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O Capital Humano e as Mudanças Tecnológicas nas Relações entre Educação e Mercado de Trabalho

RC: 14939
238
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/capital-humano

CONTEÚDO

SILVA, Marcos Antonio da Conceição [1]

SILVA, Marcos Antonio da Conceição. O Capital Humano e as Mudanças Tecnológicas nas Relações entre Educação e Mercado de Trabalho. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 04, Vol. 04, pp. 99-115, Abril de 2018. ISSN: 2448-0959

RESUMO

O capital humano é primordial que as organizações atinjam seus objetivos, sendo necessário que se associe o processo de evolução dos sistemas de informação proporcionando a otimização dos processos manuais e tecnológicos pela redução dos esforços. O investimento na gestão de pessoas promove o aprimoramento de competências e habilidades, que se traduzem a partir de fatores de aprendizagem, utilizando as estratégias educacionais para criar e manter os valores empresariais, pois possibilita inculcar valores e interesses criando uma identidade corporativa que se destaca no mercado de trabalho e os investimentos em educação ou os que estimulam o desenvolvimento de novas tecnologias causarão impacto sobre o crescimento, dependendo da forma como é utilizado o conhecimento e os benefícios produzidos nos dos processos produtivos.

Palavras-chave: Capital Humano, Educação, Trabalho, Tecnologia.

INTRODUÇÃO

A era da informática rompeu no final do século XX e o futuro se tornou mais imprevisível que nunca, deixando uma incógnita sobre a direção da educação formal. Ademais, tão difícil quanto é retratar e posicionar os atuais modelos educacionais.

É inegável a realidade do construtivismo incorporado à sociedade hoje, onde, depois de inúmeras transformações sofridas pela escola tradicional, mesmo que de forma paradoxal, diariamente vem sendo questionada diante dos padrões de ensino demandados pelos dias atuais, mas concomitantemente redime a maioria das escolas.

Em tempos de crises e mudanças nos âmbitos políticos, sociais, científicos e pedagógicos, os processos de ensino ter por finalidade tornar viável a aprendizagem a todos, onde a multiplicidade de sujeitos, saberes, espaços e tempos não pode ser concebida de forma secundária nas escolas em suas práticas cotidianas.

Os processos educativos contemporâneos, na sociedade capitalista, são resultantes de transformações econômicas, políticas, científicas e tecnológicas, onde a educação responde e precisa ser analisada a partir de um movimento histórico, uma vez que muito do que se faz hoje nas escolas se originam nas teorias de aprendizagem clássicas.

O presente artigo objetiva promover um aprofundamento teórico de autores específicos, retomando historicamente momentos distintos que caracterizam as mudanças no método de ensino e aprendizagem. Assim, o desenvolvimento das teorias abordou diversos ciclos e teóricos clássicos consagrados, todavia é valido ressaltar que esta abordagem está centrada nas ideias de I. Pavlov, J. Watson, B. Skinner, Bourdier, Labaki, Piaget e Paulo Freire, proporcionando melhor entendimento sobre a evolução dos modos de aprendizagem fazendo contrates sobre o que cada um aporta nos modos de aprendizagem eficazes na atualidade. Existem muitos fatores que integram este processo, assim, para fundamentar serão abordados autores em uma revisão bibliográfica que proporcionará a ampliação do entendimento da temática questão.

As teorias do conhecimento e práticas pedagógicas objetivam construir o melhor método, ou seja, aquele capaz de garantir a aprendizagem de todos os alunos.

2. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

Hoje existem muitas discussões acerca das múltiplas mudanças que ocorrem no desenvolvimento da vida do ser humano até o final. Isto ocorre pois, sua vida está sempre sujeita a diversas mudanças e para os profissionais que operam com os âmbitos educacionais é de extrema importância compreendê-las nos seus aspectos históricos e sociais seguindo as mudanças tecnológicas vivenciadas ao longo da existência humana.

