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Feira de negócios como proposta didática para o ensino do empreendedorismo

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SILVA, Júlio Cesar da [1], SILVA, Anne Jeferson Corrêa da [2]

SILVA, Júlio Cesar da. SILVA, Anne Jeferson Corrêa da. Feira de negócios como proposta didática para o ensino do empreendedorismo. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 07, Vol. 02, pp. 28-49. Julho de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/ensino-do-empreendedorismo

RESUMO

O empreendedorismo desempenha um importante papel no contexto da economia mundial, pois é responsável por inserir inovação em produtos e processos. Sem inovação, a competitividade, o crescimento e o desenvolvimento econômico dos países ficam prejudicados, o que amplia as barreiras que dificultam a sobrevivência em um mercado cada vez mais globalizado e competitivo. Por esse motivo, delega-se, atualmente, um papel de destaque à educação empreendedora, a qual deve preparar os indivíduos para o processo empreendedor. No entanto, diversos estudos apontam para a necessidade de introduzir a inovação no ensino do empreendedorismo, uma vez que os modelos educacionais tradicionais não contemplam as exigências de um tema que, por si próprio, já demanda renovação. Este estudo descritivo, do tipo relato de experiência, teve como objetivo apresentar a utilização da metodologia learning by doing para promover a educação empreendedora entre acadêmicos dos cursos de Administração e Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos de uma instituição privada. A atividade desenvolvida, intitulada “Feira de Negócios”, possibilitou a criação de um empreendimento, desde a concepção da ideia inicial até a sua concretização, sendo dividida em oito etapas: aulas expositivas; brainstorming; criação do Business Model Canvas; elaboração do Plano de Negócios; Pitch; realização da Feira de Negócios; ação social e apresentação de relatórios. Os resultados observados durante e após a aplicação da atividade apontam para a eficácia da metodologia, pois esta despertou nos estudantes noções de competências essenciais para se tornarem empreendedores de sucesso.

Palavras-chave: Educação Empreendedora, empreendedorismo, ensino, Metodologia Learning By Doing, práticas didático-pedagógicas.

INTRODUÇÃO

O crescimento e desenvolvimento de um país estão diretamente relacionados a sua economia. Por essa razão, tem se observado, nos últimos anos, um interesse crescente dos governantes e da sociedade em geral pelo tema empreendedorismo. Esse interesse se justifica dado que o empreendedorismo possui, segundo Porter (1992 apud LEAL et al., 2018, p. 121), a capacidade de inserir inovação, seja por meio de produtos ou processos de produção, o que conduz à competitividade e ao aumento da eficiência econômica.

Em virtude dessa importância, iniciou-se no Brasil, na década de 1980 (DOLABELA, 1999), um movimento voltado para o ensino empreendedor e, mais tarde, a partir da década de 1990 (DORNELAS, 2016), iniciativas governamentais e privadas que estimularam seu crescimento no país. Essas ações foram fundamentais para que o empreendedorismo alcançasse posição e notoriedade na economia brasileira.

Apesar de o empreendedorismo ter atingido um grau de importância considerável no Brasil e no mundo, a educação empreendedora ainda não conseguiu inserir, de acordo com Machado, Lenzi e Manthey (2017), a inovação em suas etapas de ensino-aprendizagem. Essa preocupação é compartilhada por diversos autores (AMORIM, 2018; COSTA et al., 2017; SILVA; PENA, 2017; NASCIMENTO et al., 2016; SOUZA, 2012; JÚNIOR et al., 2006) que apontam a necessidade de se ofertar uma educação empreendedora desvinculada do modelo tradicional de ensino, o qual não considera a participação ativa dos estudantes na construção do conhecimento.

Diante da relevância que o empreendedorismo representa para a economia de um país e da necessidade de se adotar práticas didático-pedagógicas que introduzam a inovação no ensino empreendedor, este relato de experiência tem como objetivo apresentar a adoção da metodologia learning by doing para promover a educação empreendedora entre graduandos dos cursos de Administração e Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos de uma instituição privada localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro no segundo semestre de 2018.

1. EMPREENDEDORISMO

O tema empreendedorismo tem sido discutido e investigado em inúmeras pesquisas, uma vez que é visto como um fenômeno socioeconômico que contribui para o crescimento e o desenvolvimento de economias regionais e nacionais. Devido a essa magnitude, a formação empreendedora configura-se como pauta das estratégias governamentais nas esferas públicas federais, estaduais e municipais (ROCHA; FREITAS, 2014).

Entretanto, não se deve considerar o empreendedorismo como um tema novo ou um modismo (DOLABELA, 2008), pois sua existência remete à primeira ação humana inovadora que teve como objetivo melhorar as relações do homem com seus semelhantes e com a natureza. Essas relações geraram efeitos positivos ao longo do tempo e, hoje, diante do atual cenário político-econômico brasileiro, marcado por altos índices de desemprego, o empreendedorismo atua como um agente direto na formação de empregos e, consequentemente, na expansão da economia (LEAL et al., 2018).

