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Resenha: A Geografia Romântica Em Yi-Fu Tuan

RC: 83919
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/geografia/yi-fu-tuan

CONTEÚDO

RESENHA

FRANK, Bruno José Rodrigues [1]

FRANK, Bruno José Rodrigues. Resenha: A Geografia Romântica Em Yi-Fu Tuan. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 04, Vol. 14, pp. 19-24. Abril de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/geografia/yi-fu-tuan, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/geografia/yi-fu-tuan

RESUMO

Esta resenha procura apontar os principais elementos na obra de Yi-FU Tuan Romantic Geography: in Search of the sublime Landscape (2013), ainda sem tradução no Brasil.  Inserida na tradição humanista na Geografia esta obra fundamental tem como objetivo explorar as relações entre o pensamento e a atitude denominadas de “romântica” no desenvolvimento dos temas da Geografia e na interpretação das diferentes paisagens. São temas: os extremos (gelo e deserto), a vida nas cidades, as relações corpóreas e o ambiente, as noções de estética e os elementos de polarização tais como ordem e caos.

Palavras-chave: Fenomenologia, Geografia Cultural, Geografia Humana.

INTRODUÇÃO

Yi-Fu Tuan é um geógrafo norte-americano de ascendência chinesa cuja trajetória foi fundamental para o campo da Geografia Cultural, principalmente na consolidação da chamada Geografia Humanista e que aos 91 anos continua ativo na tarefa de interpretar o mundo a sua volta.

Em Romantic Geography: in Search of the sublime landscape (2013), Tuan nos coroa com uma análise primorosa das relações homem e meio. Neste pequeno livro Tuan, em sua fase mais madura reflete a respeito das influências do pensamento romântico nos geógrafos de ontem e hoje.  Dialogando com autores como J.B Jackson (1970,1997) e Anne Spirn (1998), ele procura desmistificar as relações entre a ciência e o fazer científico com o encantamento do mundo. Isso ele o faz, sem recorrer a chavões como “pensamento cartesiano” p.ex. e pela bela escrita e pesquisa

O livro procura conciliar transformações epistemológico com momentos ou ideias essenciais com os contextos históricos e o sentimento de época associadas às sensibilidades do pensamento romântico. Com uma prosa leve e ao mesmo tempo de imensa qualidade literária. Tuan procura por um elo perdido entre a arte e a Geografia. Enquanto condutor desta experiência, o autor nos premia com um trabalho maduro e livre, quase um manifesto.

Tuan parte dos valores opostos e polarizados como coloca da natureza, ambientes naturais e o pensar humano   a respeito dos lugares. de forma a chamar o geógrafo contemporâneo, às vezes perdido em meio à política e as estatísticas. esse chamado tem por objetivo atenta para a importância do sublime e do ordinário. Mas o que seria este “sublime”? Aponta Tuan:

It has something in common with the beautiful, but it is not order and harmony, and it does not necessarily give pleasure. Indeed, it can invoke the opposite sensation of being overwhelmed by the huge, the chaotic, and even the ugly, making one feel ecstatic to the point of pain, intensely alive and yet yearn for death (TUAN, 2013, p.96-97).

A própria ideia de romantismo para o autor traz essa polarização pois: “[…] inclines toward extremes in feeling, imagining and thinking. It seeks not so much the pretty or the classically beautiful as the sublime with its admixture of the enchanting and the horrifying, the heights and depths (TUAN, 2013, p.5, tradução propria)”.

O sublime para Tuan vai do encantamento ao horror, da profundidade aos extremos do mundo. Tudo o que pode alimentar a imaginação do escritor, do poeta e por que não do Geógrafo?

DESENVOLVIMENTO

Para Tuan, das grandes motivações do pesquisador é a noção de jornada (quest) e será este o fio condutor de seu entendimento de toda a relação dos autores da Geografia com o pensamento e as atitudes dos românticos. Esta jornada tem na figura dos exploradores um arquétipo perfeito:

[…] Exploradores que sofreram grandes apuros na busca da foz do Nilo ou em alguns outros casos, mais quixotescos como compreender as estratégias de preservação dos ovos por pinguins imperiais no inverno Antártico, ambos se envolvem em jornadas, e, em minha visão são também heróis românticos (TUAN, 2013, p.153).

Aqui, partilha da visão de Daniel Gade (1936-2015), geógrafo de influência saueriana muito importante no cenário da Geografia Cultural norte-americana que procurou em seus trabalhos mais maduros justamente a compreensão das motivações por trás da pesquisa e dos Geógrafos (GADE, 2011). Gade também associa com a visão romântica o pendor pelo exótico e a formação de uma imaginação apurada. Vejamos agora alguns pontos essenciais em cada capítulo.

