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O consumo de glúten, seus efeitos no corpo e no cérebro em relação à aprendizagem

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

AZEVEDO, Gilson Xavier de [1], COSTA, Gercimar Martins Cabral [2]

AZEVEDO, Gilson Xavier de. COSTA, Gercimar Martins Cabral. O consumo de glúten, seus efeitos no corpo e no cérebro em relação à aprendizagem. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 11, Vol. 06, pp. 38-57. Novembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/consumo-de-gluten

RESUMO

O glúten faz parte da alimentação humana há milênios. Ele está presente em pães, massas e bebidas de nosso cotidiano. Não obstante, nas últimas décadas, vem sendo estudados os efeitos dele em nossa saúde e sua influência em crianças na fase escolar. A questão norteadora desta pesquisa é se os estudos dessa revisão de literatura apontam para uma influência negativa do consumo de glúten sobre a aprendizagem. O objetivo deste artigo é desenvolver um aprofundamento bibliográfico sobre a questão do consumo de glúten em relação a seus efeitos sobre o corpo, o cérebro e por conseguinte, sobre a aprendizagem, a partir da noção de glúten e saúde, glúten e cérebro e glúten e aprendizagem. A metodologia proposta é a do estudo revisional bibliográfico com inferências dedutivas e análise qualitativa das fontes. Aponta-se por resultados uma ampliação dos debates acadêmicos sobre a relação ora investigada, além dos estudos ora consultados, que apontam para uma influência negativa do consumo de glúten em relação ao bom desenvolvimento da aprendizagem.

Palavras-chave: Aprendizagem, Alimentação, Glúten.

1. INTRODUÇÃO

Propondo discutir se os estudos dessa revisão de literatura apontam para uma influência negativa do consumo de glúten sobre a aprendizagem, a presente pesquisa busca discutir a questão do consumo de glúten em relação a seus efeitos sobre o corpo, o cérebro e por conseguinte, sobre a aprendizagem. Aborda-se para tanto, a relação entre cérebro e glúten, bem como a relação entre consumo de glúten e aprendizagem. Assim, busca-se evidenciar alguns referenciais que ampliem a percepção sobre esse aparente vilão do século XXI.

Inicialmente, a revolução industrial, desde o seu primado no século XVI, modifica os hábitos alimentares em nível em países, e porque não dizer, no mundo todo. Por último, já no século XX, o consumo de produtos industrializados parece ter se tornado um novo modismo. Aqui, entra o ponto central dessa discussão que é o glúten. Considerado por muitos como um vilão da alimentação e podendo estar por trás da epidemia de obesidade no mundo, essa proteína, ainda desconhecida em alguns de seus aspectos, tem um DNA com 90 mil genes, confrontando nossa estrutura celular com apenas 20 mil genes. (PANDOLFI, 2014).

Entre 1997 e 2013, a incidência de alergias alimentares cresceu 50% no mundo, mas em países como a China, esse índice é de 700%. Isso porque os hábitos alimentares entre os humanos, têm por base alimentos como carnes, arroz, feijão, produtos lácteos e o trigo, presente em pães, bolos, massas, pizza e cerveja. Isso fez com que o número de pessoas com alergia ao glúten de 1950 para cá, mais que dobrasse. Contudo, a humanidade consome trigo há pelo menos 10.000 anos. Assim, o problema pode estar nos cruzamentos das espécies, mas sobretudo, nos transgênicos associados ao uso de pesticidas e herbicidas. (PANDOLFI, 2014).

O que se sabe é que “não há um só sistema no organismo que não seja afetado pelo trigo. Da fadiga à artrite, do desconforto gastrointestinal ao ganho de peso, todos [esses males] têm como origem o alimento, de aparência inocente, que cada um de nós come todas as manhãs” (PANDOLFI, 2014, p. 31).

No cérebro, as substâncias viciantes do glúten, que são a gliadina e a glutenina, agem como drogas poderosas, como a heroína, por exemplo, viciam o sistema nervoso. A pelo menos cem anos, o glúten vem sendo pesquisado como um possível causador de doenças como é o caso da doença celíaca (intolerância ao glúten) que inicialmente pode aparecer na forma de diarreia, desconforto abdominal, vômitos, irritabilidade, falta de apetite e anemia, mas pode evoluir para o agravamento da deficiência de ferro, pode causar osteoporose, emagrecimento, dermatites, redução dos níveis de cálcio, alterações hepáticas e prisão de ventre. (HENRIQUES, 2018).

A alergia ao glúten, seja ela imperceptível ou grave, causa inflamações no corpo e no cérebro e afeta as emoções, a memória e o desenvolvimento corporal, provocando inclusive a perda progressiva da coordenação motora. Ela está associada a uma degeneração no cérebro (HENRIQUES, 2018). Assim, o glúten afeta o cérebro, o que pode representar uma piora no quadro de pessoas com TDAH, de autistas e de esquizofrênicos.

2. A DIETA DO GLÚTEN

A alimentação é uma questão que permeia as instâncias: cultural, social e econômica. Ela tem se modificado por meio dos séculos, de modo que no processo histórico marcado pela passagem da alimentação nômade para a sedentária, nota-se uma diversificação de opções que alteram concomitantemente a cultura, a sociedade e a economia.

