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Relação entre transtornos psiquiátricos e manifestações cardiovasculares

RC: 135523
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/manifestacoes-cardiovasculares

CONTEÚDO

REVISÃO INTEGRATIVA

FREIRE, Matheus Rodrigues Sardinha Drumond [1], COSTA, Arielly da Silva [2], MARIM, Eloísa Leal Silva [3], CONCEIÇÃO JÚNIOR, Jorge José da [4], VALADÃO, Maria Ferron [5], SILVA, Natália Rodrigues da [6], MARCELINO, Regina Célia [7], VELOSO, Brenda Mendes [8]

FREIRE, Matheus Rodrigues Sardinha Drumond. et al. Relação entre transtornos psiquiátricos e manifestações cardiovasculares. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 12, Vol. 05, pp. 142-159. Dezembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/manifestacoes-cardiovasculares, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/manifestacoes-cardiovasculares

RESUMO 

Os transtornos psiquiátricos são uma variedade de doenças que afetam o comportamento, humor e raciocínio de determinado grupo de indivíduos. Por causa desse problema, observam-se nos pacientes psiquiátricos menor Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) e comprometimento reduzido nas atividades do cotidiano. Além disso, tais afecções afetam outros sistemas do corpo humano, destacando-se o sistema cardiovascular, no qual tais patologias podem interferir no curso das doenças que acometem o coração e os vasos sanguíneos. Nesse contexto, elaborou-se a questão norteadora do estudo: qual a relação entre os transtornos psiquiátricos e as doenças cardiovasculares? Esta pesquisa tem como objetivo principal identificar o modo como se relacionam os distúrbios psiquiátricos e as afecções cardiovasculares. Trata-se de uma pesquisa de revisão de literatura do tipo integrativa, abordagem exploratória e caráter qualitativo. Assim, para a composição desta revisão, 20 artigos foram selecionados e posteriormente avaliados de maneira criteriosa. Os principais resultados indicaram que os acometimentos de saúde mental acarretam ao paciente maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Também foi evidenciado que as situações de estresse e depressão alteram o desenvolvimento natural de doenças cardíacas de maneira patológica e por consequência, observa-se diminuição da qualidade de vida de pacientes com doenças no coração e vasos. Vale ainda ressaltar que a má resposta aos métodos terapêuticos, a mortalidade elevada e o aumento das taxas de internação são acontecimentos característicos dos pacientes concomitantemente acometidos de doenças cardíacas e psiquiátricas. Assim, equipes especializadas são formadas para atender esses pacientes, dada a maior gravidade da doença cardíaca quando associada ao distúrbio psiquiátrico. Por fim, fatores comportamentais de vulnerabilidade, neuropsicológicos e estressores prejudicam os cardiopatas, o que mostra a suma importância da adesão e do correto tratamento desses pacientes, que contempla as medicações, equipes multidisciplinares e mudança de estilo de vida, a fim de potencializar o cuidado terapêutico e seus benefícios associados. 

Palavras-chave: Doenças cardiovasculares, Fatores de risco cardiovascular, Transtornos mentais. 

1. INTRODUÇÃO 

À medida que à população de idosos maximiza mundialmente, as questões referentes a senescência e a senilidade se tornam cada vez mais relevante para o sistema de saúde pública.  Ademais, o grupo populacional em questão se encontra em circunstâncias de maiores vulnerabilidades para o desenvolvimento de problemas crônicos de saúde, os quais podem estar associados a fatores de risco modificáveis, como a alimentação não saudável, o tabagismo e a inatividade física. Referente aos aspectos não modificáveis estes incluem: idade e sexo. Dentre os distúrbios crônico-degenerativos mais frequentes em idosos as Doenças Cardiovasculares (DCV) apresentam grande destaque. Associada às DCV, tem-se também alta prevalência de doenças psicossomáticas e de transtornos psicológicos, sendo a depressão a mais comum (ZHANG; CHEN; MA, 2018).

