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A percepção do enfermeiro sobre a contribuição das práticas de estágios extracurriculares para sua formação

RC: 150806
491
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/estagios-extracurriculares

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ALMEIDA, Inez Silva de [1], BAZÍLIO, Mayara da Silva [2], PIMENTEL, Maria Regina Araújo Reicherte [3], FERNANDES, Juliana de Souza [4], CARDOSO, Fernanda Martins [5], ANDRADE, Carlana Santos Grimaldi Cabral de [6]

ALMEIDA, Inez Silva de et al. A percepção do enfermeiro sobre a contribuição das práticas de estágios extracurriculares para sua formação. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 08, Ed. 12, Vol. 04, pp. 38-53. Dezembro de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/estagios-extracurriculares, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/estagios-extracurriculares

RESUMO

Objetivo: Analisar a percepção do enfermeiro sobre a contribuição das práticas de promoção da saúde em estágios extracurriculares, para a sua formação. Estudo qualitativo, descritivo, exploratório. O cenário foi um ambulatório de um hospital do estado do Rio de Janeiro. As participantes da pesquisa foram 9 enfermeiras. A técnica de coleta de dados ocorreu por meio de entrevista semi-estruturada, entre julho e agosto de 2021. Utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin. A partir dos depoimentos emergiram duas categorias: Percepção do processo de promoção da saúde: mudanças na visão de mundo e Percepção do estágio para a bolsista: mudanças para a formação. Para as ex-bolsistas, os estágios extracurriculares desenvolvem na prática teorias que foram fomentadas em seu período de formação. As ações educativas dos projetos proporcionaram a aquisição de novos conhecimentos, a partir da interação com a clientela.

Palavras-chave: Enfermagem, Promoção da Saúde, Apoio ao Desenvolvimento de Recursos Humanos.

1. INTRODUÇÃO

O estágio extracurricular em enfermagem é uma prática na qual o aluno faz a opção de ser inserido em uma atividade remunerada, com a expectativa de alcançar aquisição de competências e habilidades para complementar sua bagagem de conhecimentos (Brasil, 2008).

Nesse estudo foram utilizadas as nomenclaturas: estágios extracurriculares, não obrigatórios ou complementares, para designar o processo pedagógico caracterizado como opcional, acrescido à carga horária regular e obrigatória (Oliveira et al., 2009).

O estágio extracurricular não obrigatório é devidamente regulamentado pela Lei Federal nº 11.788, de 25 de setembro de 2008 e assim foi denominado, por não fazer parte das atribuições curriculares da graduação. Essa modalidade de estágio busca a aproximação dos estudantes das diversas áreas do saber, proporcionando o acréscimo de conhecimentos ao graduando (Brasil, 2008).

O estágio extracurricular pode ser promovido por outras instituições de saúde ou órgãos diretamente ligados à universidade, que proporcionam novos modelos de aprendizado, desde que o estudante esteja regularmente matriculado no curso e seja definido através de processo seletivo. Após passar pelo processo seletivo, o acadêmico é convocado a desenvolver suas atividades práticas, sendo alocado no setor de estágio escolhido. Geralmente, os estágios são oriundos de projetos de pesquisa e os estagiários ficam sob a supervisão do coordenador, passando por avaliações contínuas, a fim de definir o impacto que o projeto exerce sobre o processo ensino-aprendizagem do futuro enfermeiro (Silva et al., 2019).

Esta é uma pesquisa científica motivada pelo interesse em compreender como a participação em estágios extracurriculares pode contribuir para a formação profissional.

Nesse sentido, essa modalidade de estágio pode atuar como uma forma de ampliar os conhecimentos, através da troca de experiências com os profissionais. O estagiário, obtém um fortalecimento de suas habilidades, adquirindo uma melhoria na segurança em lidar com problemas ainda não sanados pelo ensino formal (Paiva, Martins, 2012).

O estágio extracurricular de enfermagem possibilita ao discente estimular sua visão crítico-reflexivo, nem sempre contemplada durante a graduação, o que possibilita que os bolsistas tenham em seu processo ensino-aprendizagem maior compreensão de sua futura profissão (Oliveira, Santos e Dias, 2016). A partir dessas considerações, traçou-se como questão norteadora: Qual a percepção do enfermeiro sobre as contribuições dos estágios extracurriculares para sua formação? Tendo como objetivo do estudo: analisar a percepção do enfermeiro sobre a contribuição dos estágios extracurriculares para a sua formação.