Não obstante, as dietas alimentares são um fenômeno do século XIX, que ganhou força na Europa por causa da construção de uma visão estética da vida alimentar e do corpo. Entre carnes, verduras e legumes, as sementes processadas na forma de farinha, ganham lugar nas dietas do final do século XX de maneira proeminente, fazendo com que haja uma explosão no consumo de glúten e por conseguinte, o surgimento de problemas relacionados a esse consumo.

O glúten está presente nas massas, bolos, doces e alimentos em geral. Trata-se de um complexo de proteínas encontradas no endosperma de sementes como a do trigo e da cevada. Sua função na planta é servir de nutriente em sua fase inicial de vida, após a germinação; isso porque, é rica em prolamina, uma proteína presente nos grãos, juntamente com a gliadina e a secalina, a hordeína e a avenina. Mas, para simplificar, a parte solúvel dos grãos é chamada de gluteninas. (HENRIQUES, 2018).

Usadas em larga escala na indústria da panificação, as gluteninas, uma vez diluídas em água ou leite, são responsáveis pela viscosidade e elasticidade da massa, o que favorece o acréscimo de fermentos e da produção de alimentos que passam por amadurecimento biológico antes de serem assados, fritos ou cozidos.

Nos últimos 15 anos, cresceu a demanda de industrialização sem glúten e com isso, as dietas livres de gluteninas ou gluten-free diet (GFD) têm ganhado destaque na grande mídia pela sua associação a processos alérgicos ligados ao consumo, tais como: sensibilidade intestinal ou intolerância, além de artrites, reumatismos, diabetes do tipo mellitus, transtornos como o autismo, e até mesmo a enteropatia ligada ao HIV, isso porque, o glúten é a única proteína que não pode ser quebrada totalmente e transformada em aminoácido. (HENRIQUES, 2018).

As dietas livres de glúten também ganham força pelo aumento expressivo da obesidade em crianças e adultos. Embora os estudos que associam glúten a ganho de peso corporal serem ainda prematuros, nota-se uma “demonização” em relação ao uso exacerbado dele na dieta alimentar. Só para se ter uma ideia, 7% dos adultos britânicos evitam o glúten por causa de alergia ou de intolerância, e 8% o evitam por causa de um “estilo de vida saudável”, mas há que se ter cuidado com modismos, pois muitas pessoas que apresentam algum distúrbio alimentar, começam a desenvolvê-lo justamente porque excluíram algum tipo de alimento (BBC, 2015).

Um dos estudos mais recentes, associa a resistência insulínica ao consumo do produto, assim como a redução do gasto energético por aqueles que consomem glúten até 3 vezes por semana. Contudo, Henriques destaca que:

[…] esses efeitos metabólicos podem não ser de magnitude suficiente para causar [por exemplo] mudanças visíveis no peso corporal de homens e mulheres em seu cotidiano, uma vez que ocorrem mudanças diárias na quantidade e composição alimentar assim como no gasto energético por atividades físicas. Assim, até o momento não existem evidências científicas suficientes em humanos saudáveis que comprovem ou descartem a ideia de que a isenção de glúten induz a perda de peso ou que sua introdução na dieta facilitaria o ganho ponderal. (HENRIQUES, 2018, p. 18).

Alguns estudos apontados pelo mesmo autor, indicam a não redução de perda de peso em casos de interrupção do consumo de glúten, o que pode indicar que o seu consumo produz resistência ao emagrecimento. O autor também aponta que dietas sem glúten, tendem a uma redução do consumo de carboidratos, o que de fato influencia na perda de peso e maior disposição corporal.

A diminuição no consumo de glúten, tende a não se reverter a um consumo de carboidratos, de modo que, em geral acontece uma diminuição também no consumo calórico em torno de 300 kcal por dia, com aumento de ingestão de proteína, o que aumenta a sensação de saciedade, porém, os estudos apontados por Henriques (2018) afirmam que o aumento de consumo de proteínas é inicialmente acima da média diária, pelo menos por um espaço de três meses.

No que se refere à ingestão de gordura total, não encontramos diferenças entre os tratamentos. Em relação às frações de lipídeos, a ingestão foi semelhante entre os dois períodos (resultado não apresentado). Destaca-se ainda que, mesmo sendo observado através da análise dos diários alimentares, as preferências de substituição alimentar durante o experimento foram em grande parte compostas por biscoito polvilho e pão de queijo (ricos em gordura), isso não contribuiu para aumento de gordura na dieta, visto que elas mantiveram a dieta sem glúten independente do tratamento (HENRIQUES, 2018, p. 42).

O aumento de consumo de gordura em dietas free, tem por explicação a necessidade compensatória e de saciedade, pelo menos, é o que mencionam os estudos de Staudacher e Gibson (2015), Pantaleão et al. (2013), Soares et al. (2013) e Miranda et al. (2014). Desse modo, tal ingestão está associada ao menor consumo de carboidratos, mas também de fibras, o que pode configurar uma dieta de risco cardíaco. Contudo, grãos sem glúten e com fibras são potencializadores de dietas magras, pois além da saciedade, seus açúcares demandam mais energia corporal na digestão. Já as fibras provenientes de verduras e hortaliças melhoram significativamente o trato intestinal, quando não associadas a carboidratos, e quando associadas às proteínas da carne, aumentam o metabolismo, sobretudo nos jovens.

