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Tecnologia da informação e comunicação no âmbito das administrações públicas

RC: 82311
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

BICCA, Janinne Pires [1]

BICCA, Janinne Pires. Tecnologia da informação e comunicação no âmbito das administrações públicas. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 04, Vol. 05, pp. 125-139. Abril de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/informacao-e-comunicacao

RESUMO

O presente artigo apresenta como a comunicação digital, no contexto da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), tem contribuído para o fomento da participação popular nos processos comunicacionais institucionais baseados em redes sociais. A disseminação de conteúdos e o compartilhamento de ações, projetos e programas governamentais multiplicam o alcance orgânico da comunicação e produzem o necessário diálogo para a melhoria da eficiência da Administração Pública. A possibilidade de uma gestão pública baseada na democratização da comunicação ganha maior credibilidade e transparência ao passo que os gestores públicos organizem e implantem um planejamento estratégico de comunicação coerente, que adote ferramentas de comunicação que possibilitem não apenas o alcance de um público em geral, mas também públicos específicos. Este artigo se trata de uma revisão de literatura narrativa. O objetivo é analisar o potencial da comunicação digital como forma de transmissão de informações pela administração pública. Os objetivos específicos incluem compreender aspectos legais sobre comunicação e liberdade de expressão, explicitar o funcionamento da comunicação no âmbito da administração pública e identificar as principais ferramentas que podem ter seu uso potencializado na administração pública. Buscas de artigos científicos, livros e arquivos públicos foram realizadas para o levantamento de informações. Foram feitas leituras dos resumos dos artigos e dos sumários dos livros em busca da identificação dos temas de interesse. Para a busca de artigos científicos utilizou-se o Google acadêmico e Scielo, a partir dos termos “administração pública” e “comunicação digital”. Observou-se a potencialidade de que as redes sociais mudem, progressivamente, a forma como a comunicação na administração pública tem ocorrido. Alerta-se para o fato de que, apesar das suas potencialidades na transmissão de informações e no diálogo com o público-alvo, o mau uso das redes sociais pode trazer graves consequências para não apenas para a administração pública, como também para a sociedade em geral.

Palavras-chave: Administração Pública, Comunicação digital, Tecnologia de Informação e Comunicação.

1. INTRODUÇÃO

Os avanços na organização da comunicação pública têm sido avaliados a partir das formas pelas quais as mensagens são veiculadas. Tradicionalmente, a preocupação em atingir o maior número possível de pessoas definia a escolha dos meios de comunicação a serem utilizados pelo Poder Público. Essa demanda de maior alcance resultou no uso dos meios de comunicação de massa pelo Estado.

Sabe-se, no entanto, que muitos dos meios de comunicação de massa do Brasil estão concentrados nas mãos de grupos familiares. Há uma corrida entre grupos regionais de comunicação para acessar verbas publicitárias governamentais (e de anunciantes locais). Essa disputa por verbas, muitas vezes, engessa a função social da imprensa no país e compromete a ética no Jornalismo.

Nos últimos anos, no entanto, os diversos meios de comunicação baseados em aparelhos eletrônicos multimídia e com acesso às redes de telecomunicação se apresentaram como uma oportunidade de diálogo mais interativa entre os cidadãos e os governos. Ao lado de aplicativos (softwares), esses equipamentos formam plataformas comunicacionais que abrigam produtos e serviços no âmbito das “tecnologias ou inovações disruptivas”. Com a comunicação digital, o poder da comunicação está passando a ser reconhecido para além da extensão do alcance de público, mas pela oportunidade de o cidadão participar e ser ouvido.

Dessa forma, o presente artigo justifica-se pela necessidade de entender a inserção, progressivamente, da comunicação digital na administração pública. Os meios de comunicação digital permitem o uso de ferramentas gratuitas, possibilitando que um número maior de pessoas tenha acesso a informações diretas do governo. Assim, questiona-se: Como a inserção da comunicação digital na administração pública tem acontecido? Como potencializar o uso adequado dessas novas ferramentas comunicacionais e minimizar possíveis problemas?

