REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

Formação docente: ética e ciência na difusão da cidadania

RC: 131426
257
5/5 - (10 votes)
DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/difusao-da-cidadania

CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

MENDES, Clodovil Mascarenhas [1]

MENDES, Clodovil Mascarenhas. Formação docente: ética e ciência na difusão da cidadania. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 11, Vol. 02, pp. 93-108. Novembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/difusao-da-cidadania, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/difusao-da-cidadania

RESUMO

O presente artigo discorre acerca da interpelação entre a educação e a cidadania perpassando na formação de professores. Dessa forma, buscamos entender qual a relação entre a educação escolar, a construção da cidadania e o papel do professor nesta relação? O objetivo geral é promover uma reflexão sobre o processo de construção de conhecimentos em torno da práxis pedagógica, permitindo uma análise da formação docente enquanto difusora da cidadania. Visando, de forma subjacente, uma autorreflexão crítica sobre a vida acadêmica e a prática pedagógica desenvolvida durante as atividades no campo educativo, relacionando teoria e prática em sua área de formação profissional com os paradigmas éticos advindos da relação entre os sujeitos em sociedade. Para realização deste estudo foram utilizadas a pesquisa bibliográfica, no campo da pesquisa social, e as reflexões advindas do relato de experiências do autor enquanto professor da educação básica e estudante na pós-graduação. Os principais resultados apontam aspectos educacionais interligados a uma formação docente para a cidadania, ética e diversidade que são necessários para difusão dos reais valores éticos, críticos e reflexivos da cidadania e que servem para fortalecer o compromisso da educação com o desenvolvimento das relações sociais e da sociedade como um todo.

Palavras-chave: Formação docente, Práxis pedagógica, Formação cidadã, Diversidade.

1. INTRODUÇÃO 

O conceito de cidadania está relacionado a noções de pertencimento a uma determinada sociedade, estando intrinsecamente relacionada aos direitos e deveres considerados relevantes socialmente ou específicos. Dessa forma, cidadão é o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado. Em um conceito mais amplo, cidadania quer dizer a qualidade de ser cidadão, sujeito de direitos e deveres.

No percurso da construção da cidadania no Brasil, destaca-se o papel dos movimentos sociais e da constituição de 1988 a qual coloca a educação como um dos principais direitos sociais e a ampliação do direito ao acesso à educação formal, entendendo este como um fator primordial na construção da cidadania.

A escola pública nesse contexto é vista como estratégica para um projeto mais inclusivo de sociedade tornado, a formação de professores um desafio a alinhar prática e a teoria, fundamentando-se em comunicação e discussão dos conhecimentos, das aprendizagens e da atuação docente durante o período de formação acadêmica. Proporcionando um sistema de informações personalizado para uma autorreflexão crítica sobre a vida acadêmica e a prática pedagógica desenvolvida durante as atividades no campo educativo, relacionando teoria e prática em sua área de formação profissional com os paradigmas éticos de relação entre os sujeitos em sociedade.

Dessa forma, neste artigo buscamos analisar qual a relação entre a educação escolar, a construção da cidadania e o papel do professor nesta relação? Bem como relatar como as experiências de professores e as aprendizagens contribuem no processo de preparação do indivíduo como sujeito ético, ativo, cidadão e preocupado com a sociedade e o meio ambiente que o entorna. Para responder essa questão cabe um breve resumo sobre ética e cidadania na área da educação, a fim de conceituar o compromisso da educação com a formação plena do sujeito.

No campo da ética, “A ciência que estuda os juízos morais referentes à conduta humana e virtudes caracterizadas pela orientação dos atos pessoais segundo os valores do bem e a decência pública” (XIMENES, 2000, p. 409) atua de forma a trazer o desenvolvimento nos diversos setores da sociedade vigente, principalmente a cidadania. Dentre esses, está a educação que é o parâmetro de orientação que faz com que a perpetuação dos valores seja imposta nas interações sociais.

Segundo Guizzo (2009, p. 39), “A interação social é definida como o processo pelo qual uma pessoa age em relação à outra pessoa ou grupo de pessoas ou reage em função de uma ação de outra pessoa ou grupo”. Educar parte do princípio de preparar os sujeitos em sociedade para que possam desenvolver habilidades e atitudes que visem o desenvolvimento da mesma, trazendo assim uma melhor interação e socialização entre os indivíduos.

Adotar a educação na perspectiva ética na sociedade é um dever, ou seja, a educação é a chave que proporciona a entrada aos diversos aspectos qualitativos de desenvolvimento à sociedade, porém essa compreensão não vem sendo levada à sério e não são postas em prática pelos indivíduos que não valorizam a plenitude da cidadania.

Trabalhar com educação, percebê-la, e interagir com a mesma em sociedade, vem sendo nos processos contemporâneos um desafio que ocorre por diversos fatores implícitos e relatados nesse trabalho científico, desenvolvido especificamente a esse fim, valorizar e perceber uma educação voltada para uma sociedade cidadã.

Partindo desse pressuposto, visando fomentar uma reflexão acerca da temática cidadania e educação escolar e a relevância didática do tema compreendemos a cidadania De acordo com o pensador La Taille (2009, p. 34) “é urgente à escola ser um local de repercussão, ou melhor, espaço de reflexão sobre essa questão da vida que se quer viver”, além de abordar questões educacionais, existe uma missão por parte da escola com a construção de valores e princípios os quais antigamente eram mediados exclusivamente pela família.

Diante do exposto podemos inferir em consonância com os estudos de Padilha (2001) que a escola

É aquela que viabiliza a cidadania a de quem está nela e de quem vem a ela. Ela não pode ser uma escola em si e para si. Ela é cidadã na medida em que se exercita na construção da cidadania de quem usa o seu espaço.

A Escola Cidadã é uma escola coerente com a liberdade, que brigando para ser ela mesma, luta para que os educandos-educadores também sejam eles mesmos. E como ninguém pode ser só, a Escola Cidadã é uma escola de comunidade, de companheirismo. É uma escola que não pode ser jamais licenciosa nem jamais autoritária. É uma escola que vive a experiência tensa da democracia (PADILHA, 2001, p. 22).

Relatar as experiências aliadas aos fatos ocorridos, fundamentados pelos indivíduos que foram referendados durante todo o processo de aquisição dos conhecimentos, citados no decorrer desse trabalho científico, através de suas obras, que servirão de mecanismos para direcionar o desenrolar da representação dos fatos, discussões, leituras, indicações e observações assimiladas no decorrer do processo acadêmico, implícitas nas atividades orientadas e nas atividades práticas impostas no decorrer do processo de estudos sobre os diversos conhecimentos relacionados.

Assim, para realização deste artigo foram considerados os pressupostos da pesquisa bibliográfica, sendo “[…] desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2008, p. 50), sem desconsiderar a experiência deste autor enquanto docente da educação básica e estudante de pós-graduação.

Diante do exposto podemos inferir que a cidadania, no que diz respeito à prática docente, destaca a função social de contribuir de maneira efetiva para a formação do professor, como profissional da educação comprometido e consciente da importância do seu papel na atual sociedade brasileira.

2. O COMPROMISSO DA EDUCAÇÃO COM A FORMAÇÃO DO CIDADÃO

O direito à educação está assegurado pela Constituição Federal (1988), ECA (BRASIL, 1990), LDB (BRASIL, 1996), os quais preveem seu pleno desenvolvimento e exercício da cidadania em plena igualdade de condições.

A educação revelará sua potência quando as pessoas que a aplicam, ajam visando o bem coletivo e que pensem no real significado que a mesma proporciona, mantendo o desenvolvimento intelectual e as boas ações dos sujeitos. Formar cidadãos preocupados com o destino da sociedade é uma tarefa difícil, pois estamos implícitos rotineiramente em situações que desenvolve a aplicabilidade dos atos que não trazem a cidadania plena: tráfico de drogas, briga familiar, “quebra” dos valores familiares, prostituição, desrespeito, enfim, um enumerado de problemas existentes no meio social e educacional que dificulta todo o processo. O professor interage com todos esses problemas no dia a dia escolar e se torna, em certa medida, vulnerável a esses e outros desafios vinculados ao seu papel fundamental de ensinar.