Segundo Leite (2000), o empreendedorismo está relacionado com a criação de valor por pessoas e organizações que trabalham juntas, visando implementar uma ideia que envolva a aplicação de criatividade, capacidade de transformar e o desejo de assumir aquilo que comumente se chamaria de risco. Para Oliveira (2014), o empreendedorismo deve ser conceituado como um processo evolutivo e inovador das capacidades, habilidades e atitudes profissionais orientadas a aumentar os resultados dos empreendimentos e a consolidar novos projetos que sejam estrategicamente relevantes. A ação de empreender é, muitas vezes, associada à incerteza, principalmente quando se está diante de um negócio que apresenta um produto ou serviço inédito ou, ainda, quando não há mercado existente para absorvê-los (CHIAVENATO, 2012).

Quando o termo empreendedorismo refere-se à criação de um novo negócio (DORNELAS, 2016, p. 28), ele pode ser definido como “o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à transformação de ideias em oportunidades. A perfeita implementação dessas oportunidades leva à criação de negócios de sucesso”. Para o autor, apenas uma ideia não é suficiente para empreender. Faz-se necessário transformar a ideia em oportunidade e, além disso, envolver outros recursos humanos e processos para se obter os resultados desejados.

Embora as definições sobre o termo empreendedorismo variem de acordo com o autor considerado, Baggio e Baggio (2014) salientam que qualquer dessas definições apresentará, pelo menos, os seguintes aspectos referentes ao sujeito empreendedor: iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que se propõe a fazer; utilização criativa dos recursos disponíveis e a capacidade de transformar o ambiente social e econômico onde vive e, por último, a capacidade de aceitar assumir riscos calculados, bem como a possibilidade de fracassar.

O termo “empreendedor” deriva da palavra francesa entrepreneur e foi utilizado, pela primeira vez, em 1725, pelo economista Richard Cantillon, para o qual empreendedor era o indivíduo que assumia riscos (CHIAVENATO, 2012). Quase um século depois, Jean-Baptiste consolidou o termo empreendedor para designar aqueles que possuíam a capacidade de realocar recursos de um negócio que apresentava baixa produtividade e rentabilidade para outro que denotava melhores resultados. No final da década de 1940, Joseph Schumpeter correlacionou o conceito de empreendedor ao do profissional que apresentava foco em inovação tecnológica e criatividade e, em 1950, Peter Drucker incorporou a acepção de risco ao empreendedorismo (OLIVEIRA, 2014).

No Brasil, diferentemente de outros países (DORNELAS, 2016), o movimento empreendedor se iniciou de forma tardia, precisamente na década de 1990, com a criação de entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e a Sociedade Brasileira para Exportações de Software (SOFTEX). Antes disso, inexistiam informações que auxiliassem os empreendedores em suas jornadas. Ademais, a ausência de informações somava-se aos ambientes políticos e econômicos do país, desfavoráveis à criação de pequenas empresas e ao empreendedorismo.

A partir de 1990, inúmeras iniciativas governamentais e privadas ocorreram no Brasil visando o crescimento do empreendedorismo. Uma dessas iniciativas foi o Programa Brasil Empreendedor, do Governo Federal, que, de 1999 a 2002, investiu 8 bilhões de reais na capacitação de empreendedores brasileiros. Paralelamente, nos anos de 1999 e 2000, as empresas “pontocom” cresceram de forma exponencial no país, fator que colaborou para o surgimento de inúmeras empresas startups criadas por jovens empreendedores. Outros destaques são os programas de capacitação criados pelo SEBRAE, como o Empretec e Jovem Empreendedor, além do aumento significativo de incubadoras de empresas no Brasil (DORNELAS, 2016).

Verifica-se, atualmente, uma evolução da legislação que beneficia micro e pequenas empresas brasileiras, bem como o crescimento de eventos relacionados ao empreendedorismo no país, a criação de cursos para discutir e ensinar o tema e a presença cada vez maior de docentes universitários com títulos de mestre e doutores em temas relacionados ao empreendedorismo (DORNELAS, 2016).

Reconhecer uma oportunidade onde muitos veem apenas caos, contradição e confusão é, segundo Kuratko (2016), uma das principais características que diferencia o empreendedor das outras pessoas. Diversos autores (AVENI, 2014; CHIAVENATO, 2012; DORNELAS, 2008; HASSIMOTO, 2006; KURATKO, 2016) citam as características mais comuns responsáveis pelo sucesso dos empreendedores, que seriam: determinação, criatividade, liderança, inovação, originalidade, autoconfiança, envolvimento de longo prazo, capacidade para assumir riscos calculados, busca constante pelo feedback, dentre outras. Em alguns casos, a presença ou não desses traços pode determinar o sucesso ou o fracasso de um empreendedor.

Além das características citadas anteriormente, é importante que o empreendedor possua habilidades técnicas (redação, capacidade de ouvir, expressão oral, treinamento etc.) e habilidades administrativas (relações humanas, finanças, contabilidade, marketing, negociação etc.), conforme pontuam Hisrich e Peter (2004). Todavia, não basta apenas possuir habilidades técnicas e administrativas para ser empreendedor. Segundo Baggio e Baggio (2014), também é necessário o domínio de habilidades empreendedoras, definidas por Hisrich e Peter (2004) como aquelas relacionadas à gestão de mudanças, liderança, inovação, controle pessoal, capacidade de correr riscos e visão de futuro.

De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), projeto que estuda a dinâmica do empreendedorismo no mundo e envolve cerca de sessenta países, inclusive o Brasil, em 2018 a taxa total de empreendedorismo no país foi de 38%. Isso significa que aproximadamente 52 milhões de brasileiros empreenderam e/ou realizaram, naquele ano, alguma ação voltada para a criação de um empreendimento em um futuro próximo (GEM BRASIL, 2018).

Ainda de acordo com o relatório anual elaborado pelo GEM, o quantitativo de empreendedores pode ser agrupado, segundo a motivação, em duas categorias: empreendedores por oportunidade e por necessidade. Os primeiros iniciam um negócio motivados principalmente pelo fato de terem percebido uma oportunidade no ambiente. Já os segundos, pela ausência de alternativas para a geração de ocupação e renda (GEM BRASIL, 2018). Para o GEM, embora os empreendedores possam ser motivados ou por uma ou pela outra razão, estas nunca ocorrem simultaneamente.

Em 2018, a taxa de empreendedores por oportunidade e necessidade atingiu, respectivamente, 61,08% e 37,05%. É importante salientar que a soma dos valores não totaliza 100% devido a recusas e/ou respostas ausentes. Além disso, essa classificação de empreendedores por categoria aplica-se exclusivamente aos empreendedores iniciais, grupo formado por empreendedores nascentes (indivíduos envolvidos no planejamento, estruturação e proprietários de um novo negócio sem, todavia, terem oferecido qualquer tipo de remuneração aos seus proprietários por mais de três meses) e empreendedores novos (indivíduos que administram e também são proprietários de negócio que já lhes tenha gerado rendimento por um período superior a três meses e inferior a 42 meses). Na pesquisa realizada em 2018, o índice de empreendedores iniciais no Brasil foi de 17,09% (GEM BRASIL, 2018).

Para Bernardo, Vieira e Araújo (2013), o “lado positivo” da atividade empreendedora nos países é refletido pelas taxas de empreendedorismo por oportunidade, enquanto as taxas por necessidade indicam quantos indivíduos estão buscando alternativas de subsistência, sendo, por isso, mais perceptíveis em países que ainda vivenciam estágio de desenvolvimento econômico e, principalmente, social.

2. EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

Cresce, atualmente, o estudo do empreendedorismo nas instituições de ensino, visto que a educação empreendedora possui a capacidade de formar indivíduos inovadores e geradores de mudanças em um contexto socioeconômico em constante evolução (KRÜGER et al., 2019). Contudo, essa inserção do tema na academia é recente, pois, segundo Dornelas (2016, p. 30), “até alguns anos atrás, acreditava-se que o empreendedorismo era inato, que o empreendedor nascia com um diferencial e era predestinado ao sucesso nos negócios”. Ainda de acordo com o autor, pessoas destituídas dessas características eram desencorajadas a empreender, já que não alcançariam o sucesso.

No entanto, hoje se acredita que o processo empreendedor pode ser ensinado e entendido por qualquer indivíduo e que o sucesso resulta de um conjunto de fatores internos e externos ao negócio, do perfil do empreendedor e da forma como ele administra os obstáculos que surgem ao longo do empreendimento (DORNELAS, 2016).

No Brasil, a primeira disciplina voltada para o empreendedorismo, intitulada “Novos Negócios”, surgiu em 1981 na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo (DOLABELA, 1999). Quando comparado aos Estados Unidos e à Europa (VIEIRA et al., 2013), o ensino do empreendedorismo no país é considerado recente, e sua origem está, segundo Lavieri (2010), associada aos cursos de Administração. Ao longo do tempo, como disciplina, o empreendedorismo expandiu-se e adquiriu forma por meio de estudos e trabalhos dispersos realizados por pesquisadores de diferentes áreas, os quais buscavam atender as necessidades demandadas pelo mercado (VIEIRA et al., 2013).

Mas, afinal, o que é educação empreendedora? Para Ferreira, Ramos e Gimenez (2006), é um processo que permite ao indivíduo transmitir e/ou adquirir conhecimento sobre o ambiente e sobre si próprio, visando colaborar com o desencadeamento de habilidades, atitudes e comportamentos que contribuirão para pesquisar e explorar oportunidades, as quais terão como finalidade transformar, por meio do desenvolvimento econômico, social e cultural, o meio em que se vive. Segundo os autores, esse conceito de educação empreendedora pode ser representado sob a forma de um sistema (Figura 1), o qual é formado por entradas, processo e saídas.

Figura 1: Educação para o empreendedorismo como processo

Fonte: Ferreira; Ramos; Gimenez, 2006.

O repertório comportamental e cognitivo dos discentes, nele incluídas suas experiências anteriores, habilidades e expectativas, constituem as entradas. O conjunto de atividades didático-pedagógicas e vivências voltadas ao desenvolvimento de empreendedores representa o processo. Já os indivíduos dotados de habilidades, atitudes e comportamentos que permitem a prospecção e a exploração de oportunidades revestidas de valor econômico existentes na sociedade ilustram as saídas. Por fim, resultados de avaliações que englobem resultados tangíveis (número de empreendimentos criados, alterações do perfil empreendedor do aluno etc.) e intangíveis (promoção da autorrealização, satisfação profissional etc.) compõem o feedback (FERREIRA; RAMOS; GIMENEZ, 2006)

Para que a educação empreendedora seja eficaz, o processo deve focar:

[…] a identificação e o entendimento das habilidades do empreendedor; a identificação e análise de oportunidades; as circunstâncias nas quais ocorrem a inovação e o processo empreendedor; a importância do empreendedorismo para o desenvolvimento econômico; a preparação e utilização de um plano de negócios; a identificação de fontes e obtenção de financiamento para o novo negócio; e o gerenciamento e crescimento da empresa (DORNELAS, 2016, p. 30).