Dessa forma, perceba-se que o sujeito enfrenta questões inerentes ao processo de aprendizagem que dependem tanto dos seus aspectos intrínsecos (biológicos que são definidos geneticamente), quanto dos fatores contextuais em que está inserido, razão pela qual serão abordadas algumas teorias que buscam explanar como estes processos de aprendizagem ocorrem, pois durante seu desenvolvimento o homem acaba criando elementos que favorecem sua apreensão de conhecimentos científicos e de si mesmo.

Esta subjetividade humana permite ao sujeito se reconhecer como alguém no mundo refletindo sobre seu papel como um sujeito ativo no contexto em que vive.

2.1 ABORDAGEM SOBRE OS NÍVEIS DE AÇÃO EM ALGUMAS TEORIAS DA APRENDIZAGEM

O primeiro nível de ação a ser abordado é o behaviorismo watsoniano (Condutismo – Watson foi o precursor desta corrente), onde sua variante inicial ocorreu entre as décadas de 20 e 30 (após a Primeira Guerra Mundial). Nesta fase, durante um célere desenvolvimento econômico nos Estados Unidos houve um condicionamento que vinculava a orientação da pesquisa à atividade psíquica, em uma época em que a sociedade era dominada pela concepção pragmática e utilitária do homem (PÉREZ et al, 2007).

Watson sempre direcionou suas discussões sobre a concepção da imagem como objeto central da psicologia subjetiva (“mentalista”) e pleiteou que se parasse com conceito de que a consciência era o objeto da psicologia e que a introspecção era o método. Considerado o pai do comportamentalismo ou behaviorismo, John B. Watson (1878-1958) e sofreu fortes influências do condicionamento clássico de Ivan Pavlov (1849-1936), que enfocava mais os estímulos do que as consequências, ele buscava explicar todo o processo da aprendizagem (associando ao estímulo-resposta).

No conceito comportamental watsoniano, a psicologia se transformou em uma psicologia “sem psique”, enquanto os fenômenos em que o behaviorismo intensificou sua atenção não são pertencentes à área psíquica e são objeto de alguma outra ciência; tal refutação acarretava o pressuposto: as reações corporais não pertencem ao campo do psíquico, mas representam outra ordem de fenômenos. Skinner, se transformou o behaviorista mais importante depois de Watson e Tolman, rejeitando a concepção do centro do neobehaviorismo. De Watson para Skinner, o behaviorismo percebeu na categoria de imagens o primeiro risco para o pensamento causal e, lutando para desarraiga-lo da realidade psíquica, irremediavelmente acabou distorcendo o cenário desta realidade concreta (BECKER; FERREIRA, 2013).

Nos anos trinta, houve uma contraposição entre o behaviorismo e gestaltismo, e este último teve forte influência nas concepções de Jean Piaget e seu trabalho experimental, especialmente em razão de suas teses acerca da natureza integral e estrutural da vida psíquica, mas ele centrou suas teorias no princípio do desenvolvimento que consiste no processo de adaptação que, em suma, se traduz na inter-relação recíproca entre a assimilação e a acomodação e interação que é uma consequência direta e inevitável da assimilação e acomodação que encaminha ao desenvolvimento cognitivo, ou seja, ela se define como resultante da alternância da ação do sujeito sobre o objeto e vice-versa (BECKER; FERREIRA, 2013, p. 194)

O século XIX, foi marcado por uma compulsão pela organização, pela ordem, pontualidade, que foram impostos pela indústria (marco da Revolução Industrial), a escola surge como disciplinadora da ordem social mostrando uma rigidez neste cenário, onde, em outra perspectiva, também começa uma preocupação com o espaço de aprendizagem para que as normas sejam corretamente seguidas (ENGUITA, 1989).

Assim, a evolução da arquitetura escolar está estreitamente ligada à história da humanidade e à relevância atribuída a educação nas distintas etapas do progresso socioeconômico dos povos. A informalidade na educação teve seu espaço, porém, com a difusão da indústria e da nova ordem capitalista no século XIX (1801 a 1900) emerge, no ocidente, a imposição de um novo tipo de mão-de-obra, se tornando cada vez mais necessária a educação para o trabalho (ENGUITA, 1989).

