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Comportamentos indicativos de indisciplina x comportamentos indicativos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade na escola

RC: 135054
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

MARTINS, Vanéria Paula Sousa [1], SILVÉRIO, Mariana Dalila Oliveira [2], SALES, Juliana de Fátima [3], CRUVINEL, Gabriella Pablinne Sousa [4], OLIVEIRA, Guilherme Pereira de [5]

MARTINS, Vanéria Paula Sousa. et al. Comportamentos indicativos de indisciplina x comportamentos indicativos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade na escola. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 12, Vol. 04, pp. 133-146. Dezembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/indicativos-de-indisciplina

RESUMO

O aluno com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) apresenta muitas dificuldades no ambiente escolar e no convívio e interação com as outras pessoas. A indisciplina é comumente citada como um dos fatores principais de dificuldade de aprendizagem, gerando então, um entrave no processo de ensino na escola. O presente estudo teve como questão norteadora o seguinte apontamento: quais comportamentos apresentam o aluno com TDAH e quais comportamentos apresentam o aluno indisciplinado? O presente estudo buscou identificar os comportamentos indicativos do TDAH e comportamentos indicativos de indisciplina, de forma a alertar pais e professores sobre a necessidade de diferenciar indisciplina do TDAH. Esta pesquisa caracterizou-se, segundo os objetivos, como descritiva, e com relação aos procedimentos de coletas, este estudo foi do tipo bibliográfico e qualitativo. Diante das revisões consultadas, percebe-se que as escolas ainda confundem TDAH com indisciplina. A indisciplina apareceu, em especial, da falta de limites, da falta de norteamento familiar e do conhecimento da criança do que é moralmente aceitável pela sociedade, que pode ser restabelecido com orientação apropriada e atenção. Já o TDAH apresentou procedências biológicas, sendo um transtorno que deve ser acompanhado por especialistas médicos e por psicopedagogos que podem orientar os pacientes, os familiares e a escola para atingir o desenvolvimento do aluno nos vários âmbitos sociais.

Palavras-chave: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Indisciplina, Escola.

1. INTRODUÇÃO

É comum crianças possuírem comportamentos inadequados que causam a insatisfação dos pais e responsáveis. Muitas vezes, esses comportamentos interferem diretamente no convívio social e escolar da criança, que são tidas como indisciplinadas. O contrário também pode acontecer. Alunos que realmente não conhecem limites e noções comportamentais podem ser tidas como hiperativas ou justificadas com déficit de atenção sem maiores análises ou comprovações, e falta de conhecimento e informação de educadores e familiares, que comumente utilizam o termo TDAH para caracterizar alunos indisciplinados (BONET; SORIANO; SOLANO, 2008).

O TDAH é um transtorno do desenvolvimento do autocontrole que afeta a atenção, o controle de impulsos e o nível de atividade (BARKLEY, 2002).

Para Silveira e Neves (2006), crianças com dificuldades em conviver socialmente têm seu processo de aprendizagem acometido por diversos fatores. Diante dessa dificuldade de aprendizagem, responsáveis buscam esclarecimentos para condutas inadequadas e se usam de artifícios para melhorar essa deficiência no processo, mas, infelizmente, muitas vezes, os pais deixam de buscar um profissional para realizar um diagnóstico e saber se existe ou não uma patologia e para procurar um recurso de amenização dos sintomas.

O presente estudo justifica-se na importância de se esclarecer e diferenciar indisciplina e TDAH. Nesse sentido, abarca-se a seguinte questão: quais comportamentos apresentam o aluno com TDAH e quais comportamentos apresentam o aluno indisciplinado?  Por haver uma fronteira sutil entre indisciplina e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), que é sabido que só podem ser identificados através de exames médicos que comprovem esse transtorno, muitos pais e educadores confundem ou misturam os motivos para que o aluno tenha um baixo rendimento e, às vezes, o fracasso escolar. Daí provém às dificuldades do processo ensino-aprendizagem, gerando, então, um entrave no processo ensino-aprendizagem.

O presente estudo buscou identificar os comportamentos indicativos do TDAH e comportamentos indicativos de indisciplina, de forma a alertar pais e professores sobre a necessidade de diferenciar indisciplina do TDAH. Esta pesquisa caracterizou-se, segundo os objetivos, como descritiva, e com relação aos procedimentos de coletas, este estudo é do tipo bibliográfico e qualitativo através de fontes secundárias, pela identificação e análise dos dados escritos em livros e artigos de revistas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

O termo indisciplina está relacionado à quebra de regras, desordem, falta de seguimento a preceitos (AZAMBUJA; LIMA, 2016).

A indisciplina é considerada um dos fatores que mais influenciam no fracasso escolar. Essa é uma das maiores lamentações dos professores, que repetidamente desanimam e se sentem esgotados diante da falta de disciplina de seus alunos, que, por sua vez, também são prejudicados na aprendizagem. Diante deste ponto de vista, é necessário que educadores reconheçam que o problema da indisciplina não é só responsabilidade da família, pois ambos são as principais agências educativas por onde o ser humano passa, e estas precisam contribuir grandemente para a formação do indivíduo (DE LUCA; CIULIK, 2007).

A indisciplina escolar não pode ser observada nem julgada pelo professor de forma simples, visto que o comportamento dos alunos depende de um sistema de compensações que envolve três parâmetros (comportamento normal, indisciplinado e indícios de TDAH) (PARRAT-DAYAN, 2012).

Segundo o Dicionário Aurélio, a indisciplina é um processo, ato ou dito contrário às normas; desordem; rebelião, ou seja, um comportamento não aceito socialmente, desviante, contrário ao previsto ou tido como normal ou ideal para determinadas situações e/ou ocasiões, ambientes ou lugares, dentre elas, o âmbito escolar (FERREIRA, 1986).

De acordo com Lepre (1999), o aluno indisciplinado, que, por um lado, é comumente excluído pelo professor ou por alguns grupos de alunos, por outro lado, é tido como líder por outros grupos que se interessam pela competência desafiante deste aluno. Visto como tal, o aluno indisciplinado sente-se incitado a potencializar suas atitudes e comportamentos (socialmente inaceitáveis), o que, consequentemente, impossibilita o bom andamento dos trabalhos escolares, o que incomoda professores e alguns alunos. Muito além de questões comportamentais, a indisciplina também envolve questões de valores morais, afetivos e de autoestima, que precisam (e devem) ser trabalhados frequentemente por professores e grandemente reforçados em convívio familiar.

Estes parâmetros são interdependentes entre si, que um comportamento “anormal” (indisciplinado) pode ser considerado normal sob o ponto de vista cognitivo ou da socialização. Consensualmente entre os professores, os alunos são na escola o que trazem de casa. No contexto da sala de aula, a indisciplina surge como uma insatisfação por parte dos alunos. De acordo com Freller (2001), a indisciplina em sala de aula se manifesta através da quebra de regras e preceitos. O estágio cognitivo do aluno não deve motivar a indisciplina em sala de aula, e a indisciplina dos alunos, motivada pelo professor, não deve ser encarada como indisciplina dos alunos.

A indisciplina pode acarretar sérios prejuízos ao processo ensino-aprendizagem, pois dificulta a difusão e o alcance do conhecimento na escola. O que coloca a instituição escolar, como corresponsável na formação moral do aprendente, como cidadão consciente de suas responsabilidades sociais (BUENO; SILVA, 2020).

2.2 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)

O TDAH é um transtorno do desenvolvimento do autocontrole que atinge a atenção, o controle de impulsos e o nível de atividade. Socialmente, essas crianças, muitas vezes, são compreendidas como indisciplinadas pela própria dificuldade de atentar e de seguir regras. (JOU et al., 2010).

Segundo Araujo e Santos (2003), o TDAH é avaliado, também, como um distúrbio biopsicossocial, no qual podem ocorrer fortes fatores genéticos, biológicos, sociais e vivenciais que cooperam para a ativação desse problema.

