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Cajuru e Santa Cruz da Esperança: a sociedade comercial do interior paulista

RC: 105457
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SANTOS, Marcos Antônio dos [1]

SANTOS, Marcos Antônio dos. Cajuru e Santa Cruz da Esperança: a sociedade comercial do interior paulista. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 01, Vol. 05, pp. 148-183. Janeiro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/historia/sociedade-comercial

RESUMO

Sob a perspectiva da História Econômica estruturada através da metodologia de análise e pesquisa documental – fontes primárias –, a intenção desta pesquisa é elencar dados sociais, econômicos e demográficos da Vila de Cajuru e Santa Cruz da Esperança para revelar o passado submerso nos fragmentos históricos regionais e analisar a composição da trama econômica inter-regional, entre o Sul de Minas – Uberaba – e o Nordeste Paulista – Casa Branca –, e o desenvolvimento do complexo econômico de Cajuru. Este artigo visa analisar o espaço econômico do Sertão do Rio Pardo e o seu sistema de trocas mercantis entre a vila de Santa Cruz da Esperança e a cidade de Cajuru no final do século XIX e início do século XX, por intermédio das permanências, rupturas e continuidades da longa duração histórica regional. A formação e/ou função dos pontos e interconexões comerciais dentro do complexo econômico mercantil do “Oeste Paulista”, precipuamente a pecuária, a ferrovia e o café, tendo como objeto de análise as relações geoeconômicas entre os principais eixos mercantis do interior paulista e de que maneira as relações mercantis de curta, média e longa distância foram regidas por cidades centrais e monopolistas. Tendo em vista este contexto, temos como questão norteadora: Quais foram os fatores históricos que moldaram a matriz econômica de Cajuru e Santa Cruz da Esperança no final do século XX? Dentro desta lógica a relação entre espaço e trocas mercantis é direta e fundamental para compreender a econômica regional, pois é pelas estradas que todos os bens, materiais ou imateriais, chegam nas cidades. Determinadas espacialidades favoreceram a circulação e a produção de mercadorias, assim como influenciaram diretamente no desenvolvimento de “cidades comerciais” – cidades que participavam, direta ou indiretamente, do fluxo comercial do “Oeste Paulista”.

Palavras-chave: Cajuru, Santa Cruz da Esperança, Economia Mercantil, Vida Material, Oeste paulista.

INTRODUÇÃO

A longa duração histórica propõe que toda formação econômica é constituída de múltiplos processos dialéticos de permanências e rupturas. A cidade de Cajuru e Santa Cruz da Esperança são dotadas de funções incorporadas historicamente em um espaço geográfico específico. Cabe investigar quais fatores históricos – estruturais, eventuais e conjunturais – que moldaram a matriz econômica de Cajuru e concomitantemente Santa Cruz no final do século XX. Analisar a composição histórica e espacial é fundamental para compreender a trama econômica inter-regional entre o Sul de Minas e a região do nordeste paulista.

A metodologia de análise e pesquisa documental permitiu a investigação de pontos contraditórios, ao mesmo tempo lógicos, da História Econômica do interior paulista. A análise de documentos primários proporcionou a identificação de relações econômicas específicas em um espaço sui generis de uma estrutura material de longa duração e o desenvolvimento da vida material caipira.

O povoamento do interior paulista esteve ligado intrinsicamente com as descobertas das minas de ouro e as andanças dos bandeirantes pelo grande sertão. O movimento possuía como principal atividade a criação de pousos para o abastecimento dos desbravadores, que prevendo o retorno, começaram a criar roças em pontos articulados ao longo do caminho. Durante a expedição ao grande sertão, Bartolomeu Bueno da Silva, o segundo Anhanguera, em 1722, desbravou a leste de Cuiabá a procura de novas jazidas auríferas, a expedição resultou no encontro do terceiro Eldorado do Brasil, o de Goiás. A descoberta provocou a ocupação efetiva do sertão, tanto no centro da mineração que levou a fundação do arraial de Sant’Ana, mais tarde Vila Boa e ainda mais tarde cidade de Goiás, quanto pela rota expedicionária que ficou conhecida mais tarde como Caminho dos Goiases.

Em 1726, logo após o retorno do segundo Anhanguera, a coroa tomou como iniciativa regularizar a posse das terras que ficavam ao longo do Caminho dos Goiases e promover as primeiras doações. No mesmo ano, o primeiro lote de sesmaria foi concedido aos responsáveis diretos pela descoberta oficial do ouro nas minas de Goiás: Bartolomeu Bueno da Silva, João Leite da Silva Ortiz e Bartolomeu Paes de Abreu. A concessão além de visar a ocupação do interior paulista, possuía como finalidade a vigilância e o auxílio do tráfego pelo caminho. (BRIOSCHI, 1991).

A dinâmica de ocupação utilizada pela Coroa, procurou estimular a interiorização com as distribuições de densas porções de terras a quem oferecia condições de ocupá-las com plantações e criações. (LAGES, 2010). Desta forma, logo a conjuntura interiorana se revelou voltada para uma economia de abastecimento e paralelamente exploração das minas de ouro. A distribuição das sesmarias não significou o início da ocupação do interior paulista, muito pelo contrário, antes mesmo das descobertas das minas, as várias dinâmicas dos bandeirantes de apresamento contribuíram para a ocupação parcial da “hinterlândia”24. “O povoamento pioneiro parece ter sido, como de resto o era comumente em todo o Brasil, efetuado por anônimos posseiros, muitos dos quais anteriores às expedições dos Anhangueras.” (BRIOSCHI, 1991, p. 10).

As primeiras sesmarias constatadas, segundo José Antonio Lages (2010) e Érika Moretini (2007) foram direcionadas a Bartolomeu Bueno da Silva e João Leite da Silva Ortiz, durante o ano de 1726. Em 02 de abril de 1728, foi realizada a doação de terras a Carlos Barbosa de Magalhães, localizadas no Rio Cubatão; “Cubatão, Caminho de Goyaz. Uma Légua de terras em quadra na paragem chamada Cubatão no Caminho de Goyaz, fazendo pião no mesmo ribeirão Cubatão.” (MORETINI, 2007, p. 64). Em 31 de julho de 1728, as terras localizadas no Ribeirão Araraquara foram doadas a Urbano Couto de Menezes. Determinadas glebas de terras possuíam as seguintes descrições; “uma légua de terras em quadra no caminho que vai as minas de Goyazes no ribeirão que fica primeiro depois de passar o Cubatão, onde faz ponta o Araraquara que parte da banda delle com as terras de Calor Barbosa.” (MORETINI, 2007, p. 64).

Na data de 6 de agosto de 1728, foram doadas as porções de terras situadas na paragem de Araraquara a João Pimentel Távora.  Destaca Moretini (2007); “Uma légua de terras em quadra na paragem chamada Araraquara, no caminho que vai para as minas de Goyas, que fica entre o rio Pardo e Sapucahy, na parte que estiver devoluta.” (MORETINI, 2007, p. 65). Por fim, em 09 agosto de 1727, foi realizada a doação de terras entre o Rio Cubatão e o Rio Araraquara para o donatário Rafael Francisco; “Uma légua de terras em quadra no caminho das minas de Goyases na paragem de unas campos que de uma parte dividem com terras de Carlos Barbosa de Magalhães e da outra com terras de Urbano Couto” (MORETINI, 2007, p. 35). As quatro concessões apontadas acima, fazem referência a espacialidade geográfica que devido o processo histórico urbano social, desenvolveram sobre esses locais a cidade de Cajuru (19 de fevereiro de 1846) e posteriormente, a vila de Santa Cruz da Esperança (por volta de 1879).

As sesmarias concedidas a Carlos Barbosa de Magalhães e a Urbano Couto de Menezes, foram doadas sobre a justificativa de “[…] plantar e criar gado para conveniência dos mineiros e viajantes.” (LAGES, 2010, p. 30). As terras direcionadas a João Pimentel Távora, foram apontadas como alegação para o recebimento das terras, sua vinda das novas minas de Goiás, e “[…] com grande risco de sua vida somente a trazer notícia daqueles descobrimentos para os quais queria logo voltar, e assim para o sustento de seus escravos lhe era necessário fazer suas roças e plantações.” (MORETINI, 2007, p. 66). Contudo, o estabelecimento de Rafael Francisco sobre as terras, precedeu as políticas de distribuição das terras, pois como destaca Lages (2010), o donatário já ocupava o espaço por meio do cultivo de roças. (LAGES, 2010).

Toda a população da região entre o rio Sapucaí e o Cubatão – terras de Carlos Barbosa de Magalhães – ficou sob a jurisdição de Batatais. Somente em 1821 ocorreu as doações das terras de Carlos Barbosa de Magalhães – Cubatão – por parte de Dona Maria Pires de Araújo e seus filhos José Barbosa de Magalhães, Manuel Barbosa do Nascimento, Carlos Barbosa de Magalhães, Geraldo Pires de Araújo e Bento Barbosa de Magalhães, para a fundação da cidade de Cajuru; “havemos por bem pela presente conceder-lhes faculdade para que possam, […] fundar, erigir, edificar uma capela entre a fazenda do primeiro suplicante e a de Cubatão, no lugar chamado Cajuru […]” (MORETINI, 2007, p. 152).