De acordo com estudos de Kowaltowski, Labaki e Pina (2001) sobre as edificações escolares, eles concluíram que o comportamento do usuário no ambiente escolar é proveniente do conforto ambiental, isto é, das características do ambiente físico (KOWALTOWSKI; LABAKI; PINA, 2001). O ambiente e o conforto escolar proporcionado aos usuários, alunos, professores, funcionários e diretoria pode ser visto sob distintas perspectivas: térmica, luminosa, acústica e funcional, bem como como ocorre a relação entre o ambiente escolar e desempenho escolar, entre o ambiente físico e o comportamento dos usuários e, finalmente, as avaliações depois da ocupação dos edifícios escolares.

Depois de uma longa história das ciências humanas, surge um termo latino usado pela tradição escolástica, expressa o conceito grego hexis que Aristóteles utilizava para qualificar especificidades do corpo e da alma assimiladas durante um processo de aprendizagem e, posteriormente Émile Durkheim também o traduziu de forma similar de forma mais explícita, isto é, designou como um estado geral das pessoas (estado interior). Assim, o habitus para Durkheim, tem equivalência com a situação de internato, uma instituição social total integral e estava organizada de forma a produzir resultados intensos e duradouros.

Dessa forma, surgem questionamentos sobre como se pode aprender as peculiaridades da referência de socialização hoje e como entender o processo de construção das identidades começando pelas mudanças estruturais e institucionais das agências tradicionais da socialização. Para pensar em responder estas questões é necessário analisar a necessidade emergente de uma nova configuração cultural, onde o processo de construção dos habitus individuais termina sendo mediado por instâncias que produzem valores culturais e identidade social, onde a família, a escola e as mídias contemporâneas são instâncias socializadoras interdependentes.

2.2 ALGUNS ASPECTOS DAS TEORIAS DO CAPITAL HUMANO

A década de sessenta marcou maior interesse dos economistas pelo tema gerando um impulso definitivo pelas mãos de Theodore Shultz a quem é atribuído o termo Capital Humano em 1959, entretanto somente nos anos 60 que Becker e Mincer aprofundam os estudos sobre a Teoria do Capital Humano.

Becker é quem se dedica em desenvolver esta teoria, partindo da premissa de que a educação aprimora a produtividade das pessoas, e, por conseguinte seu rendimento como fator de trabalho, uma vez que estes dependem de suas qualidades inatas pelos próprios dons conferidos pela natureza da educação recebida.

A Teoria do Capital Humano propicia que se explique como as pessoas tomam decisões sobre quanto de educação devem adquirir e o maior rendimento que lhes confere é o aporte de retribuições superiores. O foco central desta premissa é que o capital humano é sempre algo produzido, ou seja, algo que é o produto de decisões deliberadas de investimento em educação ou em treinamento, assim, em todas as economias modernas, o grau de educação possuído por um indivíduo está correlacionado com os respectivos rendimentos pessoais.

Em suma, o raciocínio é: a) as pessoas se educam; b) a educação tem como principal efeito mudar suas “habilidades” e conhecimentos; c) quanto mais uma pessoa estuda, maior sua habilidade cognitiva e maior sua produtividade; e d) maior produtividade permite que a pessoa receba maiores rendas.

Neste molde, algumas pessoas darão mais valor à aprendizagem e ao conhecimento e consumirão a educação, ainda que o orçamento produza baixos rendimentos laborais em razão da baixa incidência da sua produtividade. A demanda da educação depende da renda das pessoas e é o próprio consumidor que escolhe sua opção; este esquema define que a educação é um bem normal com uma demanda que cresce com a renda e tem uma relação negativa com os custos diretos (livros, matrícula, etc.).

