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Resgate da memória afetiva dos idosos: Um estudo de caso em uma instituição de São Mateus/ES

RC: 72385
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

LENZI, Juliana Fernandes de Almeida Castro [1], MOURA, Luciana Teles [2]

LENZI, Juliana Fernandes de Almeida Castro. MOURA, Luciana Teles. Resgate da memória afetiva dos idosos: Um estudo de caso em uma instituição de São Mateus/ES. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 01, Vol. 04, pp. 26-52. Janeiro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/resgate-da-memoria

RESUMO

A pesquisa objetivou estudar o resgate da memória afetiva dos idosos de uma instituição de São Mateus, no Espírito Santo, que se dedica a cuidar de idosos que por diferentes motivos não vivem mais com suas famílias. Quanto à metodologia, configurou-se como um estudo de caso, de caráter exploratório. Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas junto aos idosos. A análise dos dados mostrou que mesmo longe dos seus familiares, esses idosos trazem consigo, além da experiência da longevidade, um grau de afetividade enorme, carinho e respeito com suas próprias histórias de vida; alguns têm uma excelente memória. O estudo mostrou ainda que o ato de envelhecer é algo subjetivo, pois cada pessoa tem o seu tempo e sua maneira, independente da cronologia e dos fatores biológicos.

Palavras-chave: Memória, afetividade, idosos, história de vida.

INTRODUÇÃO

A população mundial está envelhecendo e o número de idosos vem aumentando em relação aos jovens. Nesse aspecto, Suzman et al (2015) advertem que os idosos representam 12% da população mundial, podendo duplicar até 2050 e atingir 11,2 bilhões até 2100 (UNITED NATIONS, 2015). Esse maior tempo de vida que nos foi presenteado pode ser considerado uma história de sucesso para a humanidade, dependendo de um elemento central: a melhoria na qualidade de vida e da saúde da população idosa.

Nessa perspectiva, as políticas públicas têm ressaltado o sentido positivo do envelhecimento, a contribuição da pessoa idosa com sua riqueza de conhecimentos, habilidades, experiências na vida cotidiana e laboral. Para esse sentido positivo do envelhecimento são utilizados diferentes termos: envelhecimento bem-sucedido, envelhecimento ativo e, mais recentemente, a retomada do termo envelhecimento saudável, proposto pela Organização Mundial de Saúde (2015).

A OMS (2015, p. 13) define o envelhecimento saudável como o “processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional que permite o bem-estar na idade avançada”. A capacidade funcional, por sua vez, pode ser compreendida como a associação à capacidade intrínseca do indivíduo, características ambientais relevantes e as interações entre o indivíduo e essas características.

Em relação à legislação que subsidia o idoso há a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, que institui o Estatuto do Idoso que se destina “a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos” (BRASIL, 2003, p. 1).

Nesse ínterim, o estudo em questão apresenta a seguinte problemática: Como o resgate da memória pode colaborar para identificar o processo de afetividade do idoso durante o seu percurso de vida?

Matos (2004) avulta sobre a memória de uma pessoa, afirma que essa é composta por um conjunto de referências sociais, onde sua identidade é idealizada no tempo presente em conformidade com os fundamentos adquiridos ao longo da vida.

Sendo assim, a pesquisa tem como objetivo geral analisar o papel do resgate da memória no processo de construção da afetividade junto aos idosos residentes de uma instituição em São Mateus, no Espírito Santo.

Para tanto, tem como objetivos específicos: evidenciar a memória afetiva e como ela se dá na vida dos idosos; resgatar fatos importantes que aconteceram durante a vida de cada um no decorrer da pesquisa; identificar quais momentos no resgate da memória proporcionam a afetividade durante a aplicabilidade das entrevistas no processo de pesquisa.

O presente estudo é oriundo de uma pesquisa realizada no mestrado intitulada “Resgate da memória afetiva dos idosos da Sociedade Santa Rita de Cássia, São Mateus/ES”. Referente ao percurso metodológico, o estudo caracterizou-se como exploratório, calcado em um estudo de caso. Sendo os sujeitos da pesquisa os idosos de uma instituição localizada no município de São Mateus, no Espírito Santo.

METODOLOGIA DA PESQUISA

O estudo foi de natureza qualitativa e utilizou a narrativa considerando buscar uma orientação teórico-metodológica dos fatos envolvidos na investigação de natureza social e humana.

Melleiro e Gualda (2003, p. 70) salientam que a narrativa é utilizada para “entender eventos concretos, para relatar o mundo interior e o mundo exterior de ações observáveis e acontecimentos”. A partir da história de vida e experiências individual que foram narradas as pessoas contribuíram para a interpretação do fenômeno estudado.

Também foi utilizada a história de vida, de acordo com Fernandez (2008); Feuerschutte e Godoi (2011) é o tipo de método qualitativo que usa narrativas para compreender os fenômenos sociais e humanos através de um relato individual. Nela, o narrador expressa o seu olhar sobre um fato (BOSI, 1994).

Os sujeitos da pesquisa foram seis idosos com idades compreendidas entre 65 a 91 anos, sendo três do gênero feminino e três do gênero masculino. A seleção dessa amostra ocorreu por meio de uma amostragem probabilística do tipo aleatória simples. Vale salientar que o critério de inclusão para participação na pesquisa alicerçou-se apenas aos idosos residentes na Instituição. Entretanto, quanto à exclusão da amostra foram os idosos que se encontravam acamados e de pouca lucidez. A escolha se deu pelo fato de serem considerados mais lúcidos e coerentes no que falam.

Quanto à análise dos dados, utilizamos a análise de conteúdo na modalidade temática, que conforme destaca Bardin (2011) é uma técnica que propicia apurar descrições de conteúdo de forma aproximada, subjetivas, podendo pô-las em evidência a objetividade, relativas aos estímulos dados ao sujeito que está sendo submetido.

O ENVELHECIMENTO E SUA EVOLUÇÃO

Ao falar sobre o envelhecimento torna-se necessário fazermos um resgate quanto a sua evolução, considerando que há registro datado de 44 a. C., como por exemplo, na obra de Marco Túlio Cicero intitulada “De Senectude: Saber Envelhecer”. Entretanto, com o avanço da gerontologia no século XX é que se consolidou o estudo do envelhecimento sistemático (GOLDSTEIN, 1999). A OMS define o envelhecimento como um conjunto de modificações fisiomórficas e psicológicas ininterruptas à ação do tempo sobre as pessoas, em que é considerada idosa a pessoa a partir de 60 anos, nos países que estão em desenvolvimento econômico, como no caso do Brasil, conforme já garantido pela Lei n. 10.741 de 1º de outubro de 2003; pessoas com 60 anos ou mais, em países já desenvolvidos economicamente (BRASIL, 2003).

Quando se fala do envelhecimento não quer dizer apenas a idade cronológica, visto que de acordo com Carvalho e Andrade (2000), essa realidade convive com a natureza biopsíquica e social e somente assim, podemos definir o idoso. Mendes et al. (2005) complementam que envelhecer é caracterizado por um processo natural e individual e que é marcado por mudanças físicas, psicológicas e sociais.

Nesse entendimento, envelhecer é algo subjetivo, em outras palavras, apesar dos processos biopsíquicos e sociais, cada indivíduo tem o seu próprio conjunto de fatores que o fazem idoso em determinada fase cronológica. O mesmo acontece ao contrário, quando mesmo idoso cronologicamente, aqueles processos já citados não interferem no envelhecimento da pessoa.

Na concepção de Monteiro (2005, p. 57) o envelhecimento humano não se configura biologicamente, mas também socialmente, culturalmente, psicologicamente e espiritualmente. Além disso, não pode ser entendido por “[…] mensurações deterministas, classificado por idades cronológicas. Envelhecer é um processo do sujeito que vive o seu próprio tempo, ou seja, é um processo particular e peculiar a cada”.

MEMÓRIA NO ENVELHECIMENTO

Tendo como objetivo compreender como ocorre a memória no envelhecimento é necessário conhecermos de fato qual o conceito, Queiroz (2003, p. 173) define a memória como sendo a capacidade de conservar e adquirir ideias e imagens, visto que são “[…] funções psíquicas que permitem fixar e lembrar conteúdos, sensações, recordações e estados de consciência percebidos no passado e, ao mesmo tempo, representá-los, situá-los no tempo e acessá-los no presente”.

Corroborando com o que descreve Le Goff (1990, p. 424), em sua definição a memória conserva as informações, e “[…] remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas”.

Assim, entendemos que a memória é a aquisição de novos conhecimentos, vivências, fatos e pessoas. Caso fossemos elaborar uma definição da palavra, essa seria: memória é tudo aquilo que vivemos ao longo dos anos e guardamos nas lembranças de vida. Nesse sentido, fisiologicamente a memória é dividida em dois tipos: a que se adquire pelo ato da repetição de alguma atividade seja ela motora, sensitiva e intelectual e também a memória declarativa, que é a lembrança de fatos, eventos, pessoas, conceitos etc. As memórias estão ligadas à aprendizagem e ficam retidas no cérebro. Segundo Cardoso, ela é uma,

[…] faculdade cognitiva extremamente importante porque ela forma a base para a aprendizagem. Se não houvesse uma forma de armazenamento mental de representações do passado, não teríamos uma solução para tirar proveito da experiência. Assim, a memória envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivo e a recuperação de experiências, portanto, está intimamente associada à aprendizagem, que é a habilidade de mudarmos o nosso comportamento através das experiências que foram armazenadas na memória; em outras palavras, a aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos e a memória é a retenção daqueles conhecimentos aprendidos (CARDOSO, 1997, p. 1).

Com base no que menciona Cardoso (1997) a memória humana está sempre em processo de aprendizagem, onde essa vai sendo armazenada no decorrer de nossa existência. Enquanto Kandel (2009, p. 74) ressalta que “a memória humana está sempre se reinventando. Toda vez que nos lembramos de alguma coisa, essa lembrança se modifica um pouco”. Isso vem mostrar que mesmo que o indivíduo tenha as mesmas sensações em determinadas situações, essas não são lembradas de maneira igual às já vivenciadas. Outro fator importante é quanto à carga emocional, sendo essa positiva ou negativa, trazendo influência direta na fixação da memória. Lasca (2003, p. 3) ao estudar sobre a memória humana destaca que apenas o ser humano,

[…] tem um sistema de memória tão complexo que lhe permite codificar, armazenar e integrar informações provenientes de múltiplas fontes e usá-las para interpretar, organizar e iniciar a experiência, tanto sobre o mundo quanto sobre si mesmo.

É interessante destacarmos quanto à construção da memória que segundo Carter et al (2009) essa ocorre a partir de uma rede de neurônios, sendo distribuída por todo o cérebro, isso justifica que quando parte deste sofre algum dano, perdemos parte das lembranças.

Lima (2016) salienta que a grande importância da memória é ressignificar as lembranças do passado, não só apenas a rememoração. Significa dizer que é inútil apenas se lembrar de fatos, pessoas, histórias e não dar a elas um significado maior enquanto memória. Izquierdo (2010) afirma que a capacidade de memória é fundamental para os seres humanos sobreviverem. Tudo que o homem sabe é fruto de sua memória, onde podemos destacar: andar, falar, cozinhar, escrever, ler, pintar, dançar, tudo isso não nasceu conosco, fomos aprendendo no decorrer da vida. Isso ocorre porque alguém nos proporcionou a oportunidade de repetir gestos, sons, posições, falas para que assim pudéssemos memorizar, como também aprender, com isso nos tornando aptos.

Damásio (2000, p. 163) menciona que “não há vida humana consciente sem a memória, se houver será de curta duração, como a que ocorre em algumas patologias”. Lima (2016) diz que a memória é pertencente a todos os seres humanos, independentemente da idade cronológica, pois é um fator biológico, mas conforme envelhecemos essa verdade é ressignificada, pois a memória passa por transformações, não só biológicas, mas também demográficas e sociais. Complementam Araújo e Santos (2007) alertando que ao tratar a memória de maneira individual não podemos esquecer as memórias coletivas, uma vez que ao buscar o resgate sobre o passado não tem o controle isoladamente. Nesse aspecto, é necessário que seja constituída por indivíduos em interação, em grupos sociais. Silva et al., (2012, p. 22) afirmam que “a memória é imprescindível para a reconstituição do passado, seja individual ou coletivo, sendo considerada, portanto, um recurso fundamental para a apreensão da identidade e da história”.

Halbwachs (2006) diz relativo à memória no contexto de vida, deixando evidenciado que as primeiras recordações da infância estão aliadas e são fortalecidas nas relações familiares.

Xavier, Fialho e Vasconcelos (2018, p. 94) afirmam que essa se realiza por meio de duas etapas, sendo: o registro e a retenção, para depois surgir um terceiro momento que a recuperação. Os autores mencionam ainda que “A disposição suficiente, eficiente e eficaz desses recursos garante uma memória sofisticada, competente e capaz. O primeiro recurso, o registro, funciona como a porta de entrada”. Chernow (2004, p. 25) aponta que,

Uma mente livre de distrações e preocupações, um espírito relaxado física e mentalmente afeta, de maneira favorável, a capacidade de concentrar-se naquilo que se deseja lembrar. Se essas condições não estiverem presentes, não culpe sua memória por não conseguir se lembrar.

Partindo desse pressuposto, fica caracterizado que a atenção é fundamental para que se tenha o registro do que posteriormente possamos lembrar. Xavier, Fialho e Vasconcelos (2018), quando abordam sobre o segundo recurso responsável em abastecer a memória à retenção, deixam evidenciados que essa ocorre com o armazenamento de maneira eficiente do registro das informações, ou seja, de forma organizada, para que posteriormente facilite para lembrarmos os fatos. Chernow (2004, p. 26) salienta que “Uma vez registrada, precisamos revê-la continuamente a fim de retê-la”. Ainda sobre a informação, se esta “foi registrada adequadamente, não haverá dificuldade para buscá-la na memória quando necessário”. Kensinger e Schacter (2008, p. 4), ao abordar sobre essa estrutura, afirma que fica,

Situada no lobo temporal (responsável pelo gerenciamento da memória). Recebe sinais elétricos contendo informações de modalidades sensitivas e as repassa para diferentes áreas do cérebro ligadas a funções cognitivas. Pesquisas sugerem que a amígdala decide quais são as experiências importantes o bastante para serem armazenadas.

Trazendo o foco para a memória afetiva, é salutar mencionar o diz Nora (1993, p. 9) que ela torna afetiva e mágica, porque não se molda “a detalhes que a confortam; ela se alimenta de lembranças vagas, telescópicas, globais ou flutuantes, particulares ou simbólicas, sensível a todas as transferências, cenas ou projeções”.

Entretanto, quando se fala em memória afetiva no mundo capitalista, Bosi (1994, p. 18) afirma que o idoso é impedido de ter lembranças, o que seria sua função dentro da sociedade. Para isso, faz uso do trabalho servil e não ouve os conselhos que são proferidos pelos mesmos. “[…] a sociedade capitalista desarma o velho, mobilizando mecanismos pelos quais oprime a velhice, destrói os apoios da memória e substitui a lembrança pela história oficial celebrativa”. Essa constatação é uma realidade atual, uma vez que, os idosos tomam menos espaço no âmbito social, inclusive familiar.

Ainda sobre a situação da velhice, Bosi (1994, p. 18) salienta as diversas formas de opressão que são submetidos os idosos,

Oprime-se o velho por intermédio de mecanismos institucionais visíveis (a burocracia da aposentadoria e dos asilos), por mecanismos psicológicos sutis e quase invisíveis (a tutelagem, a recusa do diálogo e da reciprocidade que forçam o velho a comportamentos repetitivos e monótonos, a tolerância de má-fé que, na realidade, é banimento e discriminação), por mecanismos técnicos (as próteses e a precariedade existencial daqueles que não podem adquiri-las), por mecanismos científicos (as “pesquisas” que demonstram a incapacidade e a incompetência sociais do velho).

Alicerçando no que menciona Bosi (1994), fica entendido que as pessoas mais jovens não dão credibilidade aos idosos, muitas vezes, esses são humilhados, maltratados, abandonados e discriminados. Nem os jovens, nem os mecanismos institucionais, nem os mecanismos técnicos e nem os científicos. Esses fatos fazem com que cada vez mais o idoso internalize o sofrimento e acaba entrando num processo de baixa autoestima, o que pode acarretar doenças físicas e mentais. Realidade essa que vem ocorrendo hodiernamente com a maioria dos idosos, tanto os cuidados pela família quanto os que estão em situação de internamento.

Ao abordarmos sobre o envelhecimento, Lima, Silva e Galhardoni (2008), Neri (2006) caracterizam como sendo um processo sociovital multifacetado que ocorre ao longo de toda a vida. Ressaltam ainda que a velhice significa ser velho, ou seja, é uma condição resultante do processo de envelhecimento advindo de gerações que vivenciaram e ainda vivenciam. A OMS (2005, p. 13) define que é a “otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”.

Diante dessa busca por uma qualidade de vida no envelhecimento, Baltes e Smith (2006) ressaltam quanto às evidências da existência de um elevado percentual de idosos que apresentam um nível alto de comprometimento, sendo esse funcional, dependência e solidão. Realidade essa que tem preocupado aqueles que os rodeia, principalmente as instituições acolhedoras.

MEMÓRIA AFETIVA E SUA INFLUÊNCIA NA LONGEVIDADE

Inicialmente discorreremos sobre a afetividade pela visão de alguns dos grandes teóricos sobre o assunto. Na concepção de Rossini (2001, p. 9), “a afetividade acompanha o ser humano desde o nascimento até a morte. Ela ‘está’ em nós como uma fonte geradora de potência de energia”. Sendo assim, podemos dizer que a afetividade é a mola propulsora que conduz a nossa vida enquanto seres sociais.

Pereira e Abib (2016) afirmam que os aspectos afetivos influenciam de maneira significativa, quando buscamos retomar a memória. Ao buscarmos o conceito de afetividade, segundo Mahoney e Almeida (2005, p. 1) “[…] afetividade refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo/interno sempre acompanhado de sensações ligadas às tonalidades agradáveis ou desagradáveis”. Assim entendemos que os fenômenos que são intrínsecos à afetividade referem-se às experiências subjetivas, as quais podem revelar a maneira em cada pessoa. Pino (2000, p. 128) complementa que cada sujeito “[…] é afetado pelos acontecimentos da vida ou, melhor, pelo sentido que tais acontecimentos têm para ele”. Podendo ser tanto de forma positiva ou negativa.

Vygotsky (2009) critica a separação entre as dimensões cognitiva e afetiva do funcionamento psicológico, adotando uma abordagem unificadora entre elas,

[…] como se sabe, a separação entre a parte intelectual da nossa consciência e sua parte afetiva e volitiva é um dos defeitos radicais de toda a psicologia tradicional. […] Quem separou desde o início o pensamento do afeto fechou definitivamente para si mesmo o caminho para a explicação das causas do próprio pensamento, porque a análise determinista do pensamento pressupõe necessariamente a revelação dos motivos, necessidades, interesses, motivações e tendências motrizes do pensamento, que lhe orientam o movimento nesse ou naquele aspecto (VYGOTSKY, 2009, p. 16).

Concernente à teoria de Vygotsky, as emoções são divididas em positivas e negativas, e quando despertadas tomam um caráter ativo fluindo um organizador interno de reações para estimulá-las ou inibi-las (VYGOTSKY, 2001). A única diferença entre esses dois tipos de emoção está na sua complexidade, fazendo com que nossos passos sejam largos no que diz respeito à evolução sentimental (VYGOTSKY, 1987 apud VAN DER VEER; VALSINER, 1996).

Ao referirmos sobre a memória afetiva é sine quan non entendermos o que pode influenciar na longevidade. Britto (2017, p. 1) afirma que “Revisitar o passado, com seus sabores, cheiros e personagens, permite-nos realizar uma viagem dentro de nós e, mais além, planejar a próxima viagem com ainda mais clareza”. É fazendo esse tipo de viagem que o idoso acessa o conteúdo da sua memória, pois tudo que lá está é o resultado daquilo que somos.

Na concepção de Araújo (2017, p. 1) “a longevidade sempre foi e ainda é a grande aspiração da humanidade que enfrenta desafios que incluem vários aspectos, entre eles questões de saúde, sociais, econômicas, psicológicas, filosóficas, bioéticas e espirituais”.

Todos esses aspectos formam, na verdade, uma coisa só, a vivência e é afirmado por Fabietti (2010, p. 77) “envelhecer saudavelmente significa, o resultado multidimensional entre saúde física, saúde mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica”. Faz-se necessário descobrir e conquistar novas aptidões e interagir socialmente, organizando a sua vida e vivendo de maneira mais prática possível.

Ao falarmos de longevidade é substancial ressaltar os dados fornecidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2018) quanto às significativas mudanças sobre o número de idosos maiores de 60 anos no Brasil, em 2060 esse segmento será de 58,2% milhões de idosos, ou seja, o que corresponderão 25,5% da população brasileira.

Em matéria veiculada na Revista Exame de abril de 2018, segundo o IPEA, a população brasileira com 80 anos ou mais aproximadamente entre 2018 e 2060 quintuplicará, passando de 4 milhões para 19 milhões de idosos, tendo assim um acréscimo médio anual de 3,7%. Dados como estes mostram uma velocidade nas mudanças no que diz respeito ao super envelhecimento, o que precisa ser repensado no sentido de implementar ações que possam integrar essa população idosa.

Nessa fase da vida, as mudanças físicas são grandes, mas também as mudanças psicológicas se tornam mais visíveis. Muitas vezes, essas pessoas passam por conflitos internos, como por exemplo, a adaptação a novos papéis, falta de motivação para fazer planos futuros e não se adaptam bem às mudanças. Partindo desse entendimento e buscando a valorização dessas pessoas, Brandão (2005, p. 159) ressalta que ouvindo os idosos, “dando-lhes a palavra, através do resgate e ressignificação de suas histórias, podemos fortalecer sua autoestima e sentido de pertencimento, ouvindo a voz do ser ainda desejante, senhor de sua vontade, mesmo considerando algumas perdas”.

Néri (2001, p. 60) salienta que se trata “[…] de preparar e de oferecer meios à pessoa para que possa envelhecer bem, cuidando não apenas do aspecto físico, social e econômico, mas também das questões de vida interior”. Cabe ao cuidador oferecer as possibilidades desses idosos se reeducarem, tomando forças interiores para modificar o que está lhes desagradando, tentar mudar a situação problema e se adaptarem a essa nova etapa da vida com o vigor que ainda lhes resta.

OS ESTUDOS SOBRE O IDOSO E A MEMÓRIA AFETIVA

Buscaremos a partir da leitura alicerçada em dissertações e artigos publicados em periódicos nacionais nos últimos anos (2010 a 2019) que foram realizados na área que contempla estudos sobre a memória do idoso. Para tanto, tendo como foco de leitura e análise as pesquisas que tratam do idoso, memória efetiva e resgate. Sendo assim analisados vários artigos e dissertações e teses, porém selecionamos os que mais tinham semelhança com os objetivos de estudos desta pesquisa.

Paiva (2011) em sua pesquisa intitulada “Os sentidos do envelhecer: identidades e memórias de idosas”. Objetivou compreender como as identidades e as memórias se articulam para a construção dos sentidos atribuídos ao envelhecimento pelas idosas frequentadoras de um grupo de terceira idade do município de Barbacena.

Os resultados da pesquisa demonstraram que as memórias dos fatos lembrados favoreceram a construção das trajetórias de vida das idosas e do grupo, e tal fato favoreceu as reflexões sobre a identidade. Destacam ainda as dificuldades de criação e manutenção de novas identidades nessa fase, em função de contexto social marcado pela valorização do novo, da beleza e da produtividade.

O estudo intitulado “Memória e envelhecimento: a relação existente entre a memória do idoso e os fatores sóciodemográficos e a prática de atividade física”, de Fechine e Trompieri (2011) objetivou analisar a relação existente entre memória e envelhecimento e suas associações com os fatores sócio demográficos do cotidiano como sexo, idade, escolaridade e prática de atividade física.

Os resultados demonstram que possíveis déficits na memória são importantes indicadores acerca das condições cognitivas em que se encontra o indivíduo. A memória do idoso pode variar quanto ao sexo, idade, escolaridade e prática de atividades físicas regulares. Constatou-se que a prática de atividade física entre idosos e indivíduos normais significa promover desenvolvimento e envelhecimento físico e cognitivo bem-sucedidos.

Sá (2018) com a temática “Envelhecimento e memória na terceira idade”, intentou verificar se a capacidade cognitiva da memória de reconhecimento de curto e de longo prazo é influenciada pelos efeitos do envelhecimento na terceira idade.

Os resultados mostram que as variáveis como gênero, faixa etária, escolaridade e ocupação estiveram relacionadas ao desempenho cognitivo dos participantes, apresentando capacidades cognitivas satisfatórias para o teste avaliado. Concluindo-se que, independente da classificação do nível de memória, os idosos mantiveram-se no nível adequado em relação à memória de curto e longo prazo, o que demonstra que o envelhecimento até o momento do ciclo de vida dos idosos entre 60 a 79 anos não alterou significativamente a capacidade cognitiva da memória de reconhecimento.

Marinho e Reis (2016) com o tema “Reconstruindo o passado: memórias e identidades de idosos longevos”. A pesquisa buscou analisar as memórias e compreender as identidades dos idosos longevos. Os resultados revelaram que a partir das memórias dos idosos longevos, perceberam-se como as identidades foram sendo construídas e se metamorfoseando no processo do envelhecimento, sendo a memória familiar imprescindível para a reconstituição do passado e construção de suas identidades.

Domingues (2014) com o artigo “O envelhecimento, a experiência narrativa e a história oral: um encontro e algumas experiências”. O estudo buscou refletir sobre o lugar da velhice no contexto atual, denunciando as práticas e discursos ideológicos que prometem um envelhecimento bem-sucedido e que justificam certa gestão dessa fase da vida. Tendo como resultado que o encontro entre o envelhecimento, a experiência narrativa e a história oral representam uma forma de preservar as testemunhas e os testemunhos, do passado e do presente.

Alves, Oliveira e Rocha (2014) com o tema “Resgate da memória como função social: envelhecimento e institucionalização” concentraram na análise e resgate da memória como função social, tendo como público-alvo idosos institucionalizados no Asilo São Vicente de Paula – Montes Claros, em Minas Gerais. Tiveram como resultados, após examinar os aspectos do envelhecimento que se encontram relacionados à perda de autonomia e distanciamento da sociedade a indivíduos pertencentes à referida faixa etária, que a indispensabilidade de ações que viabilizem a reconstrução da identidade e resgate de memória como meios de elevação e valorização da dignidade dos idosos, principalmente daqueles que se encontram institucionalizados.

Lima (2016) com a pesquisa “Memórias de leituras de idosos da UATI/UEFES: ressignificando suas histórias”. O objetivo foi identificar, reconstruir e registrar as memórias individuais de idosos, cuja problemática delineada foi a investigação das histórias de leitura desses sujeitos relacionadas as suas histórias de vida. O resultado traz à tona as histórias pessoais e memórias de leitura dos idosos, revelando a importância do ato de rememorar para que esses sujeitos não só revivam momentos, acontecimentos e lembranças do passado, mas que refaçam, ressignifiquem e possam usufruir de um processo de envelhecimento saudável.

Notamos com base nos estudos pesquisados que envelhecer se caracteriza pela redução e/ou limitação da capacidade cognitiva, visual, tátil e dos reflexos corporais e pela passagem cronológica do tempo. Esses fatores alteram o modo como os idosos utilizam cada ambiente, podem interferir de maneira direta no desempenho das atividades diárias e cooperar para a perda de suas memórias, além do contexto social, que destaca e valoriza o novo, o belo e a continuidade da produtividade.

Outro fator preponderante no envelhecimento é o fato de que as memórias vão sendo construídas e modificadas durante todo o processo de longevidade, sendo a família a base para a formação da identidade dos idosos. Muitos trabalhos mostram que os idosos institucionalizados acabam perdendo a sua autonomia e se distanciam socialmente. Sendo assim, é indispensável que se façam ações para o resgate da identidade e da memória, além da dignidade do idoso. Reviver fatos, acontecimentos e lembranças colaboram para que a pessoa tenha um envelhecimento saudável.

RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS

Nesta etapa, apresentaremos os dados de identificação dos idosos participantes da pesquisa. Em seguida são apresentados os resultados que exploram a subjetividade dos idosos no que concernem ao resgate da memória e as categorias, bem como a análise das mesmas.

Apresentamos o perfil dos seis idosos entrevistados, além de outras informações colhidas a partir do contato com as cuidadoras e durante as entrevistas as quais julgamos peculiares. Salientamos que os dados e informações descritos são conforme mencionados pelos idosos entrevistados, os quais passamos a transcrevê-los na tabela 1.

Tabela 1 – Perfil dos idosos

Nome[3] Idade Sexo Estado Civil Quantidade de filhos Escolaridade
João 76 M Solteiro Alfabetizado
Carmélia 65 F Solteira Alfabetizada
Pedro 80 M União estável Não respondeu Semianalfabeto
Rosa 91 F Viúva 3 Analfabeta
Carlos 75 M Solteiro Não respondeu Analfabeto
Margarida 72 F Viúva 2 Alfabetizada

Fonte: Autores, 2020.

Ao analisar a tabela 1, constatamos que dos seis entrevistados, encontram-se na faixa etária de 65 a 91 anos, sendo três do sexo masculino e três do sexo feminino. Em relação ao estado civil quatro dos idosos são solteiros, sendo assim não constituíram família. Enquanto um teve união estável, mas não informa se teve filhos. Tendo apenas duas idosas que são viúvas e tiveram filhos. No que concerne ao nível de escolaridade, apenas três idosos são alfabetizados, os demais são analfabetos. Esses resultados corroboram com os dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2011), em que apresenta uma alta incidência de baixos níveis de instrução dos idosos brasileiros. Esse déficit de escolaridade, ao falar de resgate da memória desses idosos, é relevante mencionar o que afirmam Rocha, Klein e Pasqualotti (2014) quando advertem que o baixo nível de escolaridade do idoso, pode estar associado à decadência das funções cognitivas de maneira mais acelerada que ocorre na velhice.

Entretanto, mesmo com esse baixo nível de escolaridade, vale ressaltarmos que as narrativas dos idosos entrevistados, encontram-se repletas de significados que resgatam situações de determinada época, como cultura, costumes, em que puderam ter contato no decorrer da sua vida. Lima (2016) diz que é inútil apenas se lembrar de fatos, pessoas, histórias e não dar a elas um significado maior enquanto memória.

No decorrer das narrativas dos idosos, foram mencionados o tempo de infância, juventude, diversão, trabalho e família, tudo de forma constituída em sua memória. Entretanto, é interessante destacar o que dizem Araújo e Santos (2007) que em se tratando da memória de maneira individual não podemos esquecer as memórias coletivas, uma vez que ao buscar o resgate sobre o passado não tem o controle isoladamente.

Ao analisarmos as narrativas dos idosos entrevistados, vimos que a história vivida e resgatada por esses, encontra-se alicerçada na memória coletiva. Uma vez que é quando eles se voltam a lembrar do que ocorreu, que são construídas as significativas lembranças na memória. E a partir do desvelar os significados sobre o que aconteceu em sua vida que os idosos acabam falando mais de si, mesmo que tenham perpassado por obstáculos e dificuldades em sua história de vida. Todavia, toda essa construção e resgate da memória não ancoram apenas em sua trajetória de vida, mas também na de outras pessoas. Cassana (2011, p. 70) adverte que “Essa ideia de alteridade está sempre presente no âmbito discursivo e na própria concepção de identidade. Todo sujeito se constitui a partir do outro, através daquilo que o outro nomeia, que o outro diz ser”.

A partir das constatações sobre as recordações do passado, muitas vezes, acalorada de emoções e acontecimentos, buscamos através das narrativas dos idosos agruparem e descrevê-las, distribuindo em duas categorias temáticas, conforme mencionadas abaixo:

Quadro 2 – Categorias temáticas de estudo

Categorias temáticas Subcategorias
Resgate da memória familiar. · A roça: local de destaque na formação social;

· Casamento: construção familiar;

· Descendência: filhos;

· Família: as relações familiares.

Situação social resgatada pela memória. · O passado como época difícil

Fonte: Autores, 2020.

Nas categorias temáticas e subcategorias buscaremos de forma contextualizada retratar o que de fato constatamos no decorrer das narrativas dos idosos, de acordo com a sua individualidade.

RESGATE DA MEMÓRIA FAMILIAR

Tratando do resgate da memória familiar, é interessante destacar que na narrativa feita pelos idosos, constatamos que os mesmos mencionaram com mais frequência diversas palavras como: família, trabalho, casamento, filhos, roça e dificuldade. Contudo, ficou evidenciado ainda que tudo isso, de maneira muito fragmentada, deixa claro a existência de sofrimento em suas histórias de vida, principalmente familiar. Realidade essa, que deixa evidente a tristeza do idoso por não ter os cuidados de seus familiares.

Nesse sentido, Martins (2013) adverte que nessa fase ocorre uma inversão de papéis no que refere aos cuidados, uma vez que o idoso resgata na memória que um dia já cuidou de seus filhos, no entanto agora é ele que carece de cuidados e assistência. Esses resgates vêm contradizer em parte com o que menciona Fabietti (2010, p. 77) quando diz que “envelhecer saudavelmente significa, o resultado multidimensional entre saúde física, saúde mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica”.

No sentido de podermos fazer uma melhor análise das narrativas, principalmente evidenciando as palavras mais frequentes mencionadas nessa categoria, criamos uma subcategoria composta: roça: local de destaque na formação social; casamento: construção familiar; descendência: filhos; família: as relações familiares.

ROÇA: LOCAL DE DESTAQUE NA FORMAÇÃO SOCIAL

Constatamos que nas narrativas dos idosos entrevistados, quase que em sua totalidade, vieram da zona rural. Porém, apenas três relataram como era a sua vida na roça, juntamente com a família, pois naqueles tempos todos começavam cedo a trabalhar para ajudar os pais, inclusive nos afazeres da casa. Corroborando com Halbwachs (2006) quando aborda sobre a memória no contexto de vida, deixando evidenciado que as primeiras recordações da infância estão aliadas e são fortalecidas nas relações familiares. Aqui destacamos alguns fragmentos das narrativas desses idosos, quando falaram daqueles momentos que mais foram significativos em suas vidas.

Ia no forró na roça era bom, forró de rua eu não gostava não. Não gostava de cidade. Criado na roça trabalhava na roça. Ficava na casa de minhas tias na rua, uns dois dias, depois pocava pra roça. Beira de roça e melhor que rua. Nunca gostei de rua (João, 76 anos).

Antigamente. Quando eu morava naquele 41, era conforme vê, eu fazia limpeza da rua, arrumava. Lugar que existia aquelas casas de farinha, a gente tanto que raspava mandioca. Andava lá pelo aquele Jaguaré. Já fui trabalhadora também pra lá. Até aula já dei também. Só vendo (Carmélia, 65 anos).

Não tive infância. Porque tinha que trabalhar. Tinha que trabalhar, ajudar meu pai e minha mãe na roça. […] Não estudei quando eu era criança. Nós tinha que capinar, a enxada era pequena, mas tinha que ajudar. Plantar, colher (Margarida, 72 anos).

Analisando o que foi narrado pelas idosas, fica evidente que as mulheres foram criadas para serem donas de casa e boas esposas, além do seu trabalho braçal. Com isso, estas não iam à escola, limitando-as na sua capacidade como ser humano.

CASAMENTO: CONSTRUÇÃO FAMILIAR

As narrativas dos idosos demonstram que apesar de não haver um incentivo e ensinamento sobre a importância do casamento, por parte dos pais, acerca de a construção familiar, alguns casaram e constituíram família, tendo filhos. Apesar das situações de sofrimento, constrangimento e humilhações. Enquanto teve também quem afirmou não casar, ter família por entender que o casamento só traz sofrimento. Como pode ser visualizado nos fragmentos abaixo destacados:

Meu casamento eu fugi da minha casa da minha mãe. Eu pedi um rapaz conhecido nosso para comprar uma passagem para mim, porque eu não poderia comprar. Ele comprou, aí nós fomos para São Paulo, passamos por Belo Horizonte, ele tinha uma irmã lá; o marido dela era delegado da regional, aí desconfiaram que nós estávamos fugindo. Aí fui para São Paulo na casa da minha tia. Maldita hora que pensei nisso. Quando chegamos em São Paulo, a polícia já estava esperando nós. Polícia feminina. Foi pegando na minha mão, eu soltei da mão dela. Solta minha mão que não te conheço. Só que você já está presa. Mas não tô mesmo. Aí pegou ele também. Chegando na casa da minha tia, Deus me perdoe. Vou te contar, ela falou para mim, aqui não quero você não. Você tem três dias que saiu de sua casa com um homem, não vou aceitar você dentro da minha casa. Só que antes sabe o que tinha feito? Eu tinha escrito para uma irmã de caridade, que eu queria ser irmã. Aí logo que ela não me diz, fui procurar o mosteiro. Chegando lá a irmã falou; sentou e conversou comigo, […] você não pode ser irmã de caridade. Por quê?  Porque você não é virgem, a sim tá bom. Mas você pode ser uma irmã. Posso por quê? Irmã arrependida. Mas eu não tô arrependida irmã. Você nunca vai usar o hábito preto. Você só pode botar o creme ou amarelo. Eu falei, a sim pode deixar, fica pra senhora, eu não quero não. Levantei também e sai. Quando cheguei na porta, a polícia feminina que tinha me levado eu, tava lá fora. Ai recolheu eu e ele. Me levaram para um lugar que tem lá, que põe as pessoas de fora (Margarida, 72 anos).

Não, não gosto de namoro. Nunca quis saber de casamento. Até hoje sou solteiro, não casei. Via que passava com os outros casados. Casava hoje, amanhã estava largado, estava botando chifre. Não, então deixa eu quieto (João, 75 anos).

Ao analisar a narrativa de Margarida, fica explícita no decorrer da sua recordação a falta de apoio familiar na sua trajetória de vida, no que corresponde ao seu casamento. Assim trazendo o foco para o resgate da memória quando Pino (2000, p. 128) afirma que cada sujeito “[…] é afetado pelos acontecimentos da vida ou, melhor, pelo sentido que tais acontecimentos têm para ele”.

Quanto à narrativa do senhor João, é possível constatar que o idoso deixa evidente o seu trauma, quando o assunto é casamento, vendo o tema como algo desnecessário e negativo.

DESCENDÊNCIA: FILHOS

No transcorrer das falas dos idosos, ao narrarem sobre a sua descendência, podemos notar que apenas Rosa e Margarida tiveram filhos e que apesar da alegria em tê-los, também expressaram tristeza quando falaram deles e a dor da perda daqueles que morreram causou em suas vidas.

Sim. Tenho filhos três, mas um Deus levou. Toda quarta-feira eles vêm aqui. Estão doentes também, doentes da perna. Estão em casa. Todos dois são homens. Caçula e mais o velho. O do meio morreu (Rosa, 91 anos).

Tive duas. Uma nasceu morta, e a outra morreu com 30 dias. A que morreu pegou meningite dentro do hospital. Aí resolvi para de trabalhar com esse negócio de mato, eu não sou homem (Margarida, 72 anos).

Analisando os relatos percebemos a relevância da memória afetiva, resgatada pelas idosas, quando abordado sobre ser mãe e desempenhar os cuidados com os filhos, quando ocorre um grau significativo de afeto. Assim, ao buscarmos enfatizar a memória afetiva na contextualização das narrativas é relevante destacar o que afirmam Mahoney e Almeida (2005, p. 1) que “[…] afetividade refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo/interno sempre acompanhado de sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis”.

FAMÍLIA: RELAÇÕES FAMILIARES

Ao ser narrado pelos idosos sobre a família e suas relações, fica evidenciado o resgate de muita tristeza e sofrimento, nem sempre essas recordações foram boas e felizes na vida cotidiana. Uma das idosas, Margarida, deixa destacada a sua gratidão pelo que sua irmã tentou fazer por ela, apesar das suas limitações. Para tanto, destacamos algumas partes do que foi falado.

Fui criada na mão de alguém. Os pais só vendo. As madrastas que era mãe de criação. Meu pai chamava João Mateus, só vendo. […] Apanhava da minha mãe mesmo. Deus já levou. A caçula sou eu (Carmélia, 65 anos).

Meu pai; era os pais que têm que compromisso, que corrigia os erros, corrigia, batia. Civilizada, respeitando os mais velhos, tratando os outros bem. Para não ficar inventando moda, essas coisas que existe hoje. Não ficar brigando com ninguém, não cassar confusão com os outros (Carlos, 75 anos).

Olhei um banquinho, minha filha, quando eu ia sentar, minha cabeça rodou, caí.  Quando eu acordei já estava no hospital. Aí apanhou eu, e me levaram lá para minha casa. Só que não tinha quem cuidasse de mim, pelo menos para dá remédio. Aí tinha uma irmã ainda, aí ela falou pega e leva lá para casa, que lá tem um quarto. Só que não adiantou, porque ela também não estava bem de saúde. No dia que cheguei, ela foi para Vitória operar das vistas. […] Minha irmã era ela, que trocava minha roupa, fazia minha comida. E a outra que tomava conta do menino, trocava minha frauda. Porque eu uso esse trem. Você precisa ver quando eles demoram vir trocar! Aí que vai esquentando mesmo (Margarida, 72 anos).

As narrativas demonstram a capacidade que a memória exerce em resgatar fatos ocorridos no passado e foi possível visualizar a importância da família nesse resgate o qual serve para hoje. Silva et al., (2012, p. 22) afirma que “a memória é imprescindível para a reconstituição do passado, seja individual ou coletivo, sendo considerada, portanto, um recurso fundamental para a apreensão da identidade e da história”.

SITUAÇÃO SOCIAL RESGATADA PELA MEMÓRIA

Nessa categoria buscamos resgatar a situação social na qual a memória foi construída na trajetória de vida dos idosos ao longo do tempo. As narrativas mostram que cada um expressa a sua realidade, sendo essas boas ou ruins.

  • O passado como época difícil

Ao falar sobre o passado, mais precisamente a infância, a senhora Rosa relata que não fazia nada que era costume de criança e também nunca gostou de brincar. Notamos uma grande dificuldade vivenciada pela idosa, quando suas lembranças se referem a sua infância. Mostrando ter um passado que não lhe propiciou que brincasse, inclusive deixa claro que ela nunca aprendeu nada.

Enquanto que na narrativa da senhora Margarida, encontramos inúmeras situações de um passado difícil, tanto pessoal como laboral, conforme fragmentos abaixo:

Me levaram para um lugar que tem lá, que põe as pessoas de fora. Aí botou eu para trabalhar num serviço, que eu enfrentei foi bandido, sabe. Ainda bem, que logo fiz amiga com uma tenente que tinha lá, feminina, ai fui trabalhar com ela.

[…] sabe qual era o serviço, a gente pegava aquelas mulheres que estavam na rua, quando estavam com cinco meses de gravidez, a gente levava elas para esse lugar. Ali, a gente levava no médico. E quando ganhava meninos, ainda ficava lá uns 15 dias. Para ver os que elas queria. O ruim que tinha, a gente tinha que esperar elas, elas faziam os tratos com os namorados delas, e marcavam onde era, eu e essa tenente levar, chegando lá tinha que esperar elas morarem, e depois vim embora. Mas quando foi um dia, a tenente estava sentada no volante da Kombi, eu sentada atrás, aí chegou quatro e encostou perto de mim; a minha valença que desde pequena eu fazia capoeira; todos quatro com revólver na mão, falei o que é isso, você não vai chamar ninguém agora, as meninas só vão sair de lá a hora que a gente querer, e começou a encostar o revólver em mim, você tira isso pra lá, porque você não sabe com quem tá mexendo. Ainda é invocada. Quando ele falou isso, afastei para trás e mandei o pé naquilo, quando a cabeça virou, mandei na mão. Aí o revólver caiu, tinha um barranco muito alto, e embaixo era uma linha de ferro. O revólver caiu lá embaixo e ele falou, vai lá buscar, mas não vou mesmo, você é quem vai com sua mãe, porque eu não vou não.

Aí ela saiu de lá (tenente), o que tá acontecendo aí Dada? Falei, esses caras aqui, disse que você não vai chamar ninguém não, as meninas só vai na hora que eles quiser. E começou a encostar o revólver na minha cara, e como eu não aceito isso, eu taquei o pé no revólver dele, e caiu lá embaixo, e eu não vou lá apanhar não. Mas fui lá embaixo e apanhei, aí ele falou, a gente se vê por aí. Na hora que você quiser.

Ela falou, como você fez? Eu esqueci de falar com você, mas eu sou capoeirista, sou auxiliar, sou cordão amarelo. Eu sei que eu errei, eu não poderia nem ter feito isso, porque eles estavam em dois. E eu não posso. Capoeirista não pode encarar duas pessoas. Tem que correr. Porque dois é pouco pra gente sabe. É que a gente sabe defender, mas eles não (Margarida, 72 anos).

É interessante destacar ainda o que foi relatado pela senhora Margarida, sobre uma triste história da sua vida, quando do seu casamento, sendo que:

O pessoal de lá da assistência social onde a gente tava com esse sargento, que tomou providência, e colocou. Bonito foi quando a gente chegou no fórum para casar, foram dois casais, nós e uns baiano, o baiano a polícia estava esperando eles, porque o homem era casado, pai de filhos, e tinha largado os filhos lá. E foi na hora deles assinar, aí eu falei para o juiz, eu não vou assinar não. Eu não quero casar aqui, eu quero casar na casa de minha mãe, ele falou eu assino, eu falei, posso? (marido), pode. Na minha certidão de casamento tem a assinatura dele, a minha não. Ele assinou, e nós casou. Ficamos um ano eu ele morando juntos sem dormir junto. E as irmãs todo mês fazia reunião com nós. Aí tá bom, viemos embora. Isso aconteceu onde a gente morava, lá em Minas de Nanuque. De lá de Nanuque, ruim de serviços, ele conseguiu um serviço aqui (acho São Mateus) nessa pista de asfalto que está fazendo. Aí viemos para cá, ficamos aqui. Aí ele foi trabalhando, eu também, encarei serviço pesado aqui. Eu trabalhei aqui, comecei em plantio de eucalipto, plantando a semente, plantava fazia seleção, levava para o campo, trabalhei no campo. Acompanhava um trator, com uma mangueira grande, molhava. Nós adubava depois voltava molhando, aí depois estava no plantio. Carregava uma caixa de 80 mudas, na mão, e uma machadinha; plantando, e andava acompanhando o trator, era depressa, não era devagar não. Aí parou o plantio, aí eu fui descascar pau; que era duro, fui eu e uma irmã minha; cada uma com um facão. Batia o facão na cabeça da tora e puxava. […]. Para poder descasca aquilo e ajudar os operadores de máquina, derrubar o eucalipto. Sabe como nos ajudava? Era um risco sabe. Eles faziam um pau comprido e grande para nós, cada operador tinha duas mulheres que trabalhava com eles, às vezes mandava os homens, mas eles não queriam ir. […] o vento vinha numa direção a gente ficava de lá eles faziam a boca do pau, e escova o pau para o vento não derrubar, nem em cima deles nem em cima dos outros. […] fiquei trabalhando nisso, um […] tempo. E depois parei era muito peso. Aí parei, fui para lavoura de maracujá. Aí que era pior, no dia que dava chuva a noite que ventava, eu ficava preocupada, porque no outro dia, era dia da gente. O vento batia e derrubava os maracujás, porque o maracujá é igual a isso (fez a demonstração). Você planta aí ele vai enrolando, aí aquilo caia. A gente chegava de manhã, as mulheres era que tinha que levantar aquela cerca no braço. […]. Aí depois ia catar os maracujás. Os carrinhos eram todos ruins, era tudo de pau. As caixas viravam naquelas ladeiras, maracujá saia rolando. E a gente saia pulando por cima de cobra, era triste (Margarida, 72 anos).

Ao analisarmos o que foi narrado pelas idosas, vale destacar que quando se fala sobre resgatar a memória do que de fato ocorreu, mais vale dar novo significado a essas lembranças, como afirma Lima (2016) que a grande importância da memória é ressignificar as lembranças do passado.

No contexto geral do que foram resgatados e narrados pelos idosos, sobre suas histórias, podemos observar que há sempre lacunas que possibilitam aquele que está ouvindo a ter novos sentidos do que de fato ocorre na atualidade em volta, como também perceber as transformações que esses idosos tiveram, podendo ser positivas ou negativas no tocante à afetividade no mundo em que o cerca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O envelhecimento tem sido algo preocupante, as pesquisas têm evidenciado o aumento da população idosa no mundo, o que tem levado a busca de alternativas por parte dos governantes, no sentido de garantir os direitos constitucionais desse público com dignidade. Garantia essa que possa possibilitar os idosos a resgatar por meio da memória sobre a afetividade que foi dada no seu decorrer de vida.

Desta feita, este estudo nos mostra uma carência muito grande da afetividade por parte dos familiares. Constatação essa evidenciada nas narrativas dos idosos, apesar de serem todos oriundos de famílias humildes de recursos financeiros e terem sua história de vida também construída toda no mesmo nível de dificuldade. Razões essas que são relevantes e contribuem para dificultar que as famílias desses idosos possam cuidar e dar o que de fato eles necessitam materialmente, mas o amor e a afetividade é algo que independe da situação econômica.

A pesquisa também possibilitou fazermos uma reflexão sobre o resgate da memória, alicerçando nas recordações narradas pelos idosos, mesmo que essa seja uma situação individual, as histórias se articulam com a participação de outros que fizeram parte da sua vida, sendo essas memórias seletivas, ou seja, dada a importância de acordo com o fato ocorrido. Situações percebidas no decorrer da pesquisa, quando os idosos falavam algo e de repente mudavam de assunto. Durante a aplicabilidade das entrevistas, os momentos narrados pelos idosos que mais mostraram afetividade, foram quando falavam de sua infância, mesmo sendo uma fase de dificuldade.

Percebemos ainda, uma diferença na forma de narrar das mulheres e dos homens. As idosas resgatam suas recordações falando da família, de sofrimento por perdas familiares. Já os idosos falaram mais de trabalho como faziam e sobre como divertiam.

Sendo assim, esperamos que este estudo sobre o resgate da memória afetiva dos idosos seja considerado e visto com os demais fatores compreendidos biologicamente, para que possa contribuir no despertar dos órgãos competentes em conjunto com a sociedade, para implantação de políticas públicas voltadas a humanização dos idosos, respeitando suas experiências e histórias de vida.

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APÊNDICE – REFERÊNCIA DE NOTA DE RODAPÉ

3. Todos os idosos que foram entrevistados receberam um nome fictício nesta pesquisa.

[1] Mestra em Ciência, Tecnologia e Educação pela Faculdade Vale do Cricaré. Licenciatura em Letras Português/Inglês e respectivas Literaturas – CESAT (Centro Educacional Anísio Teixeira).

[2] Faz estágio de Pós-Doutoramento no Programa de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Doutora e Mestre pelo mesmo programa de pós-graduação. Graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal do Espírito Santo, especialização em Marketing Empresarial pelo Centro Superior de Ciências Sociais de Vila Velha.

Enviado: Janeiro, 2021.

Aprovado: Janeiro, 2021.

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Juliana Fernandes de Almeida Castro Lenzi

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