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Efeitos Mantidos no Tempo após Capacitação em Competência Cultural: Segunda Fase de uma Pesquisa com Profissionais da Saúde Indígena

RC: 13043
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CONTEÚDO

FRENOPOULO, Christian [1], MILANI, Eduardo [2], MOREIRA, Nicoly Moreira [3], VASCONCELOS, Vitor [4], MOREIRA, Aíne [5]

FRENOPOULO, Christian. Efeitos Mantidos no Tempo após Capacitação em Competência Cultural: Segunda Fase de uma Pesquisa com Profissionais da Saúde Indígena. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 9. Ano 02, Vol. 07. pp 30-50, Dezembro de 2017. ISSN:2448-0959

RESUMO

Apresentam-se os resultados mantidos no tempo de onze meses após uma oficina de desenvolvimento de competência cultural, na qual participaram profissionais de enfermagem que trabalham com pacientes indígenas na Amazônia ocidental. Trata-se da segunda fase de uma pesquisa que, primeiramente, tinha medido os efeitos imediatos após participação na oficina e, nesta segunda fase atualizaram-se os dados procurando verificar a presença de mudanças perduráveis em um maior prazo. Foi observado que onze meses depois os efeitos positivos de mudança (registrados imediatamente após a conclusão da oficina) nas atitudes dos participantes se mantiveram em um nível semelhante. Também se registrou de forma notória uma forte mudança nos conhecimentos dos participantes sobre culturas e medicinas indígenas após o intervalo de onze meses. Em terceiro lugar, não se registrou uma mudança significativa nos comportamentos dos participantes tendentes a assumir mais a perspectiva do paciente, e a procurar a colaboração e o trabalho em conjunto com a família e com pajés e parteiras. O marco teórico centrou-se no conceito de “competência cultural”, o qual é um constructo que descreve a capacidade para interagir eficazmente com indivíduos culturalmente diferentes, e é especialmente relevante na prestação de serviços públicos, como por exemplo, a atenção à saúde. A hipótese principal era que a participação na oficina iria incrementar a competência dos profissionais para interagirem com pacientes culturalmente diferentes. Operacionalizada através de três variáveis, após onze meses foram corroboradas mudanças nas dimensões intelectuais e afetivas dos participantes, porém não foram confirmadas mudanças nas práticas e ações. A intervenção foi aplicada com profissionais de enfermagem da CASAI (Casa de Saúde do Índio) na cidade de Rio Branco, Acre.

Palavras-chave: Saúde Indígena, Capacitação Cultural, Enfermagem, Educação Continuada.

INTRODUÇÃO

Neste artigo apresentam-se os resultados mantidos no tempo de onze meses após uma oficina de desenvolvimento de competência cultural, na qual participaram profissionais de enfermagem que trabalham com pacientes indígenas na Amazônia ocidental. Trata-se da segunda fase de uma pesquisa que, primeiramente, tinha medido os efeitos imediatos após participação na oficina e, na segunda atualizaram-se os dados onze meses depois procurando verificar a presença de mudanças perduráveis em um maior prazo.

Em síntese, onze meses depois os efeitos positivos das mudanças nas atitudes dos participantes (registradas imediatamente após a conclusão da oficina) se mantiveram em um nível semelhante. Também se registrou notoriamente uma forte mudança nos conhecimentos dos participantes sobre culturas e medicinas indígenas após o intervalo de onze meses. Em terceiro lugar, não se percebeu uma mudança significativa nos comportamentos dos participantes propensos a assumir mais a perspectiva do paciente e a procurar a colaboração/trabalho em conjunto com a família, pajés e/ou parteiras.

A hipótese principal da pesquisa era que a participação na oficina iria incrementar a competência dos profissionais para interagirem com pacientes culturalmente diferentes. A segunda fase da pesquisa consistiu em repetir os questionários usados na primeira fase com os participantes onze meses após a oficina. Na primeira fase os questionários colheram dados antes e imediatamente depois da participação na oficina comparando um grupo experimental (submetido à intervenção) com um grupo controle (que ainda não tinha participado da intervenção). Os dados da primeira fase já foram publicados (FRENOPOULO et al., 2017).

JUSTIFICATIVA

Fez-se meritório verificar se as mudanças observadas imediatamente após a participação na oficina perduraram com o tempo ou se existiram novas mudanças a registrar. A hipótese da pesquisa pressupõe mudanças duráveis ao longo do tempo para poder incidir na prática profissional contínua dos trabalhadores. Portanto, nesta segunda fase procuramos fazer medições atualizadas das variáveis da pesquisa.

A pesquisa tenta incidir na competência cultural dos profissionais de enfermagem que trabalham em contato direto e contínuo com pacientes indígenas. A competência cultural pode ser definida como um conjunto de atitudes, habilidades, comportamentos e políticas que habilitam os sujeitos a agirem de forma eficiente nas relações interpessoais e profissionais, superando as diferenças culturais (RIBEIRO PEREIRA et al. 2014; COOPER & ROTER, 2002 apud BEACH et al., 2005; PRICE et al., 2005).

No Brasil, a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (BRASIL, 2002) indica diretrizes para a prestação de serviços que conforma com um modelo de atenção culturalmente sensível. A Política estabelece que a atenção à saúde para indígenas deve ser oferecida “de forma diferenciada, levando-se em consideração as especificidades culturais, epidemiológicas e operacionais desses povos” (BRASIL, 2002 p. 6). Para isto, “dever-se-á desenvolver e fazer uso de tecnologias apropriadas por meio de adequação das formas ocidentais convencionais de organização de serviços” (BRASIL, 2002, p. 6). Esta adequação inclui a “preparação de recursos humanos para atuação em contexto intercultural” (BRASIL, 2002, p. 13) e a “articulação [com os] sistemas tradicionais indígenas de saúde” (BRASIL, 2002, p. 13).

Escolhemos implementar a intervenção na Casa de Apoio à Saúde Indígena (CASAI) localizada na cidade de Rio Branco, capital do estado de Acre, a qual faz parte do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Rio Purus, pois neste local não há uma política, nem uma prática de oferecer módulos educativos orientados a melhorar a competência cultural dos servidores como parte de sua formação permanente, nem tampouco há uma política ou exercício sistemático de engajar práticas culturalmente sensíveis além daqueles feitos espontaneamente pelos funcionários. Sequer há articulação com os sistemas tradicionais indígenas de saúde. Todavia, as comunicações entre o pesquisador principal e os profissionais ocorridas em pesquisas anteriores mostravam sua vontade de participar deste tipo de formação, e da consciência de sua importância (FRENOPOULO, 2012).

Assim, desenhamos uma intervenção em que seria oferecido aos funcionários de enfermagem um módulo educacional no qual pudéssemos fazer uma avaliação objetiva e estatisticamente válida de possíveis mudanças em suas sensibilidades culturais.

METODOLOGIA

Nesta segunda fase da pesquisa, aplicamos os mesmos questionários entre os mesmos participantes das oficinas originais. Dos 19 participantes que completaram as oficinas originais, pudemos repetir os questionários com 13 deles. Fizemos os testes estatísticos, as tabelas e gráficos desta segunda fase comparando apenas os questionários destes com suas respostas originais na primeira fase.

Houveram seis participantes que não pudemos alcançar, seja porque não estão mais trabalhando na saúde indígena, ou porque estão localizados fora da cidade e inacessíveis ao momento da segunda fase da pesquisa. Seus questionários preenchidos na primeira fase foram retirados da amostra para fazer os cálculos e comparações desta segunda fase.

Os questionários foram entregues aos participantes, os quais os foram devolvendo entre as datas 3 e 19 de outubro de 2017. As oficinas aconteceram entre 12 e 20 de novembro de 2016, portanto há um intervalo de aproximadamente 11 meses entre a primeira e segunda fase da pesquisa.

A hipótese geral da pesquisa era que a participação na oficina incrementaria a competência cultural do participante. Assim, operacionalizamos o conceito de competência cultural através de três variáveis: 1) atitudes dos profissionais de saúde perante o trabalho em conjunto com indígenas; 2) os conhecimentos dos profissionais sobre culturas e medicinas tradicionais indígenas; e 3) os comportamentos dos profissionais tendentes a procurar a colaboração/trabalho em conjunto com os pacientes, suas famílias, pajés e/ou parteiras.

Nossa seleção de variáveis surge de pesquisas anteriores e políticas de competência cultural, dos quais fizemos uma síntese e adaptação (BEAMON et al., 2006; BEACH et al., 2005; PRICE et al., 2005; CRANDALL et al., 2003; BRACH & FRASERIRECTOR, 2000). Reconhecemos que a competência cultural também pode ser revelada em outros tipos de mudanças nos profissionais e também em mudanças nos pacientes (p.ex., sua satisfação com a atenção, ou em melhoras nos indicadores objetivos da saúde).

As variáveis foram medidas através de questionários. Deste modo, a variável “atitude dos profissionais” foi dívida em três sub-variáveis: a) valorizar o trabalho em conjunto com agentes indígenas; b) preferir o trabalho em conjunto com agentes indígenas; e c) ter intenção de trabalhar em conjunto com agentes indígenas. Os questionários sobre atitudes continham 51 afirmações. Pedimos aos participantes para identificar seu grau de concordância com cada uma das afirmações numa escala Likert de 5 opções (“concordo totalmente”, “concordo muito”, “concordo em média”, “concordo pouco”, “não concordo”).

A variável “conhecimentos sobre culturas e medicinas indígenas” foi medida através de um questionário com 77 afirmações sobre culturas e medicinas indígenas. Pedimos aos participantes para identificar quais afirmações eram verdadeiras e quais eram falsas, ou indicar que não sabiam.

A variável “comportamentos tendentes a procurar a colaboração com agentes indígenas” foi medida através de um questionário com 21 afirmações sobre execução de ações diversas (p.ex., procurar conselho, utilizar linguagem do paciente, executar ações em conjunto com pajés). Pedimos aos participantes para identificarem seu grau de execução das ações listadas numa escala Likert de 5 opções (“aconteceu sempre”, “aconteceu muito”, “aconteceu em média”, “aconteceu pouco”, “não aconteceu”).

Como tivemos que retirar os questionários dos participantes inacessíveis para a segunda fase, fizemos novamente os cálculos e gráficos referentes à primeira fase tomando em conta apenas os dados dos 13 trabalhadores que também participaram na segunda etapa. Notamos que os valores e gráficos se mantém comparáveis aos da amostra completa usada na análise inicial da primeira fase (ver FRENOPOULO et al., 2017).

Os gráficos e os valores “p” comparam os valores basais dos participantes (ou seja, antes de ter participado da oficina) com os valores imediatamente após a oficina, para constatar as primeiras mudanças registradas após a mesma. Esta comparação foi o objetivo da primeira fase e mostraria se houve uma mudança imediata como efeito de participação na referida (ver FRENOPOULO et al., 2017). Logo, comparamos os valores registrados imediatamente após participação na oficina com os valores registrados onze meses depois, para constatar se houve uma mudança como efeito do intervalo de tempo. Esta segunda comparação é o objetivo da segunda fase da pesquisa.

Para a análise dos questionários utilizamos tabelas de contingência. Procuramos calcular o Qui-quadrado (X2) e o valor “p” (McDonald 2014). Utilizamos o programa R para os testes estatísticos e a construção de gráficos (ver www.r-project.org). Os gráficos mostram as frequências das respostas.

A “hipótese nula” (H0) da segunda fase de pesquisa seria de que “não houveram mudanças” nas atitudes, conhecimentos, ou comportamentos onze meses após participação na oficina. Ou seja, fez-se o teste Qui-quadrado (X2) e o valor “p” procurando identificar a presença ou ausência de uma associação entre o intervalo de tempo (onze meses) e os dados registrados para cada variável.

No entanto, para a primeira fase de pesquisa a “hipótese nula” (H0) seria de que “não houveram mudanças” nas atitudes, conhecimentos, ou comportamentos após participação imediata na oficina. Ou seja, fez-se o teste Qui-quadrado (χ2) e o valor “p” procurando identificar a presença ou ausência de uma associação entre a participação imediata na oficina e os dados registrados para cada variável.

A pesquisa foi financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) através da chamada MCTI/CNPQ/MEC/CAPES No 22/2014. Agradecemos a ajuda da Prof. Doutoranda Patricia Nakayama Miranda para a análise estatística.

RESULTADOS

1. Perdurabilidade após 11 meses da mudança “valorizar o trabalho em conjunto”

Pode-se observar no Gráfico 1 que na primeira fase da pesquisa houve uma mudança notória na valorização do trabalho em conjunto com agentes indígenas ao comparar as respostas dos participantes antes e imediatamente depois da oficina (ver também FRENOPOULO et al., 2017). Desta maneira, observa-se que nessa primeira fase houve um aumento das respostas dos participantes tendentes a concordar totalmente ou muito com o trabalho em conjunto.

Fazendo o teste do Qui-quadrado (X2) com os dados da primeira fase, comparando antes e imediatamente depois da oficina, o valor “p” < 0,01 (ver Tabela 1). Portanto, as mudanças nos dados das variáveis são estatisticamente significativas. Isto sugere que cumpriu-se nossa hipótese de que a participação na oficina conduz à mudança na valorização do trabalho em conjunto.