Assim, os modelos de consumo se geram a curto prazo e em atores com menores decisões racionais, pois a vocação, as decisões baseadas em emoções são mais determinantes que as econômicas na hora de investir em educação. Desta forma, este suplemento de retribuição realizado durante toda a vida ativa do sujeito atualizando se compara com o custo dos estudos usando o cálculo básico de análise de investimento, que pode ser feito a partir da equação:

Onde, CE é o investimento medido através do custo dos estudos, dr é o diferencial de retribuição para o período i, tr é a taxa de rendimento do melhor investimento alternativo e n é o número de anos de duração da vida laboral ativa. Assim, o indivíduo decide continuar os estudos mediante a comparação dos resultados desta equação e quando os custos dos estudos superam o valor atualizado do suplemento de retribuição que pode conseguir com eles durante toda sua vida de trabalho, escolhe não continuar com os estudos.

Esta estrutura de cálculo abriu precedentes a pesquisas a partir de então com a finalidade de relacionar a educação com os retornos salariais, onde muitas estabelecem os perfis durante toda a vida profissional por grupos de população distinta de acordo com os níveis de estudos.

Nos anos 60 se desenvolveu a Teoria da Certificação, tomando por base a teoria do capital humano em uma fase em que o mercado enfrenta uma problemática na falta de informação das pessoas e as empresas não podem contratar com base somente nos índices de produtividade, mas começam a analisar os títulos como instrumentos de sinalização que permitem prever os níveis de produtividade. Nesta teoria, nos mercados de informações imperfeitas poderia determinar que os indivíduos invistam em educação como sinal, mesmo que estes estudos não melhorem sua produtividade e sim sua remuneração.

Na Teoria do Consumo a demanda se define no âmbito das ações dos consumidores, tem cunho microeconômico e acaba impactando e definindo a oferta pública e privada construindo as funções das demandas individuais, onde a soma resulta na função social da demanda pela educação. No aspecto das decisões dos consumidores, Iván Pavlov entende o consumo como um reflexo condicionado, já segundo Max Weber, devem ser considerados os grupos de reverência e a “economia moral”.

As Teorias Radicais da reprodução das elites se desenvolve nos anos setenta e traz uma alternativa para a educação que, além de propiciar oportunidades de forma igualitária, serve como instrumento de transmissão da estrutura de classes e constitui os mecanismos de reprodução do status social de uma geração a outra.

2.3 DINÂMICAS TECNOLÓGICAS E AS TRANSFORMAÇÕES NO MERCADO DE TRABALHO

Atualmente é muito complexo entender o funcionamento das economias capitalistas, o progresso técnico e de que forma a tecnologia atinge a economia, entretanto, é imprescindível para que se entenda como ocorrem as dinâmicas tecnológicas e as consequentes mudanças na conjuntura do mercado profissional.

O desenvolvimento tecnológico tem distintas dimensões e ao analisar a origem e o caráter das inovações, é perceptível que as inovações transformam não somente a economia, a sociedade como um todo, modificando as realidades econômicas e sociais, ainda elevando a capacidade de acumulação de riqueza e geração de renda (SEGNINI, 2000).

Na concepção dos economistas, a produção da riqueza de uma sociedade implica em distintos elementos e se determina, essencialmente, pelos recursos naturais disponíveis, capital disponível em máquinas, equipamentos, instalações, etc. e volume e nível de capacitação de sua força de trabalho. As teorias mais tradicionais da economia definem que a tecnologia determina a forma que estes fatores podem ser associados para a produzir bens e serviços.

Neste sentido, é pertinente referenciar as contribuições do economista Joseph Schumpeter (1883-1950) com sua Teoria do Desenvolvimento Econômico e seu conceito sobre inovação tecnológica. Schumpeter foi forte precursor da tese sobre a função essencial do empreendedor no desenvolvimento econômico da sociedade; este economista austríaco, que posteriormente lecionou na Universidade de Harvard, se destacou na carreira acadêmica com a publicação da Teoria do Desenvolvimento Econômico (1911), onde demonstra o papel central que o empresário assume enquanto agente de promoção do progresso econômico através do que chamou de “destruição criativa” (SCHUMPETER, 1982).

