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O que é ética protestante e o espírito do capitalismo entre os neopentecostais

RC: 82210
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/sociologia/etica-protestante

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

COSTA, Otávio Barduzzi Rodrigues da [1], RAMOS, Rosangela Patriota [2]

COSTA, Otávio Barduzzi Rodrigues da.  RAMOS, Rosangela Patriota. O que é ética protestante e o espírito do capitalismo entre os neopentecostais. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 04, Vol. 05, pp. 99-124. Abril. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/sociologia/etica-protestante, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/sociologia/etica-protestante

RESUMO

O objetivo desse artigo é analisar a definição de espirito do capitalismo weberiana bem como ética protestante e tecer considerações com a noção contemporânea de neopentecostalismo. A metodologia foi a análise bibliográfica. Espera-se contribuir com algumas reflexões deixadas pela grande obra de Weber para analisar questões da religião e da sociologia contemporânea. Tem-se como conclusões e resultados finais que o neopentecostalismo transforma a ética protestante, sobretudo no aspecto de ascetismo para um hedonismo de consumo.

Palavras-chave: religião, neopentecostalismo, ética protestante, capitalismo, Weber.

INTRODUÇÃO

Max Weber (2005) define a ética protestante, dentre outros elementos, pelo ascetismo e pela crença na predestinação. O ascetismo está ligado principalmente às religiões salvacionistas ocidentais, já que se trata da prática gradual de se dividir ou de se relacionar com o mundo e seus pecados, sendo o pecado uma noção totalmente ocidental (DELUMEAU, 1978). O ascetismo pressupõe certa separação do mundo, weber exemplifica o asceta como o Yogue Hindu que se afasta da convivência de todos para alcançar a iluminação.

No oriente, mesmo quando há a noção de eremita, não há a noção de pecado e o eremita sempre vem se relacionar com o mundo (ALMERI e MELO, 2009), mesmo que seja como um exemplo ou resposta. No ascetismo existe uma conduta metódica e racional das relações sociais e suas condutas morais.  Pode existir a ascese extramundana típica do monge católico, mas mesmo assim é uma conduta de vida dentro de uma sé e que mostra algo ou exemplo a alguém. Segundo Schopenhauer:  ascetismo era: “vontade pela recusa do agradável e a procura do desagradável, mediante o modo de vida penitente voluntariamente escolhido, tendo em vista a mortificação contínua da Vontade” (TOMO I, §68, 2009).

Assim, o ascetismo é um domínio moral do indivíduo sobre suas vontades, de modo a renegar certos confortos que o ideário não cristão oferece, e do ponto de vista cristão é uma escolha em agradar a Deus por esse domínio da vontade. A reforma era antes de tudo uma racionalização do ascetismo. E também uma crença de que o trabalho deveria ser algo divino, e, se divino, deveria ser bem feito, racionalizado. Não há culpa no mundo, no ascetismo há um controle dado por uma noção de pecado, uma série de proibições prescritas por uma interpretação das escrituras (DELUMEU, 1978). O ascetismo é o ponto inicial para o que Weber chama de ética protestante e o espírito do capitalismo.

DESENVOLVIMENTO- ÉTICA PROTESTANTE

Max Weber (2005) define a ética protestante, dentre outros elementos, pelo ascetismo e pela crença na predestinação. O ascetismo está ligado principalmente às religiões salvacionistas ocidentais, já que se trata da prática gradual de se dividir ou de se relacionar com o mundo e seus pecados, sendo o pecado uma noção totalmente ocidental (DELUMEAU, 1978). No ascetismo existe uma conduta metódica e racional das relações sociais e suas condutas morais.  Pode existir a ascese extramundana típica do monge católico, mas mesmo assim é uma conduta de vida dentro de uma sé e que mostra algo ou exemplo a alguém. Segundo Schopenhauer:

Sob o termo, por mim já amiúde empregado, de ascese, entendo no seu sentido estrito essa quebra proposital da vontade pela recusa do agradável e a procura do desagradável, mediante o modo de vida penitente voluntariamente escolhido, tendo em vista a mortificação contínua da Vontade (TOMO I, §68, 2009).

Assim, o ascetismo é um domínio moral do indivíduo sobre suas vontades, de modo a renegar certos confortos que o ideário não cristão oferece, e do ponto de vista cristão é uma escolha em agradar a Deus por esse domínio da vontade. A reforma era antes de tudo uma racionalização do ascetismo. E também uma crença de que o trabalho deveria ser algo divino, e, se divino, deveria ser bem feito, racionalizado. Não há culpa no mundo, no ascetismo há um controle dado por uma noção de pecado, uma série de proibições prescritas por uma interpretação das escrituras.

A análise weberiana utiliza parte do vocabulário protestante, com os termos Calling e beruf, palavras que em português significam algo como “chamado divino”, “vocação”; palavras que tinham, anteriormente ao protestantismo, uma conotação de sentido sagrado. Provavelmente destacadas por Lutero, as palavras tomaram outro significado na religiosidade protestante.

Retoma-se aqui ao o que está escrito na Bíblia, em Efésios 4.

Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens (BÍBLIA, Efésios 4:1-8)

Como se pode observar por esse excerto, pela característica da crença protestante sola scriptura, espalhada pela ideia de que todo protestante pudesse ler a Bíblia em sua língua e interpretá-la conforme a “inspiração” direta do Espírito de Deus, sem mediação do padre católico, dá azo a uma série de interpretações que combinam com a ética protestante: primeiro, é um chamado à união dos protestantes em todos os sentidos, do espiritual ao material, eles devem negociar entre si, cobrar preços justos nos negócios entre si. Isso facilita o enriquecimento[3]. Há também a possibilidade do ser chamado por Deus, inclusive para salvação, algo que os calvinistas (dentre outros) tomaram como expressão radical. E também a possibilidade de vocação, inclusive para o trabalho, ou seja, os protestantes interpretam que há uma ordem divina para seguir sua especialização no trabalho, algo considerado fundamental por Weber no desenvolvimento do espírito capitalista.

No pensamento protestante, os dons ou a vocação perde a noção puramente espiritual e passa a ter também uma conotação material ligada à força de trabalho e suas habilidades para o trabalho. Outra forma de se colocar esta discussão passa pelo seguinte versículo:

Quando ainda estávamos com vocês, nós ordenamos isto: Se alguém não quiser trabalhar, também não coma. Pois ouvimos que alguns de vocês estão ociosos; não trabalham, mas andam se intrometendo na vida alheia. A tais pessoas ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo que trabalhem tranquilamente e comam o seu próprio pão. (BÍBLIA, 2 Tessalonicenses 3:10-12)

O próprio Calvino, em suas Institutas (1985), se refere a esse versículo como a lição de que todos devem trabalhar com afinco e não se perder com aquilo que não seja adoração a Deus e trabalho, pois é essa a vida do homem. Este trabalho é enviado por Deus, que o estima. A execução da obrigação está dentro dos calling, do chamado do homem para o caminho reto, essa ideologia calvinista desenvolveu a ideia de honra ao trabalho que trouxe a concessão de uma intencionalidade religiosa ao trabalho diário.

