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Distúrbios do sono e fadiga persistentes em pacientes após contaminação pela COVID-19

RC: 127689
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

BARRETO, Martha Sabrina Barbosa [1], SANTOS, Camila Andrade dos [2], JORGE, Juliana de Góes [3]

BARRETO, Martha Sabrina Barbosa. SANTOS, Camila Andrade dos. JORGE, Juliana de Góes. Distúrbios do sono e fadiga persistentes em pacientes após contaminação pela COVID-19. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 09, Vol. 04, pp. 137-150. Setembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/sono-e-fadiga

RESUMO

Introdução: A COVID-19, doença causada pelo SARS-CoV-2, teve origem na China em 2019. É caracterizada por febre, tosse seca, dores de garganta, dispneia, perda do paladar e/ou olfato. Muitos pacientes têm relatado sintomas persistentes, como: fadiga muscular, cefaleia, dispneia e distúrbios do sono. Questiona-se então: os distúrbios do sono, sonolência e fadiga muscular persistentes estão presentes em pacientes após contaminação pela COVID-19? Objetivo: Avaliar a presença de distúrbios do sono e fadiga muscular persistentes em pacientes após contaminação pela COVID-19. Método: Trata-se de um estudo observacional transversal com indivíduos que foram contaminados com o SARS-CoV-2 no território brasileiro. Todos os voluntários responderam ao Questionário De Autoavaliação para Covid-19, Escala de Pittsburgh para avaliação da Qualidade do Sono (PSQI), Escala de Sonolência de Epworth (ESE) e Questionário para Avaliação da Fadiga Muscular (Facit-F). Resultados: Foram entrevistadas 88 pessoas, todos declararam ter realizado algum tipo de exame, onde 94,3% realizaram o exame de PCR e 5,7% realizaram o exame de IGG/IGM. Observou-se que 65,9% dos entrevistados apresentaram sintomas persistentes, 78,4% dos participantes apresentaram qualidade de sono ruim, 47,7% sonolência anormal e 65,9% fadiga muscular leve. Conclusão: Ficou evidenciada a presença de distúrbios do sono e fadiga muscular persistentes em pacientes após contaminação pela COVID-19.

Palavras-chave: Distúrbios do sono, Sonolência, Fadiga Muscular, Infecções por Coronavírus, Síndrome pós-covid. 

1. INTRODUÇÃO

A COVID-19, doença causada pelo coronavírus denominado SARS-CoV-2, teve origem na China, na cidade de Wuhan, em dezembro de 2019 onde foi considerada o epicentro da disseminação do vírus devido à alta transmissibilidade e gravidade clínica (D’ANDRÉA GREVE et al., 2020). Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia (SOUZA, 2021).

A pandemia por COVID-19 representa uma das maiores calamidades sanitárias em escala mundial. Até a data de 02 de outubro de 2021 tinha resultado em 234.627.330 casos confirmados e 4.797.562 mortes em todo o mundo (BARRETO et al., 2020; WHO, 2021). No Brasil, os primeiros casos foram confirmados no mês de fevereiro de 2020. Desde então, em 02 de outubro de 2021, confirmaram-se 21.459.117 casos, segundo o Ministério da Saúde, causando 597.723 mortes (BRASIL, 2021).

Com relação à transmissão da COVID-19, ela ocorre através do contato pessoa-a-pessoa, por meio de gotículas e aerossóis expelidos no ambiente pelo nariz e boca de indivíduos que estão com o vírus ativo. Estudos também indicam que a transmissão do vírus pode ocorrer por outras secreções como: sêmen, leite materno etc. (FRANCO et al., 2020). O diagnóstico da COVID-19 para pessoas contaminadas com o vírus da SARS-CoV-2 é feito através de técnicas moleculares (RT-PCR), que busca o RNA do vírus. Contudo, pode ser realizado um exame de sorologia que busca a presença de anticorpos, especialmente o IgG e IgM. (FEIJOO et al., 2020).