A depressão comumente é caracterizada por anedonia, isto é, a incapacidade de sentir prazer ou alegria, inclusive em condições e atividades em ambientes agradáveis. Repercutindo, desse modo, em alterações nocivas no sono e apetite, nas experiências sexuais e no contato social desses indivíduos. Além disso, essa prostração é igualmente seguida de sintomas somáticos como os distúrbios psicológicos, irritação, fadiga e oscilações de peso, assim como de sintomas cognitivos de baixa concentração e cognições negativas que incluem o pessimismo e as ideias de fracasso. Os indícios são inespecíficos e podem se sobrepor aos atos comportamentais próprios. Outrossim, um comprometimento emocional durante a hospitalização é habitualmente reconhecido como uma reação normal à doença ou à doença orgânica (BUCCIARELLI et al., 2020).

Referente às doenças cardiovasculares, estas são consideradas as principais causas de morte na população em geral. A elevada taxa de mortalidade por DCV também é observada em pacientes com patologias neurológicas, sugerindo uma conexão entre essas duas populações. Acerca dos quadros clínicos que compõem as DCV, são presentes condições incapacitantes, por exemplo a Insuficiência Cardíaca Coronariana (ICC) e o Acidente Vascular Encefálico (AVE). Em relação às manifestações de incapacidade variável, estas englobam a Doença Arterial Coronariana (DAC) e doenças com pequena repercussão na funcionalidade, como a hipertensão arterial sistêmica. Normalmente, um agrupamento de aspectos comportamentais e psicossociais são mediadores para a elevação do risco de DCV, compreendendo a prática do tabagismo, a má alimentação, o sedentarismo, a obesidade, o abuso de álcool e substâncias, a não aderência aos fármacos e entre outros fatores. Os comportamentos listados são bastante evidentes em pacientes com transtornos psiquiátricos, dessa forma, acredita-se que tais fatores de risco represente um efeito aditivo para o desenvolvimento de DCV em pacientes com distúrbios neurológicos (BERNARDI; AROMOLARAN; AROMOLARAN, 2021).

Segundo Bernardi; Aromolaran e Aromolaran (2021), os estudos epidemiológicos apontam que a depressão é desproporcionalmente mais prevalente entre pacientes portadores de doença arterial coronariana quando comparado à população em geral. Além disso, a predominância estimada da DAC em pacientes com depressão varia entre 20% a 40%. Referente a justificativa para a ocorrência dessa associação, os autores listam os fatores de risco presentes em pacientes depressivos que favorecem o desenvolvimento da doença arterial coronariana. Apesar dos impactos diretos ou indiretos sobre a DAC, o seu pronto reconhecimento e tratamento da DCV abordada são reconhecidamente significativos, em razão da capacidade de reestabelecer a qualidade de vida e possibilitar o bem-estar desses indivíduos. Outros estudos em pacientes com depressão evidenciaram risco de 1,6 vezes maior para a ocorrência de eventos cardiovasculares em comparação com pacientes não depressivos, essa estimativa corresponde aos primeiros vinte e quatro meses posteriores ao diagnóstico de DAC (NASSER et al., 2016).  

Em conformidade com o exposto, o presente estudo apresenta como questionamento central: qual a relação entre os transtornos psiquiátricos e as doenças cardiovasculares? Esta pesquisa tem como finalidade identificar as principais associações entre os estados clínicos em questão.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de uma revisão de literatura do tipo integrativa, de abordagem exploratória e caráter qualitativo, através de levantamentos bibliográficos em bases de dados livre Scielo e PubMed.

Neste contexto, para a identificação de estudos sobre o tema foi utilizado os Descritores em Ciências da Saúde nos idiomas português, inglês e espanhol para configuração da seguinte fórmula de busca que, em sequência, seria utilizada nas bases de dados: “(Depressão OR Sintomas Depressivos OR Depression OR Depresión OR Ansiedade OR Angústia OR Ansiedade Social OR Hipervigilância OR Nervosismo OR Anxiety OR Ansiedad) AND (Cardiopatias OR Cardiopatia Grave OR Doenças Cardíacas OR Doenças do Coração OR Heart Diseases OR Cardiopatías)“.

Foram incluídos artigos que atendessem aos seguintes critérios: publicações no período de 2014 a 2022; artigos em português, inglês ou espanhol; artigos que respondem à questão de pesquisa. Nesta perspectiva, foram excluídos aqueles publicados antes de 2014, bem como os trabalhos de metanálise e revisão sistemática. Finalmente, após uma análise dos títulos e conteúdo dos respectivos estudos, restaram 20 artigos, os quais compõem esta revisão de literatura.

Os artigos obtidos neste processo foram avaliados de forma criteriosa a fim de responder à pergunta norteadora da pesquisa sobre a relação entre transtornos psiquiátricos e as manifestações cardiovasculares.

2.2 RESULTADOS

A fim de proporcionar melhor compreensão dos artigos selecionados para compor esta revisão, a Tabela 1 descreve os seus principais resultados.

Tabela 1: Principais Resultados dos Artigos Selecionados para Pesquisa

Autor/Ano/País Título Principais Resultados
ZHANG; CHEN; MA, 2018, China Depression and cardiovascular disease in elderly: Current understanding O estudo concluiu que a depressão surge como fator de risco cardiovascular relevante. Além disso, a combinação da depressão com as doenças cardiovasculares pode piorar a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS).
CELANO et al., 2018, Estados Unidos Depression and Anxiety in Heart Failure: A Review O estudo mostrou que a depressão e os transtornos de ansiedade, por mecanismos fisiopatológicos ainda não elucidados, podem gerar Insuficiência Cardíaca (IC).
COHEN; EDMONDSON; KRONISH, 2015, Estados Unidos State of the Art Review: Depression, Stress, Anxiety, and Cardiovascular Disease Doenças que afetam a saúde mental dos indivíduos são fatores de risco para o desenvolvimento e progressão de doenças cardiovasculares.  A American Heart Association, reconheceu oficialmente que a depressão influencia negativamente o prognóstico de pacientes com histórico síndrome coronariana aguda
DE HERT; DETRAUX; VANCAMPFORT, 2018, Bélgica The intriguing relationship between coronary heart disease and mental disorders Indivíduos diagnosticados com ansiedade, estresse persistente ou intenso, bem como transtorno de estresse pós-traumático, correm alto risco de desenvolver Doença Arterial Coronariana (DAC). Esses transtornos psiquiátricos ainda podem aumentar os índices de morbidade e mortalidade em decorrência de doenças cardiovasculares.
BUCCIARELLI et al., 2020, Itália Depression and cardiovascular disease: The deep blue sea of women’s heart Pacientes com doenças cardíacas são mais propensos a desenvolver transtorno depressivo quando comparados com pacientes sem doenças de acometimento cardíaco.
HARE et al., 2014, Austrália Depression and cardiovascular disease: a clinical review A combinação de atividade física, terapias de fala e medicamentos antidepressivos reduziu a incidência de depressão e doenças cardiovasculares em pacientes.
LI et al., 2020, China Effects of a transtheoretical model – based intervention and motivational interviewing on the management of depression in hospitalized patients with coronary heart disease: a randomized controlled trial Este estudo confirma que a intervenção psicológica baseada no modelo transteórico e a intervenção motivacional podem produzir efeitos positivos na depressão em pacientes hospitalizados com doenças cardiovasculares. A intervenção poderia elevar os níveis cognitivo e comportamental, e trazer diversos benefícios ao paciente.
SBOLLI et al., 2020, Itália Depression and heart failure: the lonely comorbidity Existe uma relação subdiagnosticada entre depressão comórbida e insuficiência cardíaca, e no intuito de reverter essa deficiência, novas abordagens estão sendo estudadas para diagnosticar e tratar os comportamentos depressivos em pacientes com IC, mediante uma equipe multidisciplinar.
FUJITANI; OTANI; MIYAJIMA, 2021, Japão Do Neurotrophins Connect Neurological Disorders and Heart Diseases? Observou-se uma relação complexa entre distúrbios do Sistema Nervoso Central (SNC) e a disfunção cardíaca no chamado “eixo cérebro-coração”. O sistema cardiovascular pode sofrer alterações na sua função por patologias do SNC, como Acidente Vascular Cerebral (AVC), doenças neurodegenerativas e depressão.
