REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

Os Efeitos na Saúde das Condições de Trabalho da Equipe de Enfermagem da Estratégia Saúde da Família: Uma Revisão de Literatura

RC: 12795
193
5/5 - (5 votes)
DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/saude-trabalho

CONTEÚDO

LIRA, Manuella Amorim de Mello [1]

LIRA, Manuella Amorim de Mello. Os Efeitos na Saúde das Condições de Trabalho da Equipe de Enfermagem da Estratégia Saúde da Família: Uma Revisão de Literatura. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 9. Ano 02, Vol. 03. pp 51-62, Dezembro de 2017. ISSN:2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/saude-trabalho, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/saude-trabalho

RESUMO

Durante o exercício de suas atividades profissionais observa-se que o trabalhador de enfermagem cuida da saúde de outros, o que não faz para si próprio. Para o desenvolvimento dessas atividades, é necessário conhecimento teórico e prático bem como condições satisfatórias de trabalho. Nessa perspectiva, esse estudo tem como objetivo verificar o efeito das condições de trabalho na saúde dos profissionais de enfermagem da Estratégia de Saúde da Família; refletir sobre o uso da ergonomia como instrumento metodológico de análise no processo de trabalho descrevendo sua importância para eliminar ou minimizar fatores sofríveis e desvelar como a ergonomia pode ajudar no trabalho dos profissionais de Enfermagem.  Para tanto realizou-se um estudo de caráter bibliográfico, cuja a trajetória fundamentou-se em leitura exploratória e seletiva. Observou-se que a qualidade no atendimento prestado aos usuários da atenção primária está diretamente relacionada às condições de trabalho e saúde da equipe de Enfermagem da Estratégia de Saúde da Família. Dessa forma, vários fatores influenciam a saúde destes profissionais, que embora tenham conhecimento não o exercem em benefício próprio. Portanto, conclui-se que o uso da ergonomia minimiza e até elimina fatores sofríveis relacionados ao ambiente e hábitos inadequados quando utilizada como instrumento para análise do processo de trabalho.

Palavras-Chave: Condições de Trabalho, Enfermagem. Ergonomia, Saúde Ocupacional.

1. INTRODUÇÃO

O Programa de Saúde da Família – PSF foi implantado no Brasil em meados de 1994 com o propósito de implementar a atenção básica de saúde. O PSF é tido como uma das principais estratégias de reorganização dos serviços e de reorientação das práticas profissionais neste nível de assistência, promoção da saúde, prevenção de doenças e reabilitação. Atualmente, é definido com Estratégia Saúde da Família – ESF ao invés de programa visto que o termo programa aponta para uma atividade com início, desenvolvimento e finalização. É uma estratégia de reorganização da atenção primária e não prevê um tempo para finalizar esta reorganização (ARAÚJO, 2008).

Para o desenvolvimento de atividades profissionais em Enfermagem, além do conhecimento teórico e prático, são necessárias condições satisfatórias de trabalho. Segundo Marziale e Robazzi (2000), estas condições estão relacionadas à higiene, segurança, a fatores biológicos, físicos, químicos, psicossociais e ergonômicos que devem ser enfocados para obtenção de máximo de conforto, segurança e eficácia na execução das atribuições diárias.

No decorrer do exercício profissional, observa-se que o trabalhador de enfermagem cuida da saúde de outros, o que não faz para si próprio. O estudo das relações entre o processo de trabalho da equipe de enfermagem, as reais condições sob as quais ele se desenvolve e o possível adoecimento físico e mental destes trabalhadores constituem um desafio e uma necessidade para se entender o processo saúde-doença.

Dessa forma, objetiva-se analisar o efeito das condições trabalho na saúde dos profissionais de enfermagem da Estratégia de Saúde da Família, como também refletir sobre o uso da ergonomia como instrumento metodológico de análise no processo de trabalho descrevendo sua importância para eliminar ou minimizar fatores sofríveis e desvelar como a ergonomia pode ajudar no trabalho dos profissionais de Enfermagem. Para tanto, descreveremos sua importância para eliminar ou minimizar fatores sofríveis e assim desvelar como a ergonomia pode ajudar no trabalho dos profissionais de Enfermagem.