A educação é arte do coração. Essa frase não é nova. Nem sei quem foi o primeiro a dizê-la. Mas está na essência de Sócrates e está fundamentado do Dom Bosco. Sócrates instigava os jovens de seu tempo a colocar para fora o potencial que tinham. Era como um ‘parto de ideias’. Dom Bosco, o jovem padre italiano, queria mostrar o quanto era importante aos jovens que não apenas fossem amados, mas que sentissem amados (CHALITA, 2008, p. 48).

Processo em que ocorrem diversas situações de interação entre os sujeitos, direcionando-os na busca do desenvolvimento em diversos aspectos. Investir em educação muda a sociedade, os países mudaram os indicadores qualitativos sociais quando deram ênfase aos aspectos educacionais, como: valorização dos professores e investimentos nos incentivos educacionais. As mudanças são significativas quando temos uma sociedade voltada às ações de educação e ao compromisso com os processos de inter-relação em sociedade.

Ter consciência do diferente e saber trabalhar com o mesmo é uma ação complexa nos processos educacionais. A diversidade em meio educacional é um pressuposto comum, o professor interage com sujeitos diferentes, porém, com objetivos similares, visando o amadurecimento e a ascensão da aprendizagem, se colocando à disposição sem impor suas ideias e concepções. Seu papel é de orientar, se misturando ao grupo para refletirem coletivamente. Saber transmitir conhecimentos em meio à diversidade é um papel complicado, porque aplicar a metodologia correta para todos os sujeitos, fazendo com que todos aprendam os conteúdos não é como indicar um remédio e ter a certeza que a deficiência irá ser suprida.

“Nessa perspectiva, a educação não fica à espera do desenvolvimento intelectual da criança, ao contrário, sua função é levar o aluno adiante, pois quanto mais ele aprende, mais se desenvolve mentalmente” (PELLEGRINI, 2001, p. 19).

Trabalhar a diversidade é imprimir metodologias que abordem a ascensão dos mecanismos sociais, ou seja, interagir nas atividades de forma coletiva, aplicar dinâmicas de cooperação entre os sujeitos, desenvolver atividades lúdicas voltadas à inter-relação entre os mesmos, enfim, preparando-os de forma a valorizar uma educação voltada aos aspectos de amadurecimento das relações entre os indivíduos, tendo como foco uma educação cidadã.

O profissional em formação acadêmica deve estar disposto ao pleno desenvolvimento para interagir e ampliar os seus conhecimentos, pois na contemporaneidade passamos por inúmeros problemas, dentre esses estão os socioambientais.

Os problemas socioambientais estão implicitamente interligados ao seu campo de atuação e é dever do mesmo aliar os conhecimentos tecnológicos com as experiências adquiridas no meio. O movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), uma organização de valores morais que explicita a preocupação para agir de maneira científica na solução dos problemas existentes em âmbito socioambiental, tendo “como objetivo central, preparar os alunos para o exercício da cidadania e caracterizam-se por uma abordagem dos conteúdos científicos no seu contexto social” (SANTOS; MORTIMER, 2002, p. 6). No ponto de vista ambiental, é necessário que haja uma reformulação de atitudes, ou seja, muitas ações e atitudes que eram postas em prática no passado devem ser revistas no presente, o que a natureza sustentava há tempos atrás, hoje não pode continuar acontecendo.

A educação também deve agir nesse pensamento, em uma ruptura de ações maléficas e de ideologias errôneas de ação ao meio ambiente. Os profissionais em educação têm o papel ímpar nesse processo, tanto na área de pesquisas e experimentos, e principalmente o professor, que difunde os conhecimentos sobre a educação socioambiental em meio educacional, essas ações são de suma importância, pois perpetuam nos jovens os métodos de ação ao desenvolvimento da sociedade nos pressupostos da ética.

“Vivemos em um mundo notadamente influenciado pela ciência e tecnologia. Tal influência é tão grande que podemos falar em uma autonomização da razão científica em todas as esferas do comportamento humano” (Santos; Mortimer, 2002, p. 2).

Os alunos devem apreender as informações baseadas ao aperfeiçoamento das atitudes, difundindo projetos na escola, trazendo a realidade social às aulas, no dia a dia escolar, aplicando atividades voltadas ao aprendizado e a aplicabilidade desses pressupostos, em processo de pesquisa e curiosidade voltada ao pleno desenvolvimento socioambiental em processo de inquietação constante ao que tange à preservação ambiental.

Formar cidadãos críticos, reflexivos e éticos é o dever dos sistemas educacionais, seja escolar ou de ensino superior, pois a cidadania vem sendo aos poucos extinta das ações dos sujeitos sociais, compreendendo que é necessário que o aluno possa se reconhecer nos conteúdos e modelos sociais apresentados para desenvolver a capacidade de processar e desenvolver informações e lidar com os estímulos do ambiente, buscando ampliar as experiências e adquirir o aprendizado.

Nos ambientes educacionais e acadêmicos que ampliam os nossos conhecimentos a respeito das problemáticas existentes no mundo, aprendemos os fatos, os relatos, as experiências e os diversos conhecimentos que nos dão a percepção de ação em meio aos indivíduos que interagimos no dia a dia.

No meio acadêmico o objetivo central da prática pedagógica, voltar-se à possibilidade de aquisição e ampliação de competências e habilidades necessárias não só à atuação como profissional em educação, mas, sobretudo, como pessoa que pensa, sente e interage de forma produtiva e cooperativa na sociedade onde vive. Essas competências e habilidades foram adquiridas e socializadas com maior intensidade na relação entre teoria e prática, pois trabalha discussões mais fundamentadas e amplas aos aspectos sociais.

Essas e outras interações entre os sujeitos de forma ética possibilitam bons resultados no futuro à sociedade, agir de forma educada é perceber o real papel dos sujeitos no desenvolvimento da cidadania plena. Como nos adverte Paulo Freire (1996) ao refletir sobre o processo de ensino e aprendizagem diz que

O pensar certo sabe, por exemplo, que não é a partir dele como um dado, que se conforma a prática docente crítica, mas sabe também que sem ele não se funda aquela.  A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer (FREIRE, 1996, p. 38).

Os conhecimentos em meio ao campo acadêmico se dão necessariamente voltados à pesquisa constante na busca da ampliação dos conhecimentos necessários a serem aplicados e socializados entre os indivíduos. Em tempos modernos, com a velocidade do mundo virtual e a falta de tempo para as pessoas darem continuidade aos estudos, a Educação à Distância vem sendo uma atividade inovadora que facilita o processo de ampliação dos conhecimentos no campo acadêmico.

Uma realidade diferenciada de estudo que se caracteriza por momentos presenciais únicos, normalmente semanais; relação do professor por videoconferência; os estudantes buscando as informações através da internet; além de muitas obrigações e a mínima inter-relação entre os sujeitos em ambiente presencial.

A necessidade de qualificação na sociedade do conhecimento nos faz buscar mecanismos tecnológicos de estudos diferentes na contemporaneidade, em busca do desenvolvimento humano e boa qualidade de vida, pautados nos diversos aspectos, tanto social, físico quanto mental.

A ciência atrelada à tecnologia traz a ampliação qualitativa e o desenvolvimento da sociedade, assim que queiramos buscar informações sobre uma diversidade de assuntos, a internet se coloca como mecanismo essencial para sanar as dificuldades voltadas à falta de conhecimento, é nela também que socializamos e encontramos informações importantes para serem aplicadas no desenvolvimento da sociedade e da cidadania. A tecnologia avança de maneira surpreendente durante os tempos, o profissional em educação precisa estar inteirado sobre o mundo tecnológico e virtual.