Foi essa ideia de trabalho com honestidade que gerou um ethos e que a abordagem ideológica que indicava que o trabalho tornava os homens dignos de viver sob as bênçãos dadas por Deus. Enquanto no catolicismo o trabalho era uma maldição dada a todos os homens por Deus, no protestantismo, era uma benção e uma oportunidade. O homem deve trabalhar para adquirir a bênção divina e para chegar mais perto da salvação. A idéia de que “o homem que trabalha não tem tempo de pecar” era a máxima corrente, pois o desperdício de tempo era pecado (COHN, 2003), não demorou para a lógica capitalista afirmar que tempo é dinheiro (BOLTANSKI E CHIAPELLO, 1999).

Esta ideia foi criada por Lutero na primeira década de seu movimento reformador. O conceito foi ampliado e acentuado no ideário recompensa para o trabalho diário e especializado. Começou quando o fiel construía igrejas, agora não mais feitas por reis ou pela Santa Sé, mas por populares, portadores do mesmo ponto de vista e objetivos, e logo surgiram outras igrejas reformadas. Lutero também compartilhava a ideia de que Deus determinava a classe social do indivíduo, isso incluía seus dons e trabalhos. Apregoava-se que o indivíduo deveria ficar feliz com sua profissão, capacidades e dons, e não querer algo além nessa vida. Se sobreviesse a riqueza, seria porque teve afinco em seu trabalho, mas com uma novidade: a riqueza, ao contrário do catolicismo, não seria mais um pecado. A vocação de cada um seria dom de Deus e cada um deveria se acostumar a ela.

A Reforma, oficialmente iniciada por Lutero, veio a mudar com Calvino. Enquanto as ideias de Lutero eram mais espirituais, o trabalho era compreendido como trabalho dentro da fé e da comunidade eclesiástica, Calvino trouxe as ideias de Lutero para o mundo secular, e este ganhou bênçãos divinas. Para Calvino, a salvação do espírito devia ser expressa pelas obras, já que Deus escolhia os indivíduos que lhe tiveram fé e assim, por meio da predestinação, alcançavam a salvação após a morte.

Ao compreender de forma racional aquilo que seria divino, Weber (2005) analisa o que chama de ascetismo intramundano. Diferente do extramundano, praticado por monges católicos e alguns monges orientais, o ascetismo intramundano, praticado primeiramente pelos Calvinistas, Metodistas, Pietistas e Batistas[4], contribuirá para o capitalismo, já que a atividade do trabalho era sagrada. Também o ascetismo permitia o acumulo de riquezas já que era proibido o gasto com luxos e banalidades, e assim permitia-se a acumulação do capital feito pelo trabalho inspirado e com obstinação.  Sobre as diferenças do ascetismo protestante e dos costumes do catolicismo, Weber analisa:

Em uma análise superficial, e com base em certas impressões comuns, poderíamos ser tentados a admitir que a menor mundanidade do Catolicismo e o caráter ascético de seus mais altos ideais tenha induzido seus seguidores a uma maior indiferença para com as boas coisas deste mundo. E tal explicação reflete a tendência de julgamento popular de ambas as religiões. Do lado protestante, ela é usada como base das críticas de tais ascéticos (reais ou imaginários) do modo de viver católico, enquanto os católicos respondem com a acusação de que o materialismo resulta da secularização de todos os ideais pelo Protestantismo. Um escritor contemporâneo tentou definir a diferença de atitudes diante da vida econômica da seguinte maneira: ‘O católico é mais quieto, tem menor impulso aquisitivo; prefere uma vida mais segura possível, mesmo tendo menores rendimentos, a uma vida mais excitante e cheia de riscos, mesmo que esta possa lhe proporcionar a oportunidade de ganhar honrarias e riquezas’. Diz o provérbio, jocosamente: ‘Coma ou durma bem’. Neste caso, o protestante prefere comer bem, e o católico, dormir sossegado. (WEBER, 2005, p. 42-43).

É válido lembrar que Weber reconhece que a atividade comercial e empresarial sempre existiu em numerosas situações sociais do passado, em sociedade como a hindu ou chinesa, no entanto, a livre iniciativa criteriosa e racional é tipicamente ocidental e moderna. E mais, o espírito capitalista tem uma relação religiosa e moral. Era esse o intento weberiano, mostrar que a atividade capitalista se dá por mais que relações materiais. Há no espírito do capitalismo uma fundamentação religiosa que só foi possível com o protestantismo, já que o catolicismo considerava o lucro um pecado. O que Weber procura mostrar é que uma ação social como a ação capitalista, e o capitalismo racionalizado, que envolve mais do que comprar e vender, tem, além de fundamentos materiais, fundamentos morais, religiosos, emocionais e até mesmo psicológicos (embora esse não fosse objeto de suas análises) e não dependia só de inovações tecnológicas, sobras de produção ou acúmulo de capital, ou seja, havia razões extra materiais para seu surgimento.

ASCETISMO

A Reforma significou, antes de tudo, a secularização e racionalização da ascese, na medida em que cada cristão tinha de se afastar das tentações do cotidiano mundano. Pela sistematização do seu comportamento e devido à desvalorização da ostentação, o protestante acumulava bens que tinham de ser reconvertidos na esfera econômica, era o lucro pelo lucro. É essa reconversão num circuito interno e fechado que explica o surgimento do espírito do capitalismo. Weber mostrou o abismo que podia existir entre a vontade original dos homens e as consequências dos seus atos. Encontramos aqui o “paradoxo das consequências”. Os protestantes dos séculos XVII e XVIII criaram, por suas crenças, sinceridade e fidelidade pessoal, pela sua interpretação e vivência dos dogmas calvinistas, o que os homens dos séculos vindouros tiveram de aceitar por necessidade. Weber analisa a origem da visão teológica da felicidade e do sofrimento, e não seria difícil de imaginar que fora influenciado por Schopenhauer[5].

Há uma forte relação entre ascetismo intramundano e a crença na predestinação. O protestante era convicto de que seu agir, ou seja, o trabalhar diligente, era vontade e dom Deus para sua vida. Ser predestinado permitia a justificação do acúmulo, do sucesso financeiro e eliminava o conflito entre sorte e merecimento. A ideia de predestinação foi fundamental para o processo de desencantamento do mundo, uma vez que eliminava a magia, as simpatias – estas associadas à religiosidade católica, visto que estava envolta em mistérios não explicados aos fiéis e em uma linguagem latina que o povo não os entendia sacramentos, os atos humanos de caridade como salvação.

O protestante não mais questionava sobre o sentido do mundo, mas agia eficazmente para demonstrar sua fé. A família protestante também não tinha o costume de estender-se através do apadrinhamento, o que permitia certo egoísmo e proteção da empresa familiar, nascedouro da prática empresarial moderna[6]. Há também um sistema de desconfiança, salvo os próprios parentes. Sobre a predestinação, analisa Weber:

[…] podemos identificar claramente os traços da influência da doutrina da predestinação nas formas elementares de conduta e atitude para com a vida na época que estamos focalizando, mesmo onde sua autoridade como dogma estava em declínio. Aqui estamos apenas interessados naquela que foi de fato a mais exacerbada forma de exclusiva confiança em Deus. Ela surge, por exemplo, na repetição por demais frequente, principalmente na literatura puritana inglesa, das advertências contra qualquer confiança na ajuda trazida pela amizade dos homens. Mesmo o amável Baxter aconselha uma profunda desconfiança até dos amigos mais íntimos e Bailey exorta abertamente a não se confiar em ninguém e a não dizer nada de comprometedor para quem quer que seja. (WEBER, 2005, p. 88).

