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Estágio supervisionado do curso de pedagogia nos anos iniciais do ensino fundamental durante a pandemia da COVID 19: relato de experiência

RC: 127724
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/curso-de-pedagogia

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ALVES, Marcelo dos Reis da Silva [1]

ALVES, Marcelo dos Reis da Silva. Estágio supervisionado do curso de pedagogia nos anos iniciais do ensino fundamental durante a pandemia da COVID 19: relato de experiência. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 09, Vol. 05, pp. 15-33. Setembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/curso-de-pedagogia, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/curso-de-pedagogia

RESUMO

O presente artigo busca analisar o impacto que a pandemia causada pelo coronavírus provocou em todas as áreas da vida humana, especialmente no ensino e nos agentes envolvidos no processo. Para tanto, este estudo visa abordar sobre o estágio supervisionado do curso de pedagogia durante a pandemia da COVID-19, seus principais desafios e possibilidades na proposta de criar um projeto de intervenção que, atendesse o estágio curricular do curso, auxiliasse os professores, além de promover a sugestão de atividades que, de forma lúdica, pudesse reconectar família, alunos, professores e estagiários neste período pandêmico. Assim, diante deste cenário de incertezas, e com a questão, é possível sugerir atividades mais atrativas e dinâmicas para os alunos com base nas observações feitas durante o estágio supervisionado? Fomos impelidos, enquanto estagiários, a elaborar um projeto de intervenção, o qual, pudesse propor aos professores, pais e alunos, transformar as casas em verdadeiros laboratórios de experimentações, motivando-os a manterem uma conexão durante este atípico processo ensino aprendizagem. A metodologia utilizada foi a revisão de bibliografia, através de artigos e legislações elaboradas durante esse período, neste caso específico, na rede estadual de ensino do Estado de Minas Gerais, local de realização do estágio; além das observações feitas ao longo de 2020, enquanto estagiário. O resultado deste estudo demonstrou a importância do curso de pedagogia, sua capacidade de desenvolver no futuro profissional um aprendizado que promova aos alunos dos anos iniciais, se adaptarem aos diversos contextos que a vida impõe. Os resultados demonstram que, apesar do contexto em que o ensino aconteceu, foi possível realizar um estágio satisfatório, propondo atividades de apoio ao professor, e compreender como se deu o ensino através de um estágio feito através de observações.

Palavras-chave: Pandemia, Ciências, Estágio, Aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO

É notório que o ser humano nasceu para aprender, descobrir e apropriar-se das descobertas, o espaço escolar é considerado por muitos autores o lugar onde, por excelência, deve ocorrer o processo formal de ensino-aprendizagem. Neste ambiente, as táticas e estratégias utilizadas pelos professores podem contribuir na aquisição de conhecimentos, como exemplo, a utilização de atividades lúdicas no processo de ensino-aprendizagem das crianças dos anos iniciais do ensino fundamental.

O estágio supervisionado do curso de pedagogia, é uma excelente ferramenta para que o futuro profissional, adquira estas táticas e estratégias. No meu caso, a proposta de estágio consistia em três etapas, uma em cada semestre. Na primeira, os alunos foram instigados a conhecer a estrutura física, profissional e material da concedente e, ao final, desenvolver um relatório com as observações feitas. A segunda e terceira etapa, seriam o acompanhamento em sala de aula, no formato tradicional, porém, com o início da pandemia, muitas adaptações foram feitas a fim de não prejudicar os estagiários, logo, viu-se também a oportunidade de observar o processo ensino aprendizagem por uma ótica até então, inédita.

Considerando esta nova proposta de estágio, que era elaborar um projeto de intervenção, a partir das observações feitas, tive despertada a vontade de aprofundar os conhecimentos sobre como se dava o ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ao final, após observar as limitações impostas pela pandemia, o projeto de intervenção foi feito no sentido de propor atividades que buscasse, considerando o ensino remoto, práticas lúdicas de ciências que poderiam motivar alunos, pais e professores.

Sabe se que, o lúdico é um mecanismo facilitador para se conhecer profundamente a criança. Assim, jogos, brincadeiras, cantigas etc., deveriam fazer parte do material didático do professor. No tocante a esse recurso, Nicolaides (1996, p. 47) afirma que, são os materiais didáticos “juntamente com o professor, que fornecem os insumos necessários para o desenvolvimento da aprendizagem”. Lajolo (1996, p. 3) aponta que, por material didático entende-se “o conjunto de objetos envolvidos nas atividades-fim da escola”, englobando, aí, desde o quadro e giz até um objeto qualquer que o professor utilize para fins pedagógicos como tesoura, cola, revista, jornal etc. O que faz com que ele se torne, então, indispensável no processo de ensino/aprendizagem.

Por esse motivo, a seguir são apresentados vários conceitos que perpassam o meu objeto de estudo.