O professor deve compreender que interage em processo de ensino e de aprendizagem com discentes que possuem, em sua maioria, acesso a informações, sendo a biblioteca virtual e social mecanismos ricos em pesquisas e ao mesmo tempo pobres, partindo do pressuposto e da finalidade de busca de cada pessoa. Todas as informações são necessárias quando aproveitadas de maneira certa, que trazem ensinamentos consistentes e voltados aos paradigmas éticos de acessibilidade das mesmas.

Professor não é quem dá aula ‘dar aula’ tornou-se expressão vulgar para mera reprodução de conhecimento, reduzindo-se a procedimento transmissivo de caráter instrucionista. Embora ‘aula’ não precise ser rebaixada a só isso, carrega o estigma secular de repasse reprodutivo de conhecimento alheio. Se for para apenas reproduzir conhecimento, temos hoje meios mais interessantes disponíveis, como a parafernália eletrônica, que tem a vantagem de poder ser ao vivo e em cores, com efeitos especiais, conduzida por gente bonita e jovem (DEMO, 2007, p. 13).

Baseado nos escritos de Pedro Demo (2007), compreendemos que é relevante que o docente, em seu processo de reconstrução contínua, esteja ciente de determinados assuntos considerando que seu público tem a possibilidade de ter acesso a níveis de conhecimento tão avançado quando o seu, não que o professor seja o detentor do conhecimento e o aluno o sujeito passivo, que recebe as informações de maneira estática.

Urge principalmente no contexto trazido pós pandemia de Covid 19, estar preparado para diversas situações que podem ser potencializadoras de novas aprendizagens, tanto para docentes quanto para os educandos, na medida em que trocam saberes e conhecimentos diversos. Para ensinar exige-se do docente a organização ao emprego de métodos e técnicas adequadas aos objetivos dos educandos, sendo uma ação lógica, estruturada e decisiva no processo de ensino e de aprendizagem.

O profissional do campo da educação tem o papel fundamental na difusão dos aspectos de desenvolvimento social, principalmente o educador preocupado com o processo de ensino e de aprendizagem, difundindo todos os ensinamentos relacionados à conscientização da preservação socioambiental, que não deixa de estar implícita nos aspectos da cidadania.

Professor pesquisador, reflexivo, crítico e ético é a maneira mais profícua de lecionar. Apesar de serem ideias progressistas e necessárias, é importante dizer que a execução das mesmas são desafiadoras para os professores, mas com toda a dificuldade, de uma forma ou de outra, devem ser trazidas à prática docente.

[…] Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade […] (FREIRE, 1996, p. 29).

Em consonância com Freire (1996) podemos inferir que urge principalmente no contexto socioeducacional trazido pós pandemia de Covid-19, os profissionais da educação estarem preparados para diversas situações que podem ser potencializadoras de novas aprendizagens, tanto para docentes quanto para os educandos, na medida em que trocam saberes e conhecimentos diversos. Para ensinar exige-se do docente a organização ao emprego de métodos e técnicas adequadas aos objetivos dos educandos, sendo uma ação lógica, estruturada e decisiva no processo de ensino e de aprendizagem.

A sociedade contemporânea que estamos inseridos é pautada por regras de convivência que harmonizam as relações entre os sujeitos sociais. “Os sociólogos definem sociedade como um conjunto de pessoas que vivem em um mesmo território, falam a mesma língua e compartilham a mesma cultura” (GUIZZO, 2009, p. 25), por esse motivo comum que dentro da sociedade existem os paradigmas de convivência, e essas normas são qualificadas por meio da educação e das diversidades entre os sujeitos. “Educação é o conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento das faculdades psíquicas, intelectuais e morais da criança e do ser humano em geral” (KURY, 2001, p. 269).

Percebe-se que a educação tem um papel preponderante em meio à sociedade, de promover rupturas de paradigmas na sociedade e ousar a mudança, buscando o que não foi tentado, de forma ética. Buscar meios de desenvolvimento por meio das ações permeadas pela educação é visar o pleno desenvolvimento dos sujeitos inseridos na sociedade.

A ética diz respeito às reflexões sobre as condutas humanas. A pergunta ética por excelência é: ‘Como agir perante os outros?’. Verifica-se que tal pergunta é ampla, complexa e sua resposta implica tomadas de posição valorativas. A questão central das preocupações éticas é a de justiça entendida como inspirada pelos valores de igualdade e equidade (BRASIL, 1997, p. 26).

Na pesquisa e na prática pedagógica objetivou-se à contribuição favorável à consciência da importância e da amplitude do exercício profissional do educador no contexto do século XXI. Formação integral e o desenvolvimento de habilidades e competências essenciais para validar os pilares da educação: aprender a fazer, aprender a conviver, aprender a aprender e aprender a ser.

Esses pilares essenciais inspiram-nos a desenvolvermos práticas eficientes voltadas ao desenvolvimento das inter-relações em meio à sociedade, está inteiramente interligado à prática do dia a dia, desenvolvendo assim o aprendizado, em consonância ao agir pedagógico. Essa ação deve reconhecer e saber trabalhar com sujeitos que agem de formas diferentes uns dos outros, várias práticas e ações que ocorrem diferentemente durante as aulas, no processo de troca de conhecimentos, que pode beneficiar ou dificultar o processo de ensino e de aprendizagem.

Nas inter-relações docente/discente acontecem diferenciações de atitudes, de comportamentos, da capacidade em aprender e, em inúmeras vezes em ensinar; devendo haver um olhar crítico para ações e situações conflitantes no ambiente escolar devendo ser banidas dos ambientes de aprendizagens. Por exemplo a prática de bullying nos ambientes educacionais, estas são atitudes que abalam o psicológico das pessoas atingidas pelo problema causado danos por vezes irreversíveis aos sujeitos envolvidos “Há cerca de 15 anos, essas provocações passaram a ser vistas como uma forma de violência e ganharam nome: Bullying, […] que pode ser traduzida como intimidar ou amedrontar” (NOVA ESCOLA, 2010, p. 68, grifos do autor).

Por volta dos 10 ou 12 anos a criança passa a buscar, no convívio social, referências diferentes das que sempre recebeu em casa, dando continuidade ao processo de construção de sua personalidade. Essa é a época de aprender a lidar com a própria imagem. Se essa criança se conhece e gosta de como é, consegue manifestar equilibrada. Do contrário, pode sentir prazer em menosprezar o outro para se afirmar. Logo em seguida, juntamente com a entrada na adolescência, vem a necessidade de pertencer a um grupo. Nesse momento, basta sair um pouco do padrão (alto, baixo, gordo, magro) para ser provocada (NOVA ESCOLA, 2010, p. 69).

A prática de bullying caracteriza-se por exemplo em xingar o colega, bater, humilhar, pôr apelidos, zombar de uma deficiência, biótipo, textura dos cabelos, postar mensagens ofensivas a aparência nas redes sociais, enfim, todo esse processo está inteiramente ligado à falta de conscientização e conhecimento do mal que essas atitudes provocam no psicológico dos atingidos, provocando a queda do nível de aprendizagem dessas pessoas, evasão escolar e problemas psicológicos e até ao suicídio.

As atitudes a serem tomadas por todos na escola no intuito de minimizar efeitos dessa prática devem ser pautadas em projetos de prevenção a esse problema, conscientizando os sujeitos à valorização das práticas de cidadania, valores e respeito mútuo, visando demonstrar que todos nós seres humanos somos diferentes e, esse pressuposto é o que nos faz socializar as informações em meio social.

Quando a pauta é a violência escolar, visualizamos trocas de xingamentos, palavrões verbais, desrespeito com o material alheio, depredação do patrimônio escolar, ameaças dirigidas aos professores e agressões físicas, propriamente, entre alunos (e mais raramente de alunos contra professores e vice-versa), como chutes, tapas, beliscões etc. Contudo, aqui, o cerne da questão é ampliar os conhecimentos e sensibilizar para uma violência que é silenciada pelo medo e está presente, infelizmente, no mundo inteiro, Trata-se do Bullying, uma forma intencional e repetitiva de atitudes agressivas dentro da escola (CHALITA, 2008, p. 80).

O papel da educação ou compromisso da mesma é saber desenvolver a sociedade em que estamos implícitos, atrelados ao saber trabalhar com seres diferentes, aplicando metodologias de ensino que trazem a ampliação dos conhecimentos transmitidos em processo de ensino e de aprendizagem. Essas experiências são adquiridas pelo professor quando ele se torna um profissional voltado aos interesses da cidadania preocupado com seu desenvolvimento profissional.

O professor desenvolve sua ação quando procura aprender os passos necessários em suas práticas constantes em ambiente educacional, avaliando seus resultados todos os anos, revendo de maneira positiva e fazendo um balanço do que deu certo e do que precisa ser corrigido, se possível levar essas reflexões também à vida pessoal, se deparar com a realidade é fundamental à aquisição de experiências e só quem é cidadão pleno, promove o desenvolvimento da cidadania.

É com a realidade do ensino remoto imposto em 2020 como alternativa ao isolamento social trazido da pandemia que o educador aprende a trabalhar os mecanismos disponíveis, trazendo ao ambiente escolar a curiosidade de buscar novas formas de ascensão dos conhecimentos utilizando as ferramentas da internet. Ao adentrar no mundo tecnológico virtual e percebe a gama de recursos que é possível incorporar ao desenvolvimento educacional e aprende que dentro das diversidades implícitas na sociedade, seja na escola, seja em casa, seja no trabalho, enfim, respeitar e trabalhar a diversidade entrelaçada aos aspectos qualitativos de cidadania qualifica as ações e torna as relações entre os sujeitos mais efetivas em meio social.

“A compreensão das questões sociais, o pensar sobre elas, analisá-las, fazer proposições avaliar alternativas exigem a capacidade de representar informações e relacioná-las” (BRASIL, 1998, p. 38).

Nesse sentido, a escola precisa redimensionar o seu pensar, reformulando suas ações pela compreensão do que a comunidade escolar espera dela enquanto função social.

A cidadania plena se volta aos processos educacionais, assim como a educação se volta aos valores vigentes de relação dos sujeitos sociais, todos estão incluídos na sociedade, com papéis determinados e determinantes, ações de rupturas, de conjunturas, de interação.

Ser social é aquele preocupado com o ambiente que o entorna, conhecedor de que as ações éticas, preestabelecidas e acionadas pelos parâmetros sociais desenvolvem de maneira plena o nosso espaço de inter-relação entre os indivíduos.

As interações com as pessoas em busca de objetivos comuns trouxeram as mais valiosas aquisições de aprendizados e os problemas sociais nos fazem refletir a todo o momento sobre as atitudes individuais e coletivas que efetuamos e que nos tornam responsáveis pela forma que a mesma se comporta e se traduz para as demais pessoas. Valorizar a variedade de culturas, o questionamento dos saberes e a necessidade do contraditório é o que devemos fazer sem propagar um outro mito: o da neutralidade.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das reflexões feitas sobre a educação e a cidadania trazidas em documentos referenciais como os PCN (1998), compreendemos que somos seres pensantes e atuantes em uma sociedade complexa, que compreende também atitudes antiéticas que danificam os reais valores de cidadania. A cidadania está em permanente processo de construção e reconstrução através das lutas daqueles que lutam por direitos e melhores condições de vida e saúde coletivas.

A escola é o espaço de diversidade privilegiada para aprender a resolver conflitos e saborear a graça do convívio com a diferença, traz a criticidade de ações na busca do desenvolvimento da sociedade do conhecimento, na busca incessante do mesmo visto que não há transformação sem educação.

Problematizar os comportamentos pautados nos parâmetros educacionais de ações dos sujeitos envolvidos e implícitos nesse âmbito educacional. Nos conduz a um mundo tecnológico contemporâneo, onde o conhecimento se adquire em um simples comando do cérebro sob as mãos e da relação com os diferentes de maneiras diversificadas, porém com objetivos comuns de assimilação de conhecimentos.

Retomando a questão inicial buscamos analisar a relação entre a educação escolar, na construção da cidadania e o papel do professor nesta relação. Homens e mulheres não nascem sabendo das leis, dos direitos e dos deveres da cidadania, o que perpassa por um longo processo de socialização que é promovido através da escola. Assim, é necessário considerar que para que se alcance a cidadania ativa baseada nos princípios de liberdade e igualdade a educação básica é peça fundamental.

A educação é um direito de todo cidadão garantido por lei, sendo assim o/a professor(a) como um formador precisa ter a percepção do seu papel na formação desse/a cidadão/ã visto que este é uma referência para o/a estudante. Diante do exposto é latente a necessidade de se problematizar as práticas de ensino juntamente com gestores e os próprios alunos, este engajamento irá contribuir para a transposição dos conceitos de cidadania e direitos humanos para que a criança e o adolescente aprendam desde a tenra idade a conviver em sociedade.

Somos seres inacabados e no ponto de vista das aprendizagens, estamos sempre ampliando e desenvolvendo os nossos conhecimentos, tendo a consciência que a cada dia novas aprendizagens nos são impostas, assim que as mesmas fazem desenvolver nossas práticas, na busca de uma sociedade mais ética e consciente.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9.394. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de Dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. P. 27833-41.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Presidência da República. 5 de outubro de 1988. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico: 1988.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Câmara dos Deputados, Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16 jul. 1990. Brasília: Câmara dos Deputados, 1990.

CHALITA, Gabriel. Pedagogia da amizade – Bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores. São Paulo: Editora Gente, 2008.

DEMO, Pedro. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GUIZZO, João. Introdução a sociologia. 1. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.

KURY, Adriano da Gama. Minidicionário Gama Kury da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 2001.

LA TAILLE, Yves de. Formação Ética: do tédio ao respeito de si. Porto Alegre: Artmed, 2009.

NOVA ESCOLA. Cyber Bullying, a revista Nova Escola aborda o bullying e mostra que combater essa violência passa pela escola. Nova Escola. Editora Abril – Fundação Victor Civita. n. 223, jun./jul., 2010.

PADILHA, Roberto Paulo. Planejamento dialógico: como construir o projeto político pedagógico da escola. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2001.

PELLEGRINI, Denise. Aprenda com eles e ensine melhor. Nova Escola. Editora Abril – Fundação Victor Civita, n. 139, jan./fev., 2001.

SANTOS, Wildson L. P.; MORTIMER, Eduardo F. Uma análise de pressupostos teóricos da abordagem C-T-S (Ciência – Tecnologia – Sociedade) no contexto da educação brasileira. Ensaio Pesquisa em educação em ciências, v. 2, n. 2, p. 1-23, 2002.

XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Língua Portuguesa. 2 ed. São Paulo: Ediouro, 2000.

[1] Pós-graduação em Políticas Públicas da Educação Básica – Faculdade Batista Brasileira; Pós-graduação em Gestão Educacional – Faculdade Hélio Rocha; Pós-graduação em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura – Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão; Graduação em Letras-Português/Inglês – Faculdade de Tecnologia e Ciências e Graduação em Pedagogia – Universidade Estadual de Feira de Santana. ORCID: 0000-0002-9073-554X.

Enviado: Setembro, 2022.

Aprovado: Novembro, 2022.

5/5 - (10 votes)
Clodovil Mascarenhas Mendes

2 respostas

  1. Parabéns Clodovil pelo seu artigo, ele traz uma discussão muito relevante para a educação ao discorrer acerca da interpelação entre a educação e a cidadania perpassando na formação de professores. Questões que devem ser repensadas e debatidas cada vez mais no âmbito escolar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita