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Marcas da Oralidade na Escrita de Alunos do Primeiro Ciclo da EJA, do Centro Educacional Urbano Rocha

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CONTEÚDO

SILVA, Lídia Alves da [1]

SILVA, Lídia Alves da. Marcas da Oralidade na Escrita de Alunos do Primeiro Ciclo da EJA, do Centro Educacional Urbano Rocha. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 2, Vol. 13. pp 242-249 Janeiro de 2017 ISSN:2448-0959

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar as marcas da fala ocorrido na escrita, em textos produzidos por alunos do primeiro ciclo da Educação de Jovens e Adultos (EJA), do Centro Educacional Urbano Rocha. Pautada no quadro teórico dos estudos sociolinguísticos Bortoni – Ricardo (2004), o fenômeno em questão é analisado numa amostra representada por textos de onze alunos, com faixa etária entre 40 a 60 anos de idade. Esses fenômenos são frutos das variações linguísticas ocorridas na língua e estão presentes na escrita dos alunos da EJA. Com isto, a análise da amostra da língua escrita permitiu a identificação de palavras cuja grafia não atendem à norma padrão da língua portuguesa, mas podem ser explicados de forma geral como um reflexo dos processos fonéticos na escrita desses alunos. Diante do resultado analisado, ficou comprovado o importante papel e as contribuições que a sociolinguística tem a fornecer ao ensino da língua materna. A sociolinguística não existe para rotular ou estigmatizar o aluno, mas para ajudá-lo a lidar com possíveis problemas encontrados em sua língua materna.

Palavras-chave: Escrita, Fala, Fenômenos Fonéticos, EJA, Ensino.

INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destaca-se como modalidade de ensino voltada para aquelas pessoas que não tiveram acesso a escola de ensino regular ou não puderam concluir seus estudos na idade e no tempo apropriado, pelos mais diversos motivos. O estabelecimento das políticas educacionais para esse público pauta-se na finalidade de garantir o direito pertencente a cada um, de poder receber de maneira gratuita e com qualidade, por parte das instituições publicas, a instrução necessária que lhes possibilite uma melhor perspectiva de vida com dignidade, conforme a orientação do Ministério da Educação:

A LDBEN no. 9.394 96 prevê que a educação de jovens e adultos se destina àqueles que não tiveram acesso (ou não deram continuidade) aos estudos no Ensino Fundamental e Médio, na faixa etária de 7 a 17 anos, e deve ser oferecida em sistemas gratuitos de ensino, com qualidades educacionais apropriadas, considerando as características, interesses, condições de vida e de trabalho do cidadão. (BRASIL, 2002. p.17)

Nesse sentido, o público-alvo da EJA caracteriza-se por sua heterogeneidade, seja pela idade do aluno ou pelas diferenças relacionadas a forma como cada indivíduo estabelece suas relações com a sociedade. Em se tratando da turma “C” do primeiro ciclo da EJA, encontra-se na faixa etária de 40 a 60 anos, e metade dos alunos era proveniente da zona rural. O que atesta as marcas da oralidade presente em seus textos. Contudo, tal afirmação não convalida o mito de que as pessoas sem instrução falam tudo errado (BAGNO, 1999). Estes sem a compreensão do estudo da sociolinguística acabam por estigmatizar os alunos, rotulando-os como “ignorantes” “burros”, “ fulano não sabe falar”. A fala passa a ser julgada em função dos status social do individuo, não sabendo que tal fenômeno é explicado cientificamente pelos estudos da sociolinguística como sendo um fenômeno fonético, que contribuiu para formação da própria língua portuguesa padrão sem desmerecer as marcas regionais de uma dada comunidade linguística.

Em seus estudos, Labov (2008) mostrou que nenhuma variedade de língua é menos lógica ou tem menos sentido ou ainda é mais simples que outra, mas simplesmente diferente. Bortani-Ricardo (2004), ainda complementa dizendo que qualquer língua comporta diferentes variedades, que devem ser entendidas linguisticamente e respeitadas, sejam elas usadas por um indivíduo escolarizado ou por um indivíduo analfabeto, sejam elas de variedades cultas ou de variedades vernaculares.

Portanto, é notório a necessidade de uma abordagem didático-pedagógica inclusiva e não- estigmatizante, e isto requer processos pedagógico-linguísticos adequados que possam integrar variantes que os alunos trazem da região que viveram na zona rural, durante a infância, para a escola. E a sociolinguística educacional (BORTANI-RICARDO, 2004), parece fornecer uma das maiores contribuições ao ensino, a fim de que os professores tenham em mãos ferramentas que os auxiliem na prática pedagógica educacional, na modalidade oral e escrita. O domínio dos postulados sociológicos básicos é o mínimo que se espera de um professor de língua portuguesa, a fim de que seus alunos tenham condições de desenvolver plenamente suas competências sociocomunicativas e não dogmatizar a fala do indivíduo em certo ou errado. Quanto a isto Bagno (1999), afirma categoricamente que a aplicabilidade da linguística leva o aluno a entender que não existe o certo ou o errado, mas o adequado e o inadequado diante das variações linguísticas.

Com base na relação existente entre a oralidade e a escrita, este artigo tem o propósito de analisar as marcas da oralidade nos textos escritos pelos alunos do primeiro ciclo da EJA, no Centro Educacional Urbano Rocha, em Imperatriz.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Pensando sob a língua na modalidade escrita, Bortoni-Ricardo (2004) explica que, “as crianças manifestam espontaneamente “ecos” naturais de sua pronuncia e também incorpora aspectos convencionais da escrita encontrados na sociedade a qual está inserida”. No ato da fala o indivíduo recorre à oralidade para levantar hipóteses sobre a escrita, e ao usar a escrita conduz uma análise da própria fala.

Quanto à língua falada, o erro não constitui um padrão de transgressão de algum sistema de regras da língua, mas uma variedade que ocorre e concorre com outras variedades linguística sendo assim, um fato social e não gramatical. Resultando apenas numa inadequação do uso da fala.

Segundo Marcuschi (2007), a escrita seria para muitos linguísticos, uma modalidade da língua complementar da fala.  Mas apesar disso, são modalidades diferentes e que possuem elementos básicos com: os aspectos formais, estruturais e semiológicos, ou seja, os aspectos sonoros e gráficos.

Bortoni-Ricardo (2008) ainda apresenta dois tipos de erros ocorridos por ocasião da escrita. Os que resultam da interferência de traços da oralidade e os que se explicam porque a escrita é regida por um sistema de convenções arbitrárias.  Portanto, cabe aos professores fazerem a distinção entre problemas ocasionados na escrita e na leitura que decorrem da interferência das regras fonológicas variáveis e outros que se explicam pela falta de familiaridade do alfabetizando com as conversões da língua escrita para que possam assim, trabalhar eficazmente.

Fica em evidência que compreender os fatores linguísticos e sociais responsáveis pela variação parece ser o primeiro passo à identificação de fronteiras entre os diferentes falares de uma comunidade e o uso das normas usado pela mesma. O público alvo deste artigo – a EJA, que se caracteriza por sua heterogeneidade dentro da sala de aula.

METODOLOGIA

Essa pesquisa foi realizada durante uma regência da prática de estágio supervisionado no ensino médio, no Centro Educacional Urbano Rocha, com os alunos do primeiro ciclo da EJA, no início de maio de 2016. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, quantitativo, interpretativista, fundamentada nos estudos sociolinguísticos (LABOV, 2008), com ênfase na variação linguística (BORTONI-RICARDO, 2004). O aspecto quantitativo justifica-se em função da necessidade de serem utilizadas categorias para analisar o uso das normas linguísticas. O procedimento metodológico adotado é baseado na pesquisa exploratória e descritiva, com procedimentos de coletas obtidos no campo de pesquisa, Centro Educacional Urbano Rocha.

ANALISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A parti da análise das produções textuais dos alunos do primeiro ciclo da EJA, pudemos observar que a oralidade ainda interfere muito na escrita desses alunos selecionados. Foram encontrados diversos desvios que podem ser explicados pela influência da fala, e pela falha do sistema ortográficos nas escritas desses alunos.

Texto 1 - Texto escrito pela aluna Lemeíde Araújo, aluna do Primeiro Ciclo da EJA, do turno noturno do Centro Educacional Urbano Rocha
Texto 1 – Texto escrito pela aluna Lemeíde Araújo, aluna do Primeiro Ciclo da EJA, do turno noturno do Centro Educacional Urbano Rocha
Texto 2 - Texto escrito pelo aluno David de Oliveira Tomaz, aluno do Primeiro Ciclo da EJA, do turno noturno do Centro Educacional Urbano Rocha
Texto 2 – Texto escrito pelo aluno David de Oliveira Tomaz, aluno do Primeiro Ciclo da EJA, do turno noturno do Centro Educacional Urbano Rocha

Nas amostras, foi observado que as palavras que deveriam aparecer como infinitivo verbais, foram grafadas sem o /r/ no final. Como exemplo temos: ‘trabalhá’, em vez de ‘trabalhar’; ‘cuidá’, em vez de ‘cuidar’, ‘estudá’, em vez de ‘estudar’. Este fenômeno é classificado como apócope, que consiste na supressão de um fonema no final de uma palavra.

Outros fenômenos identificados, foram a epêntese vocálica, caracterizada pela emissão de uma vogal entre consoantes. Nos textos analisados a epêntese vocálica ocorreu com o fonema /i/.  As variantes observadas foram grafadas como: ‘adapito’, em vez de ‘adapto’ e ‘decepição’, em vez de ‘decepção’.

Identificou-se também alçamento da vogal pretônica, as variantes observadas foram grafadas como: ‘istava’, em vez de ‘estava’; ‘disculpa’, em vez de ‘desculpa’. Tal fenômeno caracteriza-se pela elevação das vogais pretônicas de uma vogal em silaba subsequente, no caso dessas variantes a elevação da vogal ocorreu com o fonema /i/.

Nos casos em que houve o apagamento do ‘s’ no dígrafo ‘sc’ como no caso, ‘nacis’ em vez de ‘nasci’ e os que apresentaram segmentação, acredita-se ter ocorrido não interferência da fala, mas pela falta de um conhecimento maior por parte do aluno quanto ao uso correto do sistema ortográfico, como ‘usalos’ em vez de ‘usá-los’, ‘di’ em vez de ‘de’, ‘voutei’ em vez de ‘voltei’, ‘capas’ em de ‘capaz’, ‘moreu’ em vez de ‘morreu’, ‘nacidadi’ em de ‘na cidade’, porém, o domínio só virá com o tempo, como bem afirma a autora Bortoni-Ricardo (2006), “Dominar bem as regras de ortografia é um trabalho para toda a trajetória escolar e, quem sabe, para toda a vida do indivíduo.

A parti dessas observações realizadas sobre os fenômenos da fala encontrados na escrita dos alunos do primeiro ciclo da EJA, percebe-se a urgência na tarefa de proporcionar a estes alunos aquilo que já lhe são por direito segundo a LDBEN, (BRASIL, 2002. p.17) garantindo aos alunos da EJA, um “[…] ensino, com qualidades educacionais apropriadas, considerando as características, interesses, condições de vida e de trabalho do cidadão. ” E quem pode ajudar a esses alunos é a sociolinguística com suas contribuições ao ensino de língua materna.

Observaremos abaixo, a apresentação dos fenômenos encontrados nas amostras dos alunos do primeiro ciclo da EJA.

FENÔMENO PALAVRA
1 Apócope (supressão do –r que marca o infinitivo nos verbos) entrá, estudá, praticá, trabalhá, contá, buscá, morá, ficá, falá, assistí, cuidá.
2 Apagamento do ‘s’ no dígrafo ‘sc’ nacida, naci
3 Epêndese (inserção de vogal em sílaba) mais
4 Epêntese vocálica (emissão de uma vogal entre consoantes) decepição, adapito
5 Assimilação (o morfema –‘nd’ sofre uma redução para –‘no’. sentino, mandano
6 Alçamento da pretônica (elevação das vogais pretônicas por influência de uma vogal em silaba subsequente. istava, disculpa, ispontanio
7 Segmentação indabem, nacidade, paranu, porisso

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os fenômenos linguísticos encontrados nas amostras asseguram que algo deve ser feito em prol desses alunos. Levando-se em conta que são de uma modalidade educacional de característica heterogênica, e que um percentual significativo vem de regiões diferentes da zona rural, o professor deve se equipar dos instrumentos da sociolinguística e proporcionar a estes alunos um diferencial.

As amostram comprovam ainda que os fenômenos da fala têm interferido na escrita dos alunos da EJA, o que pode ser reflexo da falta de oportunidade escolar.

É bastante perceptível nos textos produzidos pela turma “C” da EJA no Centro Educacional Urbano Rocha, marcas da oralidade em seus escritos. Mas elas, poderiam ser sanadas com a ajuda do professor em sala de aula com os instrumentos dispostos pela sociolinguística. Os fenômenos fono-ortográficos, o apagamento do /r/ nas formas verbais, a assimilação das consoantes, a elevação das vogais pré-tônicas, a falta de segmentação e tantas outras, deixam explícito a grande necessidade de uma abordagem didática pedagógica inclusiva e não-estigmatizante e para isto, a sociolinguística precisa estar presente cada vez mais nas escolas e  uma vez que o professor munido dos elementos analíticos que a sociolinguística dispõe, o entendimento e o aprendizado da língua portuguesa será bem sucedida se estes forem usados em benefício do alunado.

REFERÊNCIAS

LABOV, Willian. Padrões Sociolinguísticos. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: Sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico – o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

MOLLICA, Maria Cecilia. Fala, Letramento e Inclusão Social. São Paulo: Editora Contexto, 2007.

PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PRIMEIRO E SEGUNDO CICLO DO ENSINO MÉDIO: LÍNGUA PORTUGUESA. Brasília, secretaria de educação / MEC, 1998.

[1] Graduanda em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

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Lídia Alves da Silva

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