O esgotamento das jazidas de ouro durante o século XVIII fez com que os mineiros buscassem alternativas econômicas para a sua sobrevivência. Por meio de um movimento demográfico intenso se instalaram em terras paulistas, alterando profundamente o perfil do crescimento populacional da região, deixando a economia espacial mais dinâmica. Evidentemente o motivo não se encontra exclusivamente no esgotamento dos metais preciosos, visto que, dada a conjuntura nacional e o rápido crescimento da lavoura canavieira no oeste paulista, o interesse da sociedade rica se voltou para a capitania de São Paulo. Toda a população localizada no sul de Minas, dedicada a produção de alimentos e a criação de gado, estava há décadas estancada na precária vida de poucas oportunidades derivada da decadência aurífera. Esse quadro se alterou com o crescimento agrário do Oeste Paulista, com a introdução da grande lavoura canavieira.

DESENVOLVIMENTO

Pierre Monbeig (1998), apresenta que ocorreu no final do XVIII e início do XIX um elevado deslocamento populacional em direção aos municípios no sopé dos contrafortes da Mantiqueira, como Casa Branca, Moji-Mirim, Moji-Guaçu, Limeira e Araras. Mais ao norte, Batatais, Franca e Barretos, receberam um contingente que excedeu as dos municípios situados ao sul. A partir de 1850, a imigração ocorreu por mais 30 anos. Segundo o levantamento realizado pela Assembleia Legislativa de São Paulo, em 1882, apenas 20% da população era paulista nos municípios de Pinhal, Ribeirão Preto, São João da Boa Vista, Franca, Batatais, Cajuru, São Simão e Casa Branca. “[…] no rumo de Araraquara e, além de Botucatu, era o mineiro, e não o paulista, que desbravava a floresta e repelia o índio.” (MONBEIG, 1998, p. 133).

Fixará a maioria desses imigrantes nos municípios onde o café já estava solidamente implantado; outros, porém, tinham procurados regiões mais longínquas, onde poderiam mais facilmente continuar a viver, conforme seus hábitos de criadores, acostumados aos seus grandes espaços, suficientemente à distância dos poderes constituídos. Encontrava tudo isso além das escarpas da cuesta. Vê-se um homem de Minas fundar São Simão, antes de 1850; seus conterrâneos formavam quase toda a população da vila que devia tornar-se a cidade de Ribeirão Preto. Vão mais longe ainda: em 1852, é um mineiro que constrói a primeira cabana em São José de Ribeirão Preto, enquanto outros se instalam além do Ribeirão de São João, enquanto outros se insta-ali desatrelavam os bois do seu carro, depois de o fazer virar e logo dava a esse lugar o nome de Viradouro, adiante da atual cidade de Tanabi. (MONBEIG, 1998, p. 133).

A cultura rural – criação e comércio de gado – implantada pelos mineiros obteve ressonância no grande valor dos produtos derivados da pecuária. Além da carne, o gado bovino fornecia o couro, donde se produzia os arreios, as selas, os forros, as botas e botinas. “Dos chifres faziam-se as guampas de água, os pentes, caixinhas de rapé. Do leite fazia-se o queijo que era mais uma fonte de rendas para os moradores das freguesias.” (OLIVEIRA, 1997, p.55). A pecuária passou a obter maior relevância no quadro econômico regional, paralelo a agricultura cafeeira. “[…] a pecuária teria sido a principal peça na engrenagem da economia da região, principalmente na primeira metade do século XIX, fazendo movimentar ao seu redor outras atividades geradoras de riquezas.” (OLIVEIRA, 1997, p. 112).

Com a introdução do café na alta Mogiana a partir da década de 1870 a dinâmica econômica, cultural, política e social do “Oeste Paulista” se alterou drasticamente. Na década de 1830, o café contribuía com 18% do valor das exportações do Brasil, ficando atrás do açúcar e do algodão. Nos anos seguintes, diante do elevado consumo, da libertação dos mercados norte-americanos e pela alta dos preços internacionais, fazendeiros e o Estado investiram intensamente na lavoura cafeeira. “A produção brasileira de café encontrará nos Estados Unidos um de seus principais mercados […].” (PRADO JUNIOR, 1994, p. 160). Os resultados dos incentivos vieram nos decênios seguintes, com o café assumindo o primeiro lugar, passando a representar mais de 40% do valor das exportações. (FURTADO, 2003).

Após o cultivo e o sucesso da rubiácea no Vale do Paraíba, o plantio de café se espalhou por toda região do estado de São Paulo, chegando até ao longínquo e isolado “Oeste Paulista”. Em 1854, “[…] 90% do total da produção paulista sai do Vale do Paraíba. O restante provém da região de campinas de Jundiaí.” (MOTTA SOBRINHO, 1978, p.29). O que propiciou a disseminação das fazendas de café no Oeste Paulista além do quadro econômico e social, foram o solo fértil conhecido como terra roxa[2] e o clima favorável. Sobre o solo, Brioschi (1991) descreve:

Santa Rita do Passo Quatro e Santa Rosa do Viterbo, ambas a cerca de 750 m de altitude, ocupam posição homóloga a Cajuru, nas proximidades das nascentes de ribeirão que descem por entre festões da cuesta, em busca, respectivamente, dos rios Mojiguaçu e Pardo. De tal situação muito se favoreceram essas cidades, com a extensão local apreciável das áreas de terra roxa. (BRIOSCHI, 1991, p.30)

No Oeste Paulista, entre o vale do Moji Guaçu e o Pardo, por volta de 1850 ocorreu a substituição gradual dos engenhos de açúcar pelo cultivo do café. Nesta extensa área estava iniciando a penetração dos mineiros provenientes das Minas Gerais atraídos pela lavoura da cana-de-açúcar e do café.  “O crescimento paulatino da economia paulista, a partir de meados do século XVIII, foi pouco a pouco aumentando o grau de atração migratória à medida que crescia a lavoura da cana-de-açúcar e do café.” (BRIOSCHI, 1991, p.41).

Por volta de 1880, sociedades bancárias, ferroviárias e setores públicos, voltaram suas atenções para o potencial produtivo do café no Oeste Paulista. Grandes empresários como Antônio Silva Prado, agraciado com o título de Barão de Iguape e Martinho Prado Júnior que em uma de suas expedições descobriu o valor produtivo das terras roxa em Ribeirão Preto. Martinho Prado adquiriu uma propriedade com 1.767.000 pés de café – a fazenda Guatapará. (MONBEIG, 1998). Esses são exemplos de grandes fazendeiros que compunham a marcha pioneira rumo ao sertão, como aponta Pierre Monbeig (1998). “Massa dos plantadores, em escala mais modesta imitou os mais ricos, embrenhando-se no sertão para desbravá-lo, comprando áreas de vastos domínios de mata, que só em parte podiam ser transformados em cafezais.” (MONBEIG, 1998, p.140).

Os grandes incentivos advindos de setores econômicos diversos, possibilitaram que a planta movediça – nas palavras de Humberto Perinelli Neto (2009) – se deslocasse para o interior do território modificando a paisagem e especialmente os modos de vida do homem ordinário, nas “[…] maneiras dos homens enxergarem a realidade e a viverem em seu cotidiano, até mesmo nos gestos mais surdos.” (PERINELLI NETO, 2009, p. 115).

Tabela 1: Produção cafeeira em São Paulo, arrobas por zonas (1854/1940).

Ano7 1854 1886 1905 1920 1935
1ª Zona —- —– 8.275 1.007 1.220
2ª Zona 2.737.639 2.117.134 2.117.134 734.387 898.751
3ª Zona 525.296 4.795.850 4.490.684 2.271.763 3.669.253
4ª Zona 81.750 2.366.599 2.145.312 8.850.184 8.973.764
5ª Zona 223.470 2.458.134 7.417.916 3.263.620 6.146.144
6ª Zona —- —- 5.780.946 2.956.700 14.389.620
7ª Zona —- —- 93.821 580.139 13.200.365
8ª Zona —- —- 3.931.375 1.536.868 7.189.330
9ª Zona —- —- 117.403 139.420 85.388
10ª Zona —- —- 28.992 9.860 56.390
Total 3.579.035 12.371.613 35.819.079 20.243.948 54.610.255

Fonte: PERINELLLI NETO, Humberto. Nos quintais do Brasil: homens, pecuária, complexo cafeeiro e modernidade – Barretos (1854/ 1931). Franca/SP: Editora UNESP, 2009. Adaptado de: CAMARGO, José Francisco. Crescimento da população do Estado de São Paulo e seus aspectos econômicos. São Paulo, 1952. (p.116)

A produção cafeeira contribui para que as cidades do interior paulista se alterassem dramaticamente sua fisionomia urbana – elevando pequenos vilarejos em “cidades modelos” sob a égide europeia – e em sua fisiologia social – introdução de novos costumes através dos imigrantes –, com a promessa de que no alvorecer do século a modernidade chegaria a “civilizar” o sertão embrutecido. “Ribeirão Preto […], deixava a sua formação original de vila, do início da República, para se metamorfosear em cidade em fase de crescimento e expansão, através dos lucros auferidos pela exportação de café […]” (PAZIANI, 2016, p. 78). Podemos destacar o caso da modernização urbana em Ribeirão Preto, nos tempos de “Petit Paris”, a “Belle Époque Caipira.