A “destruição criativa” exprime a concepção de que a economia capitalista moderna se caracteriza por uma luta constante em prol da inovação, onde o empreendedor é atraído pelo conceito do negócio que ele almeja empreender com o auxílio do dinheiro emprestado, onde o empreendedor é o “idealizado” como um herói e o mundo dos negócios é o campo de batalha buscando a conquista e dominação. Assim, na concepção de Schumpeter, o empreendedor é aquele que divide com “um imperador e conquistador particularidades de como criar e governar um domínio próprio e fundar uma dinastia” (MISES, 1998).

Assim, a Teoria do Desenvolvimento Econômico constitui-se pela atenção em identificar que as extensas ondas dos ciclos de desenvolvimento capitalista convertem-se na conjunção de inovações, gerando uma liderança de setor na economia ou mesmo um novo arquétipo que inicia o impulso no desenvolvimento rápido desta economia. Schumpeter, dava valor a inovação inesperada e saltos não-lineares, considerava que o capitalismo deveria ser visto sob o prisma da produtividade e do desenvolvimento, pois uma sociedade pode ser vista como capitalista quando está firmada no processo econômico.

As características deste sistema são: a propriedade privada dos meios de produção; produção para o lucro privado, sendo a produção pela iniciativa particular em caráter privado; ponto importante e crucial: a criação do crédito. Na concepção de Schumpeter, o crescimento podia ser entendido pela variação da população, da renda/ riqueza, considerando que estes elementos não eram resultantes de um fenômeno qualitativamente novo, sim como mudanças naturais e, nesse sentido, as abordagens tradicionais assimilam relevantes contribuições para entender a tecnologia como elemento interveniente na estrutura mercadológica.

As inovações produzem fenômenos dinâmicos na esfera econômica, nos níveis macro e microeconômicos. No plano macroeconômico, existe uma demanda na utilização dos recursos para investimentos na produção, onde a estruturação de novos processos de produção demanda maiores investimentos nessa área. Portanto, uma nova onda de inovações produz concomitantemente uma onda de investimentos tecnológicos que devem ocorrer ao longo do tempo e, ainda, atente-se que os investimentos tecnológicos não são lineares, oscilam, apesar de existir uma inclinação para o desenvolvimento a longo prazo.

Segundo um artigo escrito em 2002, pelo Prof. Milton de Abreu Campanário para a OEI (Organização dos Estados Interamericanos), o Fluxo Circular da Renda pode ser visualizado no formato do diagrama como segue:

Figura 1: Fluxo Circular de Renda. Fonte: Campanário (2002)
Figura 1: Fluxo Circular de Renda. Fonte: Campanário (2002)

Analisando-se este modelo esquematizado, os mercados de bens e serviços e de fatores produtivos seguem para uma equilibração de fluxos de recursos, com parâmetros pré-definidos de consumo, custos do governo, reserva de recursos ou fatores produtivos e tecnologia, onde esse fluxo é um critério estanque de produção e distribuição da renda, as incertezas ou riscos são inexistentes, com um comportamento dos agentes em rotinas, denominados por Schumpeter como “norma” (SCHUMPETER, 1982).

As inovações tecnológicas quebram esta norma, pois ela intervém nas dinâmicas de geração de renda das empresas, afetando de forma direta à disposição dos processos de produção, a rentabilidade das operações e a aceitabilidade de produtos pelo mercado. A rigidez dessa norma é rompida pelo valor depositado nas inovações tecnológicas como forma de alcançar maiores benefícios (CAMPANÁRIO, 2002).

A contribuição schumpeteriana está vinculada à concepção de que as empresas inovadoras é que se apropriam desses benefícios expressivos, assim, são abertos caminhos para outros competidores. A “destruição criativa” contribui muito com a teoria do crescimento, porém, está centrada nas características empreendedoras e na expressiva conquista do empresário.

A empresa inovadora demonstra que é possível se diferenciar no mercado aumentando seu potencial de acumulação, entretanto as teorias modernas de crescimento econômico são deficitárias porque não assimilam amplamente a função empresarial.

2.3 ENSINO SUPERIOR E A ECONOMIA NA EDUCAÇÃO UNIVERSITÁRIA

Ao longo da década de 60, na culminância da Teoria do Capital Humano, começaram postulações de o capital humano deveria ser mais privilegiado e obter mais investimento em detrimento de recursos físicos para se atingisse maiores rendimentos. Esta teoria associava o crescimento e a ampliação da renda ao nível de escolarização.

Um dos primeiros estudiosos a atrair a atenção sobre o valor econômico da educação foi Theodore Schultz na sua obra intitulada como “Investiment in Human Capital” que foi publicada em 1961. Anos mais tarde, Gary Becker publicou “Human Capital. A theoretical and impirical analysis, with special reference to education” que complementou o trabalho anterior desenvolvido por Jacob Mincer (que denominou o termo capital humano), onde juntos fundamentaram as bases e impulsionaram esta corrente inovadora incorporada no pensamento econômico (MORDUCHOWICZ, 2004).

Na sua forma mais simples, a referida teoria concebe os insumos destinados à educação como uma forma de investimento que renderá uma gama de benefícios no futuro. Para a sociedade, estes virão representados nos termos de uma produção mais otimizada dos trabalhadores educados; esta concepção é a chave para a ampliação perene dos ingressos já não está no capital físico e sim no humano, pois a única diferença é que as máquinas não podem aprender e, por sua vez, esta aprendizagem ultrapassa a vida das pessoas consideradas individualmente e se acumulam (MORDUCHOWICZ, 2004).

Enquanto a capacidade cognitiva ou a memória estão associadas às pessoas a nível individual, não ocorre o mesmo a outras coisas intangíveis, como no caso do conhecimento científico. De forma natural, ao passo em que os investimentos em educação ou os direcionados a estimular o desenvolvimento de novas tecnologias, ou novas descobertas causarão impacto sobre o crescimento, mas dependerão da forma como o conhecimento se utiliza e beneficia efetivamente dos processos produtivos.

A principal implicação que surge para as políticas públicas a partir destes enfoques é que demandam maior investimento dos países no desenvolvimento do capital humano. São recomendáveis políticas que incentivem o acesso amplo ao desenvolvimento de competências e habilidades e, especialmente, à capacidade de aprender, e isto consiste em: promover uma educação com uma base profunda; estabelecer incentivos para que as empresas e as pessoas se envolvam em treinamentos e aprendizagem permanentes; melhora do equilíbrio entre a oferta e a demanda de trabalho no que se refere a critérios de qualificações (MORDUCHOWICZ, 2004).

Não somente pelos educadores que ainda hoje resistem à equiparação de sua atividade com o investimento em um capital físico, mas pelos próprios economistas que acharam fragilidades nessa teoria. Não somente pela validade das críticas feitas (sendo algumas parcialmente aceitas pela teoria do capital humano), é evidente que a posição representada por esta última dominou as discussões sobre o vínculo entre educação e crescimento, porém, ainda como consequência das novas tendências econômicas, se acentuando mais a educação e o desenvolvimento econômico (SEGNINI, 2000).

Trata-se de uma conjuntura em que o avanço tecnológico ocupa todos os espaços sociais, considerando-se que o conhecimento se transformará no primordial fator de produtividade, razão pela qual se fala sobre economia baseada no conhecimento para definir a dependência que os países mais desenvolvidos têm sobre a produção, distribuição e utilização do conhecimento corporizado nas pessoas como capital humano e em tecnologia.

A digitalização desponta como uma rápida solução, impulsionando a automação e a transformação de todas as estruturas produtivas mudando a forma como se produz, consome, transporta e interage (RAMA, 2016). Assim, as questões acerca da desigualdade social são impostas como responsabilidade individual, acarretada pelos méritos que alguns conseguiram em detrimento de outros, explicando a estratificação social, onde ocorre a associação direta entre os mais qualificados profissionalmente e que tem maior escolarização que uma pessoa com a pobre e com pouca qualificação.