O objetivo deste artigo, portanto, é analisar as possibilidades de transmissão de informações, pela administração pública, por meio das ferramentas de comunicação digital. Os objetivos específicos incluem: compreender aspectos legais sobre comunicação e liberdade de expressão; explicitar o funcionamento da comunicação no âmbito da administração pública; identificar as principais ferramentas (como aplicativos, sites e microblogs) que podem ter seu uso potencializado na administração pública.

O presente artigo é uma pesquisa qualitativa de revisão de literatura narrativa. Dessa forma, o objetivo não é esgotar todas as informações possíveis sobre o tema, mas fornecer uma perspectiva geral. Para a realização desse artigo foram feitas buscas em bases de dados, como o Scielo, Google Acadêmico, arquivos públicos, em sites do governo e em jornais. Os termos utilizados para a busca foram “Administração pública” e “comunicação digital”. Foram feitas leituras dos resumos dos artigos e dos sumários dos livros em busca da identificação dos temas de interesse.

2. LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A organização da comunicação também é um ato político-administrativo e orientado pela legislação. De acordo com Brandão (2007), Comunicação Pública diz respeito a um processo comunicativo que se instaura entre o Estado, o governo e a sociedade, com o objetivo de construção da cidadania. Já a comunicação governamental é usada para divulgação de políticas e programas implementados pelos governos (federal, estadual ou municipal), para informar ou prestar contas sobre serviços prestados, atividades cívicas e de interesse geral, programas educativos e outros.

A Constituição Brasileira, de 1988 (BRASIL, 1988), em seu Artigo 5o, estabelece que a mídia tem plena liberdade no País, bem como a liberdade de expressão é garantida aos cidadãos. São protegidos, assim: (IV) a livre manifestação do pensamento; (IX) a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação; (XIV) o acesso à informação e direito ao sigilo da fonte. Além disso, o Artigo 220 garante o direito a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sem censura.

O Brasil tem assinado, também, documentos internacionais de defesa dos direitos humanos e da liberdade de expressão. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU,1948), adotada em dezembro de 1948 e hoje endossada por mais de 130 países, inclusive o Brasil, o Artigo 19° estabelece o direito à liberdade de opinião e expressão para além de qualquer fronteira. A busca ativa, recebimento ou transmissão de informações também é protegida pela declaração.

Outro documento sobre a liberdade de informação de especial importância para o Brasil e os outros países latino-americanos é a Declaração de Chapultepec (SIP, 1994). Em 1996, o País adotou a Declaração, que contém 10 artigos e estabelece princípios fundamentais em relação à liberdade de informação. Diz o seu Artigo I: “Não há pessoas nem sociedades livres sem liberdade de expressão e de imprensa. O exercício dessa não é uma concessão das autoridades, é um direito inalienável do povo”.

A participação da população na Administração Pública saiu fortalecida, também como parte da busca da excelência em gestão, com a sua inscrição em várias partes da Constituição Federal de 1988. Mesmo sem terem sido recepcionados na Constituição, outros órgãos da democracia participativa passaram a coexistir na Administração Pública, a exemplo da instituição da Ouvidoria (MENEZES, 1990). Embora hoje em dia as Ouvidorias tenham internalizado parte do caráter burocrático da organização pública, de fato elas representam um avanço no processo de comunicação, porque visam completar um processo do ciclo comunicacional e estão presentes em quase todas as esferas do serviço público: da União, dos Estados e dos Municípios.

Cada vez mais, por meio dos recursos tecnológicos, a comunicação se torna um braço importante da gestão dos órgãos da Administração Pública. A comunicação pública disponibilizada em plataforma digital permite o desenvolvimento e o incentivo à participação da população nos programas governamentais por meio da opinião, fiscalização e fomento ao debate sobre a formulação e aplicação de políticas públicas. Implementar estratégias de diálogo se torna possível e as mensagens emitidas recebem o feedback dos cidadãos, criando-se ambientes de discussão representativos e mais democráticos.

Por fim, estas estratégias devem se apoiar nos princípios previstos no Artigo n° 37 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) que versa sobre a obrigatoriedade de que a Administração Pública obedecer aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

3. COMUNICAÇÃO PÚBLICA

O acesso aos meios de comunicação, no Brasil, ainda enfrenta um desafio. Isso porque o Brasil não possui uma estratégia governamental voltada exclusivamente para a democratização da comunicação social. Existem programas governamentais alocados em diversos ministérios e secretarias federais, estaduais e municipais que tangenciam a questão e contribuem direta e indiretamente para este fim.

Os governos têm buscado apoio técnico no setor de comunicação social junto a organismos da cooperação internacional, abrindo espaço para uma possibilidade de remodelação da organização administrativa. Isso ocorre a partir do interesse despertado pelo potencial das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como fonte de sensibilização, mobilização e engajamento de cidadãos e de comunidades frente a iniciativas promissoras que podem ser multiplicadas (DIAS; SANO; MEDEIROS, 2019).

Cabe destacar que o acesso à informação pelo cidadão é importante para catalisar melhorias, tanto à máquina pública, quanto para a qualidade de vida da comunidade. Com essa finalidade, a comunicação pública/estatal assume uma importância significativa no exercício da participação política e da cidadania (NOVELLI, 2017).

Informar, levar conhecimento, recursos educacionais, prestar contas, manter um relacionamento constante com a sociedade a fim de promover as ações institucionais no âmbito das políticas públicas: tudo isso faz parte de uma comunicação pública eficiente. Uma avaliação da eficácia do processo comunicativo com os públicos-alvo depende de organização e planejamento, visto que a comunicação envolve vários campos das atividades governamentais, sendo na verdade também um componente da eficiência na Administração Pública.

Algumas ações básicas devem estar alinhadas à produção de uma estratégia de comunicação pública. Algumas delas são: Motivar os públicos-alvo a fim de consolidar a política pública de construção da cidadania; Identificar as oportunidades e ameaças no processo de comunicação das ações do governo; Analisar a viabilidade da criação, execução e manutenção de serviços e atividades de comunicação integrada; Criar sistemas de gestão de conteúdo (CMS na sigla em inglês) de ações, projetos e programas; Criar canais de comunicação para o compartilhamento de conteúdo nas redes sociais; Estabelecer metas de comunicação, definindo métricas de verificação de alcance dos públicos-alvo; Definir um plano de ação que estabeleça instrumentos e ou ações de comunicação específicas (campanhas) às necessidades dos públicos-alvo.

A comunicação pública eficaz e democrática se traduz por aquela na qual o público discorre sobre temas pertinentes e essenciais para o sistema social. A troca de informação no espaço público contribui para as decisões dos agentes representantes do Estado. Para Felice (2008), o mundo estaria enfrentando a quarta revolução comunicativa, “implementada pelos meios tecnológicos digitais” que supõe “o alcance dos meios de informação a um público ilimitado e a transmissão em tempo real de uma quantidade infinita de mensagens”.

A informação é parte essencial do processo comunicativo. Ela é fonte básica para construir um processo comunicativo completo entre emissor e receptor. Porém, a informação por si só não torna uma mensagem eficiente. Para que a informação seja clara e eficiente, ela precisa atingir os objetivos propostos, reduzindo a possibilidade de ruídos comunicacionais e proporcionando um fluxo de comunicação compatível com o entendimento mútuo. A troca de informações em um contexto de tomada de decisões, de forma competente, torna-se o escopo da gestão da comunicação democrática, considerando-se esta última a melhor experiência em termos de Administração Pública.

Um novo modelo para a modernização da gestão da comunicação pública deve ser voltado para democratizar a comunicação e dar-lhe um caráter amplamente colaborativo. Em relação à sua execução, espera-se que as estratégias propostas pela Administração Pública fomentem a criação e a execução das ações já em desenvolvimento, além de dar conhecimento às possíveis novas iniciativas.

O escopo geral da comunicação pública terá então como pilar a transparência no desenvolvimento das ações, programas e projetos de governo, o que abrange de forma global a disseminação de produtos de comunicação integrada. Por suas características democráticas, a comunicação também deverá favorecer todas as temáticas governamentais de interesse público, a par de educar, capacitar, desenvolver o potencial (individual e comunitário) e promover resultados sociais (GRILO, 2012).

Consoante às ações que poderiam ser engendradas em uma política democrática de comunicação pública, merecem destaque: o reforço à cidadania em todos os processos de comunicação; o desenvolvimento de canais de comunicação; e a ampliação do conhecimento sobre a modernização da gestão da infraestrutura administrativa pela melhoria dos serviços prestados à comunidade.

Cabe ressaltar que, em boa parte, o tom geral da comunicação pública será sempre motivacional dos públicos-alvo, valorizando o pertencimento vinculado ao diálogo que converge a interesses respaldados pelo desenvolvimento da Administração Pública, cidadania e da sociedade em geral. A comunicação deve ter um tom institucional agregado aos valores de promoção do desenvolvimento local, regional e ou no País, contribuindo ainda para o debate da formulação e aplicação de políticas públicas.

Ao estimular o surgimento de instrumentos de comunicação que favoreçam a participação, o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação precisa ser institucionalizado, aperfeiçoado e estimulado, fortalecendo a disseminação de informações que visem o acolhimento, o pertencimento, a participação, o compartilhamento e a responsabilidade.

Com o objetivo de criar, corrigir e/ou expandir a imagem no âmbito das ações da Administração Pública, é preciso profissionalizar os produtos e serviços de comunicação integrada, aumentando a circulação estratégica de informação em todas as esferas (políticas, empresariais, populares). É preciso ainda antecipar-se às conjunturas políticas e econômicas, realizando o chamado public management (ABREU, 2017). Isso se torna possível somente se forem envolvidas as estruturas possíveis no processo de comunicação, desenvolvendo não só a comunicação externa, mas também melhorias na comunicação interna.

A par das necessidades de se prover serviços e atividades de comunicação integrada (Jornalismo, Relações Públicas, Marketing e Publicidade e Propaganda), um checklist inicial deve ser avaliado a fim de possivelmente ser criado um diagnóstico básico sobre a situação que se quer mudar em termos de comunicação. Estas são atividades e serviços de comunicação sugeridos como parte essencial a uma proposta de gestão democrática de comunicação. É possível que algumas dessas ações já sejam feitas, mas talvez não com a regularidade ou periodicidade necessárias, o que denotaria certo grau de falta de profissionalismo. Quando não presentes, são instrumentos mínimos de comunicação que precisam ser considerados de forma a tornar a comunicação pública confiável, tanto em termos de colaboração com a gestão administrativa, quanto de garantia de maior credibilidade junto aos públicos-alvo.

A matriz de forças, oportunidades, fraquezas e ameaças é o passo seguinte com o objetivo de fomentar a institucionalização da gestão democrática de comunicação. Seu objetivo possível é orientar a tomada de decisão em relação à definição de prioridades da estratégia de comunicação pública. A oportunidade de estabelecer uma matriz FOFA (SWOT na sigla em inglês) serve à análise do diagnóstico baseado na gestão de comunicação integrada, principalmente, em relação aos serviços e produtos descritos no checklist. Por meio da realização da Matriz FOFA é possível selecionar parâmetros a fim de se buscar definições para o planejamento de trabalho em serviços e atividades de comunicação. Desse modo, as oportunidades e pontos fortes examinados devem ser maximizados; os pontos fracos podem ser minimizados pelas oportunidades; as ameaças devem ser minimizadas pelos pontos fortes; e as ameaças e pontos fracos devem ser tratados como prioridade na busca de soluções (PEREIRA, 2016).

No ambiente interno à Administração Pública, deve-se avaliar como pontos fortes a capacidade técnica, o interesse público, o maior alcance de públicos-alvo e a vontade política de prover melhorias na gestão com a reorganização do trabalho. Já em uma análise externa, positiva, consideram-se as oportunidades: a modernização dos serviços, o desenvolvimento da cidadania, o melhor planejamento da gestão, o estabelecimento de metas, o monitoramento e a avaliação das ações, projetos e programas e a adesão da liderança em governança.

Em relação a pontos fracos, pode-se assumir como premissas em uma situação hipotética quanto à análise interna da Administração Pública, que esta poderá ser afetada porquanto realizar um planejamento de comunicação pública falho ou que não envolva toda a liderança de governança. Este comprometimento é fundamental e depende ainda da preexistência de uma cultura de inovação para promover mudanças em busca de uma gestão administrativa mais eficiente. Do ponto de vista externo à Administração Pública, pode-se considerar como ameaças à comunicação pública: a instabilidade política, a falta de recursos financeiros, os ruídos de comunicação e a competência de gestores para lidar com as tecnologias disruptivas de maneira eficiente.

Por sua vez, a definição de públicos-alvo é tão relevante para a comunicação pública devido a ser um fator preponderante à escolha da linguagem e dos meios de comunicação que poderão ser utilizados na estratégia de comunicação. Na maior parte das vezes, a comunicação pública se dirige à população compreendida no município, no Estado ou a nível federal. As demandas particulares de cada público-alvo fazem com que qualquer iniciativa de modernização da comunicação pública tenha que começar pela criação e ou diagnóstico (caso já exista um em funcionamento) do respectivo CMS. A organização da plataforma de CMS é a pedra fundamental para se construir páginas institucionais, de notícias, serviços, ensino e aprendizagem, serviços (tanto para registro operacional dos gestores, quanto para o acesso do público externo) e outras informações que notabilizem o esforço da comunicação pública e da transparência da Administração Pública.

As tecnologias de gestão de conteúdos mais utilizadas se baseiam em programação em PHP e banco de dados MySQL e são executadas em um servidor, a exemplo do WordPress e o Drupal. Também bastante utilizada e baseada em linguagem HTML5, CSS3 e Java Script tem-se a plataforma BootStrap. A característica em comum entre elas é que trabalham em um framework que pode agregar módulos, o que se revela bastante eficiente quando a perspectiva de determinado website ou portal é sempre estar se expandindo e aumentando em mais páginas e novos menus de assuntos. Essas tecnologias também se apresentam conectadas às redes sociais e condicionadas a funcionar em diferentes aparelhos, adaptando-se a visualização de conteúdos e a sua organização em computadores, tablets e smartphones, segundo o critério da “responsividade” (responsiveness em inglês).

4. COMUNICAÇÃO DIGITAL NA ADMNISTRAÇÃO PÚBLICA

Segundo Zanella e Pérsigo (2013), o avanço tecnológico fez crescer o interesse pelas TICs, bem como sua utilização. Isso porque permite que a divulgação de informações ultrapasse barreiras geográficas, alcançando o público-alvo de maneira praticamente imediata. É preciso lembrar da imensidão do país e como é importante que todos possam ter acesso à informação.

Essa migração da administração pública para os meios de comunicação digital se deu, também, como forma de seguir o público, que, progressivamente, tem se enveredado pelas mídias sociais. Contudo, não basta adentrar nesse contexto, o Estado, o governo e os municípios precisaram, também, criar estratégias que impulsionem e potencializem a democracia (ZANELLA; PÉRSIGO, 2013).

Silva (2009 apud ZANELLA; PÉRSIGO, 2009) aponta que a comunicação digital tem um papel democrático de acesso e divulgação de informações em sites governamentais. Para que esse papel se cumpra, três requisitos se fazem necessários: (1) Publicidade: Tornar visível e acessível toda informação a toda população, propiciando o debate público sobre questões de interesse público, isso garantiria transparência nos processos do Estado; (2) Responsividade: possibilidade de diálogo com o cidadão (3) Porosidade: envolve a participação efetiva da sociedade em questões de decisão política.

O poder da comunicação digital nos últimos anos se mostrou intenso, ao ponto de fazer com que candidatos políticos que não tinham grandes verbas para fazerem campanhas eleitorais pudessem se lançar para o mundo de forma digital. As eleições também foram marcadas pela animosidade e avalanche de informações (verídicas ou não) sobre candidaturas, mudando, em definitivo, a forma como a eleição ocorre em todo mundo.

De maneira geral, a Administração Pública emprega uma linguagem formal para comunicados oficiais, mas em relação à produção de conteúdo a serem distribuídos em redes sociais, por exemplo, cada plataforma apresenta determinada característica de linguagem que precisa ser observada e adequada. É importante conhecer as redes sócias e as características principais desses novos canais de comunicação. Algumas redes sociais tem sido mostrado como as mais importantes dentro de um planejamento estratégico de comunicação pública. A seguir serão apresentadas algumas delas.

Uma das maiores formas de divulgação de informação, atualmente, é o WhatsApp. Esse aplicativo multiplataforma, uma espécie de rede social por meio de troca de mensagens instantâneas. Atualmente foi comprada pelo Facebook (outra rede social que será mencionada nas próximas páginas), contando com mais de 2 bilhões de usuários (FORBES, 2020). Nesse aplicativo é possível mandar mensagens, fotos, vídeos, encaminhar mensagens, criar grupos, dentre outras funções. Apesar da enorme possibilidade de transmissão de informação, o WhatsApp ficou conhecido como uma das principais redes de disseminação de notícias falsas (Fake News) nos últimos anos (NITAHARA, 2020).

O Twitter é um tipo de microblog criado em 2006 pela empresa Obvious (VALENTE; SILVA, 2010). Atualmente conta com 335 milhões de usuários ativos, estando disponível em mais de 40 línguas (OSMAN, 2021). O usuário pode compartilhar vídeos, imagens e, principalmente, textos com até 280 caracteres. A rede social também é famosa por permitir a construção de threads, que são sequencias de mensagens (tweets) com as quais o usuário cria uma linha de raciocínio sobre diferentes tópicos, como política, música, denúncias de agressão, racismo, machismo, assédio sexual, como também denúncias, reclamações e demandas políticas.

É uma plataforma excelente para a formação de redes de interesse (netweaving) e compartilhamento de assuntos de interesse (networking). Foi uma rede social essencial nas últimas eleições políticas ao redor do mundo. Seu alcance pode ser calculado por: número de tweets; número de retweets; Impressões do tweet; visitas ao perfil; menções; seguidores do perfil; engajamentos dos usuários/visitantes do perfil (resultante da taxa de participação, cliques em links e retweets); visão geral sobre principais tipos de interesse; likes (curtidas); dados demográficos (idade, sexo e idiomas); principais temas de interesse; dados sobre uso de dispositivos móveis.

Com o crescente caso de transmissão em massa de notícias falsas, o twitter vem testando novas ferramentas de contenção das desinformações. Políticos e famosos que espalham intencionalmente notícias falsas têm tido seus perfis notificados, tweets com avisos de fake News, perfis bloqueados ou excluídos.

Uma terceira mídia social de grande impacto na transmissão de informação é o YouTube, que é um repositório e plataforma de compartilhamento de vídeos, onde se pode editar e publicar vídeos. Ele também relaciona canais parceiros de interesse, que podem ser subscritos e passam a ter maior divulgação entre os vídeos visualizados pelo administrador do perfil. O aplicativo permite transmissões ao vivo e o envio de vídeos com mais de 15 min. Seu impacto pode ser analisado em termos de: número de vídeos próprios publicados; visualizações e duração média; número de compartilhamentos; vídeos em playlists; número de pessoas que gostam (e não gostam); origem do tráfego; locais de reprodução; comentários; informações demográficas (idade, sexo); locais de reprodução; dispositivos de visualização; número de inscritos no canal.