Aliás, municípios paulistas como Ribeirão Preto, durante a Primeira república começaram a desenvolver-se sob a égide do café e se transformar em redutos políticos do Partido Republicano Paulista (PRP), dada a forte presença dos coronéis nessas regiões. Ribeirão Preto se insere nesse contexto político pela sua localização geográfica e pelas suas terras roxas, ocupadas por famílias oriundas das regiões de Minas e São Paulo, como os Junqueira e os Prados – caso dos já citados Joaquim da Cunha Diniz Junqueira e Martinho Prado Júnior. (PAZIANI, 2016, p. 32)

Segundo Rodrigo Ribeiro Paziani (2016), Ribeirão Preto se alterou mediante a conjuntura econômica e política proveniente da produção e comercialização do café. A introdução de um novo tipo de homem público no cenário brasileiro, demonstra de que maneira o poder local adquiriu contrastes específicos no início do século XX: “o coronel, mistura de aristocracia rural e empresário urbano, que proporcionava às pequenas vilas, os melhoramentos urbanos necessários para a sua elevação à categoria de cidade a própria Ascenção aos altos escalões do poder público.” (PAZIANI, 2016, p.62). Em Ribeirão Preto, “le pays du café” (Califórnia do Café), figuras como “Quinzinho” Junqueira e o Rei do Café Francisco Schimdt se destacaram como protagonistas do cenário político econômico. Neste local de mudanças, as ações de Macedo Bittencourt, o baiano nas terras do café – parafraseando Paziani (2016) – fez da vila de Ribeirão Preto uma “Petit Paris” no modelo haussmaniano.

Joaquim Macedo Bittencourt, como prefeito, investiu grande parte de suas intervenções urbanas, em arquitetura e embelezamento das áreas centrais da cidade. Uma primeira modificação paisagística de âmbito corretivo foi a substituição das grades de madeira, que sustentavam as arvores, por grades de ferro. […] Uma segunda modificação no espaço urbano da cidade foram as aberturas de avenidas e os primeiros calçamentos à paralelepípedo, introduzidos na área central adjacente. Tratava-se de outra apropriação cultural das ideias e de parte do projeto haussmaniano. (PAZIANI, 2016, p. 90; 91)

As mudanças não atingiram apenas as paisagens urbanas e objetos inanimados de uma “Petit Paris” da californiana. Os homens que nelas habitavam mudaram sua mentalidade ao ritmo frenético do atrito entre a roda tracionada da locomotiva e o boleto do trilho de ferro que anunciava com a densa fumaça e a incomoda fuligem expelidas pela larga chaminé a alvorada do século XX.

O olhar tornava-se o sentido privilegiado desse ‘feérico’ baile de máscaras, em que se enrodilhavam e se embaraçavam homens sem raízes, prontos a inventar tradições e a forjar pátinas. ‘Personas’de vários préstimos, papéis e cabedais surgiam em meio ao novo cenário urbano. Tinham lugar as crenças míticas nos valores burgueses do progresso, da opulência, da riqueza, do ‘novo’. Por ‘novo’ entendia-se o que era construído no entorno da velocidade, das luzes, da assepsia, das sensualidades pós-barrocas das curvas e volutas do art-nouveau, dos florões e diamantes das frisas ornamentais das fachadas, da moda, do inebriante cheiro de gasolina, entre outros emblemas que eram construídos e destruídos rapidamente, num átimo, evidenciando uma realidade que se desmanchava no ar… De modo trôpego é que os homens buscavam posicionar-se diante dessa nova realidade. (DOIN; PERINELLI NETO; PACANO; PAZIANI, 2007, p. 101)

No entanto, o grande marco e/ou símbolo da modernidade nacional no final século XIX e início do século XX, foram as ferrovias. Com a intenção de atingir o coração do Brasil foi implantada em 1872, a Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, começando em Campinas, dirigiu-se a Moji Guaçu, chegando em Casa Branca (1878), depois São Simão (1882), Ribeirão Preto (1883) e Rio Grande (1887). Além da Mogiana, a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, Companhia Sorocabana e a Companhia Ituana, inauguraram a modernidade sobre o extenso território brasileiro. Além das ferrovias, outros setores econômicos influenciaram na metamorfose urbanística das cidades interioranas:

Além das ferrovias, indústrias diversas como as cervejarias Paulista e Antarctica em Ribeirão Preto, o Curtume Progresso em Franca, a Companhia Frigorífica Pastoril em Barretos, a Companhia Eletro Metalúrgica também em Ribeirão Preto, o Engenho Central de Piracicaba, entre outros, alteravam o cenário das localidades interioranas. Diversos jornais, revistas, bem como estações de rádio, como é o caso da P.R.A.- 7 (Rádio Clube de Ribeirão Preto), entre outros modernos meios de comunicação, igualmente se tornavam corriqueiros no cotidiano dos moradores. (DOIN; PERINELLI NETO; PACANO; PAZIANI, 2007, p. 99)

Foi o preludio do imperialismo[3] europeu que atravessou o oceano atlântico no final do século XIX até pousar sobre a terra roxa da Belle Époque caipira, na entrada da “boca da mata”[4] e adormecer na extensão do pouso da cruz. A construção da rede ferroviária brasileira esteve ligada diretamente aos investimentos britânicos e aos empréstimos advindos do banco de Londres.

Então, o fato maior do século XIX é a criação de uma economia global única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de transações econômicas comunicações e desenvolvimento de bens, dinheiro e pessoas ligando os países desenvolvidos entre si e ao mundo não desenvolvido. (HOBSBAWM, 2016, 102)

A construção da linha férrea facilitou a expansão da cultura cafeeira pelo interior paulista sob a tutela britânica. Sérgio Buarque de Holanda (1997) pontua que os empréstimos britânicos financiaram praticamente todas as ferrovias brasileiras. A Estrada de Ferro Central foi planejada por Thomas Cockrane e construída pelo engenheiro britânico Edward Price.  “Empréstimos britânicos concederam-se à Estrada de São Paulo e Rio, a Sapucahy, à Oeste de Minas, à Companhia Mojiana, à Sorocabana, à Ituana e mesmo a Paulista.” (HOLANDA, 1997, p. 148)

Além da linha tronco que tinha como finalidade de alcançar os principais produtores da região com destaque para os Silva Prado, Francisco Maximiano Junqueira, Companhia Dummont e Silveira do Val, os ramais secundários que se tornaram conhecidos como “cata cafés”[5] cumpriam uma função basilar na produção e transporte do café. (BACELLAR; BRIOSCHI, 1991). “Como o próprio apelido diz, os 12 ramais da Mojiana tinham uma importante função econômica ao recolher o café e transportá-lo até alguma estação da linha principal.” (BACELLAR; BRIOSCHI, 1991, p.122).

Conforme o café conquistou espaços de produção sobre a terra roxa do interior, a estrada de ferro abriu espaços e facilitou o seu transporte. Essa dinâmica viabilizou a ligação entre os espaços interioranos – cidades, vilas e fazendas – ao mesmo tempo, entre o litoral e o interior – portos e estações. Segundo os jornais do período, a penetração da Mogiana até Casa Branca (1878) exortou os ânimos de todos os comerciantes de Cajuru, que previram na penetração da linha férrea até a cidade, uma oportunidade de elevar o potencial do seu comércio e fomentar o mercado local.

[…] os despertar da apathia em que tem jazido a lavoura de suas importantes terras de cultura, que se prestam fortemente para o café, trazendo a animação ao commercio e progresso em tudo, colocando-a na vanguarda do progresso, como suas irmãs e visinhas. Cajurú, 5 de junho de 1877. (JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, 1877)[6].

Desde o seu surgimento a cidade de Cajuru se apresentou como um potencial ponto de entroncamento para negociantes, mercadores e viajantes. Desde o processo de expansão territorial provocada pelos bandeirantes, passando pela instalação do Caminho dos Goiases[7] e pelo renascimento agrícola implantado por morgado de Mateus no início do século XIX, a região do rio Pardo atraia um intenso comércio de gado. A conjuntura interiorana fez com que algumas localidades em meados do século XIX inserissem mecanismos de controles institucionais sobre o comércio regional, revelando a importância da economia mercantil para a região.

A cidade de Cajuru, local que na logística comercial da região ficava entre a vila de Casa Branca e Uberaba no Sul Mineiro, criou no final do século XIX diversos impostos sobre estradas, negociantes, mascates e gado.[8] Nesse sentido a cidade se apresentava como centro de espaços ligados entre si: ao circuito de abastecimentos, o dos negócios de créditos, de vendas, de compras, de arrecadação e produção. “Tal como uma loja ou o armazém do mercado, a cidade ocupava o espaço econômico que lhe outorgavam sua situação, sua fortuna, a longa conjuntura que estiver atravessando. Define-se cada momento pelos círculos que a rodeiam.” (BRAUDEL, 1998, p. 160).

Tabela 2: Impostos comerciais no final do século XIX em Cajuru.

Impostos sobre: Maio

1874

Fevereiro

1880

Dezembro

1881

Junho

1882

Junho

1883

Janeiro

1887

Novembro

1888

Total
Negociantes 120$000 460$000 235$000 250$000 250$000 1:500$00 1:500$000 4:315$000
Mascates 15$000 50$000 440$000 220$000 725$000
Carros 211$200 69$000 17$000 50$000 30$000 50$000 427$200
Estradas 115$000 180$000 50$450 100$000 100$000 545$450
Gado 16$000 50$000 34$000 54$000 60$000 100$000 80$000 394$000
Arrecadados 251$000 916$200 388$450 421$000 510$000 2:070$000 1:850$000 6:406$650

Fonte: Assembleia Legislativa de São Paulo. Prestação de contas. Orçamentos de 1869, 1870, 1879, 1880, 1881, 1882, 1883, 1884, 1887, 1888 e 1889. Cx. 218, 242, 238, 226, 221, 205, 201, 157. Elaboração própria.

