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Desenvolvimento docente: uma  experiência sobre a inovação de  disciplina do ensino superior

RC: 134032
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/desenvolvimento-docente

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SAMPAIO, Josineide Francisco [1], VASCONCELOS, Priscila Nunes de [2], BITTENCOURT, Cristiana Carina  de Barros Lima Dantas [3], PAULA, Isabella Carvalho de [4], COUTINHO, Beatriz Arruda [5]

SAMPAIO, Josineide Francisco. et al. Desenvolvimento docente: uma  experiência sobre a inovação de  disciplina do ensino superior. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 12, Vol. 01, pp. 88-100. Dezembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/desenvolvimento-docente, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/desenvolvimento-docente

RESUMO

Introdução: O presente trabalho relata a vivência de docentes e monitores discentes, a partir de um estudo descritivo, acerca da inclusão de tecnologias digitais e metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem, a fim de inovar a disciplina de Saúde e Sociedade I, do curso de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, campus A. C. Simões. Objetivo: Este artigo tem como objetivo compartilhar a experiência vivida e suscitar a necessidade da reflexão sobre metodologias ativas em cursos superiores da área de saúde. Questão Norteadora: Quais os principais desafios enfrentados no processo de incorporação de tecnologias digitais e metodologias ativas em curso da área da saúde? Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência. Para subsidiar o presente estudo foram analisados os diagnósticos realizados pelos docentes e monitores, por meio do preenchimento de um instrumento no qual foram identificados os conteúdos, as metodologias ativas, as tecnologias educacionais, as metodologias avaliativas, os desafios, os ajustes e as possibilidades futuras para implementação das inovações na disciplina. Outro instrumento que subsidiou o presente estudo foi composto pelos relatos dos participantes sobre as atividades desenvolvidas para inovação de Saúde e Sociedade I – 2018.1/2018.2, os quais informaram também o significado da experiência, os ajustes que seriam necessários e as sugestões para serem implementadas no próximo semestre. Resultados: Alguns desafios durante a execução do projeto foram encontrados, como o acesso restrito e a baixa qualidade da internet disponível na instituição de ensino, o déficit de conhecimento sobre tecnologias digitais e a dificuldade com relação ao planejamento dos docentes envolvidos. Conclusões: Nesse sentido, o envolvimento dos monitores possibilitou a aproximação com a prática docente e seus desafios, ao passo que influenciou no desenvolvimento do educador acerca do uso das tecnologias digitais de ensino.

Palavras-chave: Inovação, Educação Médica, Tecnologia Educacional, Avaliação Educacional.

INTRODUÇÃO 

Desde a implementação da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, a qual criou o Sistema Único de Saúde (SUS), princípios como “promoção, proteção e recuperação da saúde” se tornaram pontos essenciais para formação dos profissionais de saúde no atendimento ao público. Seguindo essa lógica, foram realizadas modificações nas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Medicina (DCN), um documento que estabelece os princípios, os fundamentos e as finalidades da formação em Medicina (BRASIL, 2014).

As atuais DCN são frutos do parecer CNE/CES nº: 116/2014, homologado em 3 de abril de 2014, e nelas são descritos o perfil do formando egresso/profissional; competências e habilidades em atenção, gestão e educação em saúde; conteúdos curriculares; organização do curso de graduação; estágios e atividades complementares; e acompanhamento e avaliação. Todas essas características propostas perpassam pelos conceitos de integralidade, promoção e prevenção em saúde, além de, em primeiro lugar, serem focadas no ser humano.

Dessa forma, a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), como uma instituição de ensino superior com o curso de graduação de Medicina consolidado, datado da década de 1950, passou por uma reforma curricular em seu Plano Pedagógico de Curso (PPC), para se adequar aos padrões propostos pelas DCN.

Essa transição começou em 2001, com a criação de um “Projeto de Reestruturação do Curso Médico”, baseado nas DCN do mesmo ano, e foi posto em execução em 2005, com um currículo de transição. Em 2006, implementou-se o novo currículo, que tinha como pilares o foco do processo ensino-aprendizagem no aluno, ampliação da escuta às necessidades dos alunos, aumento do tempo de internato para dois anos e inclusão de metodologias de problematização e tutoria, tendo uma nova modificação realizada em 2013 e a qual está em vigência até a atualidade.

Para operacionalizar os princípios e diretrizes propostos pelas DCN, a Matriz Curricular do curso de graduação foi estruturada em três principais eixos: Eixo Teórico-prático-integrado (ETPI), Eixo de Aproximação à Prática Médica e à Comunidade (EAPMC) e Eixo de Desenvolvimento Pessoal (EDP).