2. PANDEMIA, ENSINO REMOTO, EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, ESTÁGIO SUPERVISIONADO: CONHECENDO E COMPREENDENDO ALGUNS CONCEITOS

A investigação iniciou-se pela compreensão de conceitos que até o início do ano de 2020 não faziam parte da realidade da maioria da população brasileira. Conforme aponta Gori (2006), ao conhecermos o cotidiano de uma realidade investigada, ampliam-se as possibilidades de intervenção realmente significativas.

2.1 PANDEMIA: CONCEITO E CONSIDERAÇÕES

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), define pandemia como uma “disseminação mundial de uma nova doença, quando uma epidemia, um surto que afeta uma região, se espalha por diferentes continentes, com transmissão sustentada de pessoa para pessoa”. (SCHUELER, 2020). Brito et al. (2020, p. 55) aborda que a “COVID-19 é uma doença infectocontagiosa causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) ”, e que “segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 31 de dezembro de 2019, em Wuhan, na China, foram descritos os primeiros casos de pneumonia causada por um agente desconhecido e reportados às autoridades de saúde”. Oliveira et al. (2021) pontua que em 11 de março de 2020, a pandemia causada pelo coronavírus foi declarada pela OMS, a esta altura, todos os continentes já haviam sido atingidos; a fim de minimizar os números de mortes e conter a doença, ações básicas foram recomendadas, distanciamento social, testes massivos e tratamento dos casos identificados. Com reflexos negativos na saúde, economia, vida social, esportiva, educação, dentre outras dimensões, Medeiros (2020), destaca que, ela “nos impõe uma agenda de muita pressa para algo que se faz com tempo”.

As instituições escolares foram muito afetadas, neste viés, como consequência, Gatti (2020), destaca que as situações provocadas pela pandemia, causarão alterações substantivas, quer do ponto de vista cultural, social ou econômico, e que seus efeitos transformarão as formas de conceber a vida, as relações, os valores, o trabalho, o consumo e a educação.

2.2 ENSINO REMOTO: SURGIMENTO, POSSIBILIDADES E DESAFIOS

 A Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96) é considerada a norma mais importante, pois, “estabelece a finalidade da educação no Brasil, sua organização, os órgãos administrativos responsáveis, níveis e modalidades de ensino” (BRASIL, 1996, p. 7). No artigo 21 da LDB 9394/96, estão previstos os níveis de ensino, respectivamente, “educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio”; além da “educação superior” (BRASIL, 1996, p. 7). Destacam-se ainda as modalidades de Educação Profissional ou Técnica, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos, e o Ensino à Distância (EAD).

Diante disto, é necessário destacar que o termo “ensino remoto” se deu em virtude da pandemia da Covid-19, e que muitas vezes é erroneamente confundido com o Ensino à Distância. Behar (2020), apresenta uma posição que confronta a diferença dessas modalidades, ao destacar que “Ensino Remoto Emergencial (ERE) é uma modalidade de ensino que pressupõe o distanciamento geográfico de professores e alunos, adotada de forma temporária nos diferentes níveis de ensino, por instituições educacionais do mundo inteiro, para que as atividades escolares não sejam interrompidas”, aponta ainda que, no ERE “as aulas podem ocorrer num tempo síncrono com videoaula, aula expositiva por sistema de web conferência, e as atividades seguem durante a semana no espaço de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) de forma assíncrona”. A presença física dos envolvidos nesse processo de ensino aprendizagem, é substituída por uma presença digital.

Em relação à situação vivenciada pela comunidade escolar, observa-se que, dada as diferenças socioeconômicas, além das iniciativas distintas nas esferas governamentais, no que tange o ensino remoto, Oliveira et al. (2020) alertam que, “esse fechamento afetou o calendário escolar, sendo incerto o seu impacto sobre o aprendizado dos alunos”, e que as “diferenças no rigor da quarentena, na sua duração e nas estratégias adotadas pelas famílias e escolas são apenas alguns dos fatores que poderão influenciar a trajetória desses alunos.”

2.3 ENSINO REMOTO E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS

O sucesso do processo ensino aprendizagem é resultado de um planejamento bem elaborado e que envolvem diversos elementos existentes no contexto escolar, desde o Projeto Político Pedagógico (PPP), planejamentos adequados para as aulas, currículo contextualizado, avaliações constantes e análise adequada dos resultados, além de estrutura profissional, tecnológica até a parte física/estrutural. Segundo Filho e Silva (2016) é imprescindível o ato de planejar a ação educativa e ao fazer pedagógico, e que muitas vezes ele nos dá dimensão daquilo que precisa ser melhorado, transformado e até mantido. Pode-se considerar que este ponto permite a reflexão sobre a diferença entre Educação a Distância e o Ensino Remoto. Já o Decreto 9.057, de 25 de maio de 2017, traz em seu artigo primeiro o conceito de Educação a Distância:

Art. 1º Para os fins deste Decreto, considera-se educação a distância a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos. (BRASIL, 2017, p. 1).

