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A contribuição dos escritores e tradutores para educação no Brasil

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

LEAL, Luis Carlos Binotto [1]MARTIN, Fabiana [2]

LEAL, Luis Carlos Binotto. MARTIN, Fabiana. A contribuição dos escritores e tradutores para educação no Brasil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 10, Vol. 09, pp. 05-14 Outubro de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

O presente artigo tenciona demonstrar alguns momentos específicos na história do Brasil, os quais vieram a auxiliar o lento formar da educação, a importância de específicos escritores, bem como a tradução no Brasil ao longo dos tempos, com fatos históricos que vieram a contribuir para o seu desenvolvimento e transformação do papel de dependência da língua oficial do país de ¨cedida¨ para a colônia Brasil e o papel desempenhado pelo tradutor de uma simples atividade até o período a ser entendido e reconhecido como a profissão de tradutor. Pretende-se citar alguns fatos históricos e eventos de relevância para a construção desse processo, bem como escritores e tradutores e algumas das obras por esses produzidas e direcionadas, assim como os fatos históricos, para as sequenciais fases da evolução do conceito de tradução no Brasil. O comprovado e evidente avolumamento dos trabalhos desenvolvidos no decorrer dos tempos nos fez colocar parâmetro temporais, assim, para tal foi selecionado o período compreendido entre os séculos XVIII e XX, oferecendo assim um caráter axiomático não somente ao aspecto quantitativo, mas igualmente concernente a qualidade e diversidade.

Palavras-chave: Tradução, Brasil, Qualidade, Diversidade.

INTRODUÇÃO

A tradução literária, percorrida por difíceis e tortuosos caminhos ao longo de sua formação histórica no Brasil, até o seu reconhecimento acadêmico foi povoada de tradutores internacionais e nacionais, os quais em sua origem, como demonstraremos no decorrer do trabalho, sofreram enormemente da dependência internacional até o culminar do século XVIII, momento no qual, historicamente, a forma de lidar com a língua portuguesa e a língua brasileira foi alterada, revelando assim, o início de uma profunda e irreversível mudança na emancipação da língua nacional.

José Carlos Paes, em sua obra, datada de 1990, Tradução: A ponte necessária, nos oferece os primórdios dos estudos sobre tradução no Brasil. Mesmo entre as enormes dificuldades de material disponível, bem como de bibliotecas, como afirma na obra, A Ponte necessária, (PAES, 1990, pg 10):

¨Quem se propuser algum dia a escrever a história da tradução literária no Brasil terá certamente de enfrentar as mesmas dificuldades encontradas pelos demais pesquisadores do nosso passado ou do nosso presente menos imediato. O reduzido número de bibliotecas públicas existentes entre nós, a par da pobreza de seus acervos e da deficiente catalogação deles, são limitações por de mais conhecidas para que seja preciso insistir no assunto. Basta lembrar que tais limitações se agravam no caso do livro traduzido, comparativamente ao livro de autor nacional. É fácil compreender seja dada a este maior atenção do que àquele, e se já dispomos hoje de bibliografias da literatura brasileira, não tenho notícia de nenhum levantamento histórico, abrangente e seletivo, das traduções literárias publicadas no país.¨

Esse fato, mesmo não sendo objeto de estudo desse artigo, demonstra com propriedade as imensas lacunas históricas e nos leva a crer que uma quantidade ínfima de livros, voltados especificamente para o campo dos Estudos de Tradução foram realmente publicados, fato esse que não deve ser colocado a parte do surgimento da poderosa ferramenta de auxílio aos tradutores; os dicionários multilíngues, os quais mesmo em um período bastante regresso, com a necessidade surgida do conhecimento de novos idiomas para fins comerciais, mas não exclusivamente para esse fim, também pode ser incluído o seu aprimoramento com importâncias que migram desde a aquisição de valores e o melhor conhecimento da concepção da compreensão de diferentes valores, por diferentes culturas a meras viagens, fazendo parte da pavimentação da tradução.