O EAPMC abrange todos os períodos do curso, de modo a construir um saber regulado nas demandas sociais e nas políticas públicas vigentes. Esse eixo é pautado no entendimento da Educação como promotora da qualidade de vida da sociedade, a partir do entendimento de que os problemas do SUS, bem como suas particularidades, também são problemas da Escola. Cabe ao profissional médico, portanto, desde o início da graduação, estar inserido e adaptado aos diferentes ambientes de atuação, além de, segundo o PPC (UFAL, 2013, p. 58), “reconhecer contextos e processos históricos de construção social da saúde, apoiados no fortalecimento do cuidado, na ação intersetorial e na crescente autonomia das populações em relação a sua própria saúde.”

A disciplina Saúde e Sociedade 1, inserida no eixo de EAPMC, é, portanto, um componente curricular do primeiro período do curso, com carga horária semanal de 10 horas, totalizando 170 horas no semestre letivo. Compõem a disciplina as áreas de conhecimento Bioestatística, Ciências sociais, Metodologia científica, Saúde Família e Comunidade (UFAL, 2013).

Essas áreas, por sua vez, possuem conteúdos que se articulam na elaboração do conhecimento técnico e humano, sobre o processo saúde-doença, o SUS, a aproximação com a prática médica, com a comunidade, ambientes de atuação e as famílias. Assim, considera-se o papel social e político do médico, bem como da pesquisa na produção do conhecimento científico e da Estatística no planejamento de ações em saúde (UFAL, 2016).

As novas tendências pedagógicas centradas nas metodologias ativas possuem como princípio a pedagogia interativa, crítica e reflexiva, capaz de possibilitar o aprender a aprender (SEBOLD et al., 2010). Nesse sentido, a utilização de ferramentas de avaliação e diagnóstico da disciplina em curso é de extrema relevância para o aprimoramento do ensino, visto que através da compreensão das ações pedagógicas realizadas é possível suscitar a reflexão do docente em incorporar novas metodologias de ensino-aprendizagem que contemplem o papel de sujeito ativo do educando.

Desse modo, o objetivo deste artigo é relatar a experiência institucional do desenvolvimento docente para inovação da Disciplina de Saúde e Sociedade I do curso de Medicina da UFAL, localizada no município de Maceió, a fim de compartilhar o processo realizado e subsidiar reflexões acerca da utilização de metodologias ativas e tecnologias digitais no ensino-aprendizagem em cursos de graduação na área da saúde.

ASPECTOS METODOLÓGICOS 

Este artigo trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, o qual tem como objeto de estudo o desenvolvimento docente para inovação da Disciplina de Saúde e Sociedade I do curso de Medicina da UFAL. Este processo teve início no ano de 2018 e segue até o presente momento, o mesmo envolveu os docentes das diferentes áreas de conhecimento da disciplina e os monitores daquele período.

Para subsidiar o presente estudo foram analisados os diagnósticos realizados pelos docentes e monitores, por meio do preenchimento de um instrumento no qual foram identificados os conteúdos, as metodologias ativas, as tecnologias educacionais, as metodologias avaliativas, os desafios, os ajustes e as possibilidades futuras para implementação das inovações na disciplina.

Outro instrumento que subsidiou o presente estudo foi composto pelos relatos dos participantes sobre as atividades desenvolvidas para inovação de Saúde e Sociedade I – 2018.1/2018.2, os quais informaram também o significado da experiência, os ajustes que seriam necessários e as sugestões para serem implementadas no próximo semestre.

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

O processo de elaboração do projeto de desenvolvimento docente para inovação de Saúde e Sociedade I se deu a partir da participação da coordenadora da disciplina no Curso de Tecnologias Digitais e Metodologias Ativas (TDMA) realizado em 2018, pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da UFAL, no qual apresentou como trabalho de conclusão do referido curso uma proposta de projeto a ser implementado na disciplina que atua como coordenadora.

A proposta foi apresentada, discutida e aceita pelos professores e monitores das áreas de conhecimento que compõem a disciplina, os quais se empenharam na elaboração do projeto desenvolvido no decorrer do ano letivo de 2018.

Segundo Pereira e Behrens (2010), uma parcela significativa dos docentes que atuam no ensino superior constitui sua identidade como docente no decorrer do desempenho da  profissão, onde as relações estabelecidas com seus pares de profissão e com os estudantes com quem convive possuem um papel relevante.

Para elaboração do projeto foi realizado o diagnóstico das práticas docentes pelos professores de cada área de conhecimento e pelos monitores que tinham cursado a disciplina. Todos utilizaram o mesmo instrumento para analisar as práticas dos docentes de cada área. O diagnóstico teve como objetivo identificar as inovações implementadas, as dificuldades, os desafios e as possibilidades futuras, relacionadas às metodologias ativas e às tecnologias digitais utilizadas. A partir deste, observou-se que a maioria dos docentes utilizava algum tipo de metodologia ativa e tecnologia digital no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, tais como: exibição e discussão de filmes, aula invertida, roda de conversa, jogos, quizz e produção de vídeos.

Deste modo, as questões e situações vividas no contexto do ensino-aprendizagem tornam-se ponto de partida, por meio do diagnóstico e do conhecimento da realidade, os quais convergem para nortear as questões centrais a serem trabalhadas e consideradas no processo de tomada de decisão e intervenções, alargando a compreensão dos problemas existentes para superá-los (BEHRENS; PEREIRA, 2010).

Segundo Pipitone e Komada (2017), para o docente universitário planejar estratégias de ensino, ele precisa analisar e discutir sua prática educativa com seus colegas, para que possa refletir sobre seus erros e acertos e ampliar a consciência sobre o seu trabalho.

Assim, a partir das necessidades identificadas no diagnóstico realizado, foi elaborado o projeto para inovação da disciplina, no qual foram definidos os temas que foram estudados relacionados às metodologias ativas, tecnologias digitais, planejamento e avaliação que poderiam ser implementados, de acordo o quadro abaixo:

Quadro 1 – Temas e atividades desenvolvidos para inovação da disciplina SS I. FAMED/UFAL,  2018/2019

TEMAS E ATIVIDADES DESENVOLVIDOS
METODOLOGIAS ATIVAS Práticas Educacionais Inovadoras – Quadro de Análise da Prática Docente (Diagnóstico das práticas docentes)

O cenário atual

Metodologias Ativas

TBL

Feedback

TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS Quais são os novos papéis do professor

Competência digital docente

Quais são as tecnologias digitais Web 2.0.docx

Mapas e esquemas conceituais

Tecnologias da Comunicação, Publicação e Educação

Banco Colaborativo de Recursos e Atividades Digitais – BRAD

PLANEJAMENTO Como desenhar projetos de aprendizagem

Planejamento educacional com tecnologias

Como planejar uma aula inovadora

AVALIAÇÃO Conteúdo de apoio para criar um instrumento de Avaliação por Rubricas

Avaliação de aprendizagem com tecnologias

ELABORAÇÃO DE ITENS Avaliação segundo os objetivos de aprendizagem

Taxonomia de Bloom

Treinamento dos Monitores – Manual COPEVE/UFAL

Formulário de elaboração e validação de item (COPEVE/UFAL)

AVALIAÇÃO DISCENTE DA DISCIPLINA Análise e elaboração do instrumento de avaliação da disciplina pelo discente

Elaboração e submissão no CEP/UFAL do Projeto de Pesquisa para validação do instrumento de avaliação da disciplina

Fonte: De autoria própria.

Em relação à utilização de tecnologias digitais, observou-se que o acesso restrito e a baixa qualidade da internet disponível na instituição desestimularam os docentes a implementarem o uso de tecnologias em suas aulas, por terem que realizar duplo planejamento, visto que poderiam não ter internet disponível no momento que estivessem desenvolvendo as atividades. Também se verificou que tanto os professores como os monitores tinham pouco conhecimento sobre as tecnologias digitais e seu uso no processo de ensino-aprendizagem.

Em estudo realizado por Pipitone e Komada (2017), também se identificou entre as dificuldades citadas pelos professores de ensino superior a inserção de novas tecnologias e inovações didáticas, como sendo principais desafios enfrentados no ensino superior devido a incipiente preparação pedagógica e sobrecarga de trabalho.

Além desses aspectos, identificou-se que os professores apresentaram dificuldade com relação ao planejamento e, sobretudo, a avaliação, reconhecendo, assim, a necessidade de se capacitarem de forma mais sistemática sobre o uso de metodologias ativas e tecnologias digitais no processo de ensino-aprendizagem. Semelhante aos achados de Pipitone e Komada (2017), nos quais 38,5% dos docentes de ensino superior investigados em seu estudo, informaram ter dificuldade em realizar o planejamento de aula, 33,5% indicaram ter dificuldade de estabelecer os objetivos de ensino-aprendizagem e 28,2%, dificuldade na elaboração de provas e termos de avaliação.

É importante destacar que a identificação das dificuldades e das contradições que envolvem o processo de ensino-aprendizagem no ensino superior, podem promover a mobilização de estudantes e professores para reverem posicionamentos e a responsabilização coletiva e partilhada, realinhando intencionalidades e ações, nas instâncias em que estão envolvidos, para implantação das mudanças necessárias (BEHRENS; PEREIRA, 2010).

No decorrer do processo de desenvolvimento de inovação da disciplina os monitores ficaram responsáveis por realizarem  levantamentos bibliográficos, com a finalidade de enriquecerem o plano de aula e a disciplina, sendo realizadas reuniões específicas com o professor orientador e o monitor vinculado a cada área de conhecimento, discutindo em  termos práticos como cada conteúdo deveria ser modificado; e realização de estudo e oficina sobre elaboração de itens para ampliar o banco de questões a serem utilizadas na composição da prova integrada.

Os docentes e monitores das áreas de conhecimento da disciplina participaram de grupo de estudo quinzenal para discutirem sobre o novo papel do docente, competência digital do professor e como planejar uma aula inovadora, além de discutirem sobre as estratégias de metodologias ativas, ensino mediado por tecnologia e o uso de tecnologia para avaliação discente, entre eles: avaliação por rubricas, avaliação no fórum e no chat, portfólio digital, blog, podcast, vídeos, aplicativos para testes e questionários.

Os temas abordados nos encontros foram direcionados antecipadamente para cada docente/monitor, de acordo com a afinidade com a temática proposta, os quais eram responsáveis pela apresentação e condução da discussão. Durante os encontros eram levantadas as dúvidas e as possibilidades de como incluir a metodologia estudada em cada área de conhecimento, de acordo com os conteúdos da disciplina e experiências prévias em sala de aula. Algumas estratégias foram utilizadas no semestre ainda em curso, e outras foram incluídas no planejamento do semestre posterior, pois existia necessidade do docente melhor apropriar-se da metodologia, ou para que a logística fosse melhor planejada, para adequar-se às condições disponíveis de acesso à internet.

Segundo Silva; Bezerra e Silva (2013), os docentes que participaram do processo de formação e desenvolvimento docente informaram ter aprendido novos métodos avaliativos  e melhorado as suas práticas pedagógicas, indicando que as ações formativas podem promover mudanças nas concepções dos professores sobre suas práticas.

Para Powaczuk e Santos (2017), a problematização das práticas e os contextos formativos configurados como expressão de uma tomada de posição coletiva e compartilhada, que problematiza efetivamente as práticas usuais, propondo alternativas fundadas na contextualização macro e micro social e na autocrítica profissional, implicaria na consolidação do desenvolvimento profissional do docente, por meio de novos delineamentos do seu trabalho, viabilizando práticas com características próprias, alicerçadas em processos de fazer e pensar a ação docente de forma compartilhada, promovendo a geração de intercâmbios e qualificação do trabalho docente.

Durante as discussões realizadas nos encontros do grupo, surgiu a necessidade da elaboração de um instrumento para avaliação da disciplina, por entender que os processos de avaliação do ensino pelos estudantes se constituem como um importante regulador potencial  para desenvolvimento docente (DE KETELE, 2003). Neste sentido, a avaliação dos estudantes sobre o desenvolvimento das disciplinas, consequentemente da prática docente, trouxeram reflexões significativas para os professores reavaliarem suas concepções e as metodologias pelas quais se materializam suas aulas e práticas pedagógicas, consistindo em oportunidade diferenciada para pensarem com fazer a transposição do que aprenderam na sua formação acadêmica, contribuindo, assim, com a qualificação da aprendizagem dos estudantes (BEHRENS; PEREIRA, 2010).

Entretanto, verificou-se que embora existam instrumentos validados para avaliação de disciplinas em escolas médicas no Brasil, o curso da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas apresenta um desenho pedagógico específico, com três eixos, como já descrito anteriormente. A partir dessa necessidade foi construída uma proposta para criação de um instrumento de avaliação das disciplinas do EAPMC, eixo ao qual a disciplina de SSI pertence.

O instrumento de avaliação discente da disciplina foi adaptado da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), para atender as especificidades das disciplinas constituídas por áreas de conhecimento que compõem o EAPMC. A proposta foi apresentada para a direção da FAMED, coordenador e docentes do eixo e posteriormente submetida ao Comitê de Ética (CEP/UFAL). Após aprovação do CEP os instrumentos foram aplicados em sala de aula no final do semestre letivo 2019.1, aos alunos do primeiro ao terceiro e do quinto ao oitavo período do Curso de Graduação de Medicina da UFAL. A amostra foi composta por aproximadamente 350 alunos, visto que foram aplicados nas turmas A e B de cada período especificado acima, com 25 alunos em média por turma. Foram incluídos todos os alunos dos períodos que concordaram em participar do estudo e realizaram a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A descrição e a análise estão sendo realizadas por área de conhecimento em separado, em seguida serão agregadas por disciplina, permitindo uma avaliação ampla sobre as disciplinas que compõem o  EAPMC. A validação do questionário adaptado está sendo realizada por meio do uso do Alfa de Cronbach, Análise Fatorial e Regressão. Espera-se que os resultados sirvam para análise do desempenho das disciplinas e da atuação docente para promoverem adequações no processo de ensino e aprendizagem.

A partir do instrumento aplicado e tendo como base a percepção dos envolvidos sobre o processo vivenciado, foi construído o quadro abaixo o qual informa sobre as atividades desenvolvidas pelo grupo, o significado da experiência de monitoria e as sugestões a serem implementadas na disciplina.

Quadro 2 – Principais respostas da Avaliação das Atividades Desenvolvidas para Inovação de   Saúde e Sociedade I – 2018.1/2018.2

TÓPICO 1: Fale sobre as atividades que foram desenvolvidas, no decorrer dos dois últimos semestres, pelos monitores e professores para inovação da disciplina Saúde e Sociedade I (programação, temas trabalhados, metodologia utilizada, etc.). PARTICIPANTES
•    Reuniões sobre a inovação de ensino e metodologias ativas;

•    Apresentação por área do conhecimento sobre evolução e implementação das metodologias;

•    Reuniões internas entre professor de cada área do conhecimento e monitor;

•    Análise do cronograma da disciplina, dos planos de ensino, da didática, dos métodos de avaliação;

•   Elaborou-se um questionário para avaliação das disciplinas do EAPMC.

 

M2, M3, M4, D2 e D3

TÓPICO 2: O que significou para você todo o processo de monitoria, incluindo reuniões, estudos e outras experiências? PARTICIPANTES
O discente enquanto sujeito ativo no processo de ensino. M1 e D2
Despertar para o interesse de buscar novas fontes de estudo. M2
Aquisição de conhecimento na área Educação e Tecnologias. D1
Pensar sobre as aulas e os conteúdos é vital na prática docente. D3
Vivenciar a experiência e os desafios da prática docente é um processo de amadurecimento. M2, M3, M4 e D2
Compreensão dos docentes sobre a percepção dos alunos que vivenciaram aquela disciplina. M3 e D3
TÓPICO 3: Que ajustes são necessários e quais são as sugestões que você daria para serem implementadas nos próximos semestre letivo? PARTICIPANTES
Melhorar o que temos e ampliar os conhecimentos. M4 e D1
Aprofundar o estudo sobre as práticas implementadas e as que poderão ser implementadas. D2
Discutir formas diferentes de avaliar os alunos. D3

Fonte: De autoria própria.

A partir do quadro 2, composto pela percepção dos envolvidos no processo de inovação da disciplina e síntese dos relatos da experiência desenvolvida entre monitores e docentes, obteve-se como destaque a possibilidade de discentes vivenciarem a prática docente  e verem-se como sujeitos ativos do processo de ensino, tornando-se coparticipantes de seu aprendizado e desempenho (SEBOLD et al., 2010).

Como resultado desse processo de inovação, também foi externado o desejo de ampliar os conhecimentos na temática estudada e possibilitar novas implementações. Isso se faz possível com a abertura, nesse caso dos professores, para aprenderem, para alterarem conceitos e para assumirem novos comportamentos e atitudes diante dos seus conteúdos trabalhados na disciplina, o que é fundamental em qualquer inovação (BAGNATO; MERCURI; PEREIRA, 2010).  O processo de ensino  exige que os professores do ensino superior, além de uma atuação diferenciada,  também se preparem pedagogicamente a partir de uma formação especializada na qual a prática docente será baseada (BEHRENS, PEREIRA, 2010; ALMEIDA, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O reconhecimento da importância e da necessidade do compromisso docente com o ensino é imperativo, no sentido de fazer docência de forma sistemática e crítica, que envolva o aluno no seu processo de aprendizagem.

Este estudo demonstrou que inserir os alunos no processo de inovação da disciplina permitiu que os mesmos pudessem experienciar os desafios da prática docente. Por outro lado, permitiu aos docentes despertarem para o interesse de aprofundarem os estudos sobre Educação e tecnologias.

O compromisso de todos os envolvidos no processo de   inovação da Disciplina de Saúde e Sociedade I, possibilitou o desenvolvimento docente para utilização de metodologias ativas e tecnologias digitais no ensino. 

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Marta Mateus. Formação pedagógica e desenvolvimento profissional no ensino superior. Revista Brasileira de Educação, Lisboa, Portugal, v. 25, 2020.

BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a

promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento

dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial [da] República

Federativa do Brasil, Brasília, DF , 20 set . 1990. Disponível em :

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm Acesso em: 27 jul. 2020.

DE KETELE, Jean Marie. La formación didáctica y pedagógica de los profesores universitarios: luces y sombras. Revista de Educación, España, n. 331, p. 143-169, 2003.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina e dá outras providências. Resolução nº 3, de 20 de junho de 2014. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de junho de 2014, seção 1, p. 8-11, 2014. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=15874-rces003-14&category_slug=junho-2014-pdf&Itemid=30192 Acesso em: 27 nov. 2020.

PEREIRA, E.M.A.; MERCURI, E.;  BAGNATO, M. H. Inovações Curriculares: experiências em desenvolvimento em uma universidade pública. Currículo sem Fronteiras, Campinas, SP, v. 10, n. 2, p. 200-213, 2010.

PEREIRA, Liandra; BEHRENS. Marilda Aparecida. Desenvolvimento docente no ensino superior: visibilidade e atuação profissional. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, p. 39-46 , 2010.

PIPITONE, Maria Angélica Penatti; KOMADA, Karen Missy Aki. O desenvolvimento profissional docente no ensino superior: estudo de caso. EccoS – Rev. Cient., São Paulo, n. 42, p. 177-187, jan./abr. 2017.

SANTOS, Eliane Aparecida Galvão; POWACZUK, Ana Carla Hollweg. Formação e desenvolvimento profissional docente no ensino superior. Políticas Educativas, Campinas, v.2, n.1, p.100-111, dez. 2009.

SEBOLD, Luciara Fabiane et al. Metodologias ativas: uma inovação na disciplina de fundamentos para o cuidado profissional de Enfermagem. Rev Cogitare Enferm.Santa Catarina, v. 15, n. 4, p. 753-6, 2010.

SILVA, N. L.; BEZERRA, P. O.; SILVA, W. R. Formação e desenvolvimento docente: em foco a avaliação da aprendizagem no ensino superior. EdUECE – Livro 2, 2013. Disponível em: http://www.uece.br/endipe2014/ebooks/livro2/FORMA%C3%87%C3%83O%20E%20DESENVOLVIMENTO%20DOCENTE%20EM%20FOCO%20A%20AVALIA%C3%87%C3%83O%20DA%20APRENDIZAGEM%20NO%20ENSINO%20SUPERIOR.pdf Acesso em: 27 nov. 2020.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UFAL. FACULDADE DE MEDICINA. JULHO DE 2013. PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE MEDICINA PPC 2013, [S. l.], p. 1-214, 2013. Disponível em: http://www.ufal.edu.br/unidadeacademica/famed/graduacao/medicina/projeto-pedagogico/pcc-medicina-2013/view Acesso em: 28 jul. 2020.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UFAL. FACULDADE DE MEDICINA. 2016. PLANO DE CURSO: MEDC087 – SAÚDE E SOCIEDADE 1, [S. l.], 2016. Disponível em: http://www.ufal.edu.br/unidadeacademica/famed/graduacao/medicina/matriz-curricular/disciplinas-obrigatorias/plano-de-curso/1o-periodo/MEDC087%20-%20SAUDE%20E%20SOCIEDADE%201.pdf/view. Acesso em: 28 jul. 2020. 

[1] Doutorado em Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ. ORCID: 0000-0003-4911-0895.

[2] Doutorado em Saúde Coletiva/UFPE. ORCID: 0000-0001-5624-3552.

[3] Mestrado em Saúde Coletiva pela São Leopoldo Mandic.

[4] Graduanda de Medicina – FAMED/UFAL.

[5] Graduanda de Medicina – FAMED/UFAL.

Enviado: Agosto, 2022.

Aprovado: Novembro, 2022.

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Priscila Nunes de Vasconcelos

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