Nas últimas décadas, sob uma acirrada crise de substituição de importações, retoma-se de forma crítica o caminho de reprimarização, conservando o paradigma, onde os produtos primários não autorizam que sejam incorporados os conhecimentos sobre o modelo e os exportadores agrícolas não contam com benefícios que se comparem a longo prazo, considerando que não são o cerne da inovação.

O esforço por uma qualificação do indivíduo que deseja as maiores colocações no ranking do mercado laboral tem que passar pelo ensino superior. Os critérios do mercado têm crescimento contínuo que, dentre outros fatores, pode ser pelo desenvolvimento de inovações tecnológicas que exigem sólida proficiência do profissional. A competitividade exige que o profissional esteja preparado para demonstrar suas competências e habilidades em determinada área, pois existe uma associação direta entre posicionamento no mercado de trabalho e aperfeiçoamento acadêmico, quanto maior for o empenho investido maiores serão as oportunidades profissionais que se apresentarão ao indivíduo.

Neste sentido, Carnoy (2007) demonstrou em seus estudos formação profissional especializada, educação expressivamente utilizada não corresponde à sociedade cultural, ocupacional e tecnológica em mudança instantânea, demonstrando que o primordial é uma educação global que modela a mente do sujeito até que ele possa incorporar o processo de mudança, com a respectiva adaptação aos novos critérios profissionais por meio da aprendizagem durante seu ciclo de vida.

Nesse sentido, a educação não somente transmite conhecimentos para o mercado, mas também é a ferramenta articuladora e desarticuladora para que outros conhecimentos dos interesses dominantes prevaleçam. Frigotto (1993, p. 44) ultrapassa quando diz que: “a escola é uma instituição social que mediante suas práticas no campo do conhecimento, valores, atitudes e, mesmo, por sua desqualificação, articula determinados interesses e desarticula outros”.

Dessa forma, percebe-se que a situação se refere à subordinação da função social da educação controladamente para dar uma resposta às demandas do capital, sendo a educação responsável pela função estratégica no contexto neoliberal, formando o cidadão trabalhador para o processo de produção.

Um dos meios para mensurar os benefícios da Educação, para o indivíduo e para a sociedade, são as taxas de retribuições privadas e sociais. As primeiras são destinadas a mensurar os custos efetuados pelos indivíduos e, as segundas, a rentabilidade dos investimentos governamentais. Normalmente quanto mais o país for rico, são menores as taxas de retornos privados e sociais dos projetos educacionais, porém, em muitos países pobres, os retornos privados e sociais são bem altos e este retorno é bem maior em locais onde a instrução é insuficiente propiciando salários maiores acentuando a desigualdade social (IOSCHEP, 2004).

O mercado laboral no mundo tem uma extrema dinamicidade que resulta da ampliação do conhecimento e sua força na expansão da divisão social e técnica de trabalho, aumentando a concorrência entre pessoas e instituições e novas competências e ofertas de bens e serviços (RAMA, 2016). Quando se pensa em desenvolvimento social e econômico, deve-se considerar o grau de escolaridade que está sendo investido, uma vez que a criação de políticas públicas que estimulem a incorporação no ensino superior funciona como um instrumento para satisfazer as necessidades do mercado de trabalho hoje, e isto está relacionado de forma direta com o incremento da evolução econômica e social (RAMA, 2014).

Neste sentido, uma política sócio-educacional também se caracteriza como uma política econômica, considerando que esta planejaria, regulamentaria e distribuiria recursos e financiamentos que interfeririam de forma direta nos setores da economia, com intervenções positivas nas relações do processo produtivo; estes fatores estão unidos na dinâmica educacional e nos fatores econômicos (PIRES, 2005).

A Massificação e diferenciação, demandam que as instituições trabalhem em critérios comuns, saindo de abordagens isoladas das universidades para abordagens governamentais sistêmicas. As novas normas sistêmicas orientam a trajetória do aprendizado em todos os países, evidenciados por processos de avaliação, regulação, sistemas créditos e padrões globais com sistemas de reconhecimento e mobilidade, como um meio de maior importância e potencial para responder às questões sociais e trabalhistas (RAMA, 2016).