A metodologia utilizada neste estudo tem caráter bibliográfico, cuja a trajetória fundamentou-se em leitura exploratória e seletiva, bem como em sua revisão integrativa visando criar um corpo de literatura compreensível e atualizado para o processo de conhecimento e análise dos resultados de vários estudos, contribuindo para a estratégia saúde da família.

Como subsídio para abordagem do tema foram definidas etapas para nortear o caminho do pesquisador. Em um primeiro momento a pesquisa bibliográfica foi organizada a partir de uma revisão de livros da literatura nacional no período de janeiro de 2011 a março de 2011. Em no segundo momento, visando enriquecimento desta trajetória metodológica, realizou-se uma revisão de literatura de artigos científicos publicados anterior ao ano de 1994, através do sistema informatizado de busca BVS (Biblioteca Virtual de Saúde), LILACS (Literatura Latino Americana de Ciências da Saúde), SCIELO (Revista Latino-Americana de Enfermagem), utilizando os seguintes indexadores: Estratégia Saúde da Família, Programa Saúde da Família, Promoção da Saúde, Ambiente, Condições de Trabalho, Enfermagem, Ergonomia.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O AMBIENTE LABORAL E A SAÚDE DO TRABALHADOR

As condições de trabalho influenciam os profissionais de enfermagem, que como qualquer ser humano encontra-se em constante adaptação com o meio ambiente e tudo aquilo que o compõe.  De acordo com Santos (1999), o que se observa é a adaptação do homem ao trabalho, no entanto, nem sempre o ser humano é adaptável devido às capacidades e limitações humanas o que compromete não só a qualidade de vida como também a saúde e o resultado do próprio trabalho do profissional que necessita realizar suas atribuições diárias.

As reestruturações produtivas e as mudanças que as mulheres acarretam no mercado e na organização do trabalho, no contexto atual da globalização e da economia, pouco são analisadas do ponto de vista das diferenças de gênero. Entretanto, os impactos das reestruturações produtivas sobre as condições de trabalho e a saúde sofrem variações segundo o sexo e a mão-de-obra (CARLOTO, 2003).

Com relação ao gênero Carloto (2003), afirma que os processos de adoecimento têm sido mais graves devido às condições precárias de trabalho que atingem principalmente as mulheres. Isso em decorrência da maioria das atividades exercidas estarem concentradas em ações que exigem passar muitas horas em posturas imóveis, com movimentos rápidos, precisos e repetitivos, o que produz um grande desgaste do sistema músculo-esquelético.

Medeiros (2006), afirma que a organização do trabalho atua na gênese do sofrimento físico e psíquico através de alguns elementos facilmente identificáveis, quais sejam: as jornadas prolongadas de trabalho, os ritmos acelerados de produção, a pressão claramente repressora e autoritária instalada numa hierarquia rígida e vertical, a inexistência ou exigüidade de pausas para descanso ao longo das jornadas de trabalho, a alienação de trabalho e do trabalhador, a fragmentação de tarefas e a desqualificação do trabalho realizado e, por conseguinte, de quem o realiza.

Uma boa postura é a atitude que uma pessoa assume utilizando a menor quantidade de esforço muscular e, ao mesmo tempo, protegendo as estruturas de suporte contra traumas. Manter posturas “erradas” (não confortáveis) por tempo prolongado pode acarretar alterações posturais ocasionando enrijecimento das articulações vertebrais e encurtamento dos músculos. Esses defeitos estruturais causam alterações das curvaturas normais da coluna vertebral, tornando-a mais vulnerável as tensões mecânicas e traumas (KAUFFMAN, 2001). Esta situação pode acarretar uma baixa produtividade devido ao desconforto que entre as suas várias causas que está diretamente ligada à adequação do corpo frente a um determinado equipamento ou tarefa (COUTO, 2000).