Para Mattos (2013), o TDAH é um transtorno neurobiológico, com grande participação genética, que tem início na infância e pode persistir na vida adulta, comprometendo o funcionamento da pessoa em vários setores de sua vida, e se caracteriza por três grupos de alterações: hiperatividade, impulsividade e desatenção.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) caracteriza-se pela combinação dos sintomas de déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade (ALVES, 2014).

De acordo com Santos e Vasconcelos (2010), o TDAH pode ser caracterizado por padrões comportamentais de desatenção, como cometer erros por descuido em atividades escolares, especialmente aquelas que demandam um maior esforço. Muitas vezes, também parecem não escutar o que lhes foi dito ou dão impressão de estarem com o pensamento em outro lugar.

A complexa aprendizagem na escola afronta a hiperatividade: se a criança não progride em suas tarefas, fica desmotivada e com a sua autoestima abalada, sentindo frustração (ARAUJO; SANTOS, 2003).

Para Bastos, Thompson e Martinez (2000), esse distúrbio é de origem genética, e é ocasionado pela insuficiente produção de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), que é uma classe de neurotransmissores responsável pelo domínio de diversos sistemas neurais, abarcando aqueles que conduzem a atenção, a conduta motora e a estimulação.

Diversas suposições esclarecem as causas da hiperatividade. Lopes, Nascimento e Bandeira (2005) alegam que esses desenhos estruturais e metabólicos, somados a estudos genéticos, bem como à pesquisa sobre a reação às drogas, confirmam que o TDAH é um transtorno neurobiológico. Mesmo diante da intensidade dos problemas conhecidos pelos portadores alterarem de acordo com suas experiências de vida, tem como fator categórico a genética.

Para Rohde et al. (2004), a hiperatividade ocorre mais na população masculina. O motivo da altercação na proporção de meninos e meninas, de acordo com os estudos, é que as meninas tendem a apresentar o TDAH com preponderância para os sintomas de desatenção.

A Associação Americana de Psiquiatria utiliza oficialmente o DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que apresenta os sintomas que diferenciam os tipos de TDAH e a constância com que eles devem abrolhar para que se possa determinar a existência ou não do transtorno. De acordo com o DSM IV:

  • Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade tipo combinado: a maioria das crianças e adolescentes com o transtorno tem o tipo combinado.
  • Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade tipo predominantemente desatento: a hiperatividade pode ainda ser uma característica clínica importante em muitos casos, enquanto outros são mais puramente de desatenção.
  • Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade tipo predominantemente hiperativo-impulsivo: a desatenção pode, com frequência, ser uma característica clínica importante nesses casos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002).

Segundo Schwartzman (2001), a identificação do diagnóstico funcional e sindrômico podem indicar, também, a conhecer condições neurológicas progressivas que podem aparecer, inicialmente, de modo sutil, por vezes, por meio de um distúrbio do comportamento e/ou da aprendizagem escolar. Por outro lado, cabe ao médico neurologista a prescrição de medicações que poderão, em certas ocasiões, ser benéficas aos alunos, aprimorando, inclusive, a aprendizagem e/ou melhorando problemas comportamentais presentes e que podem influenciar na sua atividade escolar.

Para Araújo e Santos (2003), a parceria com a escola permitirá que eventuais melhoras e/ou possíveis pioras possam ser identificadas nas salas de aula e debatidas com o médico.

Segundo Luizão e Scicchitano (2014), uma vez examinado o problema, se faz indispensável o trabalho multidisciplinar envolvendo pais, professores e terapeutas. Estes devem realizar um plano quanto às metodologias e intervenções que serão praticadas para o atendimento desse aluno. Tais estratégias englobam: mudança do ambiente, adaptação do currículo escolar, flexibilidade na realização e apresentação de tarefas, adequação do tempo de atividade, administração e acompanhamento de medicação.

A maneira mais aconselhável de se investigar o TDAH é por meio do trabalho em equipe, que engloba tanto abordagens individuais com o portador como medicação, acompanhamento psicológico, terapias específicas, técnicas pedagógicas apropriadas e estratégias para as outras as pessoas conviventes dele, como terapia para a família, explicação sobre o assunto para pais e professores com um treinamento com profissionais especializados (GOLDSTEIN; GOLDSTEIN, 1994).

