ARTIGO ORIGINAL
XAVIER, Tarcísio Redes [1], ESPÓSITO, Mário Pinheiro [2]
XAVIER, Tarcísio Redes. ESPÓSITO, Mário Pinheiro. Osteoma de conduto auditivo externo: relato de caso. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 10, Vol. 03, pp. 48-54. Outubro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/conduto-auditivo, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/conduto-auditivo
RESUMO
Osteoma é uma lesão tumorosa de natureza benigna que se estabelece a partir da proliferação do osso. Nesse contexto, objetivou-se apresentar um relato de caso sobre osteoma de conduto auditivo externo, identificado durante a vivência de um residente médico na área de otorrinolaringologia. Foi relatado o caso de um paciente do sexo masculino, 38 anos de idade, previamente hígido, que relatou quadro de hipoacusia e plenitude aural há cerca de 6 meses. Na realização de tomografia computadorizada de mastóide e ouvidos, foi visualizada hipopneumatização de mastoide e nodulação arredondada de consistência óssea em conduto auditivo direito, com obstrução parcial da luz. Os achados do caso em questão apresentam semelhanças com a literatura sobre idade, gênero e sintomatologia. Espera-se que esse trabalho possa contribuir para a comunidade científica e estimular outras pesquisas sobre os osteomas auditivos, principalmente no que diz respeito a compreensão da etiopatogenia, diagnóstico, tratamento e possíveis formas de prevenção.
Palavras–chave: Osteoma de conduto interno, Otorrinolaringologia, Relato de caso.
INTRODUÇÃO
Em termos de definição, o osteoma é uma lesão tumorosa de natureza benigna que se estabelece a partir da proliferação do osso. Pode ser classificado, histologicamente, como: compacto, esponjoso ou misto. Um osteoma compacto é aquele onde há a presença de pouco tecido fibroso, o que corresponde à maioria dos casos. Já o esponjoso, é caracterizado pela predominância de trabéculas fibrosas. A forma mista, por sua vez, apresenta as características das duas formas anteriores (REBOUÇAS et al., 2014).
De acordo com a literatura, os osteomas podem acometer diferentes estruturas, sendo os seios paranasais os mais comuns. Outros locais de acometimento incluem: a região maxilar, a calota craniana e o canal auditivo (HORIKAWA et al., 2012).
Os osteomas do tipo auditivo, tema em questão, são considerados raros e podem se localizar tanto no conduto auditivo externo (tipo mais frequente), quanto no conduto auditivo interno (MIZIARA; IANASE e BENTO, 1995).
Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo apresentar um relato de caso clínico sobre osteoma de conduto auditivo externo, identificado durante a vivência de um residente médico na área de otorrinolaringologia.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo masculino, 38 anos de idade, previamente hígido, sem comorbidades, trabalhador rural, apresenta quadro de hipoacusia e plenitude aural há cerca de 6 meses, com aparecimento de nodulação em conduto auditivo externo direito. Durante a realização do histórico, referiu, ainda, tratamento recente de quadro de otite média.
Ao exame de otoscopia foi visualizado abaulamento em conduto auditivo, com cerca de 1 cm, pouco móvel, de consistência endurecida, sem presença de secreção em conduto. Palpação periauricular não dolorosa e sem presença de edemaciação. Na realização de tomografia computadorizada de mastoide e ouvidos, foi visualizada hipopneumatização de mastóide e nodulação arredondada de consistência óssea em conduto auditivo direito, com obstrução parcial da luz (figura 1).
Figura 1. Visualização de osteoma de conduto interno em ouvido direito, com cerca de 1 cm, em tomografia computadorizada
Após a análise do caso, optou-se pela remoção cirúrgica por incisão retroauricular, seguida de dissecção dos tecidos e brocamento de parte da porção óssea do conduto auditivo externo. A figura 2 apresenta a visualização do osteoma antes da remoção e a figura 3 mostra o resultado após o procedimento cirúrgico.
Figura 2. Visualização de osteoma de conduto interno em ouvido direito, durante o procedimento de remoção cirúrgica por incisão retroauricular
Figura 3. Resultado da remoção cirúrgica por incisão retroauricular de osteoma de conduto interno em ouvido direito
DISCUSSÃO
De acordo com a literatura, o osteoma de conduto auditivo externo é uma doença pouco frequente, considerada três vezes mais comuns em pacientes do sexo masculino (NOORDZIJ; ARRIAGA e STONE, 1995; TESTA et al., 2003). O fato de ser um tipo de tumor de crescimento lento, pode ser a possível explicação para o acometimento ser considerado em maior escala em pacientes adultos (REBOUÇAS et al., 2014).
A etiologia para esse tipo de osteoma não se encontra totalmente definida. Entretanto, sabe-se, até o momento, que o surgimento pode ter associação com infecções, traumas ou mecanismos reacionais (TESTA et al., 2003; CARVALHO et al., 2008). Dessa forma, nota-se que os achados do relato corroboram com a literatura, uma vez que o paciente relatou ter sido submetido ao tratamento de otite média, uma inflamação de mucosa que reveste a cavidade timpânica (FOBE et al., 2002; LUBIANCA NETO; HEMB e SILVA, 2006).
Por sua vez, a sintomatologia do osteoma apresentado pelo paciente, também, mantém relação com outras pesquisas sobre a temática, onde se evidencia que o surgimento dos sintomas está ligado ao aumento tumoral (REBOUÇAS et al., 2014; VIEIRA; MANCINI e GONÇALVES, 2009). A hipoacusia ocorre devido a obstrução do conduto auditivo em decorrência da formação tumoral. A presença do cerume e restos de descamação de pele, também, podem contribuir para a hipoacusia junto ao osteoma (VIEIRA; MANCINI e GONÇALVES, 2009). Essas circunstâncias são capazes de explicar a presença da plenitude aural referida no caso.
No que se refere ao diagnóstico, evidencia-se a importância da avaliação auditiva e exames de imagem, como é o caso da tomografia computadorizada, na determinação da extensão do osteoma (VIEIRA; MANCINI e GONÇALVES, 2009).
Por outro lado, destaca-se a importância da análise histológica para o diferencial diagnóstico, principalmente buscando estabelecer e distinguir o osteoma de exostose (MIZIARA; IANASE e BENTO, 1995) que, por sua vez, é um tipo de crescimento ósseo localizado e periférico, cuja composição é formada por osso compacto e esponjoso (SUASSUNA et al., 2020). Além disso, considera-se que a precisão diagnóstica, também, implica diretamente no planejamento do tratamento.
A conduta terapêutica considerada para o caso relatado foi a remoção cirúrgica por incisão retroauricular. A literatura mostra que essa opção cirúrgica pode ser adotada no caso de osteomas localizados na região medial ao istmo ou quando a lesão é maior que o istmo. Além disso, o procedimento cirúrgico é recomendado diante de situações de perda auditiva devido a obstrução óssea. Cabe salientar que o tratamento, também, pode ser por método conservador, através da prevenção de otites externas, a partir da remoção de epitélio descamado e aplicação de antibióticos tópicos (TESTA et al., 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O osteoma de conduto auditivo externo, apesar de ser considerado benigno, é capaz de impactar na qualidade de vida do paciente, principalmente quando a sua evolução leva ao surgimento de sintomas auditivos. Nesse contexto, cabe ressaltar a importância da avaliação minuciosa dos casos, tendo em vista a escolha do caminho terapêutico adequado.
Reflete-se, por outro lado, que a literatura sobre a temática ainda se apresenta escassa, talvez por conta da raridade com que a doença se apresenta. Contudo, espera-se que esse trabalho possa contribuir para a comunidade científica e estimular outras pesquisas sobre os osteomas auditivos, principalmente no que diz respeito a compreensão da etiopatogenia, diagnóstico e avanços, no que diz respeito a métodos, tecnologias de tratamento e prevenção.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, R. W. F.; ANTUNES, A. A.; MELO, M. R. T.; ANDRADE, E. S. S.; PEREIRA, C. U. Osteoma craniofacial: estudo de 35 casos. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, vol. 37, n. 4, p. 212-214, 2008. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-507896. Acesso em: 03 out. 2022.
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MIZIARA, I. D.; IANASE, M. M.; BENTO, R. F. Osteoma de conduto auditivo interno associado a surdez súbita contralateral. Braz. J. Otorhinolaryngol., vol. 65, n. 05, p. 396-398, 1995. Disponível em: http://oldfiles.bjorl.org/conteudo/acervo/acervo.asp?id=2123. Acesso em: 03 out. 2022.
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[1] Médico residente em Otorrinolaringologia pelo Hospital otorrino. ORCID: 0000-0003-4096-8123.
[2] Doutor pela Faculdade de medicina da santa casa de são paulo – SP; mestre em otorrinolaringologia pela UFRJ – RJ. ORCID: 0000-0001-5080-3424.
Enviado: Setembro, 2022.
Aprovado: Outubro, 2022.