Acredita-se que os principais sintomas gastrointestinais relatados como mudança na frequência de evacuações, constipação e alteração na consistência das fezes, apresenta uma relação com o baixo consumo de fibras dietéticas, bem como redução na ingestão de frutas e legumes. Ressalta-se ainda que os sintomas acima foram relatados no tratamento com glúten assim como na intervenção sem glúten (HENRIQUES, 2018, p. 44).

Como já foi ressaltado, a alimentação à base de glúten, está sob suspeita a partir do século XXI, seja pelas doenças que provoca, seja pela intolerância ao seu uso. Nota-se que se vive uma espécie de pandemia do glúten, mas ao mesmo tempo, como já se fez menção, uma demonização dele. Há que se notar que do ponto de vista nutricional, o glúten perde para as carnes, frutas, legumes e demais grãos in natura, mas o que fazer em um país no qual a alimentação está baseada no pão francês, nas quitandas, no arroz e no feijão? Mais que pensar a alimentação dentro da perspectiva do imaginário de saúde, tenciona-se aqui refletir sobre a alimentação em sua interrelação com a aprendizagem, tema que será pensado a seguir a partir da relação entre glúten e cérebro.

3. A RELAÇÃO ENTRE GLÚTEN E CÉREBRO

A relação entre glúten e cérebro ganhou novas frentes de pesquisa nos últimos dez anos. A descoberta da doença celíaca acelerou esse processo de pesquisa. A dificuldade de concentração, talvez seja o sintoma mais comum entre os afetados parcialmente pelo consumo de glúten. Existem até especulações sobre se o consumo do glúten estaria ou não associado à depressão, à demência e ao Alzheimer (RAMOS, 2020).

Pesquisas recentes, apontam que as enzimas produzidas pela ingestão de trigo, de centeio, de aveia e de cevada são responsáveis pela lentidão do processo digestivo, ou seja, aos poucos, mais e mais pessoas demonstram dificuldade em digerir e quebrar os açúcares presentes no glúten (RAMOS, 2020).

Talvez, o maior problema seja o fato de que a não digestão completa do glúten, altere a química do organismo, portanto, do cérebro, pois a suposta má digestão do glúten prejudica a produção, por exemplo, de endorfinas, o que faz com que frentes de pesquisa associem seu consumo à depressão. Alterações na produção das endorfinas afetam a sensação de dor, de prazer e até do controle de apetite, ou seja, uma associação possível com o ganho de massa gorda pelos que consomem formas variadas de glúten.

O nome que se dá aos fragmentos de proteínas não digeridos pelo estômago é “péptidos”, substâncias que causam inflamações no organismo e podem desencadear reações alérgicas. Aqui parece estar a questão central, pois o glúten em seus efeitos digestivos, parece afetar tanto as células nervosas do intestino, quanto do cérebro ao cair na corrente sanguínea. O cérebro literalmente incha, porque o glúten passa a funcionar como uma toxina no corpo, semelhante a uma picada de inseto. O corpo entra em um estado de fadiga crônica, dado que pode afetar a absorção de ferro, de zinco, de vitamina B6 e de outros nutrientes. (RAMOS, 2020).

Por outro lado, alguns pacientes podem não apresentar fadiga, isso porque o corpo elabora uma reação inversa nesses pacientes, que apresentam uma irritação crônica, dado que os “péptidos” provocam uma lentidão cerebral em processar informações. Aqui, vale ressaltar que tal hipótese é a principal linha de quem pesquisa glúten e dificuldades de aprendizagem. O problema inicia com uma pequena irritação das paredes do estômago.

Quando não existe suficiente ácido no estômago, as partículas de glúten dirigem-se de forma incompleta, pelo que as mesmas não são capazes de passar a mucosa do intestino e, assim se produz o dano no revestimento intestinal. Este problema pode produzir se durante anos, sem que o paciente saiba as causas que o produzem. As principais causas de uma mucosa intestinal danificada procedem de uma flora intestinal débil, devida a um consumo excessivo de antibióticos, laxantes ou outros medicamentos, uma tensão elevada, ou a hábitos alimentares pouco saudáveis, que favorecem os processos inflamatórios crónicos, como uma deficiência de ácidos gordos de ómega- 3 ou um estilo de vida onde a atividade física está pouco presente, escasso de luz solar ou um desequilibro hormonal (RAMOS, 2020, s.p.).

Como aponta Kelly Brogan (2019), o resultado dessa reação é uma espécie de mimetismo molecular, que enfraquece o sistema imunológico. A porta para esse processo chama-se zonulina, um biomarcador associado à permeabilidade intestinal, uma espécie de toxina que tendo origem proteica, libera haptoglobina 2, um modulador de permeabilidade estomacal que é secretado pelo tecido epitelial do intestino.

Foi justamente essa descoberta da zonulina, feita pelo gastroenterologista pediátrico Dr. Alessio Fasano e colaboradores do Centro de Pesquisa Celíaca na Universidade de Maryland School of Medicine nos Estados Unidos, que proporcionou aprofundamentos sobre doenças autoimunes como celíaca, diabetes mellitus tipo I, esclerose múltipla e artrite reumatoide. Elas apresentam fator comum de sua patogênese: a permeabilidade da mucosa do intestino (CURETON; FASANO, 2009).