De acordo com Costa et al. (2017), a Comissão Europeia, a partir de 2002, passou a associar o ensino do empreendedorismo a duas dimensões: uma centrada na aquisição de atitudes e qualidades empreendedoras, envolvendo um conceito mais amplo e outra focada na criação de novos negócios, baseada em um conceito mais restrito. Segundo esses autores, conciliar essas duas dimensões é uma das preocupações observadas no ensino superior quando o assunto é educação empreendedora.

Essa preocupação também é citada por Júnior et al. (2006), os quais afirmam que as universidades possuem um papel fundamental no ensino empreendedor, cabendo-lhes, portanto, a tarefa de associar teoria e prática. Quando se utiliza o processo de ensino-aprendizagem de forma acertada, é possível aperfeiçoar o comportamento empreendedor dos indivíduos (ZAMPIER; TAKAHASHI, 2014), levando-os a obterem maiores chances de sucesso.

Entretanto, um dos maiores desafios observado na educação empreendedora é a necessidade de inserir a inovação, essência do empreendedorismo, nas etapas do ensino-aprendizagem (MACHADO; LENZI; MANTHEY, 2017), tornando-as dinâmicas e práticas, com o objetivo de formar e fomentar novos empreendedores (ARAÚJO; DAVEL, 2019). Essa dificuldade é acentuada pelas características das universidades (NASCIMENTO et al., 2016), as quais ainda reproduzem ritos e tradições seculares que dificultam desenvolver o potencial empreendedor e inovador dentro destas instituições.

Superar essa visão tradicionalista das universidades é fundamental para que a educação empreendedora seja ofertada em sua essência, de forma a transferir para os alunos certa concepção de mundo, de homem e de sociedade, a qual possui o poder de formar, conformar ou deformar a consciência daqueles que estão vivenciando o processo de aprendizagem (SOUZA, 2012). Cabe às instituições de ensino (PEREIRA; ARAÚJO; WOLF, 2011), criarem um novo perfil profissional que apresente o desejo de explorar as inúmeras oportunidades empreendedoras existentes no país.

Segundo Campus (2017), o conhecimento adquirido dentro das instituições de ensino potencializam as oportunidades de empreendedorismo ao ofertar teorias, descoberta de informações e construção de redes de contatos. No entanto, para que o ensino desse conhecimento seja eficaz, é necessário que sejam aplicadas práticas e metodologias que induzam à experiência prática, sem se limitar apenas à transmissão formal de conhecimentos (AMORIM, 2018).

Nesse sentido, recomenda-se a associação de aulas teóricas e atividades práticas que extrapolem a sala de aula, estimulando a inovação, a criatividade, reflexões e ações, responsáveis por desenvolver nos estudantes habilidades críticas, sociais e de liderança. A aplicação de atividades como desenvolvimento de plano de negócios, projetos de pesquisa e extensão voltados para o empreendedorismo, incubadoras de empresas, jogos empresariais e simulações, visita a empresas e a criação de empresas juniores adequam-se a essa recomendação, uma vez que são métodos de aprendizagem ativa baseados em ação, com elevado potencial de despertar nos educandos o espírito empreendedor (SILVA; PENA, 2017).

3. METODOLOGIA LEARNING BY DOING

Nos últimos anos, os diversos setores da sociedade têm sofrido fortes mudanças, as quais exigem reestruturação e adaptação. Grande parte dessas transformações ocorre em virtude do avanço exponencial das novas tecnologias, caracterizadas por um alto grau de mutação. O que é novidade hoje, amanhã já se encontra obsoleto, o que demanda um constante processo de questionamento, experimentação e descobertas.

Diante desse cenário, o sistema educacional, em todos os níveis, precisa estar preparado e também preparar os estudantes para as contínuas mudanças, sendo que:

O processo de ensino/aprendizagem deve ser pensado não mais como um mero processo de transmissão de conhecimentos, mas valorizar a invenção, a descoberta e a construção do conhecimento, possibilitando ao aluno interagir com o processo de maneira mais motivadora, crítica e criativa. E que este processo proporcione um movimento não só de parcerias e trocas de experiências, mas desenvolva a capacidade de pensar e aprender a aprender e desenvolver o pensamento crítico reflexivo (PETRILHO; MELLO; PONTES, 2019, p. 2).

No ensino superior, essa necessidade se torna ainda maior, uma vez que esse segmento educacional é responsável por preparar os indivíduos para o mercado de trabalho, o qual exige, cada vez mais, profissionais alinhados às constantes mudanças e com elevada capacidade de reflexão, análise crítica e criatividade.

A metodologia learning by doing, ou método “aprender fazendo”, apresenta-se como uma ferramenta adequada para suprir a carência de profissionais reflexivos, críticos e criativos requisitados pelo mercado de trabalho. De acordo com Beck (2017), essa metodologia foi idealizada por John Dewey, educador e filósofo americano, segundo o qual a educação deveria ser um processo de reconstrução e reorganização das experiências adquiridas, as quais possuem a capacidade de influenciar as experiências futuras.

Para Gebin (2014), o learning by doing é um processo que permite, a partir de experiências, gerar aprendizado e, com isso, construir valores, conhecimentos e habilidades. Segundo a autora, a metodologia possibilita o aumento da sinergia dos grupos de trabalho; promove uma melhoria rápida do desempenho da liderança; permite o desenvolvimento da criatividade, da capacidade de planejar e da comunicação; encoraja a tomada de decisões; amplia a capacidade de avaliar riscos, além de melhorar a autoestima e a percepção dos outros.

Para que haja o desenvolvimento de competências, sejam técnicas ou comportamentais, é necessário possuir conhecimento (teoria) e desenvolver a habilidade (prática). É possível, por meio do learning by doing, empregar a prática como uma forma eficaz de ensino e aprendizagem, utilizando atividades experienciais que possibilitem a descoberta, a pesquisa, a autoavaliação, a criatividade, o despertar do senso crítico e colaborativo, a ousadia, a tentativa e as possíveis lições com os erros cometidos. A aplicação do método permite que os alunos errem e aprendam com esses erros, de modo a descobrirem sobre como não fazer, motivando-os frente aos desafios e propondo novas soluções para os problemas encontrados (BECK, 2017).

4. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, elaborado no contexto da disciplina “Laboratório de Empreendedorismo e Inovação”, ofertada aos acadêmicos do primeiro e segundo períodos do curso de Administração e do segundo e terceiro períodos do curso de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos de uma instituição privada localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro, no período de agosto a dezembro de 2018. Devido à transição curricular em curso na referida instituição no segundo semestre de 2018, a disciplina foi ofertada simultaneamente para alunos de períodos diferentes de um mesmo curso.

A atividade “Feira de Negócios”, desenvolvida e descrita neste relato, constitui uma adaptação de uma dinâmica prática voltada para a vivência de uma experiência empreendedora sugerida por Dornelas (2018) em seu livro “Introdução ao Empreendedorismo: desenvolvendo habilidades para fazer acontecer”. A escolha se justifica por se tratar de uma atividade que insere o aluno ativamente no processo empreendedor, desde o surgimento da ideia de um negócio até a sua concretização, além de incutir nos envolvidos um comportamento empreendedor baseado na busca de oportunidade e iniciativa, persistência, exposição a riscos calculados, exigência de qualidade, comprometimento, procura de informações, estabelecimento de metas, planejamento, persuasão e otimismo. Essas características são imprescindíveis para que a educação empreendedora seja eficaz e alcance seus objetivos.

A realização da atividade se deu em oito etapas, assim distribuídas: aulas expositivas; brainstorming; criação do “Quadro de Modelo de Negócios” (Business Model Canvas); elaboração do Plano de Negócios; preparo e apresentação do Pitch; realização da Feira de Negócios; atividade social e apresentação de relatórios.

Todas as etapas, exceto a realização da feira, ocorreram em sala de aula no período destinado à disciplina, ministrada as terças e quintas-feiras, respectivamente para os discentes do curso de Gestão de Pessoas e Administração, no horário compreendido entre 19 e 22 horas. Devido à necessidade de espaço, a etapa referente à realização da feira aconteceu externamente à sala de aula, em ambiente próprio da instituição.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A realização da Feira de Negócios ocorreu em oito etapas, as quais serão discutidas e apresentadas a seguir.

  • Etapa 1 – Aulas Expositivas

No primeiro dia de aula da disciplina “Laboratório de Inovação e Empreendedorismo”, a professora apresentou aos discentes dos cursos de Administração e Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos o plano de ensino, expondo a metodologia que seria utilizada e o sistema de avaliação adotado. Além disso, descreveu a atividade que seria realizada no decorrer da disciplina e exibiu resumidamente cada uma de suas etapas.

A atividade intitulada “Feira de Negócios” consistiria no desenvolvimento e apresentação de um negócio ao final do semestre. Foi informado aos estudantes que a feira aconteceria nas dependências da instituição e que seria aberta à comunidade acadêmica e à sociedade em geral, representando 50% da nota final da disciplina, sendo os outros 50% destinados à avaliação teórica.

A realização de aulas expositivas sobre empreendedorismo se configurou como a primeira etapa da atividade. Essa escolha se deu em virtude de muitos estudantes ainda não terem conhecimento sobre o assunto. Embora Silva e Pena (2017) afirmem que apenas a utilização de aulas teóricas não garante a transmissão de conhecimentos e habilidades necessários ao ensino empreendedor, fez-se necessário iniciar a abordagem utilizando essa metodologia de ensino de forma a inserir os alunos no tema.

Durante as primeiras semanas do semestre letivo, com a utilização de recursos audiovisuais, a professora apresentou aos estudantes de ambos os cursos o conceito de empreendedorismo, bem como suas características, tipos e importância para a economia do país. No decorrer das aulas expositivas, os acadêmicos também receberam artigos e vídeos para leitura, reflexão e discussões em grupos, inserindo-os cada vez mais no universo empreendedor.

Conforme transcorriam as aulas, percebia-se um interesse crescente dos alunos pelo tema, o que era identificado nos espaços abertos a discussões, nos quais os discentes envolviam-se cada vez mais, debatendo ativamente a temática empreendedora.

  • Etapa 2 – Brainstorming

Ao término de três semanas de aulas expositivas, foi solicitado aos alunos que formassem grupos de no mínimo cinco e no máximo oito integrantes, sendo a escolha feita pelos próprios acadêmicos. O curso de Administração possuía 58 alunos (21 do primeiro período e 37 do segundo) e o curso de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos, 71 (56 do segundo período e 15 do terceiro). Após as divisões, foram formados 21 grupos, o que totalizou 21 negócios a serem criados e desenvolvidos ao longo do semestre. Os integrantes de cada grupo deveriam investir dez reais (R$ 10) e o total obtido seria utilizado para desenvolver o negócio. Além disso, permitia-se a captação de investidores externos, que poderiam contribuir com dinheiro ou materiais necessários ao empreendimento.

O próximo passo foi a identificação da oportunidade de negócio pelos alunos, considerando o espaço e o público-alvo da feira. Para isso, utilizou-se a técnica conhecida como brainstorming ou tempestade de ideias, criada por Alex Osborn, cujo objetivo é liberar a imaginação. Durante o brainstorming, definiram-se as seguintes regras: os participantes deveriam sentir-se à vontade para contribuir com sugestões; qualquer ideia deveria ser aceita e registrada para posterior avaliação, não sendo permitidos críticas ou julgamentos pessoais e todo o grupo deveria contribuir para manter o clima pacífico durante a discussão.

Ao alcançar o esgotamento das ideias, cada grupo analisou as opções apresentadas e selecionou a mais pertinente, após a aprovação de todos os integrantes. A ideia selecionada representou o empreendimento a ser desenvolvido na Feira de Negócios. É interessante salientar que quase todos os grupos escolheram negócios relacionados ao ramo alimentício. Essa escolha pode ser considerada reflexo do ambiente e do público-alvo da feira, pois esta aconteceria no período noturno em uma instituição particular frequentada, em sua grande maioria, por estudantes que trabalham durante o dia e, por isso, precisam alimentar-se no estabelecimento de ensino.

  • Etapa 3 – Criação do “Quadro de Modelo de Negócios”

Decidido o negócio a ser criado, a próxima etapa consistiu na criação do Quadro de Modelo de Negócios. De acordo com Osterwalder e Pigneur (2011, p. 14), um Modelo de Negócios “descreve a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma organização”. Para esses autores, o Modelo de Negócios deve ser dividido em nove partes, assim distribuídas: segmentos de clientes; proposta de valor; canais; relacionamento com clientes; fontes de receitas; recursos principais; atividades-chave; parcerias principais e estrutura de custo. Essa distribuição permite cobrir as quatro áreas principais de um negócio: cliente, oferta, infraestrutura e viabilidade financeira.

A partir dos nove componentes de um Modelo de Negócios, cria-se o Canvas de Modelo de Negócios, um instrumento prático e útil que possibilita o entendimento, a discussão, a criatividade e a análise de um negócio. O Canvas lembra uma tela de pintura pré-formatada com nove blocos que possibilita a criação de imagens de Modelos de Negócios novos ou já existentes. Para melhor funcionamento, deve-se imprimi-lo em uma grande superfície para que os diferentes grupos de pessoas possam escrever e discutir juntos os seus componentes, realizando anotações em adesivos do tipo Post-It ou com o auxílio de marcadores (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011).

Foi entregue a cada grupo um Canvas de Modelo de Negócios impresso, o qual deveria ter seus nove blocos preenchidos com as informações referentes ao negócio escolhido. As anotações eram realizadas em Post-Its coloridos e depois afixadas no Canvas. Neste momento, todos os membros deveriam participar, identificar e discutir os principais pontos do empreendimento. Ao término de dois encontros, cada grupo foi estimulado a apresentar seu Canvas aos demais e abrir espaço para a troca de informações, sugestões e até mesmo alterações propostas por integrantes de outros projetos. A realização desse momento foi ao encontro de uma das principais características do Canvas: apresentar uma compreensão visual do negócio e permitir que diferentes pessoas forneçam recomendações que maximizem as chances de sucesso.

  • Etapa 4 – Elaboração do Plano de Negócios

Nesta etapa, todos os grupos envolveram-se na elaboração de um plano de negócios que, segundo Dornelas (2016, p. 94), “é um documento usado para descrever um empreendimento e o modelo de negócio que sustenta a empresa”. Esse documento, de acordo com o autor, deve ser dividido em seções padronizadas para facilitar o entendimento e, quando for elaborado para uma pequena empresa, pode ter de dez a quinze páginas, com a apresentação das seguintes partes: capa; sumário; sumário executivo; análise estratégica; descrição da empresa; produtos e serviços; plano operacional; plano de recursos humanos; análise de mercado; estratégia de marketing; plano financeiro e anexos.

O Plano de Negócios permite testar a viabilidade de um conceito de negócio, atrair os recursos financeiros necessários, promover o desenvolvimento da equipe de gestão e transmitir credibilidade ao empreendimento. Depois de elaborado, o documento pode ser apresentado a investidores, bancos, mantenedores de incubadoras, parceiros de negócios, fornecedores, clientes e sócios, sendo sua principal utilização o fornecimento de uma ferramenta de gestão para o planejamento e desenvolvimento de uma empresa em estágio inicial (DORNELAS, 2016).

Durante algumas semanas, sob supervisão da professora, os grupos elaboraram, utilizando computadores portáteis, seus planos de negócios, seguindo a estrutura e as recomendações presentes na literatura. A construção de um Plano de Negócios visa evitar falhas ou falta de planejamento adequado do negócio, principais causas de mortalidade das empresas, tanto no Brasil como em outros países, conforme aponta Dornelas (2016).

  • Etapa 5 – Preparo e Apresentação do Pitch

Nesta fase, cada grupo desenvolveu e apresentou um pitch, modalidade de apresentação curta, geralmente de três a cinco minutos, utilizando poucos slides, que contêm informações essenciais e diferenciadas sobre o negócio, cujo objetivo é despertar o interesse de potenciais investidores ou clientes. Para ser eficaz, o pitch deve identificar a oportunidade que o negócio irá atender, o mercado de atuação, a solução ofertada, os diferenciais do empreendimento e, por último, o valor do investimento que se necessita e como ele será aplicado (SPINA, 2019).

A elaboração do pitch se deu em sala de aula, com o auxílio de computadores portáteis. Foi acordada entre os alunos uma data para apresentação, com o tempo máximo de cinco minutos para cada grupo. Além disso, solicitou-se que, durante a realização do pitch, fosse apresentado um protótipo do produto ou serviço. Por fim, os estudantes foram informados que as apresentações seriam assistidas por um investidor-anjo externo à instituição, o qual investiria cinquenta reais (R$ 50) no empreendimento mais inovador e promissor exibido. Esse valor deveria ser usado para alavancar o negócio, não sendo necessário o ressarcimento.

Na data estipulada, todos os grupos apresentaram seus pitches, demonstrando seus produtos e serviços, as oportunidades que esses ofereciam, seus diferencias, o público-alvo e as justificativas para receber a ajuda do investidor-anjo. Ao término das apresentações, o investidor se reuniu com o professor e juntos, baseados nos critérios de inovação, planejamento e viabilidade, escolheram o empreendimento vencedor, o qual recebeu o valor definido.

A presença de um investidor-anjo externo foi fundamental para despertar motivação, responsabilidade e competição, variáveis que foram observadas durante as apresentações por meio de falas, gestos e olhares dos integrantes de cada grupo.

  • Etapa 6 – Realização da Feira de Negócios

Este momento consistiu na execução do negócio em si e foi realizado na segunda semana de novembro de 2018, no horário compreendido entre 19 e 22 horas. Em um ambiente externo à sala de aula, com sonorização musical, cedido pela instituição, todos os grupos receberam um espaço pré-definido com barraca, mesas e cadeiras, denominado stand. A organização se iniciou com duas horas de antecedência, para evitar atrasos ou imprevistos. Alguns materiais como micro-ondas, forno elétrico, liquidificador, chapa elétrica e similares ficaram sob a responsabilidade dos próprios estudantes, cabendo-lhes a necessidade de um planejamento holístico.

No horário estipulado para o início, todos os grupos estavam preparados para ofertar o produto ou serviço aos clientes externos (comunidade em geral) e internos (comunidade acadêmica). Para atrair o público-alvo, os grupos investiram, semanas antes, em divulgação por meio das redes sociais, panfletos, cartazes e visitas às salas de aula, após autorização dos professores. Devido a essa divulgação, alguns grupos receberam, antecipadamente, pedidos de reserva de produtos e serviços, o que já evidenciava o possível sucesso do empreendimento.

Durante a realização da feira, cada stand recebeu a visita de dois acadêmicos de períodos avançados dos cursos de Administração e Gestão de Recursos Humanos, os quais atuaram como auditores, verificando se a execução do negócio estava em conformidade com o que foi descrito no Plano de Negócios, assim como a qualidade dos produtos e serviços, do atendimento e da organização. A presença desses alunos auditores se deu em virtude de uma parceria com o professor da disciplina de “Consultoria e Auditoria” dos respectivos cursos.

No decorrer da Feira de Negócios, muitos grupos esgotaram os produtos ofertados, pois a procura superou as expectativas de venda e de público. Ainda assim, a circulação de pessoas continuou, beneficiando aqueles que não obtiveram sucesso imediato. Ao final do horário estabelecido, todos os grupos haviam alcançado êxito, cabendo-lhes, por fim, auxiliar na organização do ambiente.

  • Etapa 7 – Atividade Social

A intermediação entre o indivíduo e a sociedade é uma tarefa da educação superior, a qual deve preparar os diferentes sujeitos em termos de conhecimento, habilidades e capacidade de aprendizagem permanente, de forma a atender às demandas do mercado de trabalho. No entanto, esta mesma educação superior deve considerar as dimensões ético-políticas do ser humano, uma vez que a construção de uma sociedade mais justa e democrática não depende apenas de cidadãos profissionalmente competentes, mas também de cidadãos dotados de sentido ético e de responsabilidade social (GOERGEN, 2008).

Visando atender a essa necessidade, a penúltima etapa da Feira de Negócios consistiu na conversão dos lucros obtidos pelos estudantes em ações sociais. Após as vendas, cada grupo elaborou um balanço financeiro, o qual continha todas as despesas e receitas do negócio. O lucro total arrecadado com a realização da feira foi de R$ 1.763,00, sendo R$ 741,00 captados pelo curso de Administração e R$ 1.022,00 pelo de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos.

Foi ofertada aos alunos a opção de reaverem o valor investido por cada membro do grupo, entretanto, todos decidiram por doar o valor total arrecadado à ação social. Tomada essa decisão, coube aos grupos, após discussão dos integrantes, escolher a instituição social a ser beneficiada, a qual poderia estar localizada na cidade sede da instituição de ensino ou em municípios vizinhos. A única regra estabelecida foi a de que a doação não seria em dinheiro, e sim em produtos necessitados pelas instituições.

