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Jornalismo internacional esportivo: o trabalho de enviados especiais na cobertura dos jogos olímpicos de Tóquio

RC: 125602
358
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao/jornalismo-internacional-esportivo

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

VARGAS, Gianmarco Soares de [1], PALMA, Glaíse Bohrer [2]

VARGAS, Gianmarco Soares de. PALMA, Glaíse Bohrer. Jornalismo internacional esportivo: o trabalho de enviados especiais na cobertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio.  Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 08, Vol. 06, pp. 32-59. Agosto de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao/jornalismo-internacional-esportivo, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao/jornalismo-internacional-esportivo

RESUMO

O presente artigo discorre acerca do trabalho de jornalistas esportivos na cobertura de um evento em âmbito internacional, a partir dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, pelos canais de televisão nacionais: BandSports e SporTV. Como objeto de avaliação, as Olimpíadas são utilizadas para responder ao problema de pesquisa: como os profissionais do jornalismo esportivo de ambas as emissoras sucederam suas atividades durante as Olimpíadas de Tóquio? Como objetivo geral da pesquisa, busca-se compreender o quanto a pandemia modificou a logística de trabalho de cada um destes comunicadores. Para responder ao problema, foram realizados registros do processo de cobertura em um caderno de campo, assim como entrevistas com os enviados Carlos Gil e Thiago Kansler, enfatizando os procedimentos sanitários e as demandas jornalísticas na capital japonesa. A partir da metodologia, chegou-se ao resultado de que o uso do Instagram foi um dos principais recursos que possibilitou a realização das tarefas jornalísticas diárias, mesmo frente a todas as limitações impostas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). A pesquisa, originada de um estudo de caso sobre os Jogos Olímpicos de Tóquio, auxiliou no entendimento do autor de como é desenvolvida a logística de cobertura numa competição de grande magnitude mundial sob as referidas circunstâncias.

Palavras-chave: BandSports, Correspondentes Internacionais, Jornalismo Esportivo, Jogos Olímpicos, SporTV.

1. INTRODUÇÃO

O jornalismo internacional é considerado uma especialização do ofício jornalístico, embasado no trabalho de profissionais da comunicação na cobertura de ocorrências estrangeiras. Essa lógica de atuação divide-se em duas ocupações: os enviados especiais, que saem de um país sede, associados a um veículo nacional, apenas para desempenhar a cobertura de diferentes pautas presenciadas no exterior, com foco na elaboração de conteúdos informativos; e os correspondentes internacionais, que são jornalistas que permanecem fixos em outras nações, para cobrir possíveis eventualidades em uma determinada região continental (DELUCA, 2021).

Por conseguinte, o exercício destes repórteres divide-se em editorias. Entre elas, a de esportes, nicho referente à cobertura de eventos, abrangendo dezenas de modalidades. Ao levar em consideração este parâmetro, há emissoras que destinam 100% de suas atividades para o setor, ao serem compreendidas como veículos que operam exclusivamente com um tema. Entre alguns nomes, estão o SporTV e o BandSports, pertencentes aos grupos Globo e Bandeirantes de Comunicação, respectivamente. Nacionais e sediados no Brasil, ambos dedicam todo seu trabalho de produção a esportes locais e estrangeiros. Neste caso, destacam-se em sua estrutura de trabalho: produtores, repórteres, comentaristas e apresentadores identificados com o assunto.

Por meio destes conceitos, um estudo de caso foi realizado acerca dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, com o propósito de analisar a rotina de trabalho dos jornalistas esportivos do Brasil, enviados pelas emissoras SporTV e BandSports na cobertura da competição, junto aos protocolos de saúde frente à pandemia de Covid-19. No decorrer da pesquisa, análises e entrevistas foram os métodos usados para responder ao problema: como os profissionais do jornalismo esportivo de ambas as emissoras exerceram suas atividades durante a Olimpíada de Tóquio? O material desenvolve-se com o objetivo de compreender o quanto a questão da pandemia modificou suas logísticas de trabalho.

Optou-se pela referida temática em razão do autor estabelecer familiaridade com o esporte e com o jornalismo internacional. Também foi considerada a percepção de que há poucos materiais que retratem as inúmeras características da realidade deste profissional, responsável pela apuração e produção de notícias estrangeiras direcionadas à esfera desportiva. Em meio à consulta de temas próximos ao que foi discorrido, localizou-se a tese de doutorado “Identidade profissional no jornalismo brasileiro: a carreira dos correspondentes internacionais” (AGNEZ, 2014). Nela, consta a avaliação da estrutura identitária de correspondentes internacionais brasileiros e o conhecimento de seus percursos de trabalho nas últimas décadas a partir de seus próprios pontos de vista.

Com caráter qualitativo, a metodologia do estudo de caso (BARROS; DUARTE, 2009) ocorre a partir da avaliação do trabalho dos jornalistas do SporTV e do BandSports, enviados a Tóquio para a cobertura dos Jogos Olímpicos. Buscou-se realizar entrevistas estruturadas e semiestruturadas (GIL, 2009) com alguns destes repórteres, a fim de obter depoimentos que pudessem esclarecer o objetivo da pesquisa.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

2.1 O SURGIMENTO DA IMPRENSA ESPORTIVA NO BRASIL

Com o passar dos anos, o jornalismo brasileiro presenciou grandes mudanças no fazer notícia. A disputa entre editorias e as diferentes formas de apuração e construção informativa criaram novos métodos de relação para os profissionais do setor lidarem com o público. Coelho (2003) enaltece o valor notícia ao relacioná-lo com o esporte, quando o mesmo passava por tentativas de desenvolvimento logo no início do século XX, em um cenário que ainda era pouco permeado pelo tema.

Sobre os obstáculos presenciados pela imprensa, Coelho (2003) destaca:

O jovem repórter deve estar ciente, no entanto, de que especializar-se em esportes é um caminho árduo. Não é a carreira que, na média, oferece melhor remuneração – o jornalista esportivo raramente alcança os patamares dos colegas que cobrem política ou economia. O prestígio, igualmente, não é dos maiores. A editoria é frequentemente tida como a menos nobre de um jornal e costuma ser a primeira da fila na hora dos cortes e redução de despesas. Até mesmo o público costuma colocar em dúvida o esforço daqueles que cobrem esportes, frequentemente tachados de “palpiteiros” (COELHO, 2003, orelha do livro).

Embora hoje a editoria de esportes adote habilidades como requisitos para a empregabilidade, ela já priorizou em outros anos, comunicadores que soubessem trabalhar com a emoção. Além das elaborações informativas, havia um grande espaço para as crônicas, principalmente até a metade do século XX (COELHO, 2003). Narrativa que abrangeu como protagonistas: Mário Filho e Nelson Rodrigues. Este último, fundador do Jornal dos Sports, considerado o primeiro diário dedicado ao assunto no país, em meados de 1930. O trabalho com as crônicas acompanhou os passos do futebol até o final da década de 1970. A emoção e o detalhismo descritivo em diferentes partidas conquistavam, além do público, periódicos promissores que se engajaram com pautas ligadas à seleção brasileira e ao futebol carioca. É claro que, assim como o papel do jornalista deve manter o equilíbrio entre o tom emotivo e o entretenimento, ele jamais poderá esquecer da razão e da seriedade, auxiliadoras na corrente de credibilidade entre fonte e público.

Coelho (2003) evidencia que o drama presente nas crônicas esportivas era inigualável, responsável por um retoque de sentimento e suspense, que dava ao leitor o gosto de acompanhar o futebol. Nelson Rodrigues foi intitulado como um dos principais cronistas da época, capaz de transcrever em drama e poesia o que seus olhos presenciavam nos estádios. De fato, os textos enriqueciam as páginas dos jornais em que escrevia. Coelho (2003) revela a forte influência das crônicas, em especial sobre a seleção brasileira nos anos de 1958, 1959 e 1970. A partir de 1970, a imprensa tornou o método de apuração mais comprometido com os dados, o que corroborou com o desmanche das principais características componentes das crônicas esportivas.

A impressão diminuiu bastante nas páginas dos anos 1970 em diante, graças ao compromisso da imprensa de contar a verdade. A maneira como o Jornal da Tarde, em São Paulo, fazia jornalismo, ajudou a excluir o mito. O resultado é, muitas vezes, uma crônica tão desprovida de paixão que é capaz de jogar na vala comum atletas que certamente já merecem lugar na história. Gente como Rivaldo, Ronaldo, Romário, Bebeto, Dunga. Gente que deu ao país o quarto e quinto títulos mundiais, e que jamais foi tratada com a reverência dedicada aos campeões de 1958, 1962 e 1970. (COELHO, 2003, p. 19)

Entre os anos de 1961 e 1965, o jornalismo brasileiro presenciou desde criações de veículos de comunicação direcionados ao esporte, até a remontagem na base de equipes de redação. A origem da Revista do Esporte foi considerada um dos maiores sucessos editoriais do país, indo às bancas em março de 1959. A obra foi considerada marco de confiabilidade dos fatos futebolísticos durante toda década de 1960. Por outro lado, esta etapa foi a mesma que deu início à gestão de crise de A Gazeta Esportiva, outra revista famosa da época. Por conseguinte, este intervalo de tempo ficou marcado por outras notoriedades, como foi o caso: das exibições de Videotapes dos jogos da Copa do Mundo de 1962, no Chile; o surgimento da TV Excelsior; a criação do caderno O Estado de S. Paulo; e o surgimento do Jornal da Tarde, caderno elaborado logo após 1966. Do mesmo modo, o Prêmio Esso, considerado o “oscar do jornalismo brasileiro”, congratulou, em 1968, Vital Bataglia e Hedyl Valle Jr., pela série de sete reportagens sobre denúncias contra árbitros de futebol. A produção apimentou os bastidores ao ser idealizada por meses, para detalhar como agia um “juiz ladrão”, em esquemas de corrupção com a arbitragem brasileira (RIBEIRO, 2007). Até 1970, mesmo que ocorrências abruptas e tristes tenham acontecido, como o incêndio na TV Record, com a perda de vários registros sobre a história do futebol, outros momentos importantes deram o primeiro passo para o sucesso. Entre eles, o surgimento de respeitáveis nomes do radiojornalismo esportivo na Jovem Pan e da primeira transmissão ao vivo de uma Copa do Mundo pela televisão brasileira, na edição de 1970, no México, para 700 milhões de pessoas. Ribeiro (2007) destaca o diretor da TV Globo, Walter Clark, como principal negociador e responsável pelo feito.

Após 1970, as ações dos comunicadores passaram a ganhar maior valor e os diários esportivos ocuparam grandes jornais da época. Informação ressaltada por Coelho (2003), que menciona nomes como Fanfulla (1910), O Imparcial (1912) e a Revista do Esporte (1959), como referências que fizeram história com suas notas e narrativas futebolísticas, mesmo não permanecendo por muito tempo em atividade. Segundo Ribeiro (2007), outra marca na década foi a formação da primeira equipe feminina no esporte, com a Rádio Mulher, tentativa de quebra do preconceito da imprensa no rádio e na tv nacional. A sugestão partiu do proprietário Roberto Montoro, que optou por criar um grupo formado apenas por mulheres. De acordo com Ribeiro (2007), as integrantes eram: Zuleide Dias (narradora); Jurema Iara e Leilá Silveira (comentaristas); a juíza Lea Campos (comentários de arbitragem); as locutoras Germana Garilli, Claudete Troiano e Branca Amaral (equipe de reportagem); Lilian Loy, Siomara Nagy e Terezinha Ribeiro (plantão).

A década também recebeu as mais novas regras da época, impostas pela FIFA (Federação Internacional do Futebol) nas partidas de Copa do Mundo: possibilidade de realizar duas substituições por jogo no torneio, durante a Copa de 70; e a implementação dos cartões amarelo e vermelho para infrações. Foi um período presenteado com criações jornalísticas, esportivas e revoluções da imprensa, junto à inovação dos meios de comunicação, como foi o caso da primeira transmissão televisiva em cores. E não se refere à Copa de 70, com a pioneira cobertura mundial ao vivo. Trata-se de 1972, data lembrada pela primeira reprodução audiovisual em cores do Brasil, na Festa da Uva em Caxias do Sul (Rio Grande do Sul). Ainda, no mesmo ano, o primeiro jogo de futebol em cores na TV brasileira também teve sua marca histórica, quando Grêmio e Caxias se enfrentaram em Porto Alegre, com a narração de Luiz Mendes, da TV Rio (RIBEIRO, 2007).

O final da década ficou marcado também com as coberturas esportivas de rádios em diversas capitais do país. Nomes como Globo, Jovem Pan, Tupi, Record e Bandeirantes estavam entre as mais tradicionais, sem mencionar a Difusora e a Capital. Para Coelho (2003), o rádio era considerado um excelente método de ingresso ao mercado, assim como um bom nicho para quem almejava falar de esportes. Ele frisa que os salários nunca foram o ponto forte, e que com o passar do tempo, a área veio a se desvirtuar dos demais setores jornalísticos, no que diz respeito ao “bom emprego”. Justificativa sustentada pelo autor, que coloca o veículo, atualmente, como disseminador de informações exclusivas sobre futebol, deixando outros aspectos de lado.

Todavia, em meio a grandes feitos registrados no cenário esportivo no final da década, houve a maior viabilidade do exercício de imprensa para o público feminino. A luta contra o machismo, recorrente até os dias de hoje, começou a tomar força a partir dos anos 1980. E foram 15 anos depois que as mulheres começaram a assumir a chefia de redações. Um exemplo foi Isabel Tanese, comandante do caderno O Estado de S. Paulo, após o afastamento de Roberto Benevides, pouco antes da Copa do Mundo de 1998. O autor explica que o preconceito contra a atuação do gênero na editoria foi muito maior no passado, embora ainda repercuta atualmente: “Pode-se dizer que as redações de esporte do país têm em torno de 10% de mulheres. Isso já provocou mais preconceito no passado do que hoje em dia. Nos velhos tempos”. (COELHO, 2003, p. 35).

Com o decorrer das décadas, novos métodos de atuação se massificaram, entre eles: repórteres de campo, cinegrafistas, correspondentes e apresentadores de programas televisivos. Até os anos 2000, a informação passou a perder o teor emotivo, deixando-o especialmente para artigos de opinião. Os textos começaram a refletir uma metodologia mais séria de escrita, que transformou o modo com que as pessoas passaram a consumir este tipo de conteúdo. No começo dos anos 2000, as redações dos mais variados sites de esportes pipocavam com temáticas voltadas ao futebol, tênis, judô e automobilismo. Modalidades que até o fim dos anos 90, repercutiram frequentemente nas redes, diante do advento da era digital, onde jornais online competiam com os impressos. Novas estruturas de notícias foram surgindo, juntamente de profissionais com diferentes funções que eram integrados às redações.

Para Coelho (2003), foi uma época em que se presenciou a saída de muitos jornalistas de várias empresas. Para ele, o “boom” da internet os deixou fora do mercado, impossibilitando a alguns, o retorno à editoria de esportes. “Os jornais substituíram funcionários caros por outros com salários mais baixos”, explica Coelho (2003, p. 26). A partir dali, consagraram-se quatro veículos com maior influência no país: O Estado de S. Paulo, O Globo, Folha de S. Paulo, no Sudeste; e Zero Hora, no Sul.

Contudo, a internet junto de seu amplo acesso, capaz de disseminar um maior número de categorias noticiosas simultaneamente, facilitou o consumo de dados referente a outras modalidades. Por um bom tempo, ‘futebol’ foi sinônimo de ‘esporte’. Atribuição errônea, que cega os contos e marcas de competidores que foram destaques nacionais. Ex-atletas e atletas como: Ayrton Senna (automobilismo); Gustavo Kuerten e Maria Esther Bueno (tênis); Jaqueline Silva e Sandra Pires (vôlei de praia); João Derly e Sarah Menezes (judô); Cesar Cielo (natação); Vanderlei Cordeiro (maratona); e Arthur Zanetti (ginástica), estão entre os ídolos brasileiros que marcaram a história até os Jogos Olímpicos de 2016. Comprovações que mostram o desporto muito além de uma só estilo, ao contrário da expressão “País do Futebol”, nome que por si só, já descreve a maior paixão do brasileiro. Porém, essa não é justificativa para sobressair uma às demais modalidades, que inclusive, ganharam espaço local abundante, mesmo que por menos tempo. “O problema é que o mercado só permite a criação de jornalistas de futebol, de automobilismo, por vezes de tênis”, salienta Coelho (2003, p. 38).

Frente a esta afirmação, o autor desmistifica um dos questionamentos diante da substituição dos papéis profissionais, com o encargo de funções para ex-atletas em bancadas televisivas e em equipes de cobertura:

O que vale dizer que não há jornalistas de basquete, de vôlei, de atletismo, de judô etc. Isso explica o aparecimento de atletas como comentaristas sempre que é preciso aprofundar-se em grande competição. O mercado contempla quem quer aventurar-se nessas áreas específicas. (COELHO, 2003, p. 21)

Outra questão relacionada ao papel dos comunicadores e o exercício da profissão, é o foco que determinadas notícias recebem, ao serem listadas nos cadernos de esporte. A partir da diferença entre as informações que o público deve saber (interesse público) e os fatos que ele quer saber (interesse do público), notam-se conteúdos que se sobrepõem em meio a outras pautas, de modo a renderem maior audiência e/ou retorno financeiro. Fator que descredencia os considerados seis pilares do jornalismo: objetividade, credibilidade, imparcialidade, isenção e veracidade – ao não valorizar certos assuntos por sua gama de repercussão/lucro. Os cifrões acabam falando mais alto, pois temáticas de interesse pessoal que tendem a alcançar mais pessoas, consequentemente, apontam maior retorno monetário.

De 1980 e 1990, as opções de produção incrementaram um maior número de profissionais habilitados em diferentes departamentos, desde as redações, até os postos frente às câmeras. Período, igualmente, que marcou o ciclo em que as construções de notícias ganharam espaço em revistas e periódicos locais. Foi uma editoria que demorou para conquistar seu lugar na grande mídia, mas que com o passar dos anos, englobou novas repartições de trabalho, dividindo-se em vários estilos de produção.