Após a infecção pelo novo coronavírus, muitos pacientes têm observado os sintomas da doença depois de recuperados, tal condição é chamada de síndrome pós-COVID-19. Essa síndrome é caracterizada por uma incapacidade prolongada e tem como sequelas a disfunção muscular, fadiga, dor e dispneia. Em pacientes que não ficaram em estado grave, a doença também pode gerar consequências persistentes. Estudos realizados em pacientes que tiveram COVID-19 mostraram: limitação musculoesquelética, redução da capacidade cardiorrespiratória, distúrbios do sono e redução da qualidade de vida mesmo após a resolução da doença (SILVA e SOUZA, 2020).

O tratamento para pacientes com a síndrome pós-COVID-19, é baseado em monitoramento, avaliação, reabilitação e reavaliação periódica dos indivíduos cujos sintomas permanecem mesmo após serem considerados curados da doença. A reabilitação destes indivíduos é de suma importância e deve ser centrada no paciente e adaptada às suas necessidades, pautada na redução dos sintomas respiratórios, ganho da força, funcionalidade e qualidade de vida. Deve ainda ser constituída por medidas educativas para o entendimento da doença, dos efeitos secundários gerados pela mesma (DANIEL et al., 2020).

É notório que poucos estudos avaliam as condições físicas e funcionais de indivíduos após a contaminação pela COVID-19. Bem como há uma escassez de orientações sobre a necessidade do manejo em pacientes pós-COVID-19. A partir dessas indagações, surge o seguinte questionamento: Os distúrbios do sono, sonolência e fadiga muscular persistentes estão presentes em pacientes após contaminação pela COVID-19? Diante disto, o presente estudo tem como objetivo avaliar a presença de distúrbios do sono, sonolência e fadiga muscular persistentes em pacientes após contaminação pela COVID-19.

2. METODOLOGIA

2.1 TIPO DE PESQUISA

Tratou-se de um estudo observacional de corte transversal realizado em indivíduos infectados com COVID-19 no território brasileiro.

2.2 AMOSTRA

O cenário da pesquisa de campo foi através de indivíduos que foram infectados pela COVID-19. A pesquisa foi realizada no período de agosto a outubro de 2021, sendo determinada com base no número de contaminados pela COVID-19 em território brasileiro, incluindo os 26 Estados e o Distrito Federal.    

A aplicação do questionário ocorreu por meio de um formulário eletrônico estruturado de autopreenchimento e sem identificação pessoal, elaborado através da plataforma Formulários Google® pelas pesquisadoras. Inicialmente a pesquisa ocorreu com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), a opção de consentimento para participação, tabulação e publicação dos dados. Dando sequência aos questionários: Questionário de Autoavaliação para Covid-19; Questionário de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI), Escala de Sonolência de Epworth (ESE); Escala de Fadiga (Facit-F). Todas as dúvidas manifestadas pelos indivíduos foram respondidas e esclarecidas pelos pesquisadores.

2.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Foram incluídos no estudo os seguintes critérios: (1) pacientes que tiveram a COVID-19 confirmada por algum teste reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS); (2) pacientes que tiveram COVID-19 com grau leve, moderado e grave dos sintomas da doença; (3) pacientes de todas as faixas etárias.

2.4  INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Os instrumentos para coleta de dados utilizados para essa pesquisa foram quatro questionários: 1) Questionário de Autoavaliação para Covid-19, 2) Questionário de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI); 3) Escala de Sonolência de Epworth (ESE); 4) Escala de Fadiga (Facit-F).

2.4.1 QUESTIONÁRIO DE AUTOAVALIAÇÃO PARA COVID-19

O questionário de autoavaliação para COVID-19 foi desenvolvido pelas pesquisadoras e visa avaliar os sintomas dos indivíduos quando foram contaminados e se existem sintomas persistentes até os dias atuais. Acrescentando que o mesmo possui dezoito perguntas, sendo elas pessoais, como: idade, profissão, cidade onde reside, teste realizado, sintomas no período de contaminação; sintomas persistentes até os dias atuais; dentre outros itens.