A Tabela 2: Impostos comerciais no final do século XIX em Cajuru – descreve como o comércio na região fez do município uma cidade comercial.  A arrecadação dos impostos sobre o comércio, com destaque aos negociantes de sal, que em 1917, pagavam 20$000 réis para comercializar seus produtos. Sobre o gado vacum se cobrava 60$000 réis e sobre arreios, couros e artigos para montaria a taxa era equivalente a 30$000 réis[9]. A participação do lucro dos impostos sobre os negociantes na economia inter-regional equivaleu 72,4% da receita municipal de Cajuru no mês janeiro do ano 1887, enquanto em novembro de 1888, a sua participação foi de 76,67%.

Se levar em consideração a receita total da vila de Cajuru nos anos de 1887 e 1888 – produção, arrecadação e circulação – notamos que o tributo arrecadado sobre os negociantes representou parte considerável de toda receita, como acusa a Tabela 3: Receita municipal de vila de Cajuru janeiro 1887 e novembro 1888. Em janeiro de 1887 a coleta sobre os negociantes representou 25,5% da receita total e em novembro 1888 cotou 28,2%. Contudo, o que alterou a conjuntura econômica do interior paulista no fim do século XIX foi a produção do café. Nessa perspectiva, o tributo sobre a produção e circulação de café assumiu o principal produto da receita. Em janeiro de 1887 o tributo sobre o café em Cajuru representou 34,1% da receita e, em novembro de 1888, evidenciou o equivalente de 37,6% da receita municipal.

Tabela 3: Receita municipal da vila de Cajuru Jan. 1887 e Nov. 1888.

Impostos sobre: Janeiro 1887 Novembro 1888 Total
Aguardente 384$000 388$000 772$000
Negociantes 1:500$000 1:500$000 3:000$000
Estradas e carros 30$000 50$000 80$000
Afiliação 100$00 100$000 200$000
Olarias 120$000 120$000 240$000
Engenhos de aguardente 100$000 100$000 200$000
Engenhos de rapaduras 150$000 150$000 300$000
Engenhos de terras 80$000 80$000 160$000
Cortes de capados 300$000 200$000 500$000
Cortes de gado 100$000 80$000 180$000
Botica 60$000 60$000
Café fumo e outros gêneros 2:000$000 2:000$000 4:000$000
Mascates 440$000 220$000 660$000
Máquinas 90$000 90$000 180$000
Médico 20$000 20$000
Cemitério 320$000 320$000
Multas 200$000 200$000 400$000
Bilhar 20$000 20$000
Artistas 30$000 30$000 60$000
Arrecadados 5:864$000 5:308$000 11:172$000

Fonte: Assembleia Legislativa de São Paulo. Prestação de contas. Orçamentos de 1887, 1888 e 1889. Cx. 242 e 238. Elaboração própria.

A cobrança de tributos é de fundamental importância para compreender a relação do capitalismo com os produtos de maior circulação no território do interior paulista e seus desdobramentos econômicos sobre a região e a cidade de Cajuru. Transportadores, mercadores e viajantes são prisioneiros de um leque limitado de opções, como uma estrada que cruza um rio perigosamente, um pouso ou um interposto taxativo. (BRAUDEL, 1995). A relação entre cidade e a economia de mercado se explica pela ocupação geográfica do espaço. O que possibilitou o desenvolvimento de um “posto fiscal” em Cajuru foi sua posição estrategicamente situada na rota comercial entre Casa Branca e o Uberaba – Sul de Minas. “[…] todas as cidades recebem o movimento, o recriam, dispersam mercadorias e homens para a seguir receberem mais, e assim sucessivamente.” (BRAUDEL, 1995, p.459).

A ampla valorização do espaço foi materializada através da modernização das rotas comerciais no interior paulista. Uma vez que, a modernidade se situa onde se encontra a maior circulação de capital, no caso das rotas, onde o capitalismo caminha e se propaga. No ano de 1895, foi autorizado pelo Congresso Legislativo do Estado de São Paulo, a construção de uma ponte sobre o Rio Pardo, no lugar denominado Taypava. Tal obra favoreceu a ligação de Cajuru com o município de Santa Rita do Passa Quatro por meio de uma estrada de rodagem[10]. Em 1921 foi sancionado a edificação da ponte sobre o Rio Pardo, na estrada de rodagem de Cajuru a Serra Azul, no município de São Simão, e outra estrada de rodagem, de Cajuru a Santo Antônio da Alegria[11].

Henri Lefebvre (2008) já afirmava que a produção do capitalismo é dada pela produção do espaço (2008). Analogamente, Braudel (1996) ao estudar os “jogos das trocas”, reconhece que “os mercados têm sua geografia”. Um mercador está sempre conectado com seus compradores, independente da distância dos mercados. Nesta relação “[…]desenha-se um espaço que, no seu conjunto, rege a própria vida do mercador.” (BRAUDEL, 1996, p.156). O espaço é a estrutura das relações humanas: a disparidade na distribuição geográfica dos mercados interfere diretamente na circulação de mercadorias no interior dos territórios, concomitantemente atinge as redes que viabilizam o comércio internacional, os postos de trocas, as relações culturais, o movimento demográfico e a função das cidades na produção do capitalismo – periféricas e centrais.

A sociedade mercantil de Cajuru, em 1891, reivindicou o prolongamento da malha ferroviária da Companhia Mogiana até a cidade. Podemos observar este movimento no jornal Estado de São Paulo: “Os habitantes da villa de Cajurú estabelecidos com casa de commercio, vão dirigirir ao governador do estado um pedido para que a Companhia Mogyana leve a linha projectada, até lá, no mais breve prazo.” (JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, 1891)[12]. O forte comércio existente na região de Cajuru, impulsionado pela instalação da Mogiana em Casa Branca no ano de 1878, fortaleceu a sociedade de comércio na região. Sob pressão o governo do estado autorizou a extensão do ramal Santos Dummont através do decreto nº 1.949, de 8 de novembro de 1910.[13]

Mapa 1: Ramal Santos Dummont a Cajuru

Mapa- Ramal Santos Dummont a Cajuru
Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo. Documentos Estaduais de Infraestrutura e Transporte.

É nesse contexto, que em 1912 foi inaugurada a estrada de ferro de quilometro 22 do ramal Santos Dummont até a cidade de Cajuru, como revela o Mapa 1: Ramal Santos Dummont a Cajuru. O ponto inicial da via férrea ficava situado na fazenda Amalia, vertente ao rio Pardo. Sob a lei n º 30 de 13 de junho de 1892, a obra teve o custo de 39:885$000 réis aos cofres públicos, com a despesa total de 1.994:291$308 réis.[14] O jornal Estado de São Paulo (1912) descreve o entusiasmo da população no dia da inauguração do prolongamento da ferrovia Mogiana até a cidade de Cajuru:

Foi inaugurado hoje no tráfego geral a estação de Cajuru, ponto terminal do ramal Santos Dumont, da Companhia Mogiana. A estação de Cajuru fica oito quilômetros além da estação de Itaova e foi esse trecho que hoje se inaugurou. Segundo comunicações acabo de receber, Cajuru acha-se em meio de uma festa cheia de entusiasmo. As ruas estão garridamente embandeiradas. Em coreto especial tocou a banda da brigada policial que foi muito apreciada. Tocaram ainda mais três bandas de música. A chegada do trem inaugural o entusiasmo foi enorme. Compacta massa de povo enchia a gare e as vizinhanças da estação ouvindo-se vivas entusiásticos a Companhia Mogiana, a sala direção, ao da Rebouças, ao progresso da Cajuru. Foram queimadas baterias e girândolas dos foguetes. As ruas da cidade estavam embandeiradas e ornamentadas com arbustos. É grande o movimento do povo na cidade. Das localidades vizinhas milhares de pessoas foram assistir as festas. A noite, no Clube Renascenças realizou-se um banquete de 100 talheres. Amanhã haverá um grande baile. O trem inaugural chega a Cajuru cerca das 5 horas da tarde tendo recebido muitos passageiros em todas as estações do ramal Santos Dumont. (JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, 1912).[15]

Segundo o Dicionário Geográfico de São Paulo (1943) o município de Cajuru possuía quatro estações, sendo elas: Cajurú, Itaóca, Sampaio Moreira e Corredeira. (LIMA, 1943).

Imagem 1: Estação Corredeira em Cajuru

Estação Corredeira em Cajuru
Fonte: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; José Renato; Luis Fernando Pecchiore Bastos; Cia. Mogiana: relatórios anuais, 1900-69; Mogiana: relação oficial de estações, 1938; Mogiana: Álbum, 1910; O Estado de S. Paulo, 10/5/1910 e 1966; Mapa – acervo R. M. Giesbrecht.

Imagem 2: Estação Sampaio Moreira 1912

Estação Sampaio Moreira 1912
Fonte: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; José Renato; Luis Fernando Pecchiore Bastos; Cia. Mogiana: relatórios anuais, 1900-69; Mogiana: relação oficial de estações, 1938; Mogiana: Álbum, 1910; O Estado de S. Paulo, 10/5/1910 e 1966; Mapa – acervo R. M. Giesbrecht.

Imagem 3: Festa de inauguração da estação Cajuru

Festa de inauguração da estação Cajuru
Fonte: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; José Renato; Luis Fernando Pecchiore Bastos; Cia. Mogiana: relatórios anuais, 1900-69; Mogiana: relação oficial de estações, 1938; Mogiana: Álbum, 1910; O Estado de S. Paulo, 10/5/1910 e 1966; Mapa – acervo R. M. Giesbrecht.