A época foi marcada pela disputa de audiência em meio às coberturas de jogos entre os canais televisivos Globo, Record e Bandeirante, além do “boom” do vôlei brasileiro e da formação de equipes para acompanharem o Brasil na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. As opções de transmissão para o mundial foram reduzidas a partir do momento em que a TV Tupi se retirou do páreo. Sequencialmente, a disputa passou a ser entre as três emissoras citadas anteriormente, dentre as quais, a Globo se destacava pelo seu reconhecimento em coberturas esportivas – em especial na Fórmula 1 – assim como por conta de seus ilustres jornalistas, como Luciano do Valle.

Ribeiro (2007) acrescenta que, nesta oportunidade, foi uma das primeiras vezes em que a Globo foi quase superada pela Record nos índices de audiência medidos pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), após fechar 40%, contra 30% da rival no Mundialito disputado pela Seleção Brasileira em 1981, no Uruguai. O marketing tornou-se um aliado das empresas de comunicação. Na Record, a primeira onda de merchandising nas equipes desportivas nacionais formou-se pelas mãos de Ruy Brisolla. Em contrapartida, mesmo em disputa, uma união entre Record e SBT foi estabelecida, com intuito de realizarem juntas a cobertura da Copa do Mundo de 1986, no México, com a criação do slogan “Unidos Venceremos” (RIBEIRO, 2007).

A partir de 1991, a imprensa brasileira foi rodeada de diversos acontecimentos nas esferas política e esportiva, como: o contrato estabelecido entre CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e Globo, para posse dos direitos exclusivos da Seleção Brasileira; o surgimento dos canais SporTV e ESPN Brasil; o convite do ex-presidente Fernando Henrique para Juca Kfouri assumir o Ministério dos Esportes; e a ascensão tecnológica em meio às transmissões. Ademais, destacaram-se a produção do cineasta brasileiro Murilo Salles, com o filme da Copa de 1994 e o envolvimento de jornalistas da editoria na presidência e no comando como treinadores de clubes brasileiros.

Já de 1997 a 2003, o jornalismo digital passou a revolucionar o Brasil. E por falar em inovação, comenta-se, igualmente, sobre a criação do tablóide Lance!, idealizado por Walter Mattos Jr. que prosperou junto com o desenvolvimento do Plano Real, oportunidade ganha de bandeja para o governo da época apostar no crescimento econômico do país, em 1997. Um ano depois, pouco antes do Mundial na França, a primeira mulher assume a editoria de um grande jornal no país. Isabel Tanese alavanca a participação feminina na profissão, principalmente no esporte, contaminado pelo machismo e preconceito ante inúmeras questões. Ela trabalhou durante três anos em O Estado de S. Paulo. Logo após, foi a vez de Kitty Balieiro, chefe de redação da ESPN Brasil, e Sonia Francine, comentarista da mesma entidade (RIBEIRO, 2007).

Mais adiante, o autor pontua a formação das duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) para “investigar os subterrâneos do futebol brasileiro”, responsáveis por indagar o contrato milionário entre Nike e CBF e as dívidas dos clubes brasileiros com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que batiam na marca de quase R$ 200 milhões. O período foi literalmente marcado por uma balbúrdia político-administrativa, que resultou na saída de 658 atletas para o exterior, em 1999. Já na virada do século XX, modalidades nacionais prenderam-se junto ao marketing, quando os números do mercado bateram 110 bilhões de dólares por ano em escala global (RIBEIRO, 2007), o que fez com que as cifras no Brasil atingissem 500 milhões de dólares. O valor passou a ser acessível apenas a grandes veículos de comunicação, como a Globo que, sequencialmente, apossou-se dos direitos de transmissão da Copa de 2002, ao arcar com um montante próximo aos 400 milhões de reais.

Mas, em razão da disputa de valores e holofotes, questiona-se o porquê de a imprensa ir à loucura com o domínio de todas as concessões de cobertura. Para Rodrigo Savegnago e Sérgio Carvalho (2000), a explicação plausível se chama “esporte”. Icônico e capaz de estabelecer negócios movidos pelo consumismo e satisfação do entretenimento. Ambos caracterizam o nicho como detentor de uma posição privilegiada entre o mercado e o consumidor, capaz de ter sua importância ainda mais reluzente com o tempo. Ele passou a ser considerado por muitos, um negócio, deixando de lado sua primordialidade de “entreter”. Trata-se de uma nova visão, que pode ser relacionada com as descrições abordadas ao longo deste material, ao considerar o seu desprendimento do “lúdico” e sua transformação em “produto”, nas primeiras prateleiras midiáticas.

Depois da década de 1980, o desporto passou por uma fase de modernização (SAVEGNAGO E CARVALHO, 2000), gerida de forma profissionalizante em escala mundial. Percebe-se em seus diferentes estilos, valores intrínsecos considerados adjetivos que se conectam à credibilidade com a opinião pública, além da empatia construída via consumidor e empresa fornecedora. Por fim, o setor propagandista ganhou mais uma pérola capaz de movimentar cifrões no mercado financeiro. A boa relação do esporte com a mídia coopera até hoje com o lucrativo merchandising, capaz de atingir além de seu público-alvo. Logo, observou-se o crescimento acelerado na produção de notícias sobre o tema econômico, graças à massificação linear do assunto e dos meios de comunicação, os quais unem o útil ao agradável, referente aos negócios e ao bom relacionamento com as pessoas (SAVEGNAGO E CARVALHO, 2000). Por intermédio destes detalhes, a profissão como um todo passou a se disseminar entre outros campos de interesse, bem como criar novas funções e empregar mais pessoas.

Logo adiante, a área de correspondentes internacionais tornou-se mais explorada em território brasileiro, quando assuntos ligados a outras editorias ganharam repercussão com alto grau de factualidade. E por falar a respeito da “informação factual”, o jornalista e filósofo João Batista Natali (2007) destaca quatro temas que atuam aliados aos valores-notícia no jornalismo internacional: guerras e conflitos, eleições, epidemias e tragédias inesperadas. Afinal, não é à toa que houve centenas de pautas produzidas sobre temas que, consequentemente, corroboraram com o emprego de profissionais identificados com estas atribuições. Mauro Wolf (1985) também aponta o manuseio jornalístico com os valores notícia, dividindo-os em quatro grupos: conteúdo, disponibilidade de material, público e concorrência. Para ele, é o conteúdo que irá constatar o grau de relevância da informação, como seguimento da hierarquização utilizada na seleção de pautas.

3. PERCURSO METODOLÓGICO

A partir da escolha dos Jogos Olímpicos 2021 como objeto de estudo, a natureza de pesquisa qualitativa foi utilizada, pois o trabalho refere-se a um estudo de jornalistas pertencentes a duas emissoras, em um caso de cobertura esportiva internacional, como temática para o Trabalho Final de Graduação. Segundo Gil (2009), esta metodologia adota três segmentos de base analítica de dados: redução, apresentação e conclusão. No primeiro tópico é onde se encontram os processos de seleção e simplificação de conteúdos apurados no trabalho de campo. Já a apresentação baseia-se na estrutura dos materiais selecionados, de modo que possibilite uma investigação sistemática entre suas semelhanças e diferenças. E por fim, a conclusão é o que adota a releitura do que foi mapeado, como alternativa de considerar as regularidades, padrões e explicações da coleta de dados.

Gil (2009) considera o estudo de caso como uma investigação aprofundada acerca de um objeto em específico, com ênfase em uma análise ampla e detalhada. Referente ao método citado, o autor destaca alguns pontos como parâmetros para a realização de um molde de pesquisa: explorar momentos da vida real, onde os limites não estão perceptivelmente descritos; retratar a situação do contexto em que a investigação ocorre; e contextualizar as variáveis causais de um fenômeno, que não viabiliza o uso de levantamentos de informações. Barros e Duarte (2009) consideram o estudo de caso como provedor de técnicas e ferramentas para a separação de registros informativos. É enfatizado em sua obra, que a metodologia nada mais é que “uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo” (YIN, 2001, p. 32, apud BARROS E DUARTE, 2009, p. 216).

Já na elaboração de entrevistas, Gil (2009) aponta a metodologia semiestruturada como técnica possibilitadora de uma conversação livre sobre o tema central entre entrevistador e entrevistado, desde que não saiam do assunto, enquanto define como estruturada o estilo de entrevista que engloba uma relação fixa de perguntas de ordem direta e invariável. Os autores Barros e Duarte (2009) acrescentam que no caso da semiestruturada, há origem no problema de pesquisa e objetiva-se abordar a amplitude de uma temática em específico, para que cada questionamento seja formulado da maneira mais aberta possível.

Com embasamento nos conceitos definidos pelos referidos autores, optou-se por realizar um estudo de caso sobre os Jogos Olímpicos 2021, por meio de um mapeamento de dados entre pré e pós-cobertura, pelos canais SporTV e BandSports. A metodologia de apuração consistiu na observação das rotinas produtivas de cada emissora (programas e reportagens relacionadas às Olimpíadas) e de jornalistas enviados especiais (stories no Instagram e publicações no Twitter), de modo a auxiliar na coleta de informações ligadas às suas logísticas de trabalho em Tóquio. O mapeamento foi realizado com finalidade de apurar o máximo de dados referentes à reportagem e bastidores, desde a pré, até a pós-cobertura.

Além dos registros levantados durante os três turnos diários, do dia 8 de julho a 10 de agosto, alguns questionamentos obtiveram respostas por meio do contato com algumas das enviadas ao longo das Olimpíadas, em rede social. Entre elas, Karine Alves respondeu algumas dúvidas sobre a produção jornalística no Japão, ao utilizar a ferramenta “caixa de perguntas”, para viabilizar a interação com os seguidores ao vivo nos stories do Instagram.

Após o encerramento do evento desportivo, o contato com todos os enviados especiais foi considerado outro método de apuração. Foram elaboradas perguntas para a realização de entrevistas estruturadas e semiestruturadas, com o propósito de coletar mais informações referentes aos protocolos de saúde e trabalho de cobertura realizados no Japão. Para fins deste estudo, foram separados os seguintes questionamentos para ambos os estilos de entrevista:

Procedimentos Sanitários em Virtude da Covid:

  1. Como foi estabelecida a quarentena e os protocolos de saúde ao chegar no Japão? Havia regras a serem cumpridas até o último dia?
  2. Quais protocolos de saúde deveriam ser seguidos nos momentos de entrevistas com atletas (Vila/Arenas)?

O Trabalho de Cobertura

  1. Você já havia trabalhado como jornalista enviado em outras coberturas esportivas internacionais? Caso sim, quais?
  2. Como ocorreu o processo de seleção entre os jornalistas que foram trabalhar na cobertura em Tóquio? Estar vacinado foi um requisito?
  3. Como eram as rotinas produtivas? Havia algum roteiro a ser seguido?
  4. Referente ao Gatekeeper, como poderia ser descrito o algoritmo de coleta, seleção e produção de conteúdo? De que modo os materiais que iam ao ar eram escolhidos?
  5. Em média, quantos VTs você gravava por dia? Havia alguma exigência para a produção (número de entrevistas, tempo…)?
  6. Jornalisticamente, o que você destacaria como desafios e vivências gratificantes experienciadas como repórter nestes Jogos Olímpicos? Há alguma reflexão que esta cobertura tenha proporcionado e que você gostaria de repassar às pessoas?

Os nomes de todos os jornalistas enviados do SporTV e BandSports (assim como dos que eu entrevistaria) foram separados junto das perguntas, em um diário de campo utilizado para transcrever todos os registros. Entre os nomes, estiveram: André Gallindo, Carlos Gil, Carol Barcellos, Diego Moraes, Edgar Alencar, Guilherme Pereira, Guilherme Roseguini, Kiko Menezes, Lizandra Trindade, Marcelo Courrege, Pedro Bassan, Bárbara Coelho, Alves, Amanda Kelstman, Tiago Medeiros, Erick Faria e Julia Guimarães, pelo SporTV; Elia Júnior, Glenda Kozlowski, Thiago Kansler, Marcelo Rosemberg e Caio Capatto, pelo BandSports. Com o SporTV, a intenção foi conversar ao menos com uma flecheira[3] e um repórter[4] , entre os encarregados destas funções. Já no BandSports, apenas um enviado já seria suficiente, em razão de todos terem assumido ambos os papéis durante a cobertura.

As primeiras opções de entrevista giraram em torno do contato com as próprias emissoras, por meio de telefonemas, envio de e-mails e mensagens por números de WhatsApp disponibilizados nos websites dos veículos de comunicação. Após não ter obtido retorno, a alternativa foi contatar o WhatsApp do editor-chefe dos programas ‘Tá na Área’ e ‘Seleção SporTV’, Carlos Eduardo de Sá. Novamente sem retorno, optou-se por chamar cada um dos jornalistas em suas redes sociais. Após o encaminhamento de mensagens, os seguintes enviados se propuseram a explicar as questões selecionadas: Gallindo, Barcellos, Courrege, Gil e Kansler. Contudo, não foram todos que retornaram os questionamentos. Até o final do contato, encaminharam as respostas: Gil e Kansler.

Cada estilo de entrevista foi utilizado de maneira única com cada um dos entrevistados. Formulou-se como modelo de entrevista estruturada, uma série de perguntas de ordem invariável que direcionou o entrevistado Gil, a responder as perguntas por contato via e-mail, o que não possibilitou tanta abertura no diálogo. Já no caso da construção do modelo semiestruturado, junto do jornalista Kansler, pôde-se realizar uma conversa mais ampla pelo chat do Instagram, onde os questionamentos foram respondidos e esclarecidos conforme novas dúvidas do autor, ao aproveitar-se a acessibilidade da plataforma.

4. ANÁLISE

4.1 SPORTV

Inicialmente, é importante apresentar o modo com que o SporTV realizou a pré-cobertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Do dia 8 a 19 de julho, a estrutura de programação foi anunciada a fim de exibir o que iria ser adotado para a realização da cobertura. Entre alguns comunicados emitidos, estiveram: a adesão do SporTV 3 e SporTV 4, exclusivamente dedicados às transmissões das Olimpíadas; SporTV 2, com transmissões olímpicas e de outros campeonatos do Brasil; e o SporTV 1, que além das transmissões, apresentou telejornais, programas de mesa redonda, junto a reportagens e entradas ao vivo realizadas pelos enviados especiais. E com a finalidade de contar com grandes nomes do esporte brasileiro, ex-atletas passam a compor as bancadas de alguns quadros, como foi o exemplo do ‘Ohayo Tóquio’, idealização dedicada ao debate e à repercussão de boletins apurados pelos enviados.

O canal contou com um vasto grupo de jornalistas, produtores, editores e técnicos que viajaram ao oriente. Em cada equipe, cada comunicador encarregou-se das seguintes modalidades: Gil (Ginástica Artística); Alencar (Judô); Pereira (Surf); Roseguini (Natação e Atletismo); Menezes (Skate); Trindade (Futebol Feminino); Courrege (Vôlei de quadra); Bassan (Canoagem); Faria (Futebol Masculino); Guimarães (Vôlei de areia). Além deles, Diego Moraes assumiu alguns estilos de artes marciais e Gallindo, tênis de mesa e outras modalidades de modo mais amplo. Já Alves, Barcellos, Coelho e Medeiros assumiram o papel de flecheiros, destinados a fazer as entradas ao vivo, com boletins diários até o final da competição.

Após a chegada dos enviados ao Japão, os protocolos de saúde foram aplicados a todos os jornalistas de maneira obrigatória. Além dos registros audiovisuais compartilhados nas redes sociais de alguns deles, Coelho, em uma das suas entradas ao vivo no Esporte Espetacular, revelou em primeira mão a rotina dos dias de confinamento dentro dos quartos no hotel, com a realização de testagens periódicas de Covid, por meio de um exame antígeno com coleta de saliva, o qual foi repetido até o final do evento. Todo registro das testagens era feito no aplicativo OCHA, monitorado pelo governo japonês, que exigia preenchimentos de temperatura, relatórios de saúde e atividades, caso o enviado pudesse ter entrado em contato com terceiros que tivessem sintomas da doença. As restrições jornalísticas estenderam-se nos 14 primeiros dias, período em que foi proibido o uso de transporte público (somente uso de vans com motoristas particulares) ou restaurantes. Só foram permitidos cafés da manhã nos quartos e saídas do hotel por 15 minutos, dedicadas à compra de alimentos.

Desde a chegada, os jornalistas foram submetidos a permanecer em confinamento nos quartos por 72 horas. Posteriormente, na fase dois de quarentena, mais 10 dias foram acrescidos, viabilizando o deslocamento apenas entre hotel e áreas de competição. Só após esse período houve a licença para circulação na cidade, contanto que fossem utilizados somente traslados particulares, como parte dos regramentos de segurança.

Os protocolos permaneceram ativos até o final, o que fez com que cada enviado usufruísse da criatividade para a produção de conteúdo, assim como para darem seguimento às suas rotinas de atividades físicas. Exemplo disso foi Gallindo, que registrou todo o percurso de viagem do Brasil até o Japão, trazendo curiosidades sobre o Monte Everest, visível pela janela do avião durante o trajeto. Ele também foi o responsável pela elaboração de pequenas matérias audiovisuais sobre o período de confinamento dentro do quarto de hotel, para contar um pouco como estavam sendo os primeiros dias em Tóquio.

Por outro lado, Gil, correspondente da Globo no Japão de 2018 a 2022 e repórter nos Jogos Olímpicos, relatou outro modelo relacionado aos protocolos de saúde no seu caso. O jornalista, graduado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com passagem entre 2013 e 2014, como apresentador do Bom Dia Brasil e apresentador substituto do Globo Esporte, edição Nacional, também precisou se adaptar à rotina de checagens.

A quarentena foi diferente para mim porque sou residente. Tive que baixar dois aplicativos, sendo um deles para preenchimento diário obrigatório, com temperatura e detalhes sobre o estado de saúde. Além disso, desde o momento em que retirei a credencial até o início dos Jogos, precisei fazer testes de COVID (saliva) a cada quatro dias. (GIL, 2021)

Mesmo com vasta experiência esportiva, já tendo sido repórter especial em transmissões de Fórmula 1, Olimpíadas de Pequim, Copa das Confederações, Copa do Mundo e Eurocopa pela Globo, Gil não esconde o estranhamento com o trabalho desafiador em meio às limitações impostas pela Covid.

Com o passar dos primeiros dias na pré-cobertura, entradas ao vivo e gravações de VTs[5] foram sendo realizadas com o objetivo de levar ao público curiosidades e informações sobre as arenas olímpicas, acompanhar a chegada das delegações, assim como apurar todas as novidades sobre possíveis casos de Covid. No total, foram aguardados 11 mil atletas que participaram da cerimônia de abertura. Mais de 80% dos 302 atletas do Time Brasil, além do restante da delegação, já foram vacinados para Tóquio. Vale ressaltar que a vacina não era requisito para participar da competição, ao levar em consideração os desportistas que não se imunizaram.

O SporTV contou com as redes sociais como grandes aliadas na divulgação de dados, tanto no Instagram como no portal de notícias na web. Outro ponto que auxiliou neste processo foram as curiosidades de bastidores gravadas pelos jornalistas em suas redes até o final dos Jogos, entretendo e aproximando o público da cobertura. Entre eles, Alves e Coelho utilizaram massivamente suas contas no Instagram, ao interagirem com seguidores e responderem dúvidas sobre as metodologias de produção e curiosidades sobre os locais que conheciam.

A chegada antecipada possibilitou-os, nos primeiros dias, realizarem entradas ao vivo e fazerem reportagens, além de conhecer os estádios e arenas de Tóquio. Cada matéria ou boletim era selecionado para ser reproduzido em diferentes programas, mesmo que em certos casos, o mesmo VT tivesse reprise no mesmo dia. Exemplo: apresentação de manhã, no SporTV News; de tarde, no Globo Esporte (reprise ou não). As produções se intensificam do dia 17 em diante, quando as delegações passaram a chegar em maior escala, próximo da data de abertura das Olimpíadas.

Do dia 20 de julho a 8 de agosto, período que marcou a realização dos Jogos, Gil destaca que os testes contra Covid se tornaram diários e mais rigorosos, já que novos protocolos surgiram em razão dos jornalistas começarem a interagir com os entrevistados nas zonas mistas.

Entre alguns protocolos a serem seguidos na hora das entrevistas, estava o distanciamento obrigatório, com uso de hastes para os microfones: um para o entrevistado e um para o repórter, já que nós não podíamos estender o nosso equipamento na direção dos atletas. (GIL, 2021)

Gil salienta que o uso de máscara, a checagem de temperatura e a constante aplicação de álcool nas mãos na entrada de cada ambiente desportivo também foram obrigatórias. Ele explica que, como parte dos regramentos, cada um foi solicitado a realizar entrevistas curtas, controladas pela OBS (empresa que forneceu todos os serviços de televisão durante os Jogos).

Com o passar dos dias, a rotina dos enviados contabilizou um maior número de pautas, conforme o surgimento de novidades no dia a dia olímpico. Após o autor questionar como eram formulados os dias de trabalho com matérias pré-estabelecidas, na rede social de Alves, a repórter frisou que em decorrência da instantaneidade noticiosa ser muito acelerada, nada era definido antecipadamente 100%, pois os acontecimentos entre jogos e partidas mudavam constantemente. As produções passaram a ser executadas mais intensificadamente com um maior número de VTs e boletins ao vivo para alguns programas, como: SporTV News, Tá na Área, Troca de Passes, Ohayo Tóquio, Redação SporTV, Bem Amigos, Globo Esporte, Bom Dia Brasil, Bom Dia SP, Fantástico e Esporte Espetacular.

De acordo com Gil, cada equipe recebia na véspera de algumas competições suas demandas de entradas ao vivo e reportagens.

Já havia sido previamente estabelecido a qual esporte cada um de nós seria dedicado em especial. Nem todas as modalidades duraram o evento inteiro, como foi meu caso, com a ginástica artística. A escolha das pautas para os outros dias poderia vir da chefia de reportagem ou ser sugerida pelos próprios repórteres, dependendo dos temas e atletas envolvidos na competição. Muita coisa planejada foi mudando ao longo dos Jogos. Por exemplo, eu cobriria uma eventual final do tênis caso a Naomi Osaka estivesse presente, pelo fato de ser japonesa e de tudo o que envolveu a vinda dela. Mas, por não ter avançado, não fomos cobrir a final feminina do tênis in loco[6]. (GIL, 2021)

A cada dia, o trabalho dos gatekeepers tornou-se cada vez mais importante, devido à quantidade de materiais produzidos e ao número de transmissões, o que segundo Gil, são encargos distintos, pertencentes aos papéis de apuração, construção e divulgação da notícia: “No dia a dia em Tóquio, a chefia de reportagem local, composta por três jornalistas, era quem decidia, em conjunto com os repórteres, o que cobrir” (GIL, 2021). Logo, as divisões de demandas eram realizadas conforme os pedidos de cada telejornal no Brasil, de modo que os produtores de cada equipe selecionassem os locais das gravações. Já as transmissões ao vivo de cada modalidade eram necessidades do departamento de eventos. “Neste caso, os gatekeepers referem-se à nossa edição editorial no Brasil, frente ao envio dos sinais de cada modalidade pela OBS. E aí foi uma decisão baseada em vários fatores determinantes de qual esporte seria exibido” (GIL, 2021), complementou Gil, ao explicar que cada uma das escolhas do SporTV ocorria referente ao método de exibição ao vivo ou gravado das Olimpíadas, já que muitas transmissões ocorriam simultaneamente.

Este conflito de horários fez com que as modalidades que tivessem brasileiros competindo se tornassem prioridades. Fator este que acarretou, igualmente, na necessidade de alguns repórteres cobrirem outros esportes que não os estivessem pré-estabelecidos em suas respectivas grades já que, em algumas modalidades, não haviam mais membros do Time Brasil brigando pelo pódio. Entretanto, caso houvesse algum desportista brasileiro que avançasse para outra fase da competição, as atenções jornalísticas se direcionavam mais a estas personalidades, com grandes produções para a emissora.

Não havia uma exigência em termos de quantidade de VTs ou entradas ao vivo. Ela variava de acordo com muitos fatores. Se um atleta brasileiro estava na disputa por medalhas, naturalmente o interesse crescia e a quantidade de entradas ao vivo e VTs era maior. (GIL, 2021)

Gil salienta que, embora tivessem dias com muitas pautas, desde a participação ao vivo nas transmissões à gravação de VTs e boletins, também houve dias menos movimentados: “Nunca tivemos uma determinação numérica de ter que entregar “x” reportagens ou entradas ao vivo, apenas uma estimativa para fins de organização interna” (GIL, 2021). O correspondente cita como exemplo o dia em que a Rebeca Andrade conquistou as medalhas de prata e ouro na ginástica. De acordo com ele, foi uma oportunidade para elaborar mais conteúdo do que no dia em que foi cobrir a escalada esportiva, sem brasileiros, apenas para contar como os esportes estreantes estavam sendo recebidos pelos atletas e público. “Essa era uma reportagem mais específica. No caso da Rebeca o resultado impôs um aumento natural de pedidos e demandas, o que fazia com que o tempo e a duração das entrevistas variassem de acordo com os resultados” (GIL, 2021), acrescentou o correspondente.

Foi comum de se observar, ao longo de transmissões televisivas olímpicas do SporTV, os encargos de reportagem atribuídos a alguns enviados. Essas funções proporcionaram, além da versatilidade comunicativa entre os profissionais, a qualidade nas informações levantadas pelos repórteres que atuaram in loco no decorrer de algumas competições. O entrosamento entre narradores de equipes de transmissão do Brasil, com os comunicadores presentes em Tóquio, foi algo que chamou a atenção, relacionado ao aprofundamento informativo em torno de cada detalhe. Exemplo disso também foi no SporTV News, quando a conectividade entre a apresentadora Mariana Fontes e o flecheiro Medeiros dava aula de descontração e profissionalismo durante cada entrada no ar.

Próximo do fim da edição 2021 dos Jogos Olímpicos, algumas curiosidades chamaram atenção relacionadas aos bastidores da cobertura. Entre elas, o método com que a transmissão das entradas ao vivo era encaminhada em tempo real para o Brasil. O registro feito por Coelho, após jogo de vôlei da seleção brasileira na Ariake Arena, exibiu as funções entre um receptor e um transmissor alocados na mochila do cinegrafista. Interações como estas aproximaram o contato dos jornalistas com seus seguidores em suas mídias sociais.

Já na pós-cobertura, a grade de programação foi estabelecida de outra maneira. Programas como SporTV News e Redação SporTV voltaram a sua normalidade, com conteúdos mais direcionados ao futebol brasileiro, embora algumas matérias e entradas ao vivo seguissem sendo reproduzidas do Japão. Com análise nos dias 9 e 10 de agosto, após o encerramento das Olimpíadas, Medeiros foi um dos únicos enviados que permaneceu em Tóquio, realizando entradas ao vivo no SporTV. Por outro lado, Diego, Alves, Coelho e Trindade já repercutiam o retorno ao Brasil dentro dos aeroportos, em suas contas no Instagram. De acordo com Gil, para os enviados saírem de Tóquio foi preciso apresentar o exame do PCR, negativo, com material colhido até 72h antes do voo, diferentemente do seu caso que, pelo fato de ser residente, bastou deixar de preencher o aplicativo OCHA.

Após o término da edição 2021, Gil classifica esta edição dos Jogos Olímpicos como esperança para 2024, em Paris, fazendo referência aos desafios e concretização final do evento desportivo. Ele aponta que um dos fatores que mais descaracterizou esta edição foi a falta de público, que segundo ele, é o que “proporciona o ambiente”, o qual ganha papel fundamental na construção dos VTs: “Não ter público afeta diretamente as produções, em razão de um VT de televisão ser fruto do ambiente. TV não é só texto, é imagem, é som, é movimento e sensação” (GIL, 2021).

O correspondente revela também ter sentido os atletas mais dispostos a falar em momentos de entrevista. Para ele, o motivo pode estar relacionado à falta do público e pelo fato dos enviados terem sido o único canal direto com as famílias e amigos dos atletas, em um universo de tantas privações e controles rígidos. “Pode parecer um paradoxo, mas foram jogos humanizados mesmo com menos gente envolvida. Aquele momento atleta e repórter, logo depois da competição, virou algo mais íntimo talvez. Isso foi diferente e interessante”, enfatiza Gil (2021).

Todavia, ao abordar-se as limitações presentes em âmbito profissional, por conta da pandemia, esta edição propiciou novas experiências presentes na rotina dos jornalistas envolvidos. Gil considera a falta das ‘matérias de comportamento’ a grande diferença entre esta edição das Olimpíadas e outros eventos esportivos internacionais.

É possível que nunca mais – ou que demore muito – para termos edições de Jogos Olímpicos e Paraolímpicos disputados com tantas restrições e características específicas como foram esses. Isso já torna a cobertura histórica. Ficamos muito limitados aos eventos em si, já que as restrições de circulação pelo Japão não permitiram o que chamamos de “matérias de comportamento”, ou seja, reportagens que usam os Jogos como pano de fundo, mas trazendo aspectos culturais e curiosidades do Japão. (GIL, 2021)

As celebrações entre atletas e membros das equipes, mesmo sob protocolos, é reflexo para Gil, de que a preocupação de todos com o vírus foi tão grande em todos os ambientes, que a hora da competição parecia proporcionar algo libertador: “Naqueles instantes o foco era o desempenho, o resultado, eram horas, ou minutos, ou segundos, em que não se falava ou pensava em pandemia” (GIL, 2021). O jornalista realça que foram momentos únicos para todas as pessoas se permitirem sentir outras emoções como alegria, decepção, nervosismo e de torcida, mas que, em específico, soou mais especial aos desportistas, que independentemente de estar sobre o pódio, prestaram reconhecimento à pandemia, às dificuldades e ao sofrimento, ao dedicarem as medalhas e participação às vítimas e parentes das vítimas. “Foram entrevistas e declarações muito lúcidas da grande maioria. Seja de atletas adolescentes ou mais experientes. Deram razão e sentido à realização do evento”, finalizou Gil (2021).

4.2 BANDSPORTS

A BandSports, por outro lado, apresentou algumas distinções em relação ao SporTV. Durante a pré-cobertura, do dia 8 a 19 de julho, a equipe contou com apenas alguns de seus jornalistas enviados a Tóquio. Entre os nomes selecionados para fazerem a cobertura local, Kansler foi um dos primeiros a partir rumo ao oriente, dias antes da chegada das delegações.

Em sua trajetória profissional, Kansler já teve passagem como jornalista esportivo no Diário ‘O Lance’, além de ter sido editor de texto na ESPN Brasil. Hoje é repórter na BandSports, onde pôde cobrir Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, Roland Garros, Libertadores, Sul Americana e Copa do Mundo de Ski. Com vasta experiência na esfera esportiva, o jornalista não pôde partir à Tóquio com alguns dias de antecedência, em razão de um comunicado do Comitê Olímpico do Brasil (COB). “O COB determinou que não teríamos como ir antes para fazer as matérias de preparação, em razão da pandemia. Então eles nos arquitetaram entrevistas virtuais para abastecermos a mídia da emissora no Brasil” (KANSLER, 2021), relatou Kansler. Contudo, dias depois, enquanto o enviado partia rumo ao Japão, Kozlowski e Júnior permaneceram com as apresentações da grade de programação da BandSports, ainda no Brasil.

A emissora levou consigo um número inferior de comunicadores a Tóquio, em relação ao SporTV, ao ter optado por diversificar os encargos de cobertura aos seus jornalistas, que durante todo o tempo trabalharam de modo versátil com entradas ao vivo e produção de VTs. “Fomos com quatro repórteres, dois produtores, um narrador e parte operacional da engenharia que já morava em Tóquio” (KANSLER, 2021), explicou Kansler, ao citar quais profissionais foram encaminhados para a cobertura no Japão. Do mesmo modo, ele frisa que a vacinação contra a Covid não foi considerada um requisito para viajar. De acordo com ele, o governo japonês optou por não a exigir frente aos atuais níveis de imunização: “No fim, o COB nos garantiu as dosagens da vacina. Para cada dose aplicada em um de nós, uma foi doada para o SUS” (KANSLER, 2021).

No período de pré-cobertura, a emissora optou, igualmente, por apresentar a rotina de programas destinados aos Jogos Olímpicos. Embora a margem de novos quadros fosse toda agregada em um único canal, a grade de programação foi estabelecida entre telejornais e quadros exclusivos para falar do assunto. Além de Kansler, os jornalistas Capatto e Rosemberg também foram enviados a Tóquio, encarregando-se de fazer entradas ao vivo e reportagens para sessões: Bom dia Tóquio, BandSports News, De Olho em Tóquio, Maratona BandSports e Boa Noite Tóquio.

Conforme as equipes de cobertura da BandSports chegavam ao Japão, os protocolos de segurança mantiveram-se padrões com todos os profissionais. Segundo registros instantâneos feitos por Kozlowski em sua rede social, ela permaneceu dentro do aeroporto esperando o resultado do exame de Covid em uma sala com outros profissionais da comunicação das 11h às 15h, momento em deslocou-se para o check-in no hotel. Kansler conta que desde a preparação para ida rumo à Tóquio, os regramentos foram bem exigentes. Segundo ele, a equipe de produção assumiu toda a preparação para a viagem, como cadastros, testes de Covid e documentos que precisavam ser aprovados para a autorização da viagem.

Ao longo dos 14 primeiros dias no Japão, ficamos em um hotel determinado pelo governo japonês e só poderíamos sair para as arenas olímpicas e centro de imprensa, desde que usássemos os táxis credenciados ou transporte particular. Não podíamos usar táxis comuns ou transportes públicos. Só podíamos sair durante 15 minutos para comprar comida em algumas lojas de conveniência ou mercadinhos próximos ao nosso hotel. Tínhamos que fazer tudo nesse tempo, além dos nossos testes de saliva, nos três primeiros dias. (KANSLER, 2021)

O enviado salienta que após as primeiras 72 horas em solo japonês, cada profissional teve um intervalo de três a quatro dias para preencher um cronograma e deixar um novo pote com o teste de saliva nas instalações do hotel. “A delegação e imprensa do Brasil passaram ilesas, não houve casos do Brasil até o final dos Jogos”, esclareceu Kansler (2021).

Júnior e Kozlowski foram os últimos a chegarem em Tóquio. Além das entradas ao vivo com boletins, Júnior assumiu a frente da apresentação de quadros ao vivo junto do narrador Álvaro José, com debates ao vivo sobre Olimpíadas, em pequenos “estúdios” improvisados dentro do quarto de hotel ou em frente às arenas. Já ao lado de Kozlowski, ele também protagonizou o quadro Show do Esporte. A comunicadora, por outro lado, repercutiu nacionalmente com seu método inovador de cobertura. Desde a saída do Brasil, utilizou de sua rede social para mostrar cada segundo, desde bastidores no quarto de hotel até os momentos de interação e entrevistas com a delegação do Time Brasil. Os conteúdos digitais produzidos por ela registraram momentos oportunizados pelos acessos dados pelo COB até o final da edição olímpica. A comunicadora participou de perto dos treinos do Time Brasil, onde mostrava tudo que ocorria com atletas do vôlei de praia, ginástica, vôlei de quadra, surf, boxe e outras modalidades. Neste meio tempo, a interação da comunicadora rendeu além do divertimento e descontração com os desportistas, bastidores de preparação física, fisioterapia, treinos e entrevistas exclusivas dentro das bases, com atletas e staff da delegação.

A iniciativa resultou no quadro ‘Mundo Glenda’, originado pela ex-atleta de bodyboard e dividido em episódios no IGTV do Instagram. Ela ganhou, igualmente, um espaço na programação da emissora com o quadro ‘De Olho em Tóquio’, destinado a reproduzir os conteúdos registrados pela comunicadora, em âmbito televisivo. Até o final dos Jogos, Kozlowski foi o grande nome do jornalismo digital, dedicado exclusivamente às redes sociais.

Logo após a cerimônia de abertura do Jogos, os protocolos de saúde foram seguidos à risca, principalmente quando as entrevistas em zonas mistas começaram.

No decorrer das entrevistas, tínhamos que ficar dois metros de distância dos atletas, com duas grades na frente, além de providenciar um pedestal para o microfone do entrevistado. A OBS (empresa responsável pela mídia) reduziu o número de espaços das zonas mistas nas olimpíadas. Geralmente tínhamos como agendar a nossa ida em uma instalação para um evento de alta demanda, onde há muita procura por entrevistas. Neste caso, tivemos que agendar as nossas idas às arenas diariamente, para a OBS ter um controle maior do fluxo da imprensa. (KANSLER, 2021)

O enviado ressalta as oportunidades cedidas pelo COB como fundamentais para a produção de conteúdo dentro da base do Time Brasil: “Houve um determinado dia em que eles abriram a sede para conhecermos a base de Yota e a delegação brasileira. Lá fizemos um PCR e depois uma agenda rápida no período da tarde para acompanhar os treinos da região” (KANSLER, 2021). Por mais que os produtos audiovisuais relacionados à delegação do Brasil fossem mostrados em massa televisivamente pela BandSports, Kozlowski conseguiu levar com exclusividade ao Instagram inúmeras curiosidades locais do Time Brasil, como foi o caso de toda logística de distribuição das 40 mil peças de roupa em 400 malas distribuídas para cada um dos atletas. Foram princípios muito bem explorados em um nicho de caráter instantâneo, como a rede social.

Sobre as escolhas de pautas, Kansler conta que junto de sua equipe, arquitetou desde o princípio a definição de quais seriam os assuntos abordados, mesmo sem nada ter sido pré-estruturado pela produção da emissora. Segundo o jornalista, todo o processo referente ao gatekeeping, com boletins e entradas ao vivo, partiam da factualidade, coordenada pelos editores chefes da BandSports.

Minha equipe era composta por mim, um cinegrafista, Anderson Gomes, e um produtor, Rafael Santana. Como nós fomos doze dias antes do restante da equipe, tivemos ideias de pautas, o que mostrar e produzir, mesmo com as nossas restrições. Não havia nenhum roteiro, o que posteriormente se tornou uma cobertura factual, dividindo equipes para não perder nenhum detalhe. (KANSLER, 2021)

As coberturas da BandSports utilizaram bastante da criatividade. Diferentemente do SporTV, além da série de VTs, das entradas ao vivo e do uso das mídias sociais, Júnior e Kozlowski realizavam entradas ao vivo na madrugada de Tóquio, em localidades distintas para fazer o ‘Show do Esporte’, quadro que é apresentado por ambos no Brasil. Do mesmo modo que a programação do canal era mantida, os comunicadores trabalhavam com pautas quentes sobre o desempenho do Time Brasil em cada semana olímpica.

As entradas ao vivo foram realizadas sequencialmente em inúmeras oportunidades. Enquanto a dupla de apresentadores encarregou-se dos programas de debate ao vivo, Kansler, Capatto e Rosembergue assumiram os VTs e boletins. “Já fazíamos várias entradas em quase todos os horários na Band, BandNews, BandSports, BandNews TV, BandNews FM e Rádio Bandeirantes. Conforme os dias passavam no decorrer dos Jogos, a procura e solicitação dos programas por novos conteúdos cresciam igualmente” (KANSLER, 2021), relatou Kansler. Relacionado às pautas, o enviado relata também que as localizações para as gravações mudavam conforme os horários, principalmente em dias de restrição.

Gravamos durante o dia nas arenas, e à noite, no quarto do hotel via celular. O BandSports tinha os direitos de transmissão, a Band não, o que implicava que, para o BandSports podíamos gravar dentro das arenas, já para a Band ficávamos na cidade ou dentro de uma arena, mas com a imagem apontada para o lado de fora do estádio. (KANSLER, 2021)

Outro fator curioso é que a BandSports foi a emissora que, com exclusividade, transmitiu diferentes modalidades ao vivo com as narrações de Álvaro José, de dentro das arenas olímpicas. O registro dos bastidores das narrações também foi realizado, a ponto de levar o espectador para dentro da cabine de transmissão, junto do narrador brasileiro e para perto do público.

Características como estas mostram sobretudo, a superação de cada profissional no oriente, mediante todas as limitações e desafios emplacados pela pandemia do Covid-19. Por meio do que foi entregue após cada produção, tanto pela televisão, como pelo celular, observou-se a apuração de toda factualidade presente em Tóquio, com uma grande instantaneidade de informações.

O maior desafio foi trabalhar em meio a uma pandemia, atravessar o planeta com surto de Covid-19, mesmo vacinado. Chegamos em Tóquio sabendo que os Jogos iriam acontecer, mas com temor de serem cancelados se os casos aumentassem. Por outro lado, foi uma experiência incrível, pelo reencontro dos povos, pessoas de todo mundo se reunindo para o maior evento esportivo do planeta. Olimpíada para mim é a coisa mais importante dentro do esporte, pessoas de diferentes cantos do mundo reunidas para uma grande festa. Sempre voltamos diferentes de um evento como esse. (KANSLER, 2021)

O enviado reitera que o Japão contabilizava até o começo das Olimpíadas, 500 novos casos diários em média de Covid-19. Após o cancelamento da presença de público local nas arenas, o total chegava a 900 casos por dia. Após o retorno das delegações e jornalistas para o Brasil, os números batiam na casa dos 5 mil novos casos diários no Japão. Mostrou-se até o fim, uma conquista para todos que puderam participar do maior evento desportivo do mundo, assim como um aprendizado frente um novo estilo de “fazer jornalismo”, em meio à uma série de limitações.

Kansler demonstra o sentimento de gratificação pela oportunidade de cobertura, principalmente pelas adversidades apresentadas desde o começo a cada um dos profissionais presentes em Tóquio. “Foram 40 dias em uma cultura distinta, onde pude acompanhar várias histórias de pessoas, atletas, conquistas e superações, algo incrível” (KANSLER, 2021), completou o jornalista.

4.3 SIMILARIDADES E DIFERENÇAS 

Em meio aos dois estilos de cobertura, evidenciou-se que o SporTV, assim como o BandSports trabalharam com a antecipação de conteúdos relacionados às suas programações na televisão. O surgimento de novos quadros, o vínculo de ex-atletas em ambas as televisões, bem como os nomes dos enviados que iriam para Tóquio, já eram conhecidos desde semanas antes da pré-cobertura começar. Outras similaridades apontadas em ambas as rotinas televisivas foram os estilos de notícias divulgados, ao levar em consideração a factualidade para os Jogos Olímpicos. Dificilmente alguma informação emitida em VT ou boletim de uma emissora era ignorada pela concorrente.

Por outro lado, as distinções entre os dois veículos de comunicação puderam ser encontradas em alguns pontos. O primeiro deles foi no número de enviados especiais que cada canal teve. Enquanto o SporTV estendeu a margem de trabalho com 16 jornalistas, sendo 12 repórteres e quatro flecheiros, o BandSports manteve em sua equipe cinco enviados, sendo três jornalistas assumindo as entradas ao vivo e as reportagens, simultaneamente, enquanto outros dois estiveram à frente da realização de programas ao vivo na capital japonesa – como é possível ver na Tabela 1.

Tabela 1. Comparativo entre as emissoras SporTV e BandSports, referente à cobertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

  SPORTV BANDSPORTS
Nº de enviados

 

16 jornalistas enviados

(12 repórteres e 4 flecheiros)

5 jornalistas enviados

(3 encarregados das reportagens e entradas ao vivo, e 2 para seguirem com a grade de programação da emissora)

Transmissões dos Jogos Sem acesso às cabines das arenas – transmissões realizadas no Brasil

 

Transmissões realizadas in loco, nas cabines de cada arena

 

Estilo de Cobertura

 

Cobertura televisiva, com amplo número de produções (VTs e entradas ao vivo), com cada um dos enviados

 

Cobertura televisiva, com um menor número de VTs e entradas ao vivo; Cobertura para mídias sociais

 

Fonte: autor

O quadro ‘Show do Esporte’, pertencente à grade de programação da emissora, foi apresentado por Júnior e Kozlowski – ambos deram seguimento às transmissões, por meio de entradas ao vivo no final de cada dia. Além desta peculiaridade, o Bandsports destacou-se por outras características. Uma delas foi o acesso às cabines de transmissão nas arenas olímpicas, para narração e comentários in loco. Enquanto o canal optou por contar com Álvaro José para tal encargo, o SporTV manteve seus narradores nos estúdios brasileiros. Embora este grupo seleto de profissionais tenha permanecido no Brasil, o vasto número de enviados pelo SporTV possibilitou uma quantidade numerosa de notícias diárias. Por mais que tenham sido o primeiro grupo de brasileiros a chegarem no Japão, os comunicadores do canal global aproveitaram de sua boa estrutura jornalística, em termos de amplitude, para cobrir um maior número de pautas esportivas, após estarem encarregados de acompanhar algumas modalidades em específico. Entretanto, estando em menor número, os jornalistas do BandSports abraçaram uma maior quantidade de nichos esportivos. Por fim, pôde-se perceber a grande quantidade de materiais que o SporTV encaminhou ao ar diariamente, em comparação ao BandSports.