Buscando a justificativa desse estudo foram realizadas pesquisas em bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando-se a palavra-chave “estágio extracurricular”. Assim, foram evidenciadas 77 produções. Ao refinar a pesquisa, utilizando os filtros: textos completos, idioma: português e tipo de documento: artigo, foram encontradas apenas 27 publicações. Dentre elas 10 faziam referência ao tema desta pesquisa, sendo que apenas 01 foi desenvolvida nos últimos 5 anos. Nesse sentido vislumbra-se a escassez de produções científicas acerca dos estágios extracurriculares.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de campo, de natureza descritiva, exploratória, com abordagem qualitativa.

O cenário da pesquisa foi um ambulatório, situado em um hospital universitário, localizado no estado do Rio de Janeiro. A pesquisa foi realizada somente após a autorização da responsável pela gestão das equipes de enfermagem da instituição. As participantes do estudo foram nove enfermeiras. Atenderam aos critérios de inclusão: ter concluído a graduação em Enfermagem e ser ex-bolsista de projeto ocorrido na unidade. Foram excluídas aquelas que: finalizaram a graduação sem ter sido bolsistas dos projetos do cenário de pesquisa.

A técnica de coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas semi-estruturadas, de julho a agosto de 2021. O instrumento de coleta foi um roteiro composto por perguntas coerentes com o objetivo do estudo. Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelas depoentes, a entrevista foi realizada em local reservado, livre de interrupções, de forma a manter a privacidade e o sigilo das informações.

A fim de garantir o anonimato, as entrevistadas foram denominadas por códigos alfanuméricos, de acordo com a ordem da entrevista.

A análise dos dados foi embasada pelos preceitos da análise de conteúdo temática. Esse tipo de análise visa obter indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens. A categorização representa a classificação dos elementos constitutivos de um conjunto caracterizados por diferenciação e realizando o reagrupamento por analogia por meio de critérios definidos previamente (Bardin, 2016).

Esta investigação científica foi iniciada somente após a aprovação do comitê de ética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob o parecer de número: 3.825.078.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através da análise das entrevistas, o perfil das participantes foi traçado, sendo composto em sua maioria por enfermeiras, em fase de pós-graduação lato sensu, com formação acadêmica concluída entre 6 meses e 4 anos e tendo sido bolsista de projetos em sua maioria por 2 anos, que é o período máximo permitido. A transcrição das entrevistas revelou depoimentos que formaram as categorias empíricas, a saber:

1. Percepção do estágio: mudanças para a formação

As ex-bolsistas descreveram que os projetos as beneficiaram e ressignificaram suas vidas como profissionais da saúde, marcando o aumento do seu nível de maturidade.

“Eu acho que eu saí de lá muito mais madura profissionalmente e com menos preconceito, porque a gente acaba tendo alguns que já estão enraizados”. (E1)

Foi muito bom, o projeto me trouxe muita maturidade, assim quanto pessoa, como profissional também, eu aprendi muito a parte de pesquisa, é diferencial da faculdade pública… O (nome do setor) me trouxe um conhecimento muito vasto, estar no (nome do setor), desenvolvendo atividades, atuando como educador em saúde, porque nós enfermeiros somos educadores em saúde, é um diferencial e hoje eu consigo abordar as pacientes, não tenho dificuldade de falar sobre vários assuntos. (E2)

Desenvolvi estratégias para lidar (…) com certeza, na forma de lidar, na forma de me expressar, de falar… eu tenho retorno bom, as pessoas elogiam, (…) poxa que bom que você me escuta, é a mistura da escuta ativa, do vínculo. (E5)

… acabou tirando um pouquinho da timidez que a gente acaba tendo e aprendendo porque é papel do enfermeiro e isso me ajudou bastante pra poder atuar mais na área, saber falar e saber fazer mesmo a promoção. (E6)

Foi bom porque acabou tirando um pouquinho da timidez que a gente acaba tendo, aprendendo qual é papel do enfermeiro e isso me ajudou bastante pra poder atuar mais na área, saber falar e saber fazer mesmo a promoção. Eu saí de lá muito mais madura profissionalmente… Ele quebrou muitos tabus pra mim também (E8)

2. Percepção do processo de promoção da saúde: mudanças na visão de mundo

As enfermeiras, ex-bolsistas, desvelaram como a promoção da saúde pode trazer benefícios para a população e para a sua formação.