Em sua obra, Os Tradutores na História, Jean Delisle e Judith Woodsworth, citam:

¨A Renascença foi a primeira “idade de ouro” dos dicionários multilíngues. A controvérsia religiosa provocada pela Reforma despertou interesse pelo estudo do hebraico, do siríaco e também do grego – que o novo surto de admiração pelas civilizações antigas tinha colocado no mesmo pedestal do latim. A medida que as pessoas passaram a viajar com mais frequência, e as relações internacionais se desenvolveram, o conhecimento de Línguas estrangeiras tornou-se cada vez mais necessário, e surgiu uma demanda por manuais e obras lexicográficas. ¨

Mais especificamente no panorama nacional, Brasil, poderíamos colocar igualmente como ponto de partida, a obra pragmática elaborada pelo Pe. Antônio de Araújo, intitulada Catecismo na língua brasílica, em 1618, publicada em Lisboa, como uma das primeiras pontes entre os dois idiomas, tendo o português como a língua estrangeira.

Em que pese a invenção das técnicas de impressão remontarem ao século XV e por consequência produzirem um aumento deveras significativo das traduções a partir dessa época, a figura da tradução em si, iniciou uma melhor definição de seu parâmetros, em torno do século XVIII. Como cita Paes, em sua obra, A Ponte necessária, (PAES, 1990, pg 13):

¨Em fins do século XVIII, sobretudo entre os poetas do arcadismo mineiro, a tradução teve o caráter de um exercício de arejamento, de um esforço de emergir dos acanhados e anacrônicos limites do universo mental português para os horizontes bem mais amplos da literatura italiana e francesa.¨

DESENVOLVIMENTO

O século XVIII, permeado de revoltas acontecidas no país, emergindo os conceitos nativistas e separatistas, como A Guerra dos Mascates, A Revolta de Filipe dos Santos, A Conjuração Baiana e a Inconfidência Mineira, todas em sua totalidade de uma forma ou de outra com o claro objetivo de romper os laços de dependência com a Coroa Portuguesa, os quais envolviam desde a exploração de riquezas como o ouro até a escravidão, manifestadamente buscavam o crescimento de identidade, do sentimento de brasilidade, da unificação da língua brasileira, em detrimento do idioma português de Portugal, tornando assim a possibilidade da tradução oral, sempre em evidência, forçosamente construída pela necessidade da comunicação entre os naturais habitantes do Brasil, os indígenas, os missionários e aqueles que aqui desembarcavam, operando muito mais como intérpretes do que tradutores propriamente dito, pela tentativa da incrementação da tradução escrita. Ainda, dentro desse século, a forte influência do Iluminismo, mostrou-se como um fator inspirador do pensamento liberal e esse momento histórico europeu, ao mesmo tempo em que se desenhava a queda da lavoura açucareira no Brasil e a mudança do eixo central da economia para Minas Gerais e Rio de Janeiro, locais nos quais, respectivamente em um o minério era extraído e no outro comercializado, vieram a formar um cenário novo, como as obras de Aleijadinho e da literatura árcade, a qual tinha como característica principal a busca por uma vida simples, a maior valorização da natureza e o viver do presente. Neste contexto destacaram-se, entre outros, Tomás Antonio Gonzaga, Frei José de Santa Rita Durão e Silva Alvarenga, com seu pensamento crítico demonstrando o relacionamento único e ambíguo de serviência e independência entre a Colônia e Corte.

Em A Ponte necessária, (PAES, 1990, pg 13), Paes refere-se a esse arcadismo mineiro:

¨Em fins do século XVIII, sobretudo entre os poetas do arcadismo mineiro, a tradução teve o caráter de um exercício de arejamento, de um esforço de emergir dos acanhados e anacrônicos limites do universo mental português para os horizontes bem mais amplos da literatura italiana e francesa. Cláudio Manuel da Costa, além de ter sido o autor dos melancólicos sonetos cuja “imaginação da pedra” levou Antônio Cândido a considerá-lo, dos poetas mineiros, “o mais profundamente preso às emoções e valores da terra”,7 traduziu, ora em rima solta, ora em boa prosa teatral, sete peças de Pietro Metastasio, criador do melodrama poético que tanto o celebrizou na Europa dos setecentos; o dramaturgo italiano, por sua vez, dedicou ao seu devotado tradutor brasileiro uma cantata e um drama lírico. Outro árcade mineiro, José Basílio da Gama, também verteu para o português um poema de Metastasio, A liberdade, que chegou a ser publicado em volume (Lisboa, 1776).¨