Para que uma criança ou jovem com TDAH tenha a capacidade de aumentar a sua potencialidade e caminhar pela vida de maneira apropriada e gratificante, é imprescindível que as pessoas abrangidas no processo de acompanhamento mantenham estreita comunicação e forte colaboração (SMITH, STRICK, 2001).

Araújo e Santos (2003) afirmam que, no tratamento do TDAH, são utilizados medicamentos psicoestimulantes, os quais proporcionam uma resposta positiva em 70% a 80% das crianças e adultos. Em alguns casos de tratamento da hiperatividade, que inclui a psicoterapia, faz-se o uso de antidepressivos (psicotrópicos) por alguns médicos.

Foi ressaltada pela medicina que, para o tratamento do TDAH, aconselha-se o uso de medicamentos excitantes, como a anfetamina, que acalma o comportamento hiperativo da criança, porém, provoca alguns efeitos colaterais graves, como a hipertensão, hepatite ou perda de apetite. Outro medicamento usado é o cloridrato de metilfenidato, sendo o mais utilizado pelos médicos, e, na psiquiatria infantil, é a substância mais estudada, mas também apresenta efeitos colaterais, como falta de apetite, insônia e retardo no crescimento corporal (DIAS; BADIN, 2015).

Em casos considerados leves, o TDAH pode ser cuidado apenas com terapia e reorientação pedagógica, afirmam Andrade e Scheuer (2004), e os casos graves necessitam de tratamento com medicamentos. O tratamento é feito por um período mínimo de dois anos, mas aconselha-se ir até a adolescência, quando os sintomas diminuem ou desaparecem, devido ao amadurecimento do cérebro, que equilibra a produção da dopamina. Dessa forma, grande parte da responsabilidade do resultado e das atividades da criança recai sobre os pais, professores e outros adultos que convivem com a criança. Recomenda-se que a família também receba orientação psicológica. Para o autor, um número pequeno de crianças consegue superar sem tratamento parte do problema da hiperatividade.

A hiperatividade é comumente analisada em um conjunto de comportamentos que incluem certa inadequação. Para Desidério e Miyazaki (2007), os sintomas da indisciplina e da hiperatividade são semelhantes, mas há distinções comportamentais que diferenciam a hiperatividade. A criança portadora do TDAH demonstra com mais exatidão as características do transtorno em idade escolar, pois é nesse ambiente que ela demonstrará as características que definem o TDAH. As dificuldades na escola não surgem só pela falta de atenção, mas também por distúrbios viso-perceptivos.

2.3 A INDISCIPLINA E O TDAH NA ESCOLA

Para Araújo (2004), o TDAH é frequentemente considerado, erroneamente, como um tipo específico de problema de aprendizagem. Sabe-se que as crianças com TDAH são capazes de aprender, mas possuem dificuldades em virtude do impacto que os sintomas provocam. Na escola, as crianças com TDAH podem apresentar, em geral, inteligência média ou acima da média. Porém, demonstram alguns problemas na aprendizagem ou no comportamento, relacionados a desvios das funções do sistema nervoso central, promovendo dificuldades na percepção, conceitualização, linguagem, memória, controle da atenção, motricidade e impulsividade.

Alunos com dificuldades de concentração, com hiperatividade ou indisciplinados, exigem uma maior atenção por parte dos educadores, pois tendem a apresentar uma demora para aprender. Segundo Mattos (2005), é durante o período escolar que aparecem as manifestações mais evidentes da hiperatividade. A criança pode não conseguir aprender a ler na mesma velocidade que as outras, possui dificuldades de abstração e apresenta problemas em tarefas que requerem coordenação visomotora, sua escrita, cópia e desenhos nem sempre são adequados e se apresentam com problemas perceptivo-motores. Na escola, é importante que o TDAH não seja confundido com indisciplina e que o aluno seja auxiliado, e não punido.