O transporte é por excelência um facilitador do progresso econômico. Braudel (1995) anuncia em seu livro que o “transporte é um limite para a economia”. A introdução da estrada de “ferro” no início do século XX, onde havia apenas estrada de “poeira”, movimentou a economia na região de Cajuru. “[…] A troca, que é o instrumento de qualquer sociedade econômica em progresso, foi prejudicada pelos limites que lhe eram impostos pelos transportes: a sua lentidão, o seu magro fluxo, a sua irregularidade e, finalmente, o seu elevado custo.” (BRAUDEL, 1995, p.390). A instalação da ferrovia em Cajuru, inaugurou um período de ampla modernidade; as construções das pontes sobre os rios, a estrutura urbana e a mentalidade socialmente influência pelos ares econômicos, são sinalizadores deste contexto histórico. “O momento da reconstrução da paisagem urbana em Cajuru pode ser representado pela demolição da antiga igreja e construção de uma nova matriz, […] a tônica cultural do Brasil republicano, […] provocou uma ruptura radical com tudo que representasse a antiga sociedade […].” (MORETINI, 2007, p. 208).

A frase que contextualiza a dinâmica desenvolvimentista é a frase do filósofo francês Paul Valéry, transcrita na obra do historiador francês Fernand Braudel: “Napoleão desloca-se à mesma velocidade de Júlio César” (BRAUDEL, 1995, p. 391). Essa declaração, embora em primeiro momento pareça ser exagerada, carrega consigo um grau de veracidade. Os trôpegos dos carros de boi e dos muares foram substituídos gradual e parcialmente pela eficácia da locomotiva, que em alguns percursos atingia a velocidade de 24,5 km/h. A ausência de desenvolvimento ou a escassez dos meios de transporte entre as cidades interioranas representou um obstáculo para o progresso do capitalismo. O economista Ernest Wagmann reconhece que só haverá “derrota do espaço” com a construção da estrada de ferro a partir de 1857, inaugurando as verdadeiras comunicações em massa em escala mundial. (BRAUDEL, 1995). Se as cidades atraem para si as notícias rápidas, os bens de capital, as mercadorias e a própria circulação da moeda, é porque elas pagaram a aceleração e sempre tiveram meios de forçar o espaço, sintetizando, os meios técnicos e científicos provenientes da Revolução Industrial se converteram no “encurtamento” das distâncias, oferecendo aos fluxos e as escalas de produção maior mobilidade, elaborando e estruturando espaços para o sistema capitalista.

A troca é, assim, uma revolução nas relações entre a sociedade com o espaço, nesse sentido específico. Antes mesmo do capitalismo e, mais especificamente neste, o custo de transporte agregar-se-á ao preço final do produto, viabilizando ou não sua própria produção para a troca. (COSTA; MORAES, 1999, p. 129)

O homem moderno é, acima de tudo, um ser humano móvel. A economia cafeeira e a construção da Companhia Mogiana, contribuíram intensamente para a disseminação de pensamentos, costumes, hábitos, modos de vida, religião e ideologia, uma vez que, essas sucessões de aspectos sociais estiveram ligadas intrinsicamente a evolução e ao progresso do transporte. “[…] O espaço-tempo é fortemente baseado na percepção da mudança nos meios de vencer a distância pelos objetos (transportes) e pelas ideias (comunicação).” (SANTOS, 1994, p. 19). A vinda dos imigrantes representou a mobilidade do homem moderno.

Em um total de 123.069 imigrantes […] entre 1898 e 1902, um pouco mais da terça parte (49.799) concentram-se em apenas cinco municípios: Ribeirão Preto (14.293), São Simão (7.837), São Carlos do Pinhal (7.739), Araraquara (7.679) e Jaú (6.191). (MONBEIG, 1998, p.172)

Essa conjuntura instaurou um ciclo da modernização nas cidades do interior, calcado na concepção ambígua e angustiante de modernidade[16]. Érika Moretini (2007) descreve as mudanças ocorridas em Cajuru:

Esse padrão se manteve até a passagem do século XIX para o XX, quando a cidade se reconstrói em nome da cultura “civilizadora” apregoada pela mentalidade dominante, multiplicada pelo pensamento republicano, incorporada e executada pelos produtores de café. Inspiradas pelas cidades europeias, pela noção de progresso e pelo poder da ciência, as elites brasileiras reconstruíram as cidades e as colocaram e como o centro das relações sociais e palco dos grandes acontecimentos. […] Não havia mais espaço para a cidade de taipa; agora era a vez da cidade moderna, industrial das residências suntuosas que ostentavam o poder político e econômico de seus proprietários dos espaços públicos de convivência. (MORETINI. 2007, p.209)

Imagem 4: Locomotiva da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, no ramal Henrique Dummont, que ligava a linha tronco a CajuruLocomotiva da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, no ramal Henrique Dummont, que ligava a linha tronco a Cajuru

Fonte: MORETINI, Érika. Cajuru: um olhar sobre a história do município. Editora Fundação Brodowski/SP: Fabri Felipucci, 2007. Acervo Márcio José Elias. (p. 216).

A cultura cafeeira se estendeu por todo o Sertão do Rio Pardo. Segundo o Relatório da Agricultura de 1923, existia no município de Cajuru, 211 propriedades dedicadas ao cultivo cafeeiro, havendo em sua extensão territorial 2.826.600 pés de café. O estudo realizado por Carlos de Almeida Prado Bacellar e Lucila Reis Brioschi (1999), aponta que na cidade de Cajuru havia entre os anos 1914 e 1915, 3.091.160 pés de café em produção. Entre os anos de 1919 e 1920 o número de pés de café teve um leve aumento, chegando a 3.450.000, atingindo a quantidade de 3.473.330 entre os anos de 1924 e 1925. (BACELLAR; BRIOSCHI, 1999).

O historiador Rodrigo de Andrade Calsani (2010) em seu levantamento, aponta que em 1933 havia no município de Cajuru um total de 251 propriedades com até mil pés de café. Como acusa a Tabela 4: Presença da pequena lavoura cafeeira na Alta Mogiana – 1933.

Tabela 4: Presença da pequena lavoura cafeeira na Alta Mogiana – 1933.

Município Propriedades com até 10 mil pés de café % em relação ao total de propriedades do município
São Simão 43 38,7
Ribeirão Preto 85 39,7
Cravinhos                              30 40,0
Batatais 103 41,4
Sertãozinho 104 55,9
Franca 470 63,1
Santa Rosa do Viterbo 57 72,2
Cajuru 251 74,7
Igarapava 217 76,7

Fonte: CALSANI, Rodrigo de Andrade. “O Imigrante italiano nos corredores dos cafezais:  cotidiano econômico na Alta Mogiana (1887 – 1914)”. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2010. (p.52)

Em 1930, o juiz de direito da comarca de Cajuru, Antonio da Rocha Frota, publicou no Jornal do Estado de São Paulo o pregão da venda da Fazenda Bela Vista localizada no distrito de Santa Cruz da Esperança pertencente a Antonio Candido da Silva, herdeiro de Maria Helena da Silva. Em seu relatório, apontou que nesta fazenda havia 120 mil pés de café cultivados. Segue o relatório:

O doutor Antonio Furtado da Rocha Frota, juiz de direito da comarca de Cajuru, do Estado de São Paulo. Faço  saber a todos quantos o presente edital virem, ao delle conhecimento tiverem e interessar possa, que o porteiro dos auditórios desta comarca ou quem suas vezes fizer, trará a público pregão de venda e arrematação, a quem mais der e lance a offerecer, acima da avaliação, no dia vinte e quatro de Outubro (24-10-930) do corrente ano, no edifício do Forum, sala das audiências, as doze (12) horas, o immovel denominado Bella Vista, pertencente a Antonio Candido da Silva e herdeiros da fallecida Maria Helena  da Silva, e penhorado no executivo hypothecario, movido por Francisco José da Silva, cessionário da Laurinha Francisco do Nascimento; nos termos do Codigo do Processo Civil, cujos bens são: “A fazenda Bella Vista, do districto da Santa Cruz da Esperança, desta comarca, com certa de cento e sessenta alqueires (160) de terras de cultura, ocupados por cento e vinte mil pés de cafeeiros, mais ou menos, cannaviaes, pastos, cerrados e campos confrontando com terras de João Baptista, conceição, Maximo Antonio Pereira, José Fontanete, e outros, avaliados por quarenta e dois contos de réis (42:000$000). (JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, 1930)[17]

O cultivo do café na vila de Santa Cruz da Boa Esperança – pequena localidade situada aos arredores de Cajuru – viabilizou a consolidação do comércio local, fortalecimento do tráfego de mercadores e o transporte de mantimentos pelas estradas – de Ribeirão Preto a Cajuru –, contribuindo para a circulação do capital e o aumentando as trocas de curta distância. O transporte por meio de muares e carros de boi foram utilizados onde a ferrovia não alcançava as lavouras de café, como é o caso da fazenda Bela Vista e a vila de Santa Cruz da Esperança. “A utilização de muares atrelados às carroças substituiu, no entanto, lado a lado com os carros de bois, ocupados em atender os trajetos entre os cafezais e os terrenos entre as fazendas e as estações […].” (BRIOSCHI, 1991, p.119). Essa dinâmica de transporte é apontada no relatório da sessão da Câmara Municipal de Cajuru, no ano de 1909, relativo ao imposto sobre carros de boi:

A lei municipal de Cajurú, n. 57, de 10 de novembro de 1908, no art. 7.0. paragrapho 48 e 49, tributou os carros de bois de seu municipio do seguinte modo: Paragrapho 48 – De cada carro de bois, ferrado a pião, para aluguel, puxando café ou outros gêneros, 40$000; pragrapho 49 – De cada carro de bois, ferrado a chapa, para aluguel, puxando café ou outros gêneros, 20$000.