Tomando-se como premissa que somente após a vinda de D. João VI ao Brasil foi possível a impressão de jornais e livros e a primeira tipografia nacional surgiu em 1808, rompendo a hegemonia proibitiva portuguesa, que considerava livros algo ¨perigoso¨, assim como o ler e o escrever, para seu domínio sobre a colônia, acabou por assim impulsionar, espontaneamente, o contrabando de livros e obras traduzidas ou adaptadas tanto para o português quanto para o francês. A tipografia Impressão Régia, conseguiu imprimir o livro traduzido pelo conde de Aguia, o Ensaio, do poeta inglês Alexander Pope tão somente quase dois anos após a sua fundação. Ao final desse século, o movimento tradutório passou a receber, devido a tentativa de disseminação, com o objetivo de prover o acesso, do conhecimento útil que melhor expressasse o pensamento dos franceses, um ritmo maior o processo tradutório, direto ou indireto, de obras estrangeiras para o português de Portugal, especialmente em áreas obras relacionadas com a agricultura, como por exemplo, para utilização desse conhecimento nas colônias portuguesas, bem como obras de ciências exatas e medicina. Fato histórico marcante que pode ser destacado nesse período, foi a atividade do tropeirismo, movimento esse, de grande importância econômica e com a atividade de exploração de ouro em alta, acabou por criar a oportunidade para esses comerciantes, que faziam o comércio de animais, cavalos e mulas, transportando-os para as grandes feiras, também comercializarem alimentos, produtos manufaturados assim como produtos importados da Europa, porém esse comércio intenso trouxe a rara oportunidade de fazerem mais do que isso; fomentarem o comércio de ideias, a transferência de conhecimento de livros e obras traduzidas. Os denominados tropeiros, mais do que de abrir caminhos e estradas, fundaram vilas, das quais algumas, deixando com o tempo sutis lembranças de sua fundação, transformaram-se em cidades, influenciando no movimento de ocupação de áreas, que operavam como entrepostos para suas longas jornadas nas regiões, como o Caminho do Viamão, Caminho da Vacaria, Caminho das Missões e também o Caminho de Palmas, entre inúmeros outros de reconhecida igual importância sócio econômica, gerando divisas para Portugal, através do pagamento de taxas, na época conhecidos como locais de Registros. Em paralelo aos acontecimentos do século, surgiam no Brasil, os clubes de leitura, frequentados pelos intelectuais, ao passo que o movimento expansionista cultural proporcionava o surgimento da literatura dos cordéis e folhetos, provenientes do folclore popular nacional, traduzidos do castelho e do francês e assim também contribuindo para a história linguística do país com seu espaço na interpretação oral.

Grandes nomes, como Antônio Gonçalves Dias, abriam caminho para o fortalecimento da tradução nacional, como indica Paes, em A Ponte necessária, (PAES, 1990, pg 16):

¨Dos luminares de nosso romantismo, Gonçalves Dias foi dos pouquíssimos a saber alemão, língua de que verteu Uhland, Rosegarten, Herder e sobretudo Heine; traduziu também um drama de Schiller, A noiva de Messina. Dado o total desconhecimento do alemão notado pelos naturalistas Spix e Martius quando visitaram o Brasil no começo do século passado, é digna de nota, aliás, a publicação em 1878, no Rio Grande do Sul, de um volume de Poesias alemãs, sem indicação de tradutor, no qual se recolhiam peças de Schiller, Uhland, Goethe, Koerne, Lenau e Heine verti das para o português.¨

Importância essa no cenário nacional e internacional, demonstrada pela Academia Brasileira de Letras, em sua biografia:

¨Nomeado para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros, permaneceu na Europa de 1854 a 1858, em missão oficial de estudos e pesquisa. Em 1856, viajou para a Alemanha e, na passagem por Leipzig, em 1857, o livreiro-editor Brockhaus editou os Cantos, os primeiros quatro cantos de Os Timbiras, compostos dez anos antes, e o Dicionário da língua Tupi. Voltou ao Brasil e, em 1861 e 1862, viajou pelo Norte, pelos rios Madeira e Negro, como membro da Comissão Científica de Exploração. Voltou ao Rio de Janeiro em 1862, seguindo logo para a Europa, em tratamento de saúde, bastante abalada, e buscando estações de cura em várias cidades européias. Em 25 de outubro de 1863, embarcou em Bordéus para Lisboa, onde concluiu a tradução de A noiva de Messina, de Schiller. Voltando a Paris, passou em estações de cura em Aix-les-Bains, Allevard e Ems.

Gonçalves de Magalhães, com sua obra de 43 poemas, Suspiros Poéticos e Saudades, 1836, exaltando seu gosto pelo novo, pela aventura, em busca da consolidação da literatura genuinamente nacional, pode ser vista como a primeiríssima obra do gênero no Romantismo no Brasil.

O século XIX, apresenta principalmente as mudanças no panorama político da história nacional, ressaltada com a vinda da família real para o Brasil, a abertura dos portos e a permissão de instalação de indústrias no Brasil, retirando as barreiras proibitivas até então impostas por Portugal, deixando para trás uma pálida lembrança de um Brasil submissivo, abrangendo dentro do mesmo período, o Brasil Colônia, o Brasil Império e o Brasil República, cada uma delas apresentando profundas mudanças sociais, políticas e impulsionando assim uma outra indústria, a do modo do país relacionar-se com os demais países amistosos e inapelavelmente a forma como esses países, com olhos famintos de lucro e variedades de emoções, passaram a relacionar-se com o Brasil alimentando assim, um processo crescente, o da tradução impressa.

Tipografias surgiram e se multiplicaram, produzindo livros traduzidos as centenas, sobretudo com o intuito de instruir os agricultores brasileiros, mas não somente esses e, esse extraordinário acontecimento da abertura dos portos e o evento da utilização do navio a vapor, transformaram o oceano em uma esteira transportadora na qual duas dezenas de dias eram o suficiente para trazer uma obra impressa na França até o Império, tornando o transporte dessas riquezas culturais nas mais diferentes áreas, funcional, tornando assim real a possibilidade da utilização da língua portuguesa em substituição ao latim, como idioma de expressão cultural e científica.

Paes, retrata esse momento, em A Ponte necessária, (PAES, 1990, pg 23):

¨No terreno editorial, a que está organicamente vinculada a atividade do tradutor enquanto profissional, firmava-se então a Livraria Garnier como a principal editora brasileira, situação que manteve até o começo deste século, mau grado as suas edições de nossos autores, Machado de Assis em primeiro lugar, impressas na França. E de Portugal nos vinha boa parte das traduções aqui lidas; naquela época, ainda não se acentuara tanto a diferenciação entre o falar de lá e de cá que tende hoje a afastar o leitor comum das versões portuguesas.¨

Personificam a fotografia desse século, na agora jovem nova nação Brasil, pulsante no sentimento de mudança do rumo da literatura nacional, irradiando com energia uma variedade de obras voltadas para a literatura infantil, traduções de romances, peças e poesias, formando aquele que era o escritor, o jornalista, o poeta, mas também o era tradutor, como José Feliciano de Castilho, Machado de Assis e Olavo Bilac, como um pequeno recorte da época, o escritor poeta, que produziu contos e crônicas, bem como traduziu do alemão, a obra Max und Moritz.

João do Rio, em sua obra de 1907, Momentos Literários, pg. 14 narra, em palestra com Bilac, ao perguntar-lhe sobre a literatura brasileira:

¨Que queres tu meu amigo? Nós nunca tivemos propriamente uma literatura. Temos imitações, cópias, reflexos. Onde o escritor que não recorde outro escritor estrangeiro, onde a escola que seja nossa. Eu amo entre os poetas brasileiros Gonçalves Dias e Alberto de Oliveira, a quem copiei muito em criança, mas não poderei garantir que eles não sejam produtos de outro meio. Há de resto explicações para o fato. Somos uma raça em formação, na qual lutam pela supremacia diversos elementos étnicos. Não pode haver uma literatura original, sem que a raça esteja formada, e já é prodigiosa a nossa inteligência, que consegue ser esse reflexo superior e se faz representativa da do espírito da America Latina.¨

Eliana Fernanda Cunha, em sua obra produzida na Academia Brasileira de Letras Para Traduzir o Século XIX: Machado de Assis, pg. 36 cita que Jean-Michel Massa, referindo-se a Machado de Assis, que:

¨não pode se impedir de ser um escritor quando ele mesmo é o autor, e traduzir também é criar¨.

O século XX, trouxe como expoente, a imposição via lei do Presidente Getúlio Vargas, o uso obrigatório da língua português do Brasil como língua oficial e única a ser escrita em todos os recantos do país e, por óbvio reduzindo a utilização de idiomas estrangeiros e ainda, em que pese os baixíssimos índices de pessoas alfabetizadas à época, o estimulo da indústria livreira nacional sobre maneira e surgiu a profissionalização do profissional tradutor.

Em contrapartida, na longa implantação do conceito de democracia no Brasil, a era Pós-Vargas, sobretudo por razões econômicas, alicerçada pelo incremento no número de universidades fundadas no país naquele período, criaram a necessidade de um volume imensamente maior de traduções técnicas, abrindo caminho para as condições necessárias para que a indústria nacional livreira pudesse realmente se desenvolver, ainda, de ser observado que o arcabouço central de supremacia mundial de potências migrou do sempre presente francês para o idioma inglês. No decorrer dos anos de 1940 e 1950, a consolidação da indústria editorial estaria aparentemente já solidificada.

Como expoente literário forçado a ser citado em toda e qualquer obra que se refira ao mundo das letras, Monteiro Lobato, escritor e editor, com seu gênero muito próprio de criar e escrever contos e fábulas, assim como Erico Verissímo, ocuparam patamar de destaque na literatura brasileira, sendo a obra mais conhecida de Lobato, composta de 23 volumes, O sítio do Pica-Pau Amarelo, considerada a de maior alcance do público em geral.

Paes, em A Ponte necessária, (PAES, 1990, pg 27), referindo-se à tradução no século XX:

¨Enfim, a tradução como profissão. É somente no século XX, sobretudo a partir dos anos 30, que entram a criar-se no Brasil as condições mínimas, de ordem material e social; possibilitadoras do exercício da tradução literária como atividade profissional, ainda que as mais das vezes subsidiária. Avulta em primeiro plano, entre essas condições, o surgimento de uma indústria editorial realmente digna do nome, vinculada de perto ao considerável crescimento, quantitativo e qualitativo, do público ledor, de que, a um só tempo, ela foi a causa e a conseqüência.¨

Ainda, agora mais especificamente sobre Monteiro Lobato, em A Ponte necessária, (PAES, 1990, pg 27):

A indústria do livro no Brasil teve em Monteiro Lobato, como se sabe, o seu grande inovador. Quando ele imprimiu por conta própria os seus Urupês, viu-se a braços com o problema de distribuir a edição: resolveu-o mandando exemplares em consignação a lojas de armarinhos, armazéns de secos e molhados e farmácias de todo o país, uma vez que só contávamos, naquela época, pouco mais de trinta livrarias propriamente ditas. O êxito obtido animou-o a continuar editando e em 1919, com oficinas próprias, surge a Editora Monteiro Lobato, que revolucionou as nossas práticas editoriais tomando conta do mercado, ampliando e lançando grande número de títulos, especialmente de autores novos. Uma crise provocada pela insurreição militar de 1924 levou, porém, a editora à falência, passando o seu acervo editorial para uma nova firma, a Editora Nacional.¨

Sobre Erico Verissimo, em A Ponte necessária, (PAES, 1990, pg 28), ele escreve:

¨Outro escritor de prestígio que, no começo de sua carreira literária, para complementar os ganhos insuficientes de jornalista, se dedicou ao mesmo gênero de atividade, foi o gaúcho Erico Veríssimo. Nas suas memórias, conta-nos ele que começou traduzindo noites adentro, um romance policial de Edgar Wallace, “tarefa que não dava prazer. O autor e a história não me interessavam, o esforço físico exigido pelo simples ato de datilografar o texto me produzia dores no corpo inteiro” 28 Mais tarde, empolgado com o Contraponto, de Huxley, verteu-o para o português e convenceu a Editora Globo, de Porto Alegre, a publicá-lo.¨

Esse processo imparável de aprimoramento do aspecto qualitativo das traduções e porque não citar igualmente quantitativo, prolonga-se durante o século XX e o atual século XXI, no qual, academicamente se pode dispor da conceituada disciplina de Estudo da Tradução, que ao ser fundada, possibilitou abrir portas para a formação e qualificação de profissionais da área em busca do reconhecimento profissional equivalente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, após de forma sucinta analisarmos os contornos dos momentos históricos e sua relação com o desenvolvimento da tradução no Brasil, consideramos que não se limitam tão somente a produção de obras e edições e nem mesmo pode ser limitada a reconhecidos expoentes de grandes nomes do mundo literário. Esses, em seus momentos vividos na história do Brasil, inequivocamente estiveram submissos a situações políticas, econômicas e culturais, durante a qual com coragem e perseverança de ilustres escritores/tradutores/editores, lograram trazer progressos nos mais diferentes aspectos e assim conduzir a tradução, desde de ser entendida como ¨mal necessário¨ para se ter acesso ao conhecimento produzido em outras culturas, passando a ser vista como uma ¨necessidade profissional¨, a qual mais e mais requeria trabalhos de maior precisão e qualidade, até o seu reconhecimento e institucionalização no mundo acadêmico, trazendo em sua eixo, a criação de disciplinas, professores universitários, gerando empregos e contribuindo assim de forma sólida, crescente e permanente para o país no aspecto econômico e igualmente no campo cultural, ao mesmo tempo em que 110 anos após seu falecimento, um dos grandes, senão o maior escritor brasileiro, Machado de Assis, têm suas obras expostas na Universidade de São Paulo, BBM, em pleno século XXI, objetivando não somente manter viva em nossas memórias não suas inúmeras obras e influência dessas nos dos escritores do século XX, mas principalmente expor seu esforço, interesse e qualidade no seu desenvolvimento. Machado de Assis e inúmeros outros que através dos tempos, através dos tempos e da história do Brasil, formaram características qualitativas as quais se encontram firmemente enraizadas na história e na tradução.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASNETT, Susan – Translation Studies, Rothledge, New York, 2014

DELISE J. e WOODSWORTH J. – Os Tradutores na História, Coleção Múltiplas Escritas, Editora África, SP,1995

FERREIRA, Eliana Fernanda Cunha – Para Traduzir o Século XIX: Machado de Assis, Editora ANNABLUME, SP, 2014

MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves – Suspiros Poéticos e Saudades, 1986, Editora Universidade de Brasilia.

PINTO, Rolando Moreal – História da Língua Portuguesa Iv, Século XVIII, Editora Ática, 1988

PAES, JP. Tradução a ponte necessária. São Paulo, Editora Ática S.A., 1990.

Rio, João do – O momento Literário, 1907, – Google, Inc. 2013.

[1] Doutor- Professor Universitário. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET), CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO (CCE) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA TRADUÇÃO. Universidade Federal de Santa Catarina. Campus Universitário, Trindade.

[2] Mestre – Professora universitária. Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina. Campus Universitário, Trindade.

Enviado: Outubro, 2018

Aprovado: Outubro, 2018

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Fabiana Martin

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