No decreto observam-se as inúmeras exigências, credenciamentos, autorizações, avaliações e acessibilidade, as quais devem ser asseguradas nos espaços e meios utilizados. Martins e From (2016, p. 2), enfatizam que o Ensino à Distância é “uma modalidade de educação que pode possibilitar formas diferentes de ver o mundo, de ensinar e aprender”, democratiza oportunidades educacionais, possibilita a constituição de emancipação do indivíduo no contexto social, produzindo conhecimento coletivo e individual, os quais são favorecidos por ambientes digitais e interativos de aprendizagem. (MARTINS; FROM, 2016). Por anos, ouviu-se muito sobre EAD, aspectos relacionados a preconceitos, falta de esclarecimento da sociedade, do empregador que não via com “bons olhos” o usuário do Ensino à Distância; hoje, tal visão está ultrapassada, além de que, seguimos cada vez mais para um ensino híbrido, onde as noções do ensino presencial são utilizadas no Ensino à Distância, bem como o contrário. Ampliando essa discussão, Lemgruber (2007), destaca que:

A tendência é que as fronteiras entre educação presencial e a distância cada vez mais percam demarcações rígidas. Cursos à distância recorrem a atividades presenciais como estratégias para conseguir um melhor rendimento, aumentando o sentimento de fazer parte de um grupo, o que pode ser decisivo para evitar a evasão. Por sua vez, a utilização das tecnologias de informação e comunicação nos cursos presenciais será corriqueira. (LEMGRUBER, 2007, p. 6).

Após essas breves considerações, pode-se constatar que o “Ensino Remoto”, é uma forma emergencial para suprir as necessidades da continuidade dos estudos durante a pandemia, não podendo ser comparado com a Educação a Distância, a qual, conforme mencionado anteriormente, possui toda uma estrutura, técnica, legislativa, profissional e estrutural de funcionamento e distribuição. Provavelmente, se docentes e instituições escolares estivessem mais familiarizados com as novas Tecnologias de Informação e Comunicação, compreenderiam aspectos do processo da Educação a Distância, e o ensino remoto seria menos desgastante. Oliveira et al. (2020), destaca:

Se no Ensino presencial o papel do professor é fundamental, no Ensino remoto isso, provavelmente, também seria o caso, desde que este tivesse familiaridade com tecnologias e técnicas eficazes de Ensino a distância. No caso concreto, isso resultará na manutenção ou ampliação das desigualdades, dada a impossibilidade de desenvolver estratégias mais genéricas e robustas, no curto prazo, para suprir as carências no setor público. (OLIVEIRA et al. 2020)

3. A PANDEMIA EM MINAS GERAIS: O ENSINO REMOTO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A pandemia instituiu uma mudança radical na organização da Educação Básica, fazendo com que os sistemas educacionais das diversas esferas administrativas, se organizassem em caráter emergencial, para promover a educação formal. Para tanto, foi adotado em larga escala o ensino remoto, Oliveira et al. (2021, p. 89), aponta que “as Secretarias de educação não estavam preparadas para essa situação”, e afirma que essa reorganização se deu em um período bastante curto, promovendo “incerteza e ambiguidade dos programas desenhados”. Em Minas Gerais, o dia 12 de março de 2020 foi marcado pelo início das tomadas de decisões por parte do Governo para nortear a situação da educação no Estado. A Secretaria de Estado da Educação disponibilizou em seu site, um link com o histórico das normas e decretos estabelecidos desde aquela data, com a informação de que, essas seriam “uma série de medidas de enfrentamento e combate a COVID-19”. Inicialmente, o Decreto 113, de 12 de março de 2020, estabeleceu o início da situação emergencial de saúde no Estado; em 15 de março de 2020, duas ações impactaram diretamente o ensino, o Decreto 47.886, de 15 de março de 2020, estabelecendo normas para quarentena, e o trabalho remoto dos servidores, na sequência houve a deliberação sobre a suspensão das aulas no Estado.

Após debates, estudos e diálogos, a SEE/MG desenvolveu um conjunto de ferramentas para minimizar os impactos da suspensão das aulas presenciais. Dentre esses recursos estão: os Planos de Estudos (PETs); o Programa de televisão “Se liga na Educação”; o aplicativo “Conexão escola”; orientações e materiais para o “Regime de estudo não presencial”.

Os Planos de Estudos Tutorados (PETs), apostilas com os conteúdos das disciplinas a serem desenvolvidos durante o período, foram elaborados com base no Currículo Referência de Minas Gerais e a BNCC. Esses planos foram constituídos de 7 volumes de conteúdos e um avaliativo; em cada volume há planos com a previsão de 20 a 24 aulas mensais, as quais são divididas por semanas e dias. É interessante pontuar que, os PETs apresentam conteúdos que abordam as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, em interdisciplinaridade com Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Ensino Religioso e, são disponibilizados para as seguintes modalidades de ensino, integral, regular, indígena e modalidades especiais.