Aceitando o ascetismo, o protestante tornou-se um ser para o trabalho, e o trabalho era sua sina, seu sinal de fé, sua honra, sua vida. Como Weber menciona, o trabalho era sua vocação, o sucesso era a recompensa divina e não trabalhar era pecado. Assim o ascetismo gera uma ética da profissão, do trabalhador, o contrário é visto como errado e isso logo se transfere para a sociedade (DE MASI, 2001). O protestante unia salvação ao trabalho, que logo passou a ser uma ética tão benéfica quanto. Para isso, tanto racionalizava: seu trabalho era racionalizado, com tempo e produção regulados, cronometrados, metódicos. Ao mesmo tempo em que não era perdulário, não aceitava o luxo, economizava. Então o que fazer com o dinheiro excedente? Aplicava-se na empresa, investia-se, gerando mais lucro.

Weber vem definir o espírito capitalista como modos de ser e fazer que implicam em a racionalidade aplicada ao lucro, esses modos de ser e fazer tinham fundo moral e espiritual. Há também a convicção de que as coisas divinas são diferentes das coisas do mundo. Segue-se o mandamento “daí a Cesar o que é de Cesar, daí a Deus o que é de Deus[7]” que Calvino (1985) especulava em suas institutas como uma ordem de separação absoluta. Firmava a certeza de que o reino de Deus não é desse mundo[8]. Nota-se que o protestante tem a tendência a seguir a Bíblia de modo literal, mas quando lhe convém. Assim era o ascetismo intramundano. Neste sentido, um estudioso de Weber complementa:

(…) o ascetismo intramundano praticado pelos protestantes – com seu elevado grau de racionalização – engendrou, segundo Weber, o espírito do capitalismo, produzindo empresários e trabalhadores ideais para a consolidação de uma nova ordem social, que integrou, como nenhuma outra, um número excepcional de pessoas sintonizadas entre si, para canalizar esforços produtivos (na economia) conforme a orientação preestabelecida. (SANT’ANNA, 2004, p.22).

Há uma diferença entre os variados tipos de ascetismo e o ascetismo protestante. A base para tal afirmação é encontrada na análise feita por Max Weber sobre o ascetismo e a oposição entre ascese sobrenatural (ausserweltlíche Askese), que consiste em retirar-se do mundo, e o ascetismo intramundano (innerweltliche Askese), que consiste em praticar certa abstenção neste mundo, embora vivendo e trabalhando nele. A ascese sobrenatural corresponde em ambos os casos numa antiética hedonista fortemente pró-acumulo: a ética do capitalismo moderno. Max Weber distinguiu várias formas de ascetismo intramundano, correspondendo a várias formas de protestantismo, como: cético, calvinista, seitas metodistas e pietista, batistas e puritanos (por exemplo, Quakers).

As ideias básicas Weber e suas inúmeras divisões e formas de ascetismo manifestam-se no que ele chama de cultura autoritária da igreja cristã medieval, dividindo este conceito em duas formas: a ascese mística e monástica, que separa o asceta do mundo em tudo o que é finito para o eterno sobrenatural, e o ascetismo metódico-disciplinar, que dirige o trabalho e a vida mundana visando o final da vida sobrenatural, como a salvação. Quando a última forma suprime o monastério, ou seja, a separação efetiva do mundo, torna-se o que Weber chamou o ascetismo extramundano. A expressão extramundano não é muito eficiente para descrever as práticas do cotidiano nas igrejas protestantes históricas, já que não havia intenção de separar-se totalmente do mundo secular, mas sim eliminar valores éticos entre mundo espiritual e secular. O ascetismo intramundano seria, portanto, uma consequência da ação ascética-metódica, mas não intensa a ponto de separar-se do mundo.

O conceito de pregação[9] e salvação, mais o conceito de sacerdócio universal tipicamente protestante, diz respeito também ao ato de fazer parte desse mundo: prega-se ao mundo para salvá-lo. O conceito de predestinação faz com que o indivíduo não se importe com a contaminação do mundo já que nada poderia tirá-lo da salvação. O conceito de ascetismo também era relacionado com o conceito de austeridade. Por isso, o trabalho deveria ser executado como um fim imediato, um emprego de vida e não mero emprego de força. Weber (2005) descreve a ocupação como uma empresa-existência.

A palavra “profissão”, enquanto “profissão de fé” é usada pela primeira vez na tradução Luterana da Bíblia, e logo passa a todas as denominações protestantes. O ethos católico jamais aceitaria tal conexão. Protestantes têm o trabalho como um dever, e o cumprimento dos deveres é a melhor maneira de agradar a Deus – esta declaração é uma das noventa e cinco teses de Lutero. Não é à toa que Kant (1996) um pietista, tinha como base de sua filosofia o dever ser e o dever agir.

Vale lembrar que não se pode analisar a obra de Weber com conclusões simplistas como “Calvinismo culminou no capitalismo”, nem sobre o protestantismo. O autor não era dado às relações causais diretas, o que fomenta ainda mais a ideia de ter sofrido influência de Schopenhauer. Weber analisa longamente a ideologia calvinista, inclusive diferenciado a igreja de seu tempo das origens calvinistas. O que Weber queria com sua obra, ainda que alguns intelectuais já o tenham erroneamente afirmado, não era contradizer ou concordar com a obra de Marx, mas colocar outros elementos, que não apenas os materiais, para explicar um sistema inteiro. De fato, várias ideias parecem contrárias ao materialismo histórico, como as perspectivas históricas, as bases materiais de um lado e outras bases de outro, mas nunca foi a intenção de Weber contradizer ou polemizar com as ideias de Marx.

Sua análise passa pelas causas capitalistas, e isso fica evidente quando exemplifica os motivos pelos quais a riqueza na Índia, China e mesmo na Europa comercial não se desenvolveu da forma capitalista, enquanto os EUA (o que ele chamava de Nova Inglaterra), se desenvolveu capitalista. Aliás, seu questionamento se deve ao fato de que em alguns lugares, como a Europa ocidental-germana, e EUA, o capitalismo se desenvolveu plenamente, e em outros lugares não, como na Índia, China, Europa ibérica. Analisou o que estes lugares tinham em comum e propôs uma resposta.

ETHOS

O espírito do capitalismo para Weber é um modo de ser, um ethos que se define pelo racionalismo sobre o modo de produzir e viver: com uma atitude permanente de calcular e administrar que pode ir além dos negócios, passa pela vida, pela ausência de pecado na acumulação, pela a separação da economia doméstica da economia ou empresa profissional, da mão de obra livre e pela meritocracia, pela contabilidade organizada e organização racional do trabalho. Tal racionalização passa para o modo de viver e de se relacionar com tudo e com todos, penetrando outras esferas de relacionamento além do trabalho.

Tendo definido o que chama de espírito capitalista, passa a analisar o que entende por ética protestante, numa análise livre das escrituras, o que leva a dois pontos: a crença na predestinação de origem calvinista e o ascetismo, que nos interessa para a presente tese. O ascetismo é estar no mundo, um lugar agora que está em desencanto. O pano de fundo do desencantamento do mundo é a passagem da magia para a religião (PIERUCCI, 2003), com a presença do pecado e a moralidade religiosa, bem como o ascetismo intramundano. No caso do ascetismo intramundano, o indivíduo pode ter contato com sua entidade metafísica, ou seja, Deus, e estar em relacionamento com as pessoas do mundo, sem que isso seja considerado um status místico revelacional. Segundo Pierucci,

O importante é que nesse universo das ideias [desencanto] ocorre a mudança da visão mágico-mítica para uma visão racionalizada apoiada na imagem metafísico-religiosa do mundo. De maneira mais prática, a racionalização e a intelectualização que permitem essa maneira de ver o mundo. (2003, p. 92) Colchetes do autor.

Max Weber (2005) define a ética protestante, dentre outros elementos, pelo ascetismo o e pela crença na predestinação. O ascetismo está ligado principalmente às religiões salvacionistas ocidentais, já que se trata da prática gradual de se dividir ou de se relacionar com o mundo e seus pecados, sendo o pecado uma noção totalmente ocidental (DELUMEAU, 1978). No oriente, mesmo quando há a noção de eremita, não há a noção de pecado e o eremita sempre vem se relacionar com o mundo (ALMERI e MELO, 2009), mesmo que seja como um exemplo ou resposta. No ascetismo existe uma conduta metódica e racional das relações sociais e suas condutas morais.  Pode existir a ascese extramundana típica do monge católico, mas mesmo assim é uma conduta de vida dentro de uma sé e que mostra algo ou exemplo a alguém. Segundo Schopenhauer:

Sob o termo, por mim já amiúde empregado, de ascese, entendo no seu sentido estrito essa quebra proposital da vontade pela recusa do agradável e a procura do desagradável, mediante o modo de vida penitente voluntariamente escolhido, tendo em vista a mortificação contínua da Vontade (TOMO I, §68, 2009).

Assim, o ascetismo é um domínio moral do indivíduo sobre suas vontades, de modo a renegar certos confortos que o ideário não cristão oferece, e do ponto de vista cristão é uma escolha em agradar a Deus por esse domínio da vontade. A reforma era antes de tudo uma racionalização do ascetismo. E também uma crença de que o trabalho deveria ser algo divino, e, se divino, deveria ser bem feito, racionalizado. Não há culpa no mundo, no ascetismo há um controle dado por uma noção de pecado, uma série de proibições prescritas por uma interpretação das escrituras (DELUMEU, 1978).

Um ponto fundamental desta tese reside na afirmação de que o pentecostal assumia um comportamento ascético e hoje assume um ethos hedonista. Para melhor compreensão deste fenômeno, é importante definir o que é ascetismo intramundano. Este tópico é importante, pois pode esclarecer uma parte vital da obra de Max Weber (2005), que apresentou em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo uma de suas principais ideias: o ascetismo intramundano.

Max Weber fez um estudo detalhado da investigação da religião que resultou em várias obras, tais como Sociologia da Religião, Judaísmo Antigo, A Religião na Índia, (FREITAS, 2007), mas a mais controversa e debatida é sua análise do protestantismo feito em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, cuja motivação é responder a algumas perguntas vitais: como compreender a singularidade da produção capitalista humana ocidental? Qual o método mais eficaz para esclarecer o espírito capitalista, que se caracteriza pela presença de empresas cuja razão de ser é criar maior lucro e cuja forma se associa com o trabalho livre e geração habitual de renda e porque tem sua origem no Ocidente? (WEBER, 2005)

O esforço sociológico de Weber quer analisar as afinidades eletivas entre os estados sociológicos religiosos, especialmente aqueles que causam a ética protestante, e certa mentalidade capitalista, que chamou de espírito do capitalismo, a qual exemplifica como “lógica da avareza” de Benjamin Franklin, que valoriza a disciplina, o trabalho contínuo e a busca deliberada para o lucro, compreendida por Weber como uma obrigação ética. Caracterizou-se o que Weber explica por espírito do capitalismo. Não apenas significa adoração por dinheiro, afeto por dinheiro, a aspereza do lucro ou desejo de ganho. Nem se pode confundir o espírito capitalista com avareza ou austeridade. Trata-se, de acordo com Weber (2005), de um ethos, presente nos primeiros capitalistas, que rejeita gastos fúteis e eudemonismo, e racionaliza o modo de se conseguir lucro. Assim, enquanto na era pré-capitalista, o comércio era apenas um modo de vida para se viver, na modernidade o comércio terá outra função: fazer mais negócios.

É o negócio pelo negócio, e para tanto deve ser racionalizado. Weber indicou decisivamente que a ausência de dúvidas e o anseio de lucros sem limites não constituía uma das qualidades do capitalista, mas sim um dos componentes de qualquer economia. Assim compreendido, o capitalismo não é o desejo de obter, possuir qualquer progresso humano, ou a acumulação interminável realizada dentro do sistema da economia industrial, e sim a racionalização de se desenvolver acumulação, através da divisão e organização do trabalho, da contabilidade, e a divisão do ambiente de trabalho da residência.

O contraste entre o espírito capitalista e pré-capitalista não está no desejo pelo lucro, mas na racionalização de como consegui-lo. Para Weber, o espírito do capitalismo existe quando há uma ação social impulsionada pelo valor, sendo o negócio como essencial à vida, e assim tratado como natural e racionalmente indispensável. Assim seria a racionalização da relação comercial, já não ligada a nenhum costume ou haveria algum deus da antiguidade, como Mammon[10] por exemplo.

Weber utiliza de citações de Benjamin Franklin para exemplificar o que quer dizer com espírito de capitalismo:

Lembra-te que tempo é dinheiro; aquele que com seu trabalho pode ganhar dez xelins ao dia e vagabundeia metade do dia, ou fica deitado em seu quarto, não deve, mesmo que gaste apenas seis pence para se divertir, contabilizar só essa despesa; na verdade gastou, ou melhor, jogou fora, cinco xelins a mais.

Lembra-te que crédito é dinheiro. Se alguém me deixa ficar com seu dinheiro depois da data do vencimento, está me entregando os juros ou tudo quanto nesse intervalo de tempo ele tiver rendido para mim. Isso atinge uma soma considerável se o indivíduo tem bom crédito e dele faz bom uso.

Lembra-te que o dinheiro é procriador por natureza e fértil. O dinheiro pode gerar dinheiro, e seus rebentos podem gerar ainda mais, e assim por diante. Cinco xelins investidos são seis, reinvestidos são sete xelins e três pence, e assim por diante, até se tornarem cem libras esterlinas. Quanto mais dinheiro houver, mais produzirá ao ser investido, de sorte que os lucros crescem cada vez mais rápido. Quem estraga uma moeda de cinco xelins, assassina (!) tudo o que com ela poderia ser produzido: pilhas inteiras de libras esterlinas.

Lembra-te que – como diz o ditado – um bom pagador é senhor da bolsa alheia. Quem é conhecido por pagar pontualmente na data combinada pode a qualquer momento pedir emprestado todo o dinheiro que seus amigos não gastam.

Isso pode ser de grande utilidade. A par de presteza e frugalidade, nada contribui mais para um jovem subir na vida do que a pontualidade e retidão em todos os seus negócios. Por isso, jamais retenhas dinheiro emprestado uma hora a mais do que prometeste, para que tal dissabor não te feche para sempre a bolsa de teu amigo. E incorretas

As mais insignificantes ações que afetam o crédito de um homem devem ser por ele ponderadas. As pancadas de teu martelo que teu credor escuta às cinco da manhã ou às oito da noite o deixam seis meses sossegado, mas se te vê à mesa de bilhar ou escuta tua voz numa taberna quando devias estar a trabalhar, no dia seguinte vai reclamar-te o reembolso e exigir seu dinheiro antes que o tenhas à disposição duma vez só.

Isso mostra, além do mais, que não te esqueces das tuas dívidas, fazendo como que pareças um homem tão cuidadoso quanto honesto, e isso aumenta teu crédito.

Guarda-te de pensar que tudo o que possuis é propriedade tua e de viver como se fosse. Nessa ilusão incorre muita gente que tem crédito. Para te precaveres disso, mantém uma contabilidade exata de tuas despesas e receitas. Se te deres a pena de atentar para os detalhes, isso terá o seguinte efeito benéfico: descobrirás como pequenas despesas se avolumam em grandes quantias e discernirás o que poderia ter sido poupado e o que poderá sê-lo no futuro.

Por seis libras por ano podes fazer uso de cem libras, contanto que sejas reconhecido como um homem prudente e honesto. Quem esbanja um great (quatropence) por dia esbanja seis libras por ano, que é o preço para o uso de cem libras. Quem perde a cada dia um bocado de seu tempo no valor de quatro pence (mesmo que sejam só alguns minutos) perde, dia após dia, o privilégio de utilizar cem libras por ano. Quem desperdiça seu tempo no valor de cinco xelins perde cinco xelins e bem que os poderia ter lançado ao mar. Quem perde cinco xelins não perde só essa quantia, mas tudo o que com ela poderia ganhar aplicando-a em negócios – o que, ao atingir o jovem uma certa idade, daria uma soma bem considerável. (WEBER,2005, p.42).

O próprio Weber interpreta: “No fundo, todas as advertências morais de Franklin são de cunho utilitário” (op. cit., p. 43), portanto racional, a honestidade só teria valor por ser usada como garantia financeira, ou melhor crédito, e desse jeito, algo moral como a honestidade racionalizada e reduzido uma característica do mundo das finanças, e o mesmo vale para ser pontual, prestativo, e principalmente austero, modesto e simples, assim se criam as virtudes do espirito capitalista: a aparência de honestidade traz confiabilidade aquele que faz o dinheiro trabalhar por ele, ou seja o capitalista, as aparências importam no discurso de Franklin tanto quanto o esforço.

Ora, sendo assim, é de fato como Weber diz: o capitalista é um ser “despido de todos os pontos de vista eudemonistas ou hedonistas”, (WEBER, 2005, p.47). Apenas alguém que busca “um fim em si mesmo”. O que haveria de cristão nisso? Do ponto de vista de Franklin, é que a felicidade ou o prazer estão assentados em outras categorias que não aquelas relacionadas à virtude liberalidade e seus vícios (avareza ou prodigalidade), no que se refere a “ganhar dinheiro”. Weber não analisa, mas deve ter lido os ensaios de Lutero, donde há um sermão sobre o filho pródigo[11]. Mais adiante, explica,

Na ordem econômica moderna, o ganho de dinheiro – contanto que se dê de forma legal – é o resultado e a expressão da habilidade na profissão, e essa habilidade, é fácil reconhecer na passagem citada como em todos os seus escritos sem exceção (referindo-se a Franklin) constitui o verdadeiro alfa e ômega da moral de Franklin. (WEBER, 2005, p.47).

Diz que a profissão é tida como um dever moral, de tal sorte que quem não a tem é um vagabundo, ou seja, não respeita o maior dever moral do espírito capitalista, não trabalha.

O próprio Weber explica:

A absoluta falta de escrúpulos na afirmação do interesse pessoal no ganho pecuniário foi justamente uma característica específica daqueles países cujo desenvolvimento capitalista, se mantivera atrasados. Nesses países, haja vista o caso da Itália em contraste com a Alemanha, todo fabricante sabe que a falta de coscienzio sità (ao pé da letra consciência de sua situação, que quer dizer falta de vontade- trabalho) dos trabalhadores foi e continua a ser em certa medida um dos principais obstáculos ao seu desenvolvimento capitalista. (2005, p.50)

Assim há um apontamento de Weber para o caráter utilitarista do espírito capitalista, onde o mérito está privilegiado, em detrimento da corrupção. Vale lembrar que Weber não defende nem patrão nem operário, apenas aponta a moral capitalista. Assim ele afirma:

O absoluto e consciente desregramento da ânsia de ganhar andou de braços dados muitas vezes com o mais estrito apego aos laços tradicionais. Com o desmoronamento da tradição e a irrupção mais ou menos enérgica do livre lucro no seio mesmo dos grupamentos sociais, o que se seguiu não foi uma afirmação do cunho ético dessa novidade, tendo sido simplesmente tolerada como um dado factual, considerado eticamente indiferente ou mesmo lamentável, se bem que infelizmente inevitável. Essa foi não apenas a tomada de posição normal de todas as doutrinas éticas, mas também – e isto é o que substancialmente mais importa – do comportamento prático do homem médio da era pré-capitalista: “pré-capitalista” no sentido de que a valorização racional do capital no quadro da empresa e a organização capitalista racional do trabalho ainda não haviam se tornado potências dominantes na orientação da ação econômica. Foi precisamente essa atitude um dos mais fortes obstáculos espirituais com que se defrontou a adaptação dos seres humanos aos pressupostos de uma ordem econômica de cunho capitalista-burguês. (2005, p.51)

Para Weber, o desenvolvimento do espírito capitalista era inevitável, quase natural dadas as condições históricas e ideológicas. Sem uma moral capitalista relacionada ao comércio e indústria, para Weber, não seria possível que os seres humanos se adaptassem espiritualmente ao modo de ser e agir do capitalismo-burguês moderno. Era uma vontade de acúmulo, de avareza, de anti-gasto inútil que surgia. O autor analisa:

[…] a peculiaridade dessa filosofia da avareza parece ser o ideal dos homens honestos, de crédito reconhecido e, acima de tudo, a ideia de dever que o indivíduo tem no sentido de aumentar o próprio capital, assumido como um fim em si mesmo. De fato, o que nos é aqui pregado não é apenas um meio de fazer a própria vida, mas uma ética peculiar. A infração de suas regras não é tratada como uma tolice, mas como um esquecimento do dever. Essa é a essência do exposto. Não se trata de mera astúcia de negócios, o que seria algo comum, mas de um ethos, e esta é a qualidade que nos interessa. (WEBER, 2001, p. 50).

Mas o que de fato nos interessa para o presente trabalho são a ética protestante e o que Weber chama de ascetismo, característica fundamental dos pentecostais assembleianos (MARIANO, 2008). Para tanto, será analisado a partir de agora o significado do conceito de ascetismo entre os pentecostais, o que caracteriza seu modo de ser. Obviamente, não é possível considerar esses dois termos, espírito do capitalismo e ética protestante, como algo separado na obra weberiana, mas é possível analisá-los metodologicamente.

O pentecostalismo no Brasil tem certas particularidades únicas, diferentes de diversas igrejas pentecostais no mundo que seguem e imitam em muitas suas igrejas de origem. Alencar (2013, introdução, s/p) afirma:

A Assembleia de Deus no Brasil é brasileira? Brasileiríssima. Ela pode não ser “a cara” do Brasil, mas é um retrato fiel. E um dos principais. É uma das sínteses mais próximas da realidade brasileira. Como o Brasil, é moderna, mas conservadora; presente, mas invisível; imensa, mas insignificante; única, mas diversifica; plural, mas sectária; rica, mas injusta; passiva, mas festiva; feminina, mas machista; urbana, mas periférica; mística, mas secular; carismática, mas racionalizada; fenomenológica, mas burocrática; comunitária, mas hierarquizada; barulhenta, mas calada; omissa, mas vibrante; sofredora, mas feliz. É brasileira.

Isso resulta em uma nova conformação exclusiva e brasileira, que varia na cosmovisão, que varia na visão de mundo, em rituais, canções, formas de ser e de se apresentar. Um pseudo-ascetismo emerge como forma única também, sobre isso:

[…] devido a esse processo de complexidade e pluralidade crescente, bem como pelo fato de ser um fenômeno altamente dinâmico, poucos anos depois algumas expressões do Pentecostalismo não mais cabiam dentro das fronteiras e da identidade construída na primeira metade do século XX. Diante desse crescimento e processo de transformações mais ou menos aceleradas, podemos observar que nenhuma manifestação religiosa, inclusive o Protestantismo e o Pentecostalismo, se instala e se repete em lugares diferentes para onde é levada sem que sofra alterações, retrações e aclimatações (BORTOLETTO, 2008, p. 706)

Para os novos pentecostais, ao contrário do protestantismo tradicional e do pentecostalismo de primeira onda, não há ascetismo, rejeitam tal, o que existe é hedonismo consumista. Surge um novo ethos para o consumo e o luxo, como afirma Silva Junior[12] (2012 p. 16), “o bem é a prosperidade, simbolismo da dádiva de Deus a todos quantos cumprem seus mandamentos, enquanto a graça são os benefícios materiais adquiridos que ilustram o vínculo com Deus, e consequente sinal de salvação”.

NEOPENTECOSTALISMO

Não é o trabalho que demonstra que são abençoados por Deus na visão neopentecostal, mas sim a ostentação, se tiver maiores bens de consumo maiores bençãos terá, não é à toa que em um programa popular dessas igrejas, durante louvores, se mostram não mais pessoas em lagrimas e em arrependimentos, mas sim iates, roupas caras, carros de luxo ou seja, bens de consumo. A perícope bíblica de “Comer o melhor dessa terra”[13] e comumente interpretada como uma promessa de luxo e não como uma benção de colheita do mundo antigo como era o contexto. Só que o “melhor dessa terra”, para os neopentecostais, visam ser produtos mais caros, os carros de luxo, iates, belas casas e roupas de marca. É uma religião que vai ao encontro dos ideais típicos da cultura de consumo capitalista de nossa era, cuja valorização do aparecer rico é marcante. Lembra Silva Jr:

A sociedade capitalista se apresenta como sociedade do espetáculo. Importa mais do que tudo a imagem, a aparência, a exibição. A ostentação do consumo vale mais que o próprio consumo. O reino do capital fictício atinge o máximo de amplitude ao exigir que a vida se torne ficção de vida. A alienação do ser toma o lugar do próprio ser. A aparência se impõe por cima da existência. Parecer é mais importante do que ser. (SILVA JÚNIOR, 2012 p. 16).

Conforme Mariano (1999), o ethos neopentecostal não aceita o ascetismo tradicional e se estabelece como uma “acomodação do mundo”. Mariano faz uma excelente análise dessa quebra de ascetismo intramundano e das igrejas de terceira onda, do qual se destaca um excerto:

O sectarismo e o ascetismo começaram a ceder lugar à acomodação ao mundo, acompanhando o processo de institucionalização de importantes segmentos pentecostais. Nos EUA, este processo teve início já nos anos 50 e 60. No Brasil, ele é mais recente, principia nos anos 70 e se aprofunda com o nascimento e crescimento do neopentecostalismo. (MARIANO, 1996, p. 27).

Não se preserva nem mesmo o conhecido conservadorismo sexual puritano. Embora no discurso, o divórcio seja desestimulado no meio neopentecostal, ele ocorre é relativamente aceito (ALTIVO, 2015). Existe na TV da Igreja Universal, em número cada vez maior, os testemunhos de que “Deus me deu um novo amor”, ou seja, um novo casamento. Houve diversos relatos em panfletos evangélicos (GOSPELPRIME, 2010) o surgimento de sex-shop gospel e filmes pornôs gospel, para afronta das igrejas tradicionais.

Comparando com os pentecostais mais tradicionais que são as Assembleias de Deus e congregação cristã eram totalmente ascéticos. Porém, tem havido uma cada vez mais crescente flexibilização nos costumes. Assim relembra Mariano:

A primeira onda, chamada de pentecostalismo clássico, abrange o período de 1910 a 1950, que vai de sua implantação no país, com a fundação da Congregação Cristã no Brasil (em 1910, em São Paulo) e da Assembléia de Deus (1911, Pará), até sua difusão pelo território nacional. Desde o início estas igrejas caracterizaram-se pelo anticatolicismo, pela ênfase no dom de línguas, por radical sectarismo e ascetismo de rejeição do mundo. Não obstante suas oito décadas de existência, ambas mantêm bem vivos estes traços. A Congregação Cristã mantém-se irremovível. Já a Assembléia de Deus, desde 1989 cindida em dois blocos, mostra-se mais flexível diante das mudanças que estão se processando no movimento pentecostal ao seu redor e na sociedade abrangente. (1996, p.25).

Em face à cultura de massa, ao pós-modernismo e a ascensão social crescente no Brasil, o ascetismo da AD encontrou certa flexibilidade. Hoje se faz concessões, Mariano afirma:

Enquanto seus fiéis foram esmagadoramente pobres e estiveram privados de bens materiais, culturais e educacionais, o sectarismo e o ascetismo pentecostal não geraram grandes tensões internas. Mas, com a ascensão social de parte, ainda que minoritária, dos fiéis e com o progressivo aumento da conversão de adeptos de classe média, as tensões poderiam se intensificar, e muito, não fosse a acomodação ao mundo ou a dessectarização que, nas últimas duas décadas, começou a tomar corpo em diversas igrejas pentecostais. Pois, diante da mobilidade social de parte dos fiéis, das promessas da sociedade de consumo, dos serviços de crédito ao consumidor, dos sedutores apelos do lazer e das opções de entretenimento criadas e exploradas competentemente pela indústria cultural, esta religião ou se mantinha sectária e ascética, aumentando sua defasagem em relação à sociedade e aos interesses ideais e materiais dos crentes, ou fazia concessões. Frente às muitas mudanças ocorridas na sociedade, sobretudo na área comportamental, e às novas demandas do mercado religioso, várias lideranças optaram por ajustar gradativamente sua mensagem e suas exigências religiosas à disposição e às possibilidades de cumprimento por parte de seus fiéis e virtuais adeptos. (2008, p.27).

As AD e igrejas derivadas, as quais se denominarão “igrejas pentecostais tradicionais”, não estão isentas de mudanças diversas, não me refiro às inúmeras adaptações que sofreram em território brasileiro desde seu nascimento (ALENCAR, 2005), mas outras que estão ocorrendo bem agora, sobretudo nos últimos anos, especialmente a partir de 2008.

Igrejas que pertencem as associações das ADs, após a década 1940, multiplicou-se em miríade de subdivisões em múltiplos ministérios que são igrejas separadas umas das outras, mas que mantem uma matriz em comum, seguindo os mesmos costumes, hinários cosmovisão etc.., convidam pregadores umas das outras, mas não têm, na prática, diferenças nos costumes, porém são feitos para beneficiar uma visão[14] (de poucos) ou uma família de líderes, cuja liderança é passada de pai para filho (ALENCAR, 2005). Há mudanças no segundo maior ministério[15] das ADs. A Assembleia de Deus Ministério Madureira tem mudado radicalmente seu costume. No entanto como pode ser visto em múltiplos panfletos gospel[16] uma mudança, que afeta as Assembleias de Deus: elas cada vez mais se aproxima da teologia da prosperidade. Um bom exemplo e assembleia de Deus do Bom Retiro, com hoje com cerca de 18.000 mil membros registrados (SANTOS, 2012), embora a maioria das ADs ainda mantenha seus costumes.

Mas ainda prevalece o cenário de ascetismo. Nas assembleias de Deus há existe grande controle sobre usos e costumes, sobretudo os sexuais; diversos tabus e proibições das comodidades do mundo. É proibido, para citar um exemplo, o consumo de álcool, embora seja permitido viajar, embora não se recomende visitas à praia, por exemplo – recomendação que não é muito considerada pelos fiéis hoje em dia.

Na AD, ao contrário das neopentecostais, não é bem visto o acúmulo de bens ou dinheiro, seu ascetismo diverge disso do protestantismo calvinista apontado por Weber. Claro que há certo ascetismo, mas diverge espírito capitalista ao menos no sentido de acumular riquezas. Tais devem dizimadas para custear a obra divina, para caridade e obras sociais da que são fartas nas ADs. Não é bem visto ostentar, e até mesmo era, algo proibido.

Para membros da AD, havia certo orgulho em ser pobre, iletrado, simples, pois havia a crença de que o Senhor revelava ao simples os seus mistérios, conceito baseado numa interpretação do que está escrito no evangelho de Mateus 11:25[17]. Havia certa ojeriza à riqueza, sobretudo a ostensiva; havia aversão à política (ROLIM, 1985), e hoje há cada vez mais envolvimento. Isso mudou e o motivo principal é que igrejas neopentecostais, mas que tem o nome “Assembleia de Deus” na fachada, tem usado e aprendido com a grande indústria cultural. As promessas da teologia da prosperidade seduzem, pois afiram para o já sofredor e pobre público alvo que é maioria, que não só pode como deve ficar rico com apoio de Deus. Trata-se de uma consequência da contemporaneidade, a sedução pelo luxo e pelo consumo (JAMESON, 1985).

Do orgulho de se ter um templo humilde, feito de taipa ou madeira, seguiu-se para os “templos-shoppings” (ALENCAR, 2013), característica que se inicia com as neopentecostais, mas que tem se expandido para as pentecostais tradicionais. Porém, o templo simples e pequeno das periferias ainda prevalece e a maioria dos fiéis não se encontra nos “templos-shoppings”. Em que proporção? Alencar, (2013) analisando os números de dos seguidores assembleianos, dá para afirmar que a grande maioria ainda congrega em pequenos templos nas periferias – de um universo de 12,30 milhões de membros, 7,7 milhões estão na periferias e 4,6 milhões nos grandes templos centrais (CENSO, 2010).

Nos bairros periféricos há um outro assembleianismo: lá são ascéticos, mas o canto da sereia da teologia da prosperidade alcança junto com  a maquina comunicacional  e o ethos já demonstra mudança. Ao mesmo tempo que aumenta o acesso aos meios de comunicação aumenta o apelo consumista, e consequentemente se conquista novos fieis da teologia da prosperidade, e, se promete acabar com o sofrimento imediato do pobre – sua condição de pobreza, promete fazer ele rico e prospero.

No entanto, ainda há, nas periferias prevalência do ascetismo, que pode-se denominar “ascetismo comportamental brasileiro”; este afeta toda a identidade do fiel, como sua fala, passando a se comunicar com palavras bíblicas e jargões como varão (se referindo aos irmãos homens), benção (para todos os acontecimentos bons), prova (para acontecimentos ruins), paz do Senhor (para cumprimentos). Muda seus referenciais, crê que tudo que acontece na vida é permitido por Deus ou tentação do diabo. Não há separação entre vida, material, profissional e religiosa, a labuta e vicissitudes diárias são meios garantidos por Deus para que venha a sobrevivência, e assim se assume como tal em seu trabalho. Afeta inclusive seu jeito de vestir, falar se comunicar, de modo que se apresenta como é considerado pela comunidade religiosa como decente e austero: mulheres com saias e roupas que não marquem o corpo; o homem de camisa de botões e, no culto, o terno é obrigatório. Nos templos de periferia, é raríssimo ver alguém fora da estética conservadora tradicional, já que, para o pentecostal, a crença está acima da instituição.

Sobre essa restrição:

Esse ascetismo reacionário ainda sobrevive em alguns círculos na forma de tabus comunais sobre álcool, tabaco, teatro, dança, jogos, roupas elegantes, cosméticos e itens similares. Talvez tenha havido, e haja, boas razões para tais abstinências, em se tratando de decisão pessoa, mas tabus comunais tendem a entorpecer a consciência, em vez de avivá-la… O mundanismo foi definido em termos de quebras de tabus, e identificações de consequências mais amplas com os pecados da sociedade passaram despercebidas… O pietismo pós-moderno separa o mundo em vez de estudá-lo e procurar mudá-lo; é hostil ao prazer, em vez de agradecido por ele, temeroso de que o mundo adentre nossos corações montado nas costas do prazer. (NICODEMUS, 2008, p.152).

A aparência asceta é importante e presente para os pentecostais tradicionais. Mariano (2008) chega a afirmar que essa aparência é a preservação de uma identidade que visava destacar quem era santo no mundo, mas essa identidade agora passa por mudanças que se quer aqui pesquisar.

CONCLUINDO

O pentecostalismo brasileiro assembleiano nasceu em meio a um ethos rural advindo da comunidade de coletores de látex do norte do país. A natureza da atividade extrativista e o isolamento da região não permitia que a comunidade em questão tivesse amplo acesso a bens culturais, fazendo com que desenvolvesse um caráter anti-intelectual (ALENCAR, 2013), diferente do protestantismo histórico. O ethos sueco do protestantismo histórico era mais crítico, consciente e liberal, mas, aparentemente a característica conservadora, austera e o rígido controle dos corpos, especialmente o da mulher, tiveram mais facilidade na difusão de valores entre as comunidades pobres, especialmente às do campo e às que sobreviviam a partir de trabalhos braçais. A AD então, assume o caráter ascético, conservador, de forma que seus membros se alinhavam com tais perspectivas e as imprimiam em seus comportamentos. Aqueles que não concordavam com as premissas da igreja não procuravam membresia, pois estavam cientes da rigidez e do controle social, físico e moral que ela exercia sobre seus fiéis, sob pena de expulsão quando houvesse desrespeito às diretrizes.

Posteriormente, com o fim do ciclo da borracha, a possibilidade de ganho social aliada a outros fatores já descritos, como a expansão da linha ferroviária para o interior do país, possibilitou a expansão das ADs, que cresceu sem se envolver com disputas pelo mercado religioso ou político até a década de 1960.

Fatores como a presença do deuteropentecostalismo e do neopentecostalismo causaram, entre outras razões, grandes divisões internas entre ministérios e a perda de fiéis. Isso levou a igreja a quebrar alguns de seus próprios preceitos ascéticos, levando a, por exemplo, permitir o uso de televisão a partir da década de 1980. Ao ter acesso aos bens midiáticos os membros tiveram outras ideias quanto à vestimenta e moda. Para não perder os membros, houve concessões nas regras morais que foram aceitas pelos mais jovens.

A televisão também trouxe a cultura do televangelismo, cuja potencialidade para fazer prosélitos e aumentar seu rebanho logo fora percebida. A riqueza das igrejas permitiu grande investimento em aporte midiático, que alcançou muitos novos membros, com culturas anteriores diferentes do ethos rural assembleiano.

Sabe-se que a relação entre homem e religião tem influência em seu processo cognitivo. O desejo de se libertar das tradições expresso em corpos pode significar um novo assembleiano, mais integrado à sociedade para além de sua comunidade religiosa, e menos preconceituoso. É assim que nasce uma forma de se relacionar com o mundo pelo qual o homem não só pode desligar-se do seu pensamento como pode pôr a ação a serviço dele, do seu mito, da sua ideia, do seu sonho, construindo sua relação com o mundo, afetando seu cotidiano, sobretudo suas relações religiosas.

Nos últimos tempos tem ocorrido o crescimento de seitas e religiosidades que aceitam e usam de um modo místico, segundo Reginaldo Prandi (PIERUCCI; PRANDI, 1996, p. 98) ocorre a “remagicização” do mundo, a valorização de aspectos místicos da religião, não se dedicando negando a “identidade como meio para se alcançar e experiência de sentido mais profunda”.  Assim surgem discursos que valorizam a prosperidade, a violência o individualismo ao invés do senso de comunidade, a propriedade ao invés da divisão de bens, a salvação individual ao invés da salvação do próximo. O que se vê é a inversão do discurso que fundamentava a Assembleia de Deus. Seja através da sua mutação, seja através da concorrência religiosa.

O que se observa de novo é que uma instituição de hábitos e regras tradicionais, cuja principal regra e discurso era ficar afastado do mundo moderno tem se adequado e aceitado certos costumes novos afim de ganhar e não perder prosélitos em meio a concorrência do campo religioso. São negociações que ocorrem em mundos que no discurso se pretendem diferentes, mas que na verdade ocorre intersecções que decorrem de uma não diferença. A igreja não poderia ser ascética, mas só quando sob ameaça de perda de fieis é que abre mão de seu pretenso ascetismo. Talvez esse seja um fenômeno de cunho sociológico interessante: o fim do ascetismo.

Assim o que foi aprendido durante nessa pesquisa foi o fato de que as forças comunicantes afetam a igreja de vários modos. Um deles é o de mudança do ethos de mudança do sair do mundo para o consumo daí par o aparecer do mundo aceitação da teologia da prosperidade e o aparecer no mundo e parecer como rico.

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE – REFERÊNCIA DE NOTA DE RODAPÉ

3. Claro que a mesma Bíblia permite negociação com quem não é protestante, ou quem não é considerado puro: “Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem. Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo.” (BÍBLIA, 1 Coríntios 5:9,10). Assim, se permite fazer negócio com quem não é protestante.

4. No luteranismo havia a justificação pela fé, e assim a salvação não era praticada por nenhum ato humano como o a demonstração de salvação e pelo trabalho, a salvação era um ato de Deus.

5. Não há muitas provas dessa opinião, mas Simmel, uma das principais influências de Weber, com certeza foi influenciado por esse filósofo, como mostra a obra de Dias (1974).

6. Roy Church (1996) faz excelente análise da relação entre o protestantismo e as empresas familiares. Para exemplificar algo bem familiar no Brasil, até bem pouco temo e ainda hoje a maioria das empresas tinham o nome patronímico seguido de parentes, como exemplo, Souza e Filhos, Silva e Silva, Irmãos Costa, etc.

7. Evangelho de Mateus, 22:21.

8. Evangelho de João, 18:36.

9. Pregação vem do costume após Lutero literalmente pregar suas noventa e cinco teses na catedral de Wittenberg.

10. Mamon ou Mammon era o deus do dinheiro e da riqueza nos povos dos desertos no oriente médio na antiguidade, segundo a obra de Milton em Paraíso Perdido é um demônio que constrói para Satã um palácio com veios de ouro ardente. Goethe, na primeira parte de Fausto, utiliza a palavra em ambos os sentidos de “ouro” e de “entidade demoníaca” (BRUNEL, 2000).

11. “A parábola do Filho Pródigo, grosso modo, conta a história de um filho perdulário que perdeu todos os seus bens com os prazeres do mundo. Analisada por Lutero, tem significado mais espiritual que mundano e é encontrado em Lucas, capítulo 15, versículos 11-32. O personagem principal da parábola, o pai indulgente, cujo personagem permanece constante ao longo da história, é uma imagem de Deus. Ao contar a história, Jesus Se identifica com Deus em Sua atitude amorosa para os perdidos. O filho mais novo simboliza os perdidos (os cobradores de impostos e pecadores desse dia, Lucas 15: 1), e o irmão mais velho representa os hipócritas (os fariseus e mestres da lei daquele dia, Lucas 15: 2). O tema principal desta parábola não parece ser tanto a conversão do pecador, como nas duas parábolas anteriores de Lucas 15, mas sim a restauração de um crente em comunhão com o Pai. Nas duas primeiras parábolas, o proprietário saiu para olhar para o que foi perdido (Lucas 15: 1-10), enquanto que nesta história o pai espera e observa ansiosamente pelo retorno de seu filho. Nós vemos uma progressão através das três parábolas da relação de um em cem (Lucas 15: 1-7), para um em cada dez (Lucas 15: 8-10), para um em cada um (Lucas 15: 11-32) , demonstrando o amor de Deus para cada indivíduo e sua atenção pessoal para com toda a humanidade. Vemos nesta história a graciosidade do pai ofuscando a pecaminosidade do filho, como é a memória da bondade do pai que leva o filho pródigo ao arrependimento (Romanos 2: 4). Porém Lutero em seu catecismo maior recomenda as pessoas que não façam também como o filho pródigo gastando o dinheiro que “Deus lhe permite com o que viver”” (Lutero, Catecismo Maior, 2000, lição 23)

12. Pastor metodista. Graduado em Teologia e Pedagogia pela Faculdade de Teologia da Igreja Metodista da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), mestre em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Umesp, doutor em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Professor na UNIMEP.

13. Perversão já analisada por Campos (1996) sobre o que está escrito no livro de Isaias 1:19 “Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o melhor desta terra” se refere aos produtos agrícolas bem trabalhados para a glória de Deus.” (BÍBLIA, Isaías 1:19).

14. Por exemplo a AD Missionária tem a visão de implantar missões em vários locais do Brasil e do mundo o vice-presidente ao contrário da maioria dos ministérios não é filho nem genro nem parente do presidente.

15. Ver mais detalhes na reportagem – “Um pastor moderno entre os radicais”, Jornal Mídia Gospel, 20 de novembro de 2011, disponível em www.midiagospel.com.br/variedades/noticias/Assembleia-de-deus-sem-usos-e-costumes. Acesso em 12/dez/2012.

16. Basta ir a qualquer culto.

17. “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos simples.” (BÍBLIA, Mateus 11:25).

[1] Doutorando em Educação, Arte e História da Cultura. Mestre em filosofia. Especialista em Filosofia da Educação. Bacharel em Direito. Bacharel em Ciências Sociais.

[2] Orientador. Doutorado em História Social.

Enviado: Março, 2021.

Aprovado: Abril, 2021.

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Otávio Barduzzi Rodrigues da Costa

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