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Assistência de enfermagem ao neonato com microcefalia

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

NOGUEIRA, Ana Carolina de Souza [1], BRASILEIRO, Marislei de Souza Espíndula [2], GONÇALVES, Marina Vieira [3]

NOGUEIRA, Ana Carolina de Souza. BRASILEIRO, Marislei de Souza Espíndula. GONÇALVES, Marina Vieira. Assistência de enfermagem ao neonato com microcefalia. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 05, Vol. 02, pp. 98-113 Maio de 2019. ISSN: 2448-0959

RESUMO

A microcefalia é uma condição em que um bebé tem uma cabeça mais pequena, quando comparada com a de outros bebés do mesmo sexo e idade. A microcefalia é um sinal clínico e não uma doença. Os bebés nascidos com microcefalia correm o risco de atraso no desenvolvimento e incapacidade intelectual, podendo também desenvolver convulsões e incapacidades físicas, incluindo dificuldades auditivas e visuais. No entanto, alguns dessas crianças terão um desenvolvimento neurológico normal. Este estudo teve como objetivo identificar a importância da assistência de enfermagem ao neonato com microcefalia. Tratou-se de estudo de revisão integrativa da literatura. Os dados foram coletados na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scielo e Lilacs. Foram critérios de inclusão periódicos publicados em português e inglês; periódicos publicados a partir de 2013 até 2018. Como resultado relevou-se três categorias: Cuidados da Enfermagem com o binômio Mãe/Recém-Nascido; Microcefalia no Brasil e a epidemia do vírus Zica; A assistência de enfermagem ao RN acometido pela microcefalia. Entendeu-se ao longo da pesquisa realizada que há deficiência dos cuidados de enfermagem à criança com microcefalia. Neste caso, a proposta é que mais estudos sejam desenvolvidos sobre o tema, buscando a construção de um protocolo para uma assistência de enfermagem efetiva e de qualidade à essas crianças.

Palavras chave: Enfermagem, RN, Microcefalia.

INTRODUÇÃO

As microcefalias congênitas são descritas como anomalias neurológicas, nas condições em que o encéfalo não se desenvolve adequadamente e o perímetro cefálico (PC) aferido no recém-nascido (RN) mostra-se inferior ao esperado para a idade gestacional e o sexo correspondente[4].

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define microcefalia como PC menor que -2 desvios-padrão (PC<-2DP), de acordo com o sexo e a idade gestacional ao nascer[5]. Tais parâmetros são determinados a partir de análises populacionais e padronização de técnicas de aferição, e conseguinte elaboração de cálculos e gráficos de referência: a curva de Fenton para os nascidos pré-termo (menos de 37 semanas de gestação); e as curvas OMS/2006 para os nascidos a termo (entre 37 e 42 semanas de gestação)1,[6].

A microcefalia pode estar associada a vários fatores ambientais e/ou genéticos. Entre os fatores ambientais, encontram-se hipóxia perinatal, infecções congênitas por STORCH (sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose e herpes-virose de tipo 2), exposição intrauterina à radiação ionizante, abuso de álcool e/ ou drogas, e fenilcetonúria materna. Entre os fatores genéticos, citam-se as alterações monogênicas (mendelianas), anomalias cromossômicas ou distúrbios multifatoriais (poligênicos). Alguns exemplos de síndromes genéticas que cursam com microcefalia são as síndromes de Seckel, Smith-Lemli-Optiz, Apert, Crouzon, Saethre-Chotzen, Pfeiffer e Carpenter[7]. Para os casos de microcefalia secundária à infecção congênita, são descritos sinais neurológicos como calcificação cerebral, atrofia cerebral, digenesia do corpo caloso, ventriculomegalia e lisencefalia. Os métodos de identificação dessas alterações por imagem são a ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética 1. A maioria das microcefalias são acompanhadas de alterações motoras e cognitivas, que variam segundo o acometimento encefálico2.