O Facebook também é um canal de networking que permite a inserção de campanhas, anúncios, informações, matérias, etc. Apresenta ferramentas de análise de navegação que permitem monitorar a performance da página e ou de posts, com a possibilidade de buscas de público-alvo e de promoção por meio da compra de impulso. Também permite a divulgação por hashtags, facilitando a indexação na internet dos assuntos. Rede social que possui maior número de usuários no mundo. Permite a criação de perfis de empresas (fan pages), sendo possível compartilhar informações e manter diálogo online por meio de aplicativo de conversação. O impacto dessa rede social pode ser medido por meio de ações na página (cliques em “como chegar”, número do telefone, site e botão de ação – com informações por faixa etária, gênero, país, cidade, dispositivo; visualizações da página; prévias da página; curtidas na página; alcance ou número de pessoas que viram a página curtidas, comentários e compartilhamentos); envolvimento com a publicação (número de pessoas que interagiram com as publicações); número total de vezes que os vídeos da página foram visualizados (minutos de visualização); número de pessoas que seguem a página; total de conversas (interações).

Uma rede social que tem crescido muito, também, é o Instagram, que é um repositório de imagens compartilháveis, com forte apelo entre os jovens, principalmente, porque permite a disseminação de imagens e vídeos de até 60s de uma forma ampla, a partir da localização, com a possibilidade de curtir e comentar, e conversar, assim como está integrado à plataforma do Facebook. Há a ferramenta de Stories, que mantém clips de vídeo e imagens por 24h até desaparecerem. Apresenta ainda recursos de notificações sobre ações de outros usuários favoritos. Tem possibilidade de monitoramento de perfomance pelo serviço Instagram data e Sprout Social. Também permite a realização de lives, o que tem sido muito usado no contexto pandêmico atual, inclusive por políticos e figuras públicas. Seu alcance pode ser medido por: número de publicações; número de compartilhamentos; número de seguidores; número de seguidos; número de comentários; número de curtidas; número de visualizações.

Muitas são as redes sociais que tem permitido a comunicação direta dos governantes e políticos, em geral, com a população. Tornando a transmissão de informações, progressivamente, mais intensificada. Contudo, novos debates sobre esses meios de comunicação digital têm sido levantados, principalmente no que se refere a rede de Fake News e a direito à privacidade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunicação pública passou por grandes transformações ao longo dos anos e chegou ao século 21 com enorme potencial de ser cada vez mais democrática. Os processos comunicacionais baseados em um planejamento estratégico de comunicação não são apenas fruto do poder discricionário dos governantes, são também prescritos na legislação como instrumentos de democratização e de eficiência na gestão pública.

Nesse sentido, a comunicação pública oferece possibilidades de participação da esfera civil, com visibilidade a sanar os déficits do sistema político e tornar melhor o sistema político participativo e democrático. Não se trata apenas de ouvir a voz das ruas ou consultar a opinião pública, trata-se de construir mecanismos que fomentem o desenvolvimento e melhorem a prestação dos serviços públicos. Comunicação Pública é uma oportunidade de identificar e contar com a participação democrática do cidadão como fonte de informações qualificada. Os instrumentos para se obter esse cenário de desenvolvimento são as TICs. E os gestores públicos são os responsáveis para fazer isso acontecer.

A comunicação digital, nesse contexto, tem oferecido novas formas de transmitir informações a muito mais pessoas em um menor tempo. Contudo, futuras pesquisas devem investigar o potencial risco envolvido na proliferação das Fake News. Silva (2009) já alertava para a questão da responsividade na comunicação digital. A responsabilidade de manter o diálogo transparente e contínuo pode se tornar cada vez mais difícil na era das redes sociais. Atualmente vários políticos bloqueiam eleitores em suas redes sociais, o que pode inviabilizar a comunicação, visto que as redes sociais se tornaram essenciais na administração pública. O impacto dessas novas formas de comunicação pode ser crucial nas decisões políticas dos próximos anos, sendo importante avaliá-los e elaborar estratégias para superar essas dificuldades.