Escolhidas as instituições, cada grupo elegeu um líder que ficou responsável por contatar a organização social selecionada, explicar a ação e obter as necessidades que poderiam ser supridas pela atividade. Feita essa abordagem, os alunos se organizaram para comprar os produtos solicitados pelas instituições, tais como fraldas geriátricas, produtos de limpeza e higiene pessoal, cestas básicas, produtos escolares, dentre outros, com toda a logística de compras estabelecida pelos próprios estudantes.

Em data combinada entre os acadêmicos e os dirigentes das instituições, foram realizadas as entregas, em um cenário de solidariedade, acolhimento, responsabilidade social e emoção. Estavam, entre as instituições beneficiadas, duas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), uma casa que acolhe moradores de rua, um asilo e uma pastoral que atende famílias de baixa renda.

  • Etapa 8 – Apresentação de Relatórios

A última etapa da Feira de Negócios foi a elaboração e entrega de um relatório produzido individualmente pelos integrantes de todos os grupos. Cada aluno deveria descrever as atividades que foram realizadas para concretizar o negócio e, além disso, responder à seguinte indagação: “Para você, qual foi o aprendizado adquirido com a realização da Feira de Negócios?”. A inclusão dessa pergunta visou identificar a eficácia da atividade no ensino do empreendedorismo, ou seja, se ela foi capaz de incutir nos estudantes de ambos os cursos a percepção de competências necessárias a um empreendedor.

Após entrega, leitura e análise dos relatórios, foi possível identificar as seguintes respostas dadas pelos acadêmicos em relação ao aprendizado adquirido com a atividade: importância do trabalho em equipe; necessidade de organização, planejamento e identificação do público-alvo; necessidade de relacionamento saudável com os sócios; técnicas de vendas; superação de obstáculos; planejamento financeiro; técnicas de atendimento ao cliente; importância da realização de pesquisa junto ao público-alvo; crescimento acadêmico e profissional; necessidade de comunicação com o cliente; aprendizado por meio dos erros e falhas; possibilidade de ser um futuro empreendedor; desenvolvimento de habilidades importantes para o mercado, tais como trabalho em equipe, liderança e planejamento; importância do incentivo à criatividade; valor da responsabilidade social; capacidade de modificar positivamente a sociedade; necessidade de delegar tarefas; possibilidade de assumir riscos de forma calculada; técnicas de marketing e importância da colaboração, dedicação e busca de oportunidades.

É importante salientar que muitas dessas respostas estavam presentes em mais de um relatório, o que demonstra que a atividade estimulou em diferentes estudantes a mesma percepção em relação ao processo empreendedor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Feira de Negócios, experiência apresentada e descrita neste relato, fundamentada na metodologia do learning by doing, proporcionou aos acadêmicos dos cursos de Administração e Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos a oportunidade de vivenciarem na prática a construção de um negócio, desde a concepção da ideia inicial até a sua concretização.

Além disso, a atividade possibilitou despertar nos estudantes uma atitude socialmente responsável, aproximando-os das reais necessidades da comunidade e, com isso, levando-os a perceber a importância de sua participação como sujeitos ativos para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Por último, a Feira de Negócios, dividida em oito etapas, suscitou nos discentes a percepção de competências necessárias ao comportamento empreendedor, tais como liderança, comunicação, criatividade, resiliência, resolução de problemas, planejamento, dentre outras citadas pelos alunos em seus relatórios finais.

Diante dos resultados observados ao longo da atividade, podemos afirmar que a Feira de Negócios foi um instrumento eficaz utilizado para a educação empreendedora, pois ofertou uma experiência inovadora que permitiu aos alunos “aprenderem fazendo”, condição necessária, segundo Machado, Lenzi e Manthey (2017), para despertar a criatividade e o interesse dos educandos.

Entretanto, para que essa condição seja alcançada, faz-se necessário romper, conforme afirma Freire (2010), com o modelo tradicional de ensino adotado pela maioria das instituições, o qual considera apenas os professores detentores do conhecimento e os alunos meros receptores desse saber. É preciso transformar os estudantes em protagonistas, dando-lhes a oportunidade de construírem conjuntamente, baseados em suas experiências, erros e acertos, o conhecimento de que necessitam.

Sendo assim, atividades como a Feira de Negócios, baseadas em metodologias ativas, devem ser incentivadas e realizadas nos diversos cursos que ofertam disciplinas voltadas para o empreendedorismo, haja vista que proporcionam aos alunos a oportunidade de construírem ativamente o conhecimento, além de difundir pensamentos e competências empreendedoras fundamentais para conceber negócios de sucesso, como observado neste relato.

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[1] Acadêmico do curso de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos do Centro de Ensino Superior de Valença – CESVA/FAA.

[2] Graduada em Administração e pós-graduada em Gestão de Recursos Humanos pelo Centro Universitário Geraldo Di Biasi (UGB). Docente auxiliar do Centro de Ensino Superior de Valença (CESVA/FAA), com atuação nos cursos de graduação em Administração e Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos. Tutora presencial no curso de Administração ofertado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Enviado: Maio, 2019.

Aprovado: Junho, 2019.

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Júlio Cesar da Silva

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