Segundo Iida (1998), ao estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente dá-se o nome de Ergonomia. Seu objetivo é investigar aspectos do trabalho que possam causar desconforto e propor modificações nas condições de trabalho para torná-las confortáveis e saudáveis bem como aplicar os conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos deste relacionamento entre a equipe de enfermagem e seu trabalho.

Dessa forma, a ergonomia congrega conhecimentos produzidos em diversas áreas e contribui aos trabalhadores na compreensão do seu processo de trabalho e nas possibilidades de transformação das suas condições de trabalho (VILLAR, 2002).

De acordo com o exposto para o estudo das condições de trabalho da equipe de enfermagem e conseqüentes efeitos das mesmas, é necessário um estudo enfocando a ergonomia. Com esse foco, é importante o conhecimento das características do homem (aspectos físicos, fisiológicos, psicológicos, sociais, assim como idade, sexo, treinamento e motivação); da máquina (equipamentos, ferramentas mobiliários e instalações); do ambiente físico do trabalhador (temperatura, ruídos, vibrações, luz, cores, gases, etc.), além de conseqüências do trabalho, entre outros (PINHEIRO & MARZIALE, 2000).

Além disso, é necessária uma divulgação dos aspectos ergonômicos e de segurança do trabalho com a finalidade de incentivar o desenvolvimento de uma consciência crítica em relação aos efeitos do ambiente de trabalho sobre a vida, o que pode ser feito através de estudos que criem possibilidades de proposição de mudanças no processo das condições do trabalho da enfermagem (SILVA; ROCHA; TAVARES, 2007).

A Saúde do Trabalhador contribui para a compreensão dos processos de trabalho particulares de forma articulada com o consumo de bens e serviços e o conjunto de valores, crenças, idéias e representações sociais (MENDES, 1999). As relações entre trabalho e saúde do trabalhador conformam um mosaico que se caracteriza por diferentes formas de organização e gestão, relações e formas de contrato de trabalho que refletem sobre o viver, adoecer e o morrer do trabalhador (ALVES; GODOY; SANTANA, 2006).

A Saúde é definida pela OMS – Organização Mundial de Saúde (1948) na Carta Magna como sendo “O estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de enfermidade”. Segundo Borges & Morais (2007), tal conceito demonstra um caráter subjetivo uma vez que é difícil quantificar o bem-estar. Dessa forma torna-se necessário atuar sobre os fatores que interfiram nesse estado, ou seja, no ambiente de trabalho atua-se sobre os riscos ocupacionais.

Os riscos ocupacionais dependem do tipo de atividade profissional e das condições em que a mesma é desempenhada (GASPAR, 1997). Para Delgado (2005), o exercício da enfermagem implica em multiplicidade de funções repetitivas, ritmo intenso e excessivo de trabalho, esforços físicos desgastantes, monotonia, posições incômodas e antiergonômicas, dentre outros. Nesta perspectiva, Marziale (2001) cita o desgaste físico e emocional, a baixa remuneração e o desprestígio social como fatores associados às condições de trabalho do enfermeiro que vem refletindo negativamente na qualidade de vida do trabalhador bem como na assistência prestada ao cliente, levando ao abandono da profissão.

2.2 ERGONOMIA

Segundo Couto (1995), através da aplicação dos princípios da Ergonomia pode ser propiciada uma interação adequada e confortável do ser humano com os objetos que maneja e com o ambiente onde trabalha e ainda melhorar a produtividade, reduzir os custos laborais que se manifestam através de absenteísmo, rotatividade, conflitos e pela falta de interesse para o trabalho.

Dessa forma, a ergonomia pode minimizar os riscos ambientais onde o enfermeiro trabalha. Nishide & Benatti (2004) consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes no ambiente de trabalho que, dependendo da sua natureza, da concentração ou da intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde dos trabalhadores e riscos ocupacionais que são todas as situações de trabalho que podem romper o equilíbrio físico, mental e social das pessoas e não somente as situações que originem acidentes e enfermidades.

Segundo Cavassa (1997) os fatores ergonômicos são aqueles que incidem no comportamento trabalho-trabalhador. São eles o desenho dos equipamentos, do posto de trabalho, a maneira que a atividade é executada, comunicação, o meio ambiente (grau de insalubridade, iluminação, temperatura, etc).

Para a Ergonomia, as condições de trabalho são representadas por um conjunto de fatores interdependentes que atuam direta ou indiretamente na qualidade de vida das pessoas e nos resultados do próprio trabalho (MARZIALE & ROBAZZI, 2000). Santos (1999) corrobora a informação anterior ao afirmar que, embora de difícil avaliação, as medidas ergonômicas são de enorme importância para o ambiente de trabalho, não só em termos de lucros, mas também no aspecto social, proporcionando uma melhor qualidade de vida a nível individual e de toda a comunidade que com certeza se beneficiará de trabalhadores mais motivados e confortáveis em seus postos de trabalho.

Wisner (1994), propõe uma metodologia da análise ergonômica que comporta cinco etapas de importância e de dificuldade:

a) Análise da demanda: a meta é compreender a natureza e o objetivo do pedido;
b) Análise do ambiente técnico, econômico e social da situação do trabalho: é importante verificar se as instalações da empresa são novas ou não, o quanto de dinheiro ela dispõe para medidas ergonômicas;
c) Análise das atividades e da situação de trabalho: tem por objetivo fazer um inventário das atividades no trabalho, indicação das inter-relações entre essas atividades e descrição do trabalho em sua totalidade. As atividades motrizes devem ser analisadas de maneira realista incluindo não somente gestos de ação, mas também de observação (ex.: movimento da cabeça e dos olhos) e de comunicação (palavras e gestos). Deve-se lembrar, entretanto que elementos dessa classificação são interligados pois gestos de observação são, normalmente, realizados ao mesmo tempo que outros gestos de ação;
d) Recomendações ergonômicas: é preciso uma metodologia segura para fazer abordagens comparativas e previsionais;
e) Validação da intervenção e eficácia das recomendações: quase não há financiamento para estudos de validação ergonômica e quando esta é feita muitas vezes o resultado pode ser diferente do esperado, principalmente se a intervenção é tardia e parcial. Porém, os efeitos só se mostram a longo prazo e se manifestam pela mudança de atitude dos planejadores e dos usuários frente as características humanas.

2.2.1 ERGONOMIA FÍSICA

Está relacionada com às características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação a atividade física. Os tópicos relevantes incluem o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculos-esqueléticos relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde (VIDAL, 1993).

2.2.2 ERGONOMIA COGNITIVA

Refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem o estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho especializado, interação homem computador, stress e treinamento conforme esses se relacionem a projetos envolvendo seres humanos e sistemas (SARMET, 2003).

2.2.3 ERGONOMIA ORGANIZACIONAL

Concerne à otimização dos sistemas sócio-técnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e de processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações, gerenciamento de recursos de tripulações (CRM – domínio aeronáutico), projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede, tele-trabalho e gestão da qualidade (GRANDJEAN, 1998).

2.3 O TRABALHO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM E OS EFEITOS SOBRE SUA VIDA

Para o desenvolvimento de atividades profissionais em Enfermagem, além do conhecimento teórico e prático, são necessárias condições satisfatórias de trabalho. Segundo Marziale e Robazzi (2000), estas condições estão relacionadas à higiene, segurança, a fatores biológicos, físicos, químicos, psicossociais e ergonômicos que devem ser enfocados para obtenção de máximo de conforto, segurança e eficácia na execução das atribuições diárias.

Dentre as exigências feitas à profissão, o enfermeiro precisa ser criativo sem improvisar, humanizar o atendimento à pessoa e à equipe de trabalho, obtendo resultados para concretizar a missão da instituição de maneira ética, técnica e científica. É necessário planejamento, sensibilidade e conhecimento para lidar com a frágil relação saúde/ doença, não perdendo o foco da profissão (QUINTO & CASTRO, 2001).

Marziale e Robazzi (2000) baseiam-se em evidências empíricas produzidas através de análises de vários trabalhos científicos e citam como riscos ergonômicos que podem estar presentes no cotidiano do enfermeiro: o desenvolvimento rápido e contínuo da tecnologia médica, a variedade de procedimentos e exames realizados, o aumento constante do conhecimento teórico e prático exigido na área da saúde, a especialidade do trabalho, a hierarquização e a dificuldade de circulação de informação, o ritmo e o ambiente físico, o estresse e o contato com o paciente, a dor e a morte como elementos que potencializam a carga de trabalho, ocasionando riscos à saúde física e mental dos trabalhadores.

Marziale (2001) afirma que a maioria dos trabalhadores de enfermagem apresenta algum tipo de algia vertical, sendo a região lombar a mais acometida, devido inadequada postura na prática profissional durante a execução de determinados procedimentos técnicos.

Alguns estudos ergonômicos vêm sendo realizados para analisar as posturas físicas adquiridas na execução das atividades dos profissionais de Enfermagem buscando a adequação dessas atividades. Através destes, foi constatado que grande parte das agressões à coluna vertebral estão relacionadas a inadequação de mobiliários e equipamentos utilizados nas atividades cotidianas de Enfermagem e com a adoção de má postura corporal adotadas pelos trabalhadores (MARZIALE & ROBAZZI, 2000).

Já Netto & Ramos (2004) falam que na realidade do trabalho do enfermeiro, a qualidade é a multiplicidade em relação às funções, pelas quais o enfermeiro vai se definindo como ser trabalhador, no fazer constante e diário, no exercício de seu papel, nas suas escolhas frente a si e ao outro, nas quais se põe à prova.

O papel do enfermeiro tem sido apontado como altamente estressante. As responsabilidades assumidas, apesar da autonomia proporcionada, conformam uma situação para a qual confluem vários pontos de tensão (ARAÚJO et al., 2003).

São muitas as questões que podem afetar o equilíbrio do profissional enfermeiro, dentre elas pode-se citar: o grau de satisfação/motivação das pessoas que trabalham; o grau de relacionamento entre as equipes; a capacidade técnico-científica dos profissionais envolvidos. Pois o mesmo exerce uma posição de chefia ou coordenação, e sua posição dentro da estrutura organizacional o torna um elemento chave para a instituição (MAIA, 1999).

A carga horária de trabalho atribuída ao enfermeiro pode ainda prolongar-se por diversos motivos, tais como excesso de atividades a realizar, tempo gasto na passagem de turno (a transmitir informação), atraso por parte de colegas, ou ainda por situações inesperadas e urgentes relacionadas com doentes. Porém o acréscimo de horas de trabalho, fora do horário normal de serviço dos enfermeiros, na maioria das vezes não é objeto de qualquer compensação (REIS et al., 2003).

Os enfermeiros ocupam o seu tempo numa multiplicidade de tarefas e atividades polivalentes. No entanto, sabe-se que são constantemente dominados por uma sensação de ambivalência, por não estarem a realizar aquilo que lhes compete, devido à enorme quantidade de tarefas que obrigatória e quotidianamente deve executar em tempo útil, o que provoca sentimentos de irritação e de frustação nos enfermeiros sentindo-se condenados pelo seu contexto (MARTINS, 2002).

Maia (1999) frisa que quanto mais estruturado ergonomicamente for o ambiente de trabalho do pessoal da enfermagem, melhor será sua capacidade de adaptação, diminuindo sua carga física em mental, elevando, desta forma, o grau de sua assistência, o que indiscutivelmente poderá minimizar o estresse gerado no profissional.

Pode-se ressaltar ainda a baixa remuneração na enfermagem, um dos principais fatores que “desumaniza” o profissional e condiciona as pessoas a exercerem dupla ou tripla jornada de trabalho, associada a alta demanda por serviços, o pouco reconhecimento do trabalho pela sociedade e desunião entre os profissionais, invariavelmente resultam em absenteísmo, migração para outras profissões ou instituições, comprometendo o desempenho organizacional e profissional, além da saúde do profissional. (MATSUDA et al, 2007)

Alguns fatores como ambiente térmico, ruídos, iluminação, trabalho noturno, ritmo de trabalho, dentre outros, determinam o desgaste físico do trabalhador de enfermagem, interferindo diretamente no seu desempenho profissional, comprometendo conseqüentemente, sua produtividade (MAIA,1999).

O trabalho de enfermagem em uma Unidade Básica de Saúde é caracterizado por situações geradoras de riscos à saúde. Encontra-se trabalhadores hipertensos, acima do peso ideal, a maioria identifica excessiva carga de tarefas, o que predispõe ao estresse e violência ocupacional. O ambiente apresenta inadequação de mobiliários nos postos de trabalho, ruído e temperaturas em níveis elevados. Assim, situação de trabalho vivida interfere na organização e qualidade de vida no trabalho em saúde coletiva, culminando na influência sobre sua saúde, desempenho e bem-estar (ABRANCHES, 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A qualidade de vida e saúde dos profissionais de Enfermagem e, conseqüentemente, a qualidade no atendimento prestado aos usuários da atenção primária está diretamente relacionada às condições de trabalho e saúde da equipe de Enfermagem da Estratégia de Saúde da Família. Estas condições influenciam, de maneira positiva, quando analisadas objetivando buscar alternativas e intervenções viáveis para mudança no ambiente ou mesmo em hábitos cotidianos ou de forma negativa quando investigadas apenas para identificação de problemas.

O uso da Ergonomia como instrumento metodológico deve ser incorporado às práticas dos gestores visando o bem-estar e saúde do trabalhador. A postura adotada para realização de procedimentos, o mobiliário, a iluminação, a jornada de trabalho, a alimentação, a prática de atividades físicas e alongamentos são exemplos de fatores determinantes para a qualidade de vida do profissional não só no trabalho como também no cotidiano.

Há que se ressaltar que a maioria das unidades da Estratégia Saúde da Família não são dotadas de condições adequadas para o trabalhador, a iluminação muitas vezes é precária e o mobiliário inadequado o que pode ser determinante de dores e/ou dormências e mesmo a causa base de afastamentos temporários.

A divulgação do conhecimento acerca da Ergonomia para os profissionais de saúde faz-se necessária para que os mesmos atuem de maneira pró-ativa nos fatores determinantes do processo saúde-doença. Trabalhada desta forma, a ergonomia poderá minimizar ou mesmo eliminar fatores sofríveis o que vêm não só promover a saúde como também prevenir a manifestação e ocorrência de determinadas patologias. Esta divulgação não terá valia se os profissionais não utilizarem na prática, ao longo de suas vidas e carreira, os conhecimentos adquiridos.

Conclui-se que, da mesma forma que existem resultados favoráveis quanto ao conhecimento sobre ergonomia e a necessidade de se utilizar esses conhecimentos, fica evidente que nem sempre é possível colocá-los em prática, muitas vezes pela escassez de recursos. Logo, é visível a necessidade de melhorar essa relação entre conhecimento e prática, uma vez que é nítida a sua importância para o bem-estar do trabalhador.

REFERÊNCIAS

ALVES, Marília; GODOY, Solange Cervinho Bicalho  and  SANTANA, Daniela Moreira. Motivos de licenças médicas em um hospital de urgência-emergência. Revista Brasileira de Enfermagem [online], vol.59, 2006, n.2, pp. 195-200.

ARAÚJO, Maria Rizoneide N. Programa Saúde da Família: definições e atribuições. Diretoria de Atenção Básica/PSF da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais: Belo Horizonte, 2008.