REFERÊNCIAS

ABREU, Júlio Cesar Andrade. Gestão de políticas públicas, participação democrática e internet: inovação nos modelos de gestão no setor público. Brasília: Enap, 2017.

BRANDÃO, Eduardo Ponte; BUENO, Wilson da Costa; MARTINS, Luis.; Matos, Heloísa; MONTEIRO, Maria da Graça; NOVELLI, Ana Lucia. Conceito de comunicação pública. In: JORGE DUARTE. (org.). Comunicação pública: estado, mercado, sociedade e interesse público. São Paulo: Atlas, 2007.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Casa Civil, 1988. Disponível em: <https://bit.ly/3atMLDp>. Acesso em 17 fev. 2021.

DIAS, Thiago Ferreira; SANO, Hironobu; MEDEIROS, Marcos Fernando Machado de. Inovação e tecnologia da comunicação e informação na administração pública. Brasília: Enap, 2019.

FELICE. M. Di. Das tecnologias da democracia para as tecnologias da colaboração. In: Felice, M. Di (org.). Do público para as redes: a comunicação digital e as novas formas de participação sociais. São Caetano do Sul, SP: Difusão. 2008.

FORBES. Whatsapp atinge 2 bilhões de usuários. Jornal Forbes, 12 de fev. de 2020. Disponível em: <https://bit.ly/37qQrUu>. Acesso em: 17 fev. 2021.

GRILO, Catarina Isabel Dourado Ferreira. Gestão da comunicação na administração pública-Caso de estudo: Os Gabinetes de Comunicação dos Institutos Politécnicos de Portugal. 2012. 147p. Mestrado em Gestão. Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Porto, 2012.

MENEZES, Ronald do Amaral. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília: Rio de Janeiro, 1990.

NITAHARA, Akemi. WhatsApp é principal rede de disseminação de fake news sobre covid-19. Agência Brasil, 16 de abr. de 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3quNSIr>. Acesso em: 17 fev. 2021.

NOVELLI, Ana Lúcia Coelho Romero, A comunicação no Porder Legislativo e as novas interfaces com o cidadão. 2017. Disponível em <https://bit.ly/3dhlp58>. Acesso em: 01 jan. 2021.

ONU (Organização das Nações Unidas). Declaração Universal dos Direitos Humanos. Paris: ONU, 1948. Disponível em: <https://uni.cf/3be602N>. Acesso em: 05 fev. 2021.

OSMAN, Maddy. Estatísticas e Fatos do Twitter Sobre a Nossa Rede Favorita (2021). Kinsta, 03 de jan. de 2021. Disponível em: <https://bit.ly/37FJ9fN>. Acesso em: 05 fev. 2021.

PEREIRA, Maurício Fernandes. Administração estratégica. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2016.

SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa). Declaração de Chapultepec. México: SIP, 1994. Disponível em: <https://bit.ly/3pyL3ES>. Acesso em: 05 fev. 2021.

VALENTE, Mariana Reis Mendes; SILVA, Maurílio Luiz Hoffmann. A utilização do Twitter na campanha política e sua aplicação no Tocantins: estudo de caso do perfil do candidato a Governador eleito Siqueira Campos. In: Congresso Panamericano de Comunicação 2010. 2010. Disponível em: <https://bit.ly/3puQ55d>. Acesso em: 05 fev. 2021.

ZANELLA, Gabriela Zampirollo; PÉRSIGO, Patrícia Milano. Comunicação Pública Digital: um estudo do site Plenarinho. V Sipecom, 2013, 1-16. Disponível em <https://bit.ly/37oDhXZ>. Acesso em: 05 fev. 2021.

[1] Pós-Graduação em Comunicação Pública – MBA em Marketing Digital. Global e de Relacionamento – Graduação em Comunicação Social com Especialização em Publicidade e Propaganda.

Enviado: Fevereiro, 2021.

Aprovado: Abril, 2021.

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Janinne Pires Bicca

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