Para Machado e Cezar (2008), professores de alunos que exibem problemas de hiperatividade necessitam ter paciência e disponibilidade, pois eles precisam de muita atenção. A criança hiperativa comumente tem baixa autoestima pelo fato de apresentar dificuldades na concentração. É indispensável desenvolver um repertório de intervenções para atuar com eficácia no ambiente da sala de aula com a criança portadora de TDAH. As crianças com TDAH podem permanecer na classe normal com pequenos ajustes na sala, como a utilização de um auxiliar ou programas especiais a serem usados didaticamente na sala de aula. Uma sala de aula para crianças desatentas deve ser organizada e estruturada. Os professores devem ter conhecimento e aprender a discernir sobre o transtorno e inserir socialmente o aluno diagnosticado com o TDAH em sala de aula, de forma inclusiva.

Freitas (2011) reforça que, além das dificuldades apresentadas pelos portadores do TDAH no processo de aprendizagem, estes possuem, também, muitas características positivas, dentre elas: bom nível intelectual, criatividade aguçada, sensibilidade e outras. Também é preciso advertir que, para estes alunos conseguirem manter a atenção, é necessário que o assunto, conteúdo, tarefa ou atividade seja interessante e estimulante para eles, e que o aluno com TDAH merece e tem seu direito de desenvolver todas as suas potencialidades e inserir-se socialmente assegurado por lei. Ainda segundo o autor, após o diagnóstico, faz-se indispensável a adoção de medidas que promovam um novo direcionamento para a educação do aluno em todos os ambientes de convívio social do mesmo. Neste caso, indica-se um acompanhamento interdisciplinar, com o acompanhamento dos médicos e do psicopedagogo, na busca de estratégias para melhor aproveitamento da aprendizagem, de acordo com as necessidades demonstradas pelo paciente, em conjunto com a equipe interdisciplinar, família e escola.

O aluno com suspeita de TDAH é aquele que, por comportamentos e sintomas de desatenção, inquietação ou impulsividade, possui dificuldade para permanecer quieto, para permanecer sentado, quase sempre mexendo as mãos e pés de forma desesperada, corre pela sala e se mantém agitado, faz intromissões desconexas ao assunto e andamento da aula (HENNIG; FORLIN, 2016).

Uma afirmação muito comum entre os professores é que os alunos são na escola o que trazem de casa. No contexto da sala de aula, Freller (2001) cita que a indisciplina ocorre como uma insatisfação por parte dos alunos.

É necessário saber ouvir e compreender a mensagem que se esconde através do comportamento manifestado na indisciplina. Para Santos (2020), crianças apresentam comportamento reativo e condizente com a postura e preocupação do professor em sala de aula. O autor expõe que brigas, discussões, bagunças, falar alto, imitar animais, são exemplos de comportamentos de alunos que apresentam indisciplina em sala de aula. Logo, a indisciplina em sala de aula se manifesta através da quebra de regras e preceitos. O estágio cognitivo do aluno não deve motivar a indisciplina em sala de aula.

Para não avaliar de maneira errônea o comportamento dos alunos, o professor precisa compreender que o aluno com um comportamento considerado como normal é aquele que apresenta um comportamento esperado para a turma, e que o aluno indisciplinado é aquele que, com motivação ou não pelo professor ou pela escola, não obedece às regras e às normas e é comumente desobediente diante do coletivo. Nesse caso, o autor afirma que um aluno que se distancia do comportamento da maioria o faz para chamar a atenção (GIRAFFA, 2013).

Nesse sentido, Junior (2021) complementa que o professor necessita ser capaz de motivar as capacidades e potencialidades dos seus alunos, incentivar seus interesses pelos estudos e aprimorá-los com qualidades humanísticas e intelectuais. Deve conhecer os alunos sob a ótica que os envolvem, podendo discernir o que é um aluno com comportamento indisciplinado e um aluno com diagnóstico de TDAH; conhecer o aluno singularmente, sob as condições ambientais e familiares que o circundam; deve ter um conhecimento amplo ao relacionar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos e possuir meios de identificar e conhecer melhor o seu aluno.