Outro ponto que não se deve deixar de citar é a atuação jornalística em meio digital encontrada nos perfis de Instagram de Coelho, Alves e Kozlowski. Embora outros comunicadores tenham utilizado suas redes a caráter informativo, o maior número de registros foi associado a estas três personalidades. De um lado, Alves e Coelho pelo SporTV, além de compartilharem questões relacionadas à bastidores de gravação, curiosidades culturais e momentos de descontração com suas equipes de reportagem em seus stories, a interação com o público por meio da ferramenta ‘caixa de perguntas’ do Instagram aproximou seus seguidores por meio de dúvidas sobre a cobertura das Olimpíadas. Do outro, Kozlowski foi a grande protagonista das mídias digitais. Desde a pré-cobertura, a ex-atleta e campeã mundial de bodyboard já registrava no seu Instagram a viagem rumo à Tóquio, informações relacionadas aos protocolos de saúde, dados culturais japoneses, idas aos centros de imprensa, hotéis e arenas olímpicas. Mas, o que de fato distinguiu sua cobertura das demais foi o aprofundamento e o resultado de cada produção.

Ao tornar-se integrante do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), ela assumiu junto de sua rede social o Instagram da entidade, com o objetivo de levantar dados relacionados ao Time Brasil. A partir desta parceria, a comunicadora teve acesso exclusivo aos treinamentos, refeições e outros bastidores das delegações brasileiras, o que a viabilizou acompanhar de perto os treinos das modalidades do vôlei de praia, ginástica, vôlei de quadra, surf e boxe. Durante estes momentos, ela garantiu, além de furos, entrevistas e bate-papos com atletas, técnicos, fisioterapeutas e massagistas do plantel. Toda essa produção acarretou o surgimento do quadro ‘Mundo Glenda’, dividido em episódios em seu IGTV. Porém, as apresentações da comunicadora não permaneceram só em rede social, ao ganharem também um espaço na grade do BandSports, com o programa ‘De Olho em Tóquio’. Ainda em ambiente web, mas não menos importante, os websites particulares de cada emissora também foram locomotivas de informações no decorrer das Olimpíadas. Neste caso, o Globo Esporte, vinculado ao SporTV na internet, elaborou uma grande quantidade de notícias diárias sobre os jogos, fossem pautas quentes ou frias. Já o BandSports direcionou mais sua produção jornalística para eventualidades factuais em âmbito olímpico no seu site.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o princípio, imaginou-se produzir um estudo de caso que pudesse discorrer detalhadamente sobre os Jogos Olímpicos de Tóquio. Observações que partissem da atuação jornalística, até o estilo de informações destacadas em cada entrevista, matérias e debates televisivos. E não foi à toa que o caderno de campo, por meio do qual pôde-se compreender a dinâmica dos produtos jornalísticos que estavam circulando, contabilizou mais de 65 páginas de observação, entre o dia 8 de julho, na pré-cobertura, até o dia 10 de agosto, em um período pós. Para além das perspectivas de coleta de informação por meio do registro diário de dados, via televisão, websites e redes sociais, o contato direto com os jornalistas locais foi considerado uma grande aposta desde os primeiros dias, por intermédio da realização de entrevistas semiestruturadas e estruturadas. Até o final do projeto, apenas dois enviados foram entrevistados, embora outros tenham se disponibilizado e aceitado responderem as perguntas. Diante das ocasiões em que se obtiveram respostas, Gil foi entrevistado via e-mail e Kansler via chat do Instagram.

Ao chegar no desfecho da avaliação do objeto de estudo, compreende-se que o objetivo da ‘análise do trabalho profissional em meio à pandemia da Covid-19’ foi alcançado por meio das informações registradas durante a realização do evento, onde pôde-se conhecer os encargos de cada comunicador, rotinas de produção, protocolos de saúde, aplicação do gatekeeping, reportagens, entradas ao vivo e entrevistas com atletas, a partir dos contatos remotos promovidos com ambos. Fator este que leva à resposta do problema de pesquisa: ‘como os profissionais do jornalismo esportivo de ambas as emissoras desenvolveram suas atividades durante a Olimpíada de Tóquio?’.

A conclusão do projeto auxiliou no entendimento pessoal do autor, sobre como ocorrem as tarefas jornalísticas diárias em uma competição de grande magnitude mundial – a qual reúne milhares de pessoas do mundo inteiro – ainda mais levando em conta a pandemia da Covid-19. Ponto este que reforça a necessidade do grau de preparo e improvisação acerca dos métodos de trabalho, junto a situações inimagináveis de uma rotina jornalística. Isso porque, os trabalhos devem seguir sendo executados, independentemente das circunstâncias em que o comunicador se encontre.

Outro ponto que elucidou de maneira reforçada as concepções do autor, é de que há sim como realizar uma cobertura de esportes bem apurada e com inúmeros furos jornalísticos, apenas usando as mídias sociais. O método que possibilitou uma imersão do público consumidor de notícias por meio digital, utilizado por Kozlowski, mostrou o engajamento, fidelidade e repercussão das mesmas informações veiculadas em rádio e tv, na rede social, a qual ganha com a instantaneidade e ferramentas de acesso que permitem deixar as pessoas em contato direto com o jornalista.

Pretende-se por meio da pesquisa, disponibilizar fatos e noções sobre a atuação profissional em meio à pandemia de Covid-19, com dados para pesquisa e consulta sobre a vivência de correspondentes internacionais e enviados esportivos contemporâneos.

REFERÊNCIAS

AGNEZ, Luciane. Identidade profissional no jornalismo brasileiro: a carreira dos correspondentes internacionais. Brasília: Ed. UNB, 2014.

AGNEZ, Luciane; MOURA, Dione. Perfil profissional dos correspondentes internacionais brasileiros. Porto Alegre: Ed. Revista Famecos, 2015.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Coimbra: Ed. Edições 70, 2015.

CARVALHO, Sérgio et all. Revista Comunicação, Movimento e Mídia na Educação. 3a ed. Santa Maria: Editora UFSM, 2000.

COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo Esportivo. 4a ed. São Paulo: Editora Contexto, 2003.

DELUCA, Naná. Correspondentes internacionais traduzem o mundo ao leitor da folha. Folha de São Paulo, 2021. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/folha-100-anos/2021/02/correspondentes-internacionais-traduzem-o-mundo-ao-leitor-da-folha.shtml>. Acesso em: 19 nov. 2021.

DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. Curitiba: Ed. Atlas, 2009.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Ed. Atlas, 2009.

GIL, Carlos. Entrevista sobre a atuação jornalística durante os Jogos Olímpicos de Tóquio [set. 2021]. Entrevistador: Gianmarco Soares de Vargas. Santa Maria. Entrevista concedida ao Trabalho Final de Graduação, em Jornalismo, de Gianmarco de Vargas.

KANSLER, Thiago. Entrevista sobre a atuação jornalística durante os Jogos Olímpicos de Tóquio [set. 2021]. Entrevistador: Gianmarco Soares de Vargas. Santa Maria. Entrevista concedida ao Trabalho Final de Graduação, em Jornalismo, de Gianmarco de Vargas.

NATALI, João Batista, Jornalismo Internacional. São Paulo: Contexto, 2007.

RIBEIRO, André. Os Donos do Espetáculo. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2007.

WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença, 1985. Disponível em: <https://www.inovaconsulting.com.br/wp-content/uploads/2016/09/teorias-da-comunicacao-b y-mauro-wolf.pdf>. Acesso em: 9 mai. 2021.

APÊNDICE – REFERÊNCIA NOTA DE RODAPÉ

3. Auto-atribuição dada pelas jornalistas encarregadas de fazer as entradas ao vivo em Tóquio, com boletins gerais sobre os Jogos Olímpicos 2021.

4.  Jornalistas que ficaram encarregados de cobrir um esporte em específico durante as Olimpíadas. Eram encarregados da produção de VTs e participação nas transmissões ao decorrer das modalidades.

5. Abreviatura de videoteipe, a expressão designa o conteúdo de um tipo específico de produto, como uma reportagem gravada, para reprodução. Pode também designar a forma genérica de uma mídia editada, como uma reportagem, uma chamada ou uma matéria de jornal para TV.

6. Termo referente à realização de uma cobertura no local do evento onde acontece.

[1] Graduado em Jornalismo, pela Universidade Franciscana (UFN). ORCID: 0000-0003-4204-5138.

[2] Orientadora. ORCID: 0000-0002-6852-1879.

Enviado: Julho, 2022.

Aprovado: Agosto, 2022

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Gianmarco Soares de Vargas

Uma resposta

  1. Excelente trabalho e análise abordando um assunto sobre o ângulo de como uma epidemia, influenciou a rotina dos meios de comunicação e dos repórteres, e a forma encontrada pelos agentes de comunicação para que as informações chegassem da forma mais fidedigna aos telespectadores, das diversas mídias envolvidas na transmissão.

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