No primeiro capítulo intitulado “valores polarizados” Tuan opõe: alto e baixo, belo e feio, o corpo, a casa e o espaço. Assim um ponto interessante é a respeito da oposição entre ordem e caos. Segundo Tuan isso advém da ideia de previsibilidade e harmonia que daria o status de “civilizado” que são essenciais à vida em sociedade, mas questiona, seria isso o progresso? Para ele Caos e a Ordem coexistem, assim, a “[…] boa sociedade, assim como a boa arte, deve conter dissonância. Ao abraçar a abertura e a dissonância, a boa sociedade seria mais romântica do que clássica (TUAN, 2013, p. 17, adaptado)”.

Em “A terra e seus ambientes naturais”, o segundo capítulo da obra, ele abordará a questão da escala nos estudos da Geografia, porém ele irá compreendê-las a partir da ideia de grandeza e de insignificância. Tuan ressalta as relações entre os ambientes da natureza e a cosmologia em consoante com os aspectos tais como a relação entre as montanhas e a religião (a ideia de queda e ascensão). Os oceanos como fonte de descobrimento e mistério são analisados a partir do seu potencial para a imaginação humana. Já as florestas são vistas como fonte de mistério e medo, porém podemos compreendê-las como riqueza ou paraíso, e, em outra ponta, quando aliadas à visão distorcida de um progresso: barreira para o avanço econômico.

Ao abordar os desertos, Tuan realiza uma leitura semelhante à de Norberg-Schulz (1980), não apenas de medo, mas de maravilhamento. Do desespero da desorientação à busca pela redenção (a inspiração divina, a tentação do mal), a aspereza do ambiente gerou em diferentes povos uma percepção do deserto ou como barreira ou como recurso e morada.

O terceiro capítulo traz a cidade como protagonista. O papel civilizador desde os tempos remotos encontra-se associada com a própria ideia de cidade. Dela advém a própria necessidade de estabelecimento de ordem, de uma burocracia e principalmente de um contraste com o mundo rural. Os mundos convergem na cidade:  pobreza e riqueza, diferenças étnicas e os diferentes tipos de ocupação do espaço. Um dos pontos de inflexão seria o denominado Cosmopolitismo, que em sua acepção moderna encontra-se associada à ordem geométrica (oposta ao mundo natural), mas para Tuan há algo também algo de uma ordem natural, na qual os próprios sentidos do “natural” no indivíduo se modificariam “[…] do lugar para o espaço, do sentimento de misterioso ou sagrado em diversas localidades como uma árvore, um poço ou um canto de uma rua para um sentimento de sagrado ou misterioso definidos por pontos cardiais e pelos ciclos sazonais das estações do ano (TUAN, 2013, , p.117 tradução próprio)”.

A “conquista da noite” é um grande marco na cidade, pois em um passado sem luz elétrica ou a gás as atividades produzidas pela cidade eram restritas pela falta de iluminação natural do dia.  Há, assim, um aumento da produtividade.  Diz ele:

[…] A cidade começou como uma forma de trazer ordem e a majestade dos céus para a terra, e realizava isto a partir da cisão com o as raízes culturais da agricultura, o papel civilizador que torna a noite em dia de forma a disciplinar o corpo humano cheio de experiências sensoriais com o objetivo do desenvolvimento da mente. Os seres humanos realizaram todas estas coisas de maneira que, em uma cidade, conseguimos experimentar os altos e baixos – resumindo em uma só palavra: o sublime (TUAN, 2013 p.113, adaptado, tradução própria).

O capítulo quatro trata do ser humano em suas dimensões: o esteta, o herói e o santo. Após riquíssima leitura dos universos culturais formadores de cada “tipo”, ambos individualistas. Tuan aponta o papel de cada um no estabelecimento das civilizações. Para Tuan o destaque não são as forças impessoais da sociedade, mas a força dos indivíduos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a leitura obra, a primeira coisa que podemos realizar é a de um paralelo entre o cenário da pesquisa acadêmica strictu sensu e o universo e motivações individuais dos geógrafos. Percebemos que para além de subsídios de pesquisa, bolsas e doutoramentos (o mundo além lattes), a Geografia Romântica analisada por Tuan partilha do senso de propósito ou significado que foram inerentes à formação e ao caráter no panteão dos grandes mestres da Geografia.

Nesta pequena resenha realizamos apenas um pequeno recorte deste livro na esperança de que mais pessoas compartilhem de sua inspiração genuína na procura pelo sentido dos lugares e das paisagens. Trata-se de um livro essencial à retomada da própria experiência no fazer e praticar Geografia.

REFERÊNCIAS

GADE, D. Curiosity, Inquiry and the Geographical imagination. New York: Peter Lang, 2011.

JACKSON, J. B. Landscapes. Massachussets : University of Massachussets , 1970.

JACKSON, J.B. Landscape in sight: Looking at America. Nova York: Yale University Press, 1997.

NORBERG-SCHULZ, C. Genius Loci: Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980.

SPIRN, A. The Language of Landscape. New Haven e Londres: Yale University Press, 1998.

TUAN, Y, F.  Romantic Geography: in the search of the sublime Landscape. Madison: The University of Wisconsin Press, 2013.

[1] Doutor em Geografia.

Enviado: Março, 2021.

Aprovado: Abril, 2021.

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