Estudo recente (OHLSSON, 2017) examinou a associação entre os níveis séricos de zonulina, sintomas gastrointestinais e fatores antropométricos e metabólicos em participantes convidados para um modelo de estudo de coorte cardiovascular. Os resultados foram baseados em exames antropométricos e clínicos, com dosagem de glicemia em jejum. Os níveis de zonulina foram medidos por método ELISA em soro. Os pesquisadores observaram nas análises dos resultados que os níveis mais elevados de zonulina estavam associados a uma maior circunferência da cintura, pressão arterial diastólica elevada e glicemia alterada, sugerindo que a permeabilidade intestinal induzida por essa proteína possui relação com alterações de marcadores metabólicos e composição corporal (GLUTENFREEBRASIL, 2017, s.p.).

Para Brogan (2019), os complicadores são muitos, havendo inclusive razões para se suspeitar de que outros grãos como milho, sorgo, aveia, trigo, centeio e cevada também liberem a zonulina, dado o seu alto teor de prolina e de glutamina. Após a liberação, o sistema sanguíneo passa a ingerir todo tipo de substância presente no intestino. Quando os peptídeos de gliadina no glúten tenham quebrado a mucosa intestinal, estimulam a produção de anticorpos, sem necessidade, o que irá irritar as paredes intestinais provocando sintomas como diarreia, azia e má-digestão.

Três processos pela zonulina são apontados por Brogan (2019):

Transglutaminase tecidual: A transglutaminase tecidual é uma enzima que desempenha um papel importante na apresentação da gliadina às células B e T a serem marcadas para a produção de anticorpos. Essa enzima é marcada como parte do complexo com glúten e se torna um alvo do sistema imunológico. Importante, transglutaminase 6 é ativo no sistema nervoso central, pois parece mediar os efeitos neurológicos da intolerância ao glúten, incluindo depressão, convulsões, dores de cabeça, esclerose múltipla/desmielinização, ansiedade, TDAH, ataxia e neuropatia. É importante ressaltar que os depósitos de transglutaminase se acumulam nos vasos sanguíneos, incluindo a barreira hematoencefálica.

Sinapsina, GAD (ácido glutâmico descarboxilase) e ganglioside: 51% da população celíaca desenvolve disfunção neurológica ou psiquiátrica. Porcentagens significativas de doenças neurológicas como ataxia, convulsões e neuropatia impulsionados e resolvidos pela exposição ao glúten como discutido aqui. Um estudo descobriu que 27% dos esquizofrênicos tinham anticorpos gliadina. Mais uma vez, o mimetismo molecular está na base dos anticorpos reativos à gliadina que têm como alvo componentes celulares do sistema nervoso que influenciam a transmissão neuroquímica. As manifestações neurológicas apresentam-se mais frequentemente na ausência de qualquer relato de sintomas gastrointestinais.

Autoanticorpos da tireoide: A doença autoimune da tireoide ocorre em frequência inesperada em pacientes celíacos, levando os pesquisadores a identificar a patologia compartilhada com essas duas condições. Mimetismo molecular e sobreposição de aminoácidos na gliadina e na enzima tireoidiana peroxidase e proteína tireoglobulina podem desencadear reatividade cruzada no contexto de permeabilidade intestinal e resposta imune ao glúten. Os anticorpos da transglutaminase tecidular também se ligam ao tecido tireoidiano, causando destruição glandular e recrutamento do sistema imunológico para reparo. A citocina inflamatória IL-15 é um mecanismo compartilhado para a reatividade imune na doença celíaca. A tireoidite de Hashimoto é quem estimula a inflamação promovida pela má absorção de selênio quando o revestimento intestinal está comprometido (como discutido aqui). O selênio não é apenas parte integrante da função dos hormônios tireoidianos, mas também é um antioxidante que prejudica o controle no contexto do estresse oxidativo.

O problema todo parece mesmo estar na dificuldade que nosso organismo monogástrico tem em digerir e quebrar a proteína dos grãos.

A proteína do glúten é pouco digerida no intestino humano mesmo na ausência de doença celíaca ou outra comorbidade associada. O efeito do glúten em contribuir para inflamação intestinal está relacionado à sua habilidade em desencadear respostas imunes celulares e humorais. Epítopos imunorreativos às células T foram encontrados na gliadina e glutenina, sendo que pelo menos 50 epítopos exercendo atividade citotóxica, imunomodulatória e de alteração de permeabilidade intestinal já foram identificados em seus peptídeos. Entre os fragmentos identificados, o peptídeo 33-mer exerce maior atividade imunogênica (HENRIQUES, 2018, p. 15).

Além do exposto, o glúten faz com que o cérebro reaja a esses efeitos e produza gliadorfina, um hormônio do prazer ao glúten que é literalmente viciante, o que explica o sucesso de alimentos como pão crocante, pizza com borda tostada e cerveja de espuma espessa. O processo é simples, mas fatal, conforme explica Clara Fonseca (2016). Depois de decompostos no estômago, os peptídeos do glúten, por serem mal digeridos, atravessam a barreira do intestino por um processo chamado de disbiose intestinal, um desequilíbrio da flora bacteriana intestinal que reduz a capacidade de absorção dos nutrientes causando carência de vitaminas, graças à zonulina. Ele chega ao cérebro, onde agem como opióides, ou cientificamente chamado de “exorfinas, semelhantes à morfina, o que nos dá a sensação de prazer”. Quando o efeito das exorfinas passa, o cérebro experimenta uma sensação desagradável, de “tristeza” e a busca por mais uma dose da “droga” que o cérebro necessita, gerando uma espécie de dependência química do glúten”.