Complementando as estratégias adotadas pelo Estado de Minas foi criado o programa de TV intitulado “Se liga na Educação”, transmitindo aulas pela Rede Minas, contemplando os conteúdos e as orientações previstas nos PETs, priorizados para gravação, aqueles que os alunos apresentam maior grau de dificuldade. O aplicativo “Conexão Escola”, cuja navegação foi paga pelo Estado, possibilitou a postagem de materiais e interação entre os usuários, facilitando a compreensão dos conteúdos. Foi disponibilizado também no site “https://estudeemcasa.educacao.mg.gov.br/inicio”, guias práticos para alunos e professores, visando orientar sobre os materiais e execução, além do Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD) que visa prevenir o uso indevido de drogas e combater a violência entre jovens.

Nas orientações e nos materiais para o “Regime de estudo não presencial 2021”, constam: o documento que regulamenta o ensino nas escolas estaduais de Minas Gerais, documentos norteadores aos profissionais, como novidade o programa “Se liga nas Libras”, cujo intuito é facilitar a inclusão; a versão atualizada do aplicativo “Conexão Escola”; e os PETS para o Ensino Fundamental. Por tudo isso, pode-se perceber elementos que indicam a existência de um esforço, por parte do poder público estadual, para minimizar as implicações causadas pela pandemia no sistema educacional. Em relação à estratégia adotada pelo Estado, pode-se afirmar que existem pontos positivos e negativos. A parte favorável do ensino remoto adotado reside na possibilidade de dar continuidade às aulas. Por outro lado, de maneira repentina, professores, gestores, alunos e suas famílias tiveram que se adaptar a novos métodos e possibilidades de ensino, com condições e conhecimentos limitados, que comprometeram, à realização adequada do ensino remoto. Toda a sociedade foi exposta a uma realidade até então confinada aos limites dos muros da escola: a operacionalização do fenômeno educativo, o qual passou a realizar-se de formas ainda não vivenciadas no contexto escolar tradicional, demandando um amplo envolvimento das famílias de alunos e impondo novos desafios para educadores, gestores, governantes e sistemas de ensino, nos âmbitos, municipal, estadual e federal. Oliveira et al. (2021, p. 89), afirmam que, “ao implementar um programa de educação ancorado no uso de tecnologias, as Secretarias potencializaram a discricionariedade dos atores, induzindo níveis distintos de comprometimento e motivação”.

Diante do exposto ao longo do texto, nota-se o quanto foi e é difícil lidar com este novo cenário educacional, afinal, professores, pais e alunos necessitam de materiais e conhecimentos específicos para mediar o processo de ensino e aprendizagem. Cada um passou por momentos de adaptação, transformação e amadurecimento sobre o assunto. Segundo Cunha (2020), “A crise do coronavírus terá efeitos perenes sobre a forma de aprender. O isolamento está criando novos hábitos e comportamentos, tanto nas famílias, quanto nas instituições de ensino, que estão revendo uma série de processos, estruturas e metodologias”. Considerando as propostas e os programas adotados pelo governo de Minas Gerais, as escolas passaram a utilizar tais estratégias, mas esbarraram em algumas dificuldades, principalmente no que tange ao acesso real e igualitário, de recursos tecnológicos e digitais, pelos alunos. Nesse sentido, Cunha (2020), afirma que, “nem todos os municípios possuem estrutura de tecnologia para oferta de ensino remoto e nem todos os professores têm a formação adequada para dar aulas virtuais”. Para a família e o aluno, diante das diferenças sociais, culturais e intelectuais, também encontramos uma acentuação das desigualdades no acompanhamento e no auxílio para fazer as atividades. Assim, entende-se que, o apoio da família é fundamental para a realização do ensino fora do ambiente escolar, afinal, o aluno estando sozinho, dificulta a realização das atividades e consequentemente, a aquisição de novos conhecimentos.

Muitas das ações propostas para o processo de ensino e aprendizagem nesse contexto são dinâmicas, diversificadas, podendo inclusive, caso bem executadas, minimizar os impactos causados pela falta do ensino presencial. Neste sentido, Oliveira et al. (2021, p.  100), destaca que “se por um lado, há os que manifestam descontentamento, há os que estão satisfeitos” afirmando inclusive que “os conteúdos têm contribuído para a formação; que as aulas estão bem elaboradas e que os professores têm sido competentes”. No entanto, muitas vezes, na contramão do que os autores destacam, muitos alunos, devido à fragilidade das condições socioeconômicas, não possuem acesso ao material disponibilizado porque não dispõem de internet em sua residência e ficam em condições desiguais em relação aos demais estudantes. Dentre estes, podemos destacar também os alunos de Zona Rural, onde muitas vezes o acesso à internet é limitado. Por essas e outras questões, o papel da escola, na pessoa do gestor, corpo técnico e professores, são fundamentais para viabilizar e acompanhar, na medida do possível, conforme a realidade dos alunos, a efetivação do processo de ensino e aprendizagem, mesmo que remotamente.

4. ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PEDAGOGIA, PROJETO DE INTERVENÇÃO: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

No que concerne ao estágio supervisionado, devido ao isolamento social e a consequente suspensão das atividades escolares presenciais, o Curso de Pedagogia do CEAD/UFOP viu a necessidade de suspender suas atividades de estágio, visto que não estavam mais disponíveis às escolas, campos de estágio, nas quais os estagiários realizariam esta parte de seu trabalho formativo. Tais atividades permaneceram suspensas no período de 17 de março até o dia 16 de junho de 2020, quando o Ministério da Educação, o MEC, autorizou a realização, de maneira remota, as atividades de estágio supervisionado. Com isso, o Colegiado do curso de Pedagogia e as professoras da disciplina reuniram esforços para alterar o Plano de Estágio de maneira a alinhá-lo às recomendações do MEC.

Desta forma, estabeleceu-se uma nova forma de organização dos estágios supervisionados, de modo que sua realização fosse possível, na realidade de funcionamento das escolas, durante a suspensão das aulas presenciais. Considerando-se as formas diversas de realização do fenômeno educativo neste contexto, entendeu-se que a etapa de observação deste fenômeno, prevista para o Estágio Supervisionado II, poderia realizar-se plenamente, com base nestes novos formatos.

O Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia da UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto, prevê ao discente, a realização de estágio supervisionado, conforme destaca o referido Projeto, visa reconhecer o espaço escolar, seus integrantes e a prática pedagógica, direcionando os estudos para a profissão para a qual está sendo formado, reconhecer o caráter político e pedagógico do fazer escolar, observar, refletir e propor soluções de ensino como uma prática profissional e social do docente para com os alunos (UFOP, 2009).

O Estágio I consiste em reconhecer o espaço escolar, já o II, em reconhecer os ocupantes deste espaço, em especial a sala de aula, por fim o III, o qual é a elaboração de um projeto de intervenção, com base nos resultados encontrados no I e II. No ano de 2019, o Estágio I foi realizado normalmente, porém, com o início da pandemia em 2020, o II e o III, tiveram que passar por readequações, a fim de refletir a nova realidade. Diante destes desafios, e em atenção a todas as legislações que nortearam o ensino durante a pandemia, o Curso de Pedagogia do CEAD/UFOP, através dos professores responsáveis pelo estágio, buscou formas de adaptar a realização do estágio à nova realidade imposta pela pandemia, assim, foi elaborado uma proposta de adaptação das disciplinas, estágio supervisionado II e III do curso de licenciatura em Pedagogia para os semestres de 2020/1 e 2020/2, nesta proposta, além das diretrizes às instituições concedentes e aos alunos, temos que:

Os objetivos propostos para as disciplinas de Estágio Supervisionado II e III podem ser alcançados mesmo dentro da realidade e das possibilidades oferecidas durante o período de isolamento social necessário pela pandemia. Isso porque, o fenômeno educativo está ocorrendo de outras formas. As etapas, tanto da observação (prevista no Estágio Supervisionado II) quanto do desenvolvimento de projetos de intervenção (previsto no Estágio Supervisionado III) são possíveis de serem realizadas, considerando as metodologias adotadas pelas escolas as quais os estudantes do curso de Pedagogia estão vinculados para a realização dos estágios. De acordo com um levantamento informal realizado junto aos estudantes, a maioria das instituições concedentes, estão adotando metodologias de educação remota. (UFOP, 2020, p. 4).

Além disso, o documento destaca que:

Tendo em vista o contexto atual, considera-se possível a realização das disciplinas de Estágio Supervisionado, de maneira excepcional, pelo entendimento que tanto a observação do fenômeno educativo no sistema escolar (consequentemente a atuação do docente) quanto a elaboração do projeto de intervenção, possam ser adaptados à realidade local dos estagiários, mantendo os objetivos das disciplinas com ganhos em termos de aprendizado. A complexidade e a falta de projetos e planejamento para o campo da educação que como os demais campos da sociedade foram surpreendidos diante de uma situação nova e inesperada, proporcionada com o advento da Pandemia. Com certeza, forneceram elementos que comporão, por si só, um campo fértil para discussões e para o desenvolvimento da criatividade num período em que a educação, inexoravelmente, terá que promover mudanças. Para além das dificuldades em realizar os estágios supervisionados como estavam previstos nos planos de ensino, esse momento deve ser tomado como uma oportunidade para que os estudantes do Curso de Pedagogia se tornem agentes das mudanças que se fazem necessárias no contexto atual e no futuro do campo educacional. (UFOP, 2020, p. 8).