Logo, percebe-se de que essa mudança se manteve após 11 meses, já que o gráfico dos dados colhidos na segunda fase permanece quase idêntico com o gráfico das respostas colhidas imediatamente após a oficina (ver Gráfico 1).

Em seguida, fazendo o teste do Qui-quadrado (X2) com os dados da segunda fase, comparando imediatamente depois da oficina com onze meses após, o valor “p” > 0,01 (ver Tabela 1). Portanto, não há uma associação estatisticamente significativa entre as variáveis. Isto sugere que o intervalo de tempo não afetou os dados de forma estatisticamente significativa, ou seja, a passagem de tempo não teve um efeito estatisticamente significativo.

Gráfico 1 - Frequência de respostas referentes a valorizar o trabalho em conjunto
Gráfico 1 – Frequência de respostas referentes a valorizar o trabalho em conjunto

Tabela 1 – Testes Qui-quadrado (X2) comparando VALORIZAR: 1) antes e imediatamente depois da oficina; 2) imediatamente depois da oficina e 11 meses após.

ATITUDE: VALORIZAR

1) Antes e depois

Pearson’s Chi-squared test

data:  atitude_valorizar[1:2, ]

X-squared = 61.719, df = 5, p-value = 5.362e-12

2) Depois e após 11 meses

Pearson’s Chi-squared testdata:  atitude_valorizar[2:3, ]X-squared = 9.3355, df = 5, p-value = 0.09641

 

 

2. Perdurabilidade após 11 meses da mudança “preferir o trabalho em conjunto”

Pode-se observar no Gráfico 2 que na primeira fase da pesquisa houve uma mudança notória em preferir o trabalho em conjunto com agentes indígenas ao comparar as respostas dos participantes antes e imediatamente depois da oficina (ver também FRENOPOULO et al., 2017). Observa-se que nessa primeira fase houve um corrimento das respostas dos participantes tendentes a concordar totalmente ou muito com o trabalho em conjunto.

Fazendo o teste do Qui-quadrado (X2 ) com os dados da primeira fase, comparando antes e imediatamente depois da oficina, o valor “p” < 0,01 (ver Tabela 2). Portanto, as mudanças nos dados das variáveis são estatisticamente significativas. Isto sugere que cumpriu-se nossa hipótese de que a participação na oficina conduz à mudança em preferir o trabalho em conjunto.

Logo, percebe-se de que essa mudança se manteve após 11 meses, já que o gráfico dos dados colhidos na segunda fase permanece muito semelhante com o gráfico das respostas colhidas imediatamente após a oficina (ver Gráfico 2).

Em seguida, fazendo o teste do Qui-quadrado (X2) com os dados da segunda fase, comparando imediatamente depois da oficina com onze meses após, o valor “p” > 0,01 (ver Tabela 2). Portanto, não há uma associação estatisticamente significativa entre as variáveis. Isto sugere que o intervalo de tempo não afetou os dados de forma estatisticamente significativa, ou seja, a passagem de tempo não teve um efeito estatisticamente significativo.

Gráfico 2 - Frequência de respostas referentes a preferir o trabalho em conjunto
Gráfico 2 – Frequência de respostas referentes a preferir o trabalho em conjunto

Tabela 2 – Testes Qui-quadrado (X2) comparando PREFERIR: 1) antes e imediatamente depois da oficina; 2) imediatamente depois da oficina e 11 meses após.

ATITUDE: PREFERIR

1) Antes e depois

Pearson’s Chi-squared testdata:  atitude_preferir[1:2, ]X-squared = 61.135, df = 5, p-value = 7.08e-12

2) Depois e após 11 meses

Pearson’s Chi-squared testdata:  atitude_preferir[2:3, ]X-squared = 12.338, df = 5, p-value = 0.03044

 

3. Perdurabilidade após 11 meses da mudança “ter intenção de trabalhar em conjunto “

Pode-se observar no Gráfico 3 que na primeira fase da pesquisa houve uma mudança em ter intenção de trabalhar em conjunto com agentes indígenas ao comparar as respostas dos participantes antes e imediatamente depois da oficina (ver também FRENOPOULO et al., 2017). Observa-se que nessa primeira fase houve um aumento das respostas dos participantes tendentes a concordar totalmente ou muito com o trabalho em conjunto.

Fazendo o teste do Qui-quadrado (X2) com os dados da primeira fase, comparando antes e imediatamente depois da oficina, o valor “p” < 0,01 (ver Tabela 3). Portanto, as mudanças nos dados das variáveis são estatisticamente significativas. Isto sugere que cumpriu-se nossa hipótese de que a participação na oficina conduz à mudança em ter intenção de trabalhar em conjunto.

Logo, percebe-se que essa mudança se manteve após 11 meses, já que o gráfico dos dados colhidos na segunda fase permanece muito semelhante com o gráfico das respostas colhidas imediatamente após a oficina (ver Gráfico 3).

Em seguida, fazendo o teste do Qui-quadrado (X2) com os dados da segunda fase, comparando imediatamente depois da oficina com onze meses após, o valor “p” > 0,01 (ver Tabela 3). Portanto, não há uma associação estatisticamente significativa entre as variáveis. Isto sugere que o intervalo de tempo não afetou os dados de forma estatisticamente significativa, ou seja, a passagem de tempo não teve um efeito estatisticamente significativo.

Gráfico 3 - Frequência de respostas referentes a ter intenção de trabalhar em conjunto
Gráfico 3 – Frequência de respostas referentes a ter intenção de trabalhar em conjunto

Tabela 3 – Testes Qui-quadrado (X2) comparando TER INTENÇÃO: 1) antes e imediatamente depois da oficina; 2) imediatamente depois da oficina e 11 meses após.

ATITUDE: TER INTENÇÃO

1) Antes e depois

Pearson’s Chi-squared testdata:  atitude_intencao[1:2, ]X-squared = 26.311, df = 5, p-value = 7.764e-05

2) Depois e após 11 meses

Pearson’s Chi-squared testdata:  atitude_intencao[2:3, ]X-squared = 5.818, df = 5, p-value = 0.3243

 

 

4. Forte mudança nos conhecimentos após 11 meses

Pode-se observar no Gráfico 4 de que na primeira fase da pesquisa houve uma mudança leve na identificação de veracidade ou falsidade de uma lista de afirmações sobre culturas e medicinas indígenas ao comparar as respostas dos participantes antes e imediatamente depois da oficina (ver também FRENOPOULO et al., 2017).

Fazendo o teste do Qui-quadrado (X2) com os dados da primeira fase, comparando antes e imediatamente depois da oficina, o valor “p” < 0,01 (ver Tabela 4). Portanto, as mudanças nos dados das variáveis são estatisticamente significativas. Isto sugere que cumpriu-se nossa hipótese de que a participação na oficina conduz à mudança nos conhecimentos sobre culturas e medicinas indígenas.

Logo, percebe-se que essa mudança não se manteve após 11 meses, já que o gráfico dos dados colhidos na segunda fase muda muito em comparação com o gráfico das respostas colhidas imediatamente após a oficina (ver Gráfico 4). São mais semelhantes entre si os gráficos de antes e imediatamente depois da oficina, em comparação com o gráfico dos valores colhidos onze meses após, ou seja, continuou a tendência na mudança nos conhecimentos durante o intervalo de onze meses.

Em seguida, fazendo o teste do Qui-quadrado (X2) com os dados da segunda fase, comparando imediatamente depois da oficina com onze meses após, o valor “p” < 0,01 (ver Tabela 4). Portanto, há uma associação estatisticamente significativa entre as variáveis. Isto sugere que o intervalo de tempo afetou os dados de forma estatisticamente significativa. Ou seja, a passagem de tempo teve um efeito estatisticamente significativo na mudança dos conhecimentos.

Gráfico 4 - Frequência de identificação de veracidade ou falsidade de afirmações sobre culturas e medicinas indígenas
Gráfico 4 – Frequência de identificação de veracidade ou falsidade de afirmações sobre culturas e medicinas indígenas

Tabela 4 – Testes Qui-quadrado (X2) comparando CONHECIMENTOS: 1) antes e imediatamente depois da oficina; 2) imediatamente depois da oficina e 11 meses após.

CONHECIMENTOS

1) Antes e depois

Pearson’s Chi-squared test

data:  conhecimento[1:2, ]

X-squared = 26.807, df = 2, p-value = 1.51e-06

 

2) Depois e após 11 meses

Pearson’s Chi-squared test

data:  conhecimento[2:3, ]

X-squared = 90.683, df = 2, p-value < 2.2e-16

 

 

5. Possível leve mudança em “assumir a perspectiva do paciente” após 11 meses

Pode-se observar no Gráfico 5 que houve uma mudança leve em assumir a perspectiva do paciente (obter o ponto de vista do paciente, utilizar a linguagem do mesmo, agir conforme às preferências dele). Observa-se um corrimento leve das respostas tendentes a executar estas ações com maior frequência. Para essa variável, não há medições feitas imediatamente após a oficina, pois o participantes não exerceram sua prática laboral durante a mesma. Portanto, há, apenas, medições basais (antes da oficina) e após 11 meses.

Gráfico 5 - Frequência de respostas referentes a assumir a perspectiva do paciente
Gráfico 5 – Frequência de respostas referentes a assumir a perspectiva do paciente

Fazendo o teste do Qui-quadrado (X2) com os dados, comparando antes e 11 meses após a oficina, o valor “p” > 0,01 (ver Tabela 5). De fato, o valor “p” fica no limite de 0,05, o que indica uma possível associação estatística. Nós iremos interpretar este resultado como uma ausência de uma forte associação estatisticamente significativa (p>0,01), mas com uma leve mudança observável (não é claramente indicativa e pode ser circunstancial). Portanto, não houve uma mudança significativa em assumir a perspectiva do paciente. Porém, houve uma mudança levemente observável, não claramente significativa.

Tabela 5 – Teste Qui-quadrado (X2) comparando ASSUMIR PERSPECTIVA DO PACIENTE antes e 11 meses após.

COMPORTAMENTO: PACIENTES

1) Antes e após 11 meses

Pearson’s Chi-squared test

data:  comportamento_pacientes1

X-squared = 9.0984, df = 4, p-value = 0.05869

 

 

6. Possível mudança leve em “trabalhar junto com pajés e/ou parteiras” após 11 meses

Pode-se observar no Gráfico 6 que houve uma mudança leve em trabalhar junto com pajés e/ou parteiras (p.ex., tomar decisões em conjunto, executar ações coordenadas, procurar conselho). Observa-se um aumento leve das respostas com tendência a executar estas ações com maior frequência. Para esta variável, não há medições feitas imediatamente após a oficina, pois o participantes não exerceram sua prática laboral durante a referida. Portanto, apenas há medições basais (antes da oficina) e após 11 meses.

Gráfico 6 - Frequência de respostas referentes a trabalhar junto com pajés e/ou parteiras
Gráfico 6 – Frequência de respostas referentes a trabalhar junto com pajés e/ou parteiras

Fazendo o teste do Qui-quadrado (X2 ) com os dados, comparando antes e 11 meses após a oficina, o valor “p” > 0,01 (ver Tabela 6). De fato, o valor “p” fica no limite de 0,05, o que indica uma possível associação estatística. Nós iremos interpretar este resultado como uma ausência de uma forte associação estatisticamente significativa (p>0,01), mas com uma leve mudança observável (não é claramente indicativa e pode ser circunstancial). Portanto, não houve uma mudança significativa em trabalhar em conjunto com pajés e/ou parteiras. Porém houve uma mudança levemente observável, não claramente significativa.

Tabela 6 – Teste Qui-quadrado (X2) comparando TRABALHAR JUNTO COM PAJÉS/PARTEIRAS antes e 11 meses após.

COMPORTAMENTO: PAJÉ/PARTEIRA

1) Antes e após 11 meses

Pearson’s Chi-squared testdata:  comportamento_paje1X-squared = 9.0984, df = 4, p-value = 0.05869

 

7. Ausência de mudanças em “Trabalhar junto com a família, os Agentes Indígenas de Saúde (AIS) ou outros representantes indígenas” após 11 meses

Pode-se observar nos Gráficos 7, 8, e 9 que houve uma mudança leve em trabalhar junto com a família do paciente, os Agentes Indígenas de Saúde (AIS), ou outros representantes indígenas (terceiros). Observa-se um aumento leve das respostas tendentes a executar estas ações com maior frequência. Para essa variável, não há medições feitas imediatamente após a oficina, pois o participantes não exerceram sua prática laboral durante a já citada. Portanto, apenas há medições basais (antes da oficina) e após 11 meses.

Gráfico 7 - Frequência de respostas referentes a trabalhar junto com a família do paciente
Gráfico 7 – Frequência de respostas referentes a trabalhar junto com a família do paciente
Gráfico 8 - Frequência de respostas referentes a trabalhar junto com os Agentes Indígenas de Saúde (AIS).
Gráfico 8 – Frequência de respostas referentes a trabalhar junto com os Agentes Indígenas de Saúde (AIS).
Gráfico 9 – Frequência de respostas referentes a trabalhar junto com outros representantes indígenas (terceiros).
Gráfico 9 - Frequência de respostas referentes a trabalhar junto com outros representantes indígenas (terceiros).
Gráfico 9 – Frequência de respostas referentes a trabalhar junto com outros representantes indígenas (terceiros).

Fazendo o teste do Qui-quadrado (X2 ) com os dados, comparando antes e 11 meses após a oficina, o valor “p” > 0,01 (ver Tabelas 7, 8, e 9). De fato, o valor “p” fica além do limite de 0,05. Portanto, não há uma associação estatisticamente significativa. As mudanças observadas não podem ser justificadas estatisticamente. Portanto, não houve uma mudança significativa em trabalhar em conjunto com a família, os Agentes Indígenas de Saúde (AIS), ou outros representantes indígenas (terceiros).

Tabela 7 – Teste Qui-quadrado (X2) comparando TRABALHAR JUNTO COM A FAMÍLIA antes e 11 meses após.

COMPORTAMENTO: FAMILIA

1) Antes e após 11 meses

Pearson’s Chi-squared test

data:  comportamento_familia1

X-squared = 4.7197, df = 4, p-value = 0.3173

 

 

Tabela 8 – Teste Qui-quadrado (X2) comparando TRABALHAR JUNTO COM OS AGENTES INDÍGENAS DE SAÚDE (AIS) antes e 11 meses após.

COMPORTAMENTO: AIS

1) Antes e após 11 meses

Pearson’s Chi-squared testdata:  comportamento_aisX-squared = 6.1399, df = 5, p-value = 0.2928

 

Tabela 9 – Teste Qui-quadrado (X2) comparando TRABALHAR JUNTO COM OS AGENTES INDÍGENAS DE SAÚDE (AIS) antes e 11 meses após.

COMPORTAMENTO: TERCEIROS

1) Antes e após 11 meses

Pearson’s Chi-squared test

data:  comportamento_terceiros

X-squared = 5.7465, df = 5, p-value = 0.3317

 

 

DISCUSSÃO

Após 11 meses, percebemos que se mantiveram as mudanças positivas nas atitudes dos profissionais tendentes a valorizar, preferir, e ter intenção de trabalhar em conjunto com os agentes indígenas.

No que refere-se aos conhecimentos sobre culturas e medicinas indígenas, as mudanças estatisticamente significativas observadas no primeiro instante após a oficina se acentuaram com o tempo. De modo que após 11 meses, há mais mudanças nos conhecimentos dos participantes. No momento da segunda fase da pesquisa, os participantes identificam maior número de afirmações verdadeiras, e simultaneamente aumenta seu reconhecimento da falta de conhecimento sobre alguns assuntos. Ou seja, há maiores certezas sobre alguns temas, e também mais cautela e/ou possivelmente diminuição do preconceito referente a outros assuntos. Pensamos que isto é um resultado favorável, pois sugere que os participantes continuaram desenvolvendo seus conhecimentos sobre culturas e medicinas indígenas ainda na ausência do estímulo imediato da oficina.

A única variável que não mostrou mudanças estatisticamente significativas foi nos comportamentos tendentes a trabalhar em conjunto e de forma coordenada com agentes indígenas. Não houve mudanças significativas nos comportamentos dos profissionais. Possivelmente há leves mudanças enquanto assumir mais a perspectiva do paciente e de trabalhar em conjunto com pajés e parteiras, mas não é uma mudança estatisticamente significativa. Ao mesmo tempo, não houve mudanças significativas referentes a trabalhar em conjunto e de forma coordenada com a família do paciente, os Agentes Indígenas de Saúde (AIS), ou outros representantes indígenas (terceiros).

Resumindo, a segunda fase da pesquisa mostra que ocorreram mudanças nas atitudes e nos conhecimentos dos participantes, porém não aconteceram mudanças significativas na prática profissional. Cabe a futuras pesquisas tentar explicar a ausência de mudanças comportamentais, e tentar elaborar estratégias para incidir nessa variável.

CONCLUSÃO

Apresentamos nesse artigo os resultados de uma avaliação de eficácia de uma oficina destinada a melhorar a competência de profissionais de enfermagem para adequar seus serviços às particularidades culturais dos seus pacientes indígenas. Especificamente procuramos gerar modificações: 1) nas suas atitudes para que sejam a favor de trabalhar em conjunto com agentes indígenas; 2) nos seus conhecimentos sobre culturas e medicinas indígenas; e, 3) nos seus comportamentos e interações com os pacientes e outros representantes indígenas.

Os resultados mostram que após onze meses, se mantiveram as mudanças nas atitudes a favor do trabalho em conjunto com agentes indígenas que fora observado imediatamente após a oficina (ver FRENOPOULO et al., 2017). Após onze meses também observam-se mudanças nos conhecimentos dos participantes sobre culturas e medicinas indígenas, os quais continuaram desenvolvendo-se além dos valores registrados imediatamente após a oficina (ver FRENOPOULO et al., 2017). Finalmente, não houveram mudanças significativas nos comportamentos e práticas profissionais tendentes a trabalhar em conjunto com agentes indígenas variados. Talvez houve uma mudança pequena em assumir a perspectiva do paciente e em trabalhar em conjunto com pajés e/ou parteiras.

Com esta pesquisa pudemos suprir a ausência de medições estatísticas mostrando a eficácia de módulos educativos deste tipo (cf. RIBEIRO PEREIRA et al., 2014). Ao mesmo tempo, também pudemos suprir a necessidade de implementar módulos de educação profissional continuada para ajudar a capacitar os profissionais em assuntos de cultura e medicina tradicional indígena. Desta forma, os profissionais não devem apenas adquirir esta competência de forma espontânea através da motivação individual (cf. RIBEIRO PEREIRA et al., 2014), senão de forma sistemática e estando disponível para a totalidade dos funcionários da categoria na unidade de saúde estudada.

As oficinas foram positivas para provocar mudanças nas dimensões intelectuais e afetivas dos participantes, no entanto essas mudanças não se traduziram em posteriores modificações das práticas e ações. Nesse caso, prevê-se a utilidade de uma intervenção e pesquisa futura que possa suscitar ou facilitar mudanças especificamente nas ações e práticas.

No caso de uma futura aplicação desta intervenção, também lembramos que a primeira fase da pesquisa identificou que os participantes acharam de maior proveito a técnica pedagógica de visitar as salas e conversar diretamente com os pacientes hospedados ali, e em segundo lugar as discussões abertas entre os participantes compartilhando experiências e opiniões (ver FRENOPOULO et al., 2017).

REFERÊNCIAS

BEACH, Mary Catherine, et al. Cultural Competency: A Systematic Review of Health Care Provider Educational Interventions. Med Care, v. 43, n. 4, p. 356-373, 2005.

BEAMON, Carmen et al. A Guide to Incorporating Cultural Competency into Health Professionals’ Education and Training, National Health Law Program, 2006.

BRACH, Cindy; FRASERIRECTOR, Irene. Can Cultural Competency Reduce Racial and Ethnic Health Disparities? a Review and Conceptual Model. Med Care Res Rev, v. 57, n. 4, p. 181-217, 2000.

BRASIL. Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

CRANDALL, Sonia, et al. Applying Theory to the Design of Cultural Competency Training for Medical Students: A Case Study, Acad. Med., v. 78, p. 588-594, 2003.

FRENOPOULO, Christian, et al. Capacitação em Competência Cultural na Saúde Indígena: Avaliação de uma Oficina de Capacitação para Profissionais de Enfermagem. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 06. Ano 02, Vol. 01. pp 336-357, Setembro de 2017. ISSN:2448-0959

FRENOPOULO, Christian. The Referential Functions of Agency: Health Workers in Medical Missions to Madiha (Kulina) Indians in the Brazilian Amazon. Tese (Doutorado em Antropologia) – Department of Anthropology, University of Pittsburgh, 2012.

McDONALD, John H. Handbook of Biological Statistics. Third Edition. Baltimore: Sparky House Publishing, 2014.

PRICE, Eboni et al. A Systematic Review of the Methodological Rigor of Studies Evaluating Cultural Competence Training of Health Professionals, Acad Med, v. 80, p. 578-586, 2005.

RIBEIRO PEREIRA, Erica et al. A experiência de um serviço de saúde especializado no atendimento a pacientes indígenas, Saúde e Sociedade, v. 23, n. 3, Jul/Set., 2014.

[1] UFAC (Universidade Federal do Acre). Pesquisador principal

[2] UFAC (Universidade Federal do Acre). Aluno

[3] UFAC (Universidade Federal do Acre). Aluna

[4] UFAC (Universidade Federal do Acre). Aluna

[5] UFAC (Universidade Federal do Acre). Aluna

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Christian Dave Frenopoulo Gorfain

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