A prevalência de microcefalia com PC inferior a três desvios-padrão (PC<-3DP) para idade e sexo, no mundo, entre os anos de 1995 e 2008, foi de 5,9 casos por 100 mil nascidos vivos[8]. Para o mesmo período, a prevalência de microcefalia foi de 3,7/100 mil na América Latina e de 5,1/100 mil no Brasil, segundo o Estudo Colaborativo Latino-Americano de Malformações Congênitas (ECLAMC)[9]. Pesquisa com dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) indicou, para o período de 2000 a 2014, uma média anual de 164 casos de microcefalia; porém, em 2015, foram registrados 1.608 casos, com prevalência de 54,6/100 mil nascidos vivos[10]. Em outubro de 2015, seis meses após a confirmação da transmissão autóctone do vírus Zika nos estados do Nordeste brasileiro, constatou-se um aumento inesperado da ocorrência de microcefalias, principalmente em Pernambuco, mediante confirmação de 40 casos em crianças nascidas a partir de agosto de 2015[11].

Em 17 de janeiro de 2016, a Organização Pan- -Americana da Saúde (OPAS) informou que outros 17 países do continente americano haviam confirmado transmissão local do vírus Zika[12]. Frente à forte suspeita da relação entre o vírus Zika e o aumento das microcefalias, o Comitê Internacional de Regulação de Emergências em Saúde, convocado pela OMS e reunido em 1o de fevereiro de 2016, declarou que o evento constituía uma Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII)9.

Diante de todo o exposto, este estudo teve como objetivo identificar a importância da assistência de enfermagem ao neonato com microcefalia.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se um estudo de revisão integrativa da literatura que é definida pelos autores Souza, Silva e Carvalho (2010), que segundo eles, é muito importante a construção científica para que desenvolva habilidades de construir, utilizar e divulgar pesquisa. A revisão integrativa da literatura consiste na construção de uma análise ampla da literatura. O propósito inicial da pesquisa foi obter um profundo entendimento de um determinado fenômeno baseado em estudos retroativos.

Para este estudo utilizaremos as etapas preconizadas.

1º Etapa – Elaboração da questão de pesquisa: Qual a importância da assistência de enfermagem ao neonato com microcefalia?

2º Etapa – Amostragem ou busca da literatura dos estudos primários

Coleta de dados, será buscados em base de dados da biblioteca virtual de saúde, Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Bases de Dados da Enfermagem (BDEnf). Utilizaremos para este estudo publicações dos períodos 2010 a 2018, nos idiomas, português e inglês, as palavras chaves a serem utilizadas: saúde do homem, câncer de próstata, profissionais de saúde, sentimentos, atenção básica;

3ª etapaos critérios para coleta de dados serão os seguintes:

– Artigos descritivos sobre a questão citada que responda o problema encontrado e livros.

– Dos artigos e livros lidos será excluídos aqueles que não correspondem as questões necessárias para o estudo;

4º Etapa – Avaliação dos estudos primários incluídos na revisão

Foi realizada uma leitura analítica com a finalidade de analisar e ordenar as informações extraídas da fonte, de forma que nos possibilite achar resposta para o problema.

5º Etapa – Analise e síntese dos resultados da revisão

As categorias que surgiram da etapa anterior foram analisadas e discutidas a partir do referencial teórico relativo à temática do estudo.

6º Etapa – Apresentação da revisão integrativa

RESULTADOS

Com o intuito de responder os objetivos propostos foram selecionados artigos que enfatizam a temática abordada nesse trabalho. Os artigos foram organizados cronologicamente no quadro sinóptico abaixo (Quadro 1). Durante a busca na BVS foram encontrados inicialmente 86 artigos, contudo estavam disponíveis na integra 31 artigos. Com o intuito de responder os objetivos propostos foram selecionados 10 artigos.

