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Um olhar sobre o teletrabalho nas publicações brasileiras: estudo exploratório

RC: 149035
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/administracao/teletrabalho-nas-publicacoes

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

CARVALHO, Alba Valéria Gomes de [1]

CARVALHO, Alba Valéria Gomes de. Um olhar sobre o teletrabalho nas publicações brasileiras: estudo exploratório. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 08, Ed. 10, Vol. 01, pp. 108-127. Outubro de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/teletrabalho-nas-publicacoes, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/administracao/teletrabalho-nas-publicacoes

 

RESUMO

O teletrabalho no contexto brasileiro, especialmente no que tange aos serviços públicos,  ganhou impulso e aceitação especialmente durante o perído pandêmico entre os anos de 2020 e 2022, estabelecendo um novo olhar sobre esta forma de trabalho. Assim, este estudo teve como objetivo identificar como é abordado o tema teletrabalho nas revistas científicas brasileiras. Para isso, foi realizada uma pesquisa em revistas científicas com base nas notas fornecidas pela Capes para avaliação dos Programas de Pós-Graduação, também conhecida como QUALIS CAPES a fim de comparar se os olhares ao teletrabalho estão de alguma forma associados as notas direcionadas pela Capes, bem como, suas respectivas áreas de investigações. Após a pesquisa, observou-se que  pesquisas mais aprofundadas e voltadas a conteúdos norteadores para a Administração Pública, porque além de uma modalidade que apresenta variações que podem favorecer grupos sociais específicos, como pessoas idosas e/ou portadores de deficiências, e que somam capital intelectual importante para as instituições, ainda pode ser um vetor de minimização de grandes problemas urbanos, como congestionamentos e poluição. Para descobrir em que nível estão os estudos brasileiros sobre teletrabalho, foram visitadas as publicações e seguido o seguinte roteiro a saber: últimos cinco anos, teletrabalho no título, títulos relacionados ao ambiente público, descarte das citações, separação por QUALIS, criação de tabelas de estratificação, além da demonstração e discussão dos resultados.

Palavras-chave: Vantagens do teletrabalho, Publicações, Mobilidade urbana, Eficiência.

1. INTRODUÇÃO

A modernização do serviço público é discutida há décadas em várias esferas com a expectativa de que o Estado burocrático seja deixado no passado e caminhe para um modelo de administração gerencial, com metas, indicadores e outraspráticas recomendadas pela gestão contemporânea. Com o advento da tecnologia, caminhar nessa direção é algo inevitável e, de certo modo, desejado pelos principais usuários dos serviços públicos. Atualmente, já existe um processo de forte dinâmica em marcha para esta modernização das instituições por meio de ações estruturadas, como a capacitação dos funcionários e dos servidores públicos para acompanhar essas mudanças trazidas pela tecnologia para entregarem serviços melhores à sociedade por meio do seu bom uso, seja na condição presencial ou à distância.

Em relação à atuação à distância do serviço público por meio da tecnologia, destaca- se a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (SOBRATT), que adquiriu considerável expertise por mais de 20 anos de atividades sobre o tema teletrabalho. A SOBRATT é a única instituição nacional acreditada como sociedade civil sem fins lucrativos dedicada a difundir o tema. Isto acontece principalmente por meio de seminários, congressos, pesquisas e publicações acerca do tema trabalho à distância, especialmente, o teletrabalho.

A SOBRATT é a única instituição nacional acreditada como sociedade civil sem fins lucrativos dedicada a difundir o tema. Isto acontece principalmente por meio de seminários, congressos, pesquisas e publicações acerca do tema trabalho à distância, especialmente, o teletrabalho. Por isso, adota-se o conceito desenvolvido por esta entidade para a modalidade de trabalho estudada como “[…] todo e qualquer trabalho intelectual, realizado em casa, com a utilização de tecnologias (computadores, tabletes ou smartphones, usando internet, banda larga, telefonia fixa ou móvel) que permitam receber e transmitir informações, arquivos de texto, imagem ou som relacionados a atividade laboral.” (SOBRATT, 2020, p. 7).