Após implantação da nova proposta de estágio, com a devida anuência da concedente, as observações foram realizadas na Escola Estadual José Eduardo de Aquino, situada à Avenida dos Bálsamos, número 419, Bairro Morada Nova, em Patrocínio/MG, no que tange os meios de ensino-aprendizagem, durante o período de pandemia da COVID-19. Localizada numa zona mista, é cercada por igrejas, comércios, e casas residenciais. Possui 18 salas de aulas, com uma média de 46 metros quadrados cada e uma média de 30 a 35 alunos por sala. Possui quadra de esportes coberta, biblioteca, sala de secretaria, almoxarifado, área verde, laboratório de informática, quadra de esportes descoberta, banheiros, refeitório, auditório, sala de diretoria, sala de recursos multifuncionais para atendimento educacional especializado (AEE), cozinha, banheiro adequado aos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, despensa e pátio descoberto. Acesso à internet por banda larga, laboratórios, sala de recursos multifuncionais para atendimento educacional especializado, e diversos equipamentos de multimídia. Presta serviços relacionados aos anos iniciais e anos finais do Ensino Fundamental, Médio, EJA e Educação Especial.

Durante a pandemia, a Escola interrompeu o atendimento presencial, mas manteve o ensino à distância a partir das iniciativas do Governo do Estado, considerando os programas e iniciativas mencionadas anteriormente. Disponibilizou o material impresso aos alunos que não possuíam acesso à internet, ou àqueles que moravam na Zona Rural, possibilitando a estes, o máximo de aprendizado possível.

Muitos se depararam com algumas adversidades, entre elas: dificuldades ou falta de acesso ao material impresso, ou aos meios digitais, seja por morar na zona rural ou por falta de acesso à internet e apoio das famílias na realização das atividades, fez-se necessário a elaboração desse projeto que visa desenvolver uma maior autonomia dos alunos na realização das tarefas visando uma aprendizagem de maneira significativa.

E foi assim que, tendo à disposição os três objetos de estudo, a tríade, professor/aluno/meio didático-pedagógico, os estagiários do curso de Licenciatura em Pedagogia do CEAD/UFOP tiveram a possibilidade de observar o fenômeno educativo, tal como ele está ocorrendo neste momento ímpar da nossa história. Foi uma possibilidade única de observação do fenômeno educativo, ocorrido de maneira singular, em um contexto muito específico, portanto, uma oportunidade sem precedentes, possibilitada pela proposta inovadora de estágio remoto, elaborada pela equipe do CEAD/UFOP, através da qual é possível conhecer, por meio do olhar dos estagiários do curso, como se deu o ensino remoto emergencial em diversas escolas do estado de Minas Gerais.

Cabe a nós, enquanto sociedade, entendermos as lições que vão ficar desta experiência singular, mas, para entender, é fundamental conhecer. Com base neste pressuposto, após as observações, foi proposto a elaboração de um projeto de intervenção, com a finalidade de apresentar propostas de atividades recreativas às crianças, alunos dos primeiros anos do Ensino Fundamental, atendendo às especificidades do Currículo Referência de Minas Gerais; neste caso específico, as atividades foram voltadas para as disciplinas de ciências e artes.

Millar (2003), destaca que, o conhecimento científico traz ao indivíduo, a possibilidade de discutir e auxiliar na decisão sobre assuntos que envolvam a necessidade deste tipo de conhecimento, por exemplo, política energética, transporte, teste de drogas, tratamento de resíduos; além disso, aborda que as ciências são as principais fontes de aquisição de cultura, e que o indivíduo precisa ser capacitado a apreciá-las e entendê-las. Nesse viés, a BNCC, enfatiza que, o ensino de ciências pode promover situações nas quais o aluno possa observar o mundo, questionar, planejar e realizar atividades de campo (experimentos, observações), além de “aprimorar seus saberes e incorporar, gradualmente, e de modo significativo, o conhecimento científico”. (BRASIL, 2018, p. 323). No Referencial Curricular de Minas Gerais, temos que:

Nos anos iniciais, as crianças já se envolvem com uma série de objetos, materiais e fenômenos em sua vivência diária e na relação com o entorno. Tais experiências são o ponto de partida para possibilitar a construção das primeiras noções sobre os materiais, seus usos e suas propriedades, bem como sobre suas interações com luz, som, calor, eletricidade e umidade, entre outros elementos. (MINAS GERAIS, 2018, p. 741).

Considerando os aspectos negativos do ensino remoto, questiona-se, de que maneira os alunos podem aprender de forma interativa? Dada a importância das ciências, conforme destacado pelos autores e obras citadas, temos nessa disciplina que, em interdisciplinaridade com Artes, são uma importante ferramenta, para auxiliar no aprendizado dos conteúdos, despertando nas crianças o interesse pelas diversas áreas científicas, tais como, o cuidado com o meio ambiente, higienização, reciclagem, reaproveitamento de alimentos, processos físicos e químicos, dentre outros.

São várias estratégias didáticas metodológicas que os professores podem reformular para trabalhar de forma interdisciplinar os conteúdos das Ciências e das Artes. Considerando as dificuldades enfrentadas pelas famílias e alunos, sejam da Zona Rural, ou que, por algum outro motivo, não tiveram acesso apropriado aos meios digitais, não receberam adequadamente as orientações para o desenvolvimento de certas atividades, pode-se inferir que essa lacuna culminou no desinteresse pela execução.