Os munícipes Isais Barbosa do Nascimento e outros, possuidores de taes vehiculos, empregados em semelhantes mister, recorrem dessas disposições, pretendendo que o senado as naulle, por contrarias à lei de estado n. 1.038, de 19 de dezembro de 1906, art. 19, n.5.

A lei citada pelos recorrentes, no artigo mencionado, dispõe de que farção parte da receita de municipais, entre outras, as taxas impostas sobre os vehiculos de qualquer espécie que fizerem o serviço de transporte dentro das povoações.

Os recorrentes confessam, na exposição de recurso, que os seus carros são destinados a serviço de transporte de produtos de importação e exportação, no municipio, entre a estação da estrada de ferro e a cidade[18], e vice-versa, e a Câmara Municipal, em sua informação, isto mesmo confirma, acrescentando que a razão da diferença na taxa entre os carros ferrados a chapa e os carros ferrados a pião é que estes, muito mais do que aquelles, estragam as estradas e as ruas, cuja conservação lhe incumbe manter. (ARCHIVO DO SENADO DE SÃO PAULO, 1909, p. 9)[19]

Santa Cruz da Esperança se posicionou no centro de grandes economias regionais como Ribeirão Preto, São Simão e Cajuru. A sua localização auxiliou o deslocamento e a fixação de imigrantes, impulsionados e atraídos pela cultura cafeeira – Cajuru e principalmente Ribeirão Preto – “[…] migravam para cá: baianos, sergipanos, catarinenses, principalmente imigravam: italianos, portugueses, espanhóis, e foi assim que surgiu a sociedade de Santa Cruzense.” (FONSECA, 1988, p. 4). Um desses caso é o da família Prates:

Em meados do século XIX os Prates saíram da cidade de Caulé, na Bahia, com destino ao Sudeste. Parte deles ficou no Estado do Rio de Janeiro, e parte chegou até a pequena Santa Cruz da Esperança, atraída pela agricultura próspera da região de Ribeirão Preto. (PRATES, 2004, p.93)

A ligação de Cajuru com Santa Cruz da Esperança era estritamente fundamentada pelas relações econômicas – plantações de café, engenho de açúcar e aguardente, criação de gado e trocas comerciais amparadas logisticamente pela função de pouso da vila de Santa Cruz. Somente com a fundação do distrito de paz de Santa Cruz da Esperança em 19 de dezembro de 1923, que a convivência entre as duas localidades saiu da esfera estritamente econômica e passou para a esfera jurídica, econômica e política.

Mapa 2: Região de Cajuru

Mapa- Região de Cajuru
Fonte: FERREIRA, Jurandyr Pires. (Org.). Enciclopédia dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1960.p. 338.

Segundo o Censo de 1872, o município de Cajuru possuía 6.700 habitantes, dentre eles sendo 903 escravizados e tendo em sua localidade 759 fogos. O número de pessoas livres era equivalente a 88,1% da população total e os escravizados representavam 11,9% do número total de habitantes.[20] Os dados demográficos do Estado de São Paulo em 1886 – três anos antes da Abolição da escravidão – apontavam que a população total do município de Cajuru subiu para 10.791 habitantes, distribuídos entre as paróquias de São Bento, Santa Cruz e o distrito de Santo Antônio da Alegria. No mesmo ano, a população negra escravizada no município contabilizava 597 pessoas, revelando uma queda do trabalho escravo[21]. Em percentual, o número de escravizados computava aproximadamente 5,5% da população.

Tabela 5: Valores dos escravizados segundo a Idade em Cajuru 1886

Idade Valores
Dos menores de 30 anos 263:550
Dos de 30 a 40 anos 100:450
Dos de 40 a 50 anos 44:300
Dos de 50 a 55 anos 10:700
Dos de 55 a 60 anos 2:050

Fonte: BASSANEZI, Maria c. Beozzo (Org.). São Paulo do Passado: dados demográficos 1886. Universidade estadual de Campinas Núcleos de estudo de população: São Paulo, 199. (p.93). (adaptado).

No ano de 1888, sob pressão das nações europeias, principalmente da Inglaterra, a escravidão foi abolida no Brasil. O caminho para a abolição foi tortuoso e desgastante para a elite política do Brasil. Em setembro de 1850, o Congresso Nacional baixou a lei Eusébio de Queiroz, proibindo o comércio de escravos. No ano de 1871, foi decretado a Lei do Ventre Livre, para somente em 13 de maio de 1888 ser conclamada a Abolição da escravatura.

As marcas da escravidão ainda se encontravam nos “corpos pretos” a serem incluídos na sociedade branca de mentalidade escravagista do século XX. Nas diferentes regiões marcadas pela monocultura cafeeira esses traços se tornaram mais evidentes, pois o homem negro se libertou da escravidão do homem branco para ser escravizado pelo sistema capitalista. Segundo José de Souza Martins (2019), em São Paulo, entre 1875 e 1883, grande parte do trabalho aplicado nas lavouras de café era realizado pelo trabalhador assalariado. Entre a introdução do trabalho assalariado e a abolição da escravidão, o que sobrou para o escravizado foi a condição de despojado, sem nenhuma propriedade que não fosse a da sua força de trabalho. Em comparação ao trabalhador livre, que ganhou subsistência na imigração, o escravizado foi expulso e/ou desprovido da terra. “Para um, a força de trabalho era o que ganhara com a libertação; para outro, era o que lhe restara” (MARTINS, 2019, p. 32).

[…] a questão abolicionista foi conduzida em termos da substituição do trabalhador escravo pelo trabalhador livre, isto é, no caso das fazendas paulistas, em termos da substituição física do negro pelo imigrante. Mais do que a emancipação do negro cativo para reintegrá-lo como homem livre na economia de exportação, a abolição o descartou e minimizou, reintegrando-o residual e marginalmente na nova economia capitalista que resultou do fim da escravidão. O resultado não foi apenas a transformação do trabalho, mas também a substituição do trabalhador, a troca de um trabalhador por outro. O capital se emancipou, e não o homem. (MARTINS, 2019, p. 33)

A relação entre os donos da lavoura e o escravizado recém liberto se resume na afirmação de José de Souza Martins (2019), “[…] o próprio empresário criou inventivamente ajustamentos econômicos que lhe permitiam ganhar como capitalista e pagar como senhor de escravos […].” (MARTINS, 2019, p.32). Os grandes municípios de terra roxa foram os que mais atraíram imigrantes, justamente pelo grande número de propriedades dedicadas ao cultivo de café. Em Cajuru, o pico em número de imigrantes e a sua oscilação em relação aos anos precedentes, compreende ao período da Grande Guerra e ao prolongamento do ramal Santos Dumont (1913-1914).

Tabela 6: Imigrantes que chegaram em Cajuru entre 1910 e 1920

Anos Quantidade
1910 149
1912 382
1913 607
1914 633
1915 205
1916 318
1918 116
1920 50
Total 2.460

Fonte: Relatório Agrário da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Arquivo Público do Estado de São Paulo. Ano 1910, 1911, 1912,1913, 1914, 1915, 1916, 1918, 1920. (adaptado).

A formação de núcleos colônias provenientes do grande número de imigrantes incentivados pela agricultura, começaram a tomar forma a partir de 1865 por meio da iniciativa do advogado Gabriel de Souza Diniz Junqueira. “[…] Ensaiou-se a instalação de famílias de imigrantes norte-americanos em São Simão, tendo em vista o desenvolvimento da lavoura de algodão na região.” (BACELLAR; BRIOSCHI, 1999, p.144). O fluxo com mais intensidade ocorreu na década de 1890, como acusa a Tabela 7: Entrantes na Hospedaria de Imigrantes de São Paulo.

Tabela 7: Entrantes na Hospedaria de Imigrantes de São Paulo.

Ano Entrantes Totais Ano Entrantes Totais
1893 69.139 1899 16.674
1894 29.148 1900 13.389
1895 104.122 1901 57.634
1896 74.910 1902 25.436
1897 65.886 1903 7.634
1898 28.358 1904 17.253

Fonte: BACELLAR, Carlos Almeida Prado; BRIOSCHI, Lucila Reis, (Orgs.). Na Estrada do Anhanguera: uma visão regional da história paulista. São Paulo FFLCH/USP: Editora Humanista, 1999. (Adaptado, p.144)

No final do século XIX chegaram no Brasil atraídos pela rápida expansão da cafeicultura paulista; portugueses, italianos, alemães, russos, austríacos, espanhóis, ingleses, belgas e húngaros. Dentre as etnias, a imigração italiana foi a mais intensa, tendo como base a comparação realizada pelo historiador Rodrigo de Andrade Calsani (2010):

Foi na década de 1880 que os números referentes à imigração italiana tiveram uma alteração significativa no processo econômico paulista, pois de um total de 183.504 imigrantes, 144.654 eram italianos, o que representou 78,82% das nacionalidades que chegaram ao Estado de São Paulo. Nesse mesmo período, o italiano representou 60,98% da imigração por todo o território brasileiro. No final do século XIX e início do XX, o número de imigrantes passaria a declinar por vários motivos, dentre eles; maus tratos, diminuição de incentivos governamentais a imigração, retorno ao país de origem, a Primeira Guerra Mundial. Mesmo assim, no período compreendido (1820 / 1929) – de um total de 4.424.000 de imigrantes que desembarcaram no Brasil, 2.241.387 (50,66%) fixaram-se no Estado de São Paulo e 933.554 (41,65%) italianos, dados expressivos que demonstram a formação e consolidação econômica / cultural da região paulista nesse período. (CALSANI, 2010, p. 35)

De acordo com Calsani (2010), entre os anos de 1887 e 1914, 50,30% dos imigrantes que chegaram nos campos agrícolas do interior paulista foram italianos, contabilizando um total de 845.816 pessoas. Em meio a essa conjuntura nacional, chegou ao bairro de Santa Cruz da Boa Esperança famílias tradicionais de origem estrangeira, dentre elas os Lunardelle, Fotanetti e os Palma; de origem italiana. Esse efetivo migratório ocupou diversas propriedades no Sertão do Rio Pardo, tendo como base o ano de 1906; […]o número de propriedades agrícolas em 1915 se manteve estável, e o italiano continuava a ser a etnia predominante na aquisição de terras, das 8.552 propriedades agrícolas no Estado de São Paulo, 5.230 propriedades (61,1%) eram de italianos […].” (CALSANI, 2010, p.46)

Com a introdução dos trabalhadores de origem estrangeira, houve uma intensa alteração da composição social e cultural da população do “Oeste Paulista”. Essa conjuntura se desdobrou em uma nova dinâmica sobre a terra roxa; a economia de subsistência e a “caipirização” dos imigrantes. A diversidade da economia paulista composta pela pecuária, fabrica laticínios, comércio do sal, agricultura de subsistência e abastecimento, engenhos de açúcar e aguardente, tecelagens, atividades artesanais, plantações de café, arroz e milho, possibilitaram o adensamento das práticas econômicas voltadas para a terra e a absorção dos imigrantes radicados por meio do trabalho rural.

Havia a convivência de diversas formas de exploração da terra, que vai desde o sítio caipira, especializado na produção para o autoconsumo, passando pela tradicional fazenda de criação de gado – especialmente bovino e suíno – e produção de abastecimento interno, destinada aos trabalhadores da localidade e/ou aos mercados locais e regionais, chegando até à propriedade cafeeira, que mantinha ao mesmo tempo a produção de bens para o autoconsumo e abastecimento regional.” (CALSANI, 2010 p.55)

Os principais centros de confluências de imigrantes em Ribeirão Preto foram as hospedarias no Brás e o Núcleo Colonial do Senador Antonio Prado. Além destes núcleos coloniais havia no Estado de São Paulo a Colônia Conde do Parnahyba, a Nova Zelândia, Nova Veneza, Nova Europa, Pariquera-Assúi, Gavião Peixoto, Nova Odessa, Jorge Tibiriçá e Campos Salles[22]. Em meio a esta conjuntura econômica e social, o mecanismo adotado pelo governo e pelos fazendeiros para ingressar esse contingente de trabalhadores em suas lavouras de café foi o colonato. Rodrigo de Andrade Calsani (2010) descreve:

O colonato – modelo de contrato que surgiu a partir de 1880 – era um sistema misto de remuneração por tarefa e por medida colhida caracterizado por pagamento fixo pelo tratamento do cafezal; pagamento proporcional pela quantidade de café colhido e produção direta de alimentos para sustento próprio e comercialização do excedente. (CALSANI, 2010, p. 86)

Segundo Monbeig (1998), o colono “era essencialmente um operário rural, que assinara com o fazendeiro, um contrato de trabalho por um ano. […]. O colonato das fazendas constituiu um proletariado desorganizado, em face de uma classe outrora pujante.” (MONBEIG, 1998, p.156). O colono se caracterizava como um camponês pré-capitalista em sua relação laboral – pela produção direta de alimentos, como meio de vida e como excedentes comercializáveis – pois não foram considerados como elementos de povoamento, e sim, apenas como braços para as lavouras de café. (MONBEIG, 1998) (MARTINS, 2019).

A produção de café na Alta Mogiana interiorizou a híbrida sociedade brasileira – o escravizado alforriado, o colono e o mestiço –, ao mesmo tempo em que essa mesma sociedade interiorizava o sertão em seu modo de vida – roceiros de lavouras de subsistência, mercadores, negociantes, boiadeiros, tropeiros, criadores de gado, de cavalos, de burros e de porcos. Darcy Ribeiro descreve o Brasil Caipira caracterizado pelo espaço habitado e pela cultura, singularizada pelo ajustamento às condições locais, pelo manejo de técnicas rústicas e pelo traquejo nas atividades rurais.

Tabela 8:Café na região de Cajuru

Ano de produção Número de cafeeiros Média por estabelecimentos Total produzida em arrobas Média em arrobas por estabelecimentos
 1905 3.586.667 4.926,7 203.206 279,1
1920 4.550.000 7.844,8 107.800 185,9
1934 6.073.800 4.369,6 153.429 110,4
1940 6.099.775 5.716,8 243.991 228,7

Fonte: Adaptado de: CAMARGO, José Francisco. Crescimento da população do Estado de São Paulo e seus aspectos econômicos. São Paulo, 1952. (p.79).

A produção de café no início do século XX potencializado pela Companhia Mogiana, como é apontado pela Tabela 8: do café na região de Cajuru, não prejudicou a atividade mercantil na região, muito pelo contrário, ela possibilitou a introdução de novas mercadorias diversificando os gêneros do comércio. Se comercializava ferragens, tintas, aguardente, gêneros da terra, calçados, arreios, cigarros, fumo em corda, perfumarias, joias em pequena escala e muitos outros artigos. Os negociantes realizavam seu comércio tanto dentro do espaço urbano, quanto na zona rural. “Para mascatear em fazendas, armarinhos, roupas-feitas, calçados, modas, com um bahú: 300$000. Para ter açougue nas roças para carne de toda a espécie: 60$000.” (ARCHIVO DO SENADO DE SÃO PAULO, 1909, p. 19).[23]

Tabela 9: Gado na região de Cajuru

Ano de produção Número de Bovino Número de

Equino

Número de Muar Número de estabelecimentos
1920 35.353 4.901 1.089 —-
1934 30.069 3.223 659 —-
1939 —- —- —- 107
1940 28.449 3.622 592 —-

Fonte: Adaptado de: CAMARGO, José Francisco. Crescimento da população do Estado de São Paulo e seus aspectos econômicos. São Paulo, 1952. (p.80).

Tabela 10: Estrutura econômica de Santa Cruz da Esperança 1923

Ano Pés de Café Gado Bovino
1923 927.000 10.323

Fonte: Assembleia Legislativa de São Paulo. Prestação de contas. Cria o distrito de paz de Santa Cruz da Esperança no município e comarca de Cajuru. Caixa C-157. Código 21. Identificador: 27258. Elaboração própria.

Em 1923, Santa Cruz da Esperança, possuía uma estrutura econômica sólida e economicamente independentemente. O sistema mercantil de gado e a cultura do café mobilizou a economia interna desde o final do século XIX, possibilitando que a economia do bairro se consolidasse e abastecesse a economia regional com seus produtos agropastoril, como demonstrado na tabela. A estrada de rodagem era fundamental para movimentar esta dinâmica de abastecimento; “A fazenda Brumado, […] estava em aberto, tendo os vizinhos feito atravessadores por toda a parte, retalhando, dita fazenda com trilhos por onde passavam cavalheiros, […] vizinho do […] Major José Vieira de Andrade Palma.”[24]

O complexo econômico – o gado, e principalmente o café – e social da região de Cajuru, ambientou um típico modo de vida caipira. As tradições dos boiadeiros e dos tropeiros – considerados como viajantes insurgentes – marcaram a região pela forte influência da pecuária até metade do século XX, como é descrito na Tabela 9: Gado na região de Cajuru. “Os tropeiros, carreiros, boiadeiros e outros quaisquer pessoas que lançarem fogos em cafezais, matas capoeiras, campos e outros terrenos rurais sem consentimento de seus donos, sofrerão multa de 100$000 e 8 dias de prisão […].” (ARCHIVO DO SENADO DE SÃO PAULO, 1874, p. 8).[25]

Essa conjuntura econômica se estendeu e sustentou pontos articulados à estratégia mercantil. Concomitantemente sobre uma estreita relação como o espaço comercial articulado a configuração econômica historicamente específica – sistema mercantil do gado e a extenso cultivo do café.

Onde quer que se encontre, uma cidade implica sempre em um certo número de realidades e processos com evidentes regularidades. Não há cidade sem divisão obrigatória do trabalho e não há divisão do trabalho pouco avançada sem intervenção de uma cidade. Não há cidade sem mercado e não há mercados regionais ou nacionais sem cidades.39 […]. Enfim, não há abertura para o mundo, não há trocas e longa distância sem cidades. (BRAUDEL, 1995 p. 441)

Isso fica claro no caso de Santa Cruz da Esperança, que de bairro[26] à vila, surgiu em meio ao complexo jogo de trocas no final do século XIX. O caráter dinâmico e orgânico do mercado regional fez de Santa Cruz um espaço de sociabilidade e de práticas econômicas tipicamente caipira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura caipira é dotada de espacialidade, um espaço de ação[27] humana estruturado pela longe dureé. A cultura é o enraizamento territorial dotado de memórias que se concretiza pela constituição de comunidades, vilas, bairros e/ou cidades. O espaço geográfico é resultado da produção humana. Tal produção abarca pelo menos três níveis: econômico, cultura-simbólico e político. (BRAGA, 2007). A cidade deve ser compreendida não apenas pela sua dimensão econômica, mas também pela sua dimensão cultural e simbólica. Certeau (2013) apontou que a cidade é “poetizada” pelo sujeito, que a refabricou para o seu uso próprio, desmontando as correntes do aparelho urbano. Milton Santos (1994) afirma que cada cidade responde por suas relações específicas, própria às condições de realização da vida econômica e social, sejam elas um comércio, uma ferrovia ou a criação de gado; o espaço urbano responde organicamente a especificidade social, geográfica, econômica, política e cultural propriamente dita. A identidade do homem de Cajuru e de Santa Cruz da Esperança é materializada em suas ações do cotidiano – sua vida material[28] –, a venda de aguardente e de gêneros da terra, casa de comércio, criação de gado, cultivo de café e de cana-de-açúcar, lavradores, mascates, tropeiros, boiadeiros e carroceiros. As vilas e as cidades do interior paulista foram historicamente formadas dentro de um complexo jogo relacional de trocas intercambiadas sobre o espaço e diametralmente estruturadas pelas condições materiais particulares.