BORGES, Rives Rocha; MORAIS, Sandra Bartira Oliveira Barbosa de. Perfil dos Afastamentos entre Profissionais de Enfermagem — O Caso Maternidade Climério De Oliveira. Encontro Nordeste de Higiene Ocupacional – ERHO, 2007.

CARLOTO, Cássia Maria. Adoecimento no trabalho, as mulheres na categoria de anseio e limpeza. São Paulo: Universidade Estadual de Londrina, 2003.

COUTO, Hudson Araújo. Ergonomia: limites do homem (2ª parte). Revista proteção. São Paulo: MPF Publicações. ed. 97, ano XIII, 2000, p. 40-43. jan.

GASPAR, P. J. S. Enfermagem profissão de risco e de desgaste: perspectivas do enfermeiro do serviço de urgência. São Paulo: Nursing, v. 10, n. 109, 1997, p. 23 – 24, mar.

GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: Adaptando o Trabalho ao Homem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Edgard Blücher, 1998.

KAUFFMAN, Timothy L. Manual de Reabilitação Geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

MARZIALE, Maria Helena Palucci; ROBAZZI, Maria Lúcia do Carmo Cruz. O trabalho de Enfermagem e a Ergonomia. Revista Latino-Americana de Enfermagem, vol.8, n.6, 2000, pp. 124-127.

MARZIALE, Maria Helena Palucci. Enfermeiros apontam as inadequadas condições de trabalho como responsáveis pela deterioração da qualidade da assistência de enfermagem. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 2001, vol.9, n.3, pp. 1-5.

MEDEIROS, Soraia Maria de; RIBEIRO, Laiane Medeiros; FERNANDES, Sandra Michelle Bessa de Andrade; VERAS, Verônica Simone Dutra. Condições de trabalho e enfermagem: a transversalidade do sofrimento no cotidiano. Rev. Eletr. Enf. vol. 8, n.2, 2006. [Internet]. 2006;8(2):233-40. Available from: http://www.fen.ufg.br/revista/revista8_2/v8n2a08.htm.

MENDES, R.; DIAS, E. C. Saúde dos Trabalhadores. in: ROUQUAYROL, M.Z. Epidemiologia e Saúde. 5 ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1999, p.431-456.

PINHEIRO, Paulo Roberto Loureiro; MARZIALE, Maria Helena Marziale. A culpa é sempre da cadeira, mas nem sempre é a vilã. Revista CIPA, ano XXI, 2000, p. 106-109.

SANTOS, Carlos Maurício Duque dos. Móveis ergonômicos. Revista proteção. São Paulo: MPF Publicações. ed. 93, ano XII, 1999, p. 62-65.

SARMET, M.M. Análise Ergonômica de Tarefas Cognitivas Complexas Mediadas por Aparato Tecnológico. Dissertação não publicada apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Brasília: UnB, 2003.

SILVA, Rosângela Marion da; ROCHA, Lucimara; TAVARES, Juliana Petri. Ergonomia: considerações relevantes para o trabalho de enfermagem. 2007. Disponível em < http://www.abennacional.org.br/2SITEn/Arquivos/N.050.pdf>. Acesso em 23 de setembro de 2011.

VIDAL, M.C. Os paradigmas em Ergonomia. Conferencia Central no Seminário Paradigmas de saúde do Trabalhador. DAMS/UFRJ, 1991. Reapresentado no II Congresso Latino-Americano de Ergonomia, Florianópolis, 1993.

VILLAR, Rose Marie Siqueira. Produção do Conhecimento em Ergonomia na Enfermagem. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2002.

WISNER, Alain. Inteligência no trabalho: textos selecionados de ergonomia. São Paulo: Fundacentro, 1994.

[1] Curso de Especialização lato sensu em Enfermagem do trabalho Faculdade Guanambi.

5/5 - (5 votes)
Manuella Amorim de Mello Lira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita