ARTIGO DE REVISÃO
MELO NETO, João Cristovão de [1], SILVA, José Edson da [2], MOURA, Talita Jussara Conceição de [3]
MELO NETO, João Cristovão de. SILVA, José Edson da. MOURA, Talita Jussara Conceição de. Fortalecendo vínculos: a integração entre mãe coruja pernambucana e atenção básica sob a perspectiva reflexiva do enfermeiro. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 09, Ed. 03, Vol. 01, pp. 138-146. Março de 2024. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/sociologia/fortalecendo-vinculos, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/sociologia/fortalecendo-vinculos
RESUMO
Objetivo: Analisar a experiência da articulação entre os Programas Mãe Coruja Pernambucana e Atenção Básica, com foco na participação do enfermeiro, por meio de reflexões teóricas e revisão bibliográfica. Método: Abordagem descritiva com base na revisão bibliográfica de fontes como o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde, artigos científicos e livros. Resultado: A participação da enfermeira no Programa Mãe Coruja Pernambucana, em colaboração com a Atenção Básica, é crucial para alcançar os objetivos propostos pelos programas. O enfermeiro, com sua formação e olhar clínico, pode identificar precocemente alterações na saúde da mulher e do recém-nascido, muitas vezes imperceptíveis a outros profissionais. Conclusão: A relação entre Atenção Básica e Programas Mãe Coruja é essencial para promoção e abordagem integral materna. Os profissionais de enfermagem executam seu papel nas articulações, assegurando que os cuidados a gestante sejam prestados conforme preconizado.
Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, Enfermagem, Saúde Materno-Infantil.
1. INTRODUÇÃO
A coruja, reconhecida como um ícone emblemático da Filosofia devido à sua intuição e sabedoria, simboliza a capacidade de realizar movimentos em 360 graus, permitindo uma visão abrangente de todos os ângulos, bem como a habilidade de unir elementos diversos para compreender o todo. Na esfera cultural, a expressão “mãe coruja” é atribuída às mães que zelam com afeto e se enchem de orgulho em relação aos seus filhos (Carvalho; Barcellos, 2014).
Com a finalidade de assegurar um acompanhamento integral durante a gestação e um pós-parto de excelência, surgiu em 2007 o Programa Mãe Coruja Pernambucana, por meio da promulgação do Decreto n° 30.859. Este programa expandiu suas atividades abrangendo 95 municípios no estado. Uma das iniciativas é a criação dos Cantos Mãe Coruja nos municípios com índices de mortalidade superiores a 25 a cada 1000 nascidos vivos. Além de focar na assistência à gestante e à puérpera, o programa também tem como objetivo garantir o direito das crianças a um nascimento e desenvolvimento saudável, visando, assim, a redução da morbimortalidade tanto materna quanto infantil (Abreu, 2020).
O Programa estabelece uma colaboração essencial com as Secretarias Municipais de Saúde, que são responsáveis por uma série de ações. Entre elas, destaca-se a implementação da Política de Direitos Sexuais e Reprodutivos, o fortalecimento das iniciativas para garantir um pré-natal de qualidade, a facilitação do acesso a partos humanizados e a qualificação do acompanhamento da saúde da mãe durante o puerpério, bem como da criança, conforme estabelecido por esta legislação. Além disso, as Secretarias Municipais de Saúde devem aprimorar a atenção integral e humanizada tanto para a gestante quanto para a criança nos diferentes ganhos da gravidez, no parto, no nascimento, no puerpério e em situações de aborto (Brasil, 2011a)
A promoção de ações para redução dos índices de desnutrição materna e infantil, mobilizando atores sociais em defesa dos direitos das crianças e mulheres, faz também parte dos objetivos. Além disso, o programa almeja estimular e fortalecer os laços afetivos entre mãe, filho e família. O propósito subjacente a esse esforço é a contribuição direta para a diminuição das taxas de mortalidade materna e infantil no estado de Pernambuco (Ferraz; Bordignon, 2012).
Isso será alcançado por meio da introdução e implementação de políticas públicas que promovem uma abordagem abrangente no cuidado à gestante e à criança durante a primeira infância. Nessa perspectiva, almeja-se o fortalecimento dos laços afetivos, familiares e comunitários, tendo como foco central o desenvolvimento humano. O empoderamento da mulher também é uma meta crucial que norteia essas iniciativas (Brasil, 2012).
Em síntese, o programa Mãe Coruja Pernambucana tem como objetivo melhorar o desenvolvimento da primeira infância, oferecendo apoio a gestantes e crianças, promovendo o desenvolvimento infantil, garantindo a segurança alimentar e fortalecendo os laços familiares. O projeto Cultura de Cantar e Brincar, enriquece as experiências das crianças por meio de atividades como jogos, teatro, filmes e contos de histórias. O Programa Leite Universal distribui leite gratuito para famílias necessitadas a fim de reduzir as mortes infantis (Anacleto, 2021).
A iniciativa de todos esses projetos conta com o apoio de diversas organizações e o profissional de enfermagem desempenha um papel crucial no cadastramento e acompanhamento das gestantes e no monitoramento do desenvolvimento materno-infantil. No estado de Pernambuco, vê-se há clara necessidade de investigações adicionais para compreender plenamente a importância do enfermeiro no Programa Mãe Coruja e seu papel no monitoramento do desenvolvimento materno-infantil, considerando os limitados estudos sobre o tema (Drezett, 2013).
Espera-se que os resultados dessa pesquisa possam contribuir para o desenvolvimento de estratégias que fortaleçam a integração entre a mãe coruja pernambucana e a atenção básica, melhorando a qualidade do cuidado e promovendo uma assistência mais humanizada. Além disso, espera-se também que esses resultados possam sensibilizar os profissionais de saúde sobre a importância do cuidado reflexivo e individualizado, garantindo a promoção da saúde e o bem-estar da mãe e do bebê.
2.OBJETIVO
Diante de toda reflexão feita sobre o assunto proposto, a pesquisa aqui supracitada, se desenvolverá por meio de apenas um único objetivo principal, sendo ele: investigar de que forma a integração entre a mãe coruja pernambucana e a atenção básica pode ser fortalecida, considerando a perspectiva reflexiva do enfermeiro. Para atingir tal objetivo, serão analisados fatores como a comunicação efetiva, estabelecimento de vínculos de confiança, inclusão da família no cuidado, suporte emocional e educação em saúde.
3. MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, por meio de reflexão teórica, este estudo descritivo utiliza uma abordagem documental para investigar o tema proposto. A coleta de dados foi realizada por meio de buscas em sites oficiais de órgãos de saúde, como o Ministério da Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde, além da plataforma SciELO (Scientific Electronic Library Online), todas as informações pertinentes ao ano de 2023, para adquirir artigos científicos relevantes.
Além disso, livros foram utilizados como referências complementares. Essa abordagem busca uma compreensão ampla do assunto, considerando diversas fontes de informação. A seleção criteriosa dessas fontes fortalece a análise e possibilita uma exploração mais profunda do tema, fundamentando as discussões e reflexões conduzidas no estudo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Afim de atingir o objetivo proposto, a seguir será visto os resultados obtidos, para que assim, haja um resultado mais complexo e que por si só responda à todas as propostas deste estudo:
4.1 QUAL A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO PARA O PROGRAMA?
O enfermeiro desempenha um papel fundamental no programa de integração entre o programa Mãe Coruja Pernambucana e a atenção básica. O mesmo possui habilidades técnicas e conhecimento especializado para fornecer cuidados de saúde adequados às gestantes e aos recém-nascidos. Eles podem realizar exames pré-natais, monitorar o desenvolvimento do feto, fornecer orientação sobre hábitos de vida saudáveis e identificar e tratar possíveis complicações durante a gravidez (Brasil, 2018).
Além disso, o papel do enfermeiro também envolve a educação em saúde. Eles podem orientar as mulheres sobre os benefícios do programa Mãe Coruja Pernambucana, explicando os serviços oferecidos, os direitos da gestante e do bebê, bem como a importância do acompanhamento pré-natal e da busca por cuidados primários de saúde. Diversos estudos têm direcionado sua atenção aos benefícios desse suporte nutricional, identificando sua contribuição para os desfechos positivos no contexto geral da gestação. Além do conhecimento científico que se faz necessário para conduzir o pré-natal, o enfermeiro é capacitado a interpretar e compreender a percepção singular que cada gestante possui a respeito de sua vivência da maternidade (Stelmak; Mazza; Freire, 2019).
As alterações decorrentes da gravidez tornam-se evidentes logo após o nascimento do bebê. A literatura aponta que o pré-natal engloba um conjunto de medidas destinadas a mitigar o risco e a gravidade de complicações, contribuindo para a melhoria da saúde tanto materna quanto neonatal. Esse acompanhamento demonstra um efeito protetor significativo, fortalecendo a relação entre mãe e filho. Outro estudo enfatiza a dimensão educativa presente nas consultas de enfermagem durante o pré-natal, ressaltando a consulta como um espaço propício para a promoção da saúde. À medida que os sinais da gravidez gradualmente desaparecem, o corpo inicia o processo de retorno ao estado pré-gravídico (Programas e Ações Mãe Coruja, 2008).
A chegada do recém-nascido nos braços da mãe, por sua vez, compensa as dores e desafios do parto. A sensibilidade necessária para essa transição também deve estar presente nos profissionais do Canto Mãe Coruja, que passarão a acompanhar não apenas uma mulher, mas sim uma mãe que muitas vezes se depara com a complexidade do seu novo papel na vida da recém-nascida, que depende inteiramente dela (Brasil, 2011b).
No contexto do acompanhamento da criança, a puericultura – uma prática realizada pelos enfermeiros das Estratégias de Saúde da Família – assume um papel de suma relevância. Analogamente ao Programa Mãe Coruja, a puericultura se estende até os cinco anos de idade da criança. Em uma análise aprofundada sobre essa abordagem, pesquisadores enfatizam sua importância e a necessidade de conscientização, especialmente entre as populações socioeconomicamente desfavorecidas (Programas e Ações Mãe Coruja, 2007).
Destaca-se a importância de sensibilizar essas comunidades em relação à prevenção de doenças e promoção da saúde infantil por meio desse acompanhamento contínuo. A prática da puericultura é fundamental, e embora enfermeiros já estejam familiarizados com o registro de informações essenciais, como peso, altura e vacinas na caderneta da criança, assim como outras informações rotineiramente monitoradas nas Estratégias de Saúde, no contexto do Canto Mãe Coruja, a verificação destes dados assume caráter obrigatório para os profissionais (Abreu, 2020).
Portanto, a presença do enfermeiro no programa de integração entre o programa Mãe Coruja Pernambucana e a atenção básica é de extrema importância. Eles possuem o conhecimento técnico necessário para fornecer cuidados adequados, a habilidade de educar as mães e famílias sobre os benefícios do programa e a capacidade de facilitar a colaboração entre as instituições de saúde. A presença do enfermeiro nessa integração contribui para a promoção de uma assistência de saúde abrangente e de qualidade para as gestantes e seus filhos (Ferraz; Bordignon, 2012).
4.2 FORMAÇÃO PROFISSIONAL ENQUANTO ESTRATÉGIA TRANSFORMADORA DA ASSISTÊNCIA
O termo ‘Educação Permanente em Saúde’ data da década de 80, associado ao Programa de Desenvolvimento de Recursos Humanos da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), quando o entendimento era de haver falhas na formação em saúde. A formação profissional pode ser uma estratégia transformadora da assistência no programa Mãe Coruja Pernambucana, pois prepara os profissionais envolvidos para melhor atender às necessidades das gestantes, mães e seus filhos, proporcionando uma assistência de qualidade (Anacleto, 2021).
A formação profissional permite que os profissionais adquiram conhecimentos e habilidades específicas relacionadas ao cuidado materno-infantil, como por exemplo, a capacidade de identificar possíveis complicações na gravidez, realizar exames pré-natais, orientar sobre cuidados com o recém-nascido, entre outras áreas. No entanto, é importante destacar que a formação profissional por si só não é suficiente para transformar a assistência no programa Mãe Coruja Pernambucana (Programas e Ações Mãe Coruja, 2008).
É necessário investir em recursos materiais e infraestrutura adequada, além de promover uma gestão eficaz, que valorize e incentive a qualificação dos profissionais. Dessarte, a formação profissional é uma estratégia transformadora da assistência no programa Mãe Coruja Pernambucana, pois prepara e atualiza os profissionais envolvidos, contribui para a sensibilização em temas importantes e promove a integração entre os profissionais, resultando em uma assistência de qualidade, humanizada e integral às gestantes e seus filhos (Stelmak; Mazza; Freire, 2019).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fortalecimento de vínculos entre a mãe coruja pernambucana e a atenção básica é de extrema importância para garantir uma assistência de qualidade à mãe e ao seu bebê. A integração entre essas duas instâncias é essencial para evitar lacunas no cuidado e promover uma abordagem mais completa e humanizada.
O enfermeiro como agente de saúde possui um papel fundamental nesse processo, já que é capaz de oferecer um atendimento individualizado e ajustado às necessidades de cada mãe. O enfermeiro é capacitado para acompanhar as mulheres ao longo de todo seu ciclo gravídico-puerperal, assim como para cuidar das crianças na faixa etária de 0 a 5 anos. Fica evidente assim, que os objetivos propostos pelo Programa Mãe Coruja se enquadram no perfil das ações do enfermeiro.
REFERÊNCIAS
ABREU, M. Construção do apego entre o binômio mãe e bebê pré-termo mediado pelo posicionamento canguru. Revista de Enfermagem do Centro Oeste Mineiro, São Paulo-SP, 2020.
ANACLETO, L. A. O manejo da alta hospitalar do recém-nascido prematuro: saberes dos enfermeiros. Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online), São Paulo-SP, 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Humaniza SUS. Caderno de Textos. Cartilhas da Política Nacional de Humanização, Brasília-DF, 2011a.
BRASIL. Portaria nº 1.459, de 24 de Junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS – a Rede Cegonha, Brasília-DF, 2011b.
BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Ministério da Saúde, Brasília-DF, 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Evolução da mortalidade na infância nos últimos 10 anos (2007 a 2016). Ministério da Saúde, Brasília-DF, 2018.
CARVALHO, P. G. M.; BARCELLOS, F. C. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM: Uma avaliação crítica. Sustentabilidade em Debate, São Paulo-SP, v. 5, n. 3, 2014.
DREZETT, J. Mortalidade materna no Brasil. Insucesso no cumprimento do quinto Objetivo de Desenvolvimento do Milnio. Reprodução e Climatério, São Paulo-SP, v. 28, n. 3, 2013.
FERRAZ, L.; BORDIGNON, M. Mortalidade materna no brasil: uma realidade que precisa melhorar. Revista Baiana de Saúde Pública, São Paulo-SP, v. 36, n. 2, p. 527–538, 2012.
PROGRAMA MÃE CORUJA PERNAMBUCANA [Internet]. Recife (PE): Secretaria estadual de saúde 2007. Disponível em: <http://maecorujape.blogspot.com.br/direitos-da-crianca-e-do-adoleste.html>. Acesso em: 10 jan. 2024.
PROGRAMAS E AÇÕES MÃE CORUJA. Recife-PE: Secretaria de saúde do Estado de Pernambuco, 2008. Disponível em: <portal.saude.pe.gov.br/programas-/programa-mãe-coruja>. Acesso em: 10 jan. 2024.
STELMAK, A. P.; MAZZA, V. A.; FREIRE, M. H. S. O valor atribuído pelos profissionais de enfermagem aos cuidados preconizados pelo método canguru. Rev. Enferm. UFPE online, São Paulo-SP, 2019.
[1] Enfermeiro pela UNIFAVIP WYDEN, Mestre em Educação pelo PROFEI. Mestrando em Gestão de Cuidados da Saúde pela MUST University – MUST University Florida. Especialização em Saúde Mental Álcool e outras Drogas pela Faculdade Novo Horizonte – FNH. Pós-graduado em Estomoterapia pela FACUMINAS. Cursando Metodologia Ativa pela UNIVAFS. Cursando Formação Pedagógica de Professores para Educação Profissional pelo IFFar. Cursando Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar pela – UFMS. Cursando Especialização em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de Outras Doenças Virais – VIGIEPIDEMIA – Fiocruz Mato Grosso do Sul. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6314-7355. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6347935233698093.
[2] Enfermeiro pela UNIVERSO, Mestre em Educação pela FICS, Pós Graduando em Urgência e Emergência com Ênfase em UTI pela Faculdade Metropolitana. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-4125-6355.
[3] Enfermeira pela UNIVISA. Especialista em Saúde Pública pela UNIFACOL. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-0767-3165. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3398711444552880.
Material recebido: 22 de agosto de 2023.
Material aprovado pelos pares: 09 de outubro de 2023.
Material editado aprovado pelos autores: 08 de março de 2024.