Portanto, o glúten afeta diretamente o cérebro, seja pela irritação que suas substâncias provocam, seja pela redução de sinapses relacionadas à percepção imunológica interna. Correlativos como laticínios (caseína, proteína do leite), milho e soja, em alguns casos, legumes (incluindo amendoim) e grãos sem glúten como arroz e painço são apontados como os terrores de uma dieta sem glúten porque também podem liberar as substâncias descritas acima. Assim, uma verdadeira guerra aos grãos, se iniciou no século XXI. Há os que acreditam que todo esse pânico em torno do glúten, seja uma forma convincente de diminuir o consumo, sobretudo por contados dos transgênicos, dada a quantidade de pesticidas e herbicidas residuais contidos neles. (RAMOS, 2020).

A sensibilidade à substância é causada por níveis elevados de anticorpos contra a gliadina – uma das frações proteicas do glúten. A resposta imunológica estimula a liberação de citocinas inflamatórias em uma quantidade tão grande (e por tantas vezes ao longo da vida) que alcançam o cérebro e danificam os tecidos. Outro problema é que os anticorpos podem se ligar a proteínas muito parecidas com a gliadina no cérebro e, obviamente, atacá-las. E mais uma vez o sistema imunológico é acionado, pois entende que estão “atacando” novamente o tecido cerebral. E quais são as doenças neurológicas em que mais se encontram essas citocinas? Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla e autismo (FONSECA, 2016).

Além do exposto, os processos inflamatórios podem gerar problemas cerebrais, dada a quantidade de anticorpos que o cérebro tem que liberar em termos de produção, para o combate a tais processos.

Para a revista Epoch Times (2014): “Ao comer uma dieta anti-inflamatória que tira alimentos estressantes como o glúten, os alimentos geneticamente modificados, alimentos açucarados e produtos lácteos pasteurizados, você permite que as glândulas suprarrenais desçam. Isso resulta em um sono melhor, mais energia, além de melhorar o estresse e o equilíbrio emocional”.

Uma ação que o cérebro faz para tentar eliminar a inflamação e a transglutaminas é o suor, mas isso pode ocasionar em peles com pouca melanina problemas como dermatites e outras manifestações cutâneas.

A transglutaminase-2 (TG-2) encontra-se na mucosa intestinal, e anticorpos para TG-2 é um marcador para doença celíaca. TG2 é também um marcador conhecido para a osteoartrite. Esta é uma das razões por que as pessoas com doença celíaca também têm degeneração avançada em suas colunas. Muitos indivíduos com sensibilidade ao glúten não-celíaca também têm grandes problemas com a dor nas articulações, reumatoide ou osteoartrite. A transglutaminase-3 (TG-3) encontra-se na pele, e os anticorpos podem levar à acne crônica, eczema e dermatite. A transglutaminase-6 (TG-6) encontra-se em todo o sistema nervoso central e a formação de anticorpos leva a desordens neurológicas. A transglutaminase-7 (TG-7) se encontra nos pulmões e a formação de anticorpos leva à asma e outros desafios pulmonares (EPOCH TIMES, 2014).

Como se fez referência, o intestino é nosso segundo cérebro, isso porque possui células nervosas em sua estrutura que fazem com que ele trabalhe em uma espécie de simbiose como nosso sistema cerebral. Não se trata apenas de obedecer a ordens com o cérebro, mas de negociar situações e até de emitir ordem como no caso da produção de hormônios.

Estudos de investigação básica revelaram que o estado inflamatório crónico ao nível GI leva à ativação de determinadas áreas cerebrais, as quais se encontram associadas com a saúde mental, como o hipotálamo e a amígdala. Um modelo de infecção intestinal in vivo em ratos que procurava estudar o papel inflamatório nas doenças intestinais, demonstrou que a infecção induzida por Citrobacter rodentium levou a alterações comportamentais, mais concretamente, a um estado conotado por ansiedade (SILVESTRE e SIMÕES, 2015, p. 19).

O chamado sistema nervoso entérico (SNE), que, como foi exposto, é uma “sucursal” do sistema nervoso autônomo do corpo, o responsável por controlar diretamente o sistema digestivo. Mesmo funcionando de forma independente, ele se comunica com o Sistema Nervoso Central (SNC) por meio dos sistemas simpático e parassimpático (BBC, 2018).

Mas qual a importância do intestino no que tange à questão da saúde cerebral e de aprendizagem? A resposta talvez tenha sua imersão em um adágio bem antigo que dizia: “Mente sã, corpo são”, mas nesse caso a mente em questão é o intestino que reúne 70% das células do nosso sistema imunológico. Se considerarmos que 50% das fezes que diariamente eliminamos são bactérias, veremos que muitas pessoas têm que recorrer a transplante de fezes (ou mesmo iogurtes) por terem seu sistema intestinal preguiçoso ou debilitado.

Esse conjunto de micróbios e de bactérias que vivem dentro de nós, dão uma contribuição maior se conseguirmos variar nossa alimentação. Quanto menos diversificada uma dieta, maiores os riscos de estresse neuronal. Além do exposto, um sistema orgânico pobre de variação produz pouca serotonina, o que afeta significativamente as funções corporais ligadas aos movimentos do trato intestinal. Pouca serotonina é igual a pouco humor, pouca felicidade e muita ansiedade, de modo que até a aprendizagem é afetada.

4. GLÚTEN E APRENDIZAGEM

Conforme já foi considerado, o glúten pode afetar estruturas neuronais do cérebro e causar alguns problemas advindos da inflamação das células. Quando o indivíduo, em qualquer fase da vida, desenvolve “uma intolerância permanente ao glúten, caracterizada por atrofia total ou subtotal da mucosa do intestino delgado proximal e consequente má absorção de alimentos, em indivíduos geneticamente susceptíveis” (SDEPANIAN, 2001, p. 131), dizemos que é DC, ou seja, tem a Doença Celíaca. Vale ressaltar que 40% da população possui o marcador de risco genético para desenvolvimento da doença celíaca.

Os principais genes que influenciam o desenvolvimento da doença celíaca são os que codificam as moléculas HLA-DQ2 e HLA-DQ8. Sem a presença dessas moléculas nas células do sistema imune, é praticamente impossível que a doença celíaca ocorra. Ao mesmo tempo, só a presença delas não é suficiente, outros genes e fatores ambientais como a própria dieta e até mesmo o microbioma podem também influenciar no desenvolvimento ou não da doença. Um exame de DNA pode excluir a possibilidade de a pessoa ser celíaca, mas, se for positivo, não é certo que ela será (BACK, 2016).

Quando a doença se manifesta nos primeiros anos de vida acompanhada de: diarreia crônica, vômitos, irritabilidade, anorexia, déficit de crescimento, distensão abdominal, diminuição do tecido celular subcutâneo e atrofia da musculatura glútea é chamada de clássica. Ela foi a mais comum a aparecer em estudos nos anos 80 (SDEPANIAN, 2001).

A forma não clássica da doença aparece mais tardiamente com quadro mono ou paucissintomático. É o caso de pacientes que apresentam baixa estatura acompanhada de anemia de ferro, além de hipoplasia do esmalte dentário, constipação intestinal, osteoporose, esterilidade, artrite e até epilepsia acompanhada de calcificações intracranianas (SDEPANIAN, 2001).

A terceira forma é a assintomática que é hereditária e detectável com marcadores sorológicos específicos. O tratamento mais comum para as três formas é a introdução de uma dieta permanente, totalmente isenta de glúten e de derivados. Alguns especialistas também eliminam o leite da dieta, pois a doença pode se manifestar como uma intolerância à lactose num primeiro momento.

Sdepanian et al. (1999) lembra que os fatores genéticos, imunológicos e ambientais são importantes no processo de aparecimento da doença, assim como o tipo e a forma em que o cereal é ingerido.

Transtorno do Déficit de Atenção, como o autismo, vem aumentando consideravelmente, em crianças nos últimos anos. As causas desse distúrbio infantil certamente podem estar relacionadas a problemas alimentares, mais especificamente no aumento da permeabilidade intestinal e nas proteínas não digeridas do glúten e da caseína. Quando absorvidas nas vilosidades intestinais, passam para a corrente sanguínea e podem produzir substâncias estimulantes, provocando a hiperatividade e o DDA (CARVALHO et al., 2010, p. 5).

A situação de alguns indivíduos acometidos de DC pode se agravar tanto que é suscetível de ser confundida até mesmo com a síndrome de Guillain-Barré, provocada por uma reação autoimune a um invasor “Campylobacter jejuni” ou o zika vírus, ou seja, os acometidos de DC podem sim desenvolver problemas graves de ordem neurológica.

Cefaleia, opsoclonia-mioclonia, neurite óptica recorrente, encefalopatia aguda recorrente, estado epiléptico, hemiplegia transitória recorrente, trombose do seio venoso cerebral, mielite transversa. Diversas patologias neurológicas graves têm sido relatadas acometendo crianças por exposição ao glúten, com ou sem um quadro constituído de doença celíaca (BORGES, 2019).

Ainda de acordo com Borges (2019), a percepção de que o sistema nervoso pode adoecer pelo consumo de glúten data de 1966, quando um artigo publicado na Revista Brain intitulado “Neurologic Disorders Associated With Adult Celiac Disease” apontou 16 pacientes adultos com desordens neurológicas e com doença celíaca, sendo que dez pacientes tinham severa neuropatia e todos haviam desenvolvido ataxia.

A ataxia associada ao glúten, transtorno onde o indivíduo perde por completo o equilíbrio, ficando incapaz de ficar em pé, foi o primeiro quadro neurológico tipificado não como consequência da doença celíaca, mas uma condição autoimune onde anticorpos se formam contra outra parte do corpo que não o intestino – a reação é contra as células do cerebelo. Quando o quadro se desencadeia, em poucos meses estes pacientes têm seu cerebelo destruído pelos próprios anticorpos, sem possibilidade de regeneração (BORGES, 2019).

A lista de transtornos neuropsiquiátricos relacionados aos casos de indivíduos com DC, tem aumentado nas últimas décadas, graças à cascata inflamatória excessiva que tem origem no intestino. São elas: ataxia, neuropatia, enxaqueca, epilepsia, miopatia, déficit de atenção, déficit cognitivo, neurite óptica, ganglionopatia sensitiva, síndrome das pernas inquietas, esclerose múltipla, hiperatividade com déficit de atenção, síndrome da pessoa rígida, enfermidades vasculares, depressão, autismo, síndrome de Tourette e surtos psicóticos ou maníacos (BORGES, 2019).