Como sugestão, para minimizar estes resultados negativos, através do estágio, percebeu-se a importância de que  professores  confeccionassem atividades complementares com um caráter maior de ludicidade, envolvendo as disciplinas de Ciências e Artes, possibilitando aos alunos e suas famílias, transformar as casas em “laboratórios” de experimentação, as quais, poderiam ser impressas e enviadas junto aos materiais fornecidos pelo Estado, contendo as devidas orientações, utilizando uma linguagem adequada ao público alvo. Sugeriu-se ainda que, o professor promovesse atividades complementares, apoiados por projetos e planos de aulas sobre experimentos de fenômenos biológicos, explorando abordagens amplas sobre os conteúdos de ciências, buscando despertar nas crianças a importância de compreender a relação entre o ser humano e a natureza, bem como, os impactos da mesma, estimulando o pensamento crítico e as descobertas, desenvolvendo ainda a linguagem oral e escrita sobre a natureza e preservação do meio ambiente, estimulando a compreensão sobre a importância da iniciação científica, incentivando o conhecimento e a importância dos profissionais que lidam com os seres vivos e a natureza, além de promover a interação entre os alunos e suas famílias.

4.1 SUGESTÕES DE ATIVIDADES CONSTANTES NO PROJETO DE INTERVENÇÃO APRESENTADO DURANTE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO

Ao longo do curso de Pedagogia, várias foram as oportunidades de aprofundamento em relação à temática sobre a utilização do lúdico e a sua contribuição no desenvolvimento de aprendizagens significativas na disciplina de Ciências. Assim, atendendo ao projeto de intervenção, foi elaborado um roteiro de sugestões de atividades complementares para crianças dos primeiros anos do Ensino Fundamental, intitulado “Em tempos de pandemia: Ciências, da escola à casa”, buscando estimular o pensamento crítico e descobertas, despertar a autonomia na execução das atividades, estimular a exploração e a curiosidade da criança em relação aos fenômenos da natureza, contemplando os seguintes objetivos:

(EF01CI01X) identificar, nomear e comparar características de diferentes materiais presentes em objetos de uso cotidiano, discutindo sua origem, os modos como são descartados e como podem ser usados de forma mais consciente e sustentável. (EF01CI01MG). Perceber o papel das ciências e das tecnologias na vida cotidiana e seus impactos no meio ambiente reconhecendo a necessidade de construção de uma comunidade global sustentável para impedir a destruição da diversidade da vida. (MINAS GERAIS, 2018, p. 750).

As sugestões foram enviadas aos professores, com passo a passo e as orientações sobre os recursos materiais necessários. Para auxiliar a família e os alunos, sugeriu-se a confecção de um material impresso, além de vídeo aula com as orientações, enviada por meio de aplicativos. Como metodologia, as sugestões de atividades foram inspiradas nos portais, Revistas Super Interessante, Superprof, Hypeness, Portal EBC.

A seguir, são disponibilizadas algumas das sugestões constantes no projeto de intervenção, elaborado durante o estágio:

a) chuva divertida, material: copo, óleo de cozinha, corante, pote de vidro e água. No copo, coloque a metade de óleo e 2 colheres (sopa) corante, misture. Encha o pote com água e, posteriormente, acrescente a mistura de óleo e corante. No início, a mistura flutua, porém, depois de um tempo, ela começa a cair. Depois o óleo volta a flutuar e a chuva inverte o sentido. Você está brincando com a densidade dos líquidos. A mistura de corante e óleo é mais densa que a água, caindo, mas depois de um tempo, o corante mistura com a água, perdendo o contato com o óleo, assim o óleo fica menos denso, voltando a flutuar mais uma vez para a superfície do pote;

b) tornando na garrafa, material: duas garrafas, fita crepe, água. Em uma das garrafas coloque água até a metade, posteriormente com o auxílio da fita crepe, conecte a outra garrafa (ponta com ponta), após isso, gire um pouco o líquido da garrafa superior, criando um vórtice enquanto drena para dentro da garrafa em baixo. Como isso acontece? Enquanto a água vai para baixo, o ar vai para cima, resultando em um tornado em espiral. Para tornar seu experimento de física ainda mais interessante, você pode adicionar corante ou glitter, tornando o efeito diferente e colorido;

c) enchendo balões sem assoprar, material: fermento biológico, garrafa, açúcar, água morna, bexiga, luva ou saquinho de plástico. Na garrafa, coloque o fermento biológico, 3 colheres de açúcar e a água morna, agite bem. Prenda a boca da bexiga, luva ou saquinho, na boca da garrafa, e depois de duas horas, irá se encher. Mas o que aconteceu? A composição do fermento é feita de fungos que se alimentam de açúcar, e também gostam de ambientes quentes. Assim, ao se alimentarem, produzem gás carbônico e etanol, que ao flutuar enchem a bexiga. Chama se fermentação esse processo;

d) lâmpada de lava, aprendizado sobre densidade, misturas químicas e liberação de gases, material: 1 recipiente transparente, água, óleo de cozinha, corante vermelho, comprimido efervescente sem cor. No recipiente, coloque 1 medida de água, posteriormente duas de óleo, aguarde até que eles fiquem separados. Depois pingar algumas gotas de corante. Por ter o mesmo peso da água, o corante irá mergulhar pelo óleo e colorir a água no fundo da garrafa. Em seguida, pegue o comprimido efervescente sem cor e coloque no recipiente, ao chegar ao fundo, ele vai começar a liberar bolhas coloridas, uma vez que o gás emitido é mais leve que a água e o óleo.

Em relação à avaliação, sugeriu-se pedir aos pais que, se possível, encaminhassem fotos. Não sendo possível, houve ainda a possibilidade de as crianças utilizarem uma folha em branco para desenhar cada uma das atividades, que seriam recolhidas para que fosse feito um mural virtual e compartilhado com a comunidade através de mídias sociais. O professor, também, poderia entrar em contato telefônico, e por um breve período conversar com a criança sobre as atividades. Assim, a avaliação teria como base as situações descritas acima, considerando critérios subjetivos, analisando a participação e interesse, e os objetivos que são as atividades executadas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado mais perceptível durante o ensino remoto foi a possibilidade de continuidade dos estudos em todos os níveis de ensino, porém, nas instituições públicas, sem a qualidade e os meios necessários para obtenção de resultados satisfatórios. No tocante a essas condições, observa-se que, muitas ações foram tomadas pelo Estado, na teoria, muito dinâmico, diversificado e pôde, quando bem executado, minimizar os impactos causados pela falta do ensino presencial. Porém, cabe destacar que, infelizmente, muitos alunos, devido às condições financeiras, não possuíam acesso ao material disponibilizado, visto que, ele exigia acesso aos meios de comunicação e mídias sociais, muitos destes, não tinham acessos, assim, ficam em condições desiguais em relação aos que têm, dentre estes, podemos destacar também os alunos de Zona Rural, onde muitas vezes o acesso à internet é limitado.

Por essas e outras questões é que, o papel da escola, na pessoa do gestor, corpo técnico e professores, são fundamentais para o acompanhamento, na medida do possível, da realidade dos alunos, buscando uma forma de intervir quando possível e necessário. No caso em questão, considerando as dificuldades dos alunos, a escola buscou imprimir o material e levar para aqueles alunos que não possuem acesso à internet, além de oferecer apoio aos casos mais específicos.

Através do presente trabalho foi possível identificar a “Escola” em todas as suas dimensões, inclusive sua subsistência, mesmo em meio às situações críticas que a pandemia causou.  Foi possível compreender que a missão da mesma vai além das palavras “bonitas” contidas em sua missão, e que de fato, atende aos princípios que visam uma educação pública, gratuita e de qualidade.

Foi possível ainda compreender que a utilização dos recursos disponíveis (Planos de Estudos Tutorados, programa da TV “Se liga na Educação”, e o aplicativo “Conexão Escola”) ainda que limitados, quando utilizados com planejamento e responsabilidade, possibilitam atingir as potencialidades e suprimir a falta do ensino presencial.

Diante de todo exposto, e do desafio de propor atividades de intervenção, é compreensível que o futuro pedagogo, ou qualquer outro profissional em educação que pretenda trabalhar de forma reflexiva e atuante, deve buscar uma mudança qualitativa na sua formação, principalmente no que concerne compreender a importância da educação em qualquer circunstância, a qual é um instrumento capaz de fomentar a formação humana, gerenciar recursos, metodologias, relacionamento entre alunos, pais, profissionais e sociedade, além de resistir a um período pandêmico.

Assim, entende-se que um aluno, em situações como uma pandemia, utilizando-se de atividades complementares mais atrativas e dinâmicas, pode identificar, na prática, situações que agregam conhecimento e transformam qualquer ambiente em que esteja, num lugar de aprendizado, rico e proveitoso. Tal afirmação, só foi possível graças ao projeto de intervenção, proposto durante a finalização do estágio supervisionado em Pedagogia. Essa reflexão demonstra que, as ações e práticas pedagógicas para o ensino, precisam atentar-se no cuidado para que os fenômenos não sejam estudados de forma dicotômica entre prática e teoria, fazer e saber, conhecimento experiencial e conhecimento formal, vez que, muitas vezes, tratamos do ensino apenas sobre o prisma teórico, sem, contudo, considerar o outro lado, a prática. Muitas vezes o ensino dá lugar a um enraizamento da teoria, não proporcionando aos alunos a descoberta de outras formas de fazer, de experimentar.

REFERÊNCIAS

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[1] Especialização em Gestão Pública, Graduação em Ciências Contábeis, Graduação em Pedagogia. ORCID: 0000-0002-2956-0509.

Enviado: Março, 2022.

Aprovado: Setembro, 2022.

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Marcelo dos Reis da Silva Alves

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