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Corporeidade e o processo de reabilitação: a busca de novos sentidos

RC: 103425
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CONTEÚDO

REVISÃO INTEGRATIVA

CAMARGO, Raquel Guzella de [1], WESCHENFELDER, Flávia Augusta Vetter Ferri [2], ZAVADSKI, Kelly Cristina [3]

CAMARGO, Raquel Guzella de. WESCHENFELDER, Flávia Augusta Vetter Ferri.  ZAVADSKI, Kelly Cristina. Corporeidade e o processo de reabilitação: a busca de novos sentidos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 06, Ed. 12, Vol. 06, pp. 33-47. Dezembro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/processo-de-reabilitacao

RESUMO

Breve contexto: Frente a presença de uma deficiência, seja ela congênita ou adquirida, o indivíduo é levado a enfrentar aquela situação e as implicações psicológicas que traz para sua vida. Questão norteadora/pergunta problema: O que caracteriza as diversas maneiras de enfrentamento possíveis a pessoa diante de uma deficiência e do seu processo de reabilitação? Objetivo geral: Discorrer sobre as diferentes formas de enfrentamento que a pessoa dispõe, frente a vivência de uma deficiência, partindo dos pressupostos da Fenomenologia-Existencial. Metodologia: Utilizou-se uma abordagem metodológica de revisão bibliográfica que discorresse sobre a relação do homem com seu corpo com deficiência, e como esta relação associa-se no mundo. Investigou-se também os aspectos psicológicos envolvidos no processo de reabilitação, e qual a importância do papel dos profissionais de saúde e da própria pessoa protagonista em tal processo. Principais resultados e Conclusão: Evidenciou-se que a vivência em um corpo com deficiência, leva o indivíduo protagonista desta experiência, a um movimento contínuo de transformação e transcendência, destacando que as sequelas de um trauma físico, vão além da esfera orgânica, alterando de maneira considerável os âmbitos psicológicos e sociais do indivíduo. Contudo, a angústia existencial, fator intrínseco à vivência humana, possibilita ao homem lançar-se no mundo, ressignificando e construindo novas formas de vivenciá-lo e senti-lo.

Palavras-Chave: Corporeidade, Deficiência, Fenomenologia-Existencial, Reabilitação, Ressignificar.

1. INTRODUÇÃO

Frente a presença de uma deficiência, seja ela congênita ou adquirida, o indivíduo que a vivencia é levado a enfrentar aquela situação, assim como as implicações psicológicas que ela traz para sua vida. Diante disso, a presente pesquisa teve como norte a seguinte questão: O que caracteriza as diversas maneiras de enfrentamento possíveis a pessoa diante de uma deficiência e do seu processo de reabilitação?

Pretendeu-se olhar para o processo de reabilitação e para a deficiência, a partir de uma concepção fenomenológico-existencial, compreendendo assim, o ser humano como um ser livre e transcendente, repleto de possibilidades em seu existir.

Para isso, uma pesquisa sobre estudos relacionados ao tema central foi feita, servindo de base para uma análise e apresentação de resultados que respondessem aos objetivos propostos. Dessa forma, foi realizada uma leitura sobre a relação do homem com seu corpo com deficiência, e como essa relação associa-se no mundo. Também se investigou sobre os aspectos psicológicos envolvidos com o processo de reabilitação, e qual a importância do papel dos profissionais de saúde e da própria pessoa protagonista deste processo, nele próprio.

Este artigo tem relevância nos aspectos sociais, enfatizando-se aqui a questão da inclusão e da diversidade social, por pretender instigar a busca por uma atitude mais sensível em relação à reabilitação física e à deficiência, podendo assim, contribuir para que todos os indivíduos envolvidos nesse contexto produzam conhecimento e atribuam novos sentidos para suas experiências, a partir da reflexão de suas próprias vivências.

Seguindo o pensamento de Teixeira (2010), a vida apresenta-se como algo simultaneamente necessário e extravagante. O significado que há em ir e vir com independência, andar de uma esquina a outra, sem pressa, apenas desfrutando da capacidade de se movimentar. E quanta beleza em um simples passo. Os estímulos nervosos, a coordenação muscular para dobrar o joelho, impulsionar a perna, apoiar o pé no chão e mantê-lo assim, para sustentar o mesmo movimento da outra perna. E assim segue-se, intercalando um passo, outro passo; um pé e outro pé. Decide-se ir lentamente ou mais depressa. E se a vontade de correr surgir, assim se faz. Saltando, pulando, girando, atrevendo-se com os movimentos do próprio corpo.

Qualquer pessoa, entretanto, pode não usufruir de tais deleites, ou perder durante sua vida as exuberantes capacidades físicas, sensoriais ou cognitivas, precisando enfrentar as consequências iminentes de uma deficiência. Teixeira (2010) pontua que a deficiência é completamente democrática, e diante de suas leis, somos todos iguais, independente de idade, sexo, raça, crença, cultura, profissão e nível social. A autora, que também precisou reconstruir sua forma de estar no mundo, após ficar paraplégica, logo vislumbrou estratégias que a ajudaram à ressignificar sua nova forma de existir. De acordo com a autora supracitada:

Percebo pela minha trajetória que, quando o deficiente se depara com a reviravolta da vida, com as novas e definidas limitações, pode vislumbrá-la como um sofrimento, mas precisa ver nesse sofrimento, uma tarefa sua, exclusivamente sua, única e original. Mesmo com a paraplegia, o deficiente precisa conquistar a consciência de que, a despeito de estar incluso num centro de reabilitação, ele é único (TEIXEIRA, 2010, p. 34/35).

E assim, por seu caráter singular, cabe ao próprio indivíduo assumir a vivência de seus sofrimentos e de seus prazeres, e nesse ponto, a forma como irá vivenciar e significar suas dificuldades, é primordialmente subjetiva.

A teoria existencialista denomina como facticidade o aspecto da existência humana correspondente as situações, que como a própria palavra diz, são factuais, às quais o ser humano precisa confrontar-se. Dizem respeito às circunstâncias imprevisíveis que ocorrem independentes de um querer, tais como a existência de uma deficiência (COX, 2012). A facticidade é, assim, considerada como um aspecto muito importante para os filósofos, tendo em vista constituir-se como base primordial para as ações do homem (TEIXEIRA, 2006). Isso porque, ao deparar-se com situações de extrema angústia, às quais parecem não ter saída, o homem pode ser impelido por ele próprio à agir para a mudança, construindo novos significados para o seu existir, e para a própria facticidade.

Tenório (2003) complementa que a vivência de uma situação adversa pode levar a pessoa a um engessamento frente o futuro, uma paralisação, apresentando ausência de sentido em relação à si própria e a própria vida. Esse aspecto, nomeado pela fenomenologia como angústia existencial, é a via pela qual o homem impulsiona-se ao encontro de novos significados para sua existência, engajando-se em seu próprio existir.

A angústia existencial está associada à liberdade e à responsabilidade, e por tais vias, configura-se como uma possibilidade de transcender as circunstâncias da existência, incluindo a facticidade. A liberdade possibilita que o homem se recuse como coisa, projetando-se para além disso, para além dele próprio e assumindo assim, sua transcendência.

Obviamente, esse trabalho de ressignificação, dificilmente acontece por si só, ou sem uma rede de apoio. Atualmente, existem centros especializados para a reabilitação de indivíduos acometidos por moléstias físicas. Em tais lugares, há uma equipe de profissionais engajada com a recuperação e a qualidade de vida de cada paciente. É importante que seu trabalho acolha o indivíduo sob uma perspectiva holística, de forma que o tratamento seja abrangido de maneira integral.

Partindo desses pressupostos, o trabalho aqui exposto pretende explanar os aspectos apresentados por diversos autores, que circundam o existir humano diante de uma deficiência, considerando as relações estabelecidas com o próprio corpo e com o mundo, assim como os aspectos psicológicos envolvidos com a pessoa com deficiência e sua reabilitação.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM SEU CORPO COM DEFICIÊNCIA

O corpo humano está constantemente estruturando-se em um contexto social, através de experiências definidas e vividas nesta realidade, experiências estas, que se acumulam ou se organizam de uma maneira particular, construindo, assim, a peculiaridade de cada pessoa. O corpo humano é sempre psicológico em todas as suas manifestações, possuindo uma série de funções que são essenciais para saúde mental e para a vida relacional do indivíduo.

Shilder (1981 apud GALHORDAS e LIMA, 2004) pontua que o corpo é um objeto de relação e comunicação da pessoa com o mundo e consigo própria. É através dele que o homem está colocado no mundo. Dessa forma, o corpo constitui uma via para a compreensão dos comportamentos sociais, assim como dos sentimentos. Seguindo o pensamento de Merleau-Ponty (2011), o corpo é entendido como um mediador da relação que o homem estabelece com o mundo, e é esta presença que dá origem a experiência perceptiva do sujeito, enquanto corpo no mundo.

Sobre a via corpórea de relação com o mundo, o filósofo Merleau-Ponty (1994, apud CHINI e BOEMER, 2007, s/p) ainda fundamenta o seguinte pensamento:

[…] Percebo e sou percebido através de meu corpo, pois ele é o veículo do ser-no-mundo e, dessa forma, não se tem um corpo, mas é-se um corpo. O “corpo próprio” ou o “corpo vivido” é aquele que, através do sensível, exerce a comunicação vital com o mundo, sendo esse aquilo que se vive e não o que se pensa. O corpo é nosso meio de ter o mundo e é por ele que há a relação com os outros, com as coisas, com o próprio mundo, experienciando o próprio corpo (MERLEAU-PONTY, 1994 apud CHINI e BOEMER, 2007, s/p).

A filosofia Merleau-pontyana (2011) compreende, assim, o corpo como um conjunto de significações vividas, sendo que a cada nova percepção, se enriquece o corpo-próprio e sua essência sensorial. Neste sentido, cabe destacar que a subjetividade humana é fundamentalmente corporal, ou então, encarnada. Dito de outra forma, o corpo é a carne do mundo, as coisas se enraízam no corpo e o corpo, por sua vez, enraíza-se no mundo. Assim, o corpo só ganha sentido por estar no mundo e ser totalmente apreendido pelo mesmo (MERLEAU-PONTY, 2011).

O filósofo Merleau-Ponty (2011) complementa ainda, que o homem é capaz de reaprender a sentir seu próprio corpo, reencontrando sob o saber objetivo e distante do corpo, outro saber que possui sobre ele. É preciso que o homem vivencie o mundo tal como ele lhe aparece enquanto está no mundo com seu corpo, e enquanto percebe o mundo com seu corpo. Nessa retomada de contato com o corpo e com o mundo, é também a si próprio que o homem reencontra, visto que, se a via corpórea permite ao sujeito perceber o mundo, o corpo é um eu natural e como que o sujeito da percepção.

Ainda sobre esta perspectiva, Martini (2006) pontua que o corpo não é algo meramente orgânico, mas é um corpo vivido, corpo próprio que não é absolutamente objeto conhecido de fora, nem um sujeito transparente a si mesmo. A experiência vivida revela o corpo próprio como um veículo de ser no mundo, ser este, que experimenta suas intenções em ações, que está ligado existencialmente ao mundo. O corpo é, então, aquilo que se vê no mundo, que se sente, que se é. Aquele que toca e que é tocado, que é vidente e visível, que é sensível a si mesmo.

Neste sentido, o movimento da corporeidade é primordial para a compreensão da experiência do homem no mundo. Corpo este, que possibilita a experiência imediata, que promove a integração entre interno e externo, corpo e psiquismo, eu e outro.

Ora, e quando ocorre uma lesão corporal? É mister afirmar que, geralmente, esta vem acompanhada de uma alteração da imagem e da vivência do corpo, a qual pode revelar-se como sentimentos de desvalorização, autoestima diminuída e tristeza. Conforme salientam Chini e Boemer (2007), a perda de uma parte do corpo altera toda uma existência anteriormente idealizada. Requer uma adaptação/readaptação, um novo aprendizado sobre sua forma de viver, assumindo outra perspectiva no mundo para si, para os outros e para os objetos.

Os efeitos físicos decorrentes de eventos traumáticos resultam, frequentemente, em deficiências e comprometimentos temporários ou permanentes, afetando a execução de tarefas funcionais e ocupacionais do indivíduo, que orgânica e socialmente, passa a viver em uma situação repleta de limitações. Dentro deste contexto, atividades que outrora poderiam ser desenvolvidas com facilidade, não podem mais ser realizadas ou necessitam de modificações e adaptações. Tal situação pode envolver mudanças nos modelos representacionais que o indivíduo possui de si, bem como no relacionamento com as demais pessoas.

Guimarães e Grubits (2004, apud BERTO e BARRETO, 2011) ressaltam que a deficiência instalada a partir de um evento traumático, acarreta consequências em inúmeros setores da vida do indivíduo, principalmente, repercussões emocionais. As perdas que envolvem a saúde, os papéis e as responsabilidades do indivíduo, provocam mudanças nos seus hábitos e no seu estilo de vida, levando o mesmo a atribuir novos significados à sua existência, reconhecendo e apropriando-se de suas limitações físicas e da situação gerada.

Brunner e Suddart (1993 apud LOUREIRO et al., 1997) discorrem que as reações apresentadas pelos indivíduos acometidos por uma deficiência são inúmeras, podendo ser percebidos sentimentos de negação, retraimento, inferioridade, culpa e raiva, além de depressão e regressão. Contudo, sentimentos de resiliência e perspectivas mais positivas em relação ao ocorrido, também são possíveis. Como as próprias autoras salientam, as reações são diferentes e únicas em cada indivíduo, e tendem a repercutir de acordo com sua personalidade. A colocação das autoras confirma a tese apresentada pelo existencialismo, e utilizada pela psicologia fenomenológico-existencial, de que cada homem buscará um significado único para sua existência, a partir de suas vivências e expectativas.

A deficiência leva o homem a um movimento de moldar-se e remoldar-se continuamente. Ela é, acima de tudo, um estado de vida, uma situação com a qual o indivíduo precisa se adaptar, mas que, paradoxalmente, pode vir a ser transformada (GLAT, 1995; KADLEC; GLAT, 1989 apud TEIXEIRA, 2010). Uma das perspectivas psicológicas possíveis consiste na consideração de estratégias de crescimento emocional, por meio das quais o indivíduo, ao defrontar-se com a deficiência, se reorganiza pessoalmente. Teixeira (2010) considera que tais estratégias são desenvolvidas através do envolvimento com novas vivências, também podendo complementar novos significados.

Rechineli (2008) ainda acrescenta que as diferenças entre os corpos devem ser concebidas como possibilidades de troca de experiências e de aprendizagem, pois o fato deve residir na pessoa com deficiência ser um corpo e não ter um corpo: “[…] ser corpo deficiente é ser corpo como outro qualquer… antes de ser corpo deficiente, ele é corpo e está presente no mundo” (PORTO, 2005, p. 38-39 apud RECHINELI, 2008, p. 1). Dessa forma, por ser e estar presente no mundo, o corpo diferente se mostra aberto às possibilidades que a vida o pode oferecer.

Ao se defrontar com a reviravolta de sua vida, incluindo as novas limitações, o indivíduo pode vislumbrá-las como um sofrimento, contudo, é de extrema relevância que veja nesse sofrimento uma escolha sua, subjetiva e original. Pois, como Teixeira (2010, p. 35) enfatiza: “Ninguém pode assumir o sofrimento dele, assim como ninguém pode vivenciar o prazer sentido por ele. Mas a maneira de suportar o sofrimento vai possibilitar uma maior interação com a vida, mesmo sobre cadeira de rodas”. Nesta perspectiva, a autora compartilha a idéia de que mesmo com a deficiência, é importante que o indivíduo desenvolva a consciência de que, a despeito de estar incluso na sociedade, ele é único e responsável pela relação que estabelece consigo próprio e com o mundo.

Teixeira (2010) ainda acrescenta que, ao se deparar com uma situação sem esperança ou uma fatalidade que não pode ser mudada, o homem é desafiado a mudar a si próprio. Neste sentido, cabe acrescentar o que coloca Cox (2012), ao discutir a relação existente entre liberdade e deficiência. O autor, dentro de uma perspectiva existencialista, considera que mesmo quem possui dificuldades ou incapacidades de andar, por exemplo, não está isento de sua liberdade. O indivíduo pode não ser livre para andar no sentido de possuir independência para isso, contudo, é livre para escolher o significado de sua própria deficiência, e em consequência disso, é responsável pela reação que tem a ela, reação esta, que por si só, gera mudança interna.

Sob esta perspectiva, Martin e Gandy (1990 apud GALHORDAS e LIMA, 2004) ressaltam que, por se inserir em uma história pessoal e única, a deficiência adquire um sentido específico na vida de cada indivíduo. Por esta via, a adaptação ao comprometimento orgânico é constituída como um processo altamente individualizado, no qual a gravidade da incapacidade não é assumida como um fator influenciador da adaptação do indivíduo, tendo em vista que a percepção da gravidade vai variar de pessoa para pessoa.

Buscando compreender os aspectos envolvidos na percepção e envolvimento do indivíduo com sua própria deficiência, o tópico a seguir explana sobre a questão psicológica intrínseca ao processo de reabilitação.

2.2 ASPECTOS PSICOLÓGICOS ENVOLVIDOS NA REABILITAÇÃO

Não se pode negar a importância que a reabilitação possui para o indivíduo com deficiência, e dentro deste processo, são vários os profissionais que favorecem o desenvolvimento do paciente. Cada qual à sua maneira, médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos, dentre tantos outros, fazem uso do seu saber para contribuir com a recuperação e qualidade de vida de cada pessoa (PACHECO e ALVES, 2007).

Um trabalho bem desenvolvido pela equipe de saúde possibilita inúmeros benefícios para o paciente, tais como a melhora de sua capacidade ocupacional e funcional, redução dos fatores de risco, prevenção de possíveis complicações no quadro clínico, bem como contribuições para sua qualidade de vida. É importante que o processo de reabilitação seja considerado em seu âmbito psicossocial também, além de sua esfera física. Pitta (2001) pontua que a reabilitação psicossocial facilita que o indivíduo com limitações retome sua autonomia e o exercício de suas funções em sociedade, considerando sua integridade e seus potenciais.

A compreensão de que os aspectos físicos e psicológicos são constituintes indissociáveis e interdependentes da natureza humana, faz parte da visão atual de intervenção na área da saúde. Neste sentido, a reabilitação compreende a pessoa como um todo, intervindo junto a esta sob uma perspectiva holística.

Em suas pesquisas, Brito (2009) pontua que:

O processo de reabilitação objetiva conscientizar o indivíduo sobre suas capacidades perdidas e aquelas que se encontram preservadas. De acordo com Novaes (1975), a reabilitação não está apenas na recuperação do órgão ou membro doente, mas sim no resgate pleno do indivíduo, restaurando a sua posição ativa e útil à sociedade, procurando alcançar um ápice possível de desenvolvimento, funcionamento e integração nos diversos setores da sua vida (BRITO, 2009, p. 108-109).

A colocação da autora supracitada confirma o posicionamento que destaca a importância de uma atenção na esfera psicossocial para o processo de reabilitação, além de enfatizar, que o trabalho deve objetivar o desenvolvimento integral do indivíduo.

Galhordas e Lima (2004) pontuam que a área da reabilitação costuma envolver aspectos de alterações da imagem corporal que são associadas a lesões físicas. A situação de perda de capacidades configura-se como algo complexo, tendo em vista sua suscetibilidade de gerar inúmeras privações, nos mais diversos níveis, quais sejam físicos, psíquicos e sociais. Entretanto, é possível a elaboração da perda e a reorganização por parte do indivíduo.

Neste sentido, é importante que o profissional em psicologia, de modo particular, contribua na relação que os indivíduos possuem com o corpo que apresenta limitações, promovendo ressignificações acerca desse novo corpo e por consequência desse novo papel, trabalhando com o paciente suas possibilidades enquanto protagonista dessa nova relação.

Ainda sobre a forma como significa suas limitações físicas e cognitivas, Neto e Chaveiro (2010) apontam que a vinculação da pessoa com deficiência com a ideia de incapacidade e de dependência é uma herança cultural, e por esta via, acaba por representar um instrumento de controle sobre esses indivíduos. Os mesmos podem internalizar esses significados na forma de desmotivação, tristeza e conformismo, aceitando que não lhes é possível participar e se integrar socialmente.

É a partir de si próprio, bem como de sua corporeidade, que o sujeito significa o mundo e a si mesmo. Contudo, deve-se considerar que essa representação de si mesmo é mediada pelo mundo, pela história e pela cultura, simultaneamente. Dessa forma, Neto e Chaveiro (2010) transcrevem a visão que Lukács apresentou em 1920, afirmando que:

[…] o destino de uma classe, ou ainda de uma categoria social, depende da consciência individual (psicológica) dos sujeitos que a compõem, e também da consciência coletiva, assim como, de suas possibilidades reais (materiais e sociais) de resolver os problemas herdados histórica e culturalmente (NETO e CHAVEIRO, 2010, p. 4).

A partir disso, considera-se que a maneira de olhar e de agir diante das pessoas com deficiência é herdada através da cultura, e que a mudança em relação aos paradigmas que os norteiam, ocorre também pela via de ação pública.

Barat e Pierre (1998 apud GALHORDAS e LIMA, 2004) consideram que a reação psicológica vai ser tão brutal quanto inesperado e grave for o trauma que resultou na deficiência. Durante a fase aguda, quando o paciente ainda se encontra hospitalizado, é comum encontrar manifestações agudas como ansiedade, tristeza, raiva, culpa, fantasias, sentimento de frustração e impotência, entre tantos outros que valsam entre si desenvolvendo uma situação perturbadora que também afeta os que estão ao seu redor. Além disto, fases de inibição percebidas como uma insensibilidade a tudo também são frequentes, da mesma forma como podem surgir atitudes regressivas que levam o paciente a solicitar uma assistência superior à que necessita.

Hammell (1995 apud GALHORDAS e LIMA, 2004, p. 40) aponta a negação da perda das capacidades como uma reação também comum. “[…] Este mecanismo surge porque a realidade da perda é muito dolorosa para ser admitida, embora as circunstâncias não deixem margem para dúvidas.”

O processo de luto assume, então, um lugar importante no processo de adaptação à deficiência. Por esta via, diante da perda de algo afetivamente valorizado, o indivíduo realiza um trabalho de luto, através do qual percebe que o objeto não existe mais na realidade, e passa a dar um novo sentido para o mesmo. Esse processo de luto não se realiza de imediato e sem sofrimento, de forma que é fundamental que cada uma das recordações ligadas ao objeto seja ressignificada.

Kaplan e Sadock (1984 apud GALHORDAS e LIMA, 2004) consideram que a reação psicológica do indivíduo diante de um rompimento da imagem corporal, quando ocorrem traumas físicos, varia de acordo com o simbolismo que a pessoa atribui à parte afetada ou função perdida. Assim sendo, os autores enfatizam que a perda da função ou parte do corpo pode ser comparada à perda de uma pessoa afetivamente importante.

A situação de perda de capacidades é complexa, na medida em que acarreta inúmeras privações. Contudo, sua elaboração e reorganização por parte do indivíduo são possíveis. Segundo Galhordas e Lima (2004), um aspecto que se assume como contribuinte essencial para esse processo, diz respeito à tomada de consciência da lesão ou da doença por parte da pessoa. Dessa forma, tendo conhecimento sobre sua realidade, torna-se possível ao sujeito refletir sobre a mesma, vivenciando-a e lhe dando novos significados.

No processo de reabilitação, o indivíduo possui papel de fundamental importância junto à equipe de saúde, uma vez que ele é o foco de todo o trabalho e quem conduz os resultados do seu próprio processo. Leite e Faro (2005) salientam que a família possui papel dinâmico no tratamento, por meio do aprendizado dos cuidados necessários ao paciente. Além disso, o apoio familiar pode ser fundamental para que o indivíduo vivencie o processo de reabilitação e as mudanças ocorridas após o acometimento físico de maneira mais saudável.

Novaes (1975) pontua que o paciente, ao vivenciar a reabilitação, comumente sente sua limitação como uma agressão que alterou os planos para o futuro, junto com a perda da saúde, liberdade, autocontrole e autonomia. Além das perdas relacionadas ao âmbito pessoal, podem ser percebidas também às de cunho profissional, social, familiar, afetivo, que irão refletir dentre os vários aspectos da vida do indivíduo, e que deverão ser redirecionadas também.

Sob uma perspectiva fenomenológica, Chini e Boemer (2007) expressam a necessidade de um olhar multi e interdisciplinar que contribua para que a pessoa possa redimensionar seu existir, abrindo-se para novos projetos de vida nesse novo modo de ser-no- mundo. Nesse sentido, a reabilitação deve ser considerada como uma etapa que permite ao indivíduo continuar lançando-se no mundo, vivenciando novas experiências, recriando sua identidade e ressignificando sua existência.

3. RESULTADOS E CONCLUSÃO

A questão que serviu de norte para a presente pesquisa, mobilizou investigar o que caracteriza as diversas maneiras de enfrentamento possíveis a pessoa diante de uma deficiência e do seu processo de reabilitação. A partir disso, as visões teóricas expostas tornam evidentes as considerações de que a vivência em um corpo com deficiência leva o indivíduo protagonista desta experiência, a um movimento contínuo de transformação e transcendência.

Como a teoria Merleau-pontyana (apud VERISSIMO e FURLAN, 2007) aqui exposta ressaltou, o corpo representa a expressão da existência do ser, além de ser uma maneira deste se comunicar com o mundo. O corpo de uma pessoa corresponde à sua consciência, e dessa forma, o indivíduo não está no mundo como uma percepção passiva, mas sim, como alguém que age em constante transcendência (COX, 2010).

Sob a ótica de autores como Teixeira (2010), Galhordas e Lima (2004), Chini e Boemer (2007), Brunner e Suddart (1993 apud LOUREIRO et al., 1997) e Guimarães e Grubits (2004 apud BERTO e BARRETO, 2011), evidencia-se que as seqüelas resultantes de um trauma físico, vão além da esfera orgânica, alterando de maneira considerável os âmbitos psicológicos e sociais de um indivíduo.

É certo que as situações dolorosas, em um primeiro momento, podem provocar sentimentos de pesar e tristeza, significando a necessidade de mudanças estruturais na condição emocional do indivíduo. Assim como também é certo que a angústia existencial, fator intrínseco à vivência humana possibilita ao homem lançar-se no mundo, construindo novas formas de vivenciá-lo.

À luz da teoria existencialista, compreende-se que o homem é um contínuo vir a ser, e a própria dinâmica propulsora da existência abrange sua busca constante pelo sentido da vida. Em seu contínuo movimento de tornar-se, a existência se amplia e faz com que o ser no mundo se desdobre para além de suas próprias possibilidades existenciais. É através deste movimento que novos sentidos vão sendo atribuídos aos acontecimentos factuais e, consequentemente, à própria vida, vida esta que adquire um rumo novo a partir das escolhas que o indivíduo faz (ANGERAMI-CAMON, 2002).

Neste sentido, Cox (2012) ressalta que cada pessoa se constitui em um ser para si mesma, sente que é livre e cria a si própria a cada momento por meio das suas escolhas. Através dessa atitude, a pessoa transcende o mundo, engajando-se nele da forma como este se apresenta.

Ao ver-se envolvido por situações de dificuldades e pela própria facticidade em seu existir, o homem pode escolher qual caminho seguir e a maneira como enfrentar o que lhe causa angústia. Cada situação em si, apresenta ao homem a possibilidade de ser modificada, superada ou simplesmente aceita. A busca por um sentido na vida é uma particularidade do homem em qualquer situação, e diante de sentimentos de incapacidade ou da crise existencial conseqüente de um comprometimento físico, não é diferente.

O acometimento físico pode frustrar o desejo de realizar atividades ocupacionais e de lazer, contudo, o sofrimento representa uma condição através da qual torna-se possível ressignificar determinadas atividades, assim como criar outras. Estando ou não em um processo de reabilitação, tanto as frustrações como as satisfações das necessidades quotidianas podem levar o homem à busca de sentido.

É importante que no processo de reabilitação, a singularidade e a integridade dos indivíduos sejam respeitadas e preservadas, da mesma forma como devem ser levadas em consideração as suas expectativas frente o tratamento, e o seu engajamento pela busca de novos sentidos. A reabilitação deve partir do pressuposto ético de promover a autonomia, em um sentido de que seja a própria pessoa que se reabilitará, de acordo com suas potencialidades e possibilidades. Dessa forma, o profissional que pretende engajar-se na reabilitação, deve voltar- se para formas de facilitar a autonomia dos indivíduos que procuram tal processo. Por fim, cabe destacar que é essencial que a própria pessoa se reabilite, além de ser reabilitada por outrem. Que ela própria mergulhe em seu processo reabilitador, a fim de reconhecer sua nova situação e apropriar-se dela.

REFERÊNCIAS

ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto, et al. Psicoterapia Fenomenológico-Existencial. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

BERTO, Cintia Dal; BARRETO, Dagmar Bittencourt Mena. Pessoas com lesão medular traumática: as alterações biopsicossocias    e as expectativas vividas.   Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 2, n. 2, p. 174-183, jul./dez. 2011. Disponível em: http://editora.unoesc.edu.br/index.php/achs/article/view/718. Acesso em: 25 de fev. de 2021.

BRITO, Daniela Cristina Sampaio de. A orientação profissional como instrumento reabilitador de pacientes portadores de doenças crônicas e deficiências adquiridas. Psicol. rev., Belo Horizonte, v. 15, n. 1, abr. 2009. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682009000100007. Acesso em: 07 de mar. de 2021.

CHINI, Gislaine Cristina de Oliveira; BOEMER, Magali Roseira. A amputação na percepção de quem a vivencia: um estudo sob a ótica fenomenológica. Rev Latino-am de Enfermagem, v. 15, n. 2, mar./abr. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v15n2/pt_v15n2a21. Acesso em 22 de fev. de 2021.

COX, Gary. Como ser existencialista, ou Caia na real, vá à luta e pare de arrumar desculpas. São Paulo: Alaúde Editorial, 2012.

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[1] Pós-graduação em Educação Especial – Atendimento às Necessidades Especiais; Pós-graduação em Psicologia Hospitalar; Graduação em Psicologia; Graduanda em Terapia Ocupacional pela UFPR. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9066-1237.

[2] Mestre em filosofia pela Unioeste; Pós-Graduação em Psicoterapia Fenomenológico-Existencial pelo Centro de Psicologia Existencial; Graduada em Psicologia pela Universidade Paranaense. ORCID: 0000-0002-7188-5569.

[3] Mestre em Psicologia pela UEM; Pós-Graduação em Educação Especial em Contexto de Inclusão pela UEM; Graduada em Psicologia pela UEM. ORCID: 0000-0002-1737-9630.

Enviado: Abril, 2021.

Aprovado: Dezembro, 2021.

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Raquel Guzella de Camargo

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