O pesquisador Ítalo Rachid (2020) afirma que os déficits de ferro, vitamina A, D, E, K, B12 e ácido fólico que a maioria dos brasileiros possui, podem ser agravados com a doença celíaca e estão associadas a casos de:

*Neuropatias periféricas (geralmente sensoriais): a doença celíaca é detectada em até 10% dos pacientes;

*Atrofia cerebral e demência: 10 a 15% dos pacientes diagnosticados sem causa previamente conhecida são celíacos;

*Déficit de atenção e de hiperatividade: 71% das crianças diagnosticadas como celíacas apresentam anormalidades no exame de eletroencefalografia;

*Enxaqueca: estima-se que 5% dos pacientes que sofrem com enxaqueca sejam portadores de doença celíaca.

O fato é que o glúten em celíacos ou em não-predisponentes afeta diretamente o sistema neural, inflamando-as células e comprometendo processos sinápticos importantes. Em indivíduos diagnosticados com transtornos existem diversas pesquisas que têm sido encabeçadas, sobretudo nos casos de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade)[3] e de Autismo[4].

Há evidências crescentes de que muitas crianças com problemas de comportamento são sensíveis a um ou mais componentes dos alimentos que podem impactar negativamente o seu comportamento. Esses autores expõem ainda a existência de investigações sobre a relação entre a dieta e a atividade elétrica cerebral em crianças com TDAH, considerando que certas sensibilidades alimentares não só influenciam a sintomatologia de TDAH, mas também podem alterar a atividade elétrica cerebral, ressaltando a necessidade de os profissionais compreenderem o papel da nutrição no TDAH (SIQUEIRA et al., 2017, p. 13).

Embora se note que o acompanhamento do TDAH seja, em absoluto, medicamentoso, nota-se um descaso, ou mesmo, uma ausência de percepção médica no que diz respeito à questão nutricional e alimentar desses indivíduos. A pandemia de TDAH no mundo cresceu consideravelmente nos últimos 50 anos à medida em que as condições financeiras da população, sobretudo em países subdesenvolvimento, aumentou. Essa concomitância do aumento de quadros de TDAH coincidiu mesmo sem estudos conclusivos, que os relacionem ao aumento do consumo de glúten a partir dos anos 80.

Na perspectiva de intervenções multidisciplinares, a nutrição pode atuar como adjuvante no tratamento. A necessidade de acompanhamento nutricional fica evidenciada em estudo que identificou estado nutricional comprometido em um terço das crianças no momento do diagnóstico de TDAH. E o tratamento medicamentoso contínuo por 30 meses ainda apresentou uma influência negativa na estatura destas crianças […]. Algumas abordagens dietoterápicas têm sido propostas, como dietas de eliminação de aditivos alimentares, glúten e caseína, suplementação de micronutrientes e o incentivo ao consumo de alimentos específicos fontes de micronutrientes (SIQUEIRA et al., 2017, p. 15).

As deficiências nutricionais são tidas como a principal causa do subdesenvolvimento de crianças em idade escolar, sejam estas adquiridas durante a gravidez ou no decorrer da infância. Talvez o principal fator nesse caso é a consequência da deficiência de zinco que é significativamente ampliada pela ingestão do glúten. Isso significa que seja uma criança dita normal, ou um indivíduo acometido de um quadro TDAH, além da medicação e ou reposição nutricional, a questão alimentar incidirá diretamente em seu comportamento e aprendizagem.

Em outros termos, no caso do TDAH ou no caso do autismo e dos demais transtornos e síndromes aqui apresentados, a ingestão de glúten ou o não cuidado com a dieta desses indivíduos pode ocasionar piora em seu quadro. Existem fortes evidências de que indivíduos autistas com dieta isenta de caseína e de glúten têm melhora comportamental significativa no campo da irritabilidade, na dificuldade de interação, na comunicação e na sociabilidade (SILVA, 2011).

Sugere-se que os peptídeos de glúten e caseína, assim como outros componentes nutricionais, podem ter alguma participação na fisiopatologia do autismo […] estudos desenvolvidos na Dinamarca, com crianças autistas que foram alimentadas com dieta restrita em glúten e caseína, foram obtidas melhoras consideráveis no comportamento destas crianças após 8 a 12 meses de dieta […] em estudo feito por um grupo interdisciplinar, constatou efeitos positivos com a retirada do leite de vaca e suplementação reduzida de ácido fólico, em criança com sinais de autismo, com idade entre 4 e 8 meses (CARVALHO et al., 2010, p. 4).

É sabido que uma mudança de hábitos alimentares envolve aspectos culturais, preferenciais e financeiros. Nem sempre a família do indivíduo autista tem condições de adotar para ele, uma dieta balanceada e livre de glúten. O fator cultural e social é determinando nesse aspecto.

Atualmente poucos centros psiquiátricos incluem o recurso dietoterápico no tratamento do autista e quando o fazem, considera-se principalmente a depressão imunológica causada pela carência de zinco, que é agravada pelo excesso de carboidratos refinados. Fatores estes que favorecem a proliferação tanto da Cândida albicans como a Clostridium difficile, cujas toxinas estão relacionadas com distúrbios infantis, como o déficit de atenção (CARVALHO et al., 2010, p. 5).

Nota-se a necessidade de um olhar mais acurado para a alimentação de acometidos e não acometidos por síndromes, transtornos e doenças que possam se agravar com o consumo de glúten, prejudicando não apenas a questão comportamental, mas escolar e de aprendizagem.