“A promoção da saúde é a gente dar subsídios para a população e até conhecimentos para que ela se cuide. E aí engloba o ensino em saúde, porque eu acredito que quando a gente dá o conhecimento para aquela pessoa, a gente dá a oportunidade dela se cuidar e de promover sua saúde.” (E1)

“…. a promoção da saúde está ligada a essas questões de promover a saúde e as condições dignas para aquele usuário tenha saúde e qualidade de vida, porque não é só a questão da ausência de doenças, mas também o bem-estar social.” (E2)

“A gente tem essa cultura da medicalização também que acaba atrapalhando a promoção da saúde, principalmente agora na pandemia de Covid, eu pude ver o quanto é importante a promoção da saúde nos diferentes níveis de atenção e quando ela é abordada de forma correta o quanto é eficaz. Então a promoção de saúde perpassa em todos os níveis de atenção e principalmente na atenção básica que é a porta de entrada do usuário no SUS.” (E3)

“A promoção da saúde é a gente não focar só na doença, né? Não olhar a patologia quando a gente tá de frente pro usuário, é olhar a vida dele, o cenário em que ele está inserido, a família, o ambiente, e é através disso não procurar só a doença.” (E4)

“… então eu acho que tem essa questão de orientação e informação, porque você também tem essa responsabilidade de orientar, mas você orienta como profissional de saúde, que é o seu dever, né?” (E5)

A formação do enfermeiro deve estar voltada para a construção, desde um perfil acadêmico até o profissional, sendo capaz de se adaptar às rápidas transformações no mundo do conhecimento, ampliando seus reflexos ao mundo do trabalho, através do desenvolvimento de habilidades e competências de forma criativa, ao repensar a realidade social e reorganizar suas práticas. Por conseguinte, desenvolverá um profissional crítico-reflexivo centrado em consolidar suas práticas como agente transformador da realidade social (Winters, Prado, Heidemann, 2016).

O conhecimento adquirido, durante a graduação, não pode ser compreendido como finalizado, pois o processo de aprendizagem deve ser contínuo no decorrer da vida profissional. O graduando em enfermagem necessita ser pedagogicamente estimulado a repensar seus conceitos e buscar adquirir outras ferramentas, necessárias para desenvolver sua futura vida profissional.

O objetivo do estágio extracurricular vai além da competência técnica, espera-se que esse processo desperte, também, nos bolsistas valores relacionados à humanização do cuidado (Codato et al., 2019). O estágio propicia que os bolsistas vivenciem a prática como um momento de enfrentamento de dificuldades, em um cenário de aprendizagem contínua (Morschbacher; Gabiatti; Alba, 2017).

Foi possível identificar que as enfermeiras que participaram como depoentes desenvolvem suas ações além do olhar da patologização e do enfoque biomédico e contemplam a função de educadoras, buscando minimizar as vulnerabilidades do público atendido. As atividades complementares correspondem a métodos acadêmicos que procuram desenvolver o currículo e enriquecer o perfil do universitário, que nesse estudo vislumbra a promoção da saúde (Bussolotti et al., 2016).

A concretização da promoção da saúde pressupõe o desenvolvimento de atribuições, na perspectiva da atenção integral aos indivíduos no seu processo de viver humano. Abarca ainda, o estímulo à adoção de estilo de vida saudáveis, através do empoderamento dos sujeitos, que se tornam capazes de atuarem como protagonistas de sua saúde, intervindo assim em sua qualidade de vida (Buss et al., 2020).

A promoção da saúde, em enfermagem, pode ser entendida como uma forma de abordagem que proporciona construir um espaço de disseminação do saber científico e de interlocução, agregando práticas não-formais através do processo dialógico, da formação de vínculo, do acolhimento e do estímulo à autonomização dos sujeitos (Santos et al., 2022).

As práticas educativas em enfermagem têm a possibilidade de se estender para além do ambiente curricular, abraçando outros modos de se efetivar, quando o aluno realiza o estágio não obrigatório (Paiva, Martins, 2012).

O estágio extracurricular foi compreendido pelas enfermeiras como aquele realizado, com vistas ao aperfeiçoamento profissional, possibilitando uma base mais concreta, que traz contribuições às disciplinas acadêmicas e, inclusive, prepara o aluno para ressignificar sua visão de mundo, trazendo contribuições do ponto de vista da promoção da saúde (Sampaio, Silva e Correa, 2017).

Foi possível perceber que o estágio desenvolvido permitiu uma aproximação às ações do enfermeiro enquanto educador. O estágio também concorreu para despertar no aluno o pensamento crítico sobre o processo saúde-doença. Além disso, a observação e a prática extracurriculares, permitiram ao discente perceber e intervir contribuindo para as mudanças evidenciadas (Silva et al., 2019).

A promoção da saúde está associada a concepções de qualidade de vida, equidade, cidadania e participação, que instrumentalizam o indivíduo para o enfrentamento de condições adversas. O enfermeiro deve desenvolver, ainda em sua trajetória acadêmica, ações de promoção da saúde, pois o cotidiano assistencial vai requisitar dele a implementação de práticas educativas. Um de seus papéis principais, no ato de cuidar de sua clientela, é o de educador (Pereira et al.,2015).

As atividades educativas buscam estimular a consciência crítica e cidadã da população acerca de sua qualidade de vida, ao mesmo tempo em que promovem o encontro do enfermeiro com seu o público, atuando em uma via de mão dupla, em que enfermeiros e clientes compartilham saberes formais e não formais (Sampaio et al., 2014).

Assim, os espaços de debates contribuem para o estreitamento das relações entre serviço e os usuários, constituindo-se em importante estratégia que valoriza o saber de cada participante, de forma individualizada. Permite, ainda, que o indivíduo expresse suas impressões, conceitos e opiniões, a fim de valorizar cada manifestação apresentada pelo grupo (Dias et al., 2018).

A educação em saúde é fundamental para a formação do enfermeiro, não somente em suas diversas teorias, mas, principalmente, em atividades práticas, durante sua graduação e que ocorram ainda nos primeiros períodos do curso. Nesse sentido, possibilitará ao enfermeiro a compreensão do valor da prevenção de riscos e agravos, em quaisquer cenários de atuação.

Os depoimentos das ex-bolsistas confirmam que os estágios extracurriculares correspondem a métodos acadêmicos que procuram desenvolver o currículo e enriquecer o perfil do universitário, trazendo maturidade e segurança ao lidar com a população assistida. Essas ações ampliam os horizontes da formação do acadêmico, para além do espaço da sala de aula, e possibilitam a expansão do processo ensino-aprendizagem. Percebe-se, consequentemente, que o estágio valoriza o percurso do aluno, instituindo o aproveitamento das práticas desenvolvidas, complementando o currículo (Bussolotti et al., 2016).

O estágio extracurricular proporcionou às futuras enfermeiras, depoentes deste estudo, a capacidade de comunicação e interação com seu público. Cumpre lembrar, também, que as instituições de ensino e seu corpo docente são responsáveis por formar profissionais que estejam sempre em busca de novos conhecimentos, para além do que foi adquirido durante a graduação (Bussolotti et al., 2016).

Geralmente, o profissional recém-formado sente-se inseguro e apresenta dificuldades para realizar o que foi disseminado durante a graduação, sentindo-se pouco capaz para assumir determinadas ações de cuidado para com seu paciente/cliente. Isso é motivado pela insegurança, podendo proporcionar prejuízos à sua saúde, o que favorece sentimentos de angústia e ansiedade (Souza, Paiano, 2011).

No entanto, esse estudo mostrou como os estágios complementares proporcionaram segurança na vida das depoentes. As entrevistadas referiram que a experiência adquirida se traduziu em maior segurança. Configura-se, assim, que a influência da vivência prática do cuidar vai além da atuação no estágio curricular. Ou seja, o estágio extracurricular, como um processo didático-pedagógico, favoreceu ao aluno o contato com situações reais, o que contemplou a aquisição de novas experiências e, por conseguinte, maturidade. Os estágios extracurriculares em saúde são, antes de tudo, oportunidades de crescimento na profissão escolhida, atuando como alternativa para legitimar o caráter ético do profissional de saúde (Silva et al., 2019).

A formação de qualidade da Enfermagem visa garantir aos egressos a competência técnica e política, possibilitando desenvolver a consciência de seu saber-fazer, de acordo com as reais necessidades da comunidade assistida, que demandam os valores da educação em saúde (Pereira et al., 2015). Isto posto, conhecendo as situações em seu campo de prática, o desempenho do aluno que desenvolve atividades extracurriculares é maior, já que ele adquire outra visão de mundo a partir de suas vivências. Além disso, os alunos também têm no estágio uma fonte de remuneração, a fim de auxiliar em seus gastos com o aprendizado, representando ainda um complemento na renda familiar. Dessa forma, no contexto geral, que se caracteriza pelos significados que o indivíduo elabora da situação, no caso do estagiário que se encontra na modalidade extracurricular remunerada, essa experiência não está limitada somente ao significado de gratificação pessoal pelo aprendizado técnico (Oliveira et al., 2009).

Os dados revelaram ainda que as enfermeiras identificaram que, no período em que eram estagiárias, o envolvimento com atividades não-obrigatórias preencheu lacunas curriculares, complementar o aprendizado, atender a questionamentos pessoais, entre outras motivações que emergiram do seu cotidiano (Peres; Andrade; Garcia, 2007).

No estágio complementar ou não curricular, a relação do aluno com o campo deixa de ser mediada pelo professor, o que faz com que o bolsista participe ativamente da realidade do mundo do trabalho, implicando na possibilidade de fazer parte da dinâmica do setor. No estudo em tela, as atividades realizadas pelas bolsistas incluíam também os enfermeiros residentes, submetendo-os a situações dinâmicas e metodologias criativas, na expectativa de que desenvolvessem uma postura autocrítica e madura, de modo a prepará-los para o exercício da profissão.

O estágio extracurricular constitui parte do processo didático-pedagógico, que possibilita ao aluno o contato com uma atividade real do cotidiano do serviço de saúde, associando os conteúdos teóricos oferecendo ferramentas que irão compor o seu futuro caráter profissional, ao desenvolver habilidades e auferir segurança e postura crítica, diante dos enfrentamentos diários da profissão (Franco et al., 2017).

Neste estudo, a aquisição de competências pelas estudantes de enfermagem coincidiu, em nível pessoal com: o recebimento da bolsa-auxílio, a obtenção de competências, a aquisição de conhecimentos teóricos acumulados e certificado ao final do estágio extracurricular.

As atividades extracurriculares desenvolveram o importante papel de contribuir para com as estudantes em sua compreensão, potencializando-o enquanto espaço privilegiado, que valoriza a sua formação. O estágio foi considerado como ferramenta de aprimoramento profissional entre as ex-bolsistas, no sentido de propiciar o exercício de ações de promoção da saúde, comuns ao cotidiano do enfermeiro (Viana et al., 2012).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, o objetivo foi contemplado, confirmando-se a percepção das enfermeiras acerca da contribuição das práticas de promoção da saúde, em estágios extracurriculares para sua formação. As egressas reconheceram que os estágios foram relevantes para seu crescimento pessoal e profissional.

Verificou-se pelas narrativas das ex-participantes dos projetos que não só adquiriram segurança e maturidade, mas, principalmente, uma perspectiva crítico-reflexiva, fundamental à sua atuação. Destarte, conclui-se que essas práticas favoreceram experiências significativas de aproximação com a realidade, proporcionando uma visão teórico-prática ampliada do processo de promoção da saúde.

À guisa de conclusão, as ações educativas, mediadas pelos estágios extracurriculares, proporcionaram às enfermeiras ex-bolsistas, a aquisição de novos conhecimentos, a partir da interação com os clientes. No entanto, dada a lacuna do conhecimento acerca da temática, faz-se necessária a realização de novas pesquisas na área da enfermagem, a fim de consolidar a importância do estágio extracurricular como ferramenta construtora do aprendizado.

Os estágios não obrigatórios possuem o objetivo básico de auxiliar na construção do conhecimento dos futuros enfermeiros, embora ainda tenham sido pouco explorados pela literatura científica. A construção de um saber científico só é possível a partir do momento em que o indivíduo, inserido em sua realidade, busque pesquisar e publicar seus estudos. Desta forma, somente construindo conhecimentos e conceitos, a partir do cotidiano da prática, será possível a concretização da cientificidade da enfermagem.

REFERÊNCIAS

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[1] Orientadora. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada do Departamento de Fundamentos de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5082-5607. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3292430837672130.

[2] Enfermeira. Residente de Enfermagem Obstétrica da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ORCID: http://orcid.org/0000-0002-3066-8170. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7465014750978832.

[3] Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Fundamentos de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). ORCID: http://orcid.org/0000-0002-6990-5137. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7140123180021927.

[4] Enfermeira. Especialista em Enfermagem Obstétrica. ORCID: http://orcid.org/0000-0001-9556-798X. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0415071491404170.

[5] Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7516-2328. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6299655970316749.

[6] Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Especialista em Enfermagem em Saúde do Adolescente. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7680-0352. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9842099976247138.

Enviado: 27 de novembro de 2023.

Aprovado: 12 de dezembro de 2023.

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Inez Silva de Almeida

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