2.4.2 QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DO SONO DE PITTSBURGH (PSQI)

O questionário de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) é utilizado para avaliar a presença de distúrbio do sono. Desenvolvido por Buysse D.J. em 1989, tem como função avaliar a qualidade e perturbações do sono em relação ao último mês, sendo um questionário padronizado, simples e fácil de responder. Esse questionário é composto por 19 questões e fornece índice de gravidade e natureza do transtorno, ou seja, uma combinação de informações quantitativas e qualitativas sobre o sono (BERTOLAZI, 2008).

A pontuação final da escala foi somada para produzirem um escore global, que varia de 0 a 21, onde, quanto maior a pontuação, pior a qualidade de sono. Um escore global do PSQI >5 indica que o indivíduo está apresentando grandes dificuldades em pelo menos 2 componentes, ou dificuldades moderadas em mais 3 componentes (BERTOLAZI, 2008).

2.4.3 ESCALA DE SONOLÊNCIA DE EPWORTH (ESE)

A sonolência diurna foi avaliada pela Escala de Sonolência de Epworth (ESE), traduzida para 52 línguas, validada internacionalmente por Johns (1991). A validação da ESE para a população brasileira deu-se no laboratório de sono do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, em 2008, por Bertolazi e colaboradores. Refere-se à propensão que o indivíduo possui para cochilar ou dormir durante oito situações rotineiras: indivíduo sentado e lendo; assistindo televisão; sentado, quieto, em lugar público como em um teatro, reunião ou palestra; como passageiro de carro andando por uma hora sem parar; deitado para descansar à tarde; sentado conversando com alguém; sentado quieto após o almoço sem bebida alcoólica; no carro parado por alguns minutos no trânsito (JORGE, 2018).

A pontuação da ESE varia de zero a 24 pontos e estabelece a seguinte pontuação: valores ≤ 10 pontos – boa noite de sono e valores > 10 pontos – sonolência excessiva, que deve ser investigada. Pontuações maiores que 16 pontos são indicativos de sonolência grave mais comumente encontrada em pacientes com apneia do sono moderada ou grave, narcolepsia ou hipersonia idiopática (JORGE, 2018).

2.4.4 ESCALA DE FADIGA (FACIT-F)

Diversos instrumentos, ou índices, têm sido propostos e utilizados com a finalidade de avaliar a fadiga em pacientes com as mais diversas enfermidades, porém a escala utilizada para quantificar a fadiga foi a Escala de Fadiga (FACIT-F) já traduzido para o idioma português pela Functional Assessment of Chronic Illness TherapyFatigue.

A FACIT-F abrange a fadiga física, fadiga funcional, fadiga emocional e consequências sociais da fadiga. A escala contém 13 itens com cinco respostas que vão de “Nenhum” a “Muito”. Os itens são pontuados de 0 a 4, somados, multiplicados por 13 e divididos pela quantidade de itens efetivamente respondidos. A pontuação global varia de 0 a 52 e pontuações mais altas refletem uma menor fadiga e a pontuação inferior a 30 indicam fadiga grave (DINIZ et al., 2017).

2.5 QUESTÕES ÉTICAS

O presente estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Estácio de Sergipe sob o parecer número 4.831.958 e CAAE número 48370621.2.0000.8079. Antes de participarem do estudo, todos os participantes assinaram um termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B).

2.6 ANÁLISE DOS DADOS

Após a coleta, os dados foram organizados e tabulados em planilhas no programa Microsoft Office Excel® (Microsoft, Washington, EUA) e em um momento posterior foram passados para o programa IBM® SPSS® versão 25 (Nova Iorque, EUA), onde foram realizadas a análise descritiva dos dados (frequência dos dados em porcentagem), análise da normalidade dos dados de qualidade do sono (Escala PSQI), sonolência (Escala ESE) e fadiga muscular (Questionário Facit-F), através do teste de Kolmogorov-Smirnov e a correlação bivariável dos mesmos dados através dos testes de Pearson para os dados paramétricos e Spearman para os dados não-paramétricos. Todo p ≤ 0,05 foi considerado significativo.

3. RESULTADOS

Foram entrevistadas 88 pessoas, 73,9% (n=65) do sexo feminino e 26,1% (n=23) do sexo masculino, sendo que 50% (n=44) tinham entre 17 a 27 anos. A maior parte dos entrevistados, 67% (n=59), residia na cidade de Aracaju/SE e 96,6% (n=85) declararam estar ativo no mercado de trabalho. Os dados sociodemográficos da população podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1 – Dados sociodemográficos da amostra

Variáveis % (n)
Faixa etária
17 a 27 anos
28 a 38 anos
39 a 49 anos
50 a 60 anos
61 anos ou mais
50% (44)
23,9% (21)
17% (15)
4,5% (4)
4,5% (4)
 
Gênero
Masculino
Feminino
26,1% (23)
73,9% (65)
Local de residência 
Aracaju
Interior de Sergipe
Outro estado
67% (59)
13,6% (12)
19,3% (17)
Condição profissional
Ativo
Aposentado
96,6% (85)
3,4% (3)

Fonte: Elaboração própria (2021).

Todos os participantes do estudo declararam ter realizado algum tipo de exame para constatar a contaminação pela COVID-19. A grande maioria, 94,3% (n=83) declarou ter realizado o exame de PCR e outros 5,7% (n=5) realizaram o exame de IGG/IGM. Além disso, 8% (n=7) foram assintomáticos, 52,3% (n=46) relataram evolução leve da doença, 31,8% (n=28) afirmaram ter tido uma evolução moderada, 4,5% (n=4) desenvolveram a forma grave da doença e apenas 3,4% (n=3) chegaram a evoluir para um estado crítico. As características clínicas obtidas através do questionário de autoavaliação para COVID-19 encontram-se na tabela 2.

Nota-se que mesmo após os 15 dias de isolamento que são recomendados pela OMS, 65,9% (n=58) dos entrevistados apresentaram sintomas persistentes e 29,5% (n=26) relataram ter sintomas até o momento da realização da entrevista. Dentre os sintomas mais frequentes relatados pelos entrevistados estavam a fadiga muscular 74,2% (n=69), dor de cabeça 65,6% (n=61), perda de olfato 49,5% (n=46) e queda de cabelo 46,6% (n=41). Até o momento da realização desta pesquisa, 97,7% (n=86), dos entrevistados tinha recebido o imunizante contra a COVID-19 (Tabela 2).

Tabela 2 – Dados do questionário de autoavaliação para COVID-19

Variáveis % (n)
Tipo de exame diagnóstico da COVID-19 realizado
PCR
IGG/IGM
94,3 (83)
5,7% (5)
Evolução dos sintomas
Assintomático
Leve
Moderado
Grave
Crítico
8% (7)
52,3% (46)
31,8% (28)
4,5% (4)
3,4% (3)
Sintomas após isolamento recomendado
Sim
Não
65,9% (58)
34,1% (30)
Sintoma de queda de cabelo
Sim
Não
46,6% (41)
53,4% (47)
Vacinação
Sim
Não
97,7% (86)
2,3% (2)

Fonte: Elaboração própria (2021).

Na avaliação da qualidade do sono, realizada pela Escala de Qualidade do Sono de Pittsburgh, 78,4% (n=69) apresentaram qualidade de sono ruim e 21,6% (n=19) apresentaram boa qualidade de sono. Na investigação do nível de sonolência, realizado pela Escala de Sonolência de Epworth, 47,7% (n=42) dos participantes apresentaram sonolência anormal excessiva, 31,8% (n=28) apresentaram sono normal e 20,5% (n=18) apresentaram sonolência média. Na avaliação da fadiga muscular, realizada pelo Questionário da Fadiga Muscular, 65,9% (n=58) apresentaram fadiga leve e 34,1% (n=30) apresentaram fadiga grave (Tabela 3).