A exclusão do glúten e da caseína seria eficiente, devido à teoria dos peptídeos opioides de origem exógena. Muitos estudos demonstraram que o TEA pode ser consequência da digestão incompleta de alimentos contendo glúten e caseína, estes por sua vez em excesso no trato gastrointestinal (TGI), passam para a corrente sanguínea devido a uma disfunção na permeabilidade da membrana intestinal e através da circulação atingem o sistema nervoso central (SNC), se ligam a neuroreceptores opioides criando uma atividade exacerbada e perturbando uma série de sistemas neurais, o que resultaria na sintomatologia. Alguns estudos confirmam maior permeabilidade intestinal em crianças com TEA quando comparada com crianças sem essa condição, além de terem demonstrado que crianças com TEA em dieta Sem Glúten e Sem Caseína (SGSC) possuem menor permeabilidade intestinal do que outro grupo de crianças autistas sem restrição desses peptídeos (DIAS et al., 2018, p. 2061).

Embora os estudos sobre a relação glúten-transtornos-comportamento-aprendizagem ainda se mostrem inconclusivos, existem evidências suficientes para se ter no mínimo atenção e cuidado para esses indivíduos, para crianças e adolescentes em geral. É possível afirmar que o mundo vive uma epidemia de consumo de glúten de modo inconsciente, pois a maioria não tem conhecimento dos danos e prejuízos para o futuro.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a consciência de que existem ainda poucas discussões no campo da aprendizagem relacionada ao consumo de glúten, partiu-se da verificação sobre se os estudos dessa revisão de literatura apontam para uma influência negativa do consumo de glúten sobre a aprendizagem. Os estudos apresentados e os apenas lidos para esse fim, mostram-se ainda insipientes no campo das certezas epistemológicas. Contudo, as inflamações corporais e neurológicas advindas do consumo de glúten, existem e essa não-negação, evidencia que se faz urgente ligar um alerta de risco à saúde pública mundial. Dietas variadas e gurus da saúde têm se levantado contra o consumo dessa substância, mas não é isso que importou relatar aqui, mas antes, a possível relação entre alimentação e saúde, sobretudo se relacionada à aprendizagem. Desse modo, há que se ter um cuidado, em especial com crianças na fase de aprendizagem escolar quanto ao consumo do glúten. Espera-se que o artigo tenha cumprido então seu propósito que foi o de ampliar tal debate.

REFERÊNCIAS

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BBC. Por que o intestino é considerado nosso ‘2º cérebro’ e outros 5 fatos surpreendentes sobre o órgão. BBC, 27 set. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-45664504. Acesso em: 02 out. 2020.

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BROGAN, K. O glúten no cérebro e no seu corpo: entenda os efeitos. Suprimatec, 28 jan. 2019. Disponível em: https://suprimatec.com/o-gluten-no-cerebro-e-no-seu-corpo-entenda-os-efeitos/. Acesso em: 02 out. 2020.

CARVALHO, J. et al. Nutrição e autismo: considerações sobre a alimentação do autista. Revista Científica do ITPAC, v. 5, n. 1, p. 1-7, jan. 2012. Disponível em: https://assets.unitpac.com.br/arquivos/revista/51/1.pdf. Acesso em: 02 out. 2020.

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SILVESTRE, C. M. R. F.; SIMÕES, M. P. O diálogo entre o cérebro e o intestino: qual o papel dos probióticos? Mestrado. Universidade de Lisboa. 2015. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/26287/1/CarinaRFSilvestre.pdf. Acesso em: 02 out. 2020.

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APÊNDICE – REFERÊNCIA NOTA DE RODAPÉ

3. O TDAH é caracterizado por distração, déficit de atenção, ansiedade, comportamentos impulsivos e excesso de atividade motora. Várias crianças acometidas deste transtorno desenvolvem problemas emocionais, sociais e familiares como consequência das suas dificuldades primárias. Estas são ainda associadas ao insucesso escolar, dificuldades de inserção social, bem como a baixa autoestima e ainda problemas intrafamiliares (FARIA, 2010).

4. O Transtorno do espectro autista (TEA) é definido como um conjunto de desordens neurais que refletem no indivíduo prejuízos na interação social, comunicação e comportamento, além de tornar seus interesses e atividades restritivos e repetitivos (DIAS, 2018, p. 2060).

[1] Pós-doutorado em Educação pela PUC-GO; Doutor e Mestre em Ciências da Religião pela PUC-GO. Filósofo pela FAEME, e Pedagogo pela UVA-ACARAÚ e Teólogo pelo MACKENZIE, Pós-graduado em Administração Escolar e Coordenação Pedagógica pela UVA-RJ, Ética e cidadania pela UFG, Filósofo Clínico pelo Inst. Packter, Neuropsicopedagogo e em Ensino de Filosofia e Sociologia pela Faculdade Cândido Mendes. ORCID: 0000-0001-5207-1351.

[2] Mestre em Educação (UFU), Licenciado em Pedagogia (UEG), Especialista em Inovação em Mídias Interativas (UFG). Graduado em Administração de Empresas pela FAQUI. Graduando em Marketing pela UNIP – Universidade Paulista. ORCID: 0000-0002-3568-5949.

Enviado: Junho, 2022.

Aprovado: Novembro, 2022.

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Gilson Xavier de Azevedo

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