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Danos cervicais causados pelo uso excessivo do celular

RC: 135816
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

SILVA, Fabricia Alves da [1]

SILVA, Fabricia Alves da. Danos cervicais causados pelo uso excessivo do celular. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 12, Vol. 06, pp. 168-178. Dezembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/danos-cervicais

RESUMO 

O uso dos smartphones é cada vez mais presente no cotidiano, além de ser cada vez mais prolongado. A instauração dessa cultura entre os hábitos, especialmente de jovens adultos, adolescentes e crianças, gera uma preocupação na comunidade médica e científica, uma vez que a postura mantida durante o uso dos dispositivos móveis está cada vez mais relacionada aos danos posturais e cervicais, além de dores relatadas pelos usuários. Diante da gravidade e da dimensão do problema, busca-se compreender a seguinte questão: de que forma o uso exagerado de telefones celulares se associa aos problemas cervicais? O presente estudo objetivou, por meio da literatura disponível, em uma revisão bibliográfica, identificar a correlação entre as cervicalgias e síndromes posturais e o uso de smartphones. Os resultados apontaram uma grande relação entre o uso prolongado e a intensidade dos sintomas, além de grande prevalência de sintomas sobre ombros e polegares, as chamadas síndrome do pescoço de texto e de polegar de SMS. O estudo concluiu que existem evidências suficientes dessa correlação para o pouco conhecimento das consequências ainda presente nos relatos dos usuários, além disso, percebeu-se a necessidade de se pensar em medidas preventivas e ações de conscientização.

Palavras-chave: Smartphones, Postura, Cervicalgias.

1. INTRODUÇÃO

O telefone celular, principalmente depois que avançou tecnologicamente a ponto de absorver funções diversas, e até as que originalmente pertenciam a outros dispositivos, como assistir programas de televisão, vídeos, tirar fotos, gravar vídeos, ler livros, revistas e jornais, navegar pela internet, se comunicar por meio de mensagens instantâneas, ouvir música, fazer compras, ver receitas, orientar-se geograficamente, estudar, e até mesmo trabalhar, tornou-se indispensável à vida humana, e presente em um número cada vez maior de horas do cotidiano (DALLA PASQUA, 2018).

É válido ressaltar que, se parece impossível lembrar como era a vida antes dele, fica ainda mais difícil passar algumas horas na ausência do dispositivo pelas gerações que já nasceram quando essa relação homem-celular já estava consolidada, tornando mais fácil a compreensão do porquê de o uso excessivo de smartphones ser ainda mais presente entre crianças, adolescentes e jovens adultos (CANDIDO, 2018).

De acordo com as informações levantadas por uma pesquisa realizada em 22 países, incluindo o Brasil (GLOBAL MOBILE CONSUMER SURVEY, 2017), a frequência com que o brasileiro utiliza os smartphones é em média 25% maior do que a dos demais países pesquisados. 87% dos pesquisados têm smartphones e 60% admitem fazer uso exagerado do dispositivo, inclusive com alta frequência durante o trabalho (64%) e checando notificações durante a madrugada (45%).

Levando-se em consideração a alta frequência do uso do aparelho por um percentual tão significativo de pessoas, é notório o percentual da população brasileira exposto a riscos relacionados a esse uso excessivo, especialmente diante das inadequações posturais comumente associadas, dentre os quais, se destacam os danos causados à coluna cervical (PINHO, 2020).

Diante da gravidade e da dimensão do problema, busca-se compreender a seguinte questão: de que forma o uso exagerado de telefones celulares se associa aos problemas cervicais?

O objetivo geral do trabalho é identificar a relação direta entre o uso excessivo de celulares e o diagnóstico de problemas cervicais. Entre os objetivos específicos, estão analisar os hábitos relacionados ao uso de celular entre brasileiros; identificar os danos causados por esse hábito; apontar os reflexos desse uso especificamente na coluna cervical.