Nesta ótica, o estudo das atividades exercidas fora da sede das empresas públicas ou privadas não se trata de uma pesquisa recente. Ao contrário, a SOBRATT vem organizando, ao longo de sua existência, uma consolidada base de pesquisas, que a destaca como fonte de referências para os estudiosos que se interessam pelo tema e que desejam nele se aprofundar ou usufruir do arcabouço de conteúdo disponibilizado para fundamentar a implementação ou, ainda, definir a manutenção do uso do teletrabalho no pós-pandemia.

Em uma ação de imersão em seu repositório, encontra-se uma alta concentração de publicações, desde artigos até cartilhas orientativas sobre como adotar o teletrabalho. Estas trazem recomendações práticas para uma melhor performance sistêmica, destacando-se os riscos de erros de não verificação de perfis e de esquecimento da ergonomia, entre outros aspectos importantes e necessários para que se mantenha a qualidade de vida de quem adota a modalidade, bem como a qualidade dos serviços executados.

Andrade (2020, p. 33) ressalta que, com o teletrabalho, “[…] há um benefício de menos carros nas ruas, o que diminui o congestionamento do tráfego e a poluição ambiental”. Zavanella (2019) acrescenta que o teletrabalho reforça esse benefício social, afirmando que o teletrabalho é protagonista na amenização do problema da mobilidade urbana nos grandes centros.

Em 2020, por consequência da pandemia de Covid-19, as instituições privadas e públicas foram desafiadas a continuarem a atividade empresarial, mas, sem que houvesse deslocamento de casa para o trabalho, na forma física com a qual estávamos acostumados. Isto ocorreu do dia para a noite, podendo ser considerada uma ação do padrão Schumpeteriano, sendo alterada a modalidade presencial de execução das atividades em um ambiente institucional para uma modalidade virtual, ou seja, de um modo de ruptura para um ambiente ainda não adaptado como se encontravam as residências de cada funcionário.

Essa virtualização da atividade profissional atingiu quase a totalidade das funções administrativas, especialmente, no serviço público federal, abrindo um leque de possibilidades de inquietações para as pesquisas. Uma das possíveis inquietações que motiva este estudo é entender se esse processo disruptivo permitiu ou permitirá que o teletrabalho seja adotado de forma permanente, híbrido ou se haverá o retorno às condições pré-pandemia. . Caso seja adotado nos órgãos públicos, melhoras sistêmicas organizacionais seriam apresentadas na desburocratização e efetividade dos processos organizacionais.

A pesquisa foi direcioanada pela seguinte questão norteadora: Como as revistas brasileiras mais conceituadas na área acadêmica, classificadas como QUALIS B ou superior abordam o tema teletrabalho?” Com base nesta questão os artigos encontrados foram selecionados a partir da identificação de suas contribuições para tal questionamento, considerando os últimos cinco de publicação, sendo um recorte temporal escolhido para análise comparativa de produção considerando um período anterior a pandemia.

Considerando as classificações direcionada pela Capes, acredita-se que as revistas bem-conceituadas desenvolvem pesquisas de grande importância para o serviço público e sociedade em geral, acrescendo-se que a administração pública editou normas estabelecendo diretrizes para o uso do teletrabalho, durante e após a pandemia, entende-se ser um campo fértil para explorar o referido tema, avançando para identificar como se deu (ou não) essa implementação compulsória no serviço público brasileiro. Assim, este estudo tem como principal lócus empírico o contexto brasileiro e publicações que abordem temas públicos, mesmo que não seja um periódico associado a instituições públicas. Na contagem final, as publicações com os QUALIS desejados, ou não, foram indicadas, para efeito comparativo e esclarecedor de quantitativo e relevância.

2. DESENVOLVIMENTO

A partir da questão norteadora foi realizada um o diagrama mental da trajetória do processo metodológico de levantamento de resultados, baseado na Taxonomia de Bloom (BLOOM, 1956; SAE DIGITAL, 2020), descrito na Figura 1.

Figura1 – Diagrama mental da trajetória do processo metodológico de levantamento de resultados

Fonte: Autoria própria, 2022.