QUADRO 1 – Identificação e Descrição do Conteúdo dos Artigos

Autores Título Objetivo MÉTODO RESULTADOS Ano
Donila, V, S. et al. A mãe adolescente e o recém-nascido pré-termo: um relato de experiência. Analisar a percepção de mães de prematuros sobre a vivência em um Programa de Educação em Saúde utilizando metodologia participativa. Coleta de dados Supervisionar os cuidados é o possível; cuidar integralmente do recém-nascido, envolvendo seus pais, é o ideal almejado. 2013
Ministério Da Saúde – Brasil Protocolo de atenção à saúde e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo vírus Zika Nortear os profissionais da atenção à saúde, por meio de orientações e diretrizes para as ações de prevenção da infecção pelo vírus Zika em mulheres em idade fértil e gestantes, para a atenção no pré-natal, parto e nascimento e para a assistência aos nascidos com microcefalia, em todo o território nacional. Diretrizes de atenção à saúde Considerando que o surto de microcefalia relacionada ao vírus zika é um evento incomum e inesperado, podendo apresentar impacto grave sobre a saúde pública, que as ações investigativas precisam ser realizadas com urgência 2015
Zanluca C, et al. First report of autochthonous transmission of Zika virus in Brazil. Revisar os achados de tomografia computadorizada e ressonância magnética da síndrome congênita pelo vírus Zika. Coleta de dados O vírus Zika (ZIKV) foi detectado pela reação em cadeia da polimerase por transcrição reversa dos soros de oito pacientes e o resultado foi confirmado pelo sequenciamento do DNA. A análise filogenética sugere que o ZIKV identificado pertence ao clado asiático. 2015
Farias, L. M. et al. Comunicação proxêmica entre a equipe de enfermagem e o recém-nascido na unidade neonatal. Analisar a comunicação proxêmica entre a equipe de enfermagem e o recém-nascido (RN) de risco internado na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Estudo descritivo exploratório A equipe de enfermagem deve ter consciência quanto à importância e influência dos signos não-verbais emitidos na comunicação durante a assistência de Enfermagem junto aos neonatos. 2015
Lamego, Denyse T. C.; Deslandes, Suely F.; Moreira, Maria Elisabeth L. Desafios para a humanização do cuidado em uma unidade de terapia intensiva neonatal cirúrgica. Analisar cuidados ambientais e relações de atendimento em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal Cirúrgica, refletindo sobre potencialidades e obstáculos para promoção de cuidado humanizado. Observação participante Posturas e práticas em UTIs Neonatais são permeadas por conflitos, negociações e adaptações ao trabalho, constituindo um desafio à construção de um modelo assistencial humanizado, que alie diferentes tecnologias, respeito e acolhimento às necessidades intersubjetivas de pacientes e profissionais e reconhecimento das lógicas culturais das famílias. 2015
Thomaz, Acp. et al. Relações afetivas entre mães e recém nascidos a termo e pré-termo variáveis sociais e perinatais. Analisar as primeiras relações afetivas entre mães de recém-nascidos a termo e pré-termo na Maternidade do Hospital Universitário/UFAL, verificar as diferenças na relação afetiva entre esses dois grupos de mães e a importância do contato físico para a formação dessa primeira relação. Entrevista e observação Todas as mães estabeleceram ligações afetivas com seus bebês, mesmo nas situações em que o recém-nascido não foi planejado; a relação das mães pré-termo mostrou-se mais difícil, evidenciando que o contato físico é importante para a formação do vínculo afetivo mãe-bebê. 2015
Heymann DL, et al. Zika virus and microcephaly: why is this situation a PHEIC? Investigação da ocorrência de microcefalia em RN associado ao Zica Virus Diretrizes da OMS As reuniões virtuais nos permitirão revisar a ação coletiva global e aprender com a OMS sobre o progresso na compreensão da atual situação de distúrbios microcefalia e neurológicos e o progresso na implementação das medidas cautelares e preparatórias relacionadas ao zika.. 2016
Oliveira, Consuelo Silva De; Vasconcelos, Pedro Fernando Da Costa. Microcefalia e vírus zika. Descrever a ocorrência e as características dos casos de microcefalia no Brasil Coleta de dados Em conclusão, a emergência de um arbovírus “quase desconhecido” e sua associação causal com diferentes quadros clínicos e com gravidade especialmente em fetos e em adultos portadores de imunodepressão e autoimunidade abre um leque de oportunidades para muitos estudos, mas as perspectivas de disseminação desse arbovírus por outros continentes, num mundo globalizado, requerem uma pronta resposta coordenada pela OMS, mas com o aval e o apoio financeiro de todos os Estados-membros e da sociedade civil do mundo 2016
Kindhauser MK, et al. Zika: the origin and spread of a mosquito-borne virus [Submitted]. Bull World Health Organ. Descrever a distribuição temporal e geográfica da infecção pelo zika vírus e dos distúrbios neurológicos associados, de 1947 a 1º de fevereiro de 2016, quando o Zika se tornou uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Revisão de literatura A infecção pelo zika vírus em humanos parece ter mudado de caráter à medida que sua distribuição geográfica se expandiu a partir da África equatorial e da Ásia. A mudança é de uma infecção endêmica, transmitida por mosquitos, causando uma doença leve a uma que pode causar grandes surtos associados a sequelas neurológicas e anormalidades congênitas. 2016
Ribeiro IG, et al. Microcephaly in Piauí, Brazil: descriptive study during the Zika virus epidemic, 2015-2016 Descrever a ocorrência e as características dos casos de microcefalia no Piauí, Brasil, durante epidemia do vírus Zika em 2015-2016. Estudo de caso Dos 75 casos de microcefalia, 34 foram relacionados a processo infeccioso congênito; a prevalência de microcefalia foi de 13,6/10 mil nascidos vivos; exames de imagem confirmaram que 34 nascidos vivos apresentavam calcificações, 23 atrofias cerebrais, 14 lisencefalia, 12 ventriculomegalia e 6 digenesias; nenhum apresentou resultado positivo para STORCH, dengue ou chikungunya; 1 referiu Zika IgM reagente. 2018

Fonte: elaborado pela autora

DISCUSSÃO

Dos estudos analisados submergiram categorias que serão relatadas a seguir: Cuidados da Enfermagem com o binômio Mãe/Recém-Nascido; Microcefalia no Brasil e a epidemia do vírus Zica; A assistência de enfermagem ao RN acometido pela microcefalia.

CUIDADOS 2 BÁSICOS DA ENFERMAGEM COM O BINÔMIO MÃE/RECÉM-NASCIDO

O profissional de saúde presente no nascimento é parte contribuinte ou não deste processo, proporcionando a aproximação precoce entre a mãe e o filho, para que o vínculo se estabeleça. Segundo Cruz, Sumam e Spindola[13]:

Em condições satisfatórias para mãe e o RN, após o parto, é necessário estimular o contato físico entre ambos e a amamentação precoce devido serem fatores que contribuem para o estabelecimento ou continuidade do vínculo e favorecem a contratilidade uterina além de auxilia – lá no processo de amamentação.

Os cuidados imediatos podem ser realizados de diferentes formas de acordo com o tipo de modelo de assistência adotado. Logo após o nascimento o bebê deve ser encaminhado para a mãe. A Separação do cordão umbilical após o nascimento contribui para a separação do binômio e atrapalha o contato e aproximação antecipada de ambos. No modelo de assistência humanizada percebe-se que apesar da secção do cordão umbilical ser um cuidado imediato, desde que a mãe esteja em boas condições, não é necessário a realização do procedimento após o nascimento, podendo observar o contato da mãe com seu RN.

No modelo medicalizado, quando o bebê nasce, o cordão umbilical é cortado, levanta a criança para a mãe visualizar e logo após a mesma é levada para o berço aquecido, não existindo qualquer tipo de aproximação e interação entre o binômio, dificultando ao processo de continuidade ao vínculo precoce que é estabelecido após o nascimento11.

Considera-se um contato importante a ser estabelecido entre a mãe e o RN o contato visual. Estudos demonstraram a presença de movimentos oculares de bebês de zero a seis meses observando a existência de uma fixação rudimentar desde o primeiro dia de vida que se estabilizava em torno do quinto dia. Quando a mãe é a pessoa mais próxima, que tem mais contato com o bebê e oferece outras estimulações, seu rosto se torna o primeiro objeto atraente que surge no campo visual do RN[14].

A ligação humanizadora de assistência ao parto e nascimento estabelece que os profissionais estimulem a aproximação entre mãe e bebê no pós-parto imediato, em contato com a pele. A importância da proximidade e do toque entre ambos é demonstrada em pesquisas que evidenciam as vantagens no estado de saúde, atenção e responsividade dos filhos que foram carregados no colo comparando-se com os que não foram, é demonstrando também que logo após nascer apresentavam diminuição de resfriados, gripes, vômitos, diarréias em relação aos que não realizaram o processo entre mãe e filho[15].

Existe um período sensível, após o parto. O contato intenso e ininterrupto da mãe com o bebê durante esta fase, gera a receptividade precoce da mãe e sua adaptação, oferecendo continuidade ao vínculo que começou a ser gerado durante a gestação. A amamentação ocorre mais cedo e estreitamento emocional são benefícios provenientes, do contato inicial11.

Os cuidados prestados ao bebê antes do parto e as sensações que são oferecidas geradas pelo momento têm importância para as mães. A aproximação (ou não) entre mãe e filho após o parto é dependente da conduta do profissional que acompanhará a mulher durante o processo de parturição, de suas crenças e valores e também da política institucional12.

O momento de auxílio prestado ao RN se torna trágico e desumano devido à falta de conhecimento sobre procedimentos realizados, como também a utilização de remédios para tratar infecções, fazendo com que os profissionais (médicos e enfermeiros) adote regras que nem sempre é o desejo de todos (proibição de visitas, leitos individuais em enfermarias) com a intenção de combate de infecções[16].

É necessário incluir o hospital nesse cuidado. Em alguns casos a equipe de Saúde pode afastar ainda mais a relação mãe-filho. O grupo se identificando com o bebê, oferecendo a assistência necessária e negligenciando as necessidades de dependência e cuidado da mãe, cria uma relação de oposição tornando uma equipe incapaz de atendê-los [17]

O cuidado neonatal humanizado envolve o respeito ás diferenças e individualidades, garantindo com tecnologias a segurança do recém-nascido e acolhendo tanto o bebê como sua família, com o interesse de facilitar o vínculo mãe e bebê precocemente. Durante a internação em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal a criança fica exposta a dor, estresse, barulhos de equipamentos, manuseio em excesso, procedimentos invasivos dolorosos e conversas de funcionários[18].

Segundo Cruvinel e Pauletti16 identificar situações desagradáveis com o recém-nascido pré-termo ou de baixo peso é importante para o seu desenvolvimento normal, prevenindo e diminuindo o aparecimento de várias outras deficiências. A equipe de UTIN pode oferecer suporte ao desenvolvimento neurocomportamental, realizando modificações no meio ambiente e utilizando estratégias para promover e integrar os princípios dos cuidados voltados para o desenvolvimento baseando-se na família.

MICROCEFALIA NO BRASIL E A EPIDEMIA DO VÍRUS ZICA

A microcefalia é uma condição em que um bebé tem uma cabeça mais pequena, quando comparada com a de outros bebés do mesmo sexo e idade. A microcefalia é um sinal clínico e não uma doença. Os bebés nascidos com microcefalia correm o risco de atraso no desenvolvimento e incapacidade intelectual, podendo também desenvolver convulsões e incapacidades físicas, incluindo dificuldades auditivas e visuais. No entanto, alguns dessas crianças terão um desenvolvimento neurológico normal[19].

Com a confirmação dos primeiros casos de febre zika no Brasil em maio de 2015, inicialmente nos estados do Nordeste,[20] observou-se uma rápida dispersão do vírus para as outras regiões do país e seguiu-se o aumento expressivo das notificações de recém-nascidos com microcefalia no Sistema de Informação de Nascidos Vivos (Sinasc), com o registro de 141 casos suspeitos de microcefalia em novembro de 2015, no Estado de Pernambuco, e depois foi detectado um excesso de números de casos em outros estados do Nordeste (Paraíba e Rio Grande do Norte), além dos registros de abortos espontâneos e natimortos. Frente a esse novo cenário, o Ministério da Saúde do Brasil declarou o evento como de emergência em saúde pública de importância nacional.[21] Constatou-se ainda que os primeiros meses de gestação das crianças que nasceram com microcefalia corresponderam ao período de maior circulação do vírus zika na região Nordeste e que não havia correlação com histórico de doença genética na família ou exames com padrão de outros processos infecciosos conhecidos[22].

O nexo causal foi feito pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), do Ministério da Saúde, ao isolar o ZIKV do cérebro e ao fazer a detecção desse vírus no LCR, cérebro e nos fragmentos de várias vísceras (coração, pulmão, fígado, baço e rim) de um recém-nascido que evoluiu a óbito logo após o nascimento.20 Posteriormente, esses resultados foram reforçados com a detecção de anticorpos IgM para ZIKV no LCR de 12 crianças que nasceram com microcefalia. Todos os exames para outros agentes infecciosos associados ao que clinicamente é conhecido como síndrome Torch [toxoplasmose (tuberculose), outras infecções, rubéola, citomegalovírus, herpes simples 1 e 2], bem como para dengue e chikungunya foram negativos.

Ribeiro et al.[23] realizou um estudo com o objetivo de descrever a ocorrência e as características dos casos de microcefalia no Piauí, Brasil, durante epidemia do vírus Zika em 2015-2016. Tratou-se de estudo descritivo com dados dos nascidos vivos no período de janeiro/2015 a janeiro/2016, obtidos do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), do Registro de Eventos em Saúde Pública (RESP) e de busca ativa em prontuários; mães e nascidos vivos foram testados para dengue, chikungunya e Zika, além de sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes (STORCH). Os resultados mostraram que dos 75 casos de microcefalia, 34 foram relacionados a processo infeccioso congênito; a prevalência de microcefalia foi de 13,6/10 mil nascidos vivos; exames de imagem confirmaram que 34 nascidos vivos apresentavam calcificações, 23 atrofias cerebrais, 14 lisencefalia, 12 ventriculomegalia e 6 digenesias; nenhum apresentou resultado positivo para STORCH, dengue ou chikungunya; 1 referiu Zika IgM reagente. Os autores concluíram que houve surto de microcefalia no Piauí, possivelmente relacionado à infecção gestacional pelo vírus Zika.

Face à gravidade da situação, à rápida disseminação do ZIKV pelo continente americano, às dificuldades de diagnóstico para uma arbovirose emergente nas Américas e o risco elevado de o vírus se espalhar por outros continentes, a OMS declarou a epidemia causada pelo ZIKV como um evento de importância em saúde pública internacional, em consonância do regulamento sanitário internacional, e convocou um comitê de emergência. A divulgação da nota da OMS seguiu-se de uma descrição do evento.[24]

A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO RN ACOMETIDO PELA MICROCEFALIA

O Ministério da Saúde[25],no “Protocolo de atenção à saúde e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo vírus Zika”, preconiza que na atenção ao RN com Microcefalia devem ser seguidas as recomendações de garantir o contato pele-a-pele, o clampeamento do cordão umbilical em tempo oportuno (após cessados os batimentos, que se verifica, geralmente, em 1 a 3 minutos do nascimento), a amamentação na primeira hora de vida e a realização de procedimentos de rotina somente após esse período.

Ainda o “Protocolo de atenção à saúde e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo vírus Zika”23 afirma que deve-se realizar o exame físico do recém-nascido, incluindo exame neurológico detalhado, com destaque para: Medição precisa do perímetro cefálico, adotando como valor de referência para definição de microcefalia para o recém-nascido a termo o perímetro cefálico ≤ 32 cm ao nascimento, conforme a curvas da OMS. Para o recém-nascido pré-termo, o perímetro cefálico menor que -2 desvios padrões, pela curva de Fenton. orienta-se que a medição seja refeita com 24-48h de vida, sendo que, no caso desta segunda medição estar acima do parâmetro de corte, a criança deve ser excluída da continuidade da investigação de microcefalia, necessitando ser acompanhada clinicamente quanto a evolução do PC e avaliação do desenvolvimento.

Todos os bebês com confirmação de microcefalia devem manter as consultas de Puericultura na Atenção Básica. Além de ser acompanhados por meio da puericultura, também devem ser encaminhados para estimulação precoce em serviço de reabilitação (Centro Especializado de Reabilitação, Centro de Reabilitação em Medicina Física, Centro de Reabilitação Física – nível intermediário, Serviço de Reabilitação Intelectual); por fisioterapeuta, fonoaudiólogo ou terapeuta ocupacional vinculados às equipes da atenção básica; ou em Ambulatório de Seguimento de Recém-Nascido de Risco23.

A vinculação com a Unidade Básica de Saúde é fundamental para este acompanhamento, mesmo que a criança necessite ser acompanhada em serviço especializado. O atendimento na Atenção Básica e na Atenção Especializada, de forma compartilhada, faz com que essas crianças sejam mais bem assistidas e as famílias amparadas. No SUS, estão disponíveis serviços de atenção básica, serviços especializados de reabilitação, de exame e diagnóstico e hospitalares, além de órteses e próteses e meio auxiliar de locomoção nos casos em que se aplicar.

A equipe de saúde tem um papel importante no atendimento à puérpera, ao seu bebê e aos familiares, fornecendo informações para esclarecer dúvidas e anseios, apoiando a família e devendo também observar problemas na relação dos pais com os bebês, a comunicação entre mãe e bebê durante a amamentação, como a mãe e os cuidadores se comportam quando a criança está mais agitada e chorosa. E, em caso de microcefalia, o crescimento e o desenvolvimento da criança devem ser observados por toda a equipe de Atenção Primária, na visita domiciliar, nos momentos de vacinação na unidade básica de saúde e nas consultas de rotina.

CONCLUSÃO

A incidência de microcefalia no Brasil apresentou um aumento considerável a partir de 2015, sendo considerada um grave problema de saúde. No entanto, pouco de tratou da assistência de enfermagem à criança e à família.

Ressalta-se que é muito importante que haja uma parceria entre a família e os profissionais que acompanham a criança, buscando estratégias para uma assistência de saúde de qualidade, que atenda as necessidades que surgirão ao longo dos anos.

Diante do exposto nessa pesquisa, fica clara a deficiência dos cuidados de enfermagem à criança com microcefalia. Neste caso, a proposta é que mais estudos sejam desenvolvidos sobre o tema, buscando a construção de um protocolo para uma assistência de enfermagem efetiva e de qualidade à essas crianças.

REFERÊNCIAS

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  2. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Centers for Disease Control and Prevention (US). International Clearinghouse for Birth Defects Surveillance and Research. Birth defects surveillance: a manual for programme managers [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2014. 116 p. Disponível em: http://apps.who. int/iris/bitstream/10665/110223/1/9789241548724_ eng.pdf?ua=1&ua=1. Acesso em: 10/2018.
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  6. CASTILLA EE, ORIOLI IM. ECLAMC: the Latin-American collaborative study of congenital malformations. Community Genet. 2004;7(2-3):76-94.
  7. MARINHO F, ARAÚJO VEM, PORTO DL, FERREIRA HL, COELHO MRS, LECCA RCR, et al. Microcefalia no Brasil : prevalência e caracterização dos casos a partir do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), 2000-2015. Epidemiol Serv Saúde. 2016 out-dez;25(4):701-12.
  8. FANTINATO FFST, ARAÚJO ELL, RIBEIRO IG, ANDRADE MR, DANTAS ALM, RIOS JMT, et al. Descrição dos primeiros casos de febre pelo vírus Zika investigados em municípios da região Nordeste do Brasil, 2015. Epidemiol Serv Saúde. 2016 out-dez;25(4):683-90.
  9. HENRIQUES CMP, DUARTE E, GARCIA LP. Desafios para o enfrentamento da epidemia de microcefalia. Epidemiol Serv Saúde. 2016 jan-mar;25(1):7-10.
  10. CRUZ, D. C. S.; SUMAN, N. S.; SPINDOLA, T. Os cuidados imediatos prestados aos recém-nascido e a promoção do vínculo mãe-bebê. Revista Escola Enfermagem USP, São Paulo, v.41, n.4, Dezembro. 2017.
  11. FARIAS, L. M. et al. Comunicação proxêmica entre a equipe de enfermagem e o recém-nascido na unidade neonatal. Revista Rene, Fortaleza, v.11, n.2, p.1-212, abr./jun. 2015.
  12. LAMEGO, DENYSE T. C.; DESLANDES, SUELY F.; MOREIRA, MARIA ELISABETH L. Desafios para a humanização do cuidado em uma unidade de terapia intensiva neonatal cirúrgica. Ciência e Saúde coletiva, v. 10, n. 3, p. 669-675, 2015.
  13. DONILA, V, S. et al. A mãe adolescente e o recém-nascido pré-termo: um relato de experiência. Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, 2013.
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  15. CRUVINEL, F. G.; PAULETTI, C. M. Formas de atendimento humanizado ao recém nascido pré-termo ou de baixo peso na unidade de terapia intensiva neonatal: uma revisão. Cadernos de Pós-Graduação do Distúrbios do Desenvolvimento. São Paulo. v. 9, n. 1. p. 102-125. 2013.
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[1] Graduanda da Pós-Graduação Do Centro De Estudos De Enfermagem E Nutrição – CEEN/PUC-GO.

[2] Professora Doutora Orientadora da Pós-Graduação Do Centro De Estudos De Enfermagem E Nutrição – CEEN/PUC-GO.

[3] Professora Coorientadora do Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação da Bahia – IFBA.

Enviado: Março, 2019

Aprovado: Maio, 2019

 

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Ana Carolina de Souza Nogueira

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