A metodologia do trabalho consiste em uma revisão bibliográfica descritiva e qualitativa, fundamentando a pesquisa com proposições teóricas colhidas em artigos científicos publicados.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O uso do celular é cada vez mais frequente, constante e prolongado, na medida em que o aparelho hoje, na qualidade de smartphone, centraliza diversas das funções de objetos eletrônicos ou não que eram usados anteriormente para compor o cotidiano das pessoas. Telefone, fax, computador, tablet, câmera fotográfica, filmadora, TV, calculadora, calendário, GPS, relógio, timer, agenda, diário, bloco de anotações, canal de compras, tocador de música, pastas de arquivos de trabalho e estudo, livros, cadernos, revistas e jornais, tudo isso e muito mais em um só aparelho. Essa concentração de funções explica a quantidade de tempo que as pessoas passam diante da tela do celular, e, tudo isso, em uma perspectiva de ubiquidade, ou seja, ao alcance das mãos em qualquer lugar (SILVA, 2019).

A saúde emocional e a física saem prejudicada com a cultura de dependência constante do telefone celular, uma vez que esse hábito leva ao desenvolvimento de ansiedade, depressão, impulsividade, insegurança e esvaziamento e enfraquecimento das relações pessoais, sociais e afetivas, mas também de problemas físicos oriundos de uma má postura (HERCOWITZ, 2017).

O uso constante dos smartphones leva a problemas ergonômicos e desequilíbrio mecânico, o que pode acarretar dores progressivas, crônicas e, eventualmente, incapacitantes (SILVA, 2019).

Silva (2019) aponta que os problemas físicos e mentais são diversos, incluindo, inclusive, câncer, tumores cerebrais e danos irreversíveis à íris. Além disso, entre os problemas mentais, a nomofobia preocupa predominantemente, uma vez que leva à dependência e síndrome de abstinência, em níveis compatíveis com dependências químicas.

No entanto, de acordo com Nogueira (2018), os sintomas mais comumente observados e que têm impactado mais a qualidade de vida das pessoas e a sociedade em geral, são os danos à cervical causados pela má postura, já reconhecida como “pescoço de texto”, além de LER, bursite e tendinite.

Crivelli e Cortez (2019), pontuam, a respeito das consequências do uso constante dos smartphones que:

Dado ao frequente uso, a realização de movimentos constantes e repetitivos durante longo período de tempo em posições estáticas e dinâmicas vêm causando o aumento dos sintomas e queixas de dores musculoesqueléticas, tais como dores em região cervical, membros superiores e uma variedade de lesões por esforço repetitivo (LER). O uso repetitivo reduz a circulação sanguínea no local, evitando com que haja a oxigenação e nutrição necessária para prover as demandas energéticas das células corporais, causando, de tal maneira, a fadiga e a dor. Além dos efeitos negativos musculoesqueléticos, a constante fadiga e dor afetam o sistema nervoso central e o autônomo, aumentando, consequentemente, a fadiga visual e problemas visuais, dores de cabeça, insônia e stress (CRIVELLI; CORTEZ, 2019, p. 4).

A dor cervical é regularmente associada à frequência de manutenção de posturas impróprias, o que, por sua vez, tem grande relação com o uso frequente dos celulares, especialmente entre os mais jovens, levando a severas disfunções cervicais (DALLA PASQUA, 2018).

Os músculos cervicais são responsáveis pela postura considerada ideal, na qual existe o alinhamento do corpo para realização correta de suas funções mecânicas e também fisiológicas, equilibrando a gravidade, o peso da cabeça, o estresse e a sobrecarga sofrida (WEBER, 2012).

A cervicalgia não corresponde a uma doença, mas a um conjunto de manifestações e sintomas de dor e desconforto muscular (SILVA, 2012) que impactam diretamente a qualidade de vida e figuram como quarta causa de incapacidade funcional no mundo (SMITH, 2010), causando, assim, graves consequências em âmbito individual e coletivo, afetando a sociedade e até mesmo a economia.

A dor cervical, que pode ter origem ergonômica (na prevalência dos casos), individual ou comportamental, ainda figura como objeto de estudo de baixo percentual da produção acadêmica brasileira, havendo poucas pesquisas, principalmente, de sua relação com o uso constante e prolongado do celular. De acordo com Cândido (2018), essas pesquisas são fundamentais, pois só compreendendo a origem desse fenômeno é possível agir efetivamente sobre ele, lembrando que a cervicalgia é um problema de saúde pública que gera alta demanda de atendimento hospitalar e serviços médicos, além de impactar na funcionalidade das pessoas.

Damasceno (2018) afirma que a inclinação da cabeça para frente, usualmente associada ao uso do telefone celular, quando realizada com frequência e por períodos prolongados, produz um vício ergonômico que torna padrão a inadequação postural, gerando distúrbios musculoesqueléticos e danos e traumas cumulativos, especialmente na região do pescoço e dos ombros.

3. MÉTODO

O presente estudo se deu por uma revisão bibliográfica descritiva e qualitativa acerca do tema representado pelo objeto de estudo.

A revisão bibliográfica consiste em uma pesquisa realizada com base em pesquisas, estudos e proposições teóricas já produzidas acerca do mesmo tema e dos temas satélites ao central. Dessa forma, ela se constitui de uma pesquisa secundária, por ser feita em cima de pesquisas existentes. Minayo (2012) afirma que a revisão bibliográfica seja a melhor escolha metodológica quando o problema a ser investigado não possa ser restrito a um estudo específico de caso, nem mensurada a partir de amostragens, o que seria possível em entrevistas, questionários e queries.

Também Minayo (2012) pontua, sobre o cunho descritivo da pesquisa, a vantagem de se analisar diferentes proposituras e poder promover um debate ao redor do tema proposto, permitindo que se explore melhor toda a sua contextualização e problematizações.

Já a respeito da abordagem qualitativa, que se opõe à quantitativa, Gil (2018) afirma que se apresenta como ideal quando prevalências e estimativas numéricas e estatísticas não respondem ao problema de pesquisa, que se ocupa mais dos porquês e do como do que, propriamente do que e do quanto.

Em busca realizada entre os meses de janeiro e julho de 2021, por meio dos descritores “danos cervicais celular” e “danos posturais celular”, em plataformas de busca de artigos científicos como BVS, Scielo e Google Acadêmico, foram encontrados 32 artigos aparentemente compatíveis com a pesquisa. Após análise do título dos artigos, restaram 28. Posteriormente foi feita uma redução selecionando os artigos que tinham: texto completo, idioma português e que estivessem no intervalo de ano entre 2010 a 2020, restando então 21 artigos. A partir da leitura dos resumos reduziu-se para 15 artigos. Após ser realizada a leitura na íntegra dos artigos, restaram 13 artigos que atendiam ao objeto da pesquisa.

Dado o critério de seleção de artigos, a análise dos dados segue a metodologia de Teixeira (2003), a partir da qual o design da pesquisa se dá pela exploração do conteúdo do arcabouço teórico em alinhamento e articulação com os objetivos do trabalho e com o método da pesquisa qualitativa, que deve se preocupar, sobretudo, com “o processo, e não simplesmente com os resultados, e o produto, o privilégio ao enfoque indutivo na análise dos dados” (TEIXEIRA, 2003, p. 186). Propõe o autor que o desenvolvimento, a partir desses dados, seja feito como uma espiral que tem o problema da pesquisa em seu centro, gerando, assim, produtos que apresentem novos questionamentos derivados, se retroalimentando em respostas e novas indagações, propondo mais do que afirmando, e permitindo que as proposições que integrem a pesquisa incitem reflexões e leituras diversas, que dialoguem entre si até desenhar uma conclusão. A análise de dados da pesquisa qualitativa não seria, portanto, taxativa ou mesmo linear, devendo ser entendida como dinâmica, recursiva e, intrínseca e essencialmente, intuitiva, especialmente na organização desses dados, que precisa formar uma forma coesa de diálogo entre as informações, dando sentido e gerando novas interpretações.

Como critérios de inclusão, foram adotados artigos que apresentavam particularidade com o tema. As queixas de cervicalgias, pelo uso prolongado dos smartphones, estão associadas à sustentação da postura errada por longos períodos. Foi utilizado como critérios de exclusão: estudos sobre artigos onde os usuários não relatavam tais dores cervicais ao manusear smartphones. Uma vez definidos os critérios de inclusão e exclusão uma análise desses artigos foi mensurada e assim definida a conclusão para definir este estudo.

4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS 

Quadro 1 – Matriz de análise

ANO/ AUTOR OBJETIVOS ACHADOS
2020, PASSOS Identificar as principais alterações decorrentes do uso contínuo de smartphones na postura e consequências eventuais. A postura prolongada durante uso excessivo de smartphones leva a desequilíbrios osteomioarticulares que resultam em dor.
2020, GONÇALVES Avaliar o padrão eletromiográfico desse conjunto de músculos durante a utilização de smartphones em adultos saudáveis. O uso de smartphones em posição sentada e ortostática por período superior a dez minutos resultou em sobrecarga e cansaço muscular.
2019, SILVA Analisar a usabilidade do smartphone relacionada à ergonomia O tempo de uso dos dispositivos está diretamente relacionado às consequências e patologias desenvolvidas.
2018, CANDIDO Verificar a prevalência de dor cervical em universitários em associação com o uso de dispositivos eletrônicos Houve alta prevalência de cervicalgia com o uso prolongado de smartphones, especialmente no sexo feminino.
2018, DELLA PASQUA Atestar se há relação entre a anteriorização da cabeça, cervicalgia e uso do computador e celular Todos os indivíduos da amostra apresentaram cervicalgia, anteriorização da cabeça e uso prolongado de smartphones
2018, SAMANI Avaliar a dimensão e consequências do pescoço de texto Poucos jovens adultos sabiam da síndrome e nenhum conhecia medidas preventivas para seu desenvolvimento.
2018, SHAH; SHETH Correlacionar o uso de dispositivos móveis com as síndromes posturais mencionadas Estudantes viciados no uso de smartphones evidenciam problemas musculoesqueléticos, especialmente no pescoço e no dedão, que podem levar a algum tipo de deficiência permanente.
2018, SÁ Verificar se acadêmicos que utilizam smartphone sentem dores ou algum desconforto musculoesquelético durante o uso ou após A maioria dos acadêmicos sente dores constantes durante o uso dos dispositivos e sentem relação direta entre uso mais prolongado e dor mais intensa.
2017, PANATO Identificar se há pontos de tensão muscular em cervical e membros superiores de usuários de smartphones Houve queixa de dores nos membros superiores, ombros e cervical entre usuários constantes com uso prolongado diário.
2017, NEUPANE Analisar o uso de smartphones relacionado ao desenvolvimento da síndrome de pescoço de texto O uso prolongado de smartphone leva à síndrome e pode acarretar em consequências mais graves a médio e longo prazo.
2017, SANTOS Investigar o mecanismo das cervicalgias causadas pelo pescoço de texto O estudo aponta evidências diretas, mas indica a necessidade de se realizar mais pesquisas epidemiológicas relacionadas ao quadro clínico apresentado.
2017, GUTERRES Relatar as principais queixas musculoesqueléticas de usuários de smartphones Há relação entre a posição corporal durante o uso dos dispositivos e as queixas relatadas.
2016, BUENO; LUCENA Identificar os aspectos físicos causados pelos hábitos da ubiquidade O uso prolongado de smartphones leva a síndromes, dores, deficiências e pode levar a acidentes.

Fonte: Próprio autor. 

4.1 RELAÇÃO ENTRE TEMPO DE USO E INTENSIDADE DAS CONSEQUÊNCIAS

A relação direta se evidenciou, nos estudos, entre o tempo prolongado de uso dos smartphones com as dores relatadas durante o seu uso, como também nas horas seguintes (BUENO; LUCENA, 2016; PANATO, 2017; SÁ, 2018; DELLA PASQUA, 2018; CANDIDO, 2018; SILVA, 2019; PASSOS, 2020).

A postura durante a utilização dos smartphones foi diretamente relacionada às dores apresentadas em alguns dos estudos, atribuindo-se à má postura habitualmente sustentada para o uso desses smartphones, os resultados indesejados, e propondo-se uma nova cultura postural para o uso desses dispositivos com menor grau de dano (GUTERRES, 2017; GONÇALVES, 2020; PASSOS, 2020).

Foi estipulado um prazo de 10 minutos como início do que se considera uso prolongado. A partir desse limite, iniciam-se os desconfortos e dores (GONÇALVES, 2020). O uso prolongado dos smartphones, associado à sustentação da postura errada por longos períodos, foi o maior agravante encontrado no estudo. Quanto mais tempo os usuários relataram dedicar ao uso de smartphones diariamente, maiores, mais frequentes e mais intensas as dores reportadas.

Houve prevalência do sexo feminino entre os usuários mais afetados pela cervicalgia relacionada ao uso dos smartphones (CANDIDO, 2018). Embora o estudo não indique um motivo para a prevalência das mulheres como vítimas mais frequentes, na mesma pesquisa, as mulheres relataram passar mais tempo por dia nos smartphones, realizando pelo dispositivo um número maior de atividades do que aquelas assinaladas pelos homens. Isso pode indicar um fortalecimento do argumento de Gonçalves (2020) de que a maioria dos problemas resida no tempo de uso dos smartphones. Logo, sendo as mulheres as que passam mais tempo, corroboram a proposição por ser aquelas mais afetadas por dores na coluna e de cabeça.

4.2 SÍNDROME DO PESCOÇO DE TEXTO

A síndrome do pescoço de texto, com a anteriorização da cabeça na postura frequentemente usada para troca de mensagens de texto, foi a mais relatada entre os casos pesquisados, seguida pela síndrome do polegar de SMS, evidenciando que os pontos mais atingidos pelas posturas incorretas no uso prolongado de smartphones são o pescoço e o polegar (SANTOS, 2017; NEUPANE, 2017; SHAH; SHETH, 2018; PASSOS, 2020).

A síndrome do pescoço de texto e a do polegar de SMS estão ligadas à postura utilizada para responder a sucessivas mensagens de texto recebidas nos smartphones, utilizando o teclado do celular para digitar esses textos. O hábito cada vez mais constante da troca de mensagens escritas pelos smartphones, agravado ainda mais por aplicativos de troca de mensagens como o WhatsApp, assume um importante papel nos vícios posturais, sendo associados a essas duas síndromes específicas.

4.3 CONSEQUÊNCIAS A LONGO PRAZO E NECESSIDADE DE ESTABELECER MEDIDAS PREVENTIVAS

Embora já se relacione as queixas constantes e as síndromes epidêmicas ao uso incorreto e excessivo dos smartphones, não se tem ideia ainda dos efeitos e deficiências permanentes que podem ser gerados a longo prazo, uma vez que os estudos se relacionam a um fenômeno recente, cujos resultados ainda estão em curso ou por vir (BUENO; LUCENA, 2016; SANTOS, 2017; NEUPANE, 2017; SHAH; SHETH, 2018; SILVA, 2019).

A maior parte das pessoas ainda desconhece a síndrome do pescoço de texto e outras patologias relacionadas ao uso prolongado de smartphones, assim como a maioria ainda é incapaz de relacionar as dores sentidas aos hábitos de uso dos dispositivos móveis. É preciso se buscar soluções para um uso saudável desses dispositivos e medidas preventivas dessas patologias (SAMANI, 2018)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O uso de smartphones, especialmente entre jovens adultos, adolescentes e crianças, é cada vez mais frequente e, ao mesmo tempo, cada vez mais prolongado. A tendência é de que, com a cultura e aumento da tecnologia de ubiquidade e mobilidade, esse hábito se torne ainda mais presente e tome ainda mais tempo no cotidiano das pessoas em um futuro próximo.

Isso quer dizer que a preocupação com as consequências do mau uso e da má postura durante o uso desses dispositivos móveis se mostra cada vez mais fundamentada, uma vez que esses resultados estarão cada vez mais presentes e impactarão cada vez mais a vida, a funcionalidade e a saúde das pessoas.

Respondendo à questão apresentada no problema de pesquisa, acerca de haver ou não uma relação entre o uso do celular e os danos cervicais apresentados, as evidências trazidas pelo estudo apontam para uma relação direta entre o uso dos smartphones e os danos cervicais, além do desenvolvimento de síndromes próprias desse uso, como a do polegar de SMS e pescoço de texto, além de consequências ainda desconhecidas a médio e longo prazo, além de deficiências que podem se tornar permanentes.

Assim, os danos causados pelo uso prolongado e postura inadequada dos smartphones devem ser vistos como um problema de saúde pública e, por isso, ganhar o espaço necessário entre publicações e estudos acadêmicos, mas também em ações públicas de conscientização, já que o estudo evidenciou que o nível de conhecimento dos usuários acerca das consequências ainda é muito baixo.

Paralelamente a isso, sugere-se ainda que seja objeto de estudos futuros o desenvolvimento de protocolos e medidas preventivas para o desenvolvimento dessas síndromes, danos e dores, identificando formas mais saudáveis de usabilidade dos smartphones e dispositivos móveis em geral.

REFERÊNCIAS

BUENO, Glaukus Regiani; LUCENA, Tiago Franklin Rodrigues. Geração cabeça baixa: saúde e comportamento dos jovens no uso das tecnologias móveis. IX Simpósio Nacional ABCider, São Paulo, 2016.

CANDIDO, J.P. Dor cervical e uso de dispositivos eletrônicos em universitários: prevalência e fatores associados. Universidade do Sagrado Coração, Bauru, 2018.

CRIVELLI, P.A; CORTEZ, P.J. Impacto do uso de smartphones no sistema musculoesquelético em acadêmicos de medicina. Minas Gerais, Faculdade de Medicina de Itajubá, 2018.

DELLA PASQUA, Tayse Perin. Relação entre a anteriorização da cabeça, dor muscular e tempo de uso do computador e celular. Repositório UNICER, 2018.

GONÇALVES, Mayra Miranda. Padrão eletromiográfico dos músculos trapézio, paravertebrais e esternocleidomastoideo durante a utilização de smartphone. Revista Perspectivas Online, v.10, n.32, 2020.

GUTERRES, Jayne Luciana. Principais queixas relacionadas ao uso excessivo de dispositivos móveis. Pleiade, v.11, n.21, 2017.

MELO, S. Dor cervical: um estudo de prevalência. Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2012.

NEUPANE, Sunil. Text neck syndrome. Imperial Journal Of Interdisciplinary Research, v.3, n.7, 2017.

PANATO, Karen Biatechi. Avaliação de pontos de tensão muscular em usuários de smartphone. Repositório Institucional UFSC, 2017.

PASSOS, Isabelly Maria Farias. Alterações posturais em estudantes pelo uso de smartphone. Repositório Institucional Faculdade Pernambucana de Saúde, 2020.

PINHO, Matheus Floriano. Nomofobia relacionada ao cotidiano. Prociências, v.3, n.1, 2020.

SÁ, Jéssica Gabriele. Prevalência de dores musculoesqueléticas em membros superiores e pescoço de texto em acadêmicos que utilizam smartphones. Fisioterapia Ser, v.13, n.2, 2018.

SAMANI, Pankti. Awareness of text neck syndrome in young adult population. International Journal of Community Medicine and Public Health, v.5, n.8, 2018.

SANTOS, Catherine Natiele Oliveira Dias Belarmino. Correlações clínicas entre variações anatômicas sensitivas no plexo nervoso cervical com quadros de cervicalgias da síndrome do text neck por uso indevido de smartphones. Anais da 19ª Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes, 2017.

SHAH, Pryial; SHETH, Megha. Correlation of smartphone use addiction with text neck syndrome and SMS thumb in physiotherapy students. International Journal of Community Medicine and Public Health, v.5, n.6, 2018.

SILVA, Ewellin Raquel. Avaliação ergonômica como ferramenta importante para uma melhor usabilidade do smartphone. Universidade Federal de Alagoas, Delmiro Gouveia, 2019.

SMITH, Hoy. O fardo global de outros distúrbios músculo-esqueléticos: estimativas do estudo global. Anais das doenças reumáticas, 73, 2010.

TAPSCOTT, Don. A hora da geração digital. Rio de Janeiro: Agir, 2010.

WEBER, P. Análise da postura craniocervical de crianças. UFSM, Santa Maria, 2012.

[1] Pós-graduada em Fisioterapia pela Universidade Cândido Mendes.

Enviado: Novembro, 2021.

Aprovado: Dezembro, 2022.

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Fabricia Alves da Silva

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