Tabela 3. Caracterização dos scores da PSQI, ESE e Facit-F

Variável  
PSQI
Boa qualidade do sono
Qualidade do sono ruim
21,6% (19)
78,4% (69)
ESSE
Sono normal
Sonolência média
Sonolência anormal
31,8% (28)
20,5% (18)
47,7% (42)
Facit-F
Fadiga grave 34,1% (30)
Fadiga leve 65,9% (58)

Fonte: Elaboração própria (2021).

4. DISCUSSÃO

Os dados do presente estudo demonstram que 65,9% dos participantes da pesquisa apresentam síndrome pós-COVID-19, 78,4% apresentam qualidade de sono ruim, 47,7% sonolência diurna excessiva e 65,9% relataram fadiga muscular leve persistente após contaminação pela COVID-19. Dentre os pacientes que apresentaram sintomas persistentes, 52,3% dos pacientes relataram apresentar evolução leve da doença e 31,8% apresentaram evolução moderada.

Ressalta-se que, segundo a Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva (ASSOBRAFIR), a Síndrome Pós-COVID-19 pode ser subdividida em duas categorias: a “Subaguda” na qual os sintomas e as disfunções estão presentes de 4 a 12 semanas e a “Crônica” em que sintomas persistem além das 12 semanas (NOGUEIRA; FONTOURA e CARVALHO, 2021).

Os principais sintomas persistentes apresentados pelos entrevistados após a contaminação por SARS-CoV-2 foram: fadiga muscular (74,2%) (n=69), dor de cabeça (65,6%) (n=61), perda de olfato (49,5%) (n=46) e queda de cabelo (46,6%) (n=41). Corroborando com estes achados Carfi, Bernabei e Landi (2020), relataram em seu estudo publicado no Journal of the American Medical Association (Jama), com 143 pacientes avaliados na Itália, que dois meses após a alta apenas 18 pessoas estavam sem sentir algum tipo de sintoma. Um total de 87,4% relatou persistência dos sintomas, entre eles: fadiga (53,1%), falta de ar (43,4%), dor no peito (21,7%), dor nas articulações (27,3%) e piora na qualidade de vida (43,4%). Então é notável que a COVID-19 deixa sequelas por um período longo após a sua recuperação.

No que se refere ao tempo de permanência dos sintomas após a COVID-19, Castro et al. (2021) relataram que, geralmente, estes sintomas da SARS-CoV-2 podem persistir por mais de quatro semanas após o evento inicial e que podem estar presentes mesmo em pessoas que não apresentaram sintomas quando foram infectadas. Já Wu (2021), afirmam em seu estudo que cerca de 80% dos recuperados sentem ao menos um sintoma até quatro meses depois do fim da infecção.

Com relação à presença de distúrbios do sono persistentes em pacientes após contaminação pela COVID-19, a maior parte dos pesquisados relataram ter uma qualidade de sono ruim. Telles e Voos (2021) sugerem em seu estudo que os distúrbios do sono são problemas significativos de saúde mental associado a este período de pandemia. Seus resultados demonstram alta carga de distúrbios do sono em pessoas do gênero feminino, na população mais jovem e nos profissionais de saúde.

Nesta pesquisa foi possível observar que 78,4% dos participantes apresentaram qualidade do sono ruim e 47,7% relataram sonolência diurna excessiva. Como citou Telles e Voos (2021), a qualidade do sono é caracterizada por ser uma atividade fisiológica essencial para o bem-estar físico, mental e para a qualidade de vida. Visto que, a qualidade do sono ruim pode gerar uma quebra do ciclo normal de sono, podendo levar ao descanso insuficiente e estado prolongado de alerta, aumentando o risco de insônia, pesadelos, sonolência excessiva diurna e fadiga.

Segundo Barbosa et al. (2020), em seu estudo realizado em 2.514 indivíduos, analisou que a sonolência diurna excessiva é uma das principais consequências relacionadas aos distúrbios do sono. A sonolência diurna excessiva é definida por predisposição aumentada ao sono, com necessidade subjetiva de dormir durante o dia. A presença da sonolência diurna excessiva está associada a prejuízos no rendimento escolar e do trabalho, na aprendizagem, na interação social e na qualidade de vida.