Em outra perspectiva, é bem complexo fazer uma análise acerca da instituição universitária, uma vez que esta demonstra as inevitáveis ​​controvérsias que a constituem, pois é o local onde o exame racional é testado até o limite de suas possibilidades, e ainda é onde as ideologias são construídas, principalmente sobre si mesma; por outro lado, também é na Instituição que começou a desigualdade desde a escola.

Schultz (1971, p.33) afirma que “ao investirem em si mesmas, as pessoas podem ampliar o raio de escolha posto à disposição. Esta é uma das maneiras por que os homens livres podem aumentar o seu bem-estar”. Assim, aumentar o investimento no capital humano é um fator preponderante para o desenvolvimento econômico e pode elevar os lucros produtivos do trabalhador, sendo estes econômicos e também sociais.

Outra questão da universidade, é que o retorno social seria muito baixo devido em razão dos altos custos, distintamente dos retornos privados, onde os benefícios são bem mais elevados, pois o estoque de conhecimento de uma sociedade é determinante para seu crescimento e desenvolvimento, pois apenas com o acúmulo de conhecimento é que surgirão novas ideias, inovações e invenções, que se repercutirão sobre o aumento da taxa de crescimento econômico (IOSCHEP, 2004).

Em suma, a universidade apesar das concepções de racionalidade é que exercita diversas contradições desordenadas e talvez seja esta a razão pela qual produza tão grande fascínio. Estas contradições são evidenciadas hoje como resultantes de mudanças enfrentadas pelo sistema universitário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que transcorreram algumas décadas, entretanto, a Teoria do Capital Humano se cobriu de novos conceitos e assimilou novos pares para difundir as concepções mercadológicas. A educação preserva sua servidão ao capital tanto de forma direta quanto indireta, seja na formação da força laboral e o protótipo de homem que tem utilidade neste sistema, isto é, pelo disfarce das relações sociais e das desigualdades causadas por este modelo.

As exigências do mercado de trabalho estão aumentando constantemente, dentre outras razões, por causa da incorporação das novas tecnologias é exigido cada vez mais o rigor de conhecimento profissional para torna-lo proficiente e competitivo, tendo que demonstrar suas competências e habilidades. Assim, é evidente que existe um vínculo direto entre a colocação no mercado de trabalho e o aperfeiçoamento acadêmico, uma vez que, quanto maior for o empenho dispensado, maiores serão as possibilidades profissionais que surgirão.

Entretanto, os retornos advindos da Educação são maiores onde a instrução é insuficiente, favorecendo salários mais atrativos que, acabam por acentuar a desigualdade salarial. Em relação ao ensino universitário, a resposta social seria muito baixa por causa dos custos expressivos, distintamente das respostas do setor privado, onde os benefícios são bem mais significativos.

Diante do exposto, cumpre ressaltar que a função educacional associada aos interesses econômicos do capital, acaba perpetuando o sistema capitalista, onde o poder é dado a poucos. Muitas teorias educacionais potencializam e articulam a educação para que resguardar a preservação do status quo e constitua o tipo idealizado de homem para esta finalidade, mas é premente que se levante críticas que rompam com este ciclo de subserviência.

Dessa forma, entenda-se que a educação tem sofrido inúmeras influências dos padrões do ‘mercado’, cujo centro está nos seus princípios e práticas da racionalidade mercantil, produtividade, competitividade e flexibilidade. Se trata de um ajuste aos padrões das “condições pós-modernas”, estimulada por valores midiáticos e concepções místicas da realidade, surgindo, assim, a busca por uma educação universitária que possa refletir a real situação propondo um rompimento em prol de uma educação que possa alcançar a todos.

REFERÊNCIAS

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KOWALTOWSKI, D. C.C.K.; LABAKI, L. C.; PINA, S. A. M. G. Conforto e ambiente escolar. Cadernos de Arquitetura DAUP/FAAC/UNESP, Bauru: 2001.

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[1] Aluno do Curso de Maestria en Educación. Universidad de La Empresa – UDE/ Urugua.

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Marcos Antonio da Conceição Silva

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