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Atividade física e saúde de quilombolas das comunidades Canabrava, Custaneira e tronco

RC: 131156
504
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao-fisica/saude-de-quilombolas

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL 

SOUSA, Arthur Junior Rodrigues de [1], SOUSA, Áureo João de [2], FIGUEIREDO, Luciano Silva [3], SILVA, Rita de Kássia Leal e [4], SAINTRAIN, Maria Vieira de Lima [5], MOURA, Vitória Martins Granja de [6], MORAES, Francisco Railan Alves de [7], ARAGÃO, Janaína Alvarenga [8]

SOUSA, Arthur Junior Rodrigues de. Et al. Atividade física e saúde de quilombolas das comunidades Canabrava, Custaneira e tronco. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 11, Vol. 01, pp. 103-114. Novembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao-fisica/saude-de-quilombolas, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao-fisica/saude-de-quilombolas

RESUMO 

A prática de atividades físicas pode trazer inúmeros benefícios para o bem-estar e qualidade de vida de um indivíduo. Mesmo afirmando isso, é sabido que grupos vulneráveis podem não gozar desses proveitos pela falta de acesso às condições necessárias para boa realização dessas atividades, porém outras práticas relacionadas a sua rotina e cultura podem ter influência semelhante, também lhes trazendo benefícios. Observando isso, questionou-se qual a frequência da prática de atividades físicas realizadas cotidianamente numa comunidade de quilombolas e se são suficientes para agir como fator de proteção da saúde. Dessa forma, o presente estudo visou identificar as atividades físicas e os fatores associados à manutenção da saúde de quilombolas das comunidades Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco. Para isso, os procedimentos metodológicos, basearam-se nos fundamentos de um estudo analítico-descritivo, usando-se uma abordagem quantitativa. Inicialmente foram observadas as práticas corporais realizadas, a frequência que realiza na semana e horas por dia. Quando classificados quanto ao nível de atividade física, 80% foram apontados como muito ativos e 20% como pouco ativos. Pode-se observar também, que indivíduos do sexo masculino tiveram concentração maior na classificação de nível muito ativo em relação às mulheres, que apresentaram maior incidência nas classificações de nível pouco ativo. Ao fim do estudo se percebeu que os participantes da pesquisa obtiveram resultados satisfatórios nos níveis de atividade física relacionada à saúde e a partir dos dados obtidos, verificou-se que os níveis de atividade física das práticas corporais dos quilombolas da comunidade estão de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

Palavras-chave: Atividade Física, Quilombolas, Saúde.

1. INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde define atividade física como sendo qualquer deslocamento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que solicitam gasto de energia – incluindo atividades físicas praticadas durante o trabalho, jogos, execução de tarefas domésticas, viagens e em atividades de lazer (OMS, 2014). As diferentes formas de atividade física variam entre as pessoas. Com o intuito de proporcionar benefícios para a saúde cardiorrespiratória, todas as atividades físicas devem ser praticadas em sessões de pelo menos dez minutos de duração (OMS, 2014).

Estudos epidemiológicos indicam que grande parcela da população não atende às propostas atuais quanto aos níveis de atividade física. Tal quadro é constantemente observado em grupos economicamente carentes, os quais geralmente apresentam menor frequência de atividade física, mais especificamente no âmbito do lazer. A falta de dinheiro, de informação e de ambientes favoráveis podem influenciar na ocorrência de inatividade física nessas populações (BEZERRA et al., 2015).

Os quilombolas são povos que têm sua cultura diferenciada e que se assumem como tais, eles se organizam e se manifestam de forma própria em seus territórios, utilizando recursos naturais, partindo de conhecimentos, inovações e práticas transmitidas tradicionalmente (BRASIL, 2013).

A prática de atividades físicas é uma ação muito importante para a vida de todos os seres humanos, visando mantê-la saudável e livre de problemas de saúde. Praticar atividade física melhora a absorção dos nutrientes, auxilia no processo digestivo e aumenta o metabolismo, que é essencial que estejam em bom funcionamento para ter bons resultados na perda de peso e equilíbrio do corpo.

Quando comparadas a atividade física, e as atividades realizadas nas comunidades, incluindo as práticas corporais, percebem-se que as mesmas estão interligadas segundo seus conceitos e práticas. Partindo dessa perspectiva, levantou-se a hipótese de que quando essas práticas são realizadas, além da finalidade de se ter um resgate cultural, os praticantes recebem benefícios à saúde. Os quilombolas representam um grupo com fortes traços étnico-raciais, de ancestralidade negra, com atividades do seu cotidiano ligadas aos trabalhos rurais ou culturas de subsistência e manutenção de manifestações culturais e religiosas, onde os mesmos possuem atividades físicas que podem ser identificadas na execução de práticas relacionadas a seus costumes, conceitos e vivências.

Diante disso o interesse desse estudo surgiu mediante a importância que a atividade física feita de forma adequada representa, podendo trazer benefícios para as comunidades quilombolas, tais como: a prevenção ou melhora de doenças cardiorrespiratórias, redução da pressão arterial, melhora no bem-estar, melhora da autoestima, aumento de energia para outras atividades, melhor flexibilidade, postura e resistência muscular. Observando isso, questionou-se qual a frequência da prática de atividades físicas realizadas cotidianamente numa comunidade de quilombolas e se são suficientes para agir como fator de proteção da saúde. Assim, o objetivo desse trabalho foi identificar as atividades físicas e os fatores associados à saúde de quilombolas das comunidades Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco.

2. METODOLOGIA

A pesquisa que dispôs os dados para realização do presente trabalho foi realizada com base num estudo observacional, analítico e descritivo, com abordagem quantitativa.

O estudo foi realizado na comunidade Custaneira e Tronco Município de Paquetá-PI, após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Piauí- UESPI.

A área de unidade territorial da pesquisa corresponde ao Município de Paquetá – PI, situado a 25 km a Sul – Oeste de Picos, cidade da qual foi desmembrado pela Lei Estadual nº 4680, de 26-01-1994, sendo elevada à categoria de município e distrito (IBGE, 2015). O Paquetá acolhia uma população de 4.147 habitantes de acordo com o censo realizado em 2010 (IBGE, 2010).

O município se estende por 448, 358 km², e sua densidade demográfica é de 9,2 habitantes por km² no seu território, tendo grande proximidade dos municípios de Santa Cruz do Piauí, Dom Expedito Lopes e Geminiano (IBGE, 2015).

No município de Paquetá – PI existem várias comunidades quilombolas, dentre elas, a pesquisa foi realizada nas comunidades Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco, que possui aproximadamente 240 habitantes, onde os moradores realizam práticas agrícolas e artesanais como forma de subsistência.

O questionário foi aplicado no mês de outubro e novembro de 2019 em 30 pessoas de ambos os sexos na faixa etária de 18 anos, os mesmos, consentiram em participar da pesquisa.

Houve contato prévio com os líderes das comunidades quilombolas Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco com a intenção de apresentar a proposta e realizar possíveis adequações, ainda conhecer o espaço a ser utilizado, observar as práticas corporais realizadas por eles e demais questões necessárias para a realização da pesquisa.

De início foi observado através de entrevista quais as práticas corporais realizadas por eles, a frequência de realização durante a semana e por quantas horas no decorrer do dia. Também, para traçar o perfil dos participantes do estudo, e obter-se outros dados, todos os voluntários responderam a um questionário inicial elaborado pelo pesquisador, o questionário também analisava do perfil demográfico dos voluntários.

Com o objetivo de comparar o nível de aptidão física associado à saúde de adultos que realizam atividades físicas nas comunidades quilombolas Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco em Paquetá – PI, para este estudo, foi utilizado um questionário International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), forma longa, semana usual/normal. Os resultados foram tabulados no programa Microsoft Office Excel, para que fosse possível realizar a organização, leitura e exploração dos dados coletados.

O IPAQ é um questionário quantitativo descritivo, através dele foi possível calcular o tempo utilizado em atividades físicas de médio impacto e vigorosa, também a caminhada. Tal questionário contém 5 etapas em diferentes contextos do cotidiano, como: trabalho, locomoção, atividades no domicílio e lazer, além do tempo despendido em atividades passivas, realizadas na posição sentada (BENEDETTI et al., 2007).

Com os participantes da Comunidade de Custaneira a pesquisa foi realizada na Casa de Sementes ou no lugar de preferência do entrevistado. Para os participantes da Comunidade Tronco, foi realizada na casa do Agente Comunitário de Saúde ou no local de sua escolha. Em Canabrava dos Amaros, o local escolhido foi a Unidade Escolar Augustinho José Garcia.

Antes da aplicação dos questionários foi lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para cada um dos entrevistados, o qual foi assinado em duas vias, onde uma com o entrevistado e a outra com o pesquisador. Nele, foi explicitado que o participante da pesquisa poderia desistir da mesma em qualquer fase de sua execução. Os autores também garantiram privacidade, preservação dos dados coletados, confidencialidade e o anonimato dos indivíduos pesquisados. Para isso os entrevistados foram nomeados por E1, E2, E3 e assim sucessivamente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A amostra contou com 30 indivíduos, sendo 50% (n=15) do sexo masculino e 50% (n=15) do sexo feminino, todos devidamente cadastrados na associação de moradores das comunidades Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco, com faixa etária entre 18 á 65 anos (Tabela 1).

Com a finalidade de caracterizar a amostra estudada foi utilizado um questionário sociodemográfico composto por questões de respostas estruturadas. O instrumento possui itens relacionados à idade, gênero, alfabetização, escolaridade, estado civil, religião, atividade física, doenças crônicas, entre outros.

A totalidade dos convidados que aceitaram participar da sondagem, responderam todas as questões. A maioria dos indivíduos relatou possuir um relacionamento conjugal (57%), quanto ao nível de escolaridade, 67% possuem ensino fundamental, 67% possuem hábitos saudáveis. Referente às religiões adotadas na comunidade, 70% são católicos e 16% umbandistas. Além dessas informações relacionadas ao perfil da população do estudo, do total de 30 participantes 73% da comunidade informaram praticar atividade física.

A baixa escolaridade foi predominante dentro da população pesquisada. Tais resultados corroboram com os achados da literatura que enfatizam a baixa escolaridade como uma das maiores dificuldades da população rural (BERTUZZI; PASKULIN e MORAIS, 2012).

O termo qualidade de vida (QV) tem sido muito importante na promoção da saúde, sustenta-se numa concepção de satisfazer as necessidades mais essenciais da vida humana como a alimentação, acesso à água potável, habitação, trabalho, educação, saúde e lazer; elementos materiais que têm como referência noções concernentes de conforto, bem-estar e realização, tanto individual, como coletiva.
Tabela 1: Perfil Demográfico das comunidades Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco

VARIAVEIS N (%)
SEXO  
Masculino 15 (50%)
Feminino 15 (50%)
FAIXA ETÁRIA
Máxima 65 anos
Mínima 18 anos
Mediana 38.1
ESCOLARIDADE
Fundamental 20 (67%)
Médio 9 (30%)
Superior 1 (3%)
DOENÇAS CRÔNICAS
Saudáveis 20 (67%)
Crônicas 10 (33%)
RELIGIÃO
Católicos 21 (70%)
Umbanda 2 (7%)
Católico/Umbanda 5 (16%)
Sem Religião 2 (7%)
ATIVIDADE FISICA
Praticante 22 (73%)
Não praticante 8 (27%)

Fonte: Rodrigues, 2019.

Muito se tem estudado sobre QV, mas ainda não existe um consenso sobre a operacionalização desse conceito. Estudos convergem quanto aos componentes da QV, sendo divididos em aspectos objetivos (renda, escolaridade, alimentação, ocupação, entre outros) e subjetivos (bem-estar subjetivo, satisfação com a vida, suporte social, dentre outros). O conceito de QV está ligado às características positivas da vida humana, que incluem boa saúde, bem-estar físico e social e presença de recursos econômicos.

Tabela 2: Questionário Internacional de Atividades Físicas (IPAQ) aplicado nas comunidades Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco

VARIAVEIS N (%)
AF NO TRABALHO
Muito ativo 17 (57%)
Pouco ativo 11 (37%)
Inativo 2 (6%)
AF NO TRANSPORTE
Muito ativo 15 (50%)
Pouco ativo 15 (50%)
AF DOMÉSTICA
Muito ativo 9 (30%)
Pouco ativo 21 (70%)
AF LAZER
Muito ativo -22 (73%)
Pouco ativo 8 (27%)
SENTADO
Muito ativo 19 (63%)
Pouco ativo 11 (37%)
Inativo 0 (0%)
TOTAL
Muito ativo 24 (80%)
Pouco ativo 6 (20%)
Inativo 0 (0%)

Fonte: Rodrigues, 2019.

Santos et al. (2014) discute que seu estudo buscou por correlações entre os domínios de qualidade de vida e variáveis sociodemográficas. Por isso, surgem diversas inquietações de como se encontram as condições de saúde e a qualidade de vida das pessoas que vivem em comunidades remanescentes de quilombolas e que, por sua vez, no decorrer da sua vida, tenham vivido algum determinante social de saúde desfavorável a um envelhecimento saudável, o que foi observado no resultado dessa pesquisa onde a maioria não possui doenças nem físicas e mentais.

A tabela 2 demonstra que, do total da amostra (n= 30), 80% da população da comunidade Custaneira e tronco foram classificados como muito ativo, 20% da população foram classificados como pouco ativo. Pode-se observar também, que indivíduos do sexo masculino tiveram concentração maior na classificação de nível muito ativo em relação às mulheres, que apresentaram maior incidência nas classificações de nível pouco ativo.

Conforme Silva et al. (2010), hoje existem muitos recursos para verificar o Nível de Atividade Física (NAF) entre os povos, comunidades, pessoas de uma determinada região ou lugar no mundo, que mudam a maneira como avaliam, podendo utilizar desde sensores de movimento até simples questionários.

O propósito do grupo do IPAQ foi desenvolver e avaliar a validade e reprodutibilidade de um instrumento de medida do nível de atividade física possível de ter um uso internacional, o que permitirá a possibilidade de realizar um levantamento mundial da prevalência de atividade física no mundo. Muito pouco é conhecido sobre os hábitos de atividade física de pessoas que vivem em países em desenvolvimento, embora isto possa ser razoavelmente especulado, apontando que a Atividade Física (AF) no tempo livre seja realizada em pequenas proporções na atividade total (SILVA et al., 2010).

Considerando que a preocupação com a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) tenha crescido nos últimos anos nas empresas privadas, no âmbito do serviço público e em região rural, embora a maioria dos estudos publicados sobre o tema mostre que importantes avanços foram feitos nessa área, há ainda enormes desafios para se instaurar a QVT como política pública e como valor estratégico na cultura das organizações públicas.

A importância dada à atividade física relacionada à qualidade de vida no trabalho é crescente na literatura e na prática organizacional, já que, em muitas ela tem sido integrada na rotina das organizações como forma de combater o estresse e aumentar a produtividade. No entanto, as pesquisas nessa área precisam avançar, particularmente em relação ao impacto do exercício físico praticado fora da empresa, fora do horário de expediente, em questão do quilombo o trabalho do dia a dia já traz esses benefícios na melhoria da qualidade de vida no trabalho.

Os dados coletados nas comunidades quilombolas de Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco, 50% andam a pé/bicicleta, 50% andam com algum meio de transporte. Segundo Silva; Lopes e Silva (2008), o deslocamento diário das pessoas pode contribuir para um estilo de vida ativo. A caminhada e o ciclismo como meio de transporte para ir à escola ou trabalho têm demonstrado associações positivas na saúde em geral.

Relativo a isto, aponta-se que muitos recursos como a dieta equilibrada e a atividade física são excelentes auxílio para as pessoas na garantia da sua promoção de saúde e melhorias relacionadas à disposição na vida cotidiana. Tal afirmação é encontrada recorrentemente na literatura atual, com fortes evidências, reforçando ainda mais a necessidade de desestimular o sedentarismo, o tabagismo, alcoolismo assim como outros hábitos que afetam diretamente o estado saudável, predispondo o surgimento de patologias e complicações, aumentando a chance de se adquirir, dentre essas, doenças crônicas e degenerativas (SILVA et al., 2010).

O estudo encontrou que 37% das pessoas passam muito tempo sentado, Guiselini (2004) relata que diversas pessoas cometem diariamente um erro comum: deixam de dar início a prática de atividades físicas por estarem acima do peso, mal condicionadas, ou com pouca massa muscular, e ainda, usam isso como pretexto para ter um estilo de vida sedentário.

No entanto, esse conceito na maior parte das vezes se caracteriza por acreditarem que iniciar um programa de condicionamento físico faz parte do dia a dia de pessoas fortes, bonitas, detentoras de um corpo musculoso e sem gorduras, acreditando assim que jamais serão capazes de conseguir tal proeza, o que leva essas pessoas a se excluírem e emitirem desculpas como a indisponibilidade de tempo, preguiça, entre outras (GUISELINI, 2004).

Bezerra et al. (2015), discute que a adoção da prática regular de atividade física é um importante comportamento para prevenção e tratamento não medicamentoso de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Além de aspectos individuais e sociais, os ambientais também têm sido associados aos níveis de AF, uma vez que o contexto físico e social em que pessoas estão inseridas pode ser determinante da prática dessas atividades. Essa situação explica as recomendações atuais para prática regular de AF acumulada em diferentes contextos: lazer, ambiente de trabalho, ambiente doméstico e deslocamento.

Ao relatar um pouco das atividades físicas observadas, buscou-se analisá-las no âmbito da experiência quilombola, considerando-as como constituintes dessa condição humana geográfica e historicamente datada, mas também imersa na contemporaneidade. O que observamos nas manifestações culturais dessa parcela da população brasileira é que, obviamente, não se desenvolvem isoladas do contexto contemporâneo, mas também não são determinadas integralmente por ele, mostrando uma interessante tensão que merece ser mais bem investigada (SILVA e FALCÃO, 2012).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados revelaram que as atividades físicas identificadas nessas comunidades quilombolas estabelecem uma relação com a cultura tradicional que as originaram, mas também com o contexto contemporâneo onde estão imersas, num certo processo de hibridização com a cultura de massas.

Quase todas as atividades físicas apresentam, concomitantemente, um conteúdo de generalidade, que se manifesta também em outros contextos sociais que não são as comunidades quilombolas, e também marcas de especificidade. Isso porque desempenham um papel de manutenção e reconstrução identitária, com uma forte carga de sentido e significado, por serem postas em movimento por sujeitos que de modo especial, são portadores de trajetória histórica e biografia única.

A partir da indagação relacionada à frequência da prática de atividades físicas realizadas cotidianamente numa comunidade de quilombolas e da sua suficiência para atuar como fator de proteção da saúde, no decorrer desse estudo, observando os resultados da realidade investigada, foi possível evidenciar que os participantes da pesquisa das comunidades Canabrava dos Amaros, Custaneira e Tronco obtiveram resultados satisfatórios nos níveis de atividade física relacionada à saúde. Portanto, foi possível verificar que os níveis de atividade física das práticas corporais dos quilombolas da comunidade estão de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

Mesmo com essas afirmações, sugere-se a realização de novos estudos para uma investigação mais profunda, envolvendo outras comunidades quilombolas, aplicando a mesma metodologia em uma amostra maior. Isto, a fim de ter maior clareza sobre os resultados e maior segurança ao indicar considerações ou fazer inferências.

REFERÊNCIAS

BENEDETTI, Tania et al. Reprodutibilidade e validade do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) em homens idosos. RevBrasMed Esporte, v. 13, n. 1, p. 11-6, 2007. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Ciro_Rodriguez_Anez/publication/262589645_Reproducibility_and_validity_of_the_International_Physical_Activity_Questionnaire_IPAQ_in_elderly_men/links/53d50ec00cf220632f3d3cf3.pdf. Acesso em: 08 jun. 2019.

BERTUZZI, Daiane; PASKULIN, Lisiane Manganelli Girardi; MORAIS, Eliane Pinheiro de. Arranjos e rede de apoio familiar de idosos que vivem em uma área rural. Texto & contexto enfermagem. Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 158-166. 2012. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/72186. Acesso em: 18 nov. 2019.

BEZERRA, Vanessa Moraes et al. Domínios de atividade física em comunidades quilombolas do sudoeste da Bahia, Brasil: estudo de base populacional. Cadernos de Saúde Pública, v. 31, p. 1213-1224. 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/8tHPGHGcRktbHdRJdb6Yf8s/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 19 nov. 2019.

BRASIL. Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Guia de Políticas Públicas para Comunidades Quilombolas-GPPCQ. Brasília, 2013. Disponível em: http://www.seppir.gov.br/.arquivos/guia-politicas-publicas-do-pbq. Acesso em: 05 jun. 2019a.

GUISELINI, Mauro Antonio. Aptidão física, saúde e bem-estar: fundamentos teóricos e exercícios práticos. São Paulo: Phorte, 2004. 224 p.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades: Paquetá. História. 2015. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/paqueta/historico. Acesso em: 18 jun. 2019.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades: Paquetá. População. 2010. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/paqueta/panorama. Acesso em: 18 jun. 2019.

OMS. Organização Mundial da Saúde. Atividade Física: Folha Informativa N° 385. 2014. Disponível em: https://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/. Acesso em: 13 jun. 2019.

SANTOS, Renata Carvalho dos et al. Condições de vida e itinerários terapêuticos de quilombolas de Goiás. Saúde e Sociedade, v. 23, p. 1049-1063. 2014. Disponível em: https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0104-12902014000301049&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 10 nov. 2019.

SILVA, Ana Márcia; FALCÃO, José Luiz Cirqueira. Práticas corporais na experiência quilombola: um estudo com comunidades do estado de Goiás/Brasil. Pensar a Prática, v. 15, n. 1, p. 1-271. 2012. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/xmlui/handle/ri/15106. Acesso em: 19 nov. 2019.

SILVA, Glauber dos Santos Ferreira et al. Avaliação do nível de atividade física de estudantes de graduação das áreas saúde/biológica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 13, n. 1, p. 39-42. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-86922007000100009&script=sci_arttext. Acesso em: 19 nov. 2019.

SILVA, Kelly Samara da; LOPES, Adair da Silva; SILVA, Francisco Martins. (2008). Atividade física no deslocamento à escola e no tempo livre em crianças e adolescentes da cidade de João Pessoa, PB, Brasil. Revista brasileira de ciência e movimento, vol. 15, n. 3, p. 63-70. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/view/761.  Acesso em: 08 jan. 2020.

[1] Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual do Piauí. ORCID: 000-0003-1361-635X.

[2] Mestre em Sociologia. ORCID: 0000-0002-0533-8065.

[3] Pós-doutor Desenvolvimento Rural. ORCID: 0000-0002-6564-2720.

[4] Discente do curso de Bacharelado em Direito pela Universidade Estadual do Piauí. ORCID: 0000-0001-6987-9963.

[5] Pós-doutorado em Saúde Coletiva. ORCID: 0000-0003-1514-3238.

[6] Graduada em Medicina. ORCID: 0000-0002-0294-051X.

[7] Graduado em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí. ORCID: 0000-0002-3875-2131.

[8] Orientadora. Doutora. Gerontologia Biomédica. ORCID: 0000-0002-7146-2718.

Enviado: Março, 2022.

Aprovado: Novembro, 2022.

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Janaína Alvarenga Aragão

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