A composição da trama econômica inter-regional, entre o Sul de Minas – Uberaba – e o Nordeste Paulista – Casa Branca –, permitiu o desenvolvimento do complexo econômico de Cajuru durante o século XIX e início do XX. A relação entre cidade e a economia se explica pela ocupação geográfica do espaço. Cajuru desde o século XVIII se articulou no interior de centros espaciais de trocas econômicas, a princípio no Caminho dos Goiases e posteriormente no trajeto entre Uberaba e Casa Branca. Estas conjunturas históricas distintas projetaram Cajuru como um interposto tarifário robusto – jurídica e política – e subsequentemente promoveu bases estáveis para uma estrutura econômica complexa sobre um espaço geográfico específico, o Sertão do Rio Pardo.

Esta mesma estrutura permitiu a formação da vida material caipira, tendo como base, inicialmente a sistema mercantil bovino – em espaços articulados como as estradas –, a agricultura latifundiária – o café –, a mão de obra imigrante, o sistema escravocrata colonial e a Companhia Mogiana. Atrelado a esta conjuntura histórica de longa duração – permanências e rupturas – do final do século XIX, a formação de pequenas comunidades dentro desta arquitetura econômica, como Santa Cruz da Esperança, foi fundamental para a manutenção das rotas mercantis, sociais e o modo de vida caipira.

Sobre o registro do antigamente, carregado de referências simbólicas, o passado se torna a medida do tempo presente – a medida da História e do historiador. Os desatinos sobre a formação histórica da cultura caipira se expõem em clivagens de uma História multifacetada; O que é, com efeito, o presente? No infinito da duração, um ponto minúsculo e que foge incessantemente; um instante que mal nasce morre. (BLOCH, 2001). Todo homem nasce muito tarde para ver o início da história e morre muito cedo para presenciar o fim dela, então como saber se é o historiador que produz a História ou se é a História que possibilita ser historiador? Pois em algum lugar sob as cinzas mortas do passado existem brasas impregnadas da luz da ressureição. E uma “conclusão”, se é que existe de fato uma conclusão na historiografia, não passaria de uma virgula, uma pausa com recuos, um hiato, um suspiro na leitura da História.

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APÊNDICE-REFERÊNCIA NOTA DE RODAPÉ

2. Os solos de “terra roxa” são derivados da mistura do arenito Botucatu com os solos ricos oriundos da desagregação das rochas basálticas. A distinção entre uma e outra pode ser observada através da coloração: a “terra roxa legítima” tem uma coloração vermelha escura, mas com tom fortemente arroxeado, lembrando a cor da borra de café. Enquanto o tom violáceo da “terra roxa legítima” não diminui com a profundidade, o tom arroxeado das “terras roxas misturadas” diminui com a profundidade e os solos ficam cada vez mais claros (BACELLAR; BRIOSCHI, 1999, p. 28).

3. Segundo Hobsbawm: “[…] o novo imperialismo […] etapa de influência de capitalismo que, entre outras coisas, levava à “divisão territorial” do mundo entre grandes potências capitalistas configurando um conjunto de colônias formais e informais e de esferas de influências.” (HOBSBAWM, 2016, p.100)

4. Cajuru: Houve uma discussão, publica na revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, em 1907, acerca do significado do nome da cidade: de origem tupi-guarani, a palavra Cajuru significaria “boca da mata” ou “mata de papagaios”. (MORETINI, 2007, p. 211)

5. “Esses ramais secundários foram conhecidos como “cata-café” e variavam na extensão, alcançando desde alguns pouco quilômetros até a centenas.” (BACELLAR; BRIOSCHI, 1991, p.122)

6.  Fonte: Acervo Estadão: Jornal Estado de São Paulo. Terça-feira, 5 de junho de 1877.

7. Partindo de Mojimirim, o Caminho dos Goiases atravessava, dentro do território paulista, os atuais municípios de Mojiguaçu, Casa Branca, Tambaú, Cajuru, Altinópolis, Batatais, Patrocínio Paulista, Franca, Ituverava e Igarapava até chegar ao Rio Grande. Este percurso atingia 89,08 léguas, pouco mais de 530 quilômetros. Mas, somássemos as testadas de todas as sesmarias concedidas ao longo da estrada encontraríamos a cifra de 390 quilômetros! (LAGES, 2010, p. 23)

8. Fonte: Assembleia Legislativa de São Paulo. Prestação de contas. Orçamentos de 1869, 1870, 1879, 1880, 1881, 1882, 1883, 1884, 1887, 1888 e 1889.

9. Fonte: Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Lei 93, de 28 de outubro de 1916, na parte em que estabelece imposto sobre gado. Senado. Caixa: 277. Código 40. Ano: 1917.

10. Fonte: Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Fica o governo autorizado a mandar construir uma ponte sobre o rio Pardo, no lugar denominado Taipava, no município de Cajurú. Senado. Caixa: C_LT017. Código: 41. Ano: 1895.

11. Fonte: Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Autorizando o Poder Executivo a mandar construir uma ponte sobre o rio Pardo, na estrada de Cajuru a Serra Azul e a estrada de rodagem de Cajuru à Santo Antônio da Alegria. Senado. Caixa: 102. Código: 41. Ano 1921.

12. Fonte: Acervo Estadão: Jornal Estado de São Paulo. Quarta-feira, 28 de janeiro de 1891.

13. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo. Documentos Estaduais de Infraestrutura e Transporte.

14. Arquivo Público do Estado de São Paulo. Documentos Estaduais de Infra Estrutura e Transporte.

15. Fonte: Acervo Estadão: Jornal Estado de São Paulo. Segunda-feira, 9 de dezembro de 1912. p.4.

16. Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor — mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, “tudo o que é sólido desmancha no ar”. (BERMAN, 1986, p. 15)

17. Fonte: Acervo Estadão: Jornal Estado de São Paulo. Sábado, 11 de outubro de 1930. p.4.

18. Grifo meu.

19. Fonte: Assemblei Legislativa do Estado de São Paulo. A revogação do dispositivo de imposto sobre os carros de bois. Caixa 264. Código 40. Ano: 1909.

20. Recenciamento do Brazil do 1872. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (p. 92)

21. Fonte: BASSANEZI, Maria c. Beozzo (Org.). São Paulo do Passado: dados demográficos 1886. Universidade estadual de Campinas Núcleos de estudo de população: São Paulo, 199, (p. 89).

22. Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas. (1910 – 1911). Arquivo Público do Estado de São Paulo.

23. Fonte: Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Revogação do dispositivo de imposto sobre a venda de aguardente. Caixa 056. Código 40. Ano: 1909.

24. Fonte: Assembleia Legislativa de São Paulo. Sobre uma decisão da mesma Câmara, sobre reabertura de caminho. Caixa 283. Código 40. 1902.

25. Fonte: Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Código de Postura de 23 de maio de 1974. Caixa 631. Página 21. Código 39. Ano: 1874.

26. “Sob este aspecto poderíamos definir o bairro (o que foi feito há pouco sob o aspecto econômico) como o agrupamento mais ou menos denso da vizinhança, cujos limites se definem pela participação dos moradores nos festejos religiosos locais. Quer os mais amplos e organizados, geralmente com o apoio na capela consagrada a determinado santo; que os menos formais, promovidos em caráter doméstico. Vemos, assim, que o trabalho e religião se associam para configurar o âmbito e funcionamento do grupo de vizinhança, cujas moradias, não raro muito afastadas umas das outras, constituem unidade, na medida em que participam no sistema destas atividades.” (CANDIDO, 2017, p. 86)

27.“Os “sujeitos” são, de fato, agentes que atuam e que sabem, dotados de um senso prático (título que dei ao livro no qual desenvolvo essa análise), de um sistema adquirido de preferências, de princípios de visão e de divisão (o que comumente chamamos de gosto), de estruturas cognitivas duradoras (que são essencialmente produto da incorporação de estruturas objetivas) e de esquemas de ação que orientam a percepção da situação e a resposta adequada (habtus).” (BOURDIEU, 2011 p.42)

28. Para Braudel (1995) a vida material não se trata somente de trocas econômicas ou de dinâmicas financeiras, mas sim, da concretude da civilização em relação ao meio que se estabelece enquanto estrutura dos grupos culturais. Desta maneira, as estruturas cotidianas – a civilização material ou vida material – envolve três esferas de ações: o meio ambiente das sociedades, as bases materiais do cotidiano – alimentação, vestuário, moradia e religiosidade – e as técnicas.

[1] Graduação em Licenciatura Plena em História. ORCID: 0000-0002-6619-9441.

Enviado: Maio, 2021.

Aprovado: Janeiro, 2022.

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Marcos Antônio dos Santos

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