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Influência da propaganda na dispensação de medicamentos isentos de prescrição médica

RC: 71087
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SILVA, Lorena Fonseca da [1], OLIVEIRA, Cristiano Guilherme Alves de [2], SILVA, Denise Aparecida da [3]

SILVA, Lorena Fonseca da. OLIVEIRA, Cristiano Guilherme Alves de. SILVA, Denise Aparecida da. Influência da propaganda na dispensação de medicamentos isentos de prescrição médica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 12, Vol. 16, pp. 67-84. Dezembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/prescricao-medica

RESUMO

As propagandas de medicamentos são inúmeras, em diversos meios de comunicação de massa, e podem influenciar seu público-alvo, colaborando para a prática da automedicação. Os objetivos desta pesquisa incluíram a avaliação do tipo de veiculação das propagandas que mais influenciam o público, bem como os argumentos mais atraentes e os medicamentos mais envolvidos. A pesquisa adotou a metodologia da aplicação de questionários, realizada em uma farmácia comercial localizada na região central do município de Itaperuna – RJ, durante o período de julho a setembro de 2017. A pesquisa resultou num total de 168 clientes entrevistados na faixa etária de 18 a 66 anos, com maioria do sexo feminino (61,3%), solteira (64,3%), pertencente à classe C1 (32,7%), ensino superior incompleto (38,7%) e costume de prestar atenção em propagandas de medicamentos divulgadas em rádio, televisão, revistas e/ou internet (64,3%), declarando que já comprou algum medicamento após acesso à propaganda do produto (54,2%). As propagandas de TV foram as mais citadas como influenciadoras (73,6%), seguidas pela internet (46,1%). Entre os medicamentos mais comprados por influência de propaganda, foram mencionados analgésicos (64,8%), antigripais (34,1%) e antitussígenos (30,8%). A característica de medicamento que chamou mais atenção dos clientes na propaganda foi a rapidez no efeito (60,4%). Uma margem majoritária de 75,8% dos entrevistados relatou a falta de informações nas propagandas acerca dos efeitos colaterais e 63,7% das contraindicações dos medicamentos anunciados. A conclusão da pesquisa indica que a propaganda influencia diretamente na prática da automedicação, em especial de medicamentos para dor, sendo a rapidez no efeito um dos quesitos mais procurados pelos usuários. Televisão e internet representam os principais meios de comunicação que podem influenciar na compra de medicamentos e na prática da automedicação, com relatos de irregularidades pelos entrevistados quanto a alertas sobre os produtos. Desta forma, revela-se necessária uma fiscalização mais rigorosa, a fim de evitar riscos à saúde pública.

Palavras-chave: propaganda de medicamentos, automedicação, influência da propaganda, indústria farmacêutica, saúde pública.

1. INTRODUÇÃO

As propagandas são estratégias específicas de marketing que têm como objetivo influenciar a ação de um público-alvo, sendo amplamente utilizadas em diversos meios de comunicação (ALEXANDRI et al., 2011).  A atração de novos clientes bem como a manutenção dos atuais proporciona o crescimento lucrativo para a empresa, tendo na propaganda uma ferramenta legítima utilizada para a divulgação de diversos produtos, incluindo os medicamentos (NASCIMENTO, 2009; HONORATO, 2014). A publicidade apresenta importante papel na indústria farmacêutica, pois é responsável por alavancar as vendas dos medicamentos (PINA et al., 2012). As indústrias farmacêuticas gastam em média 35% do valor das vendas com publicidade e marketing dos seus produtos (SOARES, 2008; LYRA JR et al., 2010). No entanto, as propagandas específicas de medicamentos não consideram os critérios científicos, farmacodinâmicos e farmacocinéticos, conferindo ênfase apenas aos seus benefícios em detrimento de informações sobre seus possíveis riscos quando usados de modo incorreto, acarretando intoxicações e superdosagem (ALEXANDRI et al., 2011). É importante ressaltar que a preocupação com a qualidade das informações sobre os medicamentos deve fazer parte do cotidiano dos profissionais de saúde e devem ser veiculadas de forma clara aos consumidores (LYRA JR et al., 2010). Por mais inócuos que possam ser, certos medicamentos utilizados de modo irracional podem provocar danos ao organismo ou até mesmo a morte, sendo que a iniciativa de compra de medicamentos de venda livre contribuiu para a automedicação (PINA et al., 2012).

Pode-se considerar como automedicação a iniciativa incorreta do próprio paciente, ou de outra pessoa, de utilizar um medicamento por conta própria, sem prescrição médica ou acompanhamento de um profissional (ALEXANDRI et al., 2011; PARDO et al., 2013), geralmente justificada pelo desespero e angústia com os sintomas desencadeados (FREITAS et al., 2011).  Além disso, a dificuldade de acesso a uma consulta médica de imediato em países em desenvolvimento também colabora sobremaneira com a automedicação (PARDO et al., 2013; VERNIZI; SILVA, 2016). É importante salientar que a automedicação está associada ao risco de intoxicações, alergias e, ainda, potenciais interações e posteriormente uma resistência, podendo em certo período aliviar os sintomas leves e passageiros, mascarando uma doença grave (ALEXANDRI et al., 2011; CASTRO et al., 2013; VERNIZI; SILVA, 2016).

Estudos indicam cerca de 80 milhões de brasileiros adeptos da automedicação (FREITAS et al., 2011; PARDO et al., 2013). O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de intoxicações medicamentosas, representando aproximadamente 18% dos casos de morte. Além disso, pelo menos 35% dos medicamentos vendidos no Brasil são adquiridos no contexto da automedicação (AQUINO et al., 2010), o que significa dizer que para cada dois medicamentos prescritos, um é consumido sem prescrição médica e comumente pela reutilização da receita, seja do próprio paciente, ou por aconselhamento de terceiros, tais como parentes, amigos, conhecidos e/ou balconistas de farmácia (HONORATO, 2014; LADEIRA et al., 2015). Anti-inflamatórios, antidepressivos, calmantes e antigripais são os medicamentos mais frequentemente relacionados à prática da automedicação dos consumidores brasileiros (ALEXANDRI et al., 2011; HONORATO, 2014).

As primeiras propagandas vinculadas a medicamentos no Brasil tiveram início na década de 80 (LIMA, 2012; PINA et al., 2012; HONORATO, 2014). O principal alvo das técnicas promocionais das indústrias farmacêuticas são os médicos e os principais argumentos atrelados às propagandas de medicamentos destacam a segurança e rapidez de ação do produto (AQUINO et al., 2010). Em 1976, ocorreu a publicação das primeiras normas para a propaganda de medicamentos no Brasil, conforme a Lei 6.360, regulamentada pelo Decreto 79.094 de 1977. Em novembro de 2000, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a RDC 102/2000, que reafirmou várias determinações já existentes, tais como: a propaganda de medicamentos não pode omitir as informações, induzir o consumidor ao erro em relação às características, quantidades, propriedades, origem ou quaisquer outras informações dos medicamentos, bem como deve constar, em português e de forma clara, informações acerca das contraindicações, devendo o medicamento, principalmente, ser registrado na ANVISA (NASCIMENTO, 2009; ALEXANDRI et al., 2011). Entretanto, mesmo com as regras relacionadas a propagandas de medicamentos, aproximadamente 90% dessas propagandas apresenta algum tipo de irregularidade. Cerca de 15% de 1,5 mil propagandas de medicamentos avaliadas pela ANVISA não apresentavam alerta de cuidados e advertências, 14% não indicavam as contraindicações e um pouco mais de 10% apresentavam informações sem comprovações científicas (CASTRO et al., 2013).

Mas será que as propagandas amplamente veiculadas nos meios de comunicação são as principais responsáveis pela automedicação? O objetivo geral desta pesquisa foi avaliar o papel das propagandas na automedicação e os objetivos específicos incluíram a avaliação do tipo de veiculação que mais influencia os clientes bem como os argumentos mais atraentes, os medicamentos mais envolvidos e as principais informações omitidas nas propagandas, conforme a visão dos usuários.

2. METODOLOGIA

Uma pesquisa foi realizada através da aplicação de questionários ao público em geral em uma farmácia comercial localizada na região central do município de Itaperuna – RJ, município localizado no noroeste fluminense com área territorial equivalente a 1.106,694 km2 e população estimada para 2019, conforme último Censo realizado em 2010, de 103.224 habitantes (IBGE, 2020). Os questionários foram aplicados durante o período de julho a setembro de 2017. As questões incluíram dados pessoais e dados referentes a propagandas e ao uso de medicamentos, sendo que previamente cada participante assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, a qual garante o sigilo em relação às informações e identificação dos pacientes (OLIVEIRA et al., 2010). Para realizar a avaliação dos resultados foi aplicada a estatística descritiva (GUEDES et al., 2005).

3. RESULTADOS

Na pesquisa, foram entrevistados 168 indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 18 e 66 anos, sendo 61,3% do sexo feminino (média de idade = 28,76 anos) e 38,7% do sexo masculino (média de idade = 27,32 anos).  Dentre eles, 64,3% declararam-se solteiros, 31,5% casados, enquanto 4,2% declararam outro estado civil. Avaliando as profissões, somam-se 45,2% de estudantes, 16,7% de comerciantes, 3% de trabalhadores em serviços gerais, 2,4% de aposentados e 32,7% de outras profissões, com menos de 2% cada. Em relação ao grau de escolaridade, constatou-se maioria de indivíduos com ensino superior incompleto (38,7%), seguido de 29,2% de indivíduos com ensino médio completo, 10,7% com ensino superior completo, 7,7% com pós-graduação, 4,2% com curso técnico completo, 3,5% com ensino médio incompleto e os outros graus de escolaridade com 3% ou menos cada. Quanto ao nível socioeconômico, configurou-se maioria pertencente à classe C1 (32,7%), seguida de 20,2% pertencente à classe A1, 14,9% à B2, 13,1% à A2, 11,9% à B1, enquanto as demais classes foram representadas por 4% ou menos.

Ao serem questionados se costumam prestar atenção em propagandas de medicamentos divulgadas em rádio, televisão (TV), revistas e/ou internet, 108 entrevistados (64,3%) declararam que sim e 60 (35,7%) que não (Gráfico 1). Nesse contexto, 91 entrevistados (54,2%) afirmaram que já compraram algum medicamento após acesso à propaganda do produto, enquanto 77 (45,8%) disseram que nunca o fizeram (Gráfico 2).

Dos entrevistados que afirmaram ter comprado medicamentos sob a influência de propagandas, 73,6% citaram a televisão como o meio de comunicação envolvido. A internet foi citada por 46,1% dos clientes, dado que revela o avanço da rede que já ultrapassa meios mais antigos como rádio, com 8,9%, e revistas, com 6,6% de citações (Gráfico 3).

Gráfico 1 – Percentual de entrevistados quanto ao hábito de prestar atenção nas propagandas de medicamentos.

Fonte: Autores

Gráfico 2 – Resposta dos entrevistados ao serem questionados sobre a compra de algum medicamento após acesso à propaganda do produto.

Fonte: Autores

Gráfico 3 – Meios de comunicação citados pelos entrevistados como influenciadores na compra de medicamentos.

Fonte: Autores

Ao avaliar a indicação dos medicamentos procurados pelos entrevistados, considerando que alguns citaram mais de um medicamento, os mais citados foram analgésicos (64,8%), seguidos de antigripais (34,1%) e antitussígenos (30,8%), entre outros medicamentos mencionados (Gráfico 4).

Gráfico 4 – Principais indicações de medicamentos comprados pelos entrevistados sob a influência da propaganda.

Fonte: Autores

Dentre os medicamentos procurados, referidos pelo nome comercial do produto, os mais citados apresentam na formulação a associação de ácido acetilsalicílico e cafeína (11,5% dos clientes), seguidos pela associação de dipirona monoidratada + maleato de clorfeniramina + cafeína (9,2%), dipirona + isometepteno + cafeína (8%), ibuprofeno (5,7%), dipirona sem associação (4,6%) e outros medicamentos citados por 4%, ou menos, dos clientes (Gráfico 5).

Gráfico 5 – Princípios ativos presentes nas formulações compradas pelos clientes entrevistados sob a influência da propaganda.

AAS = Ácido acetilsalicílico
Fonte: Autores

Questionados sobre o que chamou mais atenção na propaganda, a maioria dos entrevistados relatou que foi a informação de que aquele determinado medicamento resolveria o problema rapidamente (60,4%), enquanto que 45,1% afirmaram que foi a informação de que o medicamento era eficaz para vários problemas de saúde, seguidos de 19,8% que citaram o baixo custo do medicamento, dentre outros fatores citados por menos de 14% dos entrevistados (Tabela 1).  Vale salientar que vários entrevistados citaram mais de um quesito da propaganda.

Com relação ao nível de informação da propaganda de medicamentos sobre os riscos dos remédios anunciados, do total de entrevistados, 75,8% dos consumidores declararam que a propaganda não informa acerca dos efeitos colaterais, enquanto 24,2% afirmaram que tal informação é relatada; do mesmo modo, sobre a informação referente a prováveis contraindicações do medicamento, 36,3% afirmaram ter visto tal recomendação enquanto que 63,7% declararam que não foram alertados sobre isso (Gráfico 6). Comparativamente, observa-se falta de advertência sobre os riscos dos medicamentos anunciados, sendo que a omissão sobre os efeitos colaterais dos medicamentos foi a mais relatada pelos usuários.

Tabela 1 – Fatores citados pelos entrevistados que chamaram atenção nas propagandas de medicamentos, influenciando-os em sua compra.

Fatores que chamaram atenção nas propagandas de medicamentos Porcentagem de entrevistados
Rapidez no efeito 60,4%
Vários efeitos benéficos 45,1%
Baixo custo 19,8%
Sem riscos 13,2%
Nome fácil de lembrar 10,9%
Presença de ator/atriz, cantor(a) ou figura pública conhecida   7,7%

Fonte: Autores

Gráfico 6 – Nível de informação sobre riscos dos remédios anunciados (contraindicações e efeitos colaterais) apresentada pela propaganda de medicamentos, segundo relato dos entrevistados.

Fonte: Autores

4. DISCUSSÃO

Outros estudos relacionados à influência da propaganda na prática de automedicação também apontam a prevalência do sexo feminino (61,4%) e de solteiros (mais de 98%) entre os usuários (AQUINO et al., 2010).  Em contrapartida, estudos realizados na população urbana portuguesa revelam que os homens (28,4%) apresentaram maior prevalência na prática de automedicação em relação às mulheres (25,2%), mesmo resultado encontrado em um estudo realizado no Brasil (FREITAS et al., 2011).

A prevalência de automedicação é maior em indivíduos com maior grau de escolaridade, quando o conhecimento adquirido em relação ao fármaco pode conferir maior segurança levando a essa prática (FREITAS et al., 2011). No entanto, há pesquisas que demonstram que os praticantes de automedicação são indivíduos com baixa escolaridade (BORTOLON et al., 2008). Porém, neste quesito há que se considerar o grupo populacional avaliado e a região. Itaperuna é uma cidade onde estão estabelecidas três instituições de ensino superior, sendo assim, as oportunidades de estudo são maiores, o que pode explicar o maior número de entrevistados  cursando o ensino superior.

Uma pesquisa realizada em 2011 revelou que 76,28% dos entrevistados não se influenciam pelas propagandas para escolha do fármaco (FREITAS et al., 2011), uma controvérsia quando comparada a esta presente pesquisa, na qual 54,2% afirmaram já ter comprado algum medicamento após ter acesso a uma propaganda do produto.

O marketing farmacêutico utiliza com maior frequência a mídia televisiva tanto pela sua abrangência quanto pelo retorno financeiro, uma vez que possui capacidade de alcance em todo o território nacional, sendo os analgésicos, antigripais, anti-inflamatórios e antiácidos os mais divulgados (HONORATO, 2014). Esses dados estão em consonância com os resultados desta pesquisa em Itaperuna-RJ, que destacou a TV como o meio de comunicação que mais influência na compra dos medicamentos. Também está de acordo em relação às classes medicamentosas mais procuradas, assim como verificado em pesquisa realizada na Colômbia, na cidade de Pereira, que apontou os analgésicos como o grupo de medicamentos mais dispensados na automedicação (44,3%), de acordo com Machado-Alba et al. (2014).

Os resultados também estão de acordo com outros autores que citam os analgésicos e antitérmicos como os mais envolvidos na automedicação, sendo 52,1% e 14,3%, respectivamente (NOGUEIRA et al., 2015). O uso abusivo de analgésicos na prática da automedicação é resultante do alto índice de dor da população em geral, motivada ou desencadeada muitas das vezes por alguma patologia ainda desconhecida. Pesquisa realizada na Colômbia aponta a prevalência de cefaleia como principal causa do uso excessivo de analgésicos (4,8%), superior à prevalência em países desenvolvidos (ARRAIS et al., 2016). No dia-a-dia, é perceptível o maior marketing envolvendo medicamentos analgésicos, corroborando com os resultados obtidos na pesquisa em Itaperuna-RJ.

Ao se considerar os analgésicos de forma específica, a dipirona foi o princípio ativo mais presente nas formulações adquiridas pelos entrevistados, observando-se a preferência pelas formulações associadas. Em vários estudos referentes ao uso de analgésicos de ação periférica, esse princípio ativo se apresenta como um dos mais vendidos no Brasil, apesar de sua proibição em outros países. Essa proibição está associada a uma potencial agranulocitose como efeito indesejável; no entanto, estudos indicam que esse efeito é de rara ocorrência, com taxa equivalente a 0,96/milhão/ano (GAERTNER et al., 2016). Um estudo com dipirona mostrou que os seus efeitos adversos mais comuns são azia, náusea, dor epigástrica, vertigem leve e tontura (ARRAIS et al., 2016).

A rapidez no efeito foi o principal atrativo para o uso do medicamento verificado neste estudo em Itaperuna, discordando de pesquisa realizada com idosos catarinenses que afirmaram ser o baixo custo o fator que mais influência na compra de medicamentos isentos de prescrição médica (MATIAS; AGNES, 2018).

A maioria dos entrevistados citou a falta de informação acerca de efeitos colaterais e contraindicações dos medicamentos, sendo assim tais propagandas não se enquadram nas normas da RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008, da ANVISA, segundo a qual para os medicamentos isentos de prescrição médica devem ser informadas as advertências específicas conforme os princípios ativos, ou seja, as contraindicações (ANVISA, 2010).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme os resultados da pesquisa em Itaperuna-RJ, pode-se concluir que a propaganda de medicamentos influencia diretamente na prática da automedicação, sendo a rapidez no efeito um dos quesitos mais procurados pelos usuários. A televisão, seguida pela emergente internet, representa um dos principais meios de comunicação que pode influenciar na compra de medicamentos, com descumprimento de norma da ANVISA, pela falta de informações sobre efeitos colaterais e contraindicações, relatada pela maioria dos entrevistados. Trata-se de um problema de saúde pública e, dessa forma, necessária se faz uma fiscalização mais rigorosa por parte dos órgãos competentes sobre as propagandas de medicamentos, a fim de evitar riscos sanitários à população.

REFERÊNCIAS

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Vernizi, Marcela Duarte; Silva, Lisiane Lange da. A prática de automedicação em adultos e idosos: uma revisão de literatura. Revista Saúde e Desenvolvimento, v. 10, n. 5, p. 53-72, 2016. Disponível em: <https://www.uninter.com/revistasaude/index.php/saude Desenvolvimento/article/view/579/345>. Acesso em: 04/08/2020.

ANEXO

Graphs and Tables

Graph 1 – Percentage of respondents regarding the habit of paying attention to medicines advertisements.

Source: The authors.

Graph 2 – Answer of respondents when asked about purchasing some medicine after having access to its advertisement.

Source: The authors.

Graph 3 – Communication media cited by the interviewees that have already influenced them on the purchase of medicines.

Source: The authors.

Graph 4 – Main indications of drugs purchased by respondents under the influence of advertising.

Source: The authors.

Graph 5 – Active principles present in medicines formulations purchased by interviewed customers under the influence of advertising.

ASA = Acetylsalicylic acid
Source: The authors.

Table 1 – Factors cited by the interviewees that drew attention in the medicines advertisements, influencing them on their purchase.

Factors that drew attention in the medicines advertisements Percentage of interviewees
Quick effect 60.4%
Various beneficial effects 45.1%
Low cost 19.8%
Safety 13.2%
Easy to remember name 10.9%
Presence of popular actor / actress, singer or public figure   7.7%

Source: The authors.

Graph 6 – Level of information about drugs risks (contraindications and side effects) provided by the medicines advertisements, according to the interviewees’ report.

Source: The authors.

[1] Farmacêutica Bioquímica.

[2] Mestrado profissional em Pesquisa Operacional e Inteligência Computacional.

[3] Orientadora. Doutorado em Ciências Veterinárias.

Enviado: Outubro, 2020.

Aprovado: Dezembro, 2020.

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Denise Aparecida da Silva

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