A escolha da plataforma Google Acadêmico se deu por ser um nome bastante presente no imaginário dos estudantes como recurso de pesquisa e por ter acesso aberto, o que não ocorre com grande parte das bases de pesquisa. Ademais, é considerado como um dos indicadores bibliométricos significativos pela CAPES1 para quantificação dos dados de publicações armazenados. Esses indicadores são utilizados como critério para avaliação de citações recebidas pela Scopus (Citescore) e Web of Science (fator de impacto), e pelo Google Acadêmico ou Google Scholar (índice h5) como parâmetro de análise dos periódicos brasileiros e que podem ser comparados aos internacionais mais respeitados.

Na plataforma Scopus, são vinculadas somente publicações que possuem Identificador de Objeto Digital (DOI), e, por isso, as revistas que não possuem o referido código perdem prestígio. Isto ocorre pelo fato de que são consideradas inseguras por não terem sido submetidas a uma classificação cuidadosa, e, consequentemente, não obtêm classificação de relevância ou nenhuma perante a metodologia de avaliação QUALIS. Assim, de acordo com esse novo critério de avaliação, os periódicos classificados na categoria C não são mais considerados como publicações de boa referência e, por critério dos autores, serão desconsiderados como fonte de contagem para este estudo, embora sejam citados.

O período de cinco anos foi considerado como o que mais poderia trazer contribuições em razão de incluir tempos da pandemia de Covid-19, resultante que catapultou a modalidade teletrabalho. Houve adoção compulsória como única possibilidade de associar a manutenção do desenvolvimento das atividades com a manutenção do distanciamento social necessário para o arrefecimento da contaminação e ajustes emergenciais no Sistema de Saúde Pública para atender a demanda oriunda da crise sanitária.

Durante a busca por publicações sobre o tema teletrabalho, foram consideradas palavras-chave como “home-office”, “trabalho remoto”, “teletrabalho” e “teleatividade”, pois são descritores importantes decorrentes de uma solução imposta pela necessidade do distanciamento social, como forma de combate à disseminação da pandemia de Covid-19.

Em janeiro de 2022, a primeira busca bibliográfica na plataforma Google Acadêmico utilizando a sintaxe “teletrabalho” em qualquer idioma retornou 13.900 resultados. Ao filtrar a busca para o idioma português, foram apresentados 12.700 resultados, indicando que aproximadamente 91,37% dos dados totais (em qualquer idioma) são referentes a publicações em português.

Contudo, a palavra “teletrabalho” não necessariamente significa que a pesquisa versou sobre tal tema. Portanto, foi realizada uma pesquisa avançada, utilizando como filtro “teletrabalho” no título, idioma português, no período de 2017-2021. Dessa forma, a busca retornou pouco mais que 600 resultados.

Desse total, 112 publicações eram relativas a citações apenas. Após a exclusão destas citações, reduziram-se as publicações que trazem “teletrabalho” em seu título para pouco mais de 500. Desse montante, 172 trabalhos abordam algum aspecto da iniciativa pública, como seus trabalhadores, direitos trabalhistas, organizacional, representando 30,6%, sendo que os demais abordam o mesmo tema, mas direcionando o olhar para a adoção da modalidade pela iniciativa privada.

Com relação às classificações QUALIS Capes B (1, 2, 3, 4 ou 5) ou A (1, 2 ou 4) dentro do universo pesquisado, foram encontradas 51 publicações retratando aspectos da iniciativa pública e 95 com abordagens na iniciativa privada. Não foi encontrada nenhuma publicação com classificação QUALIS A3.

Em revistas QUALIS A com foco em iniciativa pública, somente uma obra acadêmica foi identificada, isto é, apenas o artigo de Ribeiro et al. (2020), intitulado “Ações dos Tribunais de Contas no enfrentamento dos efeitos do Coronavírus”, divulgado pela Revista de Administração Pública (RAP), editada pela Fundação Getúlio Vargas – RJ. Neste artigo, o termo teletrabalho aparece 15 vezes, na condição de indicação da modalidade como “[…] ações de âmbito interno de pedagógicas” (RIBEIRO et al., 2020, p. 1402), como forma de ajustar a continuidade das atividades em atendimento presencial e não como fonte de pesquisa em si. Contudo, nesta revista, não foi identificada publicação específica sobre teletrabalho, apenas uma que cita a modalidade nos últimos cinco anos.

Seguindo a análise dos resultados relacionados às publicações com a palavra teletrabalho no título, percebe-se a necessidade de evidenciar o quantitativo de publicações por ano, o qual é apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 – Segregação por ano e QUALIS

Ano da Publicação Total de Títulos QUALIS A e B
2017 33
2018 70
2019 71
2020 173
2021 193
Total 540

Fonte: Elaborado pela autora (2022).

Os resultados apontam que houve uma progressão das publicações relacionadas ao teletrabalho a partir de 2017, devido aos fenômenos ocorridos durante o período estudado, destacando-se a reforma trabalhista e a pandemia do novo coronavírus. Além disso, no período entre 2017 e 2019, verifica-se a concentração de pouco mais que 32% do total existente. Fora deste intervalo temporal, concentram-se cerca de 68% das publicações do período recortado para o estudo.

A Tabela 2 apresenta o número de publicações e a classificação QUALIS de acordo com a avaliação da CAPES.

Tabela 2 – Distribuição por tipo de veículo difusor de publicações

Classificação QUALIS Número de Publicações
A1 21
A2 19
A4 6
B1 20
B2 18
B3 17
B4 15
B5 9
C 1
D 9
Revistas sem QUALIS 70
Congresso 38
Editoras 6
Classificação QUALIS Número de Publicações
Organização social 1
Repositório 290
Total Geral 540

Fonte: Elaborado pela autora (2022).

Considerando que publicações de alto valor acadêmico são divulgadas através de periódicos com QUALIS B2 ou superior, para entender o valor de referência do encontrado, destaca-se o quantitativo nesse patamar em relação ao todo. Neste sentido, segundo a classificação da CAPES emitida em 2020, os periódicos não classificados deixam de se enquadrarem nos critérios desejáveis à comparabilidade de obras nacionais e internacionais.

Assim, faz-se mister salientar que a nova classificação da CAPES não mais contempla avaliações nos níveis B5, C e D. No entanto, este estudo considerou os periódicos com esses indicativos, pois estavam vigentes nos anos de publicação, e, assim, foram classificados no intervalo de tempo determinado para a pesquisa.

Ressalta-se que a referência “congresso” agrupa outros eventos que foram pouco identificados de forma isolada, como seminários, mostras científicas, encontros nacionais como o ENANPAD (similares a congressos), entre outros. Deste modo, figuram como local de guarda de todas as publicações indicadas nos repositórios e/ou bibliotecas digitais de universidades públicas ou privadas, resultantes de trabalhos de iniciação científica, conclusão de curso ou outras contribuições aceitas por essas bases de informações acadêmicas.

Não obstante de que, nas bases de dados em geral e, em especial, na escolhida para este artigo figurarem pesquisas depositadas em repositórios dentro dos estratos atualmente vigentes A e B, foi adotado o critério, para fins comparativos e quantitativos totais, publicações em revistas não classificadas na avaliação CAPES. Neste raciocínio, ainda, foram consideradas referências às editoras e à organização social, cujas publicações se referiram ao tema de estudo. Por conseguinte, percebe-se o quanto as pesquisas ficam restringidas envolvendo o tema teletrabalho, quando consideradas apenas as de QUALIS A e B, reduzindo-se a apenas 70 publicações, sendo 46 no estrato A e 24 no estrato B.

Sob o critério de não restringir a análise aos estratos A e B, fica ainda mais evidente que o quantitativo encontrado é tímido mediante à efervescência do tema (Tabela 3). Esta observação toma vulto especialmente nos últimos dois anos, se pensarmos, minimamente, que existem cerca de 93 mil mestres e doutores no Brasil segundo o anuário da educação básica, citado nas metas do Plano Nacional da Educação (BRASIL, 2021), além de acadêmicos e pesquisadores, em geral, sem considerar ou limitar por titulação acadêmica.

Tabela 3 – Periodicidade por QUALIS

Rótulos de Linha Contagem de QUALIS
Anual 37
Bianual 3
Bimestral 5
Continuada 352
Criada em maio 21 1
Mensal 3
Quadrimestral 39
Semestral 46
Semestral 1
Trimestral 53
Total Geral 540

Fonte: Elaborado pela autora (2022).

Sob a ótica da observação sistemática da falha da literatura acadêmica sobre o tema teletrabalho, para traduzir os dados referentes à periodicidade, apresenta-se a Tabela 4. Nesta, buscou-se analisar apenas as publicações em revistas com classificação A ou B, a fim de verificar quantas oportunidades de publicação ocorreram no período estudado.

Tabela 4 – Distribuição por periodicidade e QUALIS

QUALIS Periodicidade
mensal bimestral trimestral quadrimestral semestral anual bianual fluxo contínuo
A1 3 3 4 1 0 1 0 6
A2 0 0 9 2 0 0 2 5
A4 0 0 4 0 1 0 0 1
B1 0 1 5 1 4 0 0 9
B2 0 1 0 2 4 0 0 7
B3 0 0 0 0 6 0 0 5
B4 0 0 0 2 3 0 0 6
B5 0 0 0 1 1 0 0 2
Total 3 5 22 9 19 1 2 41

Fonte: Elaborado pela autora (2022).

A Tabela 4 demonstra o registro de três publicações sobre o tema teletrabalho referentes à única revista de periodicidade mensal. Como os últimos cinco anos representam 60 meses, este dado representa apenas 5% de aproveitamento das oportunidades nesse período.

Além disso, foram contabilizadas 30 oportunidades de publicações referentes à periodicidade bimestral. Considerando que três revistas possuem essa periodicidade, existiriam 30×3 oportunidades totais. No entanto, tendo havido apenas cinco, estas representam igualmente 5% das possibilidades totais em meia década.

No tocante a periódicos que possuem a regularidade de publicação trimestral, têm-se quatro oportunidades por ano, e, portanto, 20 oportunidades no último quinquênio para cada periódico. Assim, a expectativa de publicações indica potencial de 40, já que essa oportunidade é, neste estudo, relacionada a duas revistas. No entanto, ao contabilizar 22 publicações, o índice de aproveitamento das oportunidades totais é de apenas 55%.

Por sua vez, a análise dos periódicos com frequência quadrimestral, que se traduz em três oportunidades de publicações anuais, e por revista, implica na possibilidade de 15 publicações no período por periódico. Mas, considerando que foram identificados nove veículos de disseminação de pesquisas, implicando no total de 135 possibilidades, porém tendo-se encontrado apenas 27 publicações, esse quantitativo representa 20% das possibilidades potenciais para essa periodicidade no lapso temporal definido para a pesquisa.

Foram identificadas 19 publicações semestrais, atribuídas a 15 revistas, ou seja, uma média de 1,27 por revista por ano. É fato que este indicativo é muito inferior às possibilidades esperadas para o período, que seriam 10 possibilidades por revista, e 150 no total, enfraquecendo a relação percentual que se aproxima a 13% das possibilidades totais em relação às efetivamente aproveitadas. Todavia, este resultado foi bem superior aos períodos mensal, bimestral e trimestral.

Para os casos dos periódicos que publicam anualmente, foram projetadas cinco possibilidades, e apenas uma revista com essa periodicidade foi tabulada. Assim, ao esperar cinco artigos no período e havendo somente um publicado, este achado representa 20% das possibilidades totais, coincidindo com o aproveitamento das publicações para o período de divulgação quadrimestral.

Mantendo-se o foco na inquietação, espera-se contabilizar, hipoteticamente, duas publicações para a única revista que indica periodicidade bianual. Diferente das demais analisadas, esta, de fato, apresentou duas publicações no período, e em ambas foram publicados artigos com o tema teletrabalho, tendo, pois, 100% de aproveitamento das oportunidades existentes.

Ressalta-se que as publicações com possibilidades contínuas de submissão de artigos não foram calculadas, pelo elevado valor resultante de 365 possibilidades por ano versus dezenas de revistas nessa condição.

A fim de ampliar o foco nas publicações, associando o quantitativo, que se torna fundamental, com os focos associados ao tema teletrabalho, observa-se que alguns se destacam, entre esses direitos trabalhistas e organizacional em maior grau, além de foco nos trabalhadores (implicações domésticas, na saúde e outros) acerca da transformação do home em office. Adicione-se que foram percebidos e tabulados outros focos, porém com incidência pouco representativa no cômputo total, os quais foram rigorosamente citados, mas não aprofundados (Tabela 5).

Tabela 5 – Concentração por tema abordado

Tema Abordado Contagem de Título
Análise crítica 1
Aprendizagem organizacional 1
Auditoria 1
Capacitação 1
Caso de sucesso 1
Custos de agência 1
Custos e produtividade 2
Custos públicos 2
Direitos trabalhistas 180
Educação 1
Eficiência 1
E-liderança 5
Empregabilidade 2
Ensino 4
Ensino EaD 8
Ensino infantil 1
Ensino medicina 1
Ensino superior 1
Exercício profissional 1
Gestão de pessoas 1
Habilidades do teletrabalhador 1
Impacto na profissão 1
Inclusão social 8
Inovação 6
Legislação 1
Mobilidade urbana 2
Motivação 1
Organizacional 129
Políticas públicas 1
Produção nacional 2
Questão de gênero 1
Revisão de literatura 60
Saúde 1
Tema Abordado Contagem de Título
Saúde mental 4
Segurança do trabalho 5
Setor cultural 1
Situações emergenciais 1
Tecnologia 7
Trabalhadores 91
Tributação 1
Total Geral 540

Fonte: Elaborado pela autora (2022).

Já nos anos de 2020 e 2021, percebe-se um incremento significativo de publicações relacionadas ao teletrabalho, levando a inferência de que a convivência entre a experiência na prática, relativa à execução das atividades nesta modalidade, influenciou positivamente o interesse dos autores pelo tema, no período em que se percebe diversificação das abordagens cujos aspectos variam entre inovação, qualidade de vida, segurança do trabalho, saúde mental, entre outros.

Nota-se que, no período entre 2017 e 2019, existe uma aproximação de números com a contagem de títulos referentes aos direitos trabalhistas, o que pode ser explicado pelo fato de que em 2017 foi sancionada a reforma trabalhista brasileira, Lei no 13.467/2017 (BRASIL, 2017).

Alterando o foco de quantidade para assunto abordado nas publicações e considerando que o tema direito trabalhista, conforme a Tabela 5, representa 1/3 do total de focos tabulados, julgou-se ser importante observar quanto desse referencial foi produzido nos anos de 2020 e 2021. Como resultado, foi identificado que 105 das 180 publicações acerca de direitos trabalhistas foram escritas nos últimos cinco anos, o que representa 58,33% do total do período avaliado. Este fato nos leva a inferir que a inquietação sobre essa nova forma de executar as atividades foi motivadora para o desenvolvimento de pesquisas quanto à discussão das relações trabalhistas desde a reforma trabalhista, bem como quanto à crise sanitária mundial.

Para que a incidência destes conteúdos ficasse mais clara, optou-se por exibir a Tabela 6, a qual apresenta os dados por ano e incidência de publicação em cada foco identificado, a subdivisão das informações referentes aos detalhes do teletrabalho. Estas informações serviram de inspiração para os autores responsáveis pelos artigos que usaram como base para essa análise que se propôs aqui.

Tabela 6 – Distribuição por tema abordado por ano

Contagem de QUALIS Ano de Publicação Total Geral
2017 2018 2019 2020 2021
Análise crítica 0 1 0 0 0 1
Aprendizagem organizacional 0 1 0 0 0 1
Auditoria 0 0 0 0 1 1
Capacitação 0 0 0 0 1 1
Caso de sucesso 0 0 0 0 1 1
Custos de agência 0 0 0 1 0 1
Custos e produtividade 1 0 0 0 1 2
Custos públicos 0 0 0 1 1 2
Direitos trabalhistas 9 30 35 59 47 180
Educação 0 0 0 0 1 1
Eficiência 0 1 0 0 0 1
E-liderança 0 0 0 0 5 5
Empregabilidade 0 0 0 1 1 2
Ensino 0 0 0 0 4 4
Ensino EaD 1 3 0 3 1 8
Ensino infantil 0 0 0 0 1 1
Ensino medicina 0 0 0 1 0 1
Ensino superior 0 0 0 0 1 1
Exercício profissional 0 0 0 0 1 1
Gestão de pessoas 0 0 0 1 0 1
Habilidades do teletrabalhador 0 0 0 0 1 1
Impacto na profissão 0 0 0 1 0 1
Inclusão social 1 0 1 2 4 8
Inovação 0 0 3 0 3 6
Mobilidade urbana 1 0 0 0 1 2
Motivação 0 0 1 0 0 1
Organizacional 9 17 6 50 47 129
Políticas públicas 0 0 0 0 1 1
Produção nacional 0 0 1 1 00 2
Questão de gênero 0 0 0 0 1 1
Revisão de literatura 6 9 10 17 18 60
Saúde 0 0 0 1 1
Saúde mental 0 0 1 1 2 4
Segurança do trabalho 0 1 1 2 1 5
Setor cultural 0 0 0 1 0 1
Situações emergenciais 0 0 0 1 0 1
Tecnologia 1 0 0 3 3 7
Trabalhadores 4 7 11 26 44 92
Tributação 0 0 1 0 0 1
Total Geral 33 70 71 173 193 540

Fonte: Elaborado pela autora (2022).

A Tabela 7 descreve a classificação por segmento dos periódicos e ano de publicação no período entre 2017 a 2021.

Tabela 7 – Classificação por segmento dos periódicos e ano de publicação

Contagem de QUALIS Ano de Publicação Total Geral
2017 2018 2019 2020 2021
Privada 24 43 46 117 133 363
Pública 9 27 25 55 60 176
Terceiro Setor 0 0 0 1 0 1
Total Geral 33 70 71 173 193 540

Fonte: Elaborado pela autora (2022).

Os periódicos que abordam o tema teletrabalho representam pouco mais que o dobro das publicações em revistas que direcionaram suas publicações à adoção dessa modalidade na esfera pública, ou seja, 67,22% frente aos 32,59% que abordam o tema público, restando 0,19% para iniciativa do terceiro setor.

Percebe-se, ainda, o aumento exponencial das publicações nesse quinquênio escolhido para estudo, com variação decrescente apenas no ano de 2019 em comparação a 2018 nos conteúdos de natureza pública. Nos demais períodos, independente da iniciativa pública ou privada, houve aumentos, sejam discretos ou substanciais.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inquietação motivadora dos autores desta pesquisa foi encontrar fontes que pudessem esclarecer sobre a alteração de ambiente de trabalho de forma abrupta do modelo presencial para o teletrabalho, especialmente, na iniciativa pública. Na pesquisa de campo, verificou-se que o foco foi determinado pela experiência no desenvolvimento das atribuições de forma remota, e que não é significativo em termos de tema adotado nas publicações em revistas consideradas específicas nos últimos cinco anos. Pode-se dizer que esta constatação foi impactante e surpreendente.

Observa-se  portanto, que o assunto tem sido pouco investigado por periódicos específicos em Administração Pública, apesar de existir um grande potencial para ser explorado, e que venham a servir como obras acadêmicas para leitura e inspiração de gestores públicos que desejem buscar subsídios para justificar decisões de implementar de forma definitiva a modalidade.

Com o propósito de uma investigação mais profunda, avançou-se em outra inquietação de entender, como sequência a esse artigo, o que tem promovido o desinteresse da literatura acadêmica em aprofundar este tema, que se tornou importante por ter suportado especialmente as atividades administrativas, sem grandes diferenças entre o desenvolvimento presencial e remoto. Assim, espera-se que este estudo desperte o interesse de pesquisa sobre o teletrabalho em outros pesquisadores ou das próprias revistas que podem propor edições temáticas, para que ocorra a ampliação das discussões iniciadas.

Uma das expectativas que pode ser atingida seria o esclarecimento, por exemplo, do motivo da pouca representatividade de interesse de autores e periódicos em estudos direcionados à iniciativa pública sobre o tema. Esta sugestão baseia-se na Tabela 7, a qual evidencia que os casos tabulados que abordam aspectos relacionados ao serviço público e oriundos de instituições privadas representam 67,22% em relação ao quantitativo total, e as pesquisas que foram efetivamente difundidas por periódicos públicos significam nesse volume 32,59%.

Conclui-se que o tema tem potencial a ser explorado, especialmente, após a busca restringir o filtro de pesquisa a páginas em português, dentro do período dos últimos cinco anos, com a palavra “teletrabalho” no título, e considerando as dimensões continentais do Brasil e a existência de centros de excelência pedagógica, como universidades públicas e privadas. Existe um quantitativo de pesquisadores mestres e doutores que produzem conhecimento, promovendo pesquisas cujos temas são importantes e inquietadores, ou que se tornam desafiadores por oportunidades que se apresentam, tal qual esse período de isolamento da pandemia da Covid- 19.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Laize Lopes Soares de. Desenvolvimento de um instrumento de medida de qualidade de vida no teletrabalho. 2020. 173 p. Dissertação (Mestrado em Gestão Pública) – Departamento de Gestão Pública, Universidade de Brasília, Brasília, 2020. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/38921/1/2020_LaizeLopesSoaresdeAndrade.pdf> Acesso em: 20 fev. 2022.

BLOOM, Benjamin S. Taxonomy of educational objectives. New York: David Mckay, 1956. 262 p.

BRASIL. Lei 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis n º 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Diário Oficial da União: Brasília, 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação – Metas do PNE (2021). Educação Superior. 2021. Disponível em: https://www.moderna.com.br/anuario-educacao- basica/2021/educacao-superior.html. Acesso em: 15 jan. 2022.

RAP. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, 1967. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap. Acesso em: 14 jan. 2022.

RIBEIRO, Flávia de Oliveira; SALLABERRY, Jonatas Dutra; SANTOS, Edicreia Andrade dos; TAVARES, Gabriela de Oliveira Domingos. Ações dos Tribunais de Contas no enfrentamento dos efeitos do Coronavírus. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 54, n. 5, p. 1402–1416, 2020.

SAE-DIGITAL. Taxonomia de Bloom – O que é? Quais são seus objetivos? 2020. Disponível em: https://sae.digital/taxonomia-de- bloom/#:~:text=A%20Taxonomia%20de%20Bloom%20prop%C3%B5e,%3A%20cognitivo% 2C%20afetivo%20e%20psicomotor. Acesso em: 09 dez. 2021.

SOBRATT. Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades. Orientação para implantação e prática do teletrabalho e home office – o trabalho do futuro chegou pra ficar. 2020. Disponível em: https://www.sobratt.org.br/site2015/wp- content/uploads/2020/12/Cartilha-Teletrabalho.pdf. Acesso em: 12 jan. 2022.

ZAVANELLA, Fabiano. Teletrabalho como ferramenta de contribuição para a questão da Mobilidade Urbana e, também, para Gestão do Tempo do Trabalhador. Empório do Direito, 2019. Disponível em: https:// https://emporiododireito.com.br/leitura/teletrabalho-como- ferramenta-de-contribuicao-para-a-questao-da-mobilidade-urbana-e-tambem-para-gestao-do- tempo-do-trabalhador/. Acesso em: 04 jan. 2022.

[1] Graduação em Administração de Empresas (FACAL) Especialização em Gestão Pública (IFPE) Especialização em Gerência Contábil, Perícia, Auditoria e Controladora (Facinter) Mestrado em Educação (UMA – Universidade da Madeira em Portugal) reconhecido no Brasil pela UFAL, Graduação em Ciências Contábeis (UFPE), Doutorado em Administração (FICS – Paraguai). ORCID: 0000-0002-9317-9972. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7604784024053219.

Enviado: 19 de janeiro, 2023.

Aprovado: 1 de setembro, 2023.

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Alba Valéria Gomes de Carvalho

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