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Mecanismos patológicos na síndrome compartimental do esforço crônico em atletas De motocross

RC: 91687
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SALVIANO, Lucas Publio Ferreira [1]

SALVIANO, Lucas Publio Ferreira. Mecanismos patológicos na síndrome compartimental do esforço crônico em atletas de motocross. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 07, Vol. 08, pp. 177-193. Julho de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/atletas-de-motocross

RESUMO

O presente artigo científico procura precipuamente oferecer significativas reflexões acerca da chamada Síndrome Compartimental de Esforço Crônico que assola grande parte da população de atletas de motocross. Com isso, a pergunta que norteou este estudo foi: quais exercícios podem ser de auxílio para atenuar a Síndrome Compartimental de Esforço Crônico? Assim, no intento de chegar à resposta a esta questão, o objetivo geral deste trabalho é compreender como o treinamento técnico e físico pode amenizar o problema e ajudar atletas a otimizarem seu rendimento técnico no motocross. Partindo disso, este estudo se justifica pela existência da necessidade de fomentar o cenário do motociclismo nacional, trazendo a esse público informação de qualidade acerca desse tema, levando-se em consideração os conhecimentos técnicos que ele poderá propiciar para melhorar a performance desses pilotos. Logo, quanto ao aporte teórico usado nas reflexões e embasamento para os estudos que aqui são trazidos, optou-se por uma linha de pesquisa exploratório-bibliográfica, que, com suas investigações, em muito contribuíram para a sustentação deste trabalho. Considerando as análises empreendidas pela investigação em relação ao material bibliográfico utilizado, foi possível notar o quanto o profissional de Educação Física e o treinador técnico podem ser beneficiados, porque, entendendo-se a referida síndrome, existem maiores possibilidade tanto de melhor performance esportiva na modalidade quanto aumento da segurança dos participantes.

Palavras-chave: Síndrome Compartimental, Motocross, Treinamento técnico.

INTRODUÇÃO

Para os profissionais que atuam como pilotos e principalmente como educadores físicos, é perceptível que são inúmeras as vezes nas quais têm dúvidas sobre como reduzirem o comumente chamado arm-pump (em tradução popular: “braço travado”), termo em inglês para designar uma espécie de travamento do músculo do antebraço devido a uma série de fatores. (CONTEXT, 2021).

Além disso, não tem sido comum encontrar profissionais da Educação Física que saibam lidar com a questão do travamento do músculo do antebraço de uma forma favorável à melhora significativa do problema sem que haja a necessidade de passar por algum processo cirúrgico. Ademais, hoje, atletas dessa modalidade costumam sofrer com a síndrome e não sabem como diminuir seus efeitos. Assim, tanto atletas quando instrutores carecem de informação sobre essa temática.

Considerando esse cenário de desafios no campo da Educação Física e do bom condicionamento físico para essa modalidade desportiva, empreendeu-se esta pesquisa bibliográfica na qual foram encontrados vários estudos relevantes relacionados a esse tema. Para o aporte teórico deste estudo, foi feita uma busca em periódicos disponíveis nas plataformas “pubmed” e “Scielo”. Diante dos vários resultados retornados pelas plataformas, optou-se por se utilizar apenas artigos científicos com até 25 anos de publicação, que tenham necessariamente sido veiculados em jornais ou revista da área médica/de saúde. Com isso, foram selecionados doze artigos correlatos à temática em análise.

Assim, este estudo servirá justamente para compilar informações didáticas e estratégicas para que qualquer piloto de motocross e preparador físico da área possam ter acesso a esse material, permitindo que os efeitos dessa síndrome sejam conhecidos e tratados devidamente.

As hipóteses que nortearam este estudo buscam fortalecer alguns questionamentos acerca da existência e possível atenuação da Síndrome do arm-pump, dentre elas, elencam-se:

– O melhor treinamento para a diminuição do problema é o treinamento técnico sobre a motocicleta;

– O efeito da vibração da motocicleta na preensão palmar pode fazer com que essa síndrome se agrave.

Isso posto, o objetivo geral deste trabalho é o de compreender os mecanismos que podem reduzir a síndrome compartimental crônica em pilotos de motocross. Os objetivos específicos, por sua vez, são:

– Demonstrar como a vibração da motocicleta pode afetar o atleta;

– Apresentar soluções e técnicas para esse problema da síndrome compartimental;

– Sugerir a melhor técnica de pilotagem para diminuir os efeitos da síndrome.

As pesquisas apontam que ainda é relativamente pouco o conhecimento sobre o tratamento não operatório da síndrome bem como sobre quais os melhores tipos de exercícios físicos capazes de amenizar o problema, posto que nem sempre os indivíduos (pilotos) possuem orientação ou mesmo outros incentivos que os levem a praticar exercícios físicos orientados por um profissional de maneira específica para que consigam ter melhor desempenho.

Diante dessas questões preliminares, portanto, pretende-se, com esta pesquisa, trazer informações ao público interessado de um modo geral acerca da importância de um profissional de Educação Física e de um treinador técnico para praticantes de modalidades do motociclismo off-road, isto é, aquele praticado fora de estradas pavimentadas, geralmente em chão batido e com trilhar e percursos definidos para esse fim, em especial a modalidade motocross. (LOURENÇO, 2018).

Metodologicamente, este trabalho se ampara na forma de uma pesquisa exploratório-bibliográfica, de cunho qualitativo e de natureza básica, tendo por estrutura teórica artigos publicados em periódicos da área de saúde/médica de autores teórico-científicos que abordam com propriedade e coerência a questão relacionada à Síndrome Comportamental do Esforço Crônico. Esse tipo de metodologia propõe ao pesquisador aproximar-se o mais possível do objetivo pretendido, que, neste trabalho, será o de oferecer algumas reflexões acerca do quão importante é uma boa preparação física e técnica dos atletas dessa modalidade esportiva. (KONTTINEN et al., 2008).

DESENVOLVIMENTO

Um dos maiores questionamentos dos pilotos no meio do motociclismo off- road diz respeito a qual pode ser o segredo para “travar” menos o antebraço enquanto se anda na moto. Costumeiramente, a melhor maneira para a diminuição desse problema é o treinamento técnico em cima da motocicleta. (CASANOVAS, 2017). A partir disso, nesta pesquisa, serão elencados alguns estudos existentes na literatura corrente sobre o assunto para buscar um encaminhamento científico visando à verificação dessa hipótese.

Esse “travamento” do músculo do antebraço ocorre não apenas no motociclismo amador, visto que pode ser um problema também sério para atletas profissionais que vivem dessa atividade, inclusive podendo levá-los à aposentadoria precoce na modalidade por não conseguirem sanar o problema de forma não-operatória. (TARABINI et. al., 2020).

Quando essa síndrome afeta pilotos profissionais, eles geralmente optam pela cirurgia, a qual consiste em um corte na fáscia muscular da região na qual se localiza a síndrome compartimental. Esse procedimento cirúrgico é denominado “fasciotomia”, no qual a fáscia muscular é cortada para aliviar a pressão do local. A pressão sentida pelo paciente provém de contrações musculares (devido à forte preensão palmar) combinadas com vibrações da ferramenta.

No caso do motociclismo, o travamento do braço acontece frequentemente, pois o piloto precisa segurar a moto, apertar os manetes de freio e de embreagem e ainda acelerar, além das vibrações da moto e do terreno irregular. Chetter et al. (1998) demonstram que a alta incidência do fenômeno de Raynaud em operadores de ferramentas vibratórias foi relatada pela primeira vez em Roma em 1911, quando diagnosticaram e avaliaram que a exposição ocupacional à vibração seria uma causa importante do fenômeno de Raynaud secundário. Mais tarde, em 1985, devido às dificuldades terminológicas anteriores e ao reconhecimento desse envolvimento multissistêmico, o complexo da doença passou a ser conhecido como “síndrome de vibração mão-braço” (sigla em inglês HAVS – Hand-arm vibration syndrome). Ferramentas como furadeiras, martelos pneumáticos, esmerilhadeiras, polidoras elétricas e motoserras a gasolina foram mais fortemente implicadas nesse cenário.

Pouco se sabe sobre o desenvolvimento dessa síndrome, considerando-se que ela é multifatorial. A faixa dominante para a síndrome ocorre em vibrações entre 25Hz e 320Hz, assim as vibrações acima de 250Hz não saem do antebraço e não atingem ombros, cotovelos e punhos, daí, o sintoma principal da síndrome ocorre devido a um desequilíbrio entre vasoconstrição e vasodilatação no qual esse desequilíbrio é inclinado à vasoconstrição, causando danos. Níveis plasmáticos de epinefrina, norepinefrina e endotelina-1, que são vasoconstritores potentes, também foram encontrados em alta concentração nos pacientes com a síndrome, enquanto os níveis de vasodilatadores, como óxido nitroso e prostaciclina, são diminuídos. (MAHBUB; HARADA, 2008; HERRICK, 2005).

Em Mirbod et al. (1997), foram feitos os primeiros estudos sobre os efeitos colaterais da síndrome de vibração mão-braço aplicada a motocicletas que tiveram como objetivo avaliar os sintomas subjetivos no sistema mão-braço de todos  os motociclistas da polícia de trânsito de uma cidade japonesa. Segundo esses estudos, no Reino Unido, em torno de 500.000 trabalhadores sofrem com exposição à vibração, com isso, essa síndrome tende a aumentar futuramente a carga de trabalho de vários médicos, advogados trabalhistas e cirurgiões vasculares.

Chetter et al. (1998) realizam uma rápida revisão da síndrome de vibração mão-braço quanto à sua etiologia da fisiopatologia multifatorial e revelam três mudanças patológicas principais:

– Intenso espessamento das camadas musculares da parede arterial com hipertrofia de células musculares individuais;

– Uma neuropatia desmilinante periférica com aumento do número de células de Schwann e fibroblastos;

– Aumento da quantidade de tecido conjuntivo causando fibrose perivascular e períneo.

Devido a essa vibração, a disfunção adrenoreceptora é uma hipótese a ser considerada. Assim, sugere-se que o dano seletivo do adrenoreceptor alfa-1 pode ocorrer resultando em uma relativa predominância de adrenoreceptores alfa-2 e uma resposta vasoconstritora anormalmente forte. Foi demonstrado que esses receptores motores podem sofrer danos por vibração. Os primeiros a serem afetados são os receptores de adaptação rápida tipo 1, com redução da sensação em frequências de 125Hz a 250Hz, seguidos, em casos mais graves, por perda de sensibilidade em todas as frequências acima de 60 Hz. (CHETTER et. al., 1998).  A União Europeia adotou uma diretiva em 2002 (Diretiva 2002/44/CE) para amenizar os efeitos da vibração em trabalhadores cuja função depende diretamente dessa vibração, como motoristas de motos e britadores, por exemplo, a qual determina um limite diário de exposição à vibração. O próprio funcionário tem a obrigação de segui-la para a própria saúde, pois exposições a altas vibrações podem levar à síndrome de vibração mão-braço, cuja limitação é de 2,5m/s². Tarabini et al. (2020) fizeram diversos testes com diferentes tipos de guidão, a partir disso, quantificaram a vibração que era transmitida ao piloto, simulando as vibrações da pista em um agitador LDS V930 em laboratório. Posteriormente, questionaram os pilotos sobre o nível de conforto com cada tipo de guidão. Em conclusão, descobriram que vários desses guidões que são vendidos como diminuidores de vibração, com borrachas, na verdade são ineficazes, visto que as taxas de vibração excedem o limite diário adotado pela União Europeia em menos de uma hora, ou seja, a vibração é deveras um grande problema para esses atletas.

Sabendo-se que as motocicletas off-road adultas pesam em torno de 110kg, que esses motores têm um alto poder de torque, e que as pistas são totalmente irregulares, é de se imaginar que pilotos dessas motocicletas em todas as modalidades podem sofrer com a referida síndrome, em especial a modalidade do motocross devido à destruição que a pista se encontra pelos muitos buracos, pelas canaletas formadas naturalmente pelas motos muito potentes e assim por diante. (TARABINI et. al., 2020). O motocross é uma modalidade de predominância aeróbica, porém, o atleta necessita de todas as valências físicas para obter um bom desempenho, tais como, equilíbrio, força para segurar impactos, resistência anaeróbica, pois se trata de um esporte de natureza em que a intensidade é elevada. (SIMÕES et. al., 2016).

Segundo Casanovas (2017), a valência física está próxima ou até mesmo acima dela máxima quando comparada a testes de laboratório. A valência física está quase todo o tempo acima de 85% da máxima e na faixa de 90% – 100% durante 87% das vezes. (ASCENSÃO et al., 2008).

Sabendo que o motocross causa um dano muscular, principalmente dos membros superiores, treinadores técnicos têm um papel fundamental na diminuição dos mecanismos patológicos dessa síndrome, pois terapias não operatórias têm um sucesso de 50% a 80% ajustando apenas a motocicleta de maneira que os manetes e o guidão fiquem em uma posição o mais neutra possível. (HUMPHERYS et al., 2018). Isso possibilita ao atleta não forçar tanto os músculos flexores dos dedos, diminuindo-se a pressão no local.

Nesse contexto, um treinador técnico se faz necessário para todos os pilotos, pois se trata de um esporte de alto risco, além de que a evolução é muito mais rápida se o atleta estiver acompanhado de alguém que tenha experiência no assunto. Esse treinador técnico, caso seja profissional de Educação Física, poderá auxiliar significativamente no acompanhamento físico do atleta ajudando-o a fortalecer os músculos mais utilizados na modalidade, uma vez que o piloto utiliza mais força nas pernas para segurar e pressionar a moto, de forma que tal pressão e força não serão utilizadas nos membros superiores, o que favorece o alívio da pressão compartimental.

Baseado nessas considerações, as tabelas 1 e 2 (apresentadas mais à frente) apresentam um checklist de itens a serem conferidos na motocicleta e uma ficha técnica que poderá servir de ajuda para diminuir os efeitos da síndrome de vibração mão-braço. Cabe pontuar que as referidas tabelas trazem compilados dos dados obtidos nos estudos de Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020). No caso de os métodos não-operatórios não resolverem o problema da pressão compartimental, resta, pois, o método operatório, o qual, na maioria das vezes, é bem-sucedido, pois alivia a pressão e possibilita que esses atletas alcancem o desenvolvimento que almejam.

Outrossim, é necessário falar sobre o fator psicológico dos atletas, pois se trata de um esporte a motor, em que os níveis de adrenalina sobem drasticamente até mesmo nos espectadores. Segundo Ascensão et al. (2008), isso foi confirmado pelo aumento significativo de catecolaminas na urina coletada após a corrida, ou seja, a maioria dos atletas de motocross competem sob estresse psicoemocional, situação capaz de interferir na síndrome compartimental, pois, uma vez que o piloto está tenso sobre a motocicleta, sentindo-se pressionado, faz instintivamente mais força, respirando de forma errônea, gerando, consequentemente, o arm-pump, isto é, o travamento do braço (CONTEXT, 2021), gerando, pois, a síndrome compartimental do esforço crônico, ou síndrome da vibração mão-braço (HAVS).

Sabe-se que a síndrome de vibração mão-braço existe devido à transmissão de vibrações para o antebraço, somadas à força isométrica para segurar o objeto e à força de contração muscular para executar no caso da moto a ação de acelerar, frear e usar embreagem, assim, os músculos flexores dos dedos atuam fortemente nessa modalidade, logo, é possível inferir que, quanto menos preensão palmar o piloto fizer na motocicleta e quanto menos força ele usar para segurar o guidão, menores serão as chances de ser acometido pela síndrome. Isso ocorre, pois, quanto menos preensão palmar, menos vibração é transmitida, então ocorre menos contração dos músculos e dos compartimentos, de modo que preparadores técnicos atuam exatamente nesse sentido, auxiliando o piloto a se ajustar à motocicleta, fazendo com que a força necessária para segurar e pilotar a moto seja mais dispersada para os membros inferiores, uma vez que o piloto consegue prender e pilotar a moto com as pernas. Isso facilita que os braços fiquem mais soltos e relaxados. (MAHBUB; HARADA, 2008).

São muitos os pilotos profissionais que dizem que essa modalidade é feita para pilotar com as pernas e na ponta dos dedos, ou seja, o primordial não é a força muscular ou a resistência muscular do antebraço, mas sim fazer menos força nesses compartimentos de modo que se alivie a transmitibilidade da vibração e de modo que haja menos contração, ocasionando um fluxo sanguíneo melhor, com mais oxigenação. (MIRBOD et. al., 1997).

Também é importante mencionar que uma corrida de motocross induz um aumento considerável nos níveis plasmáticos de catecolaminas, e um aumento na epinefrina e norepinefrina parecem ser contribuintes importantes para a expressão da força muscular. (ASCENSÃO et al., 2007). Logo, tomando em conta que esse aumento de catecolaminas aumenta a expressão de força muscular, é conveniente concluir que, quanto mais relaxado e menos suscetível ao efeito de adrenalina o piloto estiver, mais ele vai conseguir pilotar sem fazer tanta força para segurar a moto, situação positiva possível com muita prática e técnica de pilotagem.

Conforme argumenta Konttinen et al. (2008), os valores do sinal eletromiográfico foram mais altos quando os pilotos estavam fazendo frenagem, pois existe uma tensão para conseguir diminuir a velocidade da motocicleta além de a alta concentração exigir força dos flexores dos dedos, principalmente do indicador direito, o mais usado geralmente nas frenagens. Além disso, nas motos off-road, os freios encontram-se do lado direito da motocicleta, já o freio dianteiro se localiza na mão direita e o freio traseiro, no pé direito. Como o freio dianteiro para modalidades off-road é o mais importante, ele é usado frequentemente durante praticamente todo o tempo, enquanto o traseiro serve para estabilização e direcionamento da motocicleta.  (HERRICK, 2005).

Ascensão et al. (2008), por sua vez, igualmente asseveram que os valores do sinal eletromiográfico subiram significativamente quando os pilotos recepcionaram de um salto. É possível concluir a veracidade dessa afirmação, pois os saltos são voos de longa distância e altura, ultrapassando os 40 metros de distância e 10 metros ou mais de altura, portanto, a aterrisagem exige técnica e concentração sem que o atleta perceba força muscular também.

Em se tratando desse tempo no ar, enquanto os pilotos estão no ar, os músculos se encontram mais relaxados quando comparado em outras situações da pista, isso mostra que, durante o salto, vê-se o momento ideal para o atleta descansar, respirar e, principalmente, aproveitar para relaxar as mãos do guidão. (CHETTER et. al., 1998).

Por fim, Konttinen et al. (2007; 2008) comparam o desgaste dos flexores dos dedos antes e depois das competições e, em diferentes estudos, mostram que há diminuições significativas na força do atleta, além de encontrarem diminuições na força dos músculos extensores da perna e flexores do braço, mas apenas em pilotos amadores, também realizaram testes semelhantes de força de preensão palmar e ela diminuiu significativamente após as corridas, diminuiu-se também a força dos flexores dos dedos, sugerindo que isso pode levar à síndrome compartimental.

Tabela 1 – Checklist de itens na motocicleta para diminuir pressão compartimental

·  Ajustar manetes para que fiquem em uma posição neutra;

·  Trocar o guidão: guidões de ferro transmitem mais vibração que os de titânio;

·  A grossura da manopla interfere: optar por manoplas mais finas para diminuir preensão palmar;

·  Adicionar amortecedores de direção pode fazer com que a moto mexa menos à frente diminuindo a quantidade de força necessária para segurar a frente da moto;

·  Estar com o SAG da moto conferido (moto equilibrada: relação altura da traseira e dianteira com o peso do piloto);

·  Preparar as suspensões da moto de acordo com o peso, estatura e nível de pilotagem.

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

Nessa tabela, são apresentados os aspectos relacionados à verificação da motocicleta para que, durante a execução de manobras, diminua-se a pressão compartimental, causando, com isso, o menor desconforto possível para o atleta.

Tabela 2 – Checklist de técnicas de pilotagem que ajudam a diminuir a pressão compartimental

  • O piloto deve se atentar a como está posicionado seu corpo desde os pés até a cabeça;
  • Todas as articulações devem ter mobilidade;
  • Uma vez que o piloto posiciona seu pé corretamente na pedaleira, fica mais fácil de posicionar também o seu joelho, pois este acompanha a ponta do pé;
  • Uma distribuição melhor do peso do piloto é necessária, balanceando e distribuindo o peso corretamente, consegue-se andar sem fazer muita força;
  • Os braços devem ficar o mais soltos possível, acompanhando o trabalho da suspensão dianteira com a articulação do cotovelo e ombro;
  • Pegar na moto com os cotovelos longe do corpo, dessa maneira se distribui a carga que era jogada apenas no músculo do antebraço para outros grupos musculares;
  • Desenvolver toda essa parte técnica com um treinador técnico;
  • Focar em baterias de volume maior e intensidade mais baixa focando na parte técnica para ir diminuindo cada vez mais a força com que o piloto segura o guidão;
  • Relaxar na pista, buscando traçados menos esburacados além de aproveitar os saltos para aliviar a pressão do antebraço (abrindo a mão) e respirando.

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

Nessa tabela, notam-se as técnicas de pilotagem que devem ser observadas para garantir que a pressão compartimental seja minimizada. A título de esclarecimento, tanto a tabela 1 quanto a tabela 2 foram desenvolvidas pelo autor desta pesquisa, instrutor técnico filiado à Confederação Brasileira de Motociclismo, com base em todos os fundamentos teóricos levantados pela bibliografia analisada.

A partir das leituras, descobriu-se que uma menor força de preensão palmar ajuda a amenizar os efeitos da síndrome, bem como a pilotar a motocicleta com o posicionamento adequado, deixando as articulações livres para se movimentarem e acompanharem a moto. O objetivo final é o piloto e a moto entrarem em harmonia, dessa maneira, não se exigirá do atleta extrema força para pilotar, visto que ele estará sempre acompanhando a moto em todos os movimentos.

Existem exercícios práticos para fixação das posturas e das técnicas, tanto com a moto imóvel no cavalete quanto em movimento. A título de exemplo, saber executar uma boa frenagem sem fazer tanta força, saltar e aterrissar de modo que se economize energia, fazer curvas sem desgaste são, naturalmente, o objetivo de todo técnico ao preparar seus alunos. As fotografias seguintes ilustram situações apresentando o piloto em diferentes posições, assim, a partir delas, serão feitas análises da diferença de angulação entre uma posição vista como errada e o posicionamento adequado no programa de análise biomecânica Kinovea.

Figura 1 – Forma inadequada de pilotagem em pé

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

A imagem 1 apresenta uma maneira imprópria de se pilotar em pé, pois o joelho do atleta se encontra posicionado muito à frente, dessa maneira, ele faz mais força nos braços para segurar o próprio peso e, para manter-se em cima da moto, formou um ângulo de 90 graus. Contudo, o joelho preso no tanque impossibilita o movimento de amortecimento do atleta.

Figura 2 – Vista frontal de posição inadequada de pilotagem em pé

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

Nesta imagem, com outro ângulo, mostra-se a vista frontal da figura 1. Nessa postura, os braços ficam mais tensionados, com isso, o atleta não conseguirá amortecer bem, pois a articulação dos ombros e dos cotovelos se encontra bloqueada, logo, todo impacto da moto e do terreno serão transmitidos para o atleta mais bruscamente, o que pode gerar a síndrome compartimental.

Figura 3 – Forma adequada de pilotagem em pé

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

A figura 3 apresenta a maneira correta de se pilotar em pé, com os joelhos posicionados no centro da motocicleta, possibilitando controlar a moto com as pernas de uma maneira que os braços do piloto fiquem livres para amortecer e para pilotar sem fazer tanto esforço. Com isso se forma um ângulo de 140 graus nas pernas do piloto, pois ele está distribuindo seu peso jogando o quadril para trás e mantém o peito alinhado ao guidão. Nesse ângulo, a ponta do pé encontra-se na pedaleira de maneira que seu tornozelo pode se movimentar para baixo e para cima, favorecendo a possibilidade de amortecimento e estabilização da motocicleta.

Figura 4 – Vista frontal da forma adequada de pilotagem em pé

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

A imagem 4 ilustra a vista frontal da figura 3, apresentando frontalmente uma posição oportuna de equilíbrio. Com o peso bem distribuído e com os cotovelos longe do corpo, faz-se menos força com os braços e também se amortecem as articulações de ombro e de cotovelo nos buracos e durante impactos.

Figura 5 – Pegada inadequada com o cotovelo baixo

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

A figura 5 mostra a vista lateral da pegada com  cotovelo baixo e próximo ao corpo. Essa é uma posição imprópria, pois o piloto limita o movimento das articulações, formando-se um ângulo de 125 graus, situação que favorece a síndrome em análise.

Figura 6 – Pegada inadequada com o cotovelo baixo durante aceleração

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

Nessa imagem, o piloto está acelerando a motocicleta com os cotovelos baixos, igualmente de modo inadequado, visto que ele precisa fazer muita força no músculo do antebraço para conseguir girar o dispositivo do acelerador por completo, o que aumenta significativamente os efeitos da síndrome.

Figura 7 – Pegada adequada com o cotovelo alto

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

A figura 7 mostra a vista lateral da pegada com cotovelo alto, formando um ângulo de 200 graus na parte superior. Nessa posição, o piloto está apto a passar por qualquer impacto, buracos, obstáculos, uma vez conseguirá amortecer a motocicleta com as articulações do cotovelo, se for acelerar a moto, por sua vez, não empregará tanta força no antebraço, pois essa força potente será distribuída para os músculos do ombro, tríceps e costas para manterem o cotovelo alto, diminuindo efeitos da síndrome compartimental.

Figura 8 – Posição inadequada do pé para a pilotagem

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

Na figura 8, apresenta-se que a posição dos pés na pedaleira é de extrema importância para o bom desenvolvimento nas pistas. O joelho acompanha a ponta do pé, e o joelho deve ficar bem preso à motocicleta para que o piloto faça menos força no antebraço. Se a ponta do pé ficar direcionada para fora, ela passará a ser o ponto mais aberto da moto, o que pode gerar lesões por torções de tornozelo e de joelho, além disso, o atleta não consegue usar a articulação do tornozelo para ajudar no amortecimento, logo, o joelho não ficará preso suficientemente à motocicleta, provavelmente aumentando a quantidade de força feita pelos membros superiores.

Figura 9 – Posição adequada dos pés para a pilotagem

Fonte: O autor (2020), com base em Casanovas (2017); Humpherys, et. al. (2018) e Tarabini et. al. (2020)

A figura 9 aponta a maneira apropriada de se pilotar, com a ponta do pé na pedaleira, fechado, apertando a moto com o joelho, podendo movimentar a articulação do tornozelo, se for necessário.

A partir dessas imagens, é possível afirmar que o preparo do atleta e os cuidados do preparador físico são sumamente essenciais para a prática do motocross. Elementos como posição de pés, cotovelos, quadris e demais aspectos são questões cruciais para que se diminua ou se aumente a propensão ao desenvolvimento da síndrome compartimental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi possível perceber nos estudos levantados neste artigo, a Síndrome Compartimental do Esforço Crônico constitui-se um verdadeiro desafio para atletas de motocross, visto que gera travamentos musculares problemáticos que podem, em casos mais graves, leva o esportista à inatividade, razão pela qual se viu a importância de se discutir essa temática no campo científico e esportivo.

Poucas pesquisas têm buscado relacionar a prática do treinamento técnico e exercício físico específico para a modalidade com a melhora nos quadros da síndrome compartimental, na prática, isso acontece, mas não existem muitos relatos científicos que solidifiquem essa melhora.

Assim, observando-se as discussões levantadas pelo referencial teórico, bem como a necessidade de treinamento técnico prático, pretende-se que este estudo ofereça base teórico-científica a outras possíveis pesquisas na área em questão.

Conforme o discutido por este estudo, o conhecimento técnico mostra-se um grande aliado do atleta do motocross em se tratando  da redução dos problemas relacionados à Síndrome Compartimental do Esforço Crônico, visto que a vibração da motocicleta é um grande influenciador do desenvolvimento da doença em análise, exigindo-se, pois, que o motociclista reconheça os meios para evitar que tais vibrações compliquem-se com o passar do tempo.

A partir dos estudos de Casanovas (2017), Humplherys et. al., (2018) e de Tarabini et. al., (2020), é possível afirmar que há dois caminhos básicos para a diminuição da preensão palmar nos atletas de motocross. O primeiro diz respeito à constante verificação da motocicleta e suas condições gerais, como posição dos manetes, amortecedores de direção e suspensão equilibrada adequadamente.

O segundo caminho para atenuar a problemática da Síndrome Compartimental do Esforço Crônico diz respeito à atitude de cautela e autocuidado do motociclista enquanto em cima da moto, tendo a atenção para a posição dos pés, das mãos e cotovelos em relação aos freios e manetes e assim por diante.

Todos esses cuidados envolvem, necessariamente, conhecimento técnico e, sobretudo, treinamento, de forma que tanto profissionais como amadores podem ser ricamente beneficiados com a checagem rotineira de sua motocicleta bem como policiar-se em relação às posições seguras e confortáveis enquanto dirigem o veículo, a fim sempre de reduzir a pressão palmar.

Por fim, é possível concluir que a prática do treinamento técnico, bem como treinamento de força específico e o aeróbico para melhoria das capacidades cardiovasculares em conjunto podem diminuir em muito as chances de se apresentarem os sintomas dessa síndrome.

REFERÊNCIAS

 ASCENSÃO, António. et al. Effect of off-road competitive motocross race on plasma oxidative stress and damage markers. British journal of sports medicine. 2007. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2658913/. Acesso em: 28/10/2020.

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[1] Educação Física – Bacharel (Cursando).

Enviado: Junho,2021.

Aprovado: Julho, 2021.

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