas áreas profissionais tem aumentado, sendo que esses trabalhadores apresentam distúrbios posturais devido à jornada de trabalho, que geralmente causam dores na coluna. Os profissionais de saúde apresentam alta incidência de dores na coluna vertebral relacionadas ao trabalho.

O estudo de Bosi et al., (2006) ressaltou que no setor de informática e contabilidade, a avaliação ergonômica do posto de trabalho caracterizou que as sintomatologias apresentadas podem ser resultantes do tempo prolongado da posição sentada, excesso de carga de trabalho, e as posturas inapropriadas dos funcionários no decorrer do expediente. Assim, sugeriu a conscientização postural na execução do trabalho, orientação quanto às pausas durante o trabalho e implementação de um programa de ginástica laboral com o intuito de minimizar as sintomatologias apresentadas.

É perceptível a importância dos benefícios que os trabalhadores obtiveram a partir da criação da especialização em saúde do trabalhador uma vez que o fisioterapeuta do trabalho tem por intuito o bem estar integral do trabalhador, todavia, percebe-se que os avanços nesta área vêm ocorrendo, mas de maneira consideravelmente lenta (MAIA, 2014). Para Oliveira et al., (2016) articular a adaptação e a formação ergonômica das equipes a exercícios terapêuticos que eduquem seu corpo para a carga de trabalho coincide ser a excelente estratégia de intervenção na prevenção de disfunções musculoesqueléticos e de dores na coluna vertebral associadas com o trabalho.

3. CONCLUSÃO

Conforme destacado no estudo, o trabalho na vida do ser humano é fator essencial e que os riscos ocupacionais podem causar vários danos à saúde do trabalhador. Vários foram os agentes agressivos citados, como ruído, iluminação inapropriada, temperatura, mobiliário, ausência de desafios intelectuais, excesso ou falta de atividade muscular, déficit de comunicação, diversificações em tarefas de trabalho e outros que podem influenciar a saúde do trabalhador.

A ergonomia, ciência interdisciplinar que estuda as adaptações dos instrumentos, condições e ambiente de trabalho às capacidades antropométricas, psicofisiológicas bem como biomecânicas do homem, é uma saída viável, pois tem por intuito a redução do cansaço, de acidentes do trabalho e dos custos operacionais para aumentar o conforto do trabalhador, a produtividade e a rentabilidade. Essa área do conhecimento se compõe como conhecimento essencial para o fisioterapeuta bem como a cinesiologia/cinesioterapia, além dos conhecimentos básicos do fisioterapeuta, uma vez que o profissional objetiva favorecer a qualidade de vida do trabalhador, prevenindo lesões, proporcionando bem estar e consequentemente melhorando o desempenho e a produtividade no trabalho.

O estudo surgiu com o intuito de responder a seguinte questão-norteadora: qual o papel e importância da intervenção ergonômica realizada pelo profissional fisioterapeuta no ambiente laborativo na perspectiva da prevenção das LER e DORT? E através disso considerou-se então que o fisioterapeuta especialista em fisioterapia do trabalho tornou-se um profissional essencial no meio industrial decorrente principalmente de seu conhecimento em áreas como a ergonomia e biomecânica, o que resulta com essa intervenção melhora no desempenho e na produtividade no trabalho.

Foi possível perceber com o estudo a importância dos benefícios que os trabalhadores bem como a empresa podem obter a partir da inserção desse profissional, já que o fisioterapeuta do trabalho visa o bem estar integral assim como maior rendimento do trabalhador, atuando de forma preventiva com uma visão estratégica de modo a minimizar o risco do trabalhador ser acometido por LER e DORT.

Entretanto, foi possível perceber também que os avanços nesta área vêm ocorrendo, mas de forma consideravelmente lenta, sendo necessário o desenvolvimento de novas pesquisas a fim de compreender de forma ampla essa área de atuação, nesse sentido, fica sugerido novas pesquisas, em especial de campo, a fim de perceber na prática a importância social dessa área de atuação.

REFERÊNCIAS

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[1] Pós-graduado em Fisioterapia Home Care / Atendimento Domiciliar, Fisioterapia do Trabalho e Ergonomia, Fisioterapia Neurofuncional, Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, Literatura e Língua Inglesa, Metodologia do Ensino de Sociologia e Filosofia, Educação a Distância 4.0, Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD, e em Gestão Educacional: Administração, Inspeção, Orientação e Supervisão. Graduado nos cursos de bacharelado em Fisioterapia, Serviço Social, tecnologia em Estética e Cosmética, licenciatura em Pedagogia, Matemática, Educação Física, História, Geografia, Filosofia, Artes e Letras com habilitação em Português, Inglês, Espanhol e Libras. Técnico em Edificações. ORCID: 0000-0003-1492-8144.

Enviado: Fevereiro, 2021.

Aprovado: Setembro, 2022.

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João Paulo da Silva Brito

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