Quanto à fadiga muscular persistente, obtida através do questionário FACIT-F, 34,1% relataram a presença de fadiga muscular grave. No estudo de Santos et al. (2021), intitulada “avaliação da dispneia, fadiga e estado funcional em indivíduos pós-COVID-19”, com 74 participantes foi possível observar que 63,9% dos sobreviventes da COVID-19 queixaram-se de alguma sequela devido a doença. Dentre essas, uma das principais sequelas descritas foi a fadiga muscular.

Conforme Rudroff et al. (2020), em seu estudo intitulado “Post-COVID-19 Fatigue: Potential Contributing Factors”, define fadiga pós-COVID-19 como uma diminuição do desempenho físico e/ou mental que resulta de mudanças em fatores centrais, psicológicos e/ou periféricos devido à doença COVID-19. As principais consequências da fadiga muscular presentes nessa população consistem em: impacto na qualidade de vida; impacto no estado funcional; cansaço; e queda de desempenho.

A ASSOBRAFIR recomenda uma avaliação individualizada do paciente, trazendo como parâmetros a redução da tolerância ao exercício, disfunções respiratórias, redução da força muscular esquelética, sintomas de dispneia, fadiga, distúrbios do sono, dentre outros. Além disso, faz-se necessário o uso de recursos e métodos para a avaliação, como Teste de Caminhada de 6 minutos; Escala de Sonolência de Epworth; Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI). Devendo-se preconizar os principais sintomas persistentes, considerando as comorbidades do paciente. É válido ressaltar que na prescrição de fisioterapia, recomendam-se exercícios aeróbicos, equilíbrio, flexibilidade, força e treinamento muscular respiratório (NOGUEIRA; FONTOURA e CARVALHO, 2021).

O presente estudo possui limitações que podem ser discutidas. A primeira está relacionada ao uso dos questionários de Pittsburgh (PSQI), de sonolência de Epworth (ESE) e para avaliação da Fadiga Muscular (Facit-F). Apesar dos questionários serem instrumentos práticos e reprodutíveis, a avaliação de distúrbios do sono e fadiga muscular persistentes em pacientes após contaminação pela COVID-19 é realizada por uma metodologia indireta e, portanto, sujeita a falhas. A segunda relaciona-se à quantidade de participantes do presente estudo, dada a dificuldade natural de adesão à pesquisa, não contemplando, como se pretendia, um número tão representativo de pacientes com síndrome pós-COVID-19.

5. CONCLUSÃO

Diante do questionamento: Os distúrbios do sono, sonolência e fadiga muscular persistentes estão presentes em pacientes após contaminação pela COVID-19? Conclui-se no presente estudo, que houve a presença de distúrbios do sono e fadiga muscular persistentes em pacientes após contaminação pela COVID-19. Uma vez que, a maioria dos entrevistados relatou qualidade do sono ruim, sonolência anormal e fadiga muscular leve. Além disso, demonstrou-se que a síndrome pós-COVID-19 foi consideravelmente prevalente nos pacientes que tiveram a evolução leve e moderada da doença.

Desta forma, sugere-se a realização de novos estudos numa perspectiva de investigação mais aprofundada destes e outros sintomas na população de sobreviventes após testarem positivo para COVID-19. Faz-se necessária uma abordagem eficiente a fim de sugerir um tratamento eficaz no que diz respeito à síndrome pós-COVID-19.

REFERÊNCIAS

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[1] Graduada em Fisioterapia. ORCID: 0000-0002-7379-8784.

[2] Graduada em Fisioterapia. ORCID: 0000-0002-8068518X.

[3] Orientadora. ORCID: 0000-0003-2511-2511.

Enviado: Abril, 2022.

Aprovado: Setembro, 2022.

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Martha Sabrina Barbosa Barreto

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