Deve, o professor, considerar o aluno como único em uma turma heterogênea, ponderando que cada aluno deve ser visto como um ser único, com comportamentos próprios e condicionados a condições ambientais e genéticas. Não pode ser julgado como de comportamento anormal dentro do contexto de uma turma heterogênea, com relação a indícios de TDAH, tomando-se em consideração que o professor deve julgar o comportamento de seus alunos sob uma visão sistêmica, de distinção entre comportamentos indisciplinados e comportamentos com diagnóstico médico atestando TDAH (GONÇALVES; VOLK, 2016).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como questão norteadora o seguinte apontamento: quais comportamentos apresentam o aluno com TDAH e quais comportamentos apresentam o aluno indisciplinado? Através das constatações evidenciadas cabe-se fazer algumas considerações finais.

Diante das revisões consultadas, percebe-se que as escolas ainda confundem TDAH com indisciplina. Assim, a ação pedagógica do professor deve estabelecer um contato com médicos e terapeutas que fazem o tratamento do aluno. Analisando os assuntos (indisciplina e TDAH), foi possível analisar, refletir e avaliar os comportamentos e a distinção entre eles. A indisciplina aparece, em especial, da falta de limites, da falta de norteamento familiar e do conhecimento da criança do que é moralmente aceitável pela sociedade, que pode ser restabelecido com orientação apropriada e atenção. Já o TDAH apresenta procedências biológicas; é um transtorno que deve ser acompanhado por especialistas médicos e por psicopedagogos que podem orientar os pacientes, os familiares e a escola sobre como proceder para atingir o desenvolvimento integral do aluno nos vários âmbitos sociais.

De acordo com a literatura revisada, pode-se perceber que os alunos com TDAH passam boa parte de sua vida tendo sua autoestima prejudicada, apresentando dificuldades em relacionar-se socialmente, possuindo agitação, dificuldade de concentração e paciência limitada. Em decorrência desses fatores, estão sujeitos ao fracasso escolar e a problemas emocionais.

Pode-se verificar que pais e professores podem auxiliar na reintegração do indivíduo com TDAH ao convívio social. O trabalho coletivo entre pais, professores, psicólogos e médicos permitirá à criança incluir-se em uma rotina estruturada. Assim, a identificação precoce do TDAH, acompanhada por um tratamento adequado, pode favorecer a aprendizagem e a socialização dessas pessoas.

Por fim, identificou-se que um aluno indisciplinado em sala de aula é aquele que possui dificuldade em seguir regras e normas ou que quer demonstrar um descontentamento com o professor ou com a aula. Seus comportamentos típicos estão associados ao relacionamento com os estudantes e professores, como envolver-se com facilidade em conflitos, tumultuar o ambiente e ter atitudes impróprias a um ambiente escolar com normas e regras estabelecidas. Constatou-se que o TDAH é um transtorno mental que atinge uma parcela significativa das crianças e adolescentes em idade escolar, manifestando-se através de comportamentos relacionados à desatenção, inquietação e impulsividade, dentre os quais destaca-se o fato de não conseguirem permanecer parados, movimentando-se constantemente quando sentados, correndo por ambientes de forma descontrolada e apresentando muita dificuldade em concentração, uma vez que dispersam com facilidade, esquecem tarefas rotineiramente e perdem objetos com facilidade.

Mesmo este sendo um assunto em evidência em constantes pesquisas, sugere-se que novos estudos sejam realizados, a fim de que os profissionais da educação e da saúde possam investigar, conhecer e refletir sobre a prática inclusiva de alunos com TDAH.

REFERÊNCIAS

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[1] Doutoranda em ciências agrárias, mestre em ciências do esporte, pós graduada em psicopedagogia clínica e institucional, graduada em educação física, em ciências biológicas, pedagogia e história. ORCID: 0000-0002-1810-6378.

[2] Médica Psiquiatra.

[3] Doutora em Agronomia/Fitotecnia. ORCID: 0000-0002-6113-2707.

[4] Estudante de Medicina da Universidade De Rio Verde. ORCID: 0000-0002-7621-5599.

[5] Mestre. ORCID: 0000-0001-7440-6773.

Enviado: Agosto, 2022.

Aprovado: Dezembro, 2022.

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Vanéria Paula Sousa Martins

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