DI PALO, 2020, Estados Unidos Psychological Disorders in Heart Failure A atuação de uma equipe multidisciplinar contribui positivamente no prognóstico de pacientes portadores de IC e depressão.
SCHNABEL et al., 2021, Alemanha Heart and brain interactions : Pathophysiology and management of cardio-psycho-neurological disorders A consciência das ligações fisiopatológicas entre doenças cardiovasculares e transtornos de saúde mental estão crescendo, juntamente, com uma melhor compreensão dos seus mecanismos básicos. Desse modo, nota-se um impacto relevante nos resultados clínicos de tais pacientes.
DETER et al., 2021, Alemanha Depression, anxiety, and vital exhaustion are associated with pro-coagulant markers in depressed patients with coronary artery disease – A cross sectional and prospective secondary analysis of the SPIRR-CAD trial Os mecanismos do estado hipercoagulante desencadeiam eventos cardíacos em pacientes com DAC. Ademais, a presença de sintomas depressivos e ansiedade preveem um curso desfavorável da doença arterial coronariana.
MADSEN et al., 2021, Dinamarca External validity of randomized clinical trial studying preventing depressive symptoms following acute coronary syndrome Pacientes com sintomatologia de depressão e ansiedade eram mais propensos a desenvolver angina instável com o avançar da idade.
ROSEMAN; KOVACS, 2019, Estados Unidos Anxiety and Depression in Adults with Congenital Heart Disease: When to Suspect and How to Refer A população de adultos com doenças cardíacas cresce significativamente ao longo dos anos. Além disso, observou-se aumento do desenvolvimento de transtorno de humor e ansiedade. Por isso equipes de atendimento estão sendo criadas para trabalhar as demandas psicossociais.
ROSEMAN; MORTON; KOVACS, 2021, Estados Unidos Health anxiety among adults with congenital heart disease A ansiedade pode surgir em qualquer ponto da vida de adultos com Doença Cardíaca Congênita (DCC) e a origem dessa ansiedade é a preocupação com a saúde. Esses pacientes também apresentavam doença coronariana de maior complexidade.
MEESMANN, 2021, Alemanha Premature complexes, anxiety and quality of life Pacientes com batimento prematuro pós-extra-sistólico aumentado tiveram maiores quadros de ansiedade e desconforto. A origem desses sintomas é a preocupação com seu estado de saúde. A ansiedade desses indivíduos ainda pode mimetizar sintomas de dispneia de IC.
CHAUVET-GELINIER; BONIN, 2017, França Stress, anxiety and depression in heart disease patients: A major challenge for cardiac rehabilitation A resposta biológica, psicológica e cognitiva ao estresse crônico pode desempenhar papel importante no curso da doença cardíaca, influenciando os desfechos da doença.
SADLONOVA et al., 2021, Alemanha Health-related quality of life, anxiety and depression up to 12 months post-stroke: Influence of sex, age, stroke severity and atrial fibrillation – A longitudinal subanalysis of the Find-AF RANDOMISED trial Após acidente vascular cerebral, alguns pacientes melhoraram significativamente sua qualidade de vida relacionada à saúde, com redução da ansiedade após 3 e 12 meses. A gravidade do AVC, assim como o sexo e a idade, afeta a qualidade de vida relacionada à saúde pós-AVC em longo prazo.
TOBALDINI et al., 2020, Itália Depression and cardiovascular autonomic control: a matter of vagus and sex paradox O diagnóstico de depressão em pessoas saudáveis aumenta o risco de doença cardiovascular. Vale ressaltar que o risco foi maior em mulheres deprimidas do que em homens deprimidos.
BERNARDI; AROMOLARAN, K. A.; AROMOLARAN, A. S., 2021, Estados Unidos Neurological Disorders and Risk of Arrhythmia O estudo concluiu que as doenças mentais são um fator de risco para doenças do coração e as terapias combinadas com o uso de antidepressivos, tratamento anti-inflamatório e intervenção clínica contribuíram para a redução de doenças cardíacas.

Fonte: os autores.

Entre os estudos analisados, 23,9% (n=5) apontaram que problemas de saúde mental se acrescentam como fatores de risco para o aumento de Doenças Cardiovasculares (DCV), uma vez que pacientes com depressão e ansiedade apresentaram sintomas cardiovasculares como a angina instável (MADSEN et al., 2021). Roseman e Kovacs (2019) explicam que equipes e métodos alternativos estão sendo formados para atender as demandas desses pacientes, não observadas por profissionais médicos (DI PALO, 2020).

Os sintomas como a ansiedade crônica, a depressão e fatores de exposição a estresses diários relacionados ao trabalho foram os principais potencializadores de risco de DCV (SADLONOVA et al., 2021). Além disso, o desenvolvimento de doenças do coração em pacientes com distúrbios psiquiátricos tende a ser mais grave em comparação com indivíduos sadios. (ROSEMAN; MORTON; KOVACS, 2021)

De acordo com Zhang; Chen e Ma (2018), em concordância com Chauvet-gelinier e Bonin (2017), a resposta ao estresse e à depressão podem alterar o desenvolvimento natural de doenças cardíacas e influenciar negativamente a qualidade de vida relacionada à saúde desses indivíduos.

Além disso, para Bernardi; Aromolaran e Aromolaran (2021) e Cohen; Edmondson e Kronish (2015), os fatores biológicos como tabagismo e má alimentação também afetam a qualidade de vida desses indivíduos e favorecem o aparecimento de doenças mentais. Entretanto, De Hert; Detraux e Vancampfort (2018) acrescentam que além das más condutas comportamentais, tais fatores biológicos parecem comuns na relação de doenças mentais e cardiometabólicas.

Para Celano et al. (2018), a má resposta ao tratamento, a mortalidade elevada e o aumento da hospitalização são demandas de pacientes com insuficiência cardíaca cujas características comuns são o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), o transtorno de estresse pós-traumático e o transtorno do pânico. Ademais, Deter et al. (2021) destacam que os altos níveis de exaustão, sintomas físicos de depressão e ansiedade, contribuem para a influência da cascata de coagulação, associada à doença arterial coronariana. Vale ressaltar ainda que sintomas psiquiátricos como a ansiedade podem simular sintomas de doenças do coração, como a dispneia de insuficiência cardíaca (MEESMANN, 2021).

Uma questionável relação entre as doenças é explicada por Fujitani; Otani e Miyajima (2021) em uma possível conexão de mecanismos que alteram as proteínas Neutrofinas (Nts), possibilitando a comunicação entre os Sistemas Nervoso Central e Cardiovascular. Foram elaborados estudos dessa possibilidade, tendo em vista a observação da alteração dessa proteína em doenças cardíacas e psiquiátricas. Ainda não é possível uma afirmação concreta, e um maior embasamento dessa possibilidade seria viabilizada mediante uma estratégia terapêutica, por meio do aumento de NTs.

Outrossim, para Bucciarelli et al. (2020), devem ser consideradas questões específicas de gênero, dado que as mulheres são mais propensas aos Transtornos Depressivos (TD) e apresentam piores desfechos na morbimortalidade. Do mesmo modo, Tobaldini et al. (2020) acrescentam que as mulheres vivenciam de forma mais recorrente que os homens transtornos depressivos. Constata-se a necessidade de enfatizar a relação dessas doenças com as diferenças de gênero, tanto para definir o fundamento e os conjuntos patológicos quanto para atribuir procedimentos terapêuticos mais eficazes.

Segundo Hare et al. (2014), os antidepressivos que fazem a recaptação de serotonina ou norepinefrina são as drogas mais comumente utilizadas em intervenções clínicas. Logo, a união de métodos terapêuticos que visam vias de sinalização celular inflamatória possibilitaria a melhora de resultados nos pacientes. Contrariamente Li et al. (2020) ressaltam a eficácia das abordagens psicológicas para alívio de sintomas e melhora no estilo de vida desses pacientes, entre elas o modelo transteórico – estudo sistemático da mudança de comportamento das pessoas com base em uma variedade de teorias. O estudo com essa abordagem ratifica os efeitos positivos sobre a depressão em pacientes hospitalizados com casos de doença cardíaca coronária.

Observou-se ainda maior clareza nos últimos anos em relação à fisiopatologia, que liga as doenças cardiovasculares a distúrbios psiquiátricos, entendendo-se também a necessidade de promover abordagens específicas e eficazes para esse grupo de pacientes (SCHNABEL et al., 2021). De acordo com Sbolli et al. (2020), o incentivo à utilização dos meios tecnológicos, como dispositivos portáteis, se apresenta como alternativa para identificar precocemente sinais e sintomas, e por consequência, promover o melhor tratamento individual, de acordo com as alterações observadas.

2.3 DISCUSSÃO

2.3.1 DESORDENS PSICOLÓGICAS COMO FATOR DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Como reflexo do avanço de conhecimentos na medicina e melhorias no sistema de saúde ao longo dos anos, observa-se o aumento da expectativa de vida globalmente. Desse modo, questões referentes a longevidade apresentam cada vez mais importância no cenário de saúde pública, tornando os conhecimentos sobre a senescência e senilidade essenciais. Uma das preocupações mais frequentes em relação a circunstância citada é as altas taxas de incidência de depressão na velhice. Em virtude disso, alguns ensaios clínicos avaliaram o impacto de medidas profiláticas para depressão geriátrica, sendo evidenciado redução do risco de eventos cardiovasculares dos mesmos. Desse modo, a depressão pode ser considerada um fator de risco bastante relevante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.  No entanto, os estudos ressaltam a necessidade da avaliação de intervenções de saúde mental bem esclarecidas e definidas (ZHANG; CHEN; MA, 2018).

Além disso, os fatores comportamentais associados a doenças mentais incluem prática do tabagismo, abuso de álcool, alimentação inadequada, obesidade, não adesão ao tratamento medicamentoso e entre outros aspectos. Dessa forma, observa-se que as questões listadas também são designadas como fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares conforme elucidado pela medicina baseada em evidências. Portanto, compreende-se que as doenças psicológicas atuam como um efeito aditivo sobre o risco de desenvolvimento de eventos cardiovasculares (BERNARDI; AROMOLARAN; AROMOLARAN, 2021).

Referente a resposta biológica, psicológica e cognitiva ao estresse crônico, observou-se que os fatores estressores podem impactar nocivamente a doença cardíaca, incluindo os desfechos da doença. Outrossim, o manejo terapêutico das condições mentais dos pacientes cardiopatas representa um grande desafio para a reabilitação cardíaca, sendo um pilar para a melhora global desse indivíduo (CHAUVET-GELINIER; BONIN, 2017). No tocante ao estresse crônico, Wirtz e Känel (2017) informam que essa condição maximiza o risco da incidência de doença arterial coronariana e piora o prognóstico cardiovascular. Acerca do estresse emocional agudo, os autores em questão afirmam que os pacientes podem estar mais propensos a desenvolverem eventos agudos de DAC quando vulneráveis. Além disso, outro aspecto evidenciado foi a estimulação de marcadores inflamatórios por condições de estresse emocional agudo. Logo, o estado de estresse psicológico é considerado um fator de risco independente para DAC.

2.3.2 IMPACTOS DE DOENÇAS CARDÍACAS NA SÁUDE MENTAL DOS PACIENTES

Segundo Roseman; Morton e Kovacs (2021) crianças e adolescentes diagnosticados com Doença Cardíaca Congênita (DCC) apresentam maior taxa de relato de ansiedade quando comparado a população em geral. Acredita-se que o quadro de ansiedade está relacionado diretamente à condição clínica desse indivíduo. Ademais, a desordem psicológica em questão apresentou associação significativa com a idade avançada do paciente, a superproteção parental e um quadro clínico de maior complexidade de doença coronariana. Reafirmando o significativo índice aumentado da presença de ansiedade por pacientes portadores de DCC, Eaton, Wang e Menahem (2017) realizaram um estudo que avaliou a relação de cardiopatias congênitas com o desenvolvimento de doenças mentais, incluindo: depressão e ansiedade. A pesquisa evidenciou que um quinto dos pacientes analisados apresentavam manifestações clínicas do transtorno de ansiedade.

Ademais, Meesmann (2021) informa que indivíduos com batimentos ventriculares prematuros podem apresentar um maior risco cardíaco e potencializar o desenvolvimento de insuficiência cardíaca ou piorar essa condição médica. Embora sejam, em sua grande maioria, considerados benignos, as pausas pós-extra-sistólica ou batimento prematuro pós-extra-sistólico aumentado podem apresentar sintomas associados, incluindo: sensação de batimento cardíaco acelerado, sentimento de maior gravidade quanto a sua condição, desconforto e ansiedade ao paciente. Desse modo, reações de pânico acompanhada de dispneia e angina são comumente presentes nesses indivíduos. Esse cenário permite forte similaridade com as manifestações clínicas de pacientes com insuficiência cardíaca, além de perpetuar uma desordem psicológica, sobretudo a ansiedade, nos pacientes abordados.

2.3.3 REPERCUSSÕES NA QUALIDADE DE VIDA

Conforme Zhang; Chen e Ma (2018) a depressão pode ser considerada uma condição maléfica ao tratamento de doenças crônicas, por exemplo: hipertensão arterial sistêmica, diabetes, doenças da tireoide, doenças cardíacas e entre outras condições clínicas. Portanto, a desordem psicológica relatada está intrinsecamente relacionada ao prognóstico de pacientes portadores de doenças crônicas, sendo essa associação nociva à população geriátrica. Um exemplo disso é a piora na Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) dos pacientes em questão.

Justificando esse cenário, Cohen; Edmondson e Kronish (2015) relatam acerca dos fatores comportamentais presentes em pacientes depressivos. O estudo realizado informa que o transtorno depressivo está associado a minimização da aderência ao tratamento proposto pelos profissionais da área da saúde, incluindo o tratamento medicamentoso, a realização de atividade física, a cessação do tabagismo e entre outras intervenções relacionadas à mudança de estilo de vida. Confirmando, assim, a piora do prognóstico de pacientes portadores de DCV em virtude da má adesão ao manejo terapêutico. 

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando a questão norteada da pesquisa, as doenças mentais podem ser consideradas um fator de risco relevante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.  Este estudo mostrou que a ancianidade se tornou fundamental no cenário da saúde pública, em que a depressão geriátrica gera um “gatilho” para doenças cardiovasculares. Outrem, os fatores comportamentais vulneráveis, neuropsicológicos e estressores, resultam prejudicialmente em cardiopatas incorporando os desfechos da doença. Para mais, a ansiedade em pacientes com doença cardíaca congênita, tem se alastrado quando comparamos com a sociedade em geral. Evidenciou-se, ainda, uma correlação com a longevidade e as manifestações clínicas cardiológicas, especialmente DCC e doenças mentais, com enfoque na depressão e ansiedade. Por fim, é de suma importância a adesão e correto tratamento de pacientes neuropsicológicos, desde medicações, equipes multidisciplinares e mudança de estilo de vida, a fim de potencializar o cuidado terapêutico e seus benefícios associados, evitando complicações e desfechos desfavoráveis aos pacientes.

REFERÊNCIAS

BERNARDI, J.; AROMOLARAN, K. A.; AROMOLARAN, A. S. Neurological disorders and risk of arrhythmia. International Journal of Molecular Sciences, v. 22, n. 1, p. 1–15, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.3390/ijms22010188. Acesso em 29 ago. 2022.

BUCCIARELLI, V. et al. Depression and cardiovascular disease: The deep blue sea of women’s heart. Trends in Cardiovascular Medicine, v. 30, n. 3, p. 170–176, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.tcm.2019.05.001. Acesso em 29 ago. 2022.

CELANO, C. M. et al. Depression and Anxiety in Heart Failure: A Review. Harvard Review of Psychiatry, v. 26, n. 4, p. 175–184, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1097/hrp.0000000000000162. Acesso em 29 ago. 2022.

CHAUVET-GELINIER, J. C.; BONIN, B. Stress, anxiety and depression in heart disease patients: A major challenge for cardiac rehabilitation. Annals of Physical and Rehabilitation Medicine, v. 60, n. 1, p. 6–12, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.rehab.2016.09.002. Acesso em 29 ago. 2022.

COHEN, B. E.; EDMONDSON, D.; KRONISH, I. M. State of the art review: Depression, stress, anxiety, and cardiovascular disease. American Journal of Hypertension, v. 28, n. 11, p. 1295–1302, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1093/ajh/hpv047. Acesso em 29 ago. 2022.

DE HERT, M.; DETRAUX, J.; VANCAMPFORT, D. The intriguing relationship between coronary heart disease and mental disorders. Dialogues in Clinical Neuroscience, v. 20, n. 1, p. 31–40, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.31887/dcns.2018.20.1/mdehert. Acesso em 29 ago. 2022.

DETER, H. C. et al. Depression, anxiety, and vital exhaustion are associated with pro-coagulant markers in depressed patients with coronary artery disease – A cross sectional and prospective secondary analysis of the SPIRR-CAD trial. Journal of Psychosomatic Research, v. 151, n.xxx, p.1-11, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.31887/dcns.2018.20.1/mdehert. Acesso em 29 ago. 2022.

DI PALO, K. E. Psychological Disorders in Heart Failure. Heart failure clinics, v. 16, n. 1, p. 131–138, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.hfc.2019.08.011. Acesso em 29 ago. 2022.

EATON, S. L.; WANG, Q.; MENAHEM, S. Determinants of quality of life in adults with CHD: an Australian cohort. Cardiology in the young. Cardiology in the young, v. 27, n. 8, p. 1571–1576, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1017/S1047951117000816. Acesso em 29 ago. 2022.

FUJITANI, M.; OTANI, Y.; MIYAJIMA, H. Do neurotrophins connect neurological disorders and heart diseases? Biomolecules, v. 11, n. 11, p. 1-15, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.3390/biom11111730. Acesso em 29 ago. 2022.

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[1] Graduação incompleta. ORCID: 0000-0001-7466-3630.

[2] Graduação incompleta. ORCID: 0000-0001-5615-7435.

[3] Graduação incompleta. ORCID: 0000-0003-4311-0632.

[4] Graduação incompleta. ORCID: 0000-0003-4824-8825.

[5] Graduação incompleta. ORCID: 0000-0002-2551-0758.

[6] Graduação incompleta. ORCID: 0000-0002-3498-9158.

[7] Graduação incompleta. ORCID: 0000-0001-5197-8920.

[8] Orientadora. ORCID: 0000-0002-4913-8831.

Enviado: Outubro, 2022.

Aprovado: Dezembro, 2022.

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Uma resposta

  1. Sim , acredito completamente nesses estudos pois vivo diariamente com esses problemas ocasionado pelos transtornos mentais dentro da minha casa e fico feliz em saber que a medicina vem buscando meios de melhorar a quantidade de vida desses pacientes.

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