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Seria a pesquisa quantitativa a melhor ferramenta de análise para a compreensão da violência urbana?

RC: 30011
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL 

COSTA, Rodrigo Cesar [1]

COSTA, Rodrigo Cesar. Seria a pesquisa quantitativa a melhor ferramenta de análise para a compreensão da violência urbana? Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 05, Vol. 05, pp. 124-136 Maio de 2019. ISSN: 2448-0959

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo ressaltar a importância do método qualitativo no estudo da violência e demonstrar as formas reducionistas, naturalistas e quantificáveis oriundas das pesquisas de cunho quantitativo. Para tanto, foram selecionados alguns autores que trabalham na perspectiva crítica aos modelos científicos puramente quantitativos a fim de explorar uma leitura mais ampliada deste fenômeno. Concluímos que falar sobre violência implica em um estudo inesgotável, nesse sentido não teria como reduzir este tema a um único aspecto e quantificar seu aparecimento, sem levar em consideração toda a rede complexa de outros fatos que interferem diretamente no surgimento da violência.

Palavras Chave: Violência, Pesquisa quantitativa, Ciências humanas.

INTRODUÇÃO

A violência é um tema muito complexo e abrangente, distinguindo-se nas diversidades culturais e nos períodos históricos. Autores que se dedicam ao estudo desse fenômeno, como Fraga (2002), nos diz que a violência sempre esteve presente desde o início da humanidade, fazendo parte de todos os períodos históricos da raça humana. É tão intrínseco no surgimento da humanidade que, desde os períodos mais primitivos, o homem utilizava recursos e ferramentas para se proteger das forças da natureza e de outros seres humanos que demonstravam ameaças.

Este tipo de violência é definido pelo referido autor como algo mais originário, que tinha como foco a luta pela sobrevivência. Já as características que compreendemos sobre a violência na contemporaneidade é diferente dessa mais originária: na atualidade, a violência é destrutiva, muitas vezes difícil de ser reconhecida pela sutileza e pelas várias formas expressivas. Sendo assim, têm-se duas formas de violência: a originária, relacionada ao instinto de sobrevivência do homem; e a desagregadora, classificada como a forma destruidora dos tipos de violências atuais.

Outro pesquisador que observa a complexidade desse tema é Misse (1999), sendo que para este autor é fundamental ressaltar que a violência, na atualidade, comporta um vasto campo de significados. Nesse sentido, não se pode usar essa expressão de forma particular, isto porque não existe somente a violência de forma singular, mas sim violências de variadas formas e manifestações, em diferentes graus e definições.

Até aqui expomos brevemente algumas características de como a violência é abrangente e complexa para ser definida. Autores como Antunes e Zuin (2008); Fraga (2002) e Misse (1999) se dedicam para compreender a violência, e se preocupam com as pesquisas, que não são poucas, pautadas em estatísticas sobre a violência, faltando uma profundidade maior para compreender este fenômeno na atualidade.

Sendo assim, este trabalho tem como objetivo ressaltar a importância do método qualitativo no estudo da violência e criticar as formas reducionistas, naturalistas e quantificáveis que se colocam como únicas formas de se produzir ciência com seriedade.

Desta forma, almeja-se um estudo sobre o tema da violência levando em consideração a reflexão crítica, sem a cristalização do tema, procurando cada vez mais problematizar e permitir uma análise do fenômeno de forma dialética, sem simplificar e padronizar a pesquisa, como os estudos instrumentalistas e naturalizados sugerem.

CRÍTICAS AO MODELO QUANTITATIVO SOBRE O ESTUDO DA VIOLÊNCIA

Para Antunes e Zuin (2008), as pesquisas que focam somente em estatísticas e predeterminações de conceitos servem para adaptar os indivíduos à ideologia imposta pela sociedade na qual estamos inseridos. A maioria dos indivíduos está acostumada com as ciências instrumentais, que se fundamentam em explicações de fácil entendimento pelo público e de grande divulgação midiática, que permite o acesso de todas as pessoas aos meios científicos.

Nessa mesma linha de raciocínio, Santos (1996) considera que somos herdeiros de um modelo científico totalitário, ou seja, de um método científico que se diz único e verdadeiro, e que outras formas de conhecimento são descartadas e inválidas. Essa forma de conhecimento imposto pelas ciências naturais distingue o homem do objeto estudado: a natureza é passiva perante o homem e, deste modo, a qualquer momento, pode-se desmontar e montar as peças em formas de leis e, baseado nisso, compreender e dominar o mundo conforme a sua vontade. Assim, o homem se ilude com a sua crença de que o conhecimento científico permitirá ao sujeito dominar e possuir a natureza.

Essa ciência, segundo este mesmo autor, se baseia na lógica e na instrumentalização que permitem um aprofundamento e rigorosidade de investigação dos fenômenos naturais. Ela é herdeira do pensamento matemático; este que forneceu a metodologia necessária para o conhecimento. Conhecer, para o modelo científico natural, significa quantificar, e as qualidades intrínsecas do objeto são descartadas, imperando a quantidade. O conhecimento também significa reduzir, dividir o objeto e classificar suas partes, anulando, deste modo, a complexidade dos fenômenos e do mundo.

Ainda de acordo com Santos (1996), essa ciência determinista vê o mundo como uma máquina e que, ao entender cada parte de seu conjunto, é possível compreender o todo. Esse modelo mecanicista, pois se preocupa com o domínio e controle da natureza, e não com a profundidade de se compreender o que é a realidade. Essa ciência moderna foi inspirada no positivismo de Comte, no qual só existem duas formas de conhecimento: as disciplinas formais da matemática e as ciências empíricas. Este rigor do modelo das ciências naturais desqualifica, degrada os objetos e destrói a personalidade da natureza. A sugestão do autor recai sobre a possibilidade de interlocução entre o objetivo e o subjetivo, mecanicismo e interpretação dos fenômenos.

Segundo Antunes e Zuin (2008), muitos estudiosos do tema da violência não se preocupam em problematizar a pesquisa e, desta forma, só contribuem para uma generalização de como educar os sujeitos e os tornarem pacíficos. Assim, os principais problemas que rodeiam a violência, como as influências negativas dos pais, dos amigos, da escola e da sociedade desigual, são vistos como meramente naturais e, por esta razão, o foco de como resolver esses comportamentos antiquados e classificados como violentos é desenvolver a boa conduta moral dos indivíduos. Mesmo que muitas pesquisas tiveram o mérito de criar métodos que classificam os variados tipos de manifestação da violência, faltam estudos voltados para a compreensão da violência praticada por meio das influências sociais. O que observamos é a coisificação da violência por meras pesquisas quantitativas, e isso somente torna o homem mais alienado a essa ideia da violência, tornando-se irreflexivo, limitado, adestrado aos modelos criados pela ideologia dominante. Isso só enriquece a dominação da cultura sobre o sujeito e a impossibilidade deste de se tornar autônomo e crítico aos modelos criados pela sociedade.

Mencionando brevemente a dimensão e a superficialidade com o qual o paradigma cientifico quantitativo fala sobre a violência, destacamos o estudo de Chauí (1999). Segundo a autora, a sociedade deveria prestar atenção nas explicações tão redundantes a respeito da violência, pois a realidade deste fenômeno está ficando incompreensível. Exemplificando o que Chauí quer dizer, a realidade é camuflada por vários meios, como a mídia, e quando ocorrem casos de cunho violento, muitas vezes isso é encarado como um “acidente” cultural. Desta forma, mesmo com a existência de problemas sociais, como a desigualdade econômica e cultural, as exclusões, a corrupção, entre outros exemplos que poderíamos citar, a violência é considerada apenas um fenômeno banal e superficial.

O que observamos até aqui é exatamente o reducionismo do fenômeno, culminando assim na sua superficialidade e banalização: é como se a violência fosse um fenômeno isolado, não conectado com outros problemas de cunho social, econômico, político, familiar, dentre outras possibilidades que poderíamos compreender a violência e as suas características. O que podemos observar é que a violência tem sido utilizada pela mídia como ferramenta de manipulação política, garantindo uma percepção parcial dos fenômenos que abarcam este fenômeno. Os estudos puramente quantitativos não levam em consideração o fator histórico e o fator social, deixam esses pontos de lado e disseminam uma ideia determinista.

Importante ressaltar que não pretendemos dizer que o método quantitativo não tem a sua validade: o problema reside na sua visão unilateral e, muitas vezes, enviesada que este tipo de pesquisa proporciona, impondo, desta forma, um determinismo cientifico.

A seguir, exporemos a contribuição do método qualitativo no estudo sobre a violência, e em seguida, as considerações finais deste trabalho.

A COMPLEXIDADE DO FENÔMENO VIOLÊNCIA: PROPOSTA (S) QUALITATIVA (S)

Diante da complexidade do fenômeno da violência cabe nos questionar se respostas simplistas e reducionistas seriam capazes de abarcar uma leitura fiel e segura de todo os fenômenos em questão. Para tanto, partindo da ideia de que a violência é uma produção humana, subjetiva e histórica, cabe-nos compreendê-la em sua práxis humana, abrangendo também as ciências qualitativas.

Segundo Flick (2004), as ciências humanas e sociais objetivam amplificar a leitura superficial do objeto a ser estudado. Com isso, é possível considerar a leitura do fenômeno através da relação não neutra entre objeto e sujeito, enfatizando a compreensão.

Para Amatuzzi (2006), os métodos científicos clássicos se declaram mais precisos ao fazerem ciência, alegando que sua maneira de mensuração e objetividade são as formas corretas de se produzir conhecimento. Em contrapartida, as ciências de cunho qualitativo também possuem seus métodos peculiares e cuidados ao produzir cientificidade, pois constroem métodos rigorosos e delimitam seu estudo conforme a necessidade do objeto a ser explorado.

O referido autor aponta, ainda, que uma pesquisa que toma como partida a subjetividade humana já tem a complexidade e a necessidade de um caminho metodológico conveniente para ter acesso à luz das experiências pessoais de cada indivíduo.

Amatuzzi (2006) acrescenta que, para conhecermos a profundidade da subjetividade e pesquisá-la de forma peculiar, não se torna plausível reduzi-la apenas à sua leitura superficial, mas irmos até seu interior, para assim conseguirmos elaborar uma narrativa minuciosa sobre ela.

Segundo Ludke e André (1986), as características básicas de uma pesquisa qualitativa são: dispor de um ambiente natural como fonte direta para a coleta de dados e ter o pesquisador como seu principal instrumento; os dados coletados serem predominantemente descritivos; ter uma preocupação maior com o processo do que com o produto; o significado que as pessoas dão aos fenômenos deve ser focado atenciosamente pelo pesquisador; e, por fim, a análise dos dados tende a ser indutiva, numa perspectiva hermenêutica.

Levando em consideração o que foi explicito até agora sobre o método qualitativo e as críticas que fizemos sobre a exclusividade da implementação do método quantitativo em grande escala de pesquisas sobre a violência, nos indagamos sobre a seguinte questão: De que maneira pode-se refletir sobre a violência e suas características, de forma mais complexa e profunda?

Autores como Fraga (2002) e Misse (1999) retrataram o quanto a violência, ao longo do tempo, se tornou complexa na sua caracterização: falar sobre violência implica em falar sobre sua pluralidade, com várias características distintas. Na atualidade esse fenômeno comporta vários tipos e classificações, e a compreensão pode ser levada por vários caminhos: desde a constituição psíquica do sujeito em uma determinada família, até a compreensão socioeconômica da nossa sociedade atual. Partindo desta ideia, podemos começar a compreender a complexidade e o quanto esse assunto pode se tornar inesgotável, aparecendo sempre novas compreensões e postulados acadêmicos que tem como intuito o entendimento e a criação de formas de prevenção da proliferação daquilo que entendemos por violência.

Morin (1921/2005) é um autor que considera a hipótese de uma ciência baseada na complexidade dos fenômenos. A complexidade sugere o não esgotamento, leva em consideração a pluralidade e a incompletude do conhecimento. Busca não mutilar e reduzir, pelo contrário, tenta compreender de forma abrangente, levando em consideração todas as complicações e redes que ligam um fenômeno ao outro.

Ainda para este autor, a complexidade não tem intenção em ser uma ciência pautada numa única resposta sobre determinada pergunta. Ele sugere que a complexidade é o desafio, é saber lidar com esse vazio, com o inesgotável, para aprofundarmos e estabelecermos um pensamento crítico. A complexidade vem para fazer o sujeito pensar.

Outro ponto importante da complexidade, segundo Morin (1921/2005) é que esta ciência não se pauta na simplificação dos fenômenos: ela tende a um conhecimento abrangente, não se pautando nas mutilações e recortes até então vistas como benéficas pelas ciências naturais. Assim como Santos (1996) propõe uma volta as incertezas, ao senso comum, a filosofia, para podermos produzir um conhecimento mais consistente e saímos do enraizamento do pensamento naturalista, Morin também sugere uma articulação entre a lógica e o ilógico, entre certeza e incerteza, propondo um diálogo que não exclua um tipo de conhecimento do outro.

A complexidade trás o acaso, a desordem, a complicação, a contradição, uma interação não separatista entre homem e objeto. Devemos ser estrategistas, ou seja, levar em consideração todas as complicações advindas das pesquisas, contar com o incerto, com o aleatório, sem anular ou reduzir o fenômeno e dar isso como resposta acabada.

Para finalizar com a ideia de Morin (1921/2005), o autor aproxima-se dos ideais de Santos (1996) quando diz respeito ao conhecimento cientifico produzido e a sua implicação na sociedade: a crise racionalista que imperou no século XX e agora no XXI é fruto do reducionismo do pensamento, o aprisionamento em ideais até então colocadas como “verdades”, enraizadas em doutrinas, conceitos e formulações que até então nunca enfatizaram numa ética cujo foco é o humano e o seu bem estar, e sim pautados na produção destrutiva e presas aos interesses capitais.

Nas considerações finais deste trabalho iremos expor algumas outras prerrogativas e articulações que postulam um estudo mais abrangente sobre a violência, sem descartar possíveis diálogos entre os campos das ciências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim como temos discorrido sobre a violência e a sua simplificação no entendimento das ciências naturais, observamos e apontamos alguns pontos importantes: em primeiro lugar, as formas reducionistas de se produzir conhecimento nos leva à uma armadilha, pois ao invés de esclarecer determinado fenômeno, somente o reduz ao ponto de naturalizar algo que merece mais atenção e cuidado para uma compreensão mais consistente, e só com um olhar mais amplo é que poderíamos criar possibilidades para combater essa violência crescente. Entretanto, como nos diz Antunes e Zuin (2008), ainda predomina uma forte articulação entre mídia e o conhecimento cientifico considerado “ único” para falar com veemência sobre a violência. Está leitura restrita se torna alarmante a partir do momento que não permite ao sujeito uma reflexão crítica acerca do mundo e das contradições, e sim só o aliena e o propicia uma leitura superficial do homem e do mundo.

Desta forma, se torna fundamental, como ressaltam os autores supracitados, que se questione esses métodos de estudos instrumentais e naturalistas sobre determinados objetos pesquisados. Quanto à violência, esses métodos instrumentais, muitas vezes, encobrem a verdadeira face dos comportamentos violentos, sobretudo quando naturalizam esses atos valendo-se dos métodos quantitativos. As ciências devem fornecer meios que possibilitem uma compreensão mais aprofundada do objeto de estudo, com o intuito de desenvolver a capacidade crítica do ser humano, e não realizar pesquisas que tenham por finalidade a acomodação dos indivíduos à ideologia imposta pela sociedade.

Sendo assim, pensarmos sobre o estudo da violência é levar em consideração todos esses pontos: a complexidade da vida social contemporânea, as crises políticas e socioeconômicas da nossa sociedade, a configuração familiar atual, as diferentes espécies de preconceitos, o machismo, dentre outros pontos.

Como exemplo, podemos citar alguns assuntos em que estudiosos desta temática nos demonstra alguns pontos que tem relação direta com o crescimento da violência.

De acordo com Peralva (2000), a violência cresceu drasticamente no final dos anos 70 e começo dos anos 80, nas metrópoles brasileiras. O autor considera que o grande responsável pelo crescimento da violência foi o aumento da desigualdade social e a injustiça que muitas pessoas sofrem. O aumento da desigualdade social suscitou em uma distância entre as diferentes classes sociais e, dessa forma, provocou uma desunião entre elas, gerando conflitos mais intensos.

Ainda se tratando da desigualdade social brasileira e suas consequências, este mesmo autor supracitado aponta que a desigualdade social é extremamente perversa, pois os menos favorecidos arcam com consequências diversas, entre elas: a falta de competitividade no mercado de trabalho, desemprego, acesso escasso à saúde, incertezas e inseguranças provenientes da violência. O autor salienta, ainda, que todos os problemas que enfrentamos na modernidade se inflamam na parte mais pobre da população.

Nessa linha de reflexões, Pelton (1980) assinala que existem muitos paradoxos em relação à violência estar proporcionalmente ligada às questões socioeconômicas. Para alguns estudiosos, o maior índice de criminalidade e violência praticada por jovens ocorre nas classes sociais mais baixas. No entanto, outros pesquisadores afirmam que crianças e adolescentes, independente da classe social em que se encontram, podem ter comportamentos violentos e cometer vários tipos de crimes, e nas classes mais favorecidas são criadas maneiras de camuflar estes tipos de criminalidade.

Para Stith (1993), a violência na contemporaneidade parece estar aumentando, sobretudo entre adolescentes e crianças, no qual alguns tipos de violência, como exemplo a doméstica, têm se tornado sinônimo da agressividade infantil e da delinquência. Entretanto, este comportamento pode se manifestar em decorrência de uma conduta menos repressiva deste fenômeno. Porém, os adolescentes e as crianças podem estar mais violentos como resposta à violência estrutural da sociedade.

Como podemos observar desses simples exemplos, alguns autores apontam que a violência tem relação direta com a estrutura da sociedade e as divisões das classes sociais, outros apontam que não necessariamente esta relação de classes pode estar diretamente ligada com a violência. Estes apontamentos nos servem para começarmos a compreender o quanto este fenômeno é complexo, e o convite feito por Santos (1996) e Morin (1921/2005) é considerarmos a complexidade na qual os fenômenos estão interligados.

Portanto, falar sobre violência implica um estudo inesgotável; as próprias características desse fenômeno mudam com o passar do tempo, e como podemos observar, não tem como reduzir a violência em um único aspecto e quantificar o seu aparecimento, sem levar em consideração toda a rede complexa de outros fatos que interferem diretamente no surgimento da violência.

O estudo qualitativo serve como alicerce para o aprofundamento e a interpretação. É levar em consideração a singularidade, a relação entre o objeto estudado e o sujeito que o pesquisa. Um estudo plausível ocorre quando começamos a compreender a importância do diálogo estabelecido entre o quantificável e o qualitativo, no qual nenhum deles se coloca como mais importante que o outro, tornando-os complementares para podermos sempre visualizar com mais precisão os fenômenos do mundo, dentre eles a violência e a sua consequência para a humanidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Amatuzzi, M. M. (2006). A subjetividade e sua pesquisa. Memorandum, São Paulo, 10. 93-97.

Antunes, D. C., Zuin. A. A. (2008). Do bullying ao preconceito: os desafios da barbárie à educação. Psicologia & Sociedade, Florianópolis, 20, (1), 16-32.

Chauí, M. (1999). Introdução à Filosofia. Porto Alegre: Bertand Brasil.

Flick, U. (2004). Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa. Porto Alegre: Bookman Companhia.

Fraga, P. D. (2002). Violência: forma de dilaceramento do ser social. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano 23, (70), 44-58.

Ludke, M; Andrè, M. E. D. A. (1986). Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: E.P.E..

Misse, M. (1999). Malandros, marginais e vagabundos & a acumulação social da violência no Rio de Janeiro. 1999. Tese (Doutorado em Sociologia) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Morin, E. (2005). Ciência com consciência. (8ª ed.). 1921. Trad. D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. – ed. revista e modificada pelo autor, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

Pelton, L. (1980). Child abuse and neglect: the mythof classlessness. In: Cock, J. V. & Bowles, R. T. Child Abuse and Neglect Comission and Omission. (pp. 87-96). Toronto: Butterworth.

Peralva, A. (2000). Violência e democracia. São Paulo: Paz e Terra.

Santos, B. S. (1996). Um discurso sobre as ciências. (8ª ed.). Porto: Afrontamento.

Stith, D. (1993). Can physicians help curb adolescent violence? Hospital Practice, 27, 193-207.

[1] Doutorando, Mestre, especialista e graduado em Psicologia.

Enviado: Fevereiro, 2018

Aprovado: Maio